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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

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DEPARTAMENTO DE TAQUIGRAFIA, REVISÃO E REDAÇÃO NÚCLEO DE REDAÇÃO FINAL EM COMISSÕES

TEXTO COM REDAÇÃO FINAL

COMISSÃO DE AGRICULTURA, PECUÁRIA, ABASTECIMENTO E DESENVOLVIMENTO RURAL EVENTO: Audiência Pública N°: 1367/08 DATA: 28/10/200 8

INÍCIO: 14h42min TÉRMINO: 17h23min DURAÇÃO: 02h41min TEMPO DE GRAVAÇÃO: 02h41min PÁGINAS: 56 QUARTOS: 33

DEPOENTE/CONVIDADO - QUALIFICAÇÃO

JOSÉ GERALDO BALDINI – Diretor do Departamento de Defesa Comercial – SECEX/MDIC. FRANCISCO LABRIOLA NETO – Coordenador-Geral de Administração Aduaneira da Receita Federal.

FERNANDO GUIDO PENARIOL – Coordenador de Qualidade Vegetal do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento – MAPA.

RAFAEL JORGE CORSINO – Presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho – ANAPA.

WELBER BARRAL – Secretário de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

MIRIAM SANTOS BARROCA – Diretora do Departamento de Defesa Comercial do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

HERCULANO GONÇALVES DE OLIVEIRA FILHO – Presidente da Associação Nacional dos Importadores de Alho.

OLIR SCHIAVENIN – Presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Alho.

JEAN GUSTAVO MOISÉS – Diretor Jurídico da Associação Nacional dos Produtores de Alho – ANAPA.

SUMÁRIO: Debate sobre a situação da cadeia produtiva de alho no Brasil e da importação de alho oriundo da China e da Argentina.

OBSERVAÇÕES Houve exibição de imagens.

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O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Declaro aberta a reunião de audiência pública da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural da Câmara dos Deputados, convocada para discutir a situação da cadeia produtiva de alho no Brasil, bem como a importação de alho oriundo da China e da Argentina.

A proposta é encaminhada pelo nobre Deputado Valdir Colatto e foi aprovada por unanimidade pelo Plenário desta Comissão.

Convido para que tomem assento à mesa as autoridades que vão nos ajudar a esclarecer essa situação: Dr. Evandro Costa Gama, Advogado-Geral da União, da AGU; Dr. Welber Barral, Secretário de Comércio Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior; Dr. Fausto Vieira Coutinho, Secretário-Adjunto da Receita Federal; Dr. José Geraldo Baldini, Diretor do Departamento de Sanidade Vegetal do Ministério da Agricultura; Dra. Mirim Santos Barroco, Diretora do Departamento de Defesa Comercial; Dr. Francisco Labriola Neto, Coordenador-Geral de Administração Aduaneira; Dr. Fernando Guido Penariol, Coordenador-Geral de Qualidade Vegetal do MAPA; Dr. Rafael Jorge Corsino, Presidente da Associação Nacional dos Produtores de Alho — ANAPA; Dr. Herculano Gonçalves Oliveira Filho, Presidente da Associação Nacional dos Importadores de Alho — ANIA. Agradeço-lhes pela presença.

O Dr. Fausto Vieira Coutinho havia solicitado para iniciar a apresentação por conta de compromissos assumidos, mas agora quer ficar por último.

Informo aos Srs. Parlamentares que os expositores terão o prazo de 10 minutos, prorrogáveis a juízo da Comissão, não podendo ser aparteados.

Os Parlamentares inscritos para interpelar os expositores poderão fazê-lo estritamente sobre o assunto da exposição, pelo prazo de 3 minutos, tendo o interpelado igual tempo para responder, facultadas a réplica e a tréplica.

Recebemos, para que seja registrada nos Anais, a justificativa do Dr. Wilson Zauhy Filho, Juiz da 13ª Vara Federal de São Paulo:

“Manifesto profundo agradecimento pelo convite que me foi dirigido, mas, infelizmente, em razão da extensa pauta de audiências, estarei impossibilitado de participar da audiência pública que se realizará nessa

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Casa, no próximo dia 21 de outubro, para a discussão a respeito da cadeia produtiva do alho.

Outrossim, esclareço que não possuo nenhum trabalho acadêmico ou científico sobre o tema controvertido que possa contribuir para enriquecer o debate em questão”.

Portanto, Deputado Valdir Colatto, propositor, são essas as justificativas do Juiz Federal Wilson Zauhy Filho.

Seguindo a ordem de assento à mesa, vamos começar com o Dr. José Geraldo Baldini, que a partir deste momento tem 10 minutos.

O SR. JOSÉ GERALDO BALDINI RIBEIRO - Boa tarde a todos, boa tarde aos Srs. Deputados, ao Deputado Onyx Lorenzoni. Agradeço pelo convite ao nosso Ministério.

Situei e denominei a nossa apresentação especificamente no que foi proposto nesta audiência pública: a situação da cadeia produtiva do alho no Brasil e a importação oriunda da China e Argentina, mais especificamente.

(Segue-se exibição de imagens.)

Inicialmente, gostaria de dizer que o nosso Departamento é o responsável pela Organização Nacional de Proteção Fitossanitária do Brasil, que chamamos de ONPF, pela elaboração da regulamentação da legislação fitossanitária brasileira e pela fiscalização do seu cumprimento, pelas diretrizes da ação governamental para sanidade vegetal, com vista a contribuir para a formulação da política agrícola em relação à prevenção e ao controle de pragas, análise de risco de pragas, importação de produtos vegetais, vigilância e fiscalização do trânsito interestadual e internacional.

Produção de alho.

Segundo dados do IBGE, nos últimos 3 anos, o Brasil produziu cerca de 85 mil toneladas em 10,4 mil hectares. Os maiores produtores são: Minas Gerais, Goiás, Rio Grande do Sul e Santa Catarina.

Em 2007, a produção nacional abastecia 30% da demanda brasileira. No primeiro quadrimestre de 2008, apenas 15% do mercado interno foi destinado ao

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produto nacional. Em maio de 2008, o Brasil importou todo o alho consumido. Ou seja, não consumiu alho nacional.

Quero fazer esse pequeno histórico porque estamos acompanhando essa situação que carece realmente de uma preocupação, sobretudo sobre o aspecto fitossanitário.

A importação de vegetais é regulamentada pela Instrução Normativa nº 6, que trata da análise de risco. Então, para todo e qualquer produto que não tenha prévia importação autorizada é elaborada uma análise de risco para quantificar e qualificar o risco de determinado produto, que servia de ingresso de determinada praga que pode causar um dano às commodities, às culturas brasileiras.

A revisão dos requisitos fitossanitários está contemplada nessa instrução normativa. Os requisitos relativos às pragas são a intensidade de medida para que o produto possa ingressar no País.

Os fatores determinantes da revisão de normas, de acordo com a Convenção Internacional de Proteção de Vegetais, são: interceptação de pragas; alteração de condições fitossanitárias e alteração da legislação.

Relativamente, o alho que entra da Argentina e o produzido no Brasil estão calcados nessas condições. Qualquer alteração fitossanitária, na origem, demanda estudos que vão, logicamente, direcionar-se para uma nova e possível legislação ou requisitos fitossanitários.

A importação de alho da China e dos países do MERCOSUL é atualmente regulamentada por instruções normativas.

A Instrução Normativa nº 6, de 2003, versa sobre a aprovação de requisitos fitossanitários para importação de alho destinado ao consumo categoria 3, classe 4. Esse alho que entra em nosso País é destinado a processamento. Então, ele vai direto para a indústria. Uma das nossas preocupações é que esse alho é produzido na República Popular da China.

A Instrução Normativa nº 46, dispõe sobre requisitos fitossanitários para o alho, segundo o país de destino e origem, para os Estados-membros do MERCOSUL. Todos os Estados que fazem parte do MERCOSUL se enquadram nesta legislação. Temos, portanto, a legislação, o produto e os requisitos relativos às

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pragas. Dessa forma, para o produto entrar, têm que ser cumpridos todos os requisitos relacionados às pragas.

Em 2006, o MAPA recebeu documento da Associação Nacional dos Produtores de Alho — ANAPA, com levantamento de pragas da cultura e que solicitava a revisão de análise de risco. Com base em quê? Com base nos requisitos fitossanitários que hoje exigimos da China e com base numa relação de pragas que foi estudada e apresentada. Foram listadas 24 pragas na proposta do alho chinês, o que pode colocar em risco culturas brasileiras, assim como a do alho.

Em 2008, recebemos nova comunicação da associação quanto ao alho importado da China e da Argentina.

Para os senhores terem uma idéia, estes são os países de que temos autorizado a importação do alho: Argentina, Bolívia, Chile, Cingapura, Espanha, Estados Unidos, Jordânia, México, Paraguai, Peru, Uruguai e Taiwan. Temos diferentes usos propostos: uso proposto para propagação, para plantio; e uso para consumo.

Para os senhores terem uma idéia, quanto aos volumes que temos em relação a 2006 e 2007, a quantidade de alho da Argentina é muito maior do que a do que vem da China. Eu já fiz essa apresentação para alguns dos senhores aqui, para alguns Deputados quando nos procuraram, e os senhores vêem que a diferença é razoável: em primeiro lugar, vem a Argentina, grande parceiro comercial que temos.

O MAPA, por intermédio de nosso departamento, está realizando a revisão de análise de risco com base no que nos foi apresentado sobre as novas pragas identificadas. E nós, a pedido de nosso Secretário de Defesa Agropecuária e do Ministro, concluímos pela revisão da análise de risco.

Conseqüentemente, já estamos trabalhando na RP da China. Demos prioridade à RP da China e acreditamos que, no próximo ano, tenhamos concluído a análise de risco da China, com novos requisitos em razão das pragas indicadas.

Também estamos trabalhando junto com a Secretaria de Relações Internacionais, na possibilidade de fazer uma visita, numa missão técnica, à China, para acompanhar toda a cadeia produtiva do alho, na minha área especificamente, em relação a aspectos fitossanitários.

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Quanto às questões fitossanitárias especificamente, pela qual sou responsável, estamos preocupados e buscando uma solução: alterar ou atualizar os requisitos fitossanitários. Isso não significa que vamos coibir ou proibir a importação, porque esses países que trabalham conosco são países importantíssimos no comércio do agronegócio. A China é um dos maiores importadores de soja do Brasil.

E já explicamos isso para os produtores, para a associação, dizendo que, no momento em que se alterarem esses requisitos, haverá interrupção nas importações. Não somos auto-suficientes em importação. A Argentina proibiu a entrada do alho da China, mas a Argentina é auto-suficiente, e o Brasil não é auto-suficiente.

Temos, portanto, que saber buscar as alternativas corretas, defender os produtores, defender o segmento produtivo nacional, de modo que não falte o produto, logicamente exigindo um produto de qualidade que tenha origem e sanidade vegetal.

Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradeço a exposição ao Dr. José Geraldo Baldini e chamo para tomar assento à mesa o Dr. Welber Barral, a Dra. Miriam Santos Barroca e o Dr. Herculano Gonçalves Oliveira Filho.

Passo a palavra ao Dr. Francisco Labriola Neto, pelo prazo de 10 minutos, a contar deste momento, a quem agradeço a presença.

O SR. FRANCISCO LABRIOLA NETO - Boa tarde, Sr. Presidente. Estou aqui a convite desta Comissão para tentar esclarecer alguns pontos concernentes à Receita Federal, na tentativa de elucidar e equacionar o problema relativo ao alho.

A Receita Federal — RFB está muito sensível ao assunto do alho, por se tratar de problema realmente de fato, e nosso trabalho tem sido no sentido de tentar equacioná-lo o mais rapidamente possível.

Trabalhamos nesse contexto junto com a ANAPA, que nos tem ajudado muito, e, por determinação da Dra. Alina, nosso trabalho tem-se focado fundamentalmente na parametrização, que vou explicar melhor aos senhores como se dá.

Para nós, em termos aduaneiros, hoje o alho tem uma situação de não-recolhimento do antidumping aplicado. Pode também estar implicada outra

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questão, da valoração aduaneira, subvaloração aduaneira ou subfaturamento. São questões que podem afetar especificamente a questão do alho. Existe uma coisa também chamada regras de origem, que muitas vezes não são obedecidas. Por último, pode existir também a fuga de classificação de mercadorias. Ou seja, à medida que a Receita Federal tenta aplicar para que não sejam inócuos seus controles, o que fazem os fraudadores? Em vez de importarem naquela classificação, fogem para outras e automaticamente estão livres dos controles da Receita Federal. Nossa atitude até agora tem sido justamente no sentido de focar essas 4 situações, que são as mais graves.

Os senhores sabem que, por exemplo, na fuga da classificação, tem havido situações em que o alho fresco é importado como se industrializado fosse. Essa situação nos fez adotar um tipo de atitude técnica, chamada parametrização. O que é a parametrização na Receita Federal? A parametrização nada mais é do que o resultado da análise de risco, para que, a partir daquela parametrização, as mercadorias, ao serem importadas, sejam colocadas no canal cinza ou no vermelho.

O que ocorre especificamente no caso do alho? Estamos parametrizando todas as importações, seja do alho fresco, seja do industrializado, para o canal vermelho, de modo que possamos fazer uma análise mais percuciente de cada uma dessas importações.

O que significa o canal vermelho, para quem não conhece a fundo as questões da Receita Federal? No canal vermelho, em vez de a mercadoria sair rapidamente, como se estivesse tudo corretamente, nós a paramos na zona primária, nos portos, aeroportos etc., e, ao pararmos a mercadoria, é feita uma análise sob todos os ângulos, seja no quesito origem, seja no quesito valoração, seja quanto às qualidades intrínsecas da mercadoria e no concernente ao pagamento dos deveres antidumping.

Esses nossos estudos estão começando a surtir efeito, mas ainda não tivemos tempo para já fazer uma aferição do quanto surtiu ou do quanto não surtiu efeito, porque os estudos praticamente foram concluídos há 2 meses, e agora as medidas estão sendo praticadas. A partir disso, estamos fazendo um fluxo maior de informação com as zonas primárias, com os portos, principalmente, por onde se dá a entrada desses produtos.

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Basicamente, nossa concentração hoje está se dando no porto e nas zonas primárias do Rio de Janeiro e em São Paulo. A partir disso, os chefes das respectivas repartições têm tido a obrigação de nos reportar a cada importação de alho o que está acontecendo. Está sendo feito um monitoramento detido, por ordem da Dra. Alina, que disse que, quanto a tudo o que for relativo a alho, tenho que fazer um relatório para ela todos os meses, para dizer exatamente qual é a situação.

Na inteireza do caso, temos visto que existiram algumas medidas liminares, e boa parte delas já foram revogadas, mas durante a vigência, e o que acabou acontecendo foi que elas ensejaram a entrada de produtos sem o pagamento de

antidumping, o que para nós, na medida em que haja revogação, está fazendo com

que retornemos, cobrando todas essas medidas, vez que a liminar teve a vigência esgotada.

Da parte da Receita Federal, o fulcro é justamente isto: a parametrização voltada para verificar as questões de situação de pagamento de valores

antidumping, valoração aduaneira, regras de origem e fuga de classificação. São as

4 situações às quais estamos atentos, verificando isso.

Só para dar um retorno aos senhores, existem pessoas que estiveram comigo e fizeram algumas denúncias. Na verdade, como retorno, podemos dizer que todas as denúncias foram estudadas, e da grande maioria já temos as parametrizações e os eventuais fraudadores, que estão sendo parametrizados, e suas importações têm sido fiscalizadas detidamente. É o que posso dizer. Isso foi fruto não só da denúncia dos senhores, mas do estudo de verificação da compatibilidade ou não, da exeqüibilidade ou não de se fazer a parametrização.

Pelos nossos parâmetros — e gostaria de fazer meu agradecimento em público —, foram indicativos muito interessantes para nós, em termos de fiscalização. A Receita Federal, que quer coibir terminantemente esse tipo de fraude, conseguiu verificar que realmente muitas dessas situações estavam ocorrendo. Com essa parametrização, visamos diminuir justamente as incidências de fraudes que eventualmente vinham acontecendo.

Sr. Presidente, basicamente era o que eu tinha a dizer.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Agradeço ao Dr. Francisco Labriola Neto a contribuição e de imediato concedo a palavra ao Dr. Fernando Guido

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Penariol, engenheiro agrônomo e Coordenador de Qualidade Vegetal do MAPA, pelo prazo de 10 minutos, a contar deste momento.

O SR. FERNANDO GUIDO PENARIOL - Boa tarde a todos. Quero agradecer de antemão ao Deputado Onyx Lorenzoni o convite. É uma grande honra ter a oportunidade de falar nesta Casa, tão importante. Quero cumprimentar a todos os representantes da cadeia do alho presentes.

Vamos falar um pouco sobre a qualidade vegetal. O Dr. José Geraldo falou sobre a questão da parte fitossanitária, dos produtos vegetais, no caso do alho, e vamos falar um pouquinho sobre qualidade do alho.

(Segue-se exibição de imagens.)

Antes, quero comentar os contextos em que estamos inseridos em relação à qualidade. O Ministério possui uma visão de futuro e uma missão colocadas num espaço de 15 anos, que é o prazo que o Ministério busca para atingi-las, e, dentro dessa visão e dessa missão, os objetivos que devem ser alcançados, visando atingi-las. Um dos principais, que mais nos atinge, é a questão de garantir a segurança alimentar, que seria a segurança do alimento, o abastecimento e o preço. Nesse objetivo da perspectiva da sociedade, estamos inseridos, nós, da Coordenação-Geral de Qualidade Vegetal do Departamento de Inspeção de produtos de origem vegetal do MAPA.

Este é o organograma do MAPA. Esta é a Secretaria de Defesa Agropecuária. As Superintendências Federais de Agricultura são unidades descentralizadas do Ministério, possuem fiscais federais que atuam na ponta, nos Estados, nas Unidades da Federação, fazendo a fiscalização. Estamos no Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal, da Secretaria de Defesa Agropecuária.

Tendo em vista o objetivo de garantir a segurança alimentar, dentro dessa estrutura trabalhamos especialmente conforme a legislação, a Lei 9.972, de 2000, que institui a classificação de produtos vegetais, subprodutos e resíduos de valor econômico, cuja classificação é obrigatória em 3 situações. A primeira delas é quando o produto é destinado diretamente à alimentação humana. Segunda situação: nas compras e vendas do Poder Público, aqui representado pela CONAB, mas não só a CONAB, nos portos, aeroportos e postos de fronteiras na importação. Logo, nessas 3 situações a classificação vegetal é obrigatória.

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As atribuições do MAPA estabelecidas por essa lei seriam: o controle, a supervisão técnica, a fiscalização e a organização normativa, entendendo, entre a elaboração de outras normativas, a elaboração de padrões oficiais de classificação. Como acontece para diversos produtos, existe o padrão oficial do alho, que deve ser utilizado obrigatoriamente nas 3 situações apresentadas anteriormente.

A classificação vegetal, com base nessa legislação básica, funciona da seguinte maneira: o Ministério da Agricultura, tendo em vista discussões com vários segmentos e diversos participantes do Ministério, propõe e aprova os padrões de identidade e qualidade, os padrões oficiais de classificação, passando por consulta pública, discussão e reuniões, até que o padrão seja publicado e entre em vigência.

Atualmente, existem mais de 60 padrões de identidade e qualidade, entre eles o do alho. A partir daí, o Ministério credencia e fiscaliza empresas que prestam serviços de classificação vegetal. Atualmente, existem cerca de 160 empresas credenciadas em todo o Brasil que prestam serviço de classificação não só para o alho, mas também para outros produtos padronizados. Essas empresas prestam serviços a empresas embaladoras e ao próprio MAPA, como apoio operacional, na classificação dos produtos importados. E o Ministério também fiscaliza tanto a atuação dessas embaladoras e processadoras, mesmo atacadistas e varejistas, na comercialização desses produtos, quanto o acompanhamento da importação dos produtos na chegada nos portos, aeroportos e postos de fronteira.

Dentro da competência do MAPA, eu destacaria a fiscalização do produto no mercado interno e a análise de conformidade do produto importado. Portanto, vamos, passo a passo, entender melhor como isso funciona. No caso, quem faz isso? No caso da fiscalização do mercado interno, são os fiscais federais dos serviços de inspeção de produtos agropecuários em cada Estado. Esses colegas fiscais fazem esse trabalho na ponta. No caso da importação, são os fiscais federais agropecuários dos serviços de vigilância agropecuária nos portos, aeroportos e postos de fronteira.

Onde isso acontece? No caso do mercado interno, acontece no varejo, em empresas embaladoras, processadoras, beneficiadoras e até atacadistas. No caso da importação, nos portos, aeroportos e postos de fronteira, é como está disposto na legislação básica.

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Como é a fiscalização? Ela envolve coleta de amostras, verificação de rotulagem, análise de conformidade dos produtos oficiais — isso no mercado interno. A importação envolve a classificação, com coleta de amostra, e análise dos produtos aos padrões oficiais para verificar se o produto que está chegando está em conformidade com o padrão oficial estabelecido pelo MAPA.

E em caso de inconformidade? O que acontece se esse produto não estiver de acordo com o que estabelece o padrão oficial? No caso do produto interno, envolve a autuação, a aplicação de sanções, a abertura de processo administrativo, a possibilidade de defesa, em primeira e segunda instâncias, respeitados todos os direitos do fiscalizado. No caso da importação, se o produto não estiver conforme o estabelecido pelo padrão, ou o produto for submetido a um rebeneficiamento, a um repasse, dependendo do caso, o produto é rechaçado, é devolvido.

Em relação a esse dado, houve um pequeno problema na sua consolidação, pois ele é de 2007. De qualquer forma, o que importa são esses percentuais aqui dispostos. Ou seja, da quantidade de produtos ingressados no País, verificamos que 63% deles entrou na classificação “categoria comercial”. Antes de detalhar melhor esses percentuais, cabe explicar que o padrão oficial do alho, instituído pelo Ministério, estabelece 3 categorias de classificação, sendo a de menor qualidade a comercial, a média seria a especial, e a extra seria o de qualidade, só que todas as 3 são passíveis de o produto ser destinado ao consumidor e são permitidas de ingressar no País. O que nós verificamos aqui? Se há a idéia de que o alho que está ingressando no País seja de má qualidade, de repente o problema está aqui, mas vamos ver com mais detalhes logo à frente.

Quais são as questões principais a serem resolvidas em relação à qualidade? É o que nós conversamos bastante com Rafael e com todo o pessoal da ANAPA. Primeiro, é a questão do ingresso de alho de baixa qualidade. O principal item a se verificar seria a revisão do padrão oficial do alho, que envolve também uma discussão, porque esse padrão é norma atualmente consensuada com o MERCOSUL, que estabelece que o padrão para do alho para consumo é específico para o alho para consumo e não é aplicado ao alho industrial. Aí acontece essa situação também que nos afeta, que o colega da Receita citou, essa distorção em algum alho que entra, dizendo que é industrial, para fugir dessa classificação — e

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entra no mercado. Estamos tentando combater isso também. A exemplo da Receita, nós veremos mais à frente.

Há a questão do rebeneficiamento, ou seja, algum alho que não se enquadra naquela categoria inferior, a comercial, e o padrão diz que é possível ser rebeneficiado. É uma questão a se pensar e se rever também na revisão do padrão.

O problema que nós temos: primeiro, está-se revendo o padrão do tomate no MERCOSUL, e nós estamos fazendo todo o esforço possível para colocar o padrão do alho, para revermos o quanto antes essa questão.

Enquanto esse padrão não é revisto, estamos em discussão com a ANAPA, envolvendo o DSV e outros departamentos do Ministério, tentando também criar uma ferramenta para coibir ou para o Ministério rastrear esse alho que se diz que vai para a indústria, mas pode haver desvio no seu uso e ele ser destinado ao consumo. Estamos trabalhando essa normativa junto com a ANAPA e outros departamentos do Ministério, para tentar coibir essa situação. Está sendo encaminhada novamente, em breve, para a consultoria jurídica, para que sejam dados os encaminhamentos até sua aprovação.

Em relação a intensificar a fiscalização do Ministério dentro do mercado interno, como resolver isso? Na verdade, nós demos grande passo no final do ano passado com a publicação do Decreto nº 6.268, de 2007, que prevê mudanças no prazo para contestar a classificação de fiscalização — antes nós falávamos em 45 dias. É impossível prevermos um prazo tão extenso para produto que se degrada rápido, para uma contestação, mas é um prazo que permite agilidade no resultado, é muito mais exeqüível.

E há a questão de distribuição dessa responsabilidade na cadeia. Não é justo que, por exemplo, um produtor, que alguém faça um trabalho de seleção, de classificação muito bem-feito, o produto chegue no varejo, por exemplo, e passe um período muito grande lá exposto — isso pode acontecer em alguns casos —, e, de repente, o produtor seja responsabilizado por isso. O decreto trata isso de forma muito clara e permite que o Ministério do Trabalho melhore essa situação.

Para executarmos tudo isso, estamos em fase de regulamentação do decreto. Esperamos terminar no começo do ano que vem, o que permitirá que o Ministério dê

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melhor resposta em relação à fiscalização dos produtos também no mercado interno.

Era isso. Estamos à disposição para discutir o tema. Obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Onyx Lorenzoni) - Obrigado, Dr. Fernando. Passo a palavra ao Dr. Rafael Jorge Corsino.

O SR. RAFAEL JORGE CORSINO - Sr. Presidente, em nome de todos os produtores, agradecemos a oportunidade de discutir esse tema, que vem afligindo muito a classe produtora de alho no Brasil.

A ANAPA trabalha há muitos anos na defesa do produtor nacional, em outras gestões de colegas que me antecederam, do ex-Presidente Jorge Kiryu e de Gilmar Dallamaria, sempre buscando o equilíbrio do mercado nacional. O antidumping foi implantado em 1996, e eu quero deixar bem claro que ele é a única forma de o produtor nacional sobreviver, porque sem ele a produção de alho no Brasil já estaria extinta. O antidumping não é uma metodologia política, mas foi resultado de números. E, pela terceira vez, foi comprovado que a China pratica dumping aqui e que não teríamos condições de competir com a China se não houvesse medida

antidumping.

Estive na China em 2006, por 10 dias, e fiz passeios pelas regiões produtoras. Constatei que realmente — se houver aqui alguém que já teve a oportunidade, como tive, de ir ao interior daquele país vai entender o que estou dizendo — não há condições de o produtor brasileiro competir com o chinês. Isto é claro: não temos nenhuma condição. Melhor dizendo, o produtor nacional não tem condições de competir com o Governo chinês, porque se trata de agricultura subsidiada. A intenção do Governo chinês é manter os trabalhadores no campo, porque o problema de êxodo rural ali é muito sério e grave. E a China briga com o Brasil e com todo o mundo para que seja mantida a sua produção de alho, como forma de manter seus trabalhadores rurais no campo.

No Brasil não é diferente: também precisamos segurar o produtor no campo, dar condições para que ele possa competir de igual para igual e parar com essa deslealdade que vem ocorrendo graças à farra das liminares que, desde 2004, estamos enfrentando.

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Assumi a Presidência da Associação Nacional em fevereiro de 2008, e um dos nossos grandes desafios foi tentar equilibrar a produção de alho no Brasil. Nós da ANAPA pensamos no abastecimento do mercado e na sobrevivência do produtor nacional, mas, para sobreviver, é preciso, de alguma maneira, obter resultados positivos para plantar a safra, comprar adubo etc. — e, quando há uma crise, como há agora a crise de crédito, o produtor tem grande dificuldade de comprar insumos, fertilizantes, e planta com muito custo. Depois, lá na frente, vem uma enxurrada de alho da China, um juiz concede liminar a uma determinada empresa, e o produtor novamente é pego de surpresa, comprometendo todo o seu trabalho de um ano.

Temos 10 Estados produtores de alho no Brasil, do Norte ao Sul — nos Estados do Sul, sobretudo o Rio Grande e Santa Catarina, a agricultura familiar; no Espírito Santo, também a agricultura empresarial, nos Estados de Minas, Goiás e Bahia —, e essa produção está fadada a acabar se nós não sairmos daqui com algumas soluções.

Trouxemos alguns pedidos e questionamentos para as autoridades presentes. O colega que me antecedeu, o Dr. José Geraldo Baldini, em 2004, não estava presente em audiência pública, da qual participei juntamente com o hoje Secretário Silas Brasileiro e os Deputados Leonardo Vilela e Zonta, mas o seu colega do DSV que palestrou — e estou com a cópia das notas desta audiência — disse que foi feito amplo estudo e análise de risco de praga.

O SR. JOSÉ GERALDO BALDINI - Hoje, temos os requisitos e o processo de análise de risco feito no passado.

Acredito que deve ter havido um aumento em relação ao que foi feito para se originar a atual regra da IN nº 24, que comentei aqui. Agora, o que está sendo feito hoje é justamente isso. Com base naquele trabalho relativo às pragas, estamos fazendo um novo levantamento de pragas na China para verificar se vamos alterar esses requisitos ou criar outros critérios com relação ao alho da China no que diz respeito às pragas. É isso o que estamos fazendo agora.

Na realidade, podemos dizer que esse trabalho é uma rotina para nós, dentro das prioridades que temos. Acredito que, na época em que isso foi comentado, o foco deve ter sido a primeira análise de risco. Na que está sendo trabalhada, foi proposta uma revisão, e está calcada naquela apresentação de 24 pragas

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inicialmente apresentada. Estamos fazendo um levantamento dos bancos internacionais relativos a essas pragas para que possamos ter uma idéia global dos requisitos que, se for necessário, estabeleceremos.

O SR. RAFAEL JORGE CORSINO - Obrigado. Mas quero dizer que não foi feita a análise de risco de pragas. Entrei com um pedido de vista dos 2 processos e ainda não tive resposta.

A agricultura brasileira está cansada de pagar o preço da entrada de novas pragas e do aumento do custo de produção. Então, pedi informações ao Ministério da Agricultura — não foi uma, mas várias vezes —, mas não foi feita análise de risco. O documento existente sobre a situação fitossanitária está em chinês. Então, gostaria que, se foi feita essa análise, ela fosse passada às nossas mãos para darmos uma olhada.

Abordo esse assunto porque corremos o risco de várias pragas serem introduzidas no Brasil. Não estou querendo barrar a entrada do alho chinês, não. O que quero é regulamentar a entrada desse alho para que ele não traga mais prejuízo para a produção nacional e esparrame pragas no Brasil inteiro.

Hoje, no desespero de competir com a China, no sufoco, o produtor acaba pegando esse alho chinês no supermercado para plantar, achando que vai produzir. Isso ocorre com os pequenos agricultores, que não têm conhecimento tecnológico.

Esse é um risco grave. Por isso, pedimos aos senhores, do Ministério da Agricultura, que o considerem. Não queremos criar restrições em relação ao alho chinês por meio de medidas fitossanitárias. Não queremos frear, mas somente regulamentar. E, se há pragas, que façam exigências. Se tudo o que sai do Brasil passa por vários requisitos — como acontece com nossos produtos que vão para os Estados Unidos, para a Argentina, enfim, para todos os países —, por que não estabelecer o mesmo para o que vem de fora cá?

Aproveitando, gostaria também de comentar com o amigo Fernando Penariol justamente acerca da Instrução Normativa nº 76 que estamos discutindo. A ANAPA foi contra. É uma instrução que não vai trazer nenhum resultado palpável, porque o mecanismo que está sendo usado e a logística são totalmente inviáveis. Para nós, pouco resultado vai ter, e somos contra. Esses 63% de alho comercial são alho

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indústria, ou até mais. O Brasil está comprando lixo da Argentina, nosso parceiro comercial.

Peço uma audiência com a participação dos Governos e produtores brasileiros e argentinos, porque quem perde com isso são os produtores que não usam e não investem em tecnologia. Os maus produtores é que levam a isso, porque produzem de qualquer jeito, com custo barato e põem o produto no mercado, baixando o preço. O bom produtor, que investe e mantém a atividade, por sua vez, não tem resultado — e isso também vale para o produtor argentino.

Então, gostaria de encaminhar esse pedido, para que pudéssemos, junto com o MAPA, sentar com o Governo argentino e acabar com a entrada desse alho. Em outubro, vai começar a entrar nova safra da Argentina, com uma quantidade muito grande de alho e um agravamento. Parece que a Argentina não vai conseguir mandar alho para o México nem para Taiwan, e o preço do alho chinês está muito baixo, então, esse alho vai vir para cá. De modo que precisamos sentar para discutir, e não ficar postergando esse assunto.

Vejo a boa intenção do Ministério da Agricultura em resolver os problemas, mas precisamos realmente trazer resultados para a produção nacional. Desde 2004, estamos sofrendo concorrência desleal, o que o produtor nacional de alho não mais tem condições de aceitar.

Disse o Dr. José Geraldo Baldini que, em 2007, a participação do mercado brasileiro era 30%. Com certeza, era 30%. Em 2008, 15%. Podemos, Dr. José Geraldo, se não for feito nada, chegar a desaparecer, especialmente numa crise dessas, quando todas as nações estão em dificuldade. É uma vergonha não haver alho nacional para abastecer o mercado brasileiro. Se a China disser que não vai entregar mais, onde vamos conseguir alho para abastecer os supermercados e os consumidores brasileiros?

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Dr. Rafael, para concluir, por gentileza.

O SR. RAFAEL JORGE CORSINO - Então, Presidente, era o que tinha a dizer. Gostaria apenas de pedir o apoio de todas as autoridades presentes.

Fizemos duas rodadas de debate com a cadeia produtiva do alho e chegamos à conclusão, juntamente com o Vice-Presidente, Márcio Milan, e com o Presidente

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da ABRAS, Sussumu Honda, de que precisamos de restrição quantitativa para o alho que vem da China. Com isso, o produtor nacional não mais terá essa surpresa desagradável.

É uma vergonha nacional que todo o consumo de alho do Brasil, em um mês, venha da China. Se não fizermos nada, estaremos assinando um atestado de incompetência. Se as autoridades não tomarem uma atitude contra essa vergonha, o produtor nacional, que não tem mais condições de agüentar isso, irá à falência.

Muito obrigado, Presidente. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigado, Dr. Rafael, foi muito importante a sua fala. (Palmas.) Foi tão importante que mereceu os aplausos. Realmente, a audiência tem esse objetivo.

Informo que o Dr. Olir Schiavenin está inscrito como último palestrante e passo a palavra, em seguida, ao Dr. Welber Barral, Secretário de Comércio Exterior do Ministério de Indústria e Comércio, por 10 minutos.

O SR. WELBER BARRAL - Boa tarde, Presidente, senhoras e senhores. Rapidamente, vou falar das medidas que o Ministério do Desenvolvimento vem tomando no que se refere à cadeia do alho e, fundamentalmente, das medidas

antidumping, que não estão tendo a efetividade esperada. Falarei também do caso

do alho chinês, de algumas ações do Judiciário e do Departamento de Defesa Comercial — DECOM.

(Segue-se exibição de imagens.)

O DECOM, um dos departamentos da Secretaria de Comércio Exterior, é que decide pela abertura de investigação nos casos de dumping, salvaguardas e medidas compensatórias. O Departamento conduz a investigação e apresenta um parecer à Câmara de Comércio Exterior — CAMEX, que, aprovando-o, promove a aplicação de uma medida antidumping.

A medida antidumping se materializa como tarifa adicional na importação de determinado produto. A Receita Federal, como foi explicado pelo meu colega Francisco Labriola, é responsável pela cobrança do direito antidumping e também pelo desembaraço aduaneiro das medidas que estão sujeitas a esse direito.

No caso do alho, a primeira investigação é de 1994 e foi feita a pedido da Associação Goiana de Produtores de Alho. Foi aplicado um direito antidumping

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provisório de 36% e, depois, em 1996, um antidumping definitivo de 40 centavos de dólar por quilo. Essa medida ficou em vigor até 2001.

Aproveito para explicar que a medida antidumping pode valer por 5 anos. Depois, ela pode ser renovada mediante nova investigação. Pois bem. Houve uma nova investigação em 2001, e a medida permaneceu em vigor durante a revisão. Depois, houve uma nova medida de 48 centavos de dólar por quilo, com prazo de vigência de dezembro de 2001 a dezembro de 2006.

Houve uma segunda revisão em 2006, e se chegou a um aumento do direito

antidumping aplicado: 52 centavos de dólar por quilo. Essa medida de 2006 deverá

ficar em vigor até novembro de 2012. Juridicamente, o que o Governo brasileiro, por intermédio do Ministério do Desenvolvimento, poderia fazer era a aplicação do direito antidumping, no caso da China, até 2012.

O que vem acontecendo? Vejam os indicadores da indústria nacional. O consumo total do Brasil é de alguma coisa por volta de 182 mil toneladas.

Chamo a atenção dos senhores para este quadro. Temos aqui as importações dos 2 últimos anos. Este quadro mostra alguns dos problemas que enfrentamos. A importação da Argentina e da China, em 2007 e 2008, é basicamente a mesma, 124 mil toneladas, 123 mil toneladas. A grande questão é que, do que vem da China, mais da metade não paga direito antidumping.

No caso de 2007, 31 mil toneladas não pagaram direito antidumping em razão de medidas liminares, 54% da importação da China, e, no caso de 2008, mais ou menos 54% também não pagaram, em razão de medidas judiciais.

Na realidade, isso tem criado distorções no mercado por várias razões. Em primeiro lugar, porque acaba não permitindo um dos objetivos do direito

antidumping, que é a recuperação da indústria. Em segundo lugar, porque cria uma

diferenciação entre os próprios importadores. Há uma concorrência desleal, uma vez que alguns importadores acabam conseguindo liminar, inclusive, eliminando do mercado outros importadores.

Na realidade, 54% desses casos em que não há cobrança do direito

antidumping são por conta de liminar, e há a importação de outros mercados. No

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muito pequeno de outros mercados que não chega a ser muito representativo na importação total do Brasil.

Por que essas liminares vêm sendo concedidas? Teoricamente, as decisões são tomadas pela CAMEX. A competência relativa a essa matéria seria do STJ. Entretanto, várias ações estão sendo protocoladas na Justiça Federal contra os inspetores da Alfândega no local de ingresso do produto. Como muitas vezes a mercadoria já chegou, e é material perecível, o juiz concede a liminar. Os juízes têm aceito a legitimidade passível dos inspetores da Alfândega, embora a decisão tenha sido do conselho de Ministros — e há alegações para todos os gostos e tipos. Alguns alegam os prazos da investigação; outros importadores alegam que não foram informados da investigação, observando que toda a investigação é publicada no Diário Oficial da União, e muitos desses importadores não existiam inclusive quando começou a investigação.

Há desrespeito aos tratados internacionais da OMC e do MERCOSUL, e eu gostaria de lembrar, Sr. Presidente, que o Departamento de Defesa Comercial do Brasil é um dos mais respeitados do mundo. Nunca perdemos um caso na OMC. O Brasil nunca perdeu um caso de antidumping na OMC, apesar disso, proliferam essas argumentações de que algum juiz teria aceitado. E, aí, evidentemente, o recurso é defendido pela Procuradoria da Fazenda Nacional, que, em muitos casos, consegue cassar a liminar, mas somente alguns anos depois.

Isso tem sido agravado pela questão do dólar, que até há bem pouco tempo tinha sobrevalorização, o que acabava facilitando a importação. Houve também algumas greves de Procuradores da Fazenda, que fizeram com que houvesse atrasos com relação aos recursos. E houve casos questionados pela Procuradoria, mas que obtiveram sucesso, inclusive no STJ.

No caso do DECOM — é bom lembrar isso —, nem o Departamento nem a Secretaria de Comércio Exterior têm atuação nos tribunais. O que temos feito é sempre municiar a Procuradoria da Fazenda Nacional, ajudando na defesa, quando possível, da União e, ao mesmo tempo, fazendo palestras para Procuradores e, inclusive para membros do Judiciário, esclarecendo esse problema. Na realidade, embora tenhamos um volume muito grande de ações relativas a comércio exterior,

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no caso de antidumping, basicamente apenas os casos relativos ao alho são levados ao Judiciário.

A atuação do DECOM tem surtido efeito para diminuir as liminares, mas, na realidade, elas acabam proliferando em outros foros. De qualquer forma, temos ficado sempre à disposição da advocacia pública para tentar esclarecer o processo e como o instrumento é utilizado no Brasil e no mundo — isso com relação à China.

No caso da Argentina, é diferente. A Argentina é parte do MERCOSUL. Teoricamente, seria possível a aplicação de salvaguarda. Entretanto, há uma série de dificuldades técnicas no que se refere a salvaguardas. A principal delas é que a Argentina não é o principal fornecedor. Tentamos, por diversas vezes, junto com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, no âmbito da negociação Brasil/Argentina, negociar uma limitação quantitativa, principalmente durante o período de safra no Brasil. O argumento da Argentina é o de que uma restrição quantitativa das exportações argentinas vai acabar permitindo a entrada de mais alho chinês em razão das liminares. Então, tem havido algumas dificuldades, embora o MDA tenha evoluído bastante na negociação e tenhamos incluído esse item como uma das pautas da negociação com a Argentina.

Só para esclarecer, ressalto que, na década de 80, houve uma restrição quantitativa. Havia um decreto que limitava quantitativamente a importação de alho. Juridicamente, isso não é mais possível. Isso foi em 1980, antes da OMC, antes de a China entrar na OMC, antes dos acordos internacionais. O que temos de instrumento de defesa comercial, fora os casos de questões sanitárias e de regras do Ministério da Agricultura, são medidas antidumping, medidas compensatórias e medidas de salvaguarda. O antidumping, que era o que o Governo poderia aplicar tecnicamente, foi aplicado. A perda de eficácia tem se dado pelo fato de que 57% das importações estão entrando com liminares.

Era isso, Sr. Presidente. Muito obrigado.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Muito obrigado, Dr. Welber Barral, pela sua participação.

Passo a palavra à Dra. Miriam Santos Barroca, Diretora do Departamento de Defesa Comercial, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

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agradecer ao Presidente da Comissão de Agricultura, Pecuária, Abastecimento e Desenvolvimento Rural a oportunidade de o Departamento de Defesa Comercial abordar a condução de seu trabalho em prol do setor de alho.

O Secretário de Comércio Exterior, de forma geral, já se referiu à legislação relativa à defesa comercial. Então, vou falar um pouquinho com os senhores sobre a condução do Departamento de Defesa Comercial em favor desse setor, que entendemos importante e que é intensivo em mão-de-obra e, portanto, merece atenção especial — não foi à toa que o Departamento sempre se comportou dessa forma.

O Departamento de Defesa Comercial foi criado na nova estrutura, em 1995, e um dos primeiros direitos aplicados, uma das primeiras investigações conduzidas por ele foi em relação ao alho. Tanto é que, em 1996, foi aplicado um direito

antidumping da ordem de 40 centavos de dólar por quilo, um direito específico. Na

primeira revisão, que aconteceu 5 anos depois, esse direito foi aumentado para 48 centavos por quilo, o que significa que os chineses aprofundaram a prática de

dumping. Na última revisão — como comentado pelo Sr. Secretário —, esse direito

foi aumentado para 52 centavos de dólar.

Discordo da fala do Sr. Rafael, Presidente da ANAPA, no sentido de que as liminares começaram em 2004. Na verdade, temos registro de que as liminares tiveram início em 1999, conforme acompanhamento feito pelo Departamento. Na oportunidade, as ações eram dirigidas, via mandado de segurança, contra o ato coator, assim denominado por eles, que era a Resolução CAMEX, e o Departamento sempre fez a defesa, prestando as informações necessárias, para que o juízo pudesse fazer uma análise de mérito e cassar as liminares concedidas. Posteriormente, os importadores, vislumbrando que o Departamento de Defesa Comercial fazia uma defesa ativa da Resolução CAMEX, mudaram um pouco a estratégia e passaram a ingressar com ação ordinária.

Na ação ordinária, ingressam contra a União. Alguns Procuradores procuravam o Departamento de Defesa Comercial, para que oferecêssemos subsídios para a defesa da União; outros Procuradores, não. E nem sabíamos que havia uma ação contra a resolução da CAMEX. Isso foi detectado, e, em razão de audiência pública aqui realizada em 2004, constituímos um grupo de trabalho, que

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evoluiu da seguinte forma: inicialmente, as ações se concentravam no Espírito Santo, Rio de Janeiro e São Paulo, mas basicamente no Espírito Santo. O grupo apresentou palestras para Procuradores da Fazenda Nacional explicando as ações que deveriam ser desenvolvidas na defesa da União. Houve grande sucesso.

A propósito, comentei com o Dr. Rafael, no início deste ano, o caso de uma Procuradora da Fazenda Nacional, do Espírito Santo, no qual o juiz não aceitou a argumentação apresentada. Ela recorreu –– nós ajudamos, tivemos participação efetiva –– ao Tribunal Federal da 2ª Região, mas o Tribunal manteve a decisão. Ela, então, entrou com uma ação no Superior Tribunal de Justiça, alegando que as ações teriam de ser intentadas diante do STJ, uma vez que se tratava de Resolução CAMEX, uma decisão de colegiado de Ministros e que, portanto, o STJ é que teria a competência para julgar essas ações. O Ministro Luiz Fux acatou os argumentos apresentados pela PGFN e cassou a liminar concedida, avocando o processo para o âmbito do STJ.

Infelizmente, como o Secretário bem disse aqui, existe uma tentativa de fugir do julgamento do STJ, alegando que não se está atacando a resolução em si, mas a mercadoria que está no porto, e que aquele fiscal da Alfândega está impedindo o desembaraço aduaneiro daquela mercadoria.

Do ponto de vista do Departamento de Defesa Comercial, temos excelente diálogo com a produção brasileira, seja com os Presidentes anteriores, seja com o Presidente atual, o Dr. Rafael Corsino. Sempre atuamos juntos, continuamente dizendo da limitação do Departamento de Defesa Comercial, bem como da Secretaria de Comércio Exterior e do Ministério do Desenvolvimento.

As alegações de que o alho apresenta problemas de pragas quarentenárias não é da competência do Departamento; da mesma forma, a questão da Argentina. O que se restringe ao Departamento de Defesa Comercial são as ações de defesa comercial, do ponto de vista do dumping, subsídios e salvaguarda.

Em relação a salvaguardas, como bem disse o Secretário de Comércio Exterior, há um fator que seria impeditivo: grande parte das importações brasileiras do alho é oriunda da Argentina, país em relação ao qual não se pode aplicar salvaguarda. Os parceiros do MERCOSUL estão isentos da aplicação de salvaguardas. Então, o Brasil teria dificuldade em ter um nexo de causalidade,

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porque haveria outro fator importante. É bom lembrar que, até 2007, o principal exportador de alho para o Brasil foi a Argentina. Agora, em 2008, se olharmos as importações, veremos uma tendência de inversão, uma vez que a China vem deslocando inclusive o alho da Argentina, passando a ser o principal fornecedor, pelo menos até agora, outubro de 2008.

Temos uma comissão bilateral com a Argentina. E, nessa comissão, o Governo brasileiro está tentando fazer um acordo com os argentinos, mas eles alegam que o Brasil deveria, em primeiro lugar, combater as liminares, porque qualquer restrição voluntária que a Argentina faça vai possibilitar uma entrada maior de alho chinês no mercado brasileiro.

Continuamos à disposição do setor para apoiá-lo no que for preciso, mas no âmbito da competência do Departamento de Defesa Comercial.

Muito obrigada.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Obrigada, Dra. Miriam. Com a palavra o Dr. Herculano Gonçalves de Oliveira Filho, Presidente da Associação Nacional dos Importadores de Alho, por até 10 minutos.

O SR. HERCULANO GONÇALVES DE OLIVEIRA FILHO - Boa tarde a todos.

Agradeço ao Deputado Onyx Lorenzoni o convite para falar pelo setor de importação.

Hoje, o grande problema, começando pela Argentina, que nós, importadores, vemos é a justamente relativo à qualidade. Há uma falha para se apurar o que é CAT-1 e o que é CAT-2. Assim, a mercadoria realmente entra como CAT-2 e acaba prejudicando a venda do alho no seu mercado normal. A qualidade é o ponto-chave que desnorteia o mercado.

Quanto à China — e estou no mercado há 25 anos e como Presidente há um mês —, já vi muitos fatos nesse segmento de importação. Nos anos 80, eram estabelecidas cotas. Criou-se, então, um verdadeiro cartel no mercado de alho. As cotas eram dadas para alguns que praticavam um preço exorbitante e quem pagava a conta final era o consumidor brasileiro. O supermercado pagava um preço “x” e estourava na mesa do consumidor. Graças a Deus, em 1990, isso acabou. Na época

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do Governo Collor, houve uma abertura dos mercados, e isso foi muito bom para vários segmentos, inclusive o nosso, o alheiro.

O principal problema nesse mercado, a partir do momento em que se instituiu o dumping, uma proteção para a produção nacional, foi o fato de que o dumping acabou se transformando em atrativo — como muito bem dito aqui — para as empresas. Muitas delas operam durante um período, não pagam o antidumping e, depois, somem. É bom que isso fique claro. A Receita Federal deve buscar essas empresas. Fica a sugestão para o nosso colega da Receita Federal.

De fato, existe uma verdadeira indústria de liminares. Digo isso porque somos importadores, pagamos os nossos tributos, a nossa empresa paga, e quase desaparecemos do mercado também. Entendo a posição dos produtores. Também já produzi alho aqui em Formosa, a 100 quilômetros de Brasília. Conheço, portanto, a produção de alho. É preciso ficar claro que o grande problema não é quantitativo. A lei tem de ser cumprida. O antidumping tem de ser cumprido. Como disse o Secretário, mais da metade do alho chinês entra no Brasil sem pagar dumping.

Sou do Rio de Janeiro, Estado em que há uma verdadeira indústria. Já foi em Vitória, no Espírito Santo. Hoje está no Rio de Janeiro. Nos últimos 2 meses, porém, a Receita tomou uma atitude e talvez hoje é quase garantido que nenhuma liminar esteja vigendo. Há importadores buscando novas liminares? Há. O que aconteceu? O dumping saiu de 40, foi para 48 e, agora, 52 centavos de dólar. Façam as contas e vejam se um importador que paga seus tributos consegue sobreviver. O grande ponto é esse.

O Governo — que fique bem claro — já trabalhou muito em prol da produção. Aumentou o imposto de importação, que era de 14%, para 35% e instituiu o

antidumping. Toda vez que o produtor pediu, houve aumento. No entanto, isso atrai

quem não quer pagar impostos. Fiquei um pouco assustado há alguns meses, porque havia importadores que não pagaram dumping e, ao verem que estavam perdendo suas liminares, fizeram um movimento para criar cotas. Por quê? Porque, dessa forma, seria feito um histórico de 2007, 2006, 2005, como ocorreu no caso do coco ralado. E quem ia ser beneficiado? As empresas que não pagaram dumping. Seria uma verdadeira ironia presentear dessa forma o infrator, aquele que prejudica a produção nacional e agora faz um movimento para se criar cotas. É um absurdo!

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Falar em cotas hoje no Brasil é um absurdo! O Brasil tem de se proteger e, para tanto, pode usar os meios fitossanitários e o DECOM, como o Secretário disse bem. Aliás, é exemplar — e posso dizê-lo porque viajo o mundo inteiro, vou muito à China e aos Estados Unidos — a atuação da Secretaria no Brasil. Em nenhum outro país é tão eficiente. Então, mecanismo tem havido.

Bato na tecla de que é necessário segurar empresas, e a Receita ser rígida na fiscalização das portas de entrada, para saber se a lei está sendo cumprida, se está havendo a comunicação da queda de liminares para que seus fiscais não deixem o produto entrar. Isso tem que ser dito, porque o problema está aí. Não se trata de segurar quantidades.

Certa vez, participei de reunião com o ex-Ministro da Agricultura Roberto Rodrigues e ouvi de S.Exa. mesmo: “Herculano, o alho é para a China o que a

nossa soja é para o Brasil. Nosso País tem de saber considerar mão e contramão. Da mesma forma que o alho sustenta 5 mil, 10 mil famílias no Sul do Brasil, quando exportamos soja, milhares de agricultores são beneficiados com essa venda”. Isso

tem de ficar claro.

Volto a dizer que a minha bandeira é a de que as autoridades peguem firme na vigilância sobre as empresas, especialmente nos portos. Também é preciso apertar a vigilância relativa à qualidade, para não entrar mercadoria fraca vinda da Argentina. Apertando a vigilância sobre o dumping e o pagando, o segmento fica supercompetitivo. Hoje, há até uma ironia no mercado: o alho chinês — e há outros importadores aqui que sabem disso — está mais caro do que o alho nacional, o que é um contra-senso. Temos de fazer um trabalho de fiscalização. Assim, reduz-se o quantitativo naturalmente.

Represento a cadeia produtiva e falo também em nome das grandes redes de supermercados que atendemos, como Wall Mart, Pão de Açúcar e Carrefour. As empresas importadoras querem liberdade de importar. Quando me falam sobre redução de quantitativo é o mesmo de dizerem para mim: “Olha, você vai ter tantas

caixas e daquilo você não passa”. Na condição de empresário, dessa forma, não vou

crescer nunca, porque disseram que eu só teria essa quantidade, e disso não passaria. Todos temos de crescer e andar para frente e juntos.

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Como disse, sou comprador de alho nacional, já produzi, hoje sou parceiro dos produtores, mas se o Brasil precisa de importação, vamos tratá-la com o devido respeito, saber o que deve ser efetivamente feito para a mercadoria entrar e não haver essas brechas hoje existentes. Afinal, os especuladores, inclusive empresas que nem importadoras de alho são, entram pelas brechas. No Rio de Janeiro, por exemplo, há empresas de outro segmento que importam alho, porque o juiz de uma cidade pequena concede liminar, e outro juiz faz o mesmo, e até essa liminar ser cassada, já causou um dano incrível no mercado. A verdade é essa.

E isso não afeta apenas o produtor, mas também o importador, que paga os seus impostos. Somos tão vítimas da indústria da liminar quanto é o produtor, porque não há como competir. Hoje o importador tem o dólar subindo, o que é um agravante sério para a recessão, que, como disse o amigo da ANAPA, está vindo. Aliás, as expressões proibidas em qualquer governo do mundo são: “elevação de preço” e “desabastecimento”. Por isso, falar em cotas é um absurdo.

O foco principal, volto a dizer, deve ser um trabalho feito pela Receita Federal e o Ministério da Agricultura. Se essa segurar os problemas da Argentina e aquele, os problemas das liminares, o mercado se estabelecerá por si só.

Hoje, os valores de mercado vigentes são bons, não estão no chão como já ocorreu no passado.

Somos importadores. Estamos no mercado há muitos anos e o regulamos. O que faz o mercado se nivelar é a lei da oferta e da procura. Não há mais espaço para distribuir quantidades para a, b e c, em detrimento da maioria. Eu acho que o Brasil já ultrapassou essa fase.

Muito obrigado e uma boa tarde para todos.

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Muito obrigado, Dr. Herculano.

Com a palavra o Dr. Olir Schiavenin, Presidente da Associação Gaúcha dos Produtores de Alho.

Antes, porém, informo aos convidados que, após a participação dos Srs. Deputados, na mesma ordem, cada um terá um tempo para expor as suas conclusões finais.

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Quero, em primeiro lugar, saudar a Mesa, as autoridades e os representantes de Ministérios presentes. Saúdo especialmente o Presidente desta Comissão, Deputado Onyx Lorenzoni, pela iniciativa, e os nossos colegas produtores de alho do Centro do País, mais precisamente o pessoal de São Gotardo, de Minas Gerais, que veio numa lotação, e também o pessoal do Distrito Federal e de Goiás — e essa presença expressiva mostra a importância que tem a cadeia produtiva do alho.

Em nome da Associação Gaúcha dos Produtores de Alho, ressalto que a produção alheira da Região Sul — e acho que a grande maioria dos presentes sabe ou, pelo menos, já ouviu falar — é única e exclusivamente realizada por pequenos produtores rurais. Cerca de 2 mil famílias cultivam uma área de 2 mil hectares, e o alho é uma ótima alternativa para a pequena propriedade e para manter o agricultor no campo. Essa cultura coincide e casa muito bem com a produção de uvas, e dá muito bem para exercermos as duas atividades.

Destaco também que nossos pleitos têm o apoio de todo o segmento do alho do País, como mostrou o importante depoimento do Presidente da Associação Nacional dos Importadores. Realmente, temos de defender esse segmento da produção agrícola nacional, que é uma ótima alternativa e tem grande potencial de crescimento. Vimos aqui pelos dados apresentados pelo Ministério da Agricultura que o País produz praticamente 30% do alho que consome. Então, vejam o potencial e a importância que tem essa cultura para a pequena propriedade, não só para a pequena, mas também para a grande propriedade. O alho é para nós uma cultura que mantém o homem no campo.

No Brasil, fala-se muito em reforma agrária. Na nossa região, a reforma agrária foi feita há 133 anos, quando vieram os primeiros imigrantes italianos. E nós, pequenos produtores, queremos ficar no campo, produzir, gerar renda e manter a nossa família com qualidade de vida. É para isso que trabalhamos, é para isso que existe a Associação Nacional, é para isso que existem as associações, enfim, que existem lideranças e pessoas que realmente querem trabalhar e produzir neste País.

Também em nome da Associação, ressalto a importância do antidumping, destacando a importância do trabalho da Secretaria de Defesa Comercial, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Também sabemos do esforço feito pelo setor vitivinícola, que sofre a pior crise da história — o Rio Grande

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do Sul produz 90% dessa cultura no País. E falo aqui também como coordenador da Comissão Interestadual da Uva. Aliás, já estivemos aqui também numa audiência pública nesse sentido. Então, precisamos realmente fiscalizar.

Não entendo, na condição de pequeno produtor, o que se passa na cabeça do magistrado quando ele decide abrir mão de receita e autorizar, por meio de liminar, uma empresa, muitas vezes com suspeita de ser fantasma, a receber uma autorização para não recolher impostos — e isso num País que carece de saúde, que carece de segurança, que carece de educação e de outras tantas coisas. É só olharmos por aí. Então, não entendemos o porquê desse tipo de atitude.

Queremos também registrar a importância de fiscalizarmos a qualidade do alho, principalmente o da Argentina, que entra aqui como alho indústria e depois vai para o comércio. Essa atitude é muito prejudicial. É preciso que haja maior fiscalização.

Dirijo-me ao Ministério da Agricultura, principalmente. Os fiscais devem ver se o alho que vem da Argentina está de acordo com as normas, com os padrões de qualidade, de identidade, de embalagem, de classificação, e assim por diante. Caso contrário, nós estaremos fadados a desaparecer, no Rio Grande do Sul. Já produzimos 7 mil hectares há 10, 12 anos, e hoje produzimos uma área de apenas 2 mil hectares. Se nós não tivermos proteção, a nossa atividade de alho, pelo menos no Sul, estará com os dias contados. Não sei o que essas famílias irão fazer, qual será a atividade delas numa região de minifúndio bastante acidentada.

Temos de criar empregos, manter o nosso homem no campo e fazer com que realmente o nosso País cresça cada vez mais para o bem de todos, principalmente dos pequenos produtores de alho.

Parabenizo, mais uma vez, a Comissão de Agricultura.

Convido os colegas produtores do Centro-Oeste e de Minas Gerais para participarem, no próximo dia 7 de novembro, do 21º Encontro Nacional dos Produtores de Alho, que será realizado em Nova Pádua, pequeno município de colonização italiana, na Região da Serra do Rio Grande do Sul, a 150 quilômetros de Porto Alegre.

Nesse importante evento estarão representantes do Ministério, da CONAB, da EMBRAPA. Debateremos também a importância de nós evoluirmos cada vez mais

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em relação à qualidade, à produtividade, à diminuição de custo, embora às vezes seja difícil fazer isso. Neste ano os adubos e fertilizantes tiveram aumento de 51%. Então, muitas vezes é difícil continuarmos trabalhando e produzindo.

Para finalizar, queremos dizer que confiamos em nosso Governo, confiamos no Brasil, confiamos nos Ministérios.

Os acordos internacionais são importantes para o crescimento e desenvolvimento do País, mas o Governo deve pensar também em quem está no campo e muitas vezes paga a conta. Às vezes, o alho, o vinho e outros produtos são trocados por outros que têm mais importância na balança comercial.

Muito obrigado. (Palmas.)

O SR. PRESIDENTE (Deputado Luiz Carlos Setim) - Muito obrigado, Dr. Olir Schiavenin.

Concedemos a palavra ao último participante, Dr. Jean Gustavo, a pedido da ANAPA. S.Sa. dispõe de 5 minutos.

O SR. JEAN GUSTAVO MOISÉS - Acho interessante a nossa interceptação na reunião, porque aqui foi identificado realmente o problema das liminares.

Como fomos contratados especificamente para combater essas liminares e para tentar impedir a entrada do alho ilegal ou do alho com concorrência desleal no Brasil, é interessante fazermos algumas ponderações.

Hoje se conta pontualmente onde estão as liminares. Sabe-se que elas não estão esparsas. Quando nós entramos, em 2007, havia mais de 50 ações e de 10 a 15 liminares. A situação estava incontrolável. Quando veio a Resolução nº 52, nós vimos que, judicialmente, não conseguiríamos controlar essas liminares. Atuamos junto com a Receita e a Procuradoria, levamos pareceres mostrando que essas liminares realmente perderam o objeto. E a Procuradoria nos ajudou nesse sentido. A Receita conseguiu bloquear todas essas antigas liminares.

Agradecemos ao Dr. Francisco, porque nós realmente tivemos o apoio da Receita. Preciso consignar isso. Ela entendeu a situação jurídica do problema e barrou essas empresas com liminares antigas. Dizemos que são antigas porque vieram antes da Resolução nº 52.

No entanto, quando vieram essa parametrização e essa nova resolução, começaram a surgir novas liminares. Então, antes, nosso combate era junto à

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Receita. Agora, preciso dizer aos senhores, existem sim, várias liminares. Nos últimos 3 meses, nós contamos mais de 12 liminares ou de 12 liberações para importação de alho. E agora, Dra. Miriam, o caráter é diferenciado. Eles estão entrando com importações indeterminadas. Pode-se entrar não com aquele mandado de segurança antigo, em que se liberava simplesmente uma carga, mas para liberar incontinente qualquer carga de alho que entre. Aquela defesa da procuradora não tem mais razão de ser, porque, como não existe mandado de segurança — o que há ali é ação ordinária —, nós temos de combater ação por ação.

Nós, do jurídico, estamos tentando encontrar essas liminares. Mas, a cada mês, mais de 10 empresas são formadas e mais de 10 empresas são encerradas. Estamos vendo aqui um ciclo de empresas fantasmas, que estão iniciando e encerrando as suas atividades somente por conta dessas liminares. Quero denunciar isso de público. Eu acho que a própria Receita já tem conhecimento dos fatos e já faz suas investigações. Mas também não podemos perder a oportunidade de entender isso.

Nós, junto com a Procuradoria, em São Paulo, vimos que um moleque de 17 anos conseguiu ser sócio de uma empresa com uma movimentação pequena. Ele movimentou 3 milhões em alho e depois sumiu, num prazo de 2 meses. Nunca mais se ouviu falar nesse moleque. Com certeza, ele não é importador.

Está havendo uma luta desigual. Já que o problema é cassar liminar, então vamos propor uma luta igual. Sugiro que o Governo, a Advocacia-Geral da União e a Receita Federal façam um convênio conosco. Vamos trabalhar juntos, porque a ANAPA está ajudando. Nós cassamos liminares em 1, 2 meses de atuação. Sabemos que a AGU tem de lidar com fumo, com combustível, com várias outras coisas, mas nós estamos especificamente trabalhando para o alho.

Então, queremos propor um convênio entre AGU, Receita e ANAPA. Gostaríamos que a ANAPA participasse desse trabalho. Como? A partir do momento em que a Receita tivesse conhecimento de uma liminar, ela nos comunicaria para que corrêssemos atrás. A partir do momento em que a AGU tomasse conhecimento disso, nós nos reuniríamos com seus membros para que firmássemos um convênio e fôssemos comunicados imediatamente. Nós temos uma estrutura de busca de

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