1 EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DO FORO DISTRITAL DE MACAUBAL, COMARCA DE MONTE APRAZÍVEL-SP
DISTRIBUIÇÃO COM URGÊNCIA
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DE SÃO PAULO, por intermédio da Promotora de Justiça que esta subscreve, no uso de suas atribuições legais e com fundamento nos artigos 127 e 129, III, da Constituição Federal, nos artigos 103, incisos I, VII, VIII e 121, da Lei Complementar Estadual nº 734, de 26 de novembro de 1993 (Lei Orgânica do Ministério Público de São Paulo), nos artigos 11, 25, 26 e incisos, da Lei Federal nº 8.625 (Lei Orgânica Nacional do Ministério Público), bem como na Lei Federal 7.347, de 24 de junho de 1.985, vem, à presença de Vossa Excelência, ajuizar AÇÃO CIVIL PÚBLICA, de natureza CAUTELAR SATISFATIVA em face da RENATO ALVES DE OLIVEIRA, brasileiro, casado, portador do RG 34.549.579-2, CPF 345.384.118-25, residente e domiciliado à Rua São Paulo, nº 1663, apto 03, na cidade de Macaubal/SP, nesta Comarca, requerendo o que segue:
1. Dos Fatos:
Aos 10 de setembro de 2013, o RENATO ALVES DE OLIVEIRA ajuizou pedido de alvará judicial (Autos nº 3000272-57.2013.8.26.0334) eis que pretende a autorização de entrada de menores de 18 anos e maiores de 16 anos de idade, desacompanhados de seus responsáveis no evento denominado “Macaubal Rodeio Show”, que será realizado, na cidade de Macaubal, no período dos dias 25, 26, 27 e 28 de setembro do presente ano.
2 Segundo apurado, o evento está programado para acontecer na “Chácara Doda No Vento”, Rua José Angelo Chagas, nesta cidade de Macaubal.
Ocorre que, para a realização do evento, o organizador, ora réu, não comprovou a adoção das providências exigidas para garantir a segurança dos eventos, nos termos da Instrução Técnica do Comando Geral da Polícia Militar do Estado de São Paulo nº PM3-001/02/96, publicada no DOE nº 198/96 e retificada pela publicação inserta no DOE nº 216/96, a qual disciplina o disposto na Resolução SSP 122/85, que versa acerca da vistoria prévia aos locais de espetáculos públicos em que é solicitado o fornecimento de policiamento ostensivo preventivo.
Dessa forma, consta que não foram apresentados documentos indispensáveis que comprovem a segurança do evento, tais como:
a) equipe médica responsável pelo atendimento aos frequentadores do evento (médico e dois enfermeiros, os quais deverão estar a postos em local destinado especificamente para o serviço e dotados de ambulância);
b) laudos que atestem as condições estruturais do recinto, bem como de suas instalações elétricas;
c) auto de Vistoria do Corpo de Bombeiros;
d) responsável pela equipe de Segurança Privada e da Brigada de Incêndio;
Não há dúvidas dos riscos decorrentes do evento, uma vez que não foram tomadas as cautelas necessárias para sua organização e execução. Sabe-se que nos locais em que existe aglomeração de pessoas, há grande possibilidade de tumulto e agressões, além de consumo de álcool e uso de drogas.
3 É certo que a celebração em causa, se desprovida de organização mínima e policiamento efetivo, periclitará a vida e a integridade física de todos os participantes e eventualmente de terceiros.
Ademais, a realização do evento poderá ocasionar danos urbanísticos. A aglomeração desordenada poderá acarretar danos aos imóveis, automóveis e demais bens que estejam nas proximidades.
Outrossim, não há notícias de que tenha ocorrido planejamento quanto ao acesso ao local, circunstância que prejudicará o tráfego nas proximidades do evento e a segurança dos frequentadores, além de causar inúmeros dissabores aos moradores da região.
Daí o cabimento da presente ação, que visa a proteger os interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos, que serão violados com a realização temerária e desorganizada dos eventos em causa.
2. Do Direito:
A pretensão em tela é exercida com base no artigo 129, inciso III, da Constituição Federal; no artigo 103, inciso VII, letra a, da Lei Orgânica do Ministério Público do Estado de São Paulo (Lei nº 734/1993); e, nos artigos 1º, inciso IV e 4º, ambos da Lei nº 7.347, de 24 de junho de 1.985 (Lei de Ação Civil Pública), bem ainda no artigo 796 e seguintes do Código de Processo Civil.
Saliente-se que o artigo 4º, da Lei nº 7.347/85 autoriza o ajuizamento de demanda cautelar a fim de evitar lesão aos interesses difusos, coletivos e individuais homogêneos.
4 Além disso, sabe-se que a Ação Civil Pública pode assumir diversas formas e procedimentos, inclusive de natureza cautelar.
Hugo Nigro Mazzilli ensina que “cabem hoje ações civis públicas ou coletivas: a) principais: condenatórias (reparatórias ou indenizatórias), declaratórias e constitutivas; b) cautelares (preparatórias ou incidentes); c) cautelares satisfativas, que não dependem de outra ação dita principal; d) de execução de título extrajudicial; e) mandamentais; f) quaisquer outras, com qualquer preceito cominatório, declaratório ou constitutivo.”1
Acerca do cabimento da ação civil pública para evitar o acontecimento de eventos festivos danosos, manifestou-se o E. Tribunal de Justiça de São Paulo:
“AGRAVO DE INSTRUMENTO - Ação Civil Pública - Recurso tirado contra a r. decisão de primeiro grau que concedeu a liminar postulada pelo Ministério Público, impedindo a agravante de promover ou autorizar a realização de qualquer evento, festa ou similar, no local conhecido por "Praia de Mira Estrela", até final julgamento da demanda ou revogação da decisão - Decisão calcada na notícia de que a Municipalidade teria concedido alvará para realização de evento anterior no local, denominado "Carnaval Verde e Amarelo", sem a devida verificação da regularidade da festividade, na qual acabaram sendo registradas inúmeras ocorrências (brigas generalizadas e acidentes de trânsito com vítimas), incorrendo, portanto, com negligência e imprudência - Medida urgente concedida pelo Douto Juízo monocrático que merece subsistir - Apreciação de liminar inserida no poder geral cautelar do juiz - Revisão pelo juízo de segundo grau de deferimento ou indeferimento liminar adstrito às hipóteses de decisões ilegais, irregulares, teratológicas ou eivadas de nulidade insanável - Hipóteses não configuradas no presente caso - Negado provimento ao recurso” (Agravo de Instrumento 6618225000, Relator(a): Rubens Rihl, Órgão julgador: 8ª Câmara de Direito Público, Data de registro: 19/06/2007)
5 De qualquer forma, na hipótese de Vossa Excelência considerar inadequada a via eleita para exercício da pretensão, requer-se desde já o deferimento da medida com base no poder geral de cautela conferido ao d. Magistrado pelo artigo 798, do Código de Processo Civil.
Por outro lado, são direitos fundamentais e sociais do cidadão, inscritos na Constituição Federal, a inviolabilidade à vida e segurança, bem como à saúde e ao lazer, que deverão ser protegidos contra todas as formas de perigo.
A Resolução SS 122, de 24 de setembro de 1.985, estabelece que as autoridades militares somente fornecerão policiamento ostensivo para espetáculos mediante PRÉVIA VISTORIA DAS INSTALAÇÕES E RECINTOS onde serão realizados os eventos (art. 10).
Pela informação da própria Polícia Militar, tais providências não foram adotadas pelo autor, conforme ofício que instrui esta inicial.
Caso ocorra algum tumulto, normal em situações com grande número de público, certamente, ocorrerá pânico das pessoas, com enorme possibilidade de vítimas fatais ou, ao menos, com grave possibilidade de ofensa a integridade corporal das mesmas.
Tais circunstâncias, portanto, estão a recomendar a imediata suspensão cautelar do evento noticiado nos autos, o que é o objeto desta ação.
3. Da liminar
Diante do descumprimento das normas de proteção à vida, segurança e saúde das pessoas, na medida em que se pretende realizar eventos de forma insegura e sem observância das cautelas necessárias, chega-se à conclusão da
6 verossimilhança das alegações apresentadas e do risco de dano irreparável, e, por via de consequência, do preenchimento dos requisitos para a concessão da liminar, evitando-se distúrbios e confrontos populares, com consequências imprevisíveis, como já ocorreram em eventos deste tipo.
4. Do pedido:
Ante o exposto, requer se digne Vossa Excelência:
a) – conceder liminarmente, inaudita altera pars, a suspensão do evento MACAUBAL RODEIO SHOW 2013, até que as medidas necessárias à realização segura dos eventos sejam atendidas, fixando-se multa diária no valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais), em caso de realização dos eventos em descumprimento à determinação judicial;
b) – para tanto, uma vez concedida à medida de urgência solicitada, notificar o requerido da decisão por meio de Oficial de Justiça, com as faculdades o artigo 172, parágrafo 2º, do Código de Processo Civil, facultando-lhe a adoção das medidas pertinentes para a realização do evento com a segurança necessária, o que deverá ser comprovado nos autos, consistentes em:
1 – montagem das estruturas (palco etc.) com acompanhamento por profissionais habilitados, os quais deverão emitir os respectivos laudos que atestem as condições de segurança para a realização dos eventos;
2 – submissão da estrutura do local à vistoria do Corpo de Bombeiros, o qual emitirá os Atestados de Vistorias (AVCB) com o respectivo parecer técnico;
3 – delimitar o local em que ocorrerá a aglomeração de pessoas, com obstáculo físico entre o palco e o local dos desfiles;
4 – proteção das áreas envidraçadas dos estabelecimentos comerciais situados nas imediações, preferencialmente com tapumes de madeira;
7 5 – postos médicos nos locais, que deverão contar com médicos e enfermeiros, além de ambulância;
6 – equipe de segurança privada, em número suficiente para todos os dias (considerando o público estimado), que será responsável pela revista preventiva, evitando o porte de armas próprias ou impróprias;
7 – brigada de incêndio;
8 – ciência aos comerciantes acerca da proibição de venda de bebidas em vasilhames de vidro, que deverão ser fornecidos em recipientes de plástico ou em latinhas de alumínio;
9 – proibição de venda de bebidas alcoólicas a crianças e adolescentes e a pessoas já alcoolizadas;
10 – interdição da via urbana em que se realizará o evento, junto à Ciretran competente.
11 – disponibilização de banheiros químicos, em quantidade compatível com o público estimado.
c) a fim de assegurar a satisfação da multa diária referida, determinar o ARRESTO de todo o dinheiro obtido na bilheteria do evento, com a venda dos ingressos;
d) determinar a expedição de ofício ao Comando da Polícia Militar local e ao Senhor Delegado de Polícia de Macaubal, a fim de informá-los sobre eventual decisão de acolhimento da pretensão em questão, para as providências que entenderem cabíveis, tudo para que valha a decisão de urgência;
e) determinar a citação dos requeridos para que, desejando, apresentem defesa;
f) julgar PROCEDENTE o pedido para suspender a realização do “Macaubal Rodeio Show”, até o cumprimento das normas de segurança
8 exigidas, e, em caso de não atendimento, o cancelamento do evento, com a consequente condenação do demandado ao pagamento das verbas de sucumbência.
Provará o alegado por todos os meios em Direito admitidos, notadamente pelos documentos ora acostados e eventualmente perícias e vistorias, caso se façam necessárias.
Atribui-se à causa o valor de R$ 20.000,00 (vinte mil reais).
Macaubal, 25 de setembro de 2013.
ANA CAROLINA GREGORY VILLABOIM Promotora de Justiça
