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Apostila de Homiletica - Ricardo A. Arakaki

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

Teologia Prática 3

Prof. R i c a r d o A u g u s t o A r a k a k i

I

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Semestre de 2008

(2)

l^idh & LÚÓ C&r,

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4Í Èllsl&féiss^^

Introdução 3

1. Mensagem, Sermão e Pregação: é tudo a mesma coisa? 4

2. Critérios na Escolha do Texto "12

3. A Leitura com Propósitos 19

4. O Esboço Analítico 26

5. A Pesquisa Bíblica 3 5

6. A Progressão Lógica 41

7. As Ilustrações 5 1

8. A Exortação 5 8

9. A Abertura e o Fechamento dos Tópicos 64

10. A Introdução 7 3

11. A Conclusão 8 2

12. A Composição e O Esboço 9 0

13. A Comunicação Verbal e não Verbal 98

14. Exemplo de Sermão 1 0 9 Bibliografia 1 1 4 Adendos Oficinas 115 Conteúdo Programático 119 Relatório de Leitura 121 Avaliação do Curso 114

(3)

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"A pregação é a apresentação da verdade através da personalidade". 1

Phillips Brooks

Esta é uma das mais celebres frases produzidas no mundo da pregação. De fato, Deus decidiu comunicar Sua verdade por meio de instrumentos humanos sem anular suas características, temperamentos e personalidades. Para falar, Deus não usa megafones, mas pessoas: "Antes de

mais nada, saibam que nenhuma profecia da Escritura provém de interpretação pessoal, pois, jamais a profecia teve origem na vontade humana, mas homens falaram da parte de Deus, impelidos pelo Espírito Santo" (2a Pe 1.20,21).

Por esta razão, é possível perceber tantos estilos e maneiras diferentes na comunicação da Palavra, seja por meio da escrita ou da fala. Basta comparar dois grandes pregadores contemporâneos como Russel Shedd e Ed René Kivitz, e ficará claro para nós, a verdade de que Deus usa, poderosamente, homens com estilos tão diferentes para comunicar eficazmente a Sua Palavra.

Porém, isto não significa que o pregador vale-se tão somente de sua intuição e carisma para

interpretar e comunicar as verdades das Escrituras. A Bíblia recomenda o preparo adequado tanto

para a interpretação quanto para a comunicação da Palavra de Deus: "Pregue a Palavra, esteja

preparado a tempo e fora de tempo, repreenda, corrija, exorte com toda paciência e doutrina" (2a Tm

4.2).

Em outras palavras, o pregador sério terá no preparo seu grande segredo no trabalho de

interpretar e pregar corretamente as Escrituras. Para esta árdua, mas gratificante tarefa, além do

poder ilumínador do Espírito Santo, contará também com as disciplinas da Hermenêutica e da

Homilética.

Robert H. Stein define "Hermenêutica" como "a prática ou a disciplina da interpretação2". "Homilética", segundo John A. Broadus, é "a simples adaptação da retórica às finalidades particulares e às demandas da pregação cristã3". Em outras palavras, Hermenêutica é a ciência e a arte de interpretar as Escrituras e Homilética é a ciência e a arte de pregar as Escrituras.

O alvo deste curso é simples: aprender a construir, passo a passo, um sermão bíblico e dinâmico, usando as técnicas da hermenêutica e da homilética.

Assim, arregacemos as mangas e ao trabalho! Pois, como escreveu o apóstolo Paulo:

"Procure apresentar-se a Deus aprovado, como obreiro que não tem do que se envergonhar e que maneja corretamente a Palavra da Verdade" (2a Tm 2.15).

1

Robsom Moura Marinho. A Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova, 1999, p. 16

2

Robert H. Stein. Guia Básico para a Interpretação da Bíblia, Interpretando Conforme as Regras. Rio de

Janeiro, CPAD, 2000, p. 20

(4)

4

vlensagem, Pregação e Sermão. 3 i udo a mesma

Coisa?

Para responder a esta pergunta, pensemos num "bolo". Quando vamos preparar um bolo, é necessário lembrar de, pelo menos, três elementos:

• Conteúdo: num bolo vão ovos, leite, açúcar, fermento, farinha e outros ingredientes.

• Forma: a fôrma em que se colocará o bolo para assá-lo pode ser "redonda", "quadrada", "retangular".

• Entrega: o bolo poderá ser servido em "pratos de porcelana", "pratinhos de plástico", ou, até mesmo, em um simples "guardanapo".

Quando o assunto é "mensagem", "sermão" e "pregação", não é diferente. Também é necessário pensar em três elementos: conteúdo, forma e entrega.

• Conteúdo: é a mensagem, isto é, o que falar.

• Forma: é o sermão, isto é, o como falar.

• Entrega: é a pregação, isto é, quando falar.

O conteúdo da pregação é o que se chama de mensagem. A estrutura, ou, a forma que se dará à

mensagem é o que se chama de sermão. E, o ato de entregar a mensagem na forma de um sermão

é o que se chama de pregação. Assim:

"O pregador é aquele que faz a pregação de uma mensagem por meio de um sermão".

Entendido este princípio, vamos estudar mais profundamente estes três elementos da comunicação cristã.

Como vimos, a mensagem é o conteúdo do sermão. Não é difícil supor que a mensagem

(5)

A mensagem do pregador precisa provir não de acontecimentos correntes, ou literatura em voga, ou de tendências prevalecentes de um tipo ou de outro, não de filósofos, políticos, poetas e nem mesmo, em último recurso, da própria experiência ou reflexão do pregador, mas sim das Escrituras4.

No entanto, por estranho que pareça, é possível pregar um sermão cuja mensagem não seja autenticamente bíblica. Ligue a televisão, coloque, por exemplo, num programa como o da Seicho-no-ie, assista uma de suas palestras e você logo comprovará esta verdade.

Por outro lado, também é possível pregar um sermão cujo conteúdo pareça bíblico, possua até versículos bíblicos, mas cuja mensagem não é bíblica. Leia Mateus 4.6, onde é relatada a tentação de Jesus e você verá que o tentador usou (distorceu) as próprias Escrituras, na tentativa de persuadir O Filho de Deus.

Um sermão somente será "bíblico", não apenas quando sua mensagem tiver apoio nas Escrituras, mas quando expressar a interpretação correta das Escrituras:

"...o uso da Bíblia , e até mesmo o seu uso em larga escala, não é suficiente para garantir a pregação bíblica eficiente ou mesmo autêntica. Tudo depende de como nós a usamos"5.

A mensagem, isto é, o conteúdo de um sermão, deve ser bíblico, pelas seguintes razões:

a. A Mensagem Bíblica Alimenta: um dos objetivos principais da pregação bíblica não é entreter,

nem informar, mas alimentar. Uma igreja que não é alimentada pela mensagem bíblica é uma igreja faminta:

Privado do consenso normativo quanto ao conteúdo autorizado, o pregador se volta para a

psicologia popular, para os acontecimentos atuais ou para as resenhas de livros, visando a

alimentar o faminto com essas coisas6.

Como disse O Senhor, o espírito do homem tem fome da Palavra de Deus: ..."Nem só de pão

viverá o homem, mas de toda palavra que procede da boca de Deus" (Mt 4.4).

b. A mensagem Bíblica Transforma: Agostinho se converteu lendo um manuscrito que continha as

palavras do apóstolo Paulo registradas em Romanos 13.13-14. Martinho Lutero também teve sua

4

John Knox. A Integridade da Pregação. São Paulo, Aste, 1964. p. 11

5

Idem, pg 13

(6)

o

vida transformada ao meditar em Romanos 1.17, a ponto de dizer; "senti que havia nascido de novo e

que as portas do paraíso me haviam sido abertas" 7.

Estas duas vidas e muitas outras foram transformadas pela mensagem bíblica, que continuará transformando, enquanto for pregada (2a Tm 3.16,17).

c. A Mensagem Bíblica Unge: "unção" é "autoridade". A autoridade do pregador é resultado de

pregar aquilo que Deus autorizou. O homem que pregar a palavra de Deus será revestido de autoridade concedida pelo próprio Deus: "... Filho do homem, coma este rolo; depois vá falar à nação

de Israel" (Ez 3.1).

Billy Graham, famoso evangelista, a princípio teve dificuldades em aceitar a autoridade da Bíblia8. Porém, no decorrer de seu ministério, seu poder na pregação se deveu basicamente à sua convicção na autoridade das Escrituras, tanto que, sua fase mais conhecida é: "A Bíblia diz".

O sermão é a estrutura que se dá à mensagem a ser pregada. Existem, pelo menos, quatro tipos de sermão quanto à estrutura:

a. Temático ou Tópico: é o sermão cujas divisões derivam de um tema. Não se prende a um único

texto, cada divisão pode ter base em um texto diferente ou não.

O "ponto forte" deste tipo de sermão é a didática. O "ponto fraco" é o risco de "usar o texto como pretexto", uma vez que a estrutura do sermão é fruto da reflexão do pregador. Porém, um sermão temático pode ser tão bíblico como qualquer outro se, a argumentação de cada divisão proceder da interpretação correta do versículo escolhido: "O sermão tópico não é necessariamente menos bíblico no conteúdo e no desenvolvimento do que o sermão Textual ou o Expositivo".

Exemplo: características do amor de Deus:

1. É incondicional (Rm 5.8) 2. É ativo (Jo 3.16)

3. É Eterno (1 Co 13.8).

7

Justo L. Gonzáles. A Era dos Reformadores - Uma história ilustrada do Cristianismo, vol.6, São Paulo, Vida

Nova, 1995, p.50.

(7)

Charles H. Spurgeom, considerado o "príncipe dos pregadores" era um pregador costumeiramente fazia sermões temáticos.

b. Textual: é o sermão cujas divisões derivam de um ou dois versículos. Suas divisões nascem da

estrutura do próprio versículo.

Exemplo: condições do discipulado (Lc 9.23):

1. Negar a si mesmo 2. Tomar a cruz

3. Seguir Jesus

O ponto forte deste sermão é a "concisão". Pessoas ficam admiradas em ver como é possível extrair tantas riquezas de um trecho tão pequeno das Escrituras. O ponto fraco é a tendência de usar o texto apenas como "trampolim" para aquilo que se deseja dizer, como aqueles que lêem um versículo no início da pregação e não falam mais nele. Outro problema é concentrar-se num versículo apenas e esquecer o seu contexto imediato, isto é, os versículos anteriores e posteriores que lançam luz sobre o versículo a ser pregado, como também esquecer de seu contexto maior, isto é, aquilo que as demais Escrituras revelam sobre o assunto. É como alguém que foca em uma única peça do quebra cabeça e acaba pregando sobre "folha de laranja", enquanto o quadro completo mostra que a folha é de "maçã".

c. Expositivo: É o sermão cujas divisões derivam de uma passagem bíblica. Suas divisões nascem

da estrutura da própria passagem.

Exemplo: instruções sobre a oração (Tg 5.13-18):

1. Quando orar (v13):

a. No sofrimento b. Na alegria

2. Como orar (v14-15a):

a. Em nome do Senhor

b. Com fé

3. Porque orar (v15b-18):

a. A oração trás cura

b. A oração proporciona perdão c. A oração é poderosa e eficaz

(8)

O ponto forte deste tipo de sermão é fidelidade ao texto bíblico. Os grandes pregadores contemporâneos o recomendam e chegam a dedicar um capítulo, ou até mesmo um livro inteiro na defesa deste tipo de sermão. Karl Lachler, em seu livro "Prega a Palavra", cita Crisóstomo, um dos pais da Igreja, grande pregador apelidado como "boca de ouro", que disse: "o valor da pregação expositiva reside no fato de que Deus fala o máximo e o pregador o mínimo"9.

O ponto fraco deste tipo de pregação é que nem sempre ela atende ao momento específico da congregação. Por exemplo, não seria pecado um pastor, cujos membros de sua congregação perderam familiares num recente acidente de avião, interromper sua série de preleções no livro de Esdras, por exemplo, e pregar sobre "A presença de Deus nas tragédias repentinas". Como escreve Ed René Kivitz: "Toda a Bíblia é divinamente inspirada, mas nem toda a Bíblia é contextualmente relevante"10.

d. Expositivo Temático: é o sermão cujas divisões derivam de um tema de uma passagem.

O ponto forte deste tipo de sermão é conciliação entre a didática e a fidelidade bíblica. O pregador que prepara um sermão expositivo temático vê o texto bíblico como uma prateleira de supermercado. Uma prateleira de laticínios, por exemplo, pode conter leite, queijo, iogurtes e requeijão. No caso, "laticínios" é o que define os tipos de alimentos da prateleira, porém, cada alimento tem também suas características específicas. Assim, "laticínios" seria o tema geral da prateleira, enquanto que "leite", queijo", "iogurtes" e "requeijão" seriam os temas específicos. O pregador expositivo-temático, ao invés de pregar sobre "laticínios" e falar sobre cada um dos alimentos desta prateleira, escolherá apenas um dos produtos, por exemplo "leite" e discorrerá sobre este assunto específico à luz do todo. Em outras palavras, o pregador expositivo temático percebe o tema principal do texto e também seus temas específicos, mas concentra a elaboração do sermão em apenas um tema específico. Por exemplo, ao pregar em Tiago 5.13-18, ao invés de pregar tudo o que o texto fala sobre a oração, ele escolherá apenas um tema específico do texto para pregar:

Exemplo: razões para orar:

1. A oração trás cura (v15a)

2. A oração proporciona perdão (15b) 3. A oração é poderosa e eficaz (16)

O ponto fraco deste tipo de sermão pode ser ignorar o tema principal da passagem.

9

Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.53

1 0

Ed René Kivitz. Pregação Expositiva Temática. Apostila curso de Homilética, 1997.

(9)

9

*

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Assim como vemos nos filmes sobre a Idade Média o arauto comunicando em praça pública os editos do rei, Deus também escolhe homens para serem Seus arautos, isto é, para comunicarem Sua mensagem ao Seu povo. Deus usou profetas como Moisés, Jeremias, Isaías e Daniel para este fim. Cabe, então, uma pergunta, é o pregador de hoje um profetal

No hebraico "profeta" é "nãbhT", que significa, literalmente, "qualquer um em quem a mensagem de Deus emana". No grego "profeta" é "prophetes", proclamador da mensagem divina. Em resumo, o sentido das palavras bíblicas usadas para definir "profeta" é "alguém a quem e por quem Deus fala"11. Porém, como bons exegetas, não devemos nos ater apenas ao sentido semântico das palavras, mas procurar entender o contexto no qual elas estão inseridas. Para tanto, nos lembremos de que a revelação de Deus foi progressiva, ela não veio de uma vez, mas em etapas, como vemos abaixo Processo de Roveiaçõo Deus

1

Lei

1

Profetas

1

J e s u s Apóstolos

1

Bíblia Pregadores

(10)

Como podemos ver, existe uma "interdependência" em todo o processo de revelação divina. Moisés promulgou a Lei ao povo de Israel, dependente daquilo que Deus revelava a ele. A mensagem dos profetas, que exigiam que o povo se voltasse para O Senhor, não era novidade, mas estava de acordo com aquilo que já havia sido revelado na Lei: "À Lei e ao Testemunho! Se eles não

falarem segundo esta palavra, nunca verão a alva" (Is 8.20). O próprio Senhor Jesus pregou de

acordo com o que estava escrito na Lei e nos Profetas (Mt 5.17). Os apóstolos ensinavam de acordo como o que haviam aprendido de Jesus (Mt 28.19,20). A Bíblia é composta pela Lei, pelos profetas e pelo testemunho dos apóstolos.

Logo, os pregadores de hoje, se querem ser comunicadores da Palavra de Deus, assim como fizeram os demais, também devem respeitar e limitar seus ensinos a tudo o que foi revelado antes deles. Desta forma, quanto ã "posição" no processo de revelação divina, os pregadores não estão no mesmo patamar que Isaías, Jeremias e Daniel. Segundo John Sttot:

"O pregador cristão não é um profeta. Ele não recebe qualquer revelação original; sua

tarefa é expor a revelação que já foi definitivamente dada"12.

Por esta razão, o apóstolo Paulo prefere se referir aos pregadores do Evangelho como "despenseiros dos mistérios de Deus". Onde "mistério" é aquilo que seria impossível ao homem descobrir, mas que já foi revelado por Deus (Col 1.26). E "despenseiro" é aquele responsável pela alimentação da família a quem serve, e, busca na dispensa da casa, o alimento a ser preparado e servido. Assim é o pregador, um despenseiro. É aquele que vai à dispensa de Deus, à Bíblia, e dali separa e prepara a boa refeição para a família de Deus.

"Assim, pois, que os homens nos considerem como ministros de Cristo, e despenseiros dos mistérios de Deus. Ora, além disso, requer-se dos despenseiros que cada um se ache fiel" (1a Co

4.1).

Agora, fica mais fácil entender a relação entre "mensagem", "sermão" e "pregação", em

comparação aos elementos do "bolo".

" W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das

(11)

11

Elementos Bolo Hermenêutica / Homilética

Conteúdo Ovos, leite,farinha, fermento... Mensagem (o que falar)

Forma Redondo, quadrado, retangular... Sermão (como falar)

Entrega Prato de porcelana, pratinhos de

plástico, guardanapo.

Pregação (quando falar)

Que a mensagem que você prega seja bíblica, para que possua unção, alimente e transforme vidas. Que teu sermão seja bem estruturado, para facilitar o entendimento. Que a tua pregação seja eficaz, trabalho de um bom despenseiro dos mistérios de Deus.

1. Qual é a diferença entre mensagem, sermão e pregação? 2. Por que é importante que o conteúdo da pregação seja bíblico? 3. Com qual tipo de sermão você mais se identifica? Explique. 4. O pregador de hoje é um profeta? Explique.

(12)

12

Já aprendemos que o conteúdo do sermão, isto é, a mensagem, precisa ser bíblica, a fim de que cumpra os propósitos que Deus tem para com a pregação: "Assim será a palavra que sair da

minha boca. Ela não voltará para Mim vazia, mas fará o que me apraz, e prosperará naquilo para a que a enviei" (Is 55.11).

Da mesma maneira que é impossível fazer um "suco de laranja" sem laranjas, será também, no mínimo estranho, fazer uma pregação bíblica sem um texto bíblico. Da mesma maneira que o suco é extraído da laranja, a mensagem é extraída do texto. Por isto, tão importante como saber escolher as laranjas que serão usadas na produção do suco, é saber escolher o texto do qual se extrairá a mensagem a ser pregada. Como escreveu John A. Broadus:

"...A seleção apropriada de um texto é questão de grande importância. Uma escolha feliz animará o pregador para a preparação e enunciação de seu sermão e o ajudará a obter rapidamente a atenção dos ouvintes"13.

A pergunta que fica é: como escolher o texto para o sermão? Creio ser possível estabelecer alguns critérios:

O público alvo representa os ouvintes aos quais será comunicada a mensagem. A importância de se conhecer o púbico alvo está na adequação necessária que se

fará à mensagem, ao sermão e à pregação, a fim de que este público seja alcançado. Assim, o público alvo definirá:

(13)

13

a. O assunto da mensagem: segundo Aristóteles "é o ouvinte que determina a finalidade e o objetivo do discurso" u. Isto parece óbvio, pois se os ouvintes são, por exemplo, adolescentes, pouco ou nada os atrairá numa mensagem sobre as "alegrias da terceira idade". Por outro lado, se a platéia é composta por senhores e senhoras acima dos sessenta anos de idade, não caberá pregar a eles uma mensagem sobre "respostas bíblicas às crises da adolescência", a não ser que sejam avôs preocupados em entender melhor seus netos.

Fica claro a importância de se conhecer o público alvo para a escolha da mensagem a ser pregada. Porém, Martin Lloid Jones, grande pregador inglês, que ocupou o púlpito da capela de Westminster por trinta anos, afirmou que não são as pessoas que decidem e determinam o que deve ser pregado, e de que maneira, pois nós é quem possuímos a Revelação, a Mensagem, e precisamos torná-la compreendida15. Ele, inclusive, testemunha de uma experiência que teve, ao pregar na capela da Universidade de Oxford, ocasião em que pregou àqueles universitários e doutores "da mesma maneira que teria pregado em qualquer outro lugar":

Eu pregara exatamente da mesma maneira que teria pregado em qualquer outro local. No momento que a reunião foi encerrada, e antes mesmo que eu tivesse tido tempo para descer da plataforma, veio correndo para mim a esposa do diretor, para dizer-me: "Quer saber de uma coisa? Essa foi a coisa mais notável que já se sucedeu nesta capela". Eu perguntei: "O que a senhora quer dizer? "Bem", retrucou ela, "você sabia que foi, literalmente, o primeiro homem que eu ouvi nesta capela que pregou para nós como se fôssemos pecadores"?! Então ela acrescentou: "Todos os pregadores que têm vindo aqui, por ser uma capela da Universidade de Oxford, obviamente tem tido cuidados especiais para preparar sermões polidos e intelectuais, supondo que todos somos grandes intelectos. Para começar, os pobres sujeitos deixam entrever que eles mesmos não são grandes intelectos, embora se tenham esforçado o máximo para apresentar o último grama de erudição e cultura, e o resultado é que vamos embora absolutamente famintos e sem qualquer reação. Temos ouvido aqueles ensaios, e nossas almas foram deixadas ressequidas. Parece que eles não compreendem que, embora vivamos em Oxford, nem por isso deixamos de ser pecadores"16.

Aparentemente, as opiniões de Aristóteles e Lloid Jones se excluem mutuamente, podendo dividir opiniões. Porém, penso ser possível uma conciliação entre os dois pensamentos.

Imagine um público formado por "espíritas", o qual se dispõe a ouvir um pregador do Evangelho. Qual o tema que logo nos vêm à mente para pregar a este público? "Salvação"! Obviamente, não se espera que o pregador, intimidado pela platéia, faça uma palestra sobre a "A Salvação por meio da caridade", a fim de agradar seus ouvintes. Porém, também não parece adequado que ele pregue sobre "as falácias de Alan Kardec". Uma mensagem adequada seria "A Salvação por meio da fé em Jesus".

1 4

Robsom Moura Marinho - A. Arte de Pregar, a comunicação na homilética. São Paulo, Vida Nova 1999, p 90

1 5

D.Martin Lloyd-Jones. Pregação e Pregadores. São Paulo: Fiel, p. 95

(14)

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Perceba que o perfil do público definiu o tema da mensagem: "Salvação". Mas não definiu o que falar sobre o tema "Salvação". O público define o tema a ser pregado, mas não o que falar

sobre o tema. Pregar às necessidades do público alvo não significa pregar o que o público alvo quer ouvir, mas o que o público alvo precisa ouvir.

b. O tipo de sermão: um sermão desinteressante não produz nada, exceto pessoas

desinteressadas17. As pessoas não são atraídas apenas pelo o que se fala, mas também em o como se fala. Por exemplo, um pregador americano pode estar falando algo muito interessante e relevante para uma congregação brasileira, mas de nada adiantará seu esforço se as pessoas que o ouvem não entenderem sua língua. Para que haja a compreensão da mensagem é necessário que ela seja comunicada por meio de um código inteligível pelos ouvintes. Como mostra o exemplo abaixo:

Emissor j> Receptor ( ) Mensagem codificada Mensagem recebida

Embora saibamos que dificilmente o receptor conseguirá absorver toda a mensagem comunicada a ele, isto não exclui o esforço do pregador em tentar comunicar de forma mais clara e contextualizada possível a mensagem aos ouvintes. Pois o receptor só entenderá a mensagem se ela for transmitida num código que ele reconheça.

Desta maneira, o público alvo definirá no sermão:

O tamanho: num casamento, por exemplo, não é de bom tom um sermão longo. O alvo das atenções devem ser os noivos e não o pregador.

• A estrutura: em velórios, as pessoas estão carentes do consolo da palavra de

Deus. Um breve sermão temático ou textual sobre a presença de Deus nas horas difíceis da vida deve cair melhor do que um minucioso sermão expositivo.

As Ilustrações: sabemos de um pregador que contou uma ilustração "engraçada"

sobre pescaria a uma igreja localizada no ABC de São Paulo. Ninguém riu. Não porque a ilustração não fosse engraçada, mas por ninguém a entendeu. Provavelmente, uma ilustração sobre carros, naquele contexto, funcionaria melhor.

• O vocabulário: conta-se que John Wesley antes de pregar um sermão, o lia para

sua empregada. Caso ela não entendesse uma palavra, ele trocava a palavra por uma que ela pudesse entender. Como disse Paulo:"...prefiro falar cinco palavras

compreensíveis para instruir os outros a falar dez mil palavras em uma língua" (1a Co

14.19).

(15)

c. O estilo da pregação: não é necessário ser mestre em homilética para saber a diferença entre

pregar num quarto de hospital para uma pessoa, e numa praça pública para quinhentas pessoas. O local, o contexto dos ouvintes e o horário em que será realizada a pregação, influenciarão o olhar, o tom de voz, a gesticulação, a movimentação e, até mesmo, a altura da voz do pregador.

Como explica o sábio Salomão: "A bênção dada aos gritos cedo de manhã, como maldição é

recebida" (Pv 27.14).

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Alguém já disse que "vale mais uma palavra dita na unção do Senhor do que mil

palavras pronunciadas na força do homem". Jeremias denunciou os profetas que pregavam sem antes, terem comparecido no concilio do Senhor (Jr 23.18,22).

Comparecer no concilio do Senhor significa buscar o conselho de Deus para a mensagem que deverá ser pregada. Pois o pregador conhece as pessoas por vista, mas Deus conhece os seus corações.

Quando Jonatas Edwards pregou pela primeira vez o sermão "Pecadores nas mãos de um Deus irado", nada aconteceu. Frustrado, voltou para casa e se humilhou diante do Senhor. Decidiu pregar o mesmo sermão na reunião seguinte. Conta-se que, como da outra vez, Edwards

pregou o seu sermão lendo-o à luz fraca de uma pequena lamparina. No entanto, as pessoas, enquanto o ouviam, se seguravam nos bancos com medo de caírem no Inferno. Aquela ocasião foi o marco inicial de um grande avivamento.

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Após orar a Deus, apresentando o público ao qual se tem a incumbência de pregar, algumas possibilidades de temas começarão a ventilar na mente. O assunto poderá ser considerado propício à pregação:

a. Se for coerente com a ocasião: há ocasiões especiais que requerem pregações especiais. Num culto evangelístico, uma mensagem sobre "os benefícios de seguir a Jesus" servirá melhor à ocasião do que uma mensagem sobre "as maldições de não ser dizimista". Num encontro de casais, uma mensagem sobre as "bênçãos do casamento duradouro" servirá melhor do que uma mensagem sobre "as bênçãos de ser solteiro". Num congresso de jovens, uma mensagem sobre "os desafios de ser cristão no mundo digital", servirá melhor do que uma mensagem sobre "os

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16

cinco fundamentos do calvinismo", este úitimo ficaria muito bem num congresso de teologia para pastores. A ocasião justifica ou não o assunto da pregação.

b. Se tiver embasamento bíblico: o homiléta, ao se decidir por um tema, procurará na Bíblia algum texto que o embase e o direcione. Isto não significa usar um texto como pretexto, ou como um

trampolim para aquilo que se pretende pregar. Antes, significa encontrar luz sobre o que Deus pensa

a respeito do assunto escolhido, uma fonte que fornecerá a ele as revelações do Espírito Santo sobre o determinado tema.

Veja abaixo a diferença entre "usar um texto como pretexto" e "usar um texto para embasamento".

o Texto como pretexto: se busca um texto apenas para sustentar aquilo que, previamente, já se decidiu pregar.

Idéia

Bíblia

o Texto como embasamento: se busca um texto para se extrair dele as verdades

divinas sobre a idéia, o tema, isto é, o assunto que se pretende abordar.

Idéia

Bíblia y

(17)

17

Um exemplo aclarará ainda mais a questão. Suponha que um pregador queira pregar sobre . "santificação" e entenda que ela se dê por meio do "auto flagelo". Ele bem poderia encontrar o texto de Paulo, em 1a Co 9.27, que diz: "Mas esmurro o meu corpo e faço dele meu escravo, para que, depois de ter pregado aos outros, eu mesmo não venha a ser reprovado". Ignorando o contexto em

que o versículo se encontra, Ele poderá usá-lo apenas como pretexto para sustentar sua tese. Como é dito, "um texto sem contexto é pretexto". Porém, se tal pregador for sincero e temente a Deus, apesar de possuir tal conceito equivocado sobre a santificação, ele humildemente pesquisará nas Escrituras o que a Bíblia ensina, de fato, sobre o assunto. Diante das verdades encontradas na Bíblia, ele abandonará sua antiga idéia sobre a santificação e pregará o que a Palavra, de fato, ensina. Note que ele buscou o texto bíblico para descobrir as verdades sobre o tema e não para sustentar suas idéias pessoais sobre o mesmo.

Na verdade, toda boa idéia está na Bíblia. Se o pregador tiver uma boa idéia, mas não conseguir encontrar um texto que a embase, de duas uma: ou não conhece a Bíblia, ou sua idéia não é uma boa idéia. Vale o exemplo do contemporâneo pregador, Rick Warren que diz que, em seu início de ministério:

"Nos primeiros vinte anos de meu ministério de pregação, descobrir tudo o que Deus tinha a dizer em um determinado assunto era uma tarefa laboriosa de abrir sobre a mesa uma dúzia de concordâncias e olhar para uma lista de todas as palavras relacionadas com o assunto. Poderia levar vários dias de 8 horas de trabalho só pesquisando os versículos"18.

Após a definição do tema, uma boa concordância bíblica fornecerá uma série de opções de textos possíveis à pregação do assunto escolhido. No entanto, será necessário julgar entre todas as opções, qual é a que melhor se encaixa para a ocasião. Pois toda Escritura é inspirada, mas nem toda a Escritura é relevante, dependendo do contexto, da ocasião e do momento das pessoas.

Por exemplo, numa visita hospitalar a alguém enfermo, não será sábio pregar um texto como Lc 29.1: "Ó Soberano, como prometeste, agora podes despedir em paz o teu

servo". Certamente, um texto como o Salmo 41.3: "O Senhor o susterá em seu leito de enfermidade, e da doença o restaurará", servirá melhor à ocasião e fortalecerá o espírito do

abatido. Como alguém já disse: "fale às necessidades das pessoas e sempre terá ouvintes".

(18)

18

Um professor de homilética costuma dizer, guardadas as devidas proporções, que tão importante quanto escolher alguém para casar é escolher o texto para pregar. Pois, após a escolha do texto, pregador e texto terão que conviver juntos, até que a pregação os separe.

Por isto, conheça bem a sua Bíblia. Seja sensível às necessidades do seu público. Escolha um texto que arda no seu coração e o pregue com entusiasmo. Pois, se o pregador não vibrar com o texto a congregação também não vibrará 19.

1. Identifique seu "público alvo" e defina "três características" do mesmo.

2. Depois de orar pelo seu "público alvo", qual foi o assunto escolhido para pregar? 3. Selecione três textos bíblicos que falam sobre o assunto escolhido.

4. Dos três textos selecionados qual é o escolhido para a pregação? Explique.

(19)

19

j C* s 4 L i í CS a S 1 ;J - W I V w w

Ninguém pode falar bem de algo que não conhece bem. Um dos princípios do "falar bem" é o "domínio do assunto". Por exemplo, se caso nos fosse dito para darmos uma "palavrinha" em público agora, provavelmente, seria muito mais fácil falar sobre nossa biografia do que sobre física quântica, pelo menos para a grande maioria.

É tão grande a importância de se conhecer bem um assunto, antes de poder falar com credibilidade a respeito dele, que Reinaldo Polito, um mestre em retórica, aconselha:

"Se você tiver de falar sobre qualquer assunto, saiba tudo sobre ele e se transforme numa autoridade a respeito do tema. Essa segurança será percebida pelos ouvintes no momento da apresentação, e as pessoas ficarão mais disposta a confiar na mensagem. Quanto mais preparado você estiver, mais segurança irá demonstrar e mais credibilidade poderá conquistar"20.

Uma vez que é necessário conhecer bem um assunto para falar bem sobre o mesmo, também será necessário conhecer bem o texto para falar com propriedade sobre o texto. A pergunta que fica é: quai é o primeiro passo para conhecer bem um texto o qual se deseja pregar?

Conta-se que John Stott, famoso pregador e escritor inglês, possui o hábito de ler o texto cinqüenta vezes "até Deus começar a lhe falar", e mais quantas vezes forem necessárias "até Deus parar de lhe falar". É claro que nem todo pregador possuirá, na fase de preparo do sermão, o tempo necessário para ler o texto mais de cinqüenta vezes, porém, de certo, a boa leitura do texto é o primeiro passo para conhecer bem o texto que se deseja pregar.

Também é verdade que se não possuirmos propósitos bem definidos ao começar a leitura de um texto bíblico, poderemos lê-lo cinqüenta vezes e não chegarmos a lugar algum. Assim, a qualidade da leitura será mais eficiente do que a quantidade de leituras.

A técnica da "Leitura com Propósito" evitará que leiamos o texto bíblico a esmo e garantirá o maior proveito de cada leitura, pois propõe sete passos para a leitura do texto com propósitos bem definidos:

2 0

Reinaldo Polito. Super Dicas para falar bem em Conversas e Apresentações. São Paulo, Editora Saraiva,

2005, p. 38

(20)

Uma das críticas ferinas que os teólogos liberais fazem contra os ortodoxos, ou, fundamentalistas, como eles preferem se referir aos colegas, é a de interpretar o texto bíblico à luz dos dogmas já estabelecidos pela tradição, o que, segundo eles, impede que se enxergue a verdade pura e simples que um texto específico deseja comunicar. Verdade é que, de fato, o exegeta ortodoxo interpreta um texto bíblico se mantendo próximo às idéias bíblicas características e essenciais21. O

que é salutar e honesto, pois, uma vez que acreditamos e insistimos na coerência da Bíblia, devemos interpretar um texto específico das Escrituras à luz dos demais textos das Escrituras.

Porém, precisamos admitir que algumas ou muitas vezes, o exegeta chega ao texto com a mente já cheia de idéias pré-concebidas sobre o próprio texto, idéias estas que nem sempre são verdadeiras. A pergunta que fica é como ler e interpretar um texto bíblico sem preconceitos, mantendo-se fiei aos que as demais Escrituras revelam? É claro que o estudo íntegro do texto em questão, juntamente com a consulta de outros textos relacionados, servirá para confirmar ou não nossas idéias sobre o mesmo, o que será tratado mais adiante. Por hora, enquanto estamos ainda na fase de "reconhecimento" do texto, será de muita valia aprender a técnica do "brainstorm".

Em inglês, "brainstorm" significa "tempestade de idéias". É usado por equipes de trabalho que entendem que, antes de aparecer uma boa idéia sobre algo é necessário tirar da cabeça todas as más idéias. No caso dos homilétas não é muito diferente. Antes de ler um texto, é necessário preparar a mente para a leitura. Em outras palavras, antes de descobrir e enriquecer a mente com as boas idéias de um texto bíblico é necessário tirar da cabeça todas as más idéias sobre o texto bíblico já recebidas anteriormente por meio de estudos bíblicos, leituras e, até mesmo pregações, ocasiões em que podem ter nos sido transmitidas informações equivocadas sobre o texto em questão. Veja o exemplo abaixo:

Mente

Estudos Informações sobre o texto (preconceitos) Leituras H Pregações Leitura do Texto Verdade

Texto

(21)

21

Neste exemplo, a mente lê o texto já cheia de "pré - conceitos" a respeito do mesmo, o que a impede de enxergar a verdade que, de fato, ele comunica. Um dos motivos pelos quais muitos judeus não aceitaram a Jesus Cristo como o Messias prometido nas Escrituras foi o conceito equivocado que tinham sobre as Escrituras que anunciavam o Messias. Por esta razão, o Senhor advertiu: "Vocês

erram pois não conhecem as Escrituras, nem o poder de Deus"(Mt 22.29).

Logo, para fazer a leitura de um texto das Escrituras com a mente aberta para receber as verdades do texto, é necessário tirar da mente todas as "inverdades" recebidas sobre o texto.

Para tanto, um bom exercício será tomar uma folha de papel e escrever nela tudo o que já se

sabe ou se pensa saber sobre o texto. Após este procedimento, a mente estará pronta para aceitar as

verdades que o texto deseja, de fato, comunicar.

Mente

N Informações V e r d a d e §íl ' > sobre o texto (preconceitos)

Folha

Verdade

Texto

No exemplo acima, se passou para uma folha de papel tudo o que já se sabia ou "pensava-se que sabia" sobre o texto. Este exercício, o "brainstorm", preparou ou até "limpou" a mente para ler o texto sem preconceitos e receber a verdade que ele comunica. Como Jesus ensinou: "Lancem fora o velho para que entre o novo".

iiiiMiiiiiiwiilMÉwiiiiii iiiil iiti i i ií i um ii) ii innrr in

A observação preliminar é o "quebra gelo" com o texto. Nesta leitura, não se tem o compromisso de conhecer precisamente tudo o que texto diz, mas apenas de tomar notas das primeiras impressões que já "saltam aos olhos" ao se fazer a leitura. Uma boa dica é, neste passo, ler o maior número possível de traduções disponíveis, isto ajudará o pregador a observar as várias nuanças e

(22)

22

possibilidades do texto, estimulando a criatividade da mente e o surgimento de temas possíveis de serem abordados. O pastor Irland Pereira de Azevedo, experiente pregador, certa vez, nos contou em classe que, no preparo de seus sermões, coloca em cima de sua mesa diferentes traduções da Bíblia abertas no texto que se propõe a estudar, o que o faz atentar para diferentes nuanças e possibilidades do texto que, até então não havia observado.

Após as observações preliminares, o pregador além de ter dado o primeiro passo na familiarização do texto, estará também preparado para definir o tipo de texto que tem em mãos:

narrativa, poesia, parábola, profecia, etc.

O m fVrfV+ecfo

Certa mulher, ao chegar da igreja, foi indagada pelo marido: "Sobre o que o pregador falou hoje"? A mulher respondeu:

- Acho que sobre o "pecado".

- Mas, o que sobre o "pecado"? O marido questionou. - Bem... acho que o pregador era "contra".

Se o tema da pregação não estiver claro para o pregador, muito menos será claro para os ouvintes. Por isto, é necessário definir com precisão o tema que será abordado do texto do qual se pretende pregar. O Tema Geral é o assunto principal do texto, definido, geralmente, por uma única palavra. Exemplo: santificação, providência, milagre, ansiedade, bênção...

É possível encontrar o Tema Geral de uma passagem, pelo menos, de duas formas:

• A t e n t a n d o p a r a as p a l a v r a s q u e s e r e p e t e m : a o ler M a t e u s 6 . 2 4 - 3 4 na NVI, o leitor perceberá que a palavra "preocupação" ( nas suas variadas declinações ), é repetida "seis vezes" por Jesus. Naturalmente, o tema principal desta passagem é "preocupação", "ansiedade". , ~ ©UKo. f 7 ^ V ' i ü ê V c . i 4 A M w J V i ^ a i u ^ p * * ^ IJ&3D í-e.V

CfVf-fi.0 U&^-áiC^a c-y A t e n t a n d o p a r a p a l a v r a s q u e s e c o n t r a s t a m : e m 2 ° R e i s 4 . 1 - 7 é p o s s í v e l observar as "palavras nucleares", isto é, as palavras principais do texto, sem as quais o texto perderia o sentido: credor, filhos, nada, vasilha, azeite, encher, cheias. Parece claro que as palavras "nada" e "cheias" contrastam no decorrer da passagem. Logo, não seria equivocado sugerir "providência" como o tema geral do texto.

(23)

O Parágrafo Predicável é a delimitação do texto que vamos trabalhar. Em outras palavras, é a

passagem a ser pregada. Um Parágrafo Predicável é .uma passagem que trata de um tema de forma completa22. Os números dos capítulos e versículos nas Escrituras foram colocados por editores da

Bíblia, não pelos escritores inspirados da Bíblia. Assim, nem sempre os números dos capítulos e versículos delimitam de forma correta o início, o meio e o fim de uma passagem. Uma boa dica para se delimitar o Parágrafo Predicável é ler os versículos anteriores e posteriores e observar se o Tema Geral se repete. Caso afirmativo, o pregador deverá incluir e abordar tais versículos em seu estudo para o desenvolvimento do sermão. Em 2° Reis 4.1-7, que citamos anteriormente, por exemplo, o tema "providência" não se repete no capítulo anterior, nem no posterior. Logo, podemos ter certeza de que o Parágrafo Predicável da passagem é, de fato, 4.1-7, pois os versículos delimitados tratam do tema de forma completa.

É o ato de escrever com suas outras palavras o texto a ser trabalhado. Karl Lachler sugere que a paráfrase do texto seja feita com um dicionário de sinônimos em mãos, substituindo cada substantivo e verbo por seus sinônimos correspondentes23. Porém, creio ser possível também fazer a paráfrase de um texto reescrevendo-o com "nossas próprias palavras". Em todo o caso, aquele que se propor a fazer o exercício da paráfrase, o fará em todos os versículos do parágrafo, que o ajudará a atentar para detalhes importantes do mesmo, que passariam despercebidos numa leitura apressada. Abaixo, exemplo de um versículo parafraseado:

"O Criador se importou com os homens tão grandemente, que entregou Seu Filho único, com a finalidade de que qualquer que depositar sua fé em Jesus Cristo não seja condenado, mas receba a salvação"(João 3.16).

Já vimos que um "texto sem contexto é pretexto". Além da observação das passagens

anteriores e posteriores ao texto estudado, o estudo das palavras nucleares, isto é, das palavras 3

(24)

que dão o sentido da passagem bíblica, será de fundamental importância para o entendimento da mensagem que o autor, inspirado pelo Espírito desejou comunicar.

Um bom exemplo da importância das palavras de um texto bíblico é o Salmo 37.5: "Entregue

o seu caminho ao Senhor, confie Nele e Ele agirá". No original hebraico, o verbo "entregue" significa,

literalmente, "role"24. Isto porque, quando um viajante se preparava para atravessar o deserto carregando um fardo pesado, fazia com que o camelo se abaixasse para receber a carga a ser carregada. A carga era "rolada" para as costas do camelo e, assim, a viagem se tornava menos penosa para o homem. Logo, o sentido do texto é: "Na caminhada da vida coloque seus fardos pesados sobre o Senhor, Ele te ajudará a carregá-los". Tal sentido está de acordo com outras passagens, como 1a Pe 5.7: "Lancem sobre Ele toda a sua ansiedade, porque Ele tem cuidado de vós".

A seleção de palavras servirá de guia para a pesquisa bíblica e ajudará o pregador a se aprofundar no entendimento verdadeiro do texto, o que enriquecerá a mensagem e edificará os ouvintes na beleza da Palavra de Deus: "Abre os meus olhos para que eu veja as maravilhas da tua

Lei" (S1119.18).

Dizem que "uma imagem vale mais que mil palavras". Verdade é que a visualização do movimento das idéias do texto ajudará na compreensão maior do mesmo. Fazer o gráfico da passagem significa descrever em imagens o movimento do texto. Por exemplo, 2° Re 4.1-7:

Busca CREDOR :;> Depem PROFETA Obediência VIZINHOS

2 3

Karl Lacher. Prega a Palavra - Passos para a Exposição Bíblica. São Paulo, Vida Nova, 2000, p.84

2 4

Derek Kidner. Salmos 1-72. Introdução e Comentário. São Paulo: Vida Nova, p. 171

(25)

O Gráfico nos possibilita abordagens múltiplas do texto em questão, isto é, abordá-lo de diversos ângulos. Por exemplo, este texto pode ser abordado pelo ângulo:

• da Viúva: Atitudes para receber a Providência de Deus:

1. Buscar a Deus 2. Crer em Deus 3. Obedecer a Deus 4. Depender de Deus

• do Profeta: Ações para com os Aflitos:

1. Ouvi-los com atenção 2. Orientá-los com sabedoria 3. Ajudá-los com amor

Como vemos, cada abordagem do texto possibilitará um sermão diferente.

"""""-AQterminar a Leitura com Propósito o pregador não apenas fez uma boa leitura do texto, mas tirou o^máximo proveito da leitura. Não o leu apenas por ler, mas o leu para entender. Como diz Paulo: "Persiste em ler, exortar e ensinar (...) Persevera nestas coisas, porque,

fazendo isto, te salvarás, tanto a ti mesmo como aos que te ouvem" (1a Tm 4.16).

1. Use a técnica do brainstorm antes de ler o texto escolhido para o sermão. 2. Faça a "Observação Preliminar" do texto e o defina: epístola, poesia, narração, profecia, etc.

3. Escreva a "Paráfrase" do texto. 4. Defina o "Tema Geral".

5. Delimite o "Parágrafo Predicável".

6. Selecione as palavras mais relevantes para pesquisa. 7. Esboce um gráfico do "movimento do texto".

(26)

Tudo o que Deus criou possui ordem, lógica e estrutura. A natureza está cheia de provas. Podemos observar desde o minúsculo corpo de uma formiga, até o de um grande mamífero, ou até mesmo a singeleza de uma árvore, com suas raízes, tronco e galhos, e logo somos convencidos que todas as coisas possuem uma estrutura lógica. É esta estrutura lógica que torna inteligíveis as coisas à mente humana. Tanto que é comum alguém reclamar que não entendeu algo, dizendo: "isto não tem lógica".

Mentes são lógicas. Portanto, se o sermão possui como uma de suas incumbências tornar a

pregação da mensagem bíblica clara para os que a ouvem, é necessário que os ensinos que ele

contém também estejam organizados, isto é, estruturados, de forma lógica. Como escreveu David L. Larsen:

"Aprendemos mais facilmente sobre os assuntos que nos são apresentados de forma organizada, de modo que existe poder maior no pensamento organizado25".

Charles W. Koller devidamente afirma:

"Uma boa estrutura é útil não somente para o pregador, dando-lhe noção de tempo, de desenvolvimento e de proporção, mas também para o auditório. O ouvir inteligente requer que o curso do pensamento fique claro para o ouvinte"26.

Assim, uma vez que os ensinos do sermão bíblico derivam-se do texto bíblico, a pergunta que precisamos responder é: "como organizar de forma lógica os ensinos de um texto da Bíblia"?0

Esboço Analítico é uma técnica que ajudará o expositor bíblico a organizar os ensinos de um

texto de forma lógica, o que ajudará a cativar e manter a atenção dos ouvintes, pelo fato de a mente

humana ser atraída naturalmente pela ordem lógica27.

2 5

David L. Larsen. Anatomia da Pregação (São Paulo: Editora Vida, 2005), pg.60.

2 6

Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo

Cristão, 1999, p. 38

(27)

27

• • . :

__ I S S i l i i ; ; ' " ^ SSifeÊÉS

É possível fazer um esboço analítico, pelo menos, de duas maneiras: de acordo com a

estrutura literária da passagem, ou, de acordo com o tema geral da passagem. Para fins didáticos,

vamos definir o esboço analítico de acordo com a estrutura literária da passagem como "Esboço Analítico Literário", e o esboço analítico de acordo com o tema como "Esboço Analítico Temático". È necessário afirmar que um tipo de esboço analítico não exclui o outro. O pregador minucioso se utilizará dos dois tipos de esboços analíticos para dominar ainda mais o texto. Vamos definir os dois tipos de esboços analíticos:

, % r fM | 5 -i 4 ' - ., Th ai'nfc>wtigigHEraaMfcfiTi.ft*jaBSfc'ifcf>5 h í i n j . & M i à í «t^i^í jjfàrt—-.^-J"

É uma análise da passagem de acordo com sua estrutura literária. Veja um exemplo de

esboço analítico de acordo com a estrutura literária de Tiago 3.1-12:

1. Tiago aconselha a nem todos serem mestres (v1-2):

a. Pois os que ensinam serão julgados com maior rigor (v1) b. Pois todos tropeçam no falar (v2a)

c. Para não tropeçar no falar é necessário ser perfeito (v2b)

2. Tiago compara a língua, pequeno órgão do corpo que se vangloria de grandes coisas, com pequenos elementos que fazem grandes coisas (v3-5):

a. Com o freio que faz o cabalo obedecer (v3) b. Com o leme que dirige o navio (v4) c. Com a fagulha que incendeia o bosque (v5) 3. Tiago compara a língua com coisas depreciativas (v6a):

a. É um fogo (v6a)

b. É um mundo de iniqüidade (v6a)

4. Tiago alerta sobre os perigos da língua, que é colocada entre os membros do corpo (v6b): a. Contamina a pessoa por inteiro fi/6b)

b. Incendeia todo o curso de sua vida, sendo ela mesma incendiada pelo inferno(v6b) 5. Tiago contrasta as coisas domadas com a língua indomada (v7-8):

a. O homem domina toda espécie de animais, aves, répteis e criaturas do mar (v7).

b. O homem não domina a língua, que é um mal incontrolável, cheio de veneno mortal (v8).

6. Tiago fala sobre as contradições da língua (v9-10): a. Com a língua bendizemos o Senhor (v9a)

b. Com a língua amaldiçoamos os homens, que são feitos à semelhança de Deus (v9b). c. Da mesma boca procede bênção e maldição (v10)

7. Tiago expõe os motivos para a coerência no uso da língua (v11-12): a. Podem sair água amarga e doce da mesma fonte?(v11)

b. Pode uma figueira produzir azeitonas ou uma videira figos?(v12a)

(28)

Como podemos ver, este tipo de esboço analítico "desseca" a passagem, procurando encontrar uma estrutura coerente no fluxo de suas idéias. É como fazer o "mapa" do texto, a fim de não se perder ou se desviar do caminho traçado pelo autor.

É uma análise não de acordo com a estrutura literária do texto, como no exemplo anterior, mas, de acordo com o tema geral da passagem. Para entendermos como se faz um esboço analítico de acordo com o tema geral da passagem, vamos usar a analogia da

Dispensa e os alimentos.

a. A Dispensa e os Alimentos

Imagine que você vá ao supermercado e compre: Laranja, Frango, Bombons, Morango,

Peixe, Balas, Pirulitos e Maçã. Quando chegar em casa, provavelmente, não guardará estes

alimentos numa mesma prateleira, mas guardará cada um de acordo com sua natureza. Para tanto, será necessário definir a natureza de cada um:

Laranja (fruta) Frango (carne) Bombons (doce) Morango (fruta) Peixe (carne) Balas (doce) Pirulitos (doce) Maçã (fruta)

Definida a natureza de cada alimento, será conveniente agrupá-los e guardá-los nas

(29)

Frango Peixe Laranja Morango Maçã Bombons Balas Pirulitos

Você também poderá nomear cada prateleira de acordo com o tipo de alimentos que ela guarda.

C A R N E S Frango Peixe F R U T A S Laranja Morango Maçã D O C E S Bombons Balas Pirulitos

Muito bem, você guardou seus alimentos de forma lógica e organizada, o que facilitará

(30)

jU

b. O Texto, o Tema e as Lições

Um texto da Bíblia, de certa forma, é como um supermercado. Nele nós encontramos

alimentos de diversos tipos que, na verdade, são os ensinos que o mesmo possuí.

Assim como é necessário organizar os alimentos do supermercado numa dispensa, de acordo com a natureza de cada um, também será necessário organizar os diversos ensinos de um texto num esboço analítico de acordo com a natureza de cada um.

Assim, o "Esboço Analítico Temático" é a "dispensa" que organiza os ensinos de um texto de acordo com o seu tema principal, ou, se você preferir, que organiza as idéias de um parágrafo

predicável28 Vejamos, então, um exemplo de Esboço Analítico Temático.

c. "Esboço Analítico Temático" de Tiago 3.1-12.

Para se fazer o "Esboço Analítico" de um texto, de acordo com seu tema geral, é necessário, em primeiro lugar, definir qual é o Tema Geral do texto em questão. No caso de Tiago 3.1-9, é evidente que "língua" é o Tema Geral do texto. Uma vez definido o Tema Geral do texto, vamos extrair os ensinos que ele trás sobre a "língua", pois, "assim com retiramos alimentos do supermercado, também retiramos ensinos do texto bíblico".

Ensinos sobre a língua:

• É um pequeno órgão do corpo (v5a). » Se vangloria de grandes coisas (v5b). • É um fogo (v6a).

• É mundo de iniqüidade (v6b).

Contamina a pessoa por inteiro (v6c). • Incendeia todo curso da vida (v6d). • É incendiada pelo Inferno (v6e). • Ninguém consegue domar (v8a). • É um mal incontrolável (v8b). • É veneno mortal (v8c).

• Com ela bendizemos ao Senhor (v9a).

• Com ela amaldiçoamos os homens (v9b).

(31)

31

Da mesma maneira como definimos a natureza de cada alimento, devemos definir também a natureza de cada ensino:

• É um pequeno órgão do corpo (v5a) - característica • Se vangloria de grandes coisas (v5b) - ação

• É como um fogo (v6a) - comparação

• É como mundo de iniqüidade (v6b). - comparação Contamina a pessoa por inteiro (v6c) - ação

• Incendeia todo curso da vida (v6d) - ação • É incendiada pelo Inferno (v6e) - característica • Ninguém consegue do mar (v8a) - característica • É um mal incontrolável (v8b) - característica • É como um veneno mortal (v8c) - comparação • Com ela bendizemos ao Senhor (v9a) - uso • Com ela amaldiçoamos os homens (v9b) - uso

Após definir a natureza de cada ensino que o texto apresenta sobre a "língua", podemos agrupar os "ensinos" de mesma natureza colocando-os também na "dispensa", nomeando cada "prateleira" de acordo com a natureza dos ensinos que ela contém.

CARACTERÍSTICAS

É um pequeno órgão do corpo (v5a) É incendiada pelo Inferno (v6e) Ninguém consegue domar (v8a) É mal incontrolável (v8b)

COMPARAÇÕES

É como um fogo (v6a)

É como um mundo de iniqüidade (v6b) É como um veneno mortal (v8c)

AÇÕES

Se vangloria de grandes coisas (v5b) Contamina a pessoa por inteiro (v6c) Incendeia todo curso da vida (v6d)

USOS

Com ela bendizemos ao Senhor (v9a) Com ela amaldiçoamos os homens (v9b)

(32)

Perceba que cada "prateleira" contém "ensinos específicos" (características, comparações, ações, usos) sobre o tema geral (língua). Embora seja possível, em um único sermão, pregar tudo o que a dispensa ensina sobre a língua, melhor será considerar cada prateleira da dispensa como uma possibilidade diferente de sermão.

Considerando cada "prateleira" como uma possibilidade de sermão, o pregador poderá pregar quatro sermões sobre a língua:

1o Sermão: As Características da Língua: 1. É um pequeno órgão do corpo (v5). 2. É incendiada pelo Inferno (v6). 3. Ninguém consegue domar (v8a). 4. É mal incontrolável (v8b).

2° Sermão: As Comparações da Língua: 1. É como um fogo (v6a).

2. É como um mundo de iniqüidade (v6b). 3. É como um veneno mortal (v8).

3o Sermão: As Ações da Língua:

1. Se vangloria de grandes coisas (v5). 2. Contamina a pessoa por inteiro (v6a). 3. Incendeia todo curso da vida (v6b).

4o Sermão: Os Usos da Língua:

1. Com ela bendizemos a Deus (v9a). 2. Com ela amaldiçoamos os homens (v9b).

Aqui, se torna necessário algumas observações.

Primeiro, os ensinos de cada sermão, organizados pelo esboço analítico temático,

provavelmente, serão as divisões do mesmo. Por exemplo, no sermão 2 (As Comparações da Língua), cada "comparação" (é como um fogo, é como um mundo de iniqüidade, é como um veneno mortal) será uma divisão do sermão, caso a exegese do texto, o que veremos a frente, confirme cada "comparação".

Segundo, como já dito, é possível considerar a estrutura apresentada acima como um único

sermão de "quatro divisões", onde as divisões seriam: "as características da língua", "as comparações da língua", "as ações da língua", "os usos da língua". Aliás, seria isto o que alguns considerariam como "sermão expositivo". Porém, precisamos lembrar que pregar expositivamente não significa falar tudo o que um texto ensina num só dia. E como o pastor Ed René Kivitz sugere: "em vez de prega um

sermão com cinco divisões e algumas subdivisões, os pregadores deveriam ensinar apenas uma coisa de cada vez" 29.

2 9

Ed René Kivitz em entrevista ao Jornal Expressão - Vida Nova para a Teologia Brasileira. São Paulo,

Outubro de 2000 - ano4, p. 3

(33)

d. A Definição dos Termos <

Agora que aprendemos a separar, organizar e agrupar os ensinos de mesma natureza que o

texto apresenta, precisamos definir os termos como a homiiética sugere.

• Tema Geral é o assunto principal do texto. No caso do exemplo acima, o Tema Geral é "língua".

Temas Específicos são os "subtemas" que derivam do tema geral, no caso: "Características da Língua", "Comparações da Língua", "Ações da Língua" e "Usos da Lingua".

• Palavra Chave é o substantivo plural que define os ensinos de mesma natureza: "características", "comparações", "Ações", "Usos". Em outros casos, poderão ser usados muitos outros substantivos plurais como:

Aflições Hostilidades Quesitos

Alternativas Idéias Questões

Atitudes Indícios Razões

Bases Intenções Remédios

Benefícios Jactâncias Resultados

Buscas Jeitos Setas

Casos Justificativas Sinais

Causas Lembranças Situações

Conseqüências Lições Tarefas

Desejos Lutas Tentações

Dicas Maneiras Tipos

Dores Marcas Urgências

Elogios Mentiras Utilidades

Elos Naturezas Unidades

Estados Nomes Valores

Falácias Nuanças Venenos

Fatos Operações Vícios

Fraquezas Oportunidades Xenofilias

Garantias Ordens Xenofobias

Gestos Penitências Xeques

Graças Poderes Zelos

Habilidades Provas Zombarias

Heranças Qualidades Zunidos

Repare que a palavra chave é sempre um "substantivo no plural", devido ao fato de que ela se relaciona às divisões do sermão, que, geralmente, possui mais de uma divisão. Como se pode ver, existe quase uma infinidade de substantivos plurais que podem ser usados

(34)

,34

como "palavras chaves" na estruturação dos sermões. Cabe ao pregador escolher aquela palavra que melhor representará os ensinos do texto.

Ao retirar do texto seus ensinos de mesma natureza e organizá-los na "Dispensa", você se utilizou da técnica do "Esboço Analítico" para organizar os ensinos do seu sermão e garantiu uma qualidade imprescindível a um sermão que as pessoas ouvem: estrutura lógica. Pois:

"A boa estrutura pode fazer a diferença entre a futilidade e a eficiência de um sermão e, com os anos, pode levar um pregador da mediocridade para a excelência"30-,

1. Faça o Esboço Analítico de acordo com a Estrutura Literária da passagem. 2. Faça o esboço Analítico de acordo com o Tema Geral da passagem. Siga os

seguintes passos:

a. Defina o "Tema Geral".

b. Escreva os ensinos que o texto apresenta sobre o Tema Geral.

c. Classifique cada ensino de acordo com sua natureza. Ex.: Características, atitudes, definições...

d. Coloque os ensinos de mesma natureza nas "prateleiras" da "dispensa". e. Nomeie cada prateleira com a "palavra chave" (substantivo plural) que

representa seu conteúdo.

f. Escolha a "prateleira" que será a estrutura do corpo de seu sermão.

3 0

Charles W.Koller. Pregação Expositiva sem anotações - Como pregar sermões dinâmicos. São Paulo, Mundo

Cristão, 1999, p. 38

(35)

Como colocar carne no sermão?

Esta foi a pergunta que um aluno de homilética fez após aprender a fazer o "Esboço Analítico" do texto. Com o Esboço Analítico foi possível estruturar as partes maiores do sermão, que poderão vir a ser as divisões principais do mesmo. Por exemplo:

Atitudes em meio à adversidade (2°Re 4.1-7):

1. Buscara Deus 2. Crerem Deus

3. Obedecer a Deus 4. Depender de Deus

Já temos o esqueleto do sermão. Porém, como alguém afirmou: "ninguém se alimenta de ossos". É hora de colocar "carne". Uma vez que o propósito é fazer um sermão bíblico, a carne do sermão só poderá vir de uma fonte: a Bíblia.

A Pesquisa Bíblica é o ato de levantar informações sobre o texto e o seu contexto. Em outras palavras, é o ato de "garimpar" o texto com o fim de extrair as verdades preciosas e eternas que nele

se encontram, como fazia Martinho Lutero:

"Martinho Lutero testificou que seu estudo da Palavra era semelhante ao ato de colher maçãs. Ele chacoalhava a árvore toda, de modo que as frutas mais maduras pudessem cair. Em seguida, subia na árvore e chacoalhava cada ramo, cada galho e cada broto. Depois, procurava debaixo de cada folha"31.

A Pesquisa Bíblica pode ser dividida em duas partes: a Pesquisa do Livro e a Pesquisa do

Texto.

(36)

36

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Na Pesquisa do Livro fazemos o levantamento das informações macro do texto, ou seja, as informações sobre o texto que não estão no texto. Para se fazer a Pesquisa do Livro, é necessário fazer o levantamento das seguintes informações:

a. Autor do texto: saber quem escreveu o texto em questão, sua teologia e seu momento histórico, será útil na interpretação correta do mesmo. Por exemplo, saber que Lucas é o autor do Livro de Atos já dá um bom argumento para o pregador estimular sua congregação a cumprir o chamado de serem testemunhas de Jesus (At 1.8), usando os dons e talentos de cada um. Lucas, no caso, não era

apóstolo, nem mesmo pregador. Mas como escritor, cumpriu e ainda cumpre seu chamado como

testemunha pelo Evangelho que escreveu.

b. Destinatários: São os leitores originais, as pessoas às quais o autor bíblico dirigiu o seu escrito. Saber que os destinatários de Mateus eram judeus explica porque o autor, em Seu Evangelho, faz

tantas referências às profecias do Antigo Testamento sobre o Messias. Seu propósito é convencer os judeus que Jesus é o Cristo.

c. Propósito: entender o motivo pelo qual o autor bíblico escreveu o que escreveu, será útil para o entendimento das nuanças e das emoções intrínsecas em suas palavras. Em Gálatas, Paulo escreve que a Lei serviu de "aio" até Cristo. Aio era o instrutor de crianças responsável pelo encaminhamento das mesmas32. Para Paulo o objetivo da Lei era levar o pecador a reconhecer a necessidade de se ter Cristo como Seu Salvador, doutrina importante para uma Igreja assediada a ter a Lei como meio de salvação.

d. Língua: Não é necessário argumentar sobre a importância do conhecimento da língua em que, originalmente, foi escrito o texto bíblico. Por exemplo, um erro comum é usar o a palavra grega "ekklesia" (chamados para fora)33, para defender a idéia de que a Igreja deve sair das "quatro paredes" e ir ao mundo, afinal o vocábulo que deu origem à palavra Igreja significa "chamados para fora". Porém, um estudo mais acurado do uso da palavra "ekklesia" para a Igreja, nos tempos bíblicos, mostrará que o sentido não é de chamados para "fora das quatro paredes do templo", mas tem o significado de "um grupo de pessoas que foram conclamadas para fora de seus lares a fim de virem se encontrar-se com Deus"34.

3 2

J.D.Douglas (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo: Vida Nova, 1995, p.46

3 3

W. E. Vine; Merril F. Unger; William White Jr. Dicionário Vine - O Significado Exegético e Expositivo das

Palavras do Antigo e do Novo Testamento. Rio de Janeiro, CPAD, 2002, p. 419

(37)

37

e. Data: dependendo da época em que uma palavra foi escrita, ela poderá adquirir significado diferente. Por exemplo, a palavra cruz vem do grego stauros que, literalmente, significa "madeiro". De fato, o madeiro, em sua origem era uma "estaca" em que os condenados eram executados. Porém, na época de Jesus, tempo do império Romano, o stauros, isto é, o madeiro já havia adquirido a forma de "cruz"35. Sem o conhecimento da data em que o testemunho da crucificação foi escrito, e, tendo como base apenas o significado original da palavra stauros, poderíamos ser levados à interpretação incorreta de que Cristo teria sido colocado numa "estaca" e não numa "cruz".

f. Lugar: Quando o apóstolo Paulo escreveu 2a Timóteo, ele se encontrava, não mais numa prisão domiciliar, mas numa masmorra escura, fria e úmida. Isto explica o pedido de sua capa (2a Tm 4.13) e o tom melancólico presente em algumas linhas da carta (2a Tm 4.16). O conhecimento do contexto geográfico, em alguns casos, é essencial para entender o "colorido" ou, os "tons sombrios" do texto.

g. Cultura: Na época dos apóstolos, a cabeça rapada da mulher significava que ela havia sido submetida à humilhação pública devido à algum ato vergonhoso, como o adultério; ou que queria demonstrar emancipação e insubmissão a seu marido36. Parece que as prostitutas também tinham o costume de usarem cabelos curtos37. Assim, quando Paulo exorta as mulheres de Corinto a usarem o véu, preocupava-se com o testemunho público das mesmas. O princípio do texto é que a aparência das mulheres cristãs deve refletir dignidade e respeito para com Deus e seus maridos.

•i-ijt^-Na Pesquisa do Texto fazemos o levantamento das informações micro do texto, ou seja, as informações sobre o texto que estão no texto. Para se fazer a Pesquisa do Texto, são necessários os seguintes passos:

a. Pesquisar o significado exegético das palavras nucleares do texto: O significado exegético de uma palavra é o seu significado original quando foi escrita pelo autor bíblico. O pregador sério se preocupará em pesquisar as palavras nucleares de seu texto em busca de seu significado verdadeiro. Para tanto, é necessário fazer a pesquisa exegética dos:

• Substantivos: A palavra "mundo", por exemplo, no grego, pode ter pelo menos 4

significados diferentes: universo, planeta terra, sistema que faz oposição a Deus e

3 5

J.D.Douglas (Editor Organizador). O Novo Dicionário da Bíblia. São Paulo, Vida Nova, 1995, p.378-381

3 6

Kenneth Barker (Organizador Geral). Bíblia de Estudo NVI. São Paulo,Editora Vida,2003, p. 1969

3 7

Russel Norman Champlim. O Novo Testamento Interpretado Versículo por Versículo -v.4 .São Paulo: Editora

Milenium,1987, p. 170,171

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