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Produção, Processamento e Comercialização de Peles e Couros Caprinos e Ovinos

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Academic year: 2021

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Produção, Processamento e Comercialização de Peles e Couros Caprinos e Ovinos Manuel Antonio Chagas Jacinto

Pesquisador da Embrapa Gado de Corte

BR 262, Km 4 - CEP 79.002-970 – Campo Grande, MS jacinto@cnpgc.embrapa.br

Roberto Germano Costa

Professor do Departamento de Agropecuária da Universidade Federal da Paraíba rgermano@cft.ufpb.br

1. Introdução

É consenso que a cadeia produtiva encontra-se desarticulada, mas também é unânime a percepção de que existem possibilidades de desenvolvimento da ovinocaprinocultura em vários níveis, uma vez que é real e potencial a demanda por carne, leite e peles.

A demanda brasileira por carne ovina é maior do que a oferta, forçando o Brasil recorrer a freqüentes importações para o abastecimento do mercado interno. Tendência semelhante segue o mercado de peles caprinas e ovinas, induzindo os curtumes a negociar importações para atender a procura, principalmente, das fábricas de calçados, como forma de otimizar a capacidade instalada, atualmente ociosa, e conseqüentemente, reduzir o custo industrial.

As indústrias de curtimento dispõem de estrutura física, financeira e tecnológica, assim como, de insumos químicos, para processar as peles com alto padrão de qualidade, porém, ressentem-se da falta dessa matéria-prima em quantidade e qualidade.

2. Produção e Qualidade das Peles

A produção de pele, como conseqüência natural da exploração pecuária, ainda é considerada uma atividade secundária da produção animal, porém, contribuindo com aproximadamente 8% do valor da carcaça na venda do animal, a pele talvez represente, para o empresário rural, a diferença entre o lucro e o prejuízo (JACINTO, 2001).

Durante a produção do animal, as peles estão sujeitas a ocorrências que definirão sua qualidade e preço no mercado, portanto o empresário rural tem grande influência na qualidade das peles e conseqüentemente dos couros, após o curtimento. Durante o abate e a conservação também são observadas ocorrências que contribuem negativamente para a qualidade das peles (JACINTO, 1999, 2002, 2003; BARROS & VASCONCELOS, 2002; BEZERRA, 2003).

A qualidade é a propriedade, atributo ou condição das coisas ou das pessoas capaz de distinguí-las das outras e de lhes determinar a natureza (FERREIRA, 2000). Para distinguir é necessário comparar, e para comparar é necessário referência. Referência, padrão (Standard), é aquilo que serve de base para a avaliação de qualidade ou quantidade.

A qualidade da pele é avaliada através de normas informativas (descritivas), de procedimento (ensaios destrutivos ou não) e/ou especificação (valores, limites, tolerância, referência para aceitação ou rejeição). Por exemplo: as normas ABNT NBR 10452 (1996a) e ABNT NBR 10453 (1996b), são de procedimento; a ABNT NBR

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14167 (1998), é de procedimento e especificação; e a ISO 7482-1 (1998a), é Informativa/descritiva.

A norma ISO 4683-1 (1998b), trata da descrição dos defeitos das peles ovinas que podem ocorrer nos períodos ante-mortem, post-mortem e de conservação e a ISO 4683-2 (1999a), da localização dos defeitos nas peles ovinas.

Jacinto (2000) trabalhando com caprinos em condições controladas notou que, após o abate, as peles frescas classificadas segundo as normas ISO 7482-1 (1998a) e ISO 7482-3 (2000b), quanto à ocorrência de defeitos no período ante-mortem,

post-mortem e de conservação, não apresentaram defeitos, sendo todas, consideradas de

primeira qualidade.

As fibras de colágeno de peles caprinas, ovinas, bovinas e bubalinas, de diferentes regiões de cada animal, submetidas ao ensaio de resistência à tração, apresentam propriedades físicas distintas pois são influenciadas pela localização das amostras e a orientação das fibras de colágeno, sendo a tração diferente em diferentes direções (MUTHIAH et al. 1967). Freqüentemente, a tração é maior na direção paralela à linha dorsal do que na direção perpendicular a ela. Estes resultados confirmam as observações de BOCCONE et al. (1978) para pele de ovinos lanados curtidas com cromo e alumínio e engraxadas com óleos naturais e sintéticos. Desses couros foram retirados vinte corpos-de-prova do quadrilátero G, H, I, J, conforme Figura 1, na direção paralela e perpendicular à linha dorsal (E, M), para os ensaios de rasgamento (ISO 3377, 1975) e tração (ISO 3376, 1976).

Figura 1. Locais de retirada das amostras para identificação da região mais adequada para os ensaios de resistência à tração e ao rasgamento

(BOCCONE et al., 1978)

Os resultados encontrados indicaram que as regiões de números 3, 8, 9, 13, 14, 18 e 19, são as mais adequadas para a retirada dos corpos-de-prova de tração em ovinos, coincidindo com a região estabelecida pela norma internacional ISO 2418 (1972). Para o ensaio de rasgamento, o procedimento foi análogo e os resultados indicaram as regiões de números 1, 2, 7, 8, 9, 16, 18, 19, como sendo as melhores para a retirada dos corpos-de-prova.

ARUMUGAM et al. (1994) estudaram o efeito da velocidade de elongação sobre o comportamento de fratura de peles caprinas, obtidas após o abate do animal em frigorífico. Foram utilizados vinte corpos-de-prova de tração, retirados da região determinada por norma internacional (ISO 2418, 1972), paralela à linha dorsal, para cada velocidade de elongação (5, 50, 200, 500 e 1000%.min-1). Utilizando microscópio eletrônico de varredura (SEM), os autores verificaram que as fibras de colágeno in

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região de fratura (topo da fibra), o diâmetro das fibrilas varia muito, resultando em fibrilas finas em baixas velocidades de elongação e fibrilas grossas em altas velocidades de elongação. Apesar de a resistência à tração no ponto de ruptura não ter sido influenciada pela velocidade de elongação, apresentou variação na carga de tração, em função da velocidade de elongação e da deformação plástica.

3. Processamento de Peles

O objetivo de transformar a pele em couro é preservar as propriedades originais como resistência à tração, viscoelasticidade e abrasão, eliminar outras, como a facilidade de decomposição e rigidez ao secar e, acrescentar outras, como a resistência térmica e permeabilidade aos gases (BIENKIEWICZ, 1983).

Durante o processo de curtimento, as peles caprinas e ovinas são submetidas às etapas químicas de caleiro, desencalagem, purga, desengraxe, piquelagem, curtimento, neutralização, recurtimento, tingimento, engraxe e acabamento, e às etapas mecânicas de descarne, enxugamento, rebaixamento, estiramento, vácuo ou toogling, lixamento, amaciamento, aplicação de acabamento, prensagem e medição (THORSTENSEN, 1976).

As peles conservadas por salga são remolhadas para incorporar novamente a umidade perdida durante o processo de desidratação (BELAVSKY, 1965).

No caleiro, as peles são tratadas com hidróxido de cálcio, sulfeto de sódio, aminas e enzimas com o objetivo de abrir a estrutura fibrosa e eliminar os pêlos da epiderme (SHARPHOUSE, 1971; RAO e JAYARAMAN, 1979). A utilização de produtos alcalinos no caleiro provoca o intumescimento das peles, facilitando a remoção, através da operação mecânica de descarne, da camada subjacente à derme, constituída de tecido muscular e adiposo (THORSTENSEN, 1976; SWAMY, et al., 1982).

Os componentes alcalinos do caleiro são eliminados da pele na desencalagem, através de reações com produtos que facilitam sua remoção na forma de sais solúveis (WILSON, 1971; MANOHAR, et al.,1979), preparando a pele para a purga.

A limpeza da estrutura fibrosa pela eliminação dos constituintes indesejáveis é realizada na operação de purga, através de enzimas proteolíticas (PUVANAKRISHNAN et al., 1980; RAO, et al., 1980a; HOINACKI, 1989).

A remoção da graxa natural é feita entre a purga e o píquel, ou durante a execução das etapas, com solventes, tensoativos e enzimas adequados ao pH de cada etapa (VENKATACHALAM, et al., 1980).

No píquel são utilizados ácidos orgânicos e inorgânicos e cloreto de sódio; os ácidos preparam a pele para receber os curtentes e o cloreto de sódio bloqueia o intumescimento provocado pelos ácidos (BIENKIEWICZ, 1983). O pH desta etapa interrompe a ação da purga, desativando as enzimas.

O curtimento é a etapa de transformação de pele em couro, tornando o material estável e imputrescível através da ação do curtente (THORSTENSEN, 1976; KHANNA e SELVARANGAN, 1979; SELVARANGAN et al., 1979; RAO et al., 1980b; ADZET, 1985; SOLER et al., 1992). Os curtentes podem ser inorgânicos de origem mineral, ou orgânicos de origem vegetal, sintético e aldeídos (HOINACKI, 1989).

Após o curtimento, os couros são rebaixados em espessura e classificados quanto à ocorrência de defeitos e seguem para a etapa de neutralização, quando são preparados para a etapa de recurtimento (GUPTA et al., 1979).

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O recurtimento é executado após a etapa de neutralização ou antecedendo-a e visa definir parte das características físico-mecânicas, tais como maciez, elasticidade,

enchimento e algumas características de toque e tamanho de poro – abertura do folículo

piloso (HOINACKI, 1989). Os produtos de recurtimento são empregados isoladamente ou misturados e podem ser orgânicos ou inorgânicos (RAO et al., 1980c).

No mesmo banho de recurtimento ou em novo banho, os couros são tingidos com corantes aniônicos ou catiônicos, dependendo do pH do substrato e do efeito desejado.

O engraxe pode ser realizado antes ou após o tingimento com o objetivo de incorporar substâncias lubrificantes no couro para promover sua maciez, através do movimento das fibras de colágeno (PORÉ, 1974; ADZET, 1985).

Após o engraxe, o couro é exposto ao ar para secar naturalmente ou em estufas; em seguida é amaciado, lixado e acabado com aplicação de resinas e lacas e prensado para a fixação do aspecto definitivo (SHARPHOUSE, 1971; RAO et al., 1979; ADZET, 1985).

As peles devem ser classificadas por tamanho e massa com o objetivo de segregá-las em lotes para uniformizar o processamento (curtimento) e padronizar o produto final. A norma ISO 7482-2 (2000a), indica a metodologia para a padronização de lotes de peles caprinas. Segundo essa norma, a classificação das peles, baseando-se na massa, deve seguir as especificações apresentadas na Tabela 1.

Tabela 1. Classificação de peles caprinas com base na massa1 Massa (kg) Categoria

Fresca Salgada úmida Salgada seca Seca

Extraleve Até 0,8 Até 0,5 Até 0,3 Até 0,2

Muito leve 0,9 a 1,2 0,5 a 0,6 0,3 a 0,4 0,2 a 0,3

Leve 1,3 a 2,0 0,7 a 1,0 0,5 a 0,6 0,3 a 0,4

Média 2,1 a 2,8 1,1 a 1,4 0,7 a 0,8 0,5 a 0,6

Pesada 2,9 a 3,6 1,5 a 1,8 0,9 a 1,0 0,7 a 0,8

1Esses valores são aplicados às peles com pêlo curto

Jacinto (2000) trabalhando com caprinos Saanen, Alpino e Anglo Nubiano, com três e seis meses de idade, classificou as peles segundo o comprimento e a área (Tabela 2), através da norma ISO 7482-2 (2000a), seguindo as especificações apresentadas na Tabela 3.

As variações entre as raças e idades, na classificação por comprimento, foram pequenas: para as peles dos caprinos de 3 meses variou entre 8,04 a 8,82 dm e para os de 6 meses entre 9,96 a 11,5 dm (Tabela 2). Comportamento similar foi observado na classificação por área, variando entre 20,66 a 21,42 dm2 na idade de 3 meses e 30,26 a 30,88 dm2 na de 6 meses.

A medida de comprimento da pele foi obtida ao longo da linha média dorsal: da base da cauda até o final do pescoço e, a da largura, da distância entre a linha média dorsal e a linha ventral, como pode ser observado na Figura 2.

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Tabela 2. Classificação das peles de caprinos conservadas, com base no comprimento e na área Raça Idade (meses) Peso do Animal (kg) Comprimento das Peles (dm) ISO 7482-2: 20002 Área das Peles (dm2) ISO 7482–2: 20001 3 24,6 r 1,11 8,18 r 0,51 M 20,66 r 1,28 ES Saanen 6 38,2 r 1,30 9,96 r 0,42 L 30,88 r 1,97 S 3 24,0 r 1,41 8,04 r 0,26 S 21,42 r 1,63 SS Alpino 6 38,8 r 1,48 10,02 r 0,30 L 30,26 r 1,07 S 3 21,8 r 0,84 8,82 r 0,40 M 21,02 r 1,50 SS Anglo 6 36,8 r 0,84 11,5 r 0,07 EL 30,82 r 1,13 S

1 ES = Extra Pequena; SS = Muito Pequena; S = Pequena; 2 M = Média; L = Grande; EL = Extra Grande.

Figura 2. Medidas de comprimento (1) e largura (2) de peles caprinas segundo norma ISO 7482-2 (2000a)

Tabela 3: Classificação das peles caprinas baseada no comprimento e na área1

Categoria Comprimento (dm) Área (dm2)

Extra pequena (ES) Abaixo de 6 Até 20

Muito pequena (SS) 6,1 a 7 21 a 27

Pequena (S) 7,1 a 8 28 a 36

Média (M) 8,1 a 9 37 a 45

Grande (L) 9,1 a 10 46 a 54

Extra grande (EL) 10,1 e acima 55 e acima

1 ISO 7482-2 (2000a)

Com o objetivo de verificar a diferença entre os couros de ovinos deslanados da raça Morada Nova variedade vermelha e ovinos lanados da raça Polwarth ou Ideal, Jacinto (1996) desenvolveu curtimento empregando metodologia da BASF (1976), modificada por Silva Sobrinho & Jacinto (1992), seguindo as etapas de remolho, caleiro, desencalagem, purga, píquel, curtimento, neutralização, recurtimento, secagem e amaciamento. O curtimento foi realizado em fulão (cilindro de madeira) de 80 cm de diâmetro por 80 cm de comprimento. A velocidade do fulão, o volume do banho, a temperatura e o pH, foram modificados segundo as etapas do processo, conforme Tabela 4.

Os produtos químicos empregados no curtimento das peles, segundo a etapa do processo, são apresentados na Tabela 5.

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Tabela 4. Variações do volume, temperatura, pH do banho e velocidade do fulão, durante o processo de curtimento

Etapas do Processo Volume de água do banho (%)* Temperatura (°C) pH do banho Velocidade do fulão (rpm) Remolho 200 25 7 4 Caleiro 200 25 12 4 Desencalagem 80 25 12 > 7 10 Purga 80 25 > 33 10 > 7 10 Desengraxe 50 35 7 10 Píquel 50 25 3 10 Curtimento 50 25 3 10 Neutralização 50 25 6,2 16 Recurtimento 50 40 6,2 16

* Percentagem em relação à massa das peles

Tabela 5. Relação dos produtos químicos por etapa do processo de curtimento1 Etapa do Processo Produto Químico Quantidade (%)2 Fabricante Finalidade

Remolho Hostapal NC® 1,0 Clariant Umectar/Desengraxe

Caleiro Cal 2,5 Itaú Depilação

Sulfeto de

Sódio

2,5 Panamericana

Desencalagem Cloreto de amônio

5,0 Merck Remoção da cal

Purga Batan 100® 0,01 Clariant Limpeza da estrutura

fibrosa

Desengraxe Sanix P® 2 Clariant Remoção da graxa

natural

Píquel Cloreto de sódio

Ácido sulfúrico Ácido fórmico 8,0 0,8 0,5 Merck Merck Merck Preparação para o curtimento

Curtimento Cromosal B® 10 Bayer Curtimento

Neutralização Formiato de sódio Bicarbonato de sódio 0,8 1,0 Merck Merck Redução da acidez do couro

Recurtimento Lubritan WP® 15 Rohm & Haas Características físicas do couro

1A menção de produtos comerciais pelo autor não supõe recomendação frente a outros similares

existentes.

2 Percentagem em relação à massa das peles.

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Com o objetivo de verificar a diferença entre os couros de caprinos Saanan, Alpino e Anglo Nubiano, Jacinto (2000) trabalhou com peles secas, conservadas por salmouragem e salga. As peles foram identificadas com furos na região do pescoço e curtidas através de metodologia de Jacinto (1996), adaptada. A velocidade do fulão, o volume do banho, a temperatura e o pH foram adequados a cada etapa do processo, como pode ser observado na Tabela 6.

Tabela 6. Variação de volume, temperatura, pH do banho, velocidade do fulão e tempo de processo, durante o curtimento

Etapa do Processo Volume de água (%)* Temperatura (°C) pH Velocidade do fulão Tempo (h) Remolho 200 25 9,0 4 10 Caleiro 30 >100 25 12,0 4 18 Desencalagem 30 >100 25 12,0 > 7,0 8 2 Purga 80 35 8,5 8 2 Desengraxe 50 30 7,0 8 1 Píquel 80 25 3,0 10 1 Curtimento 80 25 3,0 10 5 Neutralização 80 25 6,2 12 2 Recurtimento 50 65 6,2 16 3

* Percentagem em relação à massa das peles

As peles dos animais das três raças foram curtidas com sulfato básico de cromo como agente de curtimento primário, sem o pêlo, conforme norma internacional ISO 5431 (1999b) para obtenção de couros wet blue.

Os produtos utilizados no curtimento das peles, segundo a etapa do processo, são apresentados na Tabela 7.

4. Qualidade dos Couros Ovinos e Caprinos

Para garantir a qualidade do couro, os curtumes promovem o controle da qualidade dos produtos químicos utilizados no processamento das peles. Além dos insumos - peles e produtos químicos – o processo de curtimento também é controlado, através de medições e ensaios. As medições estão relacionadas à massa das peles; ao volume do banho de cada etapa do processo; aos valores de pH; verificações de difusão dos produtos no interior das peles e sua fixação no colágeno.Os ensaios auxiliam na avaliação qualitativa durante e após o processamento das peles e couros (JACINTO, 1996; 2000).

5. Mercado de Peles e Couros Ovinos e Caprinos

O Brasil apresentou um superávit na balança comercial com as exportações de couros ovinos e caprinos nos anos de 1992, 1993, 1996, 1998 e 1999 (Figura 3). Porém, considerando somente couros caprinos, com exceção de 1996, as importações foram as responsáveis pelo déficit na balança comercial brasileira para esse segmento de mercado (COUTO, 2001). Fica evidente, através dos dados, que tanto a indústria de curtimento quanto a de calçados, demandaram, respectivamente, um volume de peles e couros maior do que é disponibilizado anualmente pela cadeia produtiva. Essa realidade aponta

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para a necessidade de apoio governamental visando o fortalecimento dos integrantes da cadeia com o objetivo de expandir o efetivo e possibilitar maior desfrute, conseqüentemente aumentando a oferta de peles caprinas.

Tabela 7: Relação dos produtos químicos por etapa do processo de curtimento1 Etapa do

Processo Produto químico Quantidade

2 Fabricante Finalidade Remolho Aracit RM“ Carbonato sódio Dermozin K“ Lipol T3“ Pellvit CS“ Pelzym S“ 0,05 0,3 0,5 0,1 0,4 0,2 TFL Tancrom Biodermol Biodermol TFL Iquímia Bactericida Elevar pH Enzima Desengraxante/enz. Tensoativo Enzima Caleiro Cal Borron PU-LA“ Erhavit 2000“ Sulfeto de sódio 3,5 0,1 0,6 1,6 Tancrom TFL TFL Tancrom Alcalinidade Tensoativo Auxiliar caleiro Depilante Desencalagem Biodecal CO“ Rohapon BP“ Borron PU-LA“ Borron T“ Sulfato de amônio 1,0 0,5 0,2 0,15 1,0 Biodermol TFL TFL TFL Tancrom Desencalante Enzima Tensoativo Tensoativo Desencalante Purga Biodermasi ES“ Lipose EF“ Rohapon BRS-LA“ 0,06 0,06 0,1 Biodermol Iquímia TFL Enzima Enzima Enzima Desengraxe Lipol T1“ Borron T“ 0,1 0,15 Biodermol TFL Tensoativo Tensoativo

Píquel Ácido sulfúrico

Ácido fórmico Sal (NaCl) 0,8 0,8 8,0 Tancrom Tancrom Tancrom Acidificar colágeno Acidificar colágeno Bloquear inchamento

Curtimento Cromosal B“ 10,0 Bayer Curtimento

Basificação Bicarbonato sódio 2,5 Tancrom Fixar cromo Neutralização Bicarbonato sódio

Bicarbonato amônio Formiato sódio 1,0 1,5 2,5 Tancrom Tancrom Tancrom Elevar pH Elevar pH Elevar pH Recurtimento Lubritan WP“ Relugan GTW“3 16,0 2,5 H & Haas BASF Recurtimento Recurtimento

1 A menção de produtos comerciais pelo autor não supõe recomendação frente a outros similares

existentes.

2 Percentagem em relação à massa das peles. 3Produto à base de glutaraldeído.

“

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0% 10% 20% 30% 40% 50% 60% 70% 80% 90% 100% 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 Balança Comercial de Couros Ovinos e

Caprinos (Milhões US$)

Import Caprinos Import Ovinos Export Caprinos Export Ovinos

Fonte: MDIC, 2001

Figura 3. Balança comercial de couros ovinos e caprinos

O mercado importador mundial classifica as peles caprinas em quatro categorias (A, B, C e D), baseadas em tamanho, peso e tipo de fibra (pêlo), e estabelece o uso para cada categoria (HOLST, 1990). Na categoria A, as peles devem ser pequenas, finas, leves com pêlos curtos e finos, provenientes de caprinos jovens. As peles desta categoria são de especial interesse e apresentam alto valor, decorrente da aparência estética do produto acabado, associado à aparência do grão, resultante do padrão criado pela disposição dos folículos pilosos na superfície do couro. A “boa aparência” está relacionada com a alta densidade de folículos primários de diâmetros uniformes ( 60 Pm), produtores de finas fibras meduladas. Esta aparência decresce com o aumento da idade, pois o número de folículos primários em caprinos é fixo desde o nascimento e, com o crescimento do animal, ocorre o aumento proporcional de área da pele, diminuindo, conseqüentemente, a densidade folicular.

Ocorrências semelhantes foram verificadas por Jacinto (2000), em estudo com caprinos machos da raça Saanen, Anglo Nubiana e Alpina, no qual a aparência do grão (folículos pilosos) do couro de animais com noventa dias de idade é mais valorizada pelo mercado, comparado com animais apresentando o dobro dessa idade.

Outra exigência comercial é a maciez que, para alguns nichos de mercado, é componente de qualidade, fator decisivo na relação estável entre fornecedor e comprador. O couro caprino pode apresentar elevada maciez, dependendo do tipo de processamento empregado. Dal Monte (2004) trabalhando com couros de caprinos da raça Saanen, abatidos com 20 e 30 quilos de peso vivo, curtidos com cromo e recurtidos com glutaraldeído e resina acrílica, encontrou índice de maciez acima do valor referência (5,0), quando analisados com softímetro ST 300, através da metodologia estabelecida na norma IUP36. Os couros mais macios foram de animais de 20 kg, recurtidos com resina acrílica.

Segundo Bezerra (2001), os curtumes nordestinos compram pele salgada seca, sem defeito (furos, riscos, ferimentos abertos e mal conservadas) de caprino por aproximadamente R$ 8,00 (US$ 2,66) e de ovino por R$ 11,00 (US$ 3,66).

As peles caprinas são adquiridas pelos curtumes por unidade, curtidas com base na massa e vendidas por área. As peles pequenas apresentam 40 a 60 dm2 e são mais valorizadas, acima de 60 dm2, são consideradas grandes (Tabela 8).

As peles ovinas são consideradas pequenas até 50 dm2 e grandes, acima desse valor. Os couros pequenos são mais valorizados (Tabela 9).

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Tabela 8. Preço médio do couro caprino, segundo o artigo, a classificação e o tamanho

Preço médio (R$)1 dos artigos (m2) Pelica lustrada Pelica

pigmentada

Pelica Guanabara Classificação

Pequena Grande Tam. único

Pequena Grande Camurça

Pelica forro

Única 73,68 63,16 65,26 56,84 52,63 67,37 31,58

Econômica 58,94 50,53 52,21 45,47 42,10 53,90 25,26

FONTE: JACINTO (2003), atualizada para maio de 2004 com dados do Curtume Campelo.

1 US$ = R$ 3,12

Tabela 9. Preço médio do couro ovino, segundo o artigo, a classificação e o tamanho

Preço médio (R$)1 dos artigos (m2)

Mestiço (Napa Guanabara) Mestiço vegetalizado Classificação

Pequena Grande Tamanho único

Única 61,05 58,95 71,51

Econômica 48,84 47,16 57,26 FONTE: Curtume Campelo, maio de 2004.

1 US$ = R$ 3,12

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Referências

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