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no bairro: o bairro como espaço de lazer e promoção do património

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Academic year: 2021

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no bairro: o bairro como espaço de lazer e promoção do

património

Filipa Ramalhete

(a) (b)

, Ricardo Nogueira Mendes

(b)

, Teresa Santos

(b)

, Luís Marques

(b, c)

(a) CEACT/UAL Centro de Estudos de Arquitetura, Cidade e Território da Universidade Autónoma de Lisboa (UAL-Portugal)

framalhete@netcabo.pt

(b) e-Geo - Centro de Estudos de Geografia e Planeamento Regional (FCSH-UNL, Portugal)

rnmendes@fcsh.unl.pt; teresasantos@fcsh.unl.pt

(c) CPSV - Centre de Política de Sòl i Valoracions (ETSAB-UPC, España) lmes2006@gmail.com

Resumo

O projeto Bairros em Lisboa investigou seis casos de estudo, tendo como resultado o estabelecimento de limites consensuais do bairro para os seus residentes. Os resultados do estudo salientam a importância dos bairros como espaço de consumo e lazer de proximidade. Propõe-se, neste artigo analisar os resultados do projeto à luz dos dados recolhidos numa investigação que demonstra a existência de uma relação entre os espaços turísticos e recreativos da cidade e a atividade de . A análise é complementada com o cruzamento de dados provenientes do Inventário do Património Arquitetónico de Lisboa (SIPA/IHRU, 2014). Esta abordagem tem dois objetivos: compreender até que ponto a imagem do bairro e o património nele existente são relevantes no contexto de práticas de lazer como o ; e criar a base para futuros projetos de investigação multidisciplinares que contribuam para uma geografia urbana que contextualize escalas de atuação locais e globais.

Palavras chave: bairro, património, , práticas de lazer, Lisboa

1. Introdução

A cidade de Lisboa é constituída por realidades urbanas diferenciadas e diferenciadoras, complexas e heterogéneas, em termos urbanísticos, sociais e culturais, onde o conceito de Bairro é uma das referências constantes, enquanto realidade histórica (França, 1997; Silva, 1994), arquitetónica (Costa, 2002; Nunes, 2007) e social (Cordeiro, 1997; Costa, 2008; Gato, 2014; Mendes, Padilha, 2014), presente no discurso corrente, na literatura científica, nas várias estratégias e nas políticas de ordenamento (Câmara Municipal de Lisboa 1992, 2005 e 2009) e na promoção turística (Menezes, 2014).

urbana heterogénea, surgem homogeneidades diferenciadoras, às quais estão subjacentes realidades urbanísticas, mas também representações espaciais das várias comunidades residentes, num contexto em que o Bairro não corresponde aos limites administrativos vigentes. O projeto Bairros em Lisboa investigou esta temática em seis casos de estudo da cidade, tendo como resultado o estabelecimento de uma proposta de limites de bairro. Os resultados do estudo salientam a importância da presença de elementos arquitetónicos e patrimoniais para esses limites, assim como dos Bairros como espaço de consumo e lazer de proximidade (Gato, 2014; Marques, Machado, 2014; Ramalhete, Neves, 2014). Propõe-se analisar os resultados deste projeto à luz dos dados recolhidos num trabalho de investigação que demonstra a existência de uma relação entre os espaços turísticos e

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recreativos da cidade e a atividade de (Nogueira Mendes , 2013a). Esta atividade agrega, numa

m cerca de 2,5 milhões de - tesouros para serem encontrados), sendo assinalável o seu

crescimento nos últimos cinco anos (Nogueira Mendes , 2013a, 2013b). De forma a avaliar a relação entre

e o património existente nos bairros, também ele potencialmente relacionado com a atividade turística, a análise é complementada com o cruzamento de dados oriundos de uma extração do Inventário do Património Arquitetónico (protegido e não protegido) (SIPA/IHRU, 2014).

Esta abordagem tem, assim, dois objetivos: compreender até que ponto a imagem do bairro enquanto categoria

socio-espacial urbana e o património nele existente é relevante no contexto de práticas de lazer como o G ;

criar a base para futuros projetos de investigação multidisciplinares que contribuam para uma geografia urbana que contextualize escalas de atuação locais e globais.

2. Bairros em Lisboa

O projeto Bairros em Lisboa desenvolveu-se entre 2010 e 2013, sob coordenação do CEACT/UAL, em parceria com o e-GEO/UNL e o SIPA/IHRU e compreendeu três fases: levantamento histórico, urbanístico e tipológico dos bairros de Lisboa e do estado da arte sobre a génese e evolução do conceito de bairro; seis casos de estudo, incluindo levantamento arquitetónico, realização de entrevistas e inquéritos a residentes e a não-residentes; e tratamento dos dados e divulgação dos resultados. Os casos de estudo identificados, um de cada tipologia definida (bairros sem e com plano na sua origem), foram Graça, Campo de Ourique (dois bairros histórico anteriores ao século XX), Ajuda, Alvalade, (bairros construídos sobretudo durante o século XX) e Galinheiras e Telheiras (ambos construídos após o 25 de abril de 1974). Para cada um foram realizados 100 inquéritos a residentes.

Os inquéritos incluíram 1) a identificação do centro do bairro e, 2) a sua delimitação através do desenho num mapa. Estas foram as questões fundamentais para o desenvolvimento da cartografia tratada com recurso a Sistemas de Informação Geográfica (SIG). As delimitações obtidas foram digitalizadas, vetorizadas, sobrepostas e integradas num SIG, possibilitando o tratamento dos dados em cinco classes (percentagem) de grau de intersecção, com intervalos de variação de 20%, representando a classe 80-100% a área espacial que mais consenso reúne para a delimitação do bairro. Para efeitos de análise, foi considerado o limite do bairro estabelecido pela classe 40-60%, agregando a representação espacial de, pelo menos, 40% dos seus residentes.

3.

na cidade de Lisboa

Apesar do ser considerada consensualmente como uma atividade de ar livre, a sua expressão a nível

nacional é maior dentro da cidade de Lisboa, contribuindo para este sucesso não só a existência de um maior número de praticantes residentes, mas também um elevado número de turistas e visitantes não nacionais. O

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objectivo do desta atividade recreativa é encontrar as escondidas, com recurso a recetores de GPS, e

registar ( ) cada encontro ( ) na página web oficial (

www.geocaching.com

) partilhando com a restante

comunidade todas as emoções e aventuras e fotos associadas a cada descoberta.

Em Junho de 2014, encontravam-se na cidade de Lisboa 3,8% do total nacional (~34000) de . No entanto,

estas possuem 8,5% dos registos de atividade total ( ) nacional, confirmando o peso que os territórios

metropolitanos têm nesta atividade.

Tal como outras atividades com forte caráter social, também no está sujeito a grandes mudanças, i.e.

muito populares num dia podem estar arquivadas no dia seguinte, tornando a sua monitorização num

desafio, ainda que possam ser utilizados indicadores como do sucesso de uma . O tamanho médio

dos , o número de , ou de fotos associadas a cada e o somatório destes dados para o número

total de podem ajudar a entender este fenómeno e a compreender a razão pela qual as mais

procuradas em Lisboa se encontram nos principais destinos turísticos da cidade (Nogueira Mendes ., 2013a,

2013b).

4. Análise de dados

Face às conclusões dos trabalhos anteriores pretendeu-se verificar se a representatividade informal da cidade, em

que a localização das privilegia espaços com algumas características específicas como locais de interesse

turístico e paisagístico, se evidencia também nos seis bairros estudados.

Do cruzamento do total de caches da cidade de Lisboa com os limites dos seis bairros estudados (Figura 1),

resultaram 82 (6,3% do total da cidade) não se verificando uma relação direta entre a existência de

e a sua localização num bairro, dado que não se encontram referências relevantes nem na descrição nem nos comentários dos visitantes ao facto de esta se localizar num determinado bairro.

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Figura 1 Localização das e elementos de património inventariado nos Bairros de Lisboa.

A análise por bairro permite, contudo, observar aspetos diferenciadores e levanta questões que remetem para a

natureza dos vários bairros (ainda que não explicitamente). Alvalade é o bairro com mais e também aquele

que regista mais (em número absoluto e por ), quase o dobro do bairro que se segue, a Ajuda. São,

contudo, de natureza distinta dado que em Alvalade predominam as de acesso fácil, potenciadas pelas

características urbanísticas do bairro, em locais sem características diferenciadoras (quartel dos bombeiros, parque infantil, parque de jogos) enquanto na Ajuda, bairro onde a história e o património são relevantes para o

conceito de bairro, as lor

turístico, cénico e patrimonial (Palácio Nacional, Jardim Botânico, miradouro), existindo mais fotografias

associadas às do que em Alvalade (o número de fotos parece estar relacionado com o valor paisagístico

do local, mais do que com a ).

Tabela 1 Caracterização das localizadas nos Bairros

Bairro Total Fotos mais visitada (n.º , dimensão média dos ,

número de fotos)

Graça 11 4149 595 Senhora do Monte (997, 213, 221)

C. Ourique 16 4329 840 Igreja Santo Condestável (1153, 105, 155)

Ajuda 18 5360 861 Real Barraca (861, 180, 150)

Alvalade 23 10363 810 100 Anos de República (1244, 147, 89)

Galinheiras 1 10 1 Largo das Galinheiras (10, 302, 1)

Telheiras 13 2639 304 Porta do Céu (488, 303, 111)

A relação com os elementos de património mostra alguma coincidência entre os elementos de património

existentes nos bairros e a localização de . Na realidade, verifica-se que em espaços como o

miradouro da Senhora do Monte (Graça), o Palácio da Ajuda (Real Barraca) ou a Igreja do S.to Condestável (a segunda mais visitada, em Campo de Ourique) ocupam o lugar cimeiro nos bairros históricos. São também as

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que possuem o maior número de fotos, denotando um interesse dos por este tipo de locais. Também

em Telheiras, embora com um número de bastante inferior, o espaço mais escolhido se localiza num elemento

patrimonial, o antigo convento de N. Sr.ª das Portas do Céu.

Todos os bairros, embora tipologicamente distintos, possuem mais de uma dezena de , parecendo haver

uma preferência por Alvalade e pelos bairros históricos. Telheiras, um bairro planeado dos anos 70 do século XX,

predominantemente residencial e de fácil acesso, embora menos visitado, possui 13 . Galinheiras constitui

um exemplo distinto. Bairro de origem espontânea, numa área periférica da cidade, possuiu apenas uma ,

já desativada, que parece não ter captado o interesse dos praticantes.

5. Conclusão

Este artigo constitui uma abordagem preliminar, que analisa informação proveniente de vários estudos multidisciplinares. Apresentam-se, de seguida algumas conclusões e pistas para investigações futuras:

- os bairros de Lisboa, mesmo os de cariz mais residencial e menos turístico, mas com uma espacialização associada a uma vivência de bairro reconhecida, possuem algum poder de atração para os praticantes do

, desenhando novas geografias urbanas, sobreponíveis às existentes;

- existe uma relação inegável entre o património de valor arquitetónico, a história e evolução urbana, a morfologia

urbana, a vivência do bairro e a localização preferencial de ;

- estes dados permitem-nos colocar a hipótese da existência de novas práticas sociais de lazer (neste caso urbano), assentes em usos da cidade e do seu espaço público distintos das tradicionais;

- um aprofundamento desta análise poderá contribuir para uma melhor identificação e compreensão dos principais espaços de convivência, comércio, lazer, espaços canais, elementos marcantes e diferenciadores do bairro (morfologia e evolução urbana, fronteiras, dimensão, caracterização social e outros);

- por fim, esta análise demonstra a importância da crescente disponibilidade de dados geográficos

voluntários, acessíveis e facilmente analisados em contexto SIG, que permitem novas análises urbanas multi-fatores, relevantes para futuras abordagens ao território, nomeadamente para o estudo dos usos e percepções do ambiente, neste caso em contexto urbano.

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Referências

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