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O PATRIARCADO E A CONSTITUIÇÃO FAMILIAR: UM PANORAMA SOBRE AS DESIGUALDADES DE GÊNERO

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O PATRIARCADO E A CONSTITUIÇÃO FAMILIAR: UM PANORAMA

SOBRE AS DESIGUALDADES DE GÊNERO

Vânia Olímpia Barbosa Silva

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Social – PPGDS

olimpia.vania@gmail.com

Ana Caroline Pimenta Costa Camisasca

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Social – PPGDS

caca-pimenta@hotmail.com

Elton Dias Xavier

Universidade Estadual de Montes Claros – UNIMONTES Programa de Pós Graduação em Desenvolvimento Social – PPGDS

eltondx@hotmail.com

RESUMO

As desigualdades de gênero, em suas diferentes formas de existência, ainda são uma realidade do Brasil contemporâneo. Dentre as várias vertentes em que são produzidas essas desigualdades, o presente artigo analisará como o patriarcado marcou a constituição das famílias, estabelecendo papéis que afi rmam as diferenças entre os gêneros nos espaços familiares. Para realização do presente trabalho, a metodologia utilizada será a revisão bibliográfi ca buscando compreender como o processo de produção e permanência da conjuntura de exclusão e subordinação foi infl uenciado pelo modelo patriarcal. Anterior ao patriarcalismo, as primeiras sociedades huma-nas eram coletivistas, nômades e matrilineares. A constituição do modelo patriarcal teve início pela infl uência de transformações econômicas e sociais ocorridas na antiga sociedade de caça e coleta. Essa transição rompeu com a harmonia que havia entre homens e mulheres produzindo relações de dominação e controle do sexo masculino sobre o sexo feminino. Desde então, o corpo e a sexualidade das mulheres passaram a ser controlados, instituindo-se a divisão sexual e social do trabalho entre homens e mulheres. O papel prescrito aos homens na família fi cou relacionado aos aspectos econômicos, já o das mulheres fi cou relacionado ao de cuidadoras do lar, sendo colocada em um lugar desvalorizado, de baixa condição, reduzida a um meio de re-produção sexual e de desejo a serviço dos homens. Apesar de alguns teóricos concordarem que a relação entre mulheres e homens tem se modifi cado, a herança que o modelo patriarcal deixou ainda é determinante para compreender as condições concretas que ainda estão submetidas as mulheres.

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A família, tal qual a concebemos hoje, não é uma instituição natural formada

exclusivamente por concepções biológicas. Ao contrário de ser algo dado, a família é compreendida como o produto histórico de diversas formas de organização entre os humanos, que pelas necessidades materiais de sobrevivência e de reprodução da espécie, inventaram diferentes formas de se relacionarem com a natureza e entre si. Dentre essas diversas formas de organização, encontramos a família patriarcal (NARVAZ e KOLLER, 2006).

Anterior à essa organização patriarcal, no início da história da humanidade, as primeiras sociedades humanas eram coletivistas, tribais, nômades e matrilineares. Os agrupamentos sociais eram matrifocais e matrilocais centrados na fi gura e na descendência feminina. As relações sexuais eram casuais e poligâmicas, inexistindo violência entre machos e fêmeas. Não havia uma divisão rígida de papéis sexuais ou sociais entre homens e mulheres, que se relacionavam de maneira recíproca desenvolvendo atividades semelhantes. Todos os membros eram simultaneamente responsáveis pela coleta de frutas e de raízes, alimentos dos quais sobreviviam, bem como pelo cuidado das crianças do grupo (NARVAZ, 2005).

A constituição do modelo patriarcal iniciou-se pela infl uência de transformações econômicas e sociais que ocorreram na antiga sociedade de caça e coleta. Com as crescentes atividades de cultivo e criação de animais, passou a ser necessário um número cada vez maior de fi lhos para servirem de força de trabalho, possibilitando uma maior exploração da terra e, consequente, um maior acúmulo de capital. Esse processo rompeu a harmonia que havia entre homens e mulheres produzindo relações de dominação e controle do sexo masculino sobre o sexo feminino (GAVILANES e AGUIAR, 2010).

Compartilhando da mesma teoria, Safi otti (2004) entende que a acumulação de excedentes e de capital nas mãos masculinas estabeleceu uma relação de controle dos homens sobre as mulheres. Em virtude de uma necessidade maior de fi lhos para servirem de mão de obra, foi dado um valor privilegiado à reprodução. Porém, até mesmo a reprodução foi associada a uma dimensão masculina, pois considerava-se que era a partir de seu sêmen que a vida era concebida, privilegiando o seu papel na reprodução humana.

A geração e acumulação dos excedentes econômicos nos primeiros estágios da vida social e a instituição da propriedade privada impôs uma reorganização de relações que estabeleceu o controle dos homens sobre as mulheres. Essa transição marca, assim, o início do patriarcado, uma nova ordem social baseada na descendência patrilinear e na relação de controle sexual.

Da mesma forma, Engels (1987) entende o patriarcado como uma forma de organização social e econômica, associada aos processos de dominação masculina e subordinação feminina resultante destas transformações que resultaram no “desmoronamento do direito materno”. Para

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o autor, esta foi “a grande derrota histórica do sexo feminino em todo o mundo” (ENGELS,

1987, p. 61).

A partir de então, “o homem apoderou-se também da direção da casa; a mulher viu-se degradada, convertida em servidora, em escrava da luxúria do homem, em simples instrumento de reprodução” (ENGELS, 1987, p. 61). Essa baixa condição em que a mulher foi colocada tem sido paulatinamente retocada, acobertada e, em certos lugares, até revestida de formas de maior suavidade, mas de maneira alguma foi suprimida.

Para Saffi oti (2004) o sistema patriarcal é um caso específi co das relações de gênero. Esta ordem de gênero produz relações desiguais e hierárquicas, levando à opressão feminina pela dominação e exploração das mulheres pelos homens. Para a autora, o patriarcado é uma relação que se faz presente em todos os espaços sociais, concedendo direitos sexuais aos homens sobre as mulheres.

Outra razão que motivou o surgimento da família patriarcal foram as regras existentes para a vocação hereditária. Com o acúmulo de capital e o aumento do proveito econômico, os homens modifi caram a ordem da herança em proveito de seus fi lhos, transformando o direito hereditário materno, vigente até então, em paterno. Para tanto, foi necessário abandonar as relações coletivas e adotar relações monogâmica pois, assim, seria conferido aos homens o acesso exclusivo às suas mulheres e a garantia da paternidade de seus herdeiros. Assim, a monogamia

(...) de modo algum foi fruto do amor sexual individual, com o qual nada tinha em comum (...) Foi a primeira forma de família que não se baseava em condições naturais, mas econômicas, e concretamente no triunfo da propriedade privada sobre a propriedade comum primitiva, originada espontaneamente (ENGELS, 1987, p. 70).

Essa imposição impôs a superioridade do homem na família, se justifi cando como necessária para assegurar a procriação e para garantir a paternidade dos fi lhos e que somente herdeiros legítimos herdassem seus bens. Neste modelo familiar, somente o homem tinha o direito à infi delidade conjugal e os laços matrimoniais poderiam ser rompidos apenas por eles, que tinham o direito de repudiar sua mulher se assim desejassem (ENGELS, 1987). Assim, a monogamia adota um caráter específi co, sendo destinada apenas às mulheres que eram tidas somente como reprodutora de fi lhos legítimos.

Desde então, o corpo e a sexualidade das mulheres passaram a ser controlados, instituindo-se a divisão sexual e social do trabalho entre homens e mulheres. Neste sentido:

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A monogamia não aparece na história, portanto, absolutamente,

como uma reconciliação entre o homem e a mulher e, menos ainda, como a forma mais elevada de matrimônio. Pelo contrário, ela surge sob a forma de escravização de um sexo pelo outro, como proclamação de um confl ito entre os sexos, ignorado, até então, na pré-história (ENGELS, 1987, p. 70).

Em suas mãos, o patriarca tinha o poder sob sua mulher, seus fi lhos, seus escravos e vassalos, além do direito de vida e de morte sobre todos eles. Sua autoridade sobre os fi lhos prevalecia até mesmo sobre a autoridade do Estado e duraria até a morte do patriarca, que poderia, inclusive, transformar seu fi lho em escravo e vendê-lo se assim o quisesse (NARVAZ e KOLLER, 2006).

Apesar de ter sido um grande progresso histórico, a monogamia trouxe simultaneamente um retrocesso relativo em que o bem estar e o desenvolvimento de uns foram alcançados às custas da dor e da repressão da mulher. Neste contexto observa-se que o primeiro antagonismo de classes “que apareceu na história coincide com o desenvolvimento do antagonismo entre o homem e a mulher na monogamia; e a primeira opressão de classes, com a opressão do sexo feminino pelo masculino” (ENGELS, 1987, p. 70,71).

As antigas formas de gestão doméstica pelas mulheres foram, assim, substituídas pelo controle dos homens. Com isso, as formas valorativas femininas passo a passo foram sendo supridas pelas formas valorativas masculinas. A mulher foi colocada em um lugar desvalorizado, de baixa condição, sendo reduzida a um meio de reprodução sexual e de desejo a serviço dos homens (GAVILANES e AGUIAR, 2010).

Assim, a família patriarcal e a monogamia trouxeram muitas mudanças. O governo do lar perdeu seu caráter social e se transformou em serviço privado sendo a mulher convertida em criada, sem mais tomar parte na produção social. Somente com a chegada posterior das grandes indústrias a produção social esteve novamente ao alcance das mulheres. Porém, nada era tão fácil. Se a mulher cumprisse com os deveres no serviço privado da família ela seria excluída do trabalho social e não ganharia nada. Lado outro, se ela tomasse parte na indústria social e ganhasse sua vida de maneira independente, lhe seria impossível cumprir com as obrigações domésticas. Assim a família individual moderna era baseada “na escravidão doméstica, franca ou dissimulada, da mulher, e a sociedade moderna é uma massa cujas moléculas são as famílias individuais” (ENGELS, 1987, p. 80).

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são reproduções das contradições expressas na sociedade e no Estado. Sendo o patriarcado uma

forma de dominação masculina, tanto social, quanto econômica e política, sua abolição somente seria possível quando fossem garantidos os mesmos direitos aos homens e às mulheres, ou seja, somente quando houvesse uma transformação nas relações de produção capitalista (ENGELS, 1987).

Divergindo deste pensamento, Weber (1991) aponta que o poder patriarcal tem como características principais a normatividade e a tradição, ou seja, as normas são estabelecidas conforme a sujeição pessoal e a crenças estabelecidas em uma sociedade. Assim, a sujeição das mulheres ao patriarca seria baseada na crença da superioridade física e psíquica do homem, conferindo a essa relação de subordinação uma dependência atribuída a causas naturais.

Desta forma, a dominação patriarcal se apresenta como uma forma estrutural consequente de uma autoridade baseada na santidade da tradição. Para o autor:

No caso da autoridade doméstica, antiqüíssimas situações naturalmente sur-gidas são a fonte da crença na autoridade, baseada em piedade; para todos os submetidos da comunidade doméstica, a convivência especifi camente íntima, pessoal e duradoura no mesmo lar, com sua comunidade de destino externa e interna; para a mulher submetida à autoridade doméstica, a superioridade normal da energia física e psíquica do homem; para a criança, sua necessidade objetiva de apoio; para o fi lho adulto, o hábito, a infl uência persistente da edu-cação e lembranças arraigadas da juventude; para o servo, a falta de proteção fora da esfera de poder de seu amo, a cuja autoridade os fatos da vida lhe ensi-naram submeter-se desde pequeno (WEBER, 1991, p. 234).

Uma crítica ao pensamento Weberiano é a de que este modelo seria limitado se utilizado para analisar outros contextos, como é o caso das sociedades contemporâneas em que o poder público é organizado independentemente do Estado.

Ao analisar o patriarcalismo, Castells (1999) vai identifi cá-lo como uma das estruturas sobre as quais se assentam sociedades contemporâneas caracterizando-o como imposição institucional de autoridade do homem sobre a mulher e, também, sobre os fi lhos no âmbito familiar. Para o exercício dessa autoridade o patriarcalismo penetra em toda organização da sociedade, marcando, a partir daí a dominação dos relacionamentos interpessoais e, consequentemente, da personalidade de seus membros.

Como visto, o patriarcado não se refere apenas ao poder do pai, mas ao poder dos homens enquanto categoria social, sendo compreendido como

(...) uma forma de organização social na qual as relações são regidas por dois princípios básicos: 1) as mulheres estão hierarquicamente subordinadas aos homens e, 2) os jovens estão hierarquicamente

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subordinados aos homens mais velhos (NARVAZ e KOLLER, 2006).

Assim, os valores do patriarcado atribuíram um maior valor às atividades masculinas em face das atividades femininas, legitimando o controle da sexualidade, dos corpos e da autonomia feminina, estabelecendo papéis sexuais e sociais em que o masculino tem vantagens e prerrogativas (NARVAZ e KOLLER, 2006).

Em uma perspectiva diferente, Pateman (1993, citada por GAVILANES e AGUIAR, 2010) propõe a desconstrução do patriarcalismo enquanto forma de organização social característica do mundo antigo, ou seja, uma forma social reduzida apenas ao exercício do direito paterno. Para a autora, essa imagem cria uma confusão acerca da defi nição de patriarcado, contribuindo para a utilização de um conceito não apropriado para o estudo das relações sociais e contemporâneas. Assim, em sua visão o patriarcado deve ser entendido como:

O único conceito que se refere especifi camente à sujeição da mulher, e que singulariza da forma de direito político que todos os homens exercem pelo fato de serem homens. Se o problema não for nomeado, o patriarcado poderá muito bem ser habilmente jogado na obscuridade, por debaixo das categorias convencionais da análise política (PATEMAN, 1993, p. 39 citada por GAVILANES e AGUIAR, 2010).

Um instrumento que perpetuaria e reproduziria uma imagem patriarcal destorcida, é o contrato social. Ele é apresentado pelos teóricos contratualistas como um espaço de liberdade e igualdade, baseado em um acordo mútuo em que as pessoas, por serem livres, poderiam escolher celebrar ou não. As relações de autoridade do homem sobre a mulher seriam, então, substituídas por relações contratuais. Porém, esse contrato social seria, na verdade, um meio de organização do patriarcado moderno, pois ele não constituiria, de fato, um espaço igualitário entre homens e mulheres (GAVILANES e AGUIAR, 2010).

Pode-se perceber, então, que durante séculos o papel prescrito aos homens na família pelo patriarcalismo tem se relacionado aos aspectos econômicos e de provedor do lar, ao passo que o papel prescrito às mulheres tem se relacionado ao de cuidadoras dos maridos, dos fi lhos e do lar, devendo elas dedicarem-se integralmente a essas tarefas. Sobre essa percepção, Narvaz e Koller (2016) apontam que:

O papel da mãe ainda remete ao cuidado dos fi lhos, enquanto o papel do pai, além de prover o sustento, envolve questões de disciplina e de autoridade. A responsabilidade pelas tarefas domésticas

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e pelo cuidado dos fi lhos é predominantemente feminina, trabalho (re)

produtivo ocultado, negligenciado e desvalorizado pelo contexto social (NARVAZ e KOLLER, 2016).

Pelo exposto, as desigualdades constatadas com as mulheres são resultados de relações de poder que tem sido estabelecidas de forma desiguais ao longo da história, encontrando no componente cultural sua sustentação para produção e reprodução de diversas formas de discriminação.

Ao analisar a história da instituição familiar brasileira, denota-se que esta teve como ponto de partida o modelo patriarcal, importado pela colonização e adaptado às condições sociais do Brasil latifundiário e escravagista. Apesar da desintegração do patriarcado rural, a mentalidade patriarcal permaneceu na vida e na política brasileira através do coronelismo, do clientelismo e do protecionismo. No meio urbano, a gênese das atitudes autoritárias sobre a condição feminina também são entendidas em relação aos esquemas de dominação social do masculino sobre o feminino (NARVAZ e KOLLER, 2016).

Assim, analisar o patriarcado é fundamental para compreender as especifi cidades que caracterizam a dominação masculina sobre a população feminina nos diversos campos da vida social. Como visto, tratou-se de um processo histórico e social, cujas bases estão fundadas na exploração e na dominação masculina, que, com o tempo, gerou persistentes estruturas de desigualdade e hierarquia entre os gêneros. Um esquema de dominação e exploração que está imbricado em todos os âmbitos da sociedade, como nas leis, na linguagem, na educação e nas tradições, legitimando o poder do homem sobre a mulher. Ocultar esse processo de exploração e de dominação é fazer com que ele seja amplamente aceito por fazer parecer ser parte da natureza humana.

Ocorre que o cenário que o patriarcado instituiu não se perpetua de forma engessada na sociedade. De acordo com Weber (1999), alterações ocorrem a partir do momento que a empresa racional, representada pela fi gura masculina, se desliga cada vez mais da chamada “comunidade aquisitiva capitalista” no ambiente familiar. Esse seria, para o autor, o divisor de águas que possibilita o acesso das mulheres e fi lhos tanto aos direitos referentes à pessoa quanto aos bens.

Samara (2009, p. 83) aponta que “a discussão da família patriarcal e a decorrente visão da mulher submissa e reclusa, vistos como modelos válidos para a sociedade do passado,” era um estereotipo que representou a nossa sociedade por muitos anos. No entanto, a autora afi rma que mudanças tem ocorrido e que as mulheres, que antes viviam apenas na ociosidade ou confi nadas

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no ambiente doméstico, tem cedido lugar para a história de vidas de outras mulheres.

Neste sentido, surge uma questão que se refere à plasticidade e à resiliência do patriarcado. A relação de dominação dos homens sobre as mulheres é capaz de resistir às mudanças sociais que trazem novos modos de produção e impõe mais espaço e direitos às mulheres? Ou, ao contrário, o patriarcado é capaz de se transformar e assumir novas formas perpetuando conjunturas desiguais?

Analisando em específi co as desigualdades no ambiente familiar, as transformações sociais, econômicas e políticas modifi caram os papéis historicamente estabelecidos de homem como provedor do lar e da mulher como cuidadora do marido, fi lhos e lar ou esse quadro permanece inalterado?

Apesar de alguns teóricos concordarem que a relação entre mulheres e homens tem se modifi cado, parece haver um consenso que, apesar destas mudanças, o padrão de atribuição de vantagens ao público masculino tem sido mantido. Por estas transformações, ao analisar o ambiente familiar, o modelo do homem provedor, embora ainda esteja presente, precisa ser relativizado. A reorganização familiar e a posição das mulheres na família, na sociedade e na esfera pública também precisa ser repensada. A mão de obra feminina foi incorporada pelo mercado de trabalho e, embora ainda haja diferenças salariais e inúmeros contextos desiguais, o rendimento da mulher passou a representar parcela signifi cativa para o consumo e bem estar das famílias (MIGUEL, 2017).

Estas questões reforçam ainda mais a importância dos estudos de gêneros e das questões concernentes a este tema. As condições concretas que ainda estão submetidas as mulheres no mundo, e também no Brasil, parecem impedir qualquer relativização neste sentido, que possam alicerçar um diagnóstico e uma proposição de alternativas às desigualdades existentes.

Assim, com o declínio do patriarcado e o surgimento dos movimentos feministas, as mulheres encontraram um novo meio para expressar suas insatisfações e reivindicar direitos outrora tolhidos pela sociedade, impondo a adoção de um novo modelo para minimizar as desigualdades persistentes entre homens e mulheres.

REFERÊNCIAS

CASTELLS, Manuel. O poder da identidade. 1999. São Paulo, Paz e Terra.

ENGELS, Friedrich. 1987. A Origem da Família, da Propriedade Privada e do Estado. 9ª ed. Civilização Brasileira. Rio de Janeiro.

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MIGUEL, Luis Felipe. Voltando à discussão sobre capitalismo e patriarcado. Revista

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NARVAZ, Martha Giudice; KOLLER, Sílvia Helena. Famílias e patriarcado: da

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NARVAZ, Martha Giudice. Submissão e resistência: explodindo o discurso patriarcal da

dominação feminina. 2005. Programa de Pós-Graduação em Psicologia do

Desenvolvimen-to, Universidade Federal do Rio Grande do Sul, Porto Alegre.

GAVILANES, Hilda Alejandra e AGUIAR, Neuma. Patriarcado e Gênero na análise

so-ciológica do fenômeno da violência e do gênero. Em: SOUZA, Marcio Ferreira (org.).

De-sigualdades de Gênero no Brasil: novas ideias e práticas antigas. Editora Argvmentvm, 2010. Belo Horizonte/MG.

SAFFIOTI, Heleieth. Gênero, patriarcado e violência. São Paulo: Editora Fundação Perseu Abramo. 2015

SAMARA, Eni de Mesquita. Feminismo, Justiça Social e Cidadania na América Latina. Em: MELO, Hildete Pereira de; PISCITELLO, Adrianda; MALUF, Sônia Weidner; PUGA, Vera Lucia (orgs.). Olhares Feministas. 2009. Brasília/DF.

WEBER, Max. Economia e sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: São Paulo: Imprensa Ofi cial do Estado de São Paulo, 1999.

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