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DOR NO RECÉM-NASCIDO: REVISÃO SISTEMATIZADA DA LITERATURA

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Edmar Jorge Feijó Alexandra da Silva Martins Rosa Caroline Matias Nascimento de Araújo

Juliana Pereira Netto Rose Leite de Almeida Letícia Gomes Mendes

RESUMO: A dor no RN não foi preocupação da equipe de enfermagem durante

muito tempo, pois acreditavam que o neonato era incapaz de sentir dor, mas é certo que o desenvolvimento das vias anatômicas necessárias para a transmissão da dor surge a partir da 20 semanas de gestação e nos primeiros meses de vida.

Objetivos: objetivou-se identificar a produção científica de enfermagem

determinando a melhor evidência disponível para o cuidado do cliente/família.

Metodologia: Trata-se de uma pesquisa bibliográfica, que aconteceu em abril de

2012. Os artigos pesquisados foram publicados entre os anos de 2008 a 2013, no qual selecionamos um total de 15 artigos. Resultado: Os métodos mais utilizados pelos profissionais para o alívio da dor do RN foram o uso de analgésicos antiinflamatórios não-esteroidais, os opóides potentes, sedativos, os opiódes fracos e os anestésicos locais. E os tratamentos não farmacológicos de alívio da dor foram à mudança de decúbito, seguido de massagem local, sucção não nutritiva (chupeta ou dedo enluvado) e o banho de imersão. Conclusão: os enfermeiros avaliam a dor pela expressão facial e o choro. E utilizam analgésico antiinflamatório não-esteroidal, a mudança de decúbito, a massagem local e a sucção não nutritiva para alívio da dor. A dor é considerada na atualidade como quinto sinal vital, devendo a equipe de enfermagem monitorar e intervir imediatamente.

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INTRODUÇÃO

A dor é uma experiência sensitiva e emocional desagradável, associada a uma lesão tecidual real, potencial ou descrita nos termos dessa lesão. A dor é sempre subjetiva

O desenvolvimento das vias anatômicas necessárias para a transmissão da dor ocorre principalmente na vida fetal e nos primeiros meses de vida. A terminação nervosa nociceptiva cutânea do recém-nascido (RN), a partir de 20 semanas de gestação, por exemplo, é igual ou maior que um adulto (TEIXEIRA E OKADA, 2008).

Há evidências de que os neonatos possuem capacidade neurológica para perceber a dor, mesmo os neonatos pré-termo. Os recém-nascidos podem perceber a dor mais intensamente do que as crianças mais velhas e os adultos porque os mecanismos de controle inibitório são imaturos, limitando sua capacidade para modular a experiência dolorosa (SOUSA, 2008).

Entre os sistemas afetados pela dor estão o neuroendócrino e o cardiovascular. Quanto ao sistema neuroendócrino, observam-se alterações hormonais envolvendo a hipófise, adrenal e o pâncreas, gerando distúrbios no metabolismo das proteínas e dos carboidratos. Já no sistema cardiovascular observam-se arritmias, hipertensão arterial e taquicardia (SOUSA, 2008). A avaliação da dor no período neonatal baseia-se em modificações de parâmetros fisiológicos ou comportamentais, observados antes ou depois de um estímulo doloroso.

Fisiologicamente avaliam-se na prática clínica: frequência cardíaca, frequência respiratória, pressão arterial sistólica (Sousa, 2008). Tem sido também documentado aumento nas concentrações de catecolaminas, hormônio do crescimento, glucagon, cortisol, aldosterona e outros corticosteróides, bem como a supressão da secreção de insulina (OLIVEIRA et all, 2009).

Dentre os parâmetros comportamentais utilizados na avaliação estão: mudanças na expressão facial, estado de sono, choro e vigília, e os movimentos corporais associados aos parâmetros fisiológicos.

Os profissionais de saúde reconhecem que os recém-nascidos, principalmente os prematuros, estão expostos a múltiplos eventos estressantes ou dolorosos, incluindo excesso de luz, ruídos fortes e muitas manipulações. O que resulta em desorganização fisiológica e comportamental.

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Contudo, medidas para o alívio da dor não são frequentemente empregadas (Oliveira et al, 2009).Para que os profissionais de saúde de neonatologia possam atuar terapeuticamente diante de situações possivelmente dolorosas é necessário dispor de instrumentos que “decodifiquem” a linguagem da dor.

Dentre as escalas conhecidas, podemos citar Sistema de Codificação Facial Neonatal (Neonatal Facial Coding System – NFCS), válida e confiável para quantificar expressões faciais associados à dor.

Pode ser utilizada em recém-nascido pré-termo, de termo e até quatro meses de idade. Seus indicadores são: fronte saliente, fenda palpebral estreitada, sulco naso-labial aprofundado, boca aberta, boca estirada (horizontal ou vertical), língua tensa, protusão da língua, tremor de queixo. A NFCS é a escala mais difundida para uso clínico pela sua facilidade de uso (OLIVEIRA et all, 2009).

A Escala de avaliação da dor Neonatal (Neonatal Infant Pain Scale – NIPS), composta por cinco indicadores comportamentais e um fisiológico (expressão facial, choro, respiração, posição dos braços, posição das pernas e estado de consciência) pode ser utilizada em RN pré-termo e termo. A pontuação varia de zero a sete, definindo dor para valores maiores ou iguais a quatro (OLIVEIRA et all, 2009).

O escore para avaliação da dor pós-operatória do recém-nascido (Crying Requires O2 for saturation above 90% Increased vital Signs, Expression and Sleeplessness- CRIES) é utilizado para recém nascidos de termo e possui cinco indicadores: choro, saturação de oxigênio, frequência cardíaca, pressão sanguínea, expressão facial e sono. Esses indicadores devem ser aplicados a cada duas horas nas primeiras 24 horas após o procedimento doloroso e a cada quatro horas por pelo menos 48 horas. Quando o escore for superior ou igual a cinco, há que se administrar medicações para o alívio da dor (OLIVEIRA et all, 2009).

O Perfil de dor do pré-termo (Premature Infant Pain Profile- PIPP), utilizado para avaliar a dor em recém-nascidos pré-termo e de termo, possui sete parâmetros: idade gestacional, estado de alerta, frequência cardíaca, saturação de oxigênio, fronte saliente, olhos franzidos e sulco naso-labial. Um escore superior a 12 indica dor moderado a intensa (OLIVEIRA et all, 2009).

A Escala Objetiva de Dor HANNALLAH é prática e possibilita uma avaliação fidedigna através da linguagem corporal, mesmo sem verbalização. Uma pontuação maior ou igual a seis significa dor (MACIEL, 2008).

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Há ainda outras escalas para avaliação de dor em pediatria, como a Escala de Avaliação da Dor de Faces, que consiste de seis faces desenhadas, variando desde a face sorrindo, para “sem dor”, até a face chorosa, para a “piora da dor”. Para crianças até 3 anos de idade. Assim como a Escala Numérica, para crianças a partir de 5 anos, que consiste de uma linha crescente, em que a criança diz se sua dor tem valor igual a zero (nenhuma dor) até dez (dor insuportável) (MACIEL, 2008). Essas duas escalas não são específicas para uso no período neonatal, pois trata-se de escalas que dependem da verbalização da criança para correta aplicação.

Os procedimentos de alívio da dor aumentam a homeostase e estabilidade do RN e são essenciais para o cuidado e suporte aos neonatos imaturos, a fim de sobreviverem ao estresse (MACIEL, 2008). Quanto às intervenções para o alívio da dor em neonatos, existe um conjunto de procedimentos farmacológicos e não farmacológicos.

Entre os procedimentos não farmacológicos, podemos citar: sucção não nutritiva, mudanças de decúbito, suporte postural, diminuição de estimulações táteis, aleitamento materno precoce, glicose oral antes e após aplicação de um estímulo doloroso. Tais procedimentos têm sido utilizados para o manejo da dor durante procedimentos dolorosos para facilitar a organização e auto-regulação dos neonatos pré-termo (MACIEL, 2008).

No entanto sabemos que, ainda há muitas discussões e controvérsias sobre o método mais eficaz para o alívio da dor. De maneira geral, os profissionais de saúde expressam dificuldades em diagnosticar e lidar com a dor no recém-nascido devido à falhas nos conhecimentos básicos sobre a experiência dolorosa nos recém-nascidos.

Apesar de todos os avanços acerca da dor e dos recursos terapêuticos disponíveis, observa-se um distanciamento entre o conhecimento teórico e a prática na avaliação da dor na maioria dos serviços neonatais. Os profissionais de saúde não são preparados para aliviar a dor e o sofrimento do cliente e, sim para curar.

Assim, esse trabalho teve como objetivo identificar a produção científica de enfermagem determinando a melhor evidência disponível para o cuidado do cliente/família.

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METODOLOGIA

Trata-se de uma pesquisa bibliográfica computadorizada de natureza descritiva. Os artigos e textos utilizados foram publicados nos anos de 2008 a 2013; o recorte temporal foi escolhido devido ao grande desenvolvimento da Neonatologia nos últimos anos. A coleta de dados aconteceu entre 30 de abril a 21 de maio de 2013. Os dados foram obtidos por meio da pesquisa em textos divulgados por meios eletrônicos. Foram utilizadas as palavras-chave: enfermagem, dor e recém-nascido, nas seguintes bases de dados BVS, LILACS, MEDLINE e SCIELO, de forma individual e coletiva, ou seja, com cruzamento entre os descritores citados. Foram checados 30 artigos completos, publicados entre os anos de 2008 e 2013, referentes ao tema de estudo deste trabalho, Porém foram selecionados somente 15. As obras repetidas em bases de dados diferentes foram eliminadas, considerando-se seu primeiro registro. Como critério para seleção dos textos era necessário que os mesmos tivessem correlação com o objetivo proposto neste artigo, ou seja, tratassem de conceito e/ou manejo de dor em Neonatologia.

Primeiramente eram lidos os resumos dos artigos, selecionados os de maior pertinência. Depois era realizada uma segunda leitura para melhor interpretação, dando especial atenção aos resultados e conclusões. Assim, prosseguimos à interpretação dos textos, sendo eles lidos, analisados, organizados e classificados conforme as seguintes categorias: 1º Categoria: Dor em Neonatologia, 2º Categoria: Estratégias para o controle da dor no recém-nascido e 3º Categoria: O papel da equipe de enfermagem no controle da dor em Neonatologia. Posteriormente foram destacados os pontos de maior pertinência, isto é, os que atendiam ao objetivo proposto para a construção do contexto final.

RESULTADOS

A partir das referências obtidas, procedeu-se a leitura exploratória e seleção das obras, que possibilitou a organização das ideias por ordem de importância e a sintetização destas, que visou à fixação dos conceitos essenciais para a solução do problema da pesquisa.

Dos 15 artigos selecionados, oito artigos foram publicados em 2008, dois artigos foram publicados em 2009, dois artigos no ano de 2010, e um artigo nos

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anos 2011, em 2012 e em 2013. Porém a predominância de publicações antigas encontradas nos 30 artigos foi observada, evidenciando a necessidade de mais publicações atuais referentes ao assunto.

Pode-se observar que houve um considerável número de publicações no ano de 2008, porém, um declínio nos anos seguintes, justificando assim a necessidade de contínuas pesquisas sobre o assunto.

Os dados encontrados na tabela acima refletem um grande número de fontes de pesquisas como as revistas, sendo estas as mais procuradas pelos profissionais da saúde por conterem artigos científicos que fornecem embasamentos teórico-científicos para o aprimoramento e atuação profissionais, além de congressos, simpósios e dissertações, mostrando um crescente interesse envolvendo a avaliação da dor neonatal.

Contudo, pode-se notar um maior número de pesquisas, sobre a temática, concentradas no Jornal de Pediatria, principalmente pelo fato deste ser uma fonte específica relacionada às questões da saúde infantil, entretanto, as publicações nas revistas específicas de Enfermagem evidenciam um amplo envolvimento e busca pelo conhecimento relativo aos eventos que possam deflagrar a dor nos recém-nascidos criticamente doentes, enfatizando a necessidade de qualidade na assistência prestada por estes profissionais, devido ao fato dos mesmos possuírem a condição intransferível do dever de realizar o cuidado direto sem qualquer prejuízo a estes seres tão frágeis.

DISCUSSÃO

Destacamos algumas categorias referentes aos procedimentos fundamentais durante a avaliação e controle da dor, para melhor compreensão temática:

Dor em Neonatologia

Pelo fato de ser a dor uma sensação pessoal, torna-se impossível mensurar com exatidão a dor do outro. Nesse contexto, a dor dos indivíduos que não podem exprimi-la por meio de palavras torna-se um fenômeno ainda mais significativo (ANAND, 2008)

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Deste modo, o fato de os lactentes não verbalizarem a dor que sentem agravava a crença que se tinha até meados da década de 1970, de que os recém-nascidos não eram capazes de sentir dor (ANAND, 2008)

O que se acreditava era que as vias nervosas dos recém-nascidos não eram suficientemente mielinizadas para transmitir os impulsos dolorosos, não havendo função cortical suficientemente integrada para interpretar ou recordar as experiências dolorosas (CARBAJAL et all, 2008).

Contudo, os conhecimentos atuais revelam que no recém-nascido qualquer estímulo doloroso é gerado, interpretado e transmitido da mesma forma como nos indivíduos adultos, pois ele apresenta todos os componentes anatômicos, funcionais e neuroquímicos necessários à nocicepção. Sabe-se também hoje que a mielinização incompleta é compensada pelo distanciamento interneuronal e neuromuscular menor, o que aumenta a velocidade média de condução nervosa. (CARBAJAL et all, 2008).

A partir da sétima semana de gestação já se percebem receptores sensitivos cutâneos no feto e o sistema neurobiológico necessário à nocicepção encontra-se formado entre a 22ª e a 29ª semana de gestação (CASTRO et all, 2008). Assim, as estruturas periféricas e centrais necessárias à percepção da dor estão presentes e funcionais, mesmo nos pré-termos, já no nascimento, nos quais os sistemas neuroendócrinos do neonato estão suficientemente desenvolvidos para permitir a transmissão dos estímulos dolorosos (GAIVA E DIAS, 2008).

O desenvolvimento das vias de dor envolve o refinamento das conexões sensoriais com o sistema límbico e as áreas afetivas e associativas do córtex cerebral. As experiências dolorosas do RN podem determinar a arquitetura final do sistema de dor do adulto e provavelmente a variação individual das respostas à dor e a frequência dessas experiências pode levar à alteração na maturação desse sistema (GAIVA E DIAS, 2008).

A dor durante a hospitalização é frequente devido à gravidade da doença presente e os procedimentos necessários ao tratamento. A abordagem diagnóstica e terapêutica de um paciente gravemente enfermo é quase sempre invasiva e agressiva, principalmente nos setores de emergência e de terapia intensiva. Alguns autores revelam que, embora a comunidade médico-científica aceite atualmente que o recém-nascido é capaz de sentir dor e do grande avanço tecnológico e farmacológico em Neonatologia, observa-se de maneira geral a pouca utilização de

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medidas no controle da dor e do estresse no neonato hospitalizado; ou essas vêm sendo feitas de forma inapropriada, sendo que a permanência do recém-nascido em Unidades de Tratamento Intensivo Neonatal (UTIN) envolve a necessidade de vários procedimentos terapêuticos dolorosos (GAIVA E DIAS, 2008). Em uma UTIN, um recém-nascido pode ser submetido a vários procedimentos potencialmente dolorosos ao dia, entre os quais alguns estudos citam as punções venosas, arteriais e no calcanhar, intubação e ventilação mecânica, procedimentos cirúrgicos, drenagem de tórax, entre outros (GAIVA E DIAS, 2008).

Nesse sentido, este lapso entre o conhecimento científico e a conduta na prática clínica se deve provavelmente à dificuldade de avaliação e mensuração da dor, pois o fato de se lidar com pacientes pré-verbais, em diferentes fases de desenvolvimento cognitivo, e que expressam suas reações aos mais variados estímulos de forma similar, pode levar a grandes dúvidas na interpretação e avaliação das respostas à dor, prejudicando um atendimento adequado àquela criança. (GASPARDO et all, 2009).

Deste modo, nota-se que a dor e o estresse potencializam a instabilidade clínica do RN, evidenciando a necessidade de se adotar medidas que minimizem esses quadros. Exames laboratoriais e observações clínicas sugerem que a dor neonatal não controlada pode resultar em efeitos colaterais à saúde e no prognóstico do desenvolvimento da criança a longo prazo. Assim, a exposição à dor é um dos fatores mais prejudiciais do ambiente extra-uterino, que pode alterar o desenvolvimento neurológico em muitos aspectos (GASPARDO et all, 2009).

De acordo com a Academia Americana de Pediatria (AAP), a exposição à dor intensa ou prolongada pode aumentar a morbidade neonatal e lactentes que sentiram dor durante o período neonatal respondem de maneira diferente aos eventos dolorosos subsequentes. Tendo em vista essas consequências, iniciaram-se estudos que visasiniciaram-sem à melhora das estratégias de tratamento para prevenir e tratar a dor e o desconforto do RN (GASPARDO et all, 2009).

Hoje existem vários instrumentos para a avaliação da dor no neonato. Porém, o que se percebe é que os profissionais não os conhecem ou não os utilizam. Desta forma, o tratamento baseia-se em parâmetros individuais, sem haver uma padronização dos serviços. Com o intuito de atenuar a subjetividade das medidas comportamentais de dor e facilitar o seu uso clínico, surgiram as escalas de dor. Essas escalas atribuem pontos a determinados parâmetros comportamentais de dor,

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descritos da maneira mais objetiva possível, resultando em uma pontuação final que pode ajudar o clínico a decidir se há necessidade de intervenção analgésica (GASPARDO et all, 2009).

Os parâmetros utilizados para identificar a dor neonatal são os físicos e comportamentais (SHAH et all, 2012). As respostas fisiológicas dos RN são evidenciadas por alterações cardiorrespiratórias (aumento da frequência cardíaca e da pressão arterial e diminuição da saturação de oxigênio), sudorese palmar, ampliação da pressão intracraniana e por alterações hormonais (liberação de catecolaminas, cortisol, glucagon, glicemia, dentre outros) e metabólicas (aumento do lactato, piruvato, corpos cetônicos e alguns ácidos graxos). Essas medidas, embora objetivas, não são especificamente relacionadas à dor, pois podem ocorrer alterações similares após um estímulo nociceptivo, ou depois de um estímulo desagradável, mas não doloroso (GUINSBURG, 2009)

Assim, os parâmetros fisiológicos são úteis para avaliar a dor na prática clínica, mas não podem ser usados de forma isolada (Stevens B; Yamada J; Ohlsson A., 2013). Utiliza-se também a avaliação comportamental do neonato frente a um procedimento para constatar se há dor ou não. Este tipo de avaliação fundamenta-se na modificação de determinadas expressões comportamentais, principalmente a resposta motora, a mímica facial, e o choro (GUINSBURG, 2009).

Atribui-se importância crescente a essas medidas comportamentais, uma vez que elas parecem representar uma resposta mais específica ao processo álgico. Apesar disso, falham pela falta de objetividade do observador dos comportamentos mensurados, pois as respostas fisiológicas e comportamentais devem ser avaliadas em conjunto (GUINSBURG, 2009).

Respostas motoras mais evidentes nos RN frente a um estímulo doloroso são a rigidez do tórax e movimentos de flexão e extensão das extremidades. O que se questiona é que a movimentação corporal também pode ser obtida diante de outros estímulos que não sejam dolorosos. Embora os RN movimentem tronco e membros frente à dor, esta constatação deve ser associada a outros estímulos, não servindo de parâmetro único na avaliação do fenômeno doloroso (GUINSBURG, 2009).

O choro é também considerado na prática como uma medida comportamental de avaliação da dor. É um alerta e pode ou não estar associado à presença do processo álgico. Em caso de dor, o choro vai ter uma fase expiratória mais prolongada e uma duração aumentada. Contudo, em crianças intubadas, em

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processo de desmame ventilatório, ou fome e desconforto, aliados à falta de habilidade do profissional de saúde em distinguir o tipo de choro, podem dificultar sua avaliação.

As alterações da mímica facial têm sido uma das ferramentas mais utilizadas no estudo da dor do RN: fronte saliente, fenda palpebral estreitada, sulco naso-labial aprofundado, lábios entreabertos, boca estirada, tremor de queixo e língua tensa; 95-98% dos RN a termo apresentam pelo menos as três primeiras alterações citadas acima quando sentem dor, sendo que as mesmas alterações não são detectadas quando são submetidos a estímulos desagradáveis, porém não dolorosos (GUINSBURG, 2009).

Desta forma, a mímica facial parece ser um modo de linguagem da dor do RN mais facilmente entendida pelo adulto. Contudo, essas alterações não trazem informações a respeito da qualidade ou da intensidade do processo álgico. Portanto, é difícil utilizar apenas a movimentação da face na tomada de decisões para intervenções(GUALA ET AL, 2008).

Outros efeitos da dor podem incluir aumento do estado de vigília, irritabilidade, vômitos, perda do apetite, alteração na sucção, interrupções no padrão de sono e alterações na interação mãe-filho. Vários autores relatam a necessidade de intervenções para minimizar a dor e o estresse no paciente. Deste modo, abordagens farmacológicas e não-farmacológicas podem ser utilizadas e a maioria das revisões enfatiza o uso simultâneo de ambas(GUALA ET AL, 2008).

Estratégias para o controle da dor no recém-nascido

Atualmente inúmeras estratégias de controle da dor são estabelecidas, podendo ser divididas em dois grandes grupos: controle da dor por meio farmacológico e não farmacológico.

As intervenções não farmacológicas são estratégias que objetivam principalmente prevenir a intensificação do processo doloroso, a desorganização do neonato, o estresse e a agitação, minimizando as repercussões da dor. São eficientes na maioria das crianças, quando utilizadas individualmente nas dores de leve intensidade; porém deverão ser acrescidas as intervenções farmacológicas frente à dor moderada ou severa (PARRAS, 2010).

Algumas medidas podem favorecer o controle da dor, tais como a redução da luminosidade, do barulho e do manuseio do RN. Deve-se também concentrar as

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atividades com o neonato de modo a permitir períodos mais prolongados de sono, favorecendo a prevenção e o controle da dor.

Certos autores indicam a contenção do recém-nascido em um ninho improvisado, para promover a sua organização comportamental. O toque e o contato físico também são benéficos. O emprego da sucção não nutritiva por meio da chupeta ainda é questionável em unidades neonatais, devido a possíveis prejuízos odontológicos posteriores, porém alguns autores defendem seu uso, por afirmarem que a mesma inibe a hiperatividade e modula o desconforto, ajudando na organização neurológica e emocional do neonato após o fenômeno doloroso.

O uso da glicose por via oral no momento da realização da coleta sanguínea, da injeção subcutânea ou da imunização pode atenuar a expressão facial de dor e diminuir o tempo de choro, sendo esta uma medida muito utilizada na prática das UTI neonatais. Novos estudos, porém, ainda são necessários para que sua eficácia seja comprovada e sejam estabelecidas doses e concentrações ideais na sua administração (PARRAS, 2010).

Quando se pretende controlar a dor advinda de procedimentos dolorosos e invasivos que culminam em dor severa e intensa, opta-se por utilizar métodos farmacológicos, ou seja, drogas analgésicas que têm por finalidade interromper o fenômeno doloroso.

A utilização de agentes farmacológicos deve ser considerada em todos os RN portadores de doenças potencialmente dolorosas e RN submetidos a procedimentos invasivos, cirúrgicos ou não. Os fármacos mais utilizados são os não-opióides e os opióides. Os opióides abrangem, principalmente, os antiinflamatórios não-hormonais, que agem inibindo a cicloxigenase, diminuindo a síntese de prostaglandina e consequentemente o processo inflamatório. São recomendados para alívio temporário de dor mínima a moderada, desconforto e como antipirético (PARRAS, 2010).

Os analgésicos opióides atuam sobre o Sistema Nervoso Central (SNC), medula e receptores periféricos e, por meio de receptores opióides espalhados pelo SNC, inibem a transmissão do estímulo nociceptivo aos centros superiores de processamento, inibindo assim a aferência da dor na medula espinhal, ativando as vias descendentes inibitórias, produzindo diferentes combinações de efeitos desejáveis (neste caso o bloqueio da dor) e indesejáveis (depressão respiratória, sedação, hipotensão, bradicardia, rigidez muscular, convulsões, constipação e

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retenção urinária). Esta classe medicamentosa é necessária quando detectada a presença de dor moderada até intensa (PARRAS, 2010).

Combinação entre analgésicos opióides e não-opióides promovem o controle da dor no recém-nascido em dois níveis: sistema nervoso central e periférico, proporcionando analgesia aumentada sem potencializar os efeitos colaterais.

Diante disso, são necessárias intervenções farmacológicas, não-farmacológicas ou ambas associadas, a fim de se reduzir a dor neonatal, contribuindo para o suporte nos neonatos imaturos para que estes possam superar o estresse, diminuir a morbi-mortalidade e o tempo de internação.

O papel da equipe de enfermagem no controle da dor em Neonatologia

A equipe de enfermagem atua com uma modalidade de cuidados denominada “cuidados integrais”, ou seja, fica responsável pelo atendimento integral ao paciente em seu turno de trabalho. No que diz respeito ao controle da dor do recém-nascido em unidade de Neonatologia, a enfermagem trabalha diretamente com medidas não–farmacológicas, citadas anteriormente, e com a administração de fármacos prescritos (medidas farmacológicas). Importante referir que há serviços em que a prescrição de fármacos fica sob a responsabilidade do enfermeiro, mediante a existência de protocolos que conferem respaldo legal a este tipo de atividade.

O alívio da dor e o conforto do paciente envolvem questões éticas e humanitárias do profissional da saúde. A dor do RN deve ser reconhecida e tratada.

Cabe ressaltar que são poucos os trabalhos encontrados na literatura desenvolvidos por enfermeiros que destaquem a atuação da equipe de enfermagem na Neonatologia, principalmente, com relação à dor do RN.

CONCLUSÃO

Concluímos que a literatura mostra que é mito, dizer que os recém-nascidos não sentem dor, pelo fato da imaturidade do sistema nervoso central, pois é provado que eles são bem mais sensíveis a dor, do que mesmo o adulto. A literatura mostra também que existem métodos para o conforto da dor nos prematuros. Os artifícios não farmacológicos são uteis em amenizar a dor no recém- nascido durante o procedimento invasivo doloroso, favorecendo assim a redução de sequelas futuras neste neonato.

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O estudo permitiu perceber que houve consideráveis mudanças no conceito e manejo da dor do RN ao longo do tempo, principalmente por ocasião dos inúmeros avanços tecnológicos em Neonatologia, não só no Brasil como no mundo. Este crescente desenvolvimento tecnológico proporcionou novos estudos e conhecimentos que foram progressivamente sendo agregados à prática profissional diária e interferindo significativamente na assistência prestada ao RN.

Porém, apesar dos progressos nota-se que ainda é escassa a literatura nacional sobre o tema e também há poucos trabalhos relacionados à dor do RN na área da enfermagem.

Entende-se que outros estudos são necessários para novas indagações que contribuirão para o aprimoramento da pesquisa e a consequente melhoria da qualidade da assistência em enfermagem neonatal, tornando-a cada vez menos empírica e mais humanizada.

O diagnóstico de dor no RN deve ser de responsabilidade não só dos enfermeiros, mas também de toda equipe de saúde. É importante o empenho na implantação e utilização de escalas de dor adequadas às características da unidade. Sugerimos também uma maior utilização dos métodos não-farmacológicos para o manejo da dor, pelos enfermeiros a fim de promover uma assistência humanizada ao cuidado neonatal. E como cuidado fundamental é sempre verificar a existência da dor, tomando medidas cabíveis para intervenção imediata.

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