www.revportcardiol.org
Revista
Portuguesa
de
Cardiologia
Portuguese
Journal
of
Cardiology
ARTIGO
ORIGINAL
A
variante
genética
c825t
da
subunidade
3
da
proteína
G
associa-se
com
a
hipertensão
arterial
numa
populac
¸ão
portuguesa
Ana
Célia
Sousa
a,∗,
Roberto
Palma
dos
Reis
b,
Andreia
Pereira
a,
Sofia
Borges
a,
Sara
Gouveia
a,
Adelaide
Spínola
a,
Ana
Isabel
Freitas
a,c,
Grac
¸a
Guerra
a,c,
Teresa
Góis
a,
Mariana
Rodrigues
a,
Eva
Henriques
a,
Ilídio
Ornelas
a,
Carolina
Freitas
a,
Décio
Pereira
a,
António
Brehm
c,
Maria
Isabel
Mendonc
¸a
aaUnidadedeInvestigac¸ão,HospitalDoutorNélioMendonc¸a,Funchal,Portugal bFaculdadedeCiênciasMédicas,UniversidadeNovadeLisboa,Lisboa,Portugal cLaboratóriodeGenéticaHumana,UniversidadedaMadeira,Funchal,Portugal
Recebidoa13demarçode2017;aceitea24desetembrode2017 DisponívelnaInterneta28demaiode2018
PALAVRAS-CHAVE Estudocaso-controlo; Hipertensãoarterial; Polimorfismos; ProteínaG; GN3 Resumo
Introduc¸ão: AhipertensãoarterialéumproblemadeSaúdePública,afeta25%dapopulac¸ão adultamundial.Fatoresgenéticoseambientaiscontribuemparaasuapatogénese.O polimor-fismo C825Tdasubunidade3daProteína G(rs5443)favorece aproduc¸ão deumavariante alternativa,truncada,quefacilitaasinalizac¸ãointracelular,podeinterferirnaregulac¸ãoda pressãoarterial.Essavariantegenéticatemsidodescritacomoumfatorderiscoparaa hiper-tensãoarterial,comresultadoscontroversos.
Objetivo: Avaliaraassociac¸ãodopolimorfismoC825TdogeneGN3 comoaparecimentode hipertensãoarterial,numapopulac¸ãoportuguesadoArquipélagodaMadeira.
Métodos: Comumaamostrade1641indivíduos(médiade50,6±8,1anos),fizemosumestudo caso-controlocom848indivíduoscomhipertensãoarteriale793controlos,ajustadospara o sexo e aidade. Todos osparticipantes colheram sanguepara análises bioquímicas e foram genotipados para o polimorfismo C825T. Foifeita uma regressãologística para ver quais as variáveisquese relacionamcomahipertensãoarterial.A análisedosdadosfoifeitacomo
softwareestatísticoSPSS,versão19.0.Usamoscomolimiardesignificânciaovalordep<0,05.
Resultados: Encontramosumaassociac¸ãosignificativaentreopolimorfismoC825Teo apareci-mentodehipertensãoarterial(oddsratio=1,275;IC95%(1,042---1,559);p=0,018)nomodelo dominante,apósanálisemultivariada.
Conclusão:O polimorfismo C825T da subnidade 3da Proteína G está associado, de forma significativaeindependente,comoaparecimentohipertensãoarterialnanossapopulac¸ão. ©2018PublicadoporElsevierEspa˜na,S.L.U.emnomedeSociedadePortuguesadeCardiologia. ∗Autorparacorrespondência.
Correioeletrónico:dep.card@sesaram.pt(A.C.Sousa).
https://doi.org/10.1016/j.repc.2017.09.018
KEYWORDS Case-controlstudy; Hypertension; Polymorphisms; Gprotein; GNB3
ThegeneticvariantC825Tofthebeta3subunitofGproteinisassociatedwith hypertensioninaPortuguesepopulation
Abstract
Introduction:Hypertensionisanimportantpublichealthproblem,affectingabout25%ofthe adultpopulationworldwide.1Geneticandenvironmentalfactorscontributetoitspathogenesis. TheTalleleoftheC825Tpolymorphismofthebeta3subunitofGprotein(rs5443)leadstothe productionofatruncatedvariantthatenhancesintracellularsignalingandmayinterferewith theregulationofbloodpressure.Thisgeneticvarianthasbeendescribedasariskfactor for hypertension,althoughstudyresultsarecontroversial.
Objective:TheobjectiveofthisstudywastoanalyzetheassociationoftheC825Tpolymorphism oftheGNB3genewith theoccurrenceofhypertensioninaPortuguesepopulationfromthe Madeiraarchipelago.
Methods:A case-control study was performed with 1641 Caucasian individuals (mean age 50.6±8.1years),848withhypertensionand793controls.Bloodwascollectedfromall partici-pantsforbiochemicalandgeneticanalysis,includinggenotypingoftheC825Tpolymorphism. Logisticregressionanalysiswasperformedtodeterminewhichvariablesweresignificantly asso-ciated withthe onset of hypertension. Statistical analyses were performed using IBM SPSS version19.0andp-values<0.05wereconsideredstatisticallysignificant.
Results:Inourstudy,therewasasignificantassociationbetweentheC825Tpolymorphismof theGNB3geneandtheoccurrenceofhypertension(oddsratio1.275;95%confidenceinterval 1.042-1.559;p=0.018)inthedominantmodel,aftermultivariateanalysis.
Conclusion:WeconcludethattheC825Tpolymorphismofthebeta3subunitofGproteinis significantlyandindependentlyassociated withtheoccurrence ofhypertensioninthestudy population.
©2018PublishedbyElsevierEspa˜na,S.L.U.onbehalfofSociedadePortuguesadeCardiologia.
Introducão
A hipertensão arterial (HTA) é um problema importante desaúdepública,afetacercade25%dapopulac¸ãoadulta mundial1. Éumfator derisco dedoenc¸a cardiovasculare
deprogressãoparainsuficiênciarenal,independentemente deoutrosfatoresderiscovascular2,3.Napopulac¸ãoadulta
portuguesa, asua prevalênciaglobal é de 42% (44,4%nos homense40,2%nasmulheres)4.
Nasúltimasdécadas,muitos estudostêmsidofeitosno sentidodeesclarecerqualocontributogenéticono desen-volvimento da HTA. Sabe-se que de 20-40% da variac¸ão da pressão arterial é determinada geneticamente5,6. No
entanto, a genética molecular da HTA ainda permanece poucoesclarecida.
As proteínas G e seus recetores têm um papel cru-cialna sobrevivência celular.Essasproteínas fazem parte deumasuperfamíliade proteínas que,no estadoinativo, encontram-seacopladasarecetoresdamembranacelular. Quandoativadas, por estímulos adequados, grac¸as a pro-priedades funcionais e estruturais, migram pelo citosol e ativammúltiplosefetores,comosejamenzimas,canais ióni-cos, hormonas, neurotransmissores e fatoresautócrinos e parácrinos7,consumamatransmissãodesinais.Esseé um
processodeativac¸ãodoseventosintracelularespor estímu-losexternos.
A transduc¸ão de estímulos externos em sinais intra-celulares é comprovadamente um dos fatores de grande importânciaparaaperpetuac¸ãodascaracterísticasviáveis
na escala evolutiva. Tendo em vista o seu papel abran-gente,adeficiênciadaexpressãoouformasalteradasdessas importantesproteínaspodemlevaradistúrbiosmetabólicos globaisourestritos8.
AsproteínasGtêmumaestruturaheterotrimérica, com-postaportrês subunidadesdenominadasalfa(␣),beta() e gama(␥), codificadaspor genes distintos.A subunidade alfa(␣)éamaiscaracterísticadecadaproteínaGeéessa subunidade que interage com o recetor, liga-se ao GTP e regula os sistemas efetores9. As subunidades e ␥ estão
associadasporligac¸õesnãocovalentese,quandose encon-tram ligadasàsubunidade ␣, configuramo estado inativo daProteínaG10.Osdímerose␥,paraalémdeservirpara
ancorarasubunidade␣,tambémtêminfluênciaem proces-sos celularesespecíficos11,12 epodem modulara atividade
dedeterminadosefetores13.Devidoaoseupapelcrucialna
func¸ãodemuitostiposdecélulas,asanormalidades gené-ticas nassubunidadesdas proteínas Gtêm opotencial de estarenvolvidasnaetiologiadeumavastagamadesituac¸ões clínicas.
Ogenequecodificaasubunidade3daProteínaGestá localizadonocromossoma12p13.Opolimorfismoda subuni-dade3daProteínaG(C825T)rs5443situa-senoexão10do geneGN3,ondehá umasubstituic¸ão dacitosina(C)pela timidina (T) nonucleótido 825. O alelo825T está associ-ado com a ocorrência dum splicing alternativo dentro do exão9,noqualosnucleótidos498-620sãoeliminados14,15.
Como resultado, os aminoácidos 167 a 197 estão ausen-tesnaproteínacodificada(designadaG3-s).Essavariante
Avariantegenéticac825tdasubunidade3daproteínaGassocia-secomahipertensão 501 truncadaplice (G3-s)éumaproteína funcionalque
con-fere uma ativac¸ão aumentada das proteínas G, facilita a sinalizac¸ãointracelular14,16.Dadoqueaativac¸ãodaproteína
G é oevento-chave na transduc¸ão desinalintracelular, o polimorfismoC825Ttemumpapel importantenaetiologia dumavasta gamadesituac¸õesclínicas,bemcomona res-postaafármacos17.Essavariantegenéticafoidescritacomo
associada a várias patologias, HTA14,15,18---20, obesidade21,
depressão22 e doenc¸as cardiovasculares23. Além disso, o
alelo825Tpodeservircomomarcadorfarmacogenéticona previsãoderespostasaváriosfármacoscomosejam: diuré-ticos,antidepressivos,sildenafil,clonidina,ngiotensinaIIe endotelina-117.
Noentanto,osresultadosdealgunsestudosnão demons-traramassociac¸ãodessavariantegenéticacoma HTA24-26.
Háestudosqueconfirmameoutrosquerejeitamaligac¸ão do polimorfismo da subunidade 3da Proteína G (C825T) àHTA,justifica-se avaliara suaeventualassociac¸ão numa populac¸ãoportuguesa.
Objetivo
Avaliaraeventualassociac¸ãodopolimorfismoC825Tda Pro-teínaG(GN3,rs5443)comoaparecimentodeHTA,numa populac¸ãoportuguesadoArquipélagodaMadeira.
Métodos
Protocolodoestudoeaprovac¸ãoética
EsteestudofoiaprovadopelaComissãodeÉticadoSesaram (Servic¸o de Saúde da Região Autónoma da Madeira) e foi conduzidodeacordocomasdiretrizeséticasinternacionais daDeclarac¸ãodeHelsínquiade2013.
Todososindivíduosassinaramotermodeconsentimento informadoeforaminformados,pelomédicointernistacom maisde10anosdeexperiência,acercadacolheitade san-gue para análisee armazenamentoe reutilizac¸ão de ADN ededadosclínicosrelevantes.Asamostrasdesanguepara finsgenéticossãomantidasnonossobiobanco depesquisa hospitalardeacordocomosartigos6,15e16daDeclarac¸ão UniversaldaUnescosobreBioéticaeDireitosHumanos.
Populac¸ãodoestudo
Esteestudo foifeitonoArquipélagodaMadeira, Portugal, cujapopulac¸ãoédecercade300000habitantes.Os indiví-duosparticipantesnoestudosãodeetniabranca,naturais do Arquipélagoda Madeira, e osseus progenitores (1.a e 2.a gerac¸ão) sãotambémnascidosnessearquipélagoe da mesmaetnia.Procuramosdessaformaqueessapopulac¸ão deindivíduosfossegeneticamentehomogéneae represen-tasseassimumapopulac¸ãodaEuropadoSul.
Comumaamostrade1641indivíduoscommédia50,6± 8,1anos,848(49,9%)eramdogéneromasculino, seleciona-dossequencialmentedasconsultasdemedicinagerale fami-liaredemedicinainternadoHospitalCentraldoFunchal.
Constituímosdois grupos,com anossaamostra, conso-ante tinham ou não HTA, procuramos que não houvesse
diferenc¸assignificativasentreambos osgrupos emtermos desexoeidade.
Hipertensãoarterial
AHTAfoiconsideradaseosindivíduosàentradanoestudo jáestivessem diagnosticados e/ou cumprissem medicac¸ão anti-hipertensiva havia mais de três meses ou ainda se fossemhipertensosrecém-diagnosticadoscompressão arte-rial sistólica (PAS) e/ou pressão arterial diastólica (PAD) ≥140/90mmHg,avaliadaem,pelomenos,trêsocasiões27.
Foram excluídos todos os indivíduos com hipertensão secundária, tais como hiperaldosteronismo primário ou doenc¸arenalclinicamenterelevante, e osquereceberam medicac¸ãoparaoutrasindicac¸õesquepodeafetarapressão arterial.
Oscontrolosnormotensosnuncatinhamfeitomedicac¸ão anti-hipertensivaeapresentavamPAS/PAD<140/90mmHg. Foiavaliadaapressãoarterialatodososindivíduos,após 10min derepouso, em posic¸ãosentada, nobrac¸o direito, com o uso de um esfigmomanómetro Welch Allyn padrão (fasesIaV),efoiregistadaamédiadetrêsleiturasfeitas comintervalodedoismin27.
Recolhadedados
Todos os participantes responderam a um questionário padronizadoemrelac¸ãoaidade,sexo,estilodevida, taba-gismo, consumo de álcool, história pessoal e familiar de eventoscardiovasculares,nomeadamenteacidentevascular cerebraledoenc¸adasartériascoronáriasehistóriafamiliar deHTA.
Foramavaliados,emtodososparticipantes,os parâme-trosantropométricos.Foimedidaaalturaem centímetros e o peso em quilogramas e calculado o Índice de Massa Corporal(IMC)comousodafórmula(kg/m2)28.OIMCfoi
divididoemtrêssubgrupos:normal(<25kg/m2),excessode
peso(25≤IMC<30kg/m2)eobesidade(IMC≥30kg/m2)28.
Operímetroabdominalfoiavaliadoeconsideradoelevado quandosuperior a94cm parao sexomasculino ea 80cm para o feminino29. A razão cintura/anca foi calculada,
foi considerada elevada para um valor > 0,9 para o sexo masculinoe>0,8paraofeminino29.
A velocidade de onda de pulso (VOP) foi determinada por tonometria através do Complior como previamente descrito30.UmvalordeVOP>10m/s2foiconsiderado
ele-vado. A diabetes mellitus (DM) foi definida por um nível deglicose emjejum≥126mg/dle/ouumníveldeglicose ≥200mg/dle/ouumahistóriadetratamentoparaDM31.
Sedentarismofoidefinidoquandoosindivíduosnão pra-ticavampelomenos150minutos/semanadeatividadefísica moderadaavigorosa29.
Consideraram-se fumadores aqueles que à data da entradanoestudotinhamhábitostabágicosedividiu-seessa variávelemtrêssubgrupos,consoanteonúmerodecigarros consumidospordia:deuma10cigarros;entre10a20 cigar-rosemaisde20cigarros.Osindivíduosqueingeriamálcoolà entradadoestudoforamconsideradoscomotendohábitos alcoólicos.Quantificou-seoconsumo deálcoolemgramas por semana, foi considerado excesso quando superior a 70 gr/semana no sexo masculino e 50 gr/semana no feminino.
Análisebioquímica
Asamostrasdesangueforamextraídasapós14-16horasde jejume o plasma foi preparadopara a quantificac¸ão dos perfis biológicos. As análises bioquímicas foram feitas no LaboratórioCentraldoHospital,deacordocomastécnicas usuais.
Paradeterminarocolesteroltotal,HDL,LDL,triglicéridos eglucose,asamostrasdesangueforamcolocadasemtubos secos,centrifugadasdurantemeiahoraa3500ge posteri-ormentequantificadas poruma técnica enzimáticacom o usodeumanalisadorautomático«AU5400»(Beckman
Coul-ter).Osmarcadoresbioquímicosderisco lipoproteína(a),
apoliproteínaBeaProteínaC-reativadealtasensibilidade (PCR-as)foramquantificadospor umaparelhoautomático «AU5400»(BeckmanCoulter) pelatécnicade imunoturbi-dimetria. Em relac¸ão ao fibrinogénio, a colheita também foifeitacomodoenteemjejum,paraumtubocomcitrato de sódio, com o uso de um analisador automático «ACL TOP700».
AnálisegenéticadopolimorfismoC825Tdogene GN3
O ADN genómico foi extraído dos leucócitos do sangue periféricocom o uso dométodo desalting-out. Aanálise genotípicafoiefetuadacomsondasoligonucleotídicas mar-cadascomfluorescênciaespecíficaparacadaumdosalelos numensaioque combinaa técnicaconvencionada dePCR ea técnicaTaqMan(Applied Biosystems). Osprimerse as sondas foram as pré-estabelecidas pelo fornecedor (Taq-Man SNP Genotyping Assays, Applied Biosystems) para o polimorfismoC825TdogeneGN3(rs5443),os oligonucleó-tidosforamsintetizadoseosmarcadoresfluorogénicosFAM eVICacopladosàsextremidades5’dassondasdemodoa alcanc¸aradiscriminac¸ãoalélica.Areac¸ãodepolimerizac¸ão em dois passos consistia em 40 ciclos de desnaturac¸ão a 92◦Cdurante15segundos edeprimerannealinge exten-sãoa60◦Cduranteumminutoefoiefetuadanumaparelho 7.300Real-TimePCRSystem(AppliedBiosystems).Os genó-tiposforamdeterminadoscomo7.300SystemSDSSoftware (AppliedBiosystems)semqualquerconhecimentopréviodos dadosclínicosindividuais(Fig.1).
Análiseestatística
As variáveiscategóricassão apresentadaspela frequência e a sua respetiva percentagem, com o uso do teste de qui-quadrado.As variáveis contínuas sãoexpressascom a média±desviopadrãooumediana(mínimo---máximo).Para comparar asvariáveis contínuas foram usados ostestes t
deStudentou o testenão paramétricodeMann-Whitney, conformeapropriado.
OequilíbriodeHardy-Weinbergfoicalculadoparacada um dos genes com o uso do teste de qui-quadrado. Um valor de p inferior a 5% foi considerado estatisticamente significativo,enquanto ovalor Pb(pdivididopelo número totaldecomparac¸ões)foi consideradoapósa correc¸ãode Bonferroni.
Paradeterminar,poranálisemultivariada,quaisas variá-veis associadas ao aparecimento de HTA, foi elaborada
uma regressão logística com o uso do método Forward Wald.
Aforc¸ade associac¸ão foideterminada pela oddsratio
(OR)epelosrespetivosintervalosdeconfianc¸a(IC)a95%. Os dados estatísticos foram analisados com o uso do
softwareestatísticoSPSS(StatisticalPackagefortheSocial
Sciences)versão19.0.Usamoscomolimiardesignificância ovalordep<0,05.
Resultados
Característicasdosparticipantesdoestudo
Apresentamos as características basais dos participantes do estudo na Tabela 1. A populac¸ão estudada é com-postapor1641indivíduos,848casoscomHTA(idademédia de 50,8 ± 8,1; 51,8% do sexo masculino) e 793 con-trolos sem HTA (idade média de 50,3 ± 8,2; 47,9% do sexo masculino). As variáveis género e idade foram ajus-tadas entreos grupos, nãohouvediferenc¸as significativas (Tabela1).
Verifica-sequehouvediferenc¸asignificativaemrelac¸ão às seguintes variáveis: consumo de álcool (p = 0,008), IMC e obesidade (p < 0,0001), perímetro abdominal (p < 0,0001) e cintura/anca (p < 0,0001), apresentaram valo-res médios mais elevados no grupo dos hipertensos em relac¸ão aos controlos. Da mesma maneira, a DM, disli-pidémia, pressão arterial sistólica e distólica, frequência cardíaca e a VOP foram mais frequentes no grupo dos indivíduos hipertensos em relac¸ão aos normotensos, com significânciaestatística(p<0,0001).Nogrupodos hiperten-sos,haviamaisindivíduos comhistória pessoal(p=0,002) e familiar(p<0,0001) deeventoscardiovasculares,assim como história familiar de HTA (p < 0,0001). Constatou-se também que havia uma maior percentagem de fumado-resnogrupodos controlosemtodosossubgrupos,exceto nos que fumavam mais de 20 cigarros/dia, em relac¸ão ao grupo dos hipertensos e com significância estatística (p<0,0001).
Em relac¸ão às variáveis bioquímicas (Tabela 2), houve diferenc¸a significativa entre os dois grupos em relac¸ão à hemoglobina (p < 0,0001), leucócitos (p < 0,0001), fibrinogénio (p < 0,0001), HDL-colesterol (p < 0,0001), triglicerídeos(p<0,0001),apolipoproteínaB(p<0,0001), glicoseemjejum(p<0,0001)ePCR(as)(p<0,0001),que também apresentaram valores médios mais elevados no grupodoshipertensosemrelac¸ãoaoscontrolos.Emrelac¸ão àsvariáveis colesterol total,LDL- colesterol,lipoproteína (a) e plaquetasnãohouvediferenc¸a significativaentreos doisgrupos(p>0,05).
Frequênciasalélicasegenotípicasdopolimorfismo genéticoGN3C825TeriscodeHTA
Apresentamos as frequências dos alelos do polimorfismo genético C825T do gene GN3 na Tabela 3. A frequência dosalelosCeTdopolimorfismoC825Tnapopulac¸ãototal danossaamostrafoide60,5%ede39,5%,respetivamente. Nogrupodoscasosecontrolosseguiuamesmatendência, atingiuumvalordeORde1,106,massemsignificância esta-tística(p=0,158)(Tabela3).
Avariantegenéticac825tdasubunidade3daproteínaGassocia-secomahipertensão 503 24.000 20.000 16.000 12.000 8.000 4.000 0.000 0.000 1.000 2.000 3.000 4.000 Allele X (GNB3 C) Allele Y (GNB3 T) Allelic Discrimination GNB3 TT GNB3 CT GNB3 CC 5.000 6.000
Figura 1 Discriminac¸ão genotípica do polimorfismo C825T do gene GN3 no Aparelho 7300Real-Time PCR System (Applied Biosystems).
Tabela1 Característicasdemográficaseclínicasdosparticipantesdoestudo
Variáveis Total(n=1.641) Hipertensos(n=848) Controlos(n=793) Valorp
Idade,anos 50,6±8,1 50,8±8,1 50,3±8,2 0,212 Sexomasculino,n(%) 819(49,9) 439(51,8) 380(47,9) 0,119 Sedentarismo,n(%) 887(54,1) 476(56,1) 411(51,8) 0,080 Álcool,n(%) 627(38,2) 350(41,3) 277(34,9) 0,008 Excessoálcool,n(%) 536(32,8) 291(34,3) 245(31,2) 0,176 Tabagismo,n(%) 375(22,9) 164(19,5) 211(26,6) <0,0001 1a10cig,/dia,n(%) 142(37,9) 59(36) 83(39,3) 0,002 10a20cig,/dia,n(%) 118(31,5) 40(24,4) 78(37) >20cig,/dia,n(%) 115(30,7) 65(39,6) 50(23,7) IMC,kg/m2 27,7±4,9 29,2±5,2 26,2±4 <0,0001 Normala,n(%) 466(28,4) 143(16,9) 323(40,7) <0,0001 Excessodepesob,n(%) 734(44,7) 379(44,7) 355(44,8) Obesidadec,n(%) 441(26,9) 326(38,4) 115(14,5) Perímetroabdominal♦,n(%) 1217(74,2) 710(83,7) 507(63,9) <0,0001 Cintura/Anca˚,n(%) 1461(89) 788(92,9) 673(84,9) <0,0001 Diabetes,n(%) 169(10,3) 134(15,8) 35(4,4) <0,0001 Dislipidémia,n(%) 815(49,7) 470(55,4) 345(43,5) <0,0001 PAS,mmHg 134,4±20,4 147,2±18,9 120,7±10,9 <0,0001 PAD,mmHg 84,5±12,1 91,1±11,7 77,4±7,7 <0,0001
Frequênciacardíaca,bat./min. 72,1±11,8 73,1±12,2 71±11,2 <0,0001
VOP,m/s2 8±1,5 8,4±1,5 7,7±1,3 <0,0001
VOP>10m/s2,n(%) 160(9,8) 117(13,8) 43(5,4) <0,0001
EventosCV,n(%) 41(2,5) 31(3,7) 10(1,3) 0,002
CVfamiliar,n(%) 539(32,9) 327(38,6) 212(26,7) <0,0001
HTAfamiliar,n(%) 609(37,1) 405(47,8) 204(25,7) <0,0001
Cig.:cigarros;CV:cardiovasculares;HTA:hipertensãoarterial;IMC: índicedemassacorporal;PAD:pressãoarterialdiastólica;PAS: pressãoarterialsistólica; 70gr/diaparaoshomense>50gr/diaparaasmulheres;VOP:Velocidadedeondadepulso
a IMC<25kg/m2 b 25≤IMC<30kg/m2
c IMC≥30kg/m2;♦>94cmparaoshomense>80cmparaasmulheres;>0,9paraoshomense>0,8paraasmulheres;Significância estatísticaparap<0,05.
A frequência de cada genótipo em ambos os grupos, casosecontrolos,foiencontradaem conformidadecomo equilíbriode Hardy-Weinberg (Tabela4).O genótipomais
frequente,no modelo aditivo, foi o heterozigotoCT, que apresentou valores de 50,7% e 44,3% nos casos e contro-los, respetivamente, quando comparado com o genótipo
Tabela2 Característicasbioquímicasdosparticipantesdoestudo
Variáveis Total(n=1.641) Hipertensos(n=848) Controlos(n=793) Valorp Hemoglobina,g/dl 14,3(9,6-18,2) 14,4(9,6-18,2) 14,2(10,1-17,6) <0,0001 Plaquetas,103/l 229,0(23-664) 233,0(23-664) 227,0(65-544) 0,206 Leucócitos,103/l 6,4(2,1-18) 6,6(2,9-18) 6,2(2,1-16,6) <0,0001 Fibrinogénio,mg/dl 362(179,2-874) 371,0(179,2-874) 355,3(224-688) <0,0001 Glicose,mg/dl 95(66-364) 98,0(70-360) 93,0(66-364) <0,0001 Lipoproteína(a),mg/dl 16,3(0,6-236) 16,6(0,6-236) 16,2(0,8-198,2) 0,730 Colesterol,mg/dl 207(107-370) 208,5(115-344) 206(107-370) 0,193 HDL-C,mg/dl 48(17,2-111,7) 46,9(17,2-103) 49(20,8-111,7) <0,0001 LDL-C,mg/dl 131(37,7-269) 131(37,7-269) 131(42-260) 0,944 Triglicéridos,mg/dl 110(21-1098) 119,0(29-1098) 99,0(21-688) <0,0001 ApolipoproteínaB,mg/dl 104(3,9-232) 106,6(5,1-205) 99,7(3,9-232) <0,0001 PCR(as),mg/dl 0,2(0-18,5) 0,2(0-13,1) 0,2(0-18,5) <0,0001
Asvariáveisbioquímicassãoapresentadaspelamediana(mínimo-máximo).
HDL-C:colesteroldaslipoproteínasdealtadensidade; LDL-C:colesteroldaslipoproteínasdebaixadensidade;PCR(as):proteínaC reativadealtasensibilidade;significânciaestatísticaparap<0,05.
Tabela3 FrequênciasalélicasdopolimorfismogenéticoC825TdogeneGN3
C825T Total % Casos % Controlos % OR(IC95%) Valorp
C 1985 60,5% 1006 59,3% 979 61,7% 1,106(0,962---1,273) 0,158
T 1297 39,5% 690 40,7% 607 38,3%
Total 3282 100% 1696 100% 1586 100%
IC:Intervalodeconfianc¸a;OR:oddsratio;significânciaestatísticaparap<0,05.
Tabela4 GenótiposdopolimorfismogenéticoC825TdogeneGN3eriscodehipertensãoarterial
Polimorfismo Genótipo Casos(n=848) Controlos(n=793) OR(IC95%) Valorp
GN3C825T CC 288(34,0%) 314(39,6%) Referência
---CT 430(50,7%) 351(44,3%) 1,336(1,079---1,653) 0,008
TT 130(15,3%) 128(16,1%) 1,107(0,827---1,482) 0,494
IC:intervalodeconfianc¸a;OR:oddsratio;significânciaestatísticaparap<0,05.
homozigotodereferência CC.Esse genótipoacarretou um riscomaiorde1,336(p=0,008)emrelac¸ãoaohomozigoto mutado(OR=1,107;p=0,494)(tabela4).
Nomodelodominante(Tabela5),osindivíduoscom genó-tipo(CTouTT)tinhamummaiorriscodedesenvolverHTA (OR=1,275;IC95%=1,042---1,559)quandocomparadoscom ogenótipodereferência(CC)(p=0,018).
Análisederegressãologística
Foifeitaumaanálise deregressãologística (Tabela6), as variáveisque permaneceram naequac¸ão foram:DM, obe-sidade, consumo de álcool e os genótipos CT e TT do polimorfismoGN3,associaram-sedeformasignificativae independenteaoaparecimentodeHTA(Tabela6).
Oshábitostabágicossurgem naequac¸ão como variável protetoraemrelac¸ãoaoaparecimentodeHTA.O sedenta-rismosaiudaequac¸ão,nãoinfluenciouoaparecimentode HTA(Tabela6).
Discussão
No presente estudo, investigámos a existência de uma associac¸ão entre a variante GN3 825T da Proteína G e a HTA, numa populac¸ão portuguesa do Arquipélago da Madeira. Osindivíduos com omodelo genético dominante apresentaram umrisco acrescido dedesenvolver HTA (OR = 1,275;IC95% =1,042---1,559; p =0,018),mesmo após a análisemultivariada,comcorrec¸ãoparaosfatoresde con-fusão (obesidade,DM,sedentarismo, ingestão de álcoole hábitostabágicos).Essesresultadosdemonstramque,nessa populac¸ão,asvariantesdaProteínaGseassociamàHTAde formaindependentedosfatoresderiscodeHTAjá conheci-dos,ouseja,acrescentamriscodeHTAaosfatoresderisco tradicionais.
Nanossapopulac¸ão,afrequênciaencontradaparaoalelo Tfoide39,5%nessapopulac¸ão,oqueésuperioràrelatada emoutraspopulac¸õesdeetniabranca(37,7%),éinferiorà descritaparaosasiáticos(48,4%)eparaosnegros america-nos(76,3%)19.
Avariantegenéticac825tdasubunidade3daproteínaGassocia-secomahipertensão 505
Tabela5 GenótiposdopolimorfismogenéticoC825TdogeneGN3eriscodehipertensãoarterial(modelodominante)
Polimorfismo Genótipo(modelodominante) Casos(n=848) Controlos(n=793) OR(IC95%) Valorp
GN3C825T CC 288(34,0%) 314(39,6%) Referência
---CT+TT 560(66,0%) 479(40,4%) 1,275(1,042---1,559) 0,018
IC:Intervalodeconfianc¸a;OR:oddsratio;significânciaestatísticaparap<0,05.
Tabela 6 Análise de regressão logísticaa com o modelo genético dominante do polimorfismo GN3 e as variáveis de
confundimento
Variáveis B S.E. Wald df OR(IC95%) Valorp Diabetes 1,223 0,205 35,711 1 3,397(2,275---5,074) <0,0001 Obesidade 1,185 0,126 88,686 1 3,270(2,555---4,184) <0,0001 Álcool 0,243 0,109 5,010 1 1,276(1,031---1,579) 0,025 Tabaco -0,464 0,127 13,359 1 0,629(0,490---0,806) <0,0001 GN3(CT+TT) 0,236 0,108 4,755 1 1,267(1,024---1,566) 0,029 Constante -0,477 0,102 21,881 1 0,621 <0,0001
a MétodoForwaldWald(SPSSversão19.0).Saíramdaequac¸ãosedentarismo,sexoeidade.
B:betacoefficient;df:degreesoffreedom;IC:intervalodeconfianc¸a;OR:oddsratio;S.E.:standarderror;significânciaestatística parap<0,05.
Ospresentesresultados,inovadoresnapopulac¸ão portu-guesa,vãonasequênciadealgunsestudoscomresultados semelhantes.
Pela primeira vez, Siffert et al.14 demonstraram, num
estudo com 426 pacientes, uma associac¸ão significativa do polimorfismo no gene GN3 sensível à toxina pertús-sis (GN3) com a HTA, (OR =1,79; IC 95% = 1,05---3,05; p = 0,03) numa populac¸ão daAlemanha. Posteriormente, muitos estudosem nível mundial e em diferentes grupos étnicos encontraram associac¸ão entre o polimorfismo do GN3C825TcomaHTA14,15,17---19oucomavariac¸ãodapressão
arterial32---34.
Benjafieldetal.15,numestudofeitonaetniabranca
con-cluíramqueavarianteGN3825TdaProteínaGseassociava comaHTA(OR=2,3;IC95%=1,7---3,3)15.
Também numa populac¸ão egípcia encontrou-se a associac¸ãodessavariantegenéticacomaHTA(OR=1,4;IC 95%=0,9---2,1)nomodelogenéticodominanteeque aumen-tavasignificativamentenomodelorecessivo(OR=2,3;IC95% =1,5---3,7)20.
Zheng etal19, numameta-análiseque envolveu36802
indivíduos,confirmaramumaassociac¸ãosignificativaentre o polimorfismo GN3 (C825T) e o risco global de HTA em brancosechineses,masessaassociac¸ãonãofoicomprovada noutraspopulac¸õesasiáticas19.
Emcontraponto,Guoetal.26,numameta-análise,
suge-rirampelaanáliseglobal dasevidênciasqueo aleloGN3 825T pode ser um bom indicador de risco de HTA, mas não evidenciou associac¸ão com a HTA em asiáticos e brancos26.
Vários mecanismosfisiopatológicospoderão justificaro papelimportantedavariantegenéticaGN3C825Trs5443, nodesenvolvimentodeHTA.
Siffert et al.14 descreveram que a variante truncada
splice- G3-sé umaproteínafuncionalque provoca uma
atividadeaumentadadasproteínasGnossistemas reconsti-tuídos,promovemelhorsinalizac¸ãointracelular14.
Umapressãoarterialmaiselevadadeve-seaofactoduma maiorsensibilidadeàshormonaspressoresvasoativas, aque-las que transmitem os seus sinais através de proteínas GN335.
Esseconceitoédemonstradoemestudosinvivo,provado pelofactodeosindivíduosportadoresdavariantegenética GN3825Tteremmaiorreatividadevascularnaestimulac¸ão derecetores␣1-adrenérgicoscoronários36.
Meirhaegheetal.16avaliaramavasomotilidadedas
arté-rias coronárias em resposta à injec¸ão intravenosa dum fármacovasoconstritor(metil-ergonovina)econcluíramque os indivíduos portadores de pelo menos um alelo T do GN3apresentarammaiorsuscetibilidadeàvasoconstric¸ão quando comparados com os do genótipo selvagem CC. A subunidade G3-s está associada a aumentoda atividade dessa proteína, pode, portanto, incrementar a atividade do ␣1A-adrenoreceptor acoplado às proteínas G, explica amaiorvasoconstric¸ãoobservadaem respostaao fármaco vasoconstritor,emindivíduoscomoaleloGN3825T.
OutrahipóteseédefendidaporSiffertetal.14,dequeo
inícioda HTA nos portadores do aleloT do GN3 poderá não se dever à vasoconstric¸ão aumentada por hormonas vasoconstritorascomo a noradrenalinae a angiotensina II queativamheterotrímerosdasProteínasGnãosensíveisà toxinapertússis,massimresultardaproliferac¸ãodas célu-lasmusculares lisasvasculares que levamgradualmente à hipertrofiavascular14.
Fizemos na nossa populac¸ão uma análise de regressão logísticana qualforam estudadas asvariáveis de confun-dimento, como sejam obesidade, DM, hábitos alcoólicos, tabagismoeomodelogenéticodominantedopolimorfismo GN3,afimdeavaliarquaisasvariáveisqueserelacionavam deformasignificativaeindependentecomoaparecimento daHTA. Aobesidade ea DMsãovariáveis queconferiram riscosignificativodeaparecimento deHTAcomumORde 3,270(IC95%=2,555---4,184;p<0,0001)e3,397(IC95%= 2,275---5,074;p<0,0001),respetivamente.Opolimorfismo
GN3tambémsemantevenaequac¸ão,comumrisco(OR) de1,276(IC95%=1,024---1,566;p=0,029),oquedemonstra queseassociadeformasignificativaeindependentecomo aparecimentodeHTA.
Segundo os resultados do nosso estudo no grupo dos controloshaviaumamaiorpercentagemdeindivíduoscom hábitostabágicosdoquenogrupodoshipertensosemtodos ossubgrupos,excetonosfumadoresdemaisde20cigarros pordia. Apósa análise multivariada,oshábitostabágicos surgiram na equac¸ão como variável protetora em relac¸ão ao aparecimento de HTA. Isso se deve ao facto de ser considerado ter hábitos tabágicos aquando à entrada do estudo,portantoosindivíduosqueeramfumadoresativos, enão aquelesque tinhamtido históriade hábitos tabági-cos. Salienta-seo facto de que osindivíduos hipertensos, àentradadoestudo,jáestavamaserseguidosem consul-tasmédicas,em abordagem geraldo riscocardiovascular, o que terá levado a que alguns deixassem de fumar. No entanto,nonossoestudoverifica-seque,paraosindivíduos commaiorconsumotabágico,torna-semaisdifícilaevicc¸ão dessehábito.Sabemosqueaobesidadeétambémum impor-tantefatorderiscoparaodesenvolvimentodeHTA.Estudos transversais demonstram que obesidade está associada a níveismaiselevadosdepressãoarterial,deganhodepeso ao longo da vida, e é um importante preditor de desen-volvimentodeHTA37---40.Váriosestudos,em populac¸õesde
váriasetnias,demonstraramaassociac¸ãodoaleloTdo poli-morfismoGN3comaobesidade41,42,oquepodeafetaras
variac¸õesdapressãoarterial43,44.
Outros estudos que correlacionem a anormalidade dos complexos mecanismos transdutores a nível celular com outros processos patológicos podem ser a base para des-cobertasfarmacológicasimportantesparaaterapêuticada HTAedemuitasoutrasdoenc¸as.
Pontosfortesdoestudo
Opresenteestudoéoprimeiro estudocaso-controlofeito napopulac¸ãodaIlhadaMadeira,umapopulac¸ãoportuguesa geneticamentehomogénea45---47erelativamenteisolada,em
queseinvestigaaassociac¸ãodopolimorfismoGN3C825T comasuscetibilidadeparaaHTA.
Essa populac¸ão, com as características citadas, repre-senta uma mais-valia para o mapeamento de distúrbios rarose,alémdisso,segundováriospesquisadores,oestudo depopulac¸õesculturalmenteegeneticamenteisoladasque apresentamummododevida,hábitosalimentarese ambi-entenaturalidênticospodereduziravariac¸ãoambiental48.
Conclusão
No estudo, o polimorfismo GN3 C825T associou-se de forma significativa e independente com o aparecimento deHTA, numapopulac¸ão portuguesa(OR = 1,275; IC 95% = 1,042---1,559; p = 0,018) no modelo dominante, mesmo apósanálisederegressãologística,naqualforamestudadas outrasvariáveisquepodemtambémassociar-seao apareci-mentodeHTA.
A identificac¸ão de genes candidatos e a compreensão da sua func¸ão contribuem para o estabelecimento duma basemolecularespecíficaparaHTA.Serãonecessáriosmais
estudoscomtamanhosdeamostramaiores,emdiferentes populac¸ões,paradeterminarseopolimorfismoGN3C825T desempenhaumpapelrelevantenaetiologiadaHTA.
Financiamento
Programa Operacional de Valorizac¸ão do Potencial Econó-micoe Coesão Territorial daRegião AutónomadaMadeira (Intervir+).
Conflitos
de
interesse
Osautoresdeclaramnãohaverconflitosdeinteresse.
Bibliografia
1.Kearney PM, Whelton M, Reynolds K, et al. Global bur-den of hypertension: analysis of worldwide data. Lancet. 2005;365:217---23.
2.NationalHeart,LungandBloodInstitute.FactBookfiscalyear 1966.Bethesda,Md:NHLBI.
3.LewingtonS,ClarkeP,QizilbashN,etal.,ProspectiveStudies Collaboration. Age-specific relevance of usual blood pres-suretovascularmortality:ameta-analysisofindividualdata for one million adults in 61 prospective studies. Lancet. 2002;360:13---903.
4.Polónia J, Martins L, Pinto F,et al. Prevalence, awareness, treatmentandcontrolofhypertensionandsaltintakein Por-tugal:changesoveradecade.ThePHYSAstudy.JHypertens. 2014;32:21---1211.
5.GongM,HubnerN.Moleculargeneticsofhumanhypertension. ClinSci.2006;110:315---26.
6.LiftonRP.Moleculargeneticsofhumanbloodpressurevariation. Science.1996;272:676---80.
7.Neves SR, Ram PT, Iyengar R. G protein pathways. Science. 2002;296:39---1636.
8.EmalaCW,SchwindingerWF,WandGS,etal.Signal-transducing Gproteins:basicand clinicalimplications. ProgNucleic Acid ResMolBiol.1994;47:81---111.
9.FarfelZ,BourneHR,IiriT.TheexpandingspectrumofGprotein diseases.NEnglJMed.1999;340:20---1012.
10.MilliganG,KostenisE.HeterotrimericG-proteins:ashort his-tory.BrJPharmacol.2006;147:S46---55.
11.BezerraMGT,LatronicoAC,FragosoMCBV.Tumoresendócrinos associadosàsmutac¸õesdasproteínasGsalfaeGialfa2.Arq BrasEndocrinolMetabol.2005;49:784---90.
12.McCudenCR,HainsMD,KimpleRJ,etal.G-proteinsignaling: backtothefuture.CellMolLifeSci.2005;62:551---7.
13.HauacheOM.ReceptoresacopladosàproteínaG:implicac¸ões para a fisiologia e doenc¸as endócrinas. Arq Bras Endocrinol Metab.2001;45:228---39.
14.SiffertW,RosskopfD,SiffertG,etal.Associationofahuman G-protein 3 subunit variant with hypertension.Nat Genet. 1998;18:45---8.
15.BenjafieldAV,Jeyasingam CL,NyholtDR,etal. G-Protein(3 SubunitGene(GNB3)VariantinCausationofEssential Hyper-tension.Hypertension.1998;32:97---1094.
16.MeirhaegheA, BautersC,HelbecqueN,etal. Thehuman G--proteinbeta3subunitC825Tpolymorphismisassociatedwith coronaryarteryvasoconstriction.EurHeartJ.2001;22:845---8.
17.Siffert W. Effects of the G Protein Beta 3-Subunit Gene C825TPolymorphism:Should HypothesesRegardingthe Mole-cular Mechanisms Underlying Enhanced G Protein Activation BeRevised?Focuson‘‘ASpliceVariantoftheGProteinBeta
Avariantegenéticac825tdasubunidade3daproteínaGassocia-secomahipertensão 507
3-SubunitImplicatedinDiseaseStatesDoesNotModulateIon Channels’’.PhysiolGenomics.2003;13:81---4.
18.Li M, Zhang B, Li C, et al. G-protein beta 3 subunit polymorphismsandessentialhypertension:acase-control asso-ciation study in northern Han Chinese. J Geriatr Cardiol. 2015;12:127---34.
19.ZhengH,XuH,CuiB,etal.Associationbetweenpolymorphism oftheG-protein3subunitC825Tandessentialhypertension: anupdatedmeta-analysisinvolving36,802subjects.BiolRes. 2013;46:265---73.
20.ElDinHemimiNS,MansourAA,AbdelsalamMM.Predictionof theRisk for EssentialHypertensionamong Carriersof C825T GeneticPolymorphismofGProtein3(GNB3)Gene.Biomark Insights.2016;11:69---75.
21.KoKD,KimKK,SuhHS,etal.AssociationsbetweentheGNB3 C825Tpolymorphismandobesity-relatedmetabolicriskfactors inKoreanobesewomen.JEndocrinolInvest.2014;37:20---1117.
22.FangL,ZhouC,BaiS,etal.TheC825Tpolymorphismofthe G--proteinb3geneasariskfactorfordepression:ameta-analysis. PLoSOne.2015;10:e0132274.
23.SempliciniA,GrandiT,SandonàC,etal.G-protein3-subunit geneC825Tpolymorphismandcardiovascularrisk:anupdated review.HighBloodPressCardiovascPrev.2015;22:225---32.
24.Brand E, Herrmann SM, Nicaud V, et al. The 825C/T poly-morphism of the G-protein subunit, (3 is not related to hypertension.Hypertension.1999;33:1175---8.
25.Kato N, Sugiyama T, Morna H, et al. G protein 3 subunit variantandessentialhypertensioninJapanese.Hypertension. 1998;32:935---8.
26.GuoL,ZhangLL,ZhengB,etal.TheC825Tpolymorphismofthe G-protein3subunitgeneanditsassociationwithhypertension andstroke:anupdatedmeta-analysis.PlosOne.2013;8.
27.European Society of Hypertension-European Society of Car-diology Guidelines Committee. 2003 European Society of Hypertension-EuropeanSocietyofCardiologyguidelinesforthe managementofarterialhypertension.
28.NationalInstituteofHealth,NationalHeart,Lung, andBlood InstituteNorthAmericanAssociationfortheStudyofObesity. ThePracticalGuide:Identification,Evaluation,andTreatment ofOverweightandObesityinAdults.NHLBIObesityEducation Initiative,NIHPublicationNumber.2000,00---4084.
29.Authors/TaskForceMembers:PiepoliMF,HoesAW,AgewallS, etal.2016EuropeanGuidelinesonCardiovasculardisease pre-ventioninclinicalpractice:TheSixthJointTaskForceofthe EuropeanSocietyofCardiologyandOtherSocietieson Cardio-vascularDiseasePreventioninClinicalPractice(constitutedby representativesof10societiesandbyinvitedexperts) Develo-pedwiththespecialcontributionoftheEuropeanAssociation forCardiovascularPrevention&Rehabilitation(EACPR). 30.AsmarR,BenetosA,TopouchianJ,etal.Assessmentofarterial
distensibility by automatic pulse wave velocity measure-ment:validationandclinicalapplicationstudies.Hypertension. 1995;26:485---90.
31.ExpertCommitteeontheDiagnosisandClassificationof Diabe-tesMellitus.ReportoftheExpertCommitteeontheDiagnosis
andClassificationofDiabetesMellitus.DiabetesCare.2003;26: 3160-67.
32.HegeleRA, HarrisSB,HanleyAi,et al.Gprotein3subunit genevariantandbloodpressurevariationinCanadianOji-Cree. Hypertension.1998;32:688---92.
33.SchunkertH,HenseHW,DoringA,etal.Associationbetween a polymorphismintheG protein3subunitgeneand lower reninandelevateddiastolicbloodpressurelevels. Hyperten-sion.1998;32:510---3.
34.HayakawaT,TakamuraT,AbeT,etal.AssociationoftheC825T polymorphismoftheG-proteinbeta3subunitgenewith hyper-tension,obesity, hyperlipidemia,insulinresistance,diabetes, diabetic complications, and diabetic therapies among Japa-nese.Metabolism.2007;56:44---8.
35.Schiffrin EL. Intracellular signal transduction for vasoac-tive peptides in hypertension. Can J Physiol Pharmacol. 1994;72:954---62.
36.Baumgart D,NaberC,HaudeM,et al.G protein3subunit 825T allele and enhanced coronary vasoconstriction on ␣2-adrenoceptoractivation.CircRes.1999;85:965---9.
37.KannelWB,BrandN,SkinnerJJJr,etal.Therelationof adi-positytobloodpressureanddevelopmentofhypertension.The Framinghamstudy.AnnInternMed.1967;67:48---59.
38.JohnsonAL,CornoniJC,CasselJC,etal.Influenceofrace,sex andweightonbloodpressurebehaviorinyoungadults.AmJ Cardiol.1975;35:523---30.
39.MikhailN,GolubMS,TuckML.Obesityandhypertension.Prog CardiovascDis.1999;42:39---58.
40.FrohlichED,MesserliFH,ReisinE,etal.Theproblemofobesity andhypertension.Hypertension.1983;5(III):71---8.
41.SiffertW,ForsterP,JöckelK-H,etal.Worldwideethnic distri-butionoftheGprotein(3subunit825Talleleanditsassociation withobesityinCaucasians,Chinese,andblackAfrican individu-als.JAmSocNephrol.1999;10:30---1921.
42.SiffertW,NaberC,WallaM,etal.Gprotein(3subunit825T alleleanditspotentialassociationwithobesityinhypertensive individuals.JHypertens.1999;17:1095---8.
43.IiriT,FarfelZ,BourneHR.G-proteindiseasesfurnishamodel fortheturn-onswitch.Nature.1998;394:35---8.
44.HegeleRA,AndersonC,YoungTK,etal.G-protein3subunit genesplicevariantandbodyfatdistributioninNunavutInuit. GenomeRes.1999;9:972---7.
45.Gonc¸alvesR,FreitasA, BrancoM,etal.Y-chromosome Line-agesfrom Portugal,Madeira and Ac¸oresRecord Elementsof Sephardim and Berber Ancestry. Annals of Human Genetics. 2005;69:443---54.
46.BrehmA,PereiraL,KivisildT,etal.Mitochondrialportraitsof theMadeiraandAc¸oresarchipelagoswitnessdifferentgenetic poolsofitssettlers.HumGenet.2003;114:77---86.
47.Kristiansson K,Naukkarinen J, PeltonenL. Isolated populati-ons and complex disease gene identification. Genome Biol. 2008;9:109.
48.JordeLP,WoodingSP.Geneticvariation,classificationandrace. NatGenet.2004;3611suppl:528---33.