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A rede social como instrumento de empoderamento feminino / The social network as an instrument for female empowerment

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5, p. 32715-32724 may. 2020. ISSN 2525-8761

A rede social como instrumento de empoderamento feminino

The social network as an instrument for female empowerment

DOI:10.34117/ bjdv6n5-642

Recebimento dos originais: 20/04/2020 Aceitação para publicação: 31/05/2020

Caroline Vasconcelos Damitz

Mestra em Direito pela Universidade de Passo Fundo Instituição: Universidade de Passo Fundo Endereço: Rua Bauernstraße, 8, Wels – OÖ, Áustria

E-mail: carolinedamitz@gmail.com Josiane Petry Faria

Pós-doutoramento em Direito pela Universidade Federal de Rio Grande

Doutora em Direito pela Universidade de Santa Cruz, com bolsa Prosup e PDSE Capes na Universidade de Sevilla/Espanha

Instituição: Universidade de Passo Fundo

Endereço: Rua 20 de setembro, 663, Centro, Passo Fundo – RS, Brasil E-mail: jfaria@upf.br

RESUMO

A presente pesquisa pretende tecer considerações e suscitar reflexões acerca de como as redes sociais refletem a sociedade patriarcal no mundo virtual. E se podem ser ferramentas de reprodução da complexa estrutura em que se assentam as relações de gênero, podem ser ferramenta de empoderamento e igualdade. Busca-se delimitar o conceito de gênero por questões semânticas, bem como, analisar em apertada síntese, os lugares ocupados pelas mulheres na sociedade ocidental. Por fim, se analisa a expansão do uso da internet e das interações pelo meio virtual. Quanto ao método de procedimento, este será o monográfico e como base operacional o método dedutivo. A pesquisa terá para o seu conteúdo teórico o aporte doutrinário em artigos e livros.

Palavras-chave: Empoderamento feminino, Gênero, Patriarcalismo, Rede social, Relações de poder.

ABSTRACT

The present research intends to make considerations and raise reflections about how social networks reflect patriarchal society in the virtual world. And if they can be tools for reproducing the complex structure on which gender relations are based, they can be tools for empowerment and equality. It seeks to delimit the concept of gender by semantic issues, as well as to analyze, in a tight synthesis, the places occupied by women in Western society. Finally, the expansion of internet use and interactions through the virtual environment is analyzed. As for the procedure method, this will be the monograph and the deductive method will be used as an operational base. The research will have for its theoretical content the doctrinal contribution in articles and books.

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 5, p. 32715-32724 may. 2020. ISSN 2525-8761 1 INTRODUÇÃO

O patriarcalismo é um modo de dominação de classe e trata-se de um imaginário social absolutamente naturalizado nas interações da sociedade. Dele resultam as diferentes situações de violência em que as mulheres são submetidas. A essa realidade soma-se o crescimento exponencial das interações sociais na internet e, por decorrência, suas complicações, pois o mundo virtual é reflexo do mundo real, com a agravante, talvez, pelo fato de ser mais fácil desumanizar o outro quando na frente se encontra uma tela ao invés de uma pessoa.

Nesse sentir, cabe referir que o Brasil é o quinto1 país do mundo em que mais se mata mulheres e conforme dados dos indicadores de violência contra as mulheres da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul. Já no primeiro trimestre de 2017, vinte e duas mulheres foram vítimas de feminicídio. Em relatório sobre a situação das mulheres ao redor do mundo, a lei n. 11.340/06 foi citada pela Organização das Nações Unidas2 como uma das legislações pioneiras e completas na defesa dos direitos das mulheres, o que demonstra a importância de haver mecanismos outros que confluam no mesmo sentido da legislação, pois esta, por si, não tem o condão de modificar o que é arraigado culturalmente.

Os espaços virtuais reproduzem discriminações construídas socialmente e podem ser componentes para reforçar a violência de gênero, como podem ser ferramentas de empoderamento, de assistência e apoio às mulheres em situação de violência.

Independentemente do objetivo, se faz necessário que se tenham meios capazes de intervir no espaço da internet. E nessa senda, é preciso promover educação sobre equidade de gênero e de comportamento no espaço virtual. Destarte, é urgente a questão de que moralismos, paixões e vínculos institucionais sejam definitivamente deixados de lado na análise do tema, tão caro a dignidade da pessoa humana e dos direitos humanos pela perspectiva de gênero.

2 DO GÊNERO

Em apertada síntese, por razões conceituais e de delimitação do tema, cabe analisar o conceito de gênero. Semanticamente a conceituação da palavra gênero teve mudanças no decorrer dos anos.

1 O Brasil está atrás apenas de Rússia, Guatemala, Colômbia e El Salvador, tem uma taxa de 4,8 mortes por 100.000

mulheres, de acordo com o estudo Mapa da Violência 2015 – Homicídios de mulheres no Brasil. Disponível em http://www.mapadaviolencia.org.br/pdf2015/MapaViolencia_2015_mulheres.pdf>.

2 A versão 2011/2012 do relatório Progresso das Mulheres no Mundo tem como foco o acesso da mulher à Justiça. O

texto foi elaborado pela UN Women, entidade da ONU em favor da igualdade de gêneros e do fortalecimento da mulher: http://www.bbc.com/portuguese/noticias/2011/07/110706_onu_mulher_relatorio_rp.shtm

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Na gramática, gênero é utilizado para distinguir e classificar fenômenos, determinar o uso dos artigos definidos e indefinidos de um substantivo e classificar classes de palavras.

É como “um sistema socialmente consensual de distinções e não uma descrição objetiva de traços inerentes” (SCOTT, 1988, p. 72), de uns tempos adiante a palavra gênero passou a ser utilizada para determinar fundamentalmente o caráter das relações sociais baseadas na distinção dos sexos masculino e feminino. As interações relacionais entre ambos passaram a ser descritos com o uso da palavra gênero. A palavra indica a diferenciação de aspecto biológico da separação dos sexos, mas transcendendo a significação inicial, inclui também as relações sociais entre as pessoas.

Ou seja, a palavra gênero passou a ser utilizada nos estudos dos simbolismos relacionais e sexuais historicamente, que então não mais se baseou somente nos feitos masculinos. É preciso estudar o gênero como categoria analítica, pois assim é possível estudar como o gênero se enquadra nas relações sociais humanas, ou o porquê da importância do estudo de gênero nos problemas sociais de um Estado, no direcionamento de políticas públicas, no tipo de abordagem que o estudo da história terá e em como a linha do tempo será dividida.

Este tipo de reflexão quanto ao uso semântico da palavra gênero é de suma importância para que o estudo das mulheres não mais seja sinônimo de estudar o mundo dos homens, ou seja, até então, estudar a história das mulheres nada mais era do que estudar o mundo masculino, as suas referências e seus objetivos. O termo gênero é uma forma de indicar “construções culturais [...] trata-se de uma forma de se referir às origens exclusivamente sociais das identidades subjetivas de homens e mulheres” (SCOTT, 1988, p. 75).

Para tanto, seja a implicação de gênero cultural, social ou política, essa implicação é, antes de tudo, um conceito cunhado em determinado momento histórico. Entende-se que o significado de algo é a construção de um conceito baseado em símbolos, significações e interesses recortados histórica e culturalmente, geralmente visando dar poder a um dos polos da relação social

3 DO PATRIARCALISMO E DA POSIÇÃO CONCEDIDA ÀS MULHERES NA SOCIEDADE OCIDENTAL

Contextualizar o lugar das mulheres na sociedade ocidental por meio de uma breve análise sócio-histórica3, na perspectiva do poder, é necessário. O percurso das mulheres no século XVIII, foi um percurso de silêncio (PERROT, 2005) e invisibilidade: nas assembleias políticas; no espaço público onde sua intervenção é atribuída à histeria, falta de capacidade e alterações hormonais; e silêncio na vida privada e na família.

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A presença e a fala feminina em locais cujo acesso era até então proibido a elas é uma inovação do final do século XIX e eclode no século XX. O empenho do movimento feminista em fazer-se compreender como um movimento de luta contra a figura da mulher dominada e oprimida, vai ao encontro da compreensão de que a mulher é fruto de elaborações sociais historicamente construídas. (2005, p. 10)

A mulher foi escrita e falada pelos homens, razão pela qual elas aparecem menos no espaço público. Razão pela qual o início deste capítulo menciona a palavra “concedida”, pois, historicamente, as mulheres não escolheram onde estar, desenvolveram-se apenas, dentro do espaço que lhes foi permitido dispor.

Inserindo-se no contexto em que os direitos humanos surgiram na modernidade, ou seja, considerando a necessidade de mudança frente aos problemas do poder, da dominação e da exclusão social. As identidades segmentadas na base do gênero convivem em uma mesma sociedade e são desafiadas a coexistir na tensão da diferença.

É preciso lembrar que, desde os tempos mais remotos, há registros que comprovam a posição de submissão das mulheres frente à virilidade masculina, essa posição não é natural, foi construída e tem sido mantida até então. O universo virtual, por sua vez, reproduz o contexto social, cultural e política em relação as mulheres, pois este ambiente é alimentado por indivíduos que estão inseridos nessa sociedade patriarcal e machista.

E assim como nas relações cotidianas, as relações nas redes sociais colocam as mulheres em uma difícil situação. Se no mundo real/físico muitas mulheres incorporam as ideias machistas e as reproduzem. E constantemente se sentem culpadas por explorar seu corpo e sua sexualidade, se sentem na obrigação de serem exímias administradoras do lar, de ter filhos e todos os estereótipos que são esperados do gênero feminino, nas redes sociais o cenário será o mesmo.

Isso porque o indivíduo alienado pela subjetividade cooperante que o sistema impõe, percebe apenas essa realidade. Por que, mesmo após as primeiras agressões, algumas mulheres se mantêm dentro de casa, convivendo com a violência? (PENNA; BELO, 2017). As relações de poder são muito variadas. Sem a configuração de novas identidades não é possível a constituição de novos sujeitos sociais. Tudo está culturalmente simbolizado.

No que tange à violência de gênero, por exemplo,

não se pode esquecer que ela possui causa (consequência e reprodução) social, decorrente, principalmente, do papel reservado na sociedade às representantes do sexo feminino. Apesar de reconhecidos avanços, ainda predominam valores estritamente masculinos, restos de imposição por condição de poder. A dominação do gênero feminino pelo masculino é

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apanágio das relações sociais patriarcais, que costumam ser marcadas (e garantidas) pelo emprego de violência física e/ou psíquica (BIANCHINI, 2016, p. 137).

O dominado aplica o sistema simbólico do dominador (BOURDIEU, 2005), ou seja, a vítima tende a condescender com o agressor, porque aceita a imagem que tem de si mesma, tendo sido essa imagem feita pelo próprio sistema de dominação que a agride (MENEGHEL; MUELLER; COLLAZIOL; QUADROS, 2013), eis a relevância em investir noutro molde de educação de gênero.

O fato de o dominado reproduzir o sistema de dominação sob o qual se encontra subjugado reafirma uma crítica ao sistema de dominação e fabricação da subjetividade das mulheres nesses moldes depreciativos da sociedade patriarcal,

A relação binária vítima/agressor reflete o processo de vitimização incorporada pelas atuais políticas públicas de proteção. O ordenamento que gira em torno dessas ações cria um campo em que a vítima se vê privada de condições de refletir sobre a responsabilidade subjetiva que possui nesse processo. Esse ordenamento reproduz fielmente a passividade e reforça o processo de vitimização (PENNA; BELO, 2016, p. 5).

O patriarcalismo é um imaginário social, precisa-se de ferramentas que promovam uma ruptura com os simbolismos que formam esse cenário de dominação masculina. Nesse sentido e considerando que uma das formas recorrentes de violência de gênero se dá por meio da interação nas redes virtuais, cujo o fator anonimato contribui para a dispersão de discursos misóginos, machistas e/ou sexistas e o compartilhamento das imagens e vídeos frente à uma situação de pornografia de vingança.

Os elementos culturais que são objeto desta pesquisa, se apresentam como uma das principais estruturas das relações de gênero, uma vez que, são dinâmicos, distintos e complexos. O estudo das interações virtuais por meio de redes sociais, bem como, a participação dos usuários nesses discursos gera a manutenção de práticas machistas e desagregadoras.

A análise do espaço virtual como cenário para crimes virtuais envolvendo violência de gênero é uma análise das relações de poder no âmbito dos gêneros. O patriarcalismo e os seus simbolismos formadores e mantenedores moldam a subjetividade dos indivíduos e a identificar como natural a desigualdade entre os gêneros mesmo no espaço das redes sociais.

Ou seja, a desigualdade de gênero tem raízes profundas e se reproduz todos os dias em todos os setores da vida. Ao intentar a transposição do poder nas relações de gênero, se pretende que haja equidade na vida prática das pessoas. Para isso, é necessário um conjunto de esforços

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a curto, médio e longo prazo. Esforços políticos, econômicos e educacionais a fim de cessar a submissão de um gênero a outro.

O movimento feminista, entre outros aspectos, visibilizou a violência contra a mulher, até então considerada um assunto do âmbito privado e sem relevância, e mostrou que ela decorre da estrutura de dominação masculina. A violência entre os gêneros é um fenômeno produzido historicamente e ocorre quando existem relações de poder, como as já mencionadas, constituindo hierarquias, visíveis ou não. (MENEGHEL; MUELLER; COLLAZIOL; QUADROS, 2013)

Ao denunciar a ausência de proteção das mulheres no âmbito doméstico, se revelou o caráter privado do direito penal, embora constituído como um direito público. A constatação dessa omissão na esfera doméstica fez com que as militantes exigissem reformas legais para a proteção das mulheres (CAMPOS, 2017, p. 179) O Estado, por meio do direito penal, precisava parar de ignorar essa demanda.

Diante desse cenário, a elaboração de uma lei específica para a violência de gênero foi resultado da mobilização e do trabalho incansável e corajoso de mulheres. A Lei 11.340/06, denominada de Lei Maria da Penha fundamenta-se em normas e diretivas consagradas na Constituição Federal, na Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Violência contra a Mulher e na Convenção Interamericana para Punir e Erradicar a Violência contra a Mulher. (2013)

Toda lei que pretenda tutelar as questões de gênero será uma lei que enfrenta a violência enraizada em uma cultura sexista que mantém a desigualdade de poder entre os gêneros, cuja origem não está na vida familiar, mas faz parte das estruturas sociais de forma naturalizada e elaborar esta lei que promove a garantia de proteção e procedimentos humanizados para as vítimas era preciso. A aplicação dos procedimentos da lei não torna a sociedade discriminatória, mas diferenciada na medida em que trata desigualmente seus desiguais.

4 DA VIOLÊNCIA DE GÊNERO NAS REDES SOCIAIS E O DIREITO

O crescimento exponencial da internet e as rápidas transformações tecnológicas possibilitaram o surgimento de ferramentas e plataformas de redes sociais favorecendo a interação em ambientes virtuais. Uma das ferramentas, inclusive, perpassa o empoderamento feminino.

A internet, apesar de apresentar muitos benefícios para seus usuários, junto à sua popularidade surgiu também a preocupação com a privacidade nesses ambientes. Uma das formas recorrentes de violência contra a mulher no mundo virtual, por exemplo, é a situação de

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porn revenge, que consiste na publicação não autorizada de vídeos e imagens íntimas de uma pessoa, geralmente após um término mal resolvido e geralmente essa pessoa é a mulher. O meio virtual pode facilitar processos de desumanização do outro, mobilizados com frequência para reproduzir sistemas discriminatórios baseados em gênero, raça, orientação sexual etc.

Esse imaginário é baseado em normas socialmente construídas que fixa um lugar para a sexualidade da mulher, são normas rígidas e tradicionais que autorizam socialmente o julgamento e a punição daquelas que não seguem os padrões. Do mesmo modo, padrões de masculinidade atuam para que os homens não passem pelo mesmo julgamento moral que as mulheres, para eles, muitas vezes, ter uma foto íntima divulgada trata-se de uma afirmação da sua masculinidade.

De acordo com dados do site SaferNet, que presta apoio a vítimas de crimes virtuais, em 2013 foram feitos cento e um pedidos de ajuda e no ano de 2014 o número subiu para duzentos e vinte e quatro pedidos, sem contar os casos não contabilizados. Por ser um espaço relativamente novo e ainda não bem regulamentado, o mundo virtual causa controvérsias nos Tribunais brasileiros e, muitas vezes, a responsabilização pelos crimes pode ser comprometida por lacunas jurídicas.

Precisa-se trabalhar o acesso à justiça na questão de crimes virtuais. Essa é uma outra questão relevante. O número em violência contra mulher defasa o país social, cultural e politicamente, gera gastos públicos em saúde, em segurança pública, desqualifica as mulheres no mercado de trabalho e gera desequilíbrio familiar. O impacto social, econômico e político dessas informações tem consequências de curto, médio e longo prazo.

Como a internet se tornou outro mecanismo por meio do qual se perpetua a violência de gênero; portanto, deve-se buscar o recurso jurídico para regulamentar os crimes virtuais, pois, a lei penal ainda é um meio de proteção, em consonância a isso é necessário educar os sujeitos ao utilizar o espaço virtual, bem como, empoderar mulheres a fim de reduzir a subordinação de um sexo a outro.

A violência não existiria ou seria ao menos atenuada, se normas socialmente construídas não fixassem um lugar para a sexualidade das mulheres associado a ideais de recato, privacidade e falta de direito ao prazer. E o espaço virtual possibilita que os sujeitos tenham comportamentos que seriam inaceitáveis em uma conversa física.

A legislação atual permite o enquadramento do crime virtual sob a ótica da responsabilidade civil e criminal. Nesta última esfera, o Código Penal dá conta dos crimes contra

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a honra (injúria, calúnia e difamação), bem como, a Lei Maria da Penha promove amparo às vítimas que tenham sofrido violência psicológica e danos morais.

A Lei n. 12.737/2012 incluiu no Código Penal uma série de infrações praticadas no meio digital e prevê para quem divulgar conteúdo roubado de dispositivo informático. Conta-se ainda com o Projeto de Lei n. 5.555/2013 que pretende instituir uma espécie de Lei Maria da Penha virtual. Mas esse aparato jurídico não dá conta de estancar a reprodução de violência de gênero nas redes.

Portanto, será necessário trabalhar, de forma interdisciplinar, com o poder simbólico do direito penal, uma vez que, determinadas decisões penais tem como força motriz o simbolismo por trás da decisão em criminalizar determinadas condutas [são exemplos o feminicídio, a lei Maria da penha, o crime de racismo], mais do que por sua sanção punitiva propriamente dita.

Mas sem uma educação de gênero, de comportamento no espaço virtual e, sobretudo, de reprodução de tradições machistas, de ideias patriarcais, ou seja, sem a mudança no imaginário social posto como está, sem que haja uma vertiginosa mudança nos símbolos que norteiam uma cultura, a desigualdade de gênero seguirá sendo reproduzida.

A violência de gênero é uma forma de violação aos direitos humanos. Os direitos das mulheres são indissociáveis dos direitos humanos, não há que se falar em garantia universal de direitos sem que as mulheres, enquanto humanas e cidadãs, sejam respeitadas. Não há que se falar em garantia universal de direitos enquanto qualquer ser humano, de qualquer raça, gênero, idenficação sexual, etnia, religião, não tiver direitos básicos e mínimos para sua subsistência garantidos e respeitados.

E para modificar essa realidade, são necessários recursos materiais, humanos e financeiros, mas um árduo e demorado trajeto de desconstrução dos mecanismos socioculturais e políticos que mantém as desigualdades e as hierarquias de poder entre os gêneros

5 CONCLUSÃO

Diante do exposto, se pode dizer que a sociedade posta como está mantém a desigualdade de gênero, no mundo real e no mundo virtual e, portanto, precisa-se da proteção estatal; seja pelo direito penal, pelos procedimentos do processo penal, seja por políticas públicas ou por medidas de segurança.

É real, é agora, é urgente. Todos os dias mulheres tem seus corpos expostos via e-mail, via aplicativos de relacionamento porque seus companheiros não respeitam o fim da relação. E pode- se reproduzir esse cenário no espaço virtual, pode-se utilizar do mesmo espaço para

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promover o empoderamento feminino e ideias de igualdade. Seja pelo acesso a informação, a conteúdo que possibilite esclarecimento.

Seja por meio da criação de aplicativos por equipes multidisciplinares preparadas para tratar da questão e questionar padrões. Seja por meio de uma legislação que consiga punir o agressor. A internet é um fenômeno que tem alcançado todos os lugares do globo, não só não se pode ignorar este fato, como valer-se dele para pensar em novos mecanismos para tratar sobre gênero.

REFERÊNCIAS

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