• Nenhum resultado encontrado

REDE URBANA REGIONAL E A INSERÇÃO OCUPACIONAL DOS MIGRANTES

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2019

Share "REDE URBANA REGIONAL E A INSERÇÃO OCUPACIONAL DOS MIGRANTES"

Copied!
13
0
0

Texto

(1)

REDE URBANA REGIONAL E A INSERÇÃO OCUPACIONAL

DOS MIGRANTES

Ricardo Antunes Dantas de Oliveira1

Introdução

Rede urbana é o conjunto de centros urbanos funcionalmente articulados entre si, sendo o meio através do qual produção, circulação e consumo se realizam efetivamente (Corrêa, 2006). Caracteriza-se como a expressão territorial da divisão social do trabalho, ou seja, a diferenciação espacial da produção. Desta maneira, os diferentes centros urbanos de uma região se inscrevem de diversas maneiras nesta divisão. Esta divisão da produção implica numa variação da tipologia de ocupações predominantes nos vários municípios, condicionando e caracterizando as possibilidades de inserção das pessoas ao mercado de trabalho.

A mobilidade populacional é componente do conjunto de interações espaciais que articulam as das redes urbanas, em conjunto com a circulação de mercadorias, capitais e informações (Corrêa, 1997). Como a tipologia de ocupações varia intra regionalmente, as características da inserção dos migrantes também são diferenciadas.

Neste contexto, buscou-se avaliar a inserção ocupacional dos migrantes recentes2 em três municípios da região de Ribeirão Preto3: a própria sede, Sertãozinho e Barrinha; visando verificar se as características desta inserção se enquadram naquelas da diferenciação espacial da produção. Além disto, busca-se articular estas características à origem destes migrantes e aos seus níveis educacionais.

1 Doutorando em Demografia – IFCH/UNICAMP

2 São considerados migrantes recentes aqueles que cinco anos antes da data do Censo viviam em outro

município.

3 Logicamente, há que se considerar que os totais populacionais dos três municípios em todas as questões:

(2)

Os três municípios foram escolhidos por estarem inseridos distintamente em relação ao setor sucro-alcooleiro. Ribeirão Preto, sede regional, é centro comercial e de serviços, com grande importância daqueles relacionados ao setor agropecuário. Sertãozinho é um município com grande importância do setor industrial, no qual se destacam as usinas de cana-de-açúcar e as indústrias de máquinas e equipamentos para o setor sucro-alcooleiro. Barrinha, por sua vez, é caracterizado pela inserção enquanto produtora de matéria-prima para o setor.

Tal análise visa contribuir para a discussão acerca das vinculações entre a mobilidade populacional e a divisão territorial do trabalho, supondo ser possível verificar distinções relevantes no contexto regional escolhido, especialmente a partir das articulações com as diferentes origens e com os níveis educacionais dos migrantes.

Materiais e Métodos

Para realização da análise foram utilizadas informações do Censo Demográfico de 2000 com relação aos três municípios selecionados, considerando as seguintes variáveis: V0424 – Residência em 31 de julho de 1995; V4452 – Código Novo da Ocupação; V4250 – Código do Município de Residência; e, V4300 – Anos de Estudo. Tais informações fazem parte do questionário da Amostra, sendo necessário “pesá-las” no seu processamento, para que as informações se refiram ao total da população municipal.

Com a variável relativa ao lugar de residência cinco anos antes da data do Censo, ou seja em 31 de julho de 1995, se visou a obtenção de informações referentes às pessoas que migraram para os municípios num período recente com relação ao ano de 20004.

O código da ocupação está relacionado à função, cargo, profissão ou ofício desempenhado por uma pessoa numa atividade econômica, referindo-se sempre ao trabalho principal. Foi utilizada para verificar o tipo de inserção ocupacional dos migrantes recentes e se estes apresentavam uma inserção diferenciada daqueles não migrantes.

O código do município de residência refere-se ao município no qual viviam as pessoas que não residiam no município especificado cinco anos antes, excluindo-se os

4 São considerados apenas os migrantes nacionais, ou seja, as pessoas cujos deslocamentos tiveram

(3)

que viviam em outro país e os que não haviam nascido. Foi utilizado para avaliar as vinculações entre as diferentes origens e a inserção no mercado de trabalho local.

A última variável utilizada refere-se aos anos de estudo da pessoa recenseada, estabelecida em função do último curso e série concluídos. Sua utilização esteve relacionada à verificação das relações entre ocupação e nível educacional para os migrantes recentes.

A obtenção das informações e os cruzamentos necessários à análise foram realizados através do software SPSS. O primeiro passo foi a avaliação da inserção ocupacional dos migrantes recentes, a partir do cruzamento entre as variáveis V0424 e V4452. A partir daí, foi realizado cruzamento com a variável 4250, visando verificar se existem articulações entre a inserção ocupacional e os municípios de residência anterior. O último cruzamento foi realizado com a variável V4300, buscando vincular os níveis educacionais às dimensões observadas a partir das outras análises.

Diversidade Regional das Ocupações

Um primeiro elemento relevante quanto às características dos municípios em relação à inserção na divisão territorial do trabalho pode ser verificada através dos percentuais das pessoas de 10 anos ou mais nos grandes grupos de ocupação, registrados na tabela abaixo.

Tabela 1: Ocupação das pessoas com 10 anos ou mais – 2000

Grandes grupos de ocupação no trabalho principal – (%) Ribeirão Preto Sertãozinho Barrinha

Membros superiores, dirigentes e gerentes 5,34 3,64 1,53

Profissionais das ciências e artes 10,61 6,38 1,77

Técnicos de nível médio 9,83 8,35 6,33

Trabalhadores de serviços administrativos 12,59 9,22 4,53

Serviços e comércio 35,14 29,82 27,12

Trabalhadores agropecuários, florestais, de caça e pesca 1,4 8,86 25,53 Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais 20,27 28,53 29,43

Totais absolutos 221.241 39.940 8.895

Fonte: Censo Demográfico 2000 – IBGE

(4)

muito distintos, é possível verificar distinções entre as características ocupacionais dos três municípios selecionados. Destaca-se a relevância dos dois primeiros grupos na principal cidade da região, Ribeirão Preto, que apresentava também a maior porcentagem de pessoas ocupadas nos serviços e comércio.

Sertãozinho e Barrinha se caracterizam pela importância dos grupos relacionados à produção de bens e serviços industriais. Porém, conforme informações censitárias do ano de 20005, enquanto o primeiro tinha 93,9% dos que estavam ocupados em atividade industriais trabalhando no próprio município, o segundo tem apenas 32% na mesma situação6, sendo que outros 19,2% trabalhavam em Ribeirão Preto e 15,6% em Sertãozinho. A principal cidade da região tinha 98,5% dos trabalhadores industriais empregados no próprio município.

O município de Barrinha também é marcado pela grande porcentagem de pessoas ocupadas na agropecuária e outras atividades primárias. Sendo que 90% eram trabalhadores agrícolas em funções menos especializadas7 e que devido às características da economia regional e local, muito provavelmente trabalhavam na lavoura canavieira. Destes, 43,2% estavam ocupados no próprio município.

Através das informações elencadas é possível verificar as diferenças quanto às atividades econômicas predominantes nos três municípios selecionados, caracterizando a divisão territorial do trabalho em nível regional. Condicionados às atividades, as ocupações predominantes apresentam variações.

A Inserção Ocupacional dos Migrantes Recentes

A categoria ocupacional dos migrantes recentes está vinculada às características econômicas dos municípios e as próprias possibilidades de inserção dessas pessoas ao mercado de trabalho. Regionalmente, podem ser verificadas importantes variações quanto à tipologia local desta inserção. A tabela abaixo traz informações referentes aos migrantes recentes em Barrinha. Mais à frente, estão registradas as mesmas informações quanto à Sertãzinho e Ribeirão Preto.

5 Variável V4276 – Código do Município de Trabalho ou Estudo, cruzado com a variável V4452 referida

anteriormente.

6 Evidência da mobilidade pendular, que Baeninger (2005) considera como uma das expressões das novas

territorialidades das dinâmicas espaciais da população, que eram anteriormente característicos das regiões metropolitanas, mas que em períodos recentes passaram a ser observados em diversas áreas do interior.

(5)

Através das informações registradas verifica-se que os migrantes recentes estavam bastante concentrados em termos ocupacionais, já que mais de 60% deles estão inseridos em cinco ocupações específicas. Destaca-se a relevância dos trabalhadores agrícolas de menor especialização, possivelmente cortadores de cana devido às características econômicas locais.

Tabela 2: Inserção Ocupacional dos Migrantes - Barrinha, 20008

Ocupações Freqüência %

Trabalhadores Agrícolas 416 39,25

Trabalhadores do Serviço Doméstico 157 14,81

Ajudantes de Obras Civis 53 5,00

Supervisores da Construção Civil 25 2,36

Vendedores e Demonstradores 24 2,26

Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais 196 18,49

Serviços e comércio 51 4,81

Trabalhadores de serviços administrativos 45 4,25

Profissionais das ciências e artes 34 3,21

Técnicos de nível médio 28 2,64

Membros superiores, dirigentes e gerentes 13 1,23

Trabalhadores de reparação e manutenção 11 1,04

Trabalhadores agropecuários, florestais, de caça e pesca 7 0,66

Totais 1.060 100

Fonte: Censo Demográfico 2000 – IBGE

Outras ocupações de baixa especialização também se destacam como os trabalhadores dos serviços domésticos. Em conjunto com os trabalhadores agrícolas perfazem mais da metade das ocupações dos migrantes recentes. Além disso, quando comparamos essas ocupações específicas como os grandes grupos nos quais estão inseridas: Serviços e Comércio e Trabalhadores agropecuários, florestais, de caça e pesca, respectivamente; é possível verificar que compõem a maioria absoluta das ocupações nos dois grandes grupos.

Comparando-se com as informações da Tabela 1 acima, verifica-se que os migrantes também têm representação nas ocupações industriais. Porém, como destacado anteriormente, a maioria das pessoas ocupadas neste grande grupo trabalha em outros municípios.

8 As ocupações estão divididas em dois tipos: ocupações específicas e grandes grupos de ocupações (em

(6)

A inserção ocupacional dos migrantes recentes em Sertãozinho registra algumas distinções em relação à daqueles residentes em Barrinha. Tal fato pode ser constatado através da tabela abaixo.

Tabela 3: Inserção Ocupacional dos Migrantes - Sertãozinho, 2000

Ocupações Freqüência %

Trabalhadores Agrícolas 359 11,12

Trabalhadores do Serviço Doméstico 261 8,08

Vendedores e Demonstradores 148 4,58

Ajudantes de Obras Civis 112 3,47

Condutores de Veículos sobre rodas 109 3,38

Vendedores Ambulantes 98 3,03

Operadores de Máquinas de Costura de Roupas 86 2,66

Cozinheiros 83 2,57

Trabalhadores nos Serviços de Higiene e Embelezamento 68 2,11

Escriturários em Geral, Agentes, Assistentes e Auxiliares Administrativos 65 2,01

Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais 668 20,69

Serviços e comércio 271 8,39

Profissionais das ciências e artes 233 7,22

Técnicos de nível médio 229 7,09

Trabalhadores de serviços administrativos 160 4,96

Trabalhadores de reparação e manutenção 128 3,96

Membros superiores, dirigentes e gerentes 79 2,45

Trabalhadores agropecuários, florestais, de caça e pesca 52 1,61

Membros das Forças Armadas, Policiais e Bombeiros Militares 20 0,62

Totais 3.229 100

Fonte: Censo Demográfico 2000 – IBGE

A inserção ocupacional das pessoas que migraram para Sertãozinho entre 1995 e 2000 é mais diversificada do que a daqueles que o fizeram para Barrinha. Enquanto neste último, duas ocupações concentravam mais de 50% das pessoas, no anterior o conjunto das dez ocupações com maior representatividade agregava 43% das pessoas.

(7)

presença de algumas com maior complexidade (Condutores de Veículos sobre Rodas e Operadores de Máquinas de Costura de Roupas). Além disso, com relação aos grupos agregados de ocupações, pode-se verificar maior participação dos ocupados nos Serviços e Comércio e dos Profissionais das Ciências e Artes.

Através das informações registradas, se verifica que o mercado de trabalho de Sertãozinho é mais diversificado e possibilita maior variedade de tipos de inserção aos migrantes. A maior diversificação está relacionada a uma inserção mais complexa à divisão regional do trabalho em comparação com Barrinha.

A comparação com o principal centro urbano regional, Ribeirão Preto, possibilita considerações importantes. Abaixo estão registradas as informações referentes a este município.

Tabela 4: Inserção Ocupacional dos Migrantes – Ribeirão Preto, 2000

Ocupações Freqüência %

Serviços Domésticos 1.755 9,04

Vendedores e Demonstradores 1.413 7,28

Gerentes de Áreas de Apoio 632 3,26

Representantes Comerciais e Técnicos de Venda 577 2,97

Manutenção e Conservação de Edifícios e Logradouros 543 2,80

Gerentes de Produção e Operações 513 2,64

Vendedores Ambulantes 464 2,39

Escriturários em Geral, Agentes, Assistentes e Auxiliares Administrativos 463 2,39

Outros Trabalhadores dos Serviços 453 2,33

Vigilantes e Guardas de Segurança 441 2,27

Médicos 438 2,26

Cozinheiros 408 2,10

Garçons, Barmen e Copeiros 390 2,01

Trabalhadores da produção de bens e serviços industriais 3.720 19,17

Profissionais das ciências e artes 2.164 11,15

Trabalhadores de serviços administrativos 1.569 8,09

Serviços e comércio 1.380 7,11

Técnicos de nível médio 994 5,12

Membros das Forças Armadas, Policiais e Bombeiros Militares 399 2,06

Trabalhadores agropecuários, florestais, de caça e pesca 303 1,56

Trabalhadores de reparação e manutenção 264 1,36

Membros superiores, dirigentes e gerentes 120 0,62

Totais 19.403 100

Fonte: Censo Demográfico 2000 – IBGE

(8)

ocupações relacionadas aos Serviços e ao Comércio, assim como as ocupações industriais em geral.

Assim como Sertãozinho, Ribeirão Preto apresentou cerca de 43% dos ocupados nas dez com maior representatividade, indicando também uma maior diversificação do mercado de trabalho em comparação com Barrinha. Porém, o principal centro regional destaca-se ainda mais pela importante presença de ocupações com alta especialização, como áreas gerenciais e médicas, ao contrário dos outros dois municípios.

Através das informações referentes aos três municípios é possível verificar que o tipo de inserção local à divisão territorial do trabalho em nível regional implica na tipologia de ocupações existente. Por isso, centros maiores e com economia mais diversificada têm uma maior complexidade das ocupações, que estão expressas também nas características da inserção da população que migrou para os três municípios.

Ocupações de menor especialização predominam nos três municípios, porém de maneira cada vez menos concentrada quando são comparadas, nesta ordem, Barrinha, Sertãozinho e Ribeirão Preto. Além disto, a diversidade e a complexidade também são ampliadas nesta ordenação.

As Origens dos Migrantes Recentes

A origem dos deslocamentos das pessoas para os três municípios selecionados é dimensão relevante a ser articulada à inserção ocupacional desta população. Logicamente, não podem ser estabelecidas relações causais e diretas entre origem e inserção ocupacional, porém a diversificação daquela primeira marca as características desta última.

A partir das freqüências obtidas através da variável V4250 (Código do Município de Residência) foi construída a tabela abaixo que registra em conjunto as informações para os três municípios. Novamente é importante ressaltar que embora os totais absolutos sejam muito diferenciados, as participações relativas permitem destacar questões importantes.

(9)

esses valores eram, respectivamente, 38,55% e 28,23%. Novamente, de acordo com o maior tamanho populacional do centro urbano, maior a diversidade das origens dos deslocamentos que a ele se dirigiram.

Tabela 5: Municípios de Residência Anterior dos Migrantes – 2000

Barrinha % Sertãozinho % Ribeirão Preto % Minas Novas – MG 11,97 Ribeirão Preto – SP 11,28 São Paulo – SP 14,22

Sertãozinho – SP 8,39 São Paulo – SP 4,57 Franca – SP 1,87

Ribeirão Preto – SP 5,26 Pontal – SP 3,74 Sertãozinho – SP 1,78

Berilo – MG 4,89 Passos – MG 2,66 Ipirá – BA 1,30

São Paulo – SP 4,58 Pitangueiras – SP 2,57 Campinas – SP 1,25 Pradópolis – SP 3,44 Nova Granada – SP 2,50 Uberaba – MG 1,20

Salinas – MG 3,27 Guariba – SP 2,24 Uberlândia – MG 1,13

Turmalina – MG 3,19 Pescador – MG 2,07 Jaboticabal – SP 1,12 Jaboticabal – SP 2,81 Barrinha – SP 1,98 Bebedouro – SP 1,10 Limeira – SP 2,65 Nantes – SP 1,70 S. J. Rio Preto – SP 1,09

Ipirá – BA 2,64 Sapé – PB 1,66 Brasilia – DF 1,08

Capim Grosso – BA 2,13 Guarulhos – SP 1,58 Maceió – AL 1,08

SP (outros) 21,16 Sem especificação 1,28 SP (outros) 35,72

MG 10,05 SP (Outros) 29,13 MG 10,66

BA 5,70 MG 10,31 BA 4,53

AL 1,78 BA 8,09 PR 3,45

RO 1,56 PR 2,50 GO 2,16

PE 1,16 GO 1,99 MA 1,79

MS 1,16 PE 1,38 RJ 1,46

PR 0,72 AL 1,26 MS 1,44

Sem especificação 0,43 MA 1,21 PE 1,35

PA 0,40 CE 1,12 AL 1,24

Outros 0,66 Outros 3,18 Outros 7,98

Total absoluto 2.553 Total absoluto 7.137 Total absoluto 39.128

Fonte: Censo Demográfico 2000 – IBGE

As inter-relações de deslocamentos entre os municípios também são marcantes. Para os três municípios, ao menos um dos outros tinha posição destacada entre as origens. Outros municípios da mesma região também tiveram papel relevante quanto às origens dos movimentos nos três contextos locais9. Tais informações permitem ressaltar as relações determinadas pelo mercado de trabalho regional, mas também pelas diferenças relacionadas aos mercados imobiliários em nível local.

Baeninger (1999) destaca o crescimento dos movimentos intra-regionais como marcantes no contexto das características recentes da redistribuição populacional no estado de São Paulo. Além disto, a autora destacou a saída de população de municípios

9 Barrinha: Sertãozinho, Ribeirão Preto, Pradópolis e Jaboticabal; Sertãozinho:Ribeirão Preto, Pontal,

(10)

da Região Metropolitana de São Paulo (RMSP) em direção a todas as regiões do interior do estado como elemento marcante, o que é possível verificar nos três municípios analisados.

A questão relevante quanto às origens dos migrantes está naquelas predominantes, que demonstram as distinções em nível regional. Quatro municípios do Vale do Jequitinhonha (Minas Gerais), uma das regiões com piores indicadores sociais do país, concentravam 23,33% das pessoas que se destinaram à Barrinha. Além disto, se destacaram dois municípios do interior baiano e Pradópolis, outro município canavieiro da região de Ribeirão Preto.

Sertãozinho recebeu fluxos mais variados, nos quais foram registraras porcentagens relevantes de pessoas provenientes de municípios maiores do próprio estado, além de pequenos municípios da própria região. Ao contrário de Barrinha, não há uma presença tão significativa de migrantes provenientes de regiões marcadamente menos desenvolvidas do país.

Por sua importância em nível estadual e até nacional, Ribeirão Preto registrou fluxos ainda mais diversificados, com considerável concentração dos originários da capital paulista, que compreendeu a metade do conjunto dos valores mais significativos. Além disto, se destacaram municípios de grande porte do próprio interior paulista e de Minas Gerais, assim como a capital nacional e a do estado de Alagoas.

A inserção mais complexa de um município à divisão territorial do trabalho em nível regional faz com que as possibilidades ocupacionais das pessoas que a ele se dirigem sejam mais amplas. Desta forma, o município tem possibilidades de atrair pessoas de estratos sociais mais diversificadas e com variado grau de especialização, inclusive de ocupações que demandam maior instrução. A importância das origens em municípios situados nas regiões mais desenvolvidas economicamente entre os fluxos que se destinam a Ribeirão Preto ilustra tal fato.

(11)

agrícolas com menor especialização, eram provenientes de municípios situados no Vale do Jequitinhonha em Minas Gerais10.

O município de Sertãozinho apresentou características intermediárias entre os dois anteriores, já que sua inserção na divisão regional do trabalho não é tão complexa como a de Ribeirão Preto, mas também não é baseada em atividades primárias como a de Barrinha. Por isto, as origens dos migrantes são mais diversificadas do que nesse último e menos do que na principal cidade da região.

Níveis Educacionais

A diversidade dos tipos de inserção ocupacional dos migrantes em sua articulação com a divisão regional do trabalho também pode ser avaliada a partir dos níveis educacionais dos migrantes. A tabela abaixo traz informações referentes aos percentuais de populações não-migrantes e migrantes em grupos relativos ao número de anos de estudo nos três municípios selecionados.

Tabela 6: Níveis Educacionais de Não-Migrantes e Migrantes - 200011

Barrinha Sertãozinho Ribeirão Preto Não Mig. Mig. Não Mig. Mig. Não Mig. Mig.

Sem instrução 25,79 18,10 19,95 15,04 16,23 10,36

1 a 4 34,57 41,79 30,70 33,37 25,23 23,55

5 a 9 25,66 33,49 26,38 28,45 24,76 25,63

9 a 11 11,48 4,15 15,96 15,74 21,23 22,01

12 e mais 1,37 1,65 6,34 6,60 12,10 18,02

Não determinado 1,04 0,43 0,57 0,62 0,37 0,29

Alfabetização de Adultos 0,10 0,39 0,11 0,20 0,08 0,14

Totais Absolutos 21.405 2.553 86.898 7.136 462.754 39.125 Fonte: Censo Demográfico 2000 – IBGE

Algumas questões podem ser destacadas para todos os municípios individualmente e outras se são avaliadas de maneira comparativa. Havia um número maior de pessoas sem instrução nos três municípios entre os não migrantes, o que pode estar relacionado ao maior número de crianças entre estes do que entre os migrantes.

10 Segundo informações do Censo Demográfico 2000.

11 É necessário ressaltar que os migrantes apresentam perfil etário distinto dos não-migrantes, com maior

(12)

A comparação entre os três municípios aponta que os migrantes para Barrinha em todos os grupos de anos de estudo considerados registraram piores condições que os não-migrantes. Isto, mesmo tendo um perfil etário mais concentrado em idades que deveriam apresentar mais anos de estudo.

Nos outros municípios foram registradas situações mais equilibradas, especialmente no caso de Sertãozinho, ou até com a população migrante apresentando um perfil de mais anos de estudo como verificado em relação a Ribeirão Preto, se tomarmos especificamente o grupo com 12 anos e mais de estudo.

Analisando os três municípios selecionados do menos para o mais “desenvolvido” (Barrinha, Sertãozinho e Ribeirão Preto, respectivamente) se verifica que as pessoas com maior tempo de estudo se concentram no município de maior complexidade em termos de estrutura sócio-econômica, enquanto que o contrário ocorre com os que apresentam menor grau educacional.

Os níveis educacionais também expressam a divisão territorial do trabalho, pois centros urbanos com inserção mais complexa têm maiores concentrações de pessoas com mais anos de estudos do que centros urbanos com inserção primária. Isto está expresso tanto nas características dos não-migrantes, quanto nas dos migrantes.

Considerações Finais

A divisão territorial do trabalho decorre do aumento da complexidade da divisão social do trabalho (Singer, 1973), dimensão que Faria (1978) considera fundamental para a compreensão do processo de urbanização. Por ser um dos tipos de interação espacial que articulam as redes urbanas (Corrêa, 1997), expressando a divisão territorial do trabalho, se faz relevante analisar a mobilidade populacional também neste contexto.

A possível contribuição desta análise é caracterizar através de dados censitários questões teóricas muito relevantes, como a divisão social do trabalho e sua expressão espacial, para as quais Faria (1978) cobrava uma maior e melhor operacionalização. Ainda que bastante restritos, os resultados ampliam dimensões observadas e apontam a complexidade da realidade sócio-econômica em nível regional.

(13)

articulações. Aprofundar a utilização destas abordagens, tornando-a mais complexa e visando ampliar a análise destas questões se apresenta como o maior desafio.

Referências Bibliográficas

BAENINGER, R. São Paulo e suas Migrações no Final do Século 20. São Paulo em Perspectiva. São Paulo: Fundação SEADE, v.19, n.3, p. 84 – 96, 2005.

BAENINGER, R. Região, Metrópole e Interior: espaços ganhadores e espaços perdedores nas migrações recentes – Brasil, 1980 – 1996. (Tese de Doutorado). Campinas-SP, IFCH – UNICAMP, 1999.

CORRÊA, R. L. Estudos sobre a Rede Urbana. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2006.

CORRÊA, R. Interações Espaciais. Explorações Geográficas: percursos no fim do século. Castro, I. E.; Gomes, P. C. C.; Corrêa, R. L. (org.). Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, p. 279 – 318, 1997.

FARIA, V. O processo de urbanização no Brasil: algumas notas para seu estudo e interpretação. Anais do I Encontro Nacional de Estudos Populacionais, São Paulo: p.89-108, 1978.

FUNDAÇÂO INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Censo

Demográfico de 2000. Rio de Janeiro: IBGE, 2003. Disponível em: www.ibge.gov.br.

SINGER, P. À Guisa de Introdução: urbanização e classes sociais. Economia Política da Urbanização. São Paulo: Editora Brasiliense e CEBRAP, p. 9 – 28, 1973a.

Imagem

Tabela 1: Ocupação das pessoas com 10 anos ou mais – 2000
Tabela 2: Inserção Ocupacional dos Migrantes - Barrinha, 2000 8
Tabela 3: Inserção Ocupacional dos Migrantes - Sertãozinho, 2000
Tabela 4: Inserção Ocupacional dos Migrantes – Ribeirão Preto, 2000
+3

Referências

Documentos relacionados

A integração cultural no Mercosul também passa pelos governos subnacionais, na medida em que estes podem organizar feiras e intercâmbios de grupos musicais,

The hours of care required by the patients identified in the present study (Period 1: 17.8±5 hours, and Period 2: 17.7±5 hours) were simi- lar to the recommendation of Resolution

28. Capacitação, Qualidade de Vida e Autonomia de Deficientes Profundos   73 29. Integração Social em Unidades de Lares/Residências e Unidades de Respiro   75

A ilustração abaixo representa parte do gráfico de um polinômio cúbico p(x) com coeficientes reais e coeficiente dominante positivo.. Se o quadrado tem lado 12, indique

Inicia-se por reconhecer a integração e a mútua recorrência entre ensino, aprendizagem e avaliação, considerando-os como elementos do processo didático (processo de

Logo, o objetivo desse estudo foi avaliar a frequência de dor lombar em operadoras de telemarketing de uma empresa da cidade de Santa Maria, RS, bem como sua situação laboral e

fifiäívmmmfi também nm ümngwwmfim Hafiimnal warm vm¶gätmF ü. pvnJ@tm~dwMLfii dm üfimutmflm Paula Úfllgadm W qua trata

Nos termos da legislação em vigor, para que a mensagem de correio eletrônico tenha valor documental, isto é, para que possa ser aceito como documento original, é necessário existir