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língua Portuguesa/Literatura Brasileira

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Academic year: 2021

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Texto

(1)

Caderno de prova

Este caderno, com dezesseis páginas numeradas sequencialmente, contém dez questões de Língua Portuguesa/Literatura Brasileira.

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Instruções

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2. Verifique se seu nome, seu número de inscrição e seu número do documento de identidade estão corretos nas sobrecapas dos três cadernos.

Se houver algum erro, notifique o fiscal.

3. Destaque, das sobrecapas, os comprovantes que têm seu nome e leve-os com você.

4. Ao receber autorização para abrir os cadernos, verifique se a impressão, a paginação e a numeração das questões estão corretas.

Se houver algum erro, notifique o fiscal.

5. Todas as respostas e o desenvolvimento das soluções, quando necessário, deverão ser apresentados nos espaços apropriados, com caneta azul ou preta.

Não serão consideradas as questões respondidas fora desses espaços.

Informações gerais

O tempo disponível para fazer as provas é de cinco horas. Nada mais poderá ser registrado após o término desse prazo.

Ao terminar, entregue os três cadernos ao fiscal.

Nas salas de prova, não será permitido aos candidatos portar arma de fogo, fumar, usar relógio digital ou boné de qualquer tipo, bem como utilizar corretores ortográficos líquidos ou similares.

Será eliminado do Vestibular Estadual 2013 o candidato que, durante a prova, utilizar qualquer instrumento de cálculo e/ou qualquer meio de obtenção de informações, eletrônicos ou não, tais como calculadoras, agendas, computadores, rádios, telefones, receptores, livros e anotações.

Será também eliminado o candidato que se ausentar da sala levando consigo qualquer material de prova.

Boa prova!

língua portuguesa/literatura Brasileira

02/12/2012

(2)

Língua Portuguesa / Literatura Brasileira

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 3

Língua

Esta língua é como um elástico que espicharam pelo mundo.

No início era tensa, de tão clássica.

Com o tempo, se foi amaciando, foi-se tornando romântica, incorporando os termos nativos e amolecendo nas folhas de bananeira as expressões mais sisudas.

Um elástico que já não se pode mais trocar, de tão usado;

nem se arrebenta mais, de tão forte.

Um elástico assim como é a vida que nunca volta ao ponto de partida.

GILBERTO MENDONÇA TELES Hora aberta: poemas reunidos. Rio de Janeiro: José Olympio; Brasília: INL, 1986.

5

10

A terceira estrofe do poema Língua faz referência a uma importante transformação na expressão literária da língua portuguesa no Brasil.

Identifique o movimento artístico que se relaciona diretamente com essa transformação, situando-o cronologicamente. Em seguida, transcreva um trecho que comprove essa transformação e explique-o.

Questão 01

TEXTO I

(3)

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO

4

A segunda e a terceira estrofes retratam a língua em imagens opostas. Ao estado de rigidez se segue o de uma mudança gradual.

Considerando a terceira estrofe, apresente o recurso gramatical que o autor utiliza para exprimir essa gradação e o verso que reafirma a rigidez já expressa na segunda estrofe.

Questão 02

Para o senso comum, o uso duradouro e frequente de certos objetos tende a causar desgaste e a exigir sua substituição. Uma referência a essa ideia vem expressa em dois versos do poema.

Transcreva esses versos. Em seguida, explique por que, segundo o poema, o uso da língua não confirma o senso comum.

Questão 03

(4)

Língua Portuguesa / Literatura Brasileira

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 5

As descontroladas

As primeiras mulheres que passaram na calçada da Rio Branco chamavam-se melindrosas.

Eram um tanto afetadas, com seu vestido de cintura baixa e longas franjas, mas a julgar por uma caricatura célebre de J. Carlos tinham sempre uma multidão de almofadinhas correndo atrás. O mundo, cem anos depois, mudou pouco no essencial. Diz-se agora que o homem “corre atrás do prejuízo”. De resto, porém, a versão nacional do assim caminha a humanidade segue o mesmo cortejo de sempre pela Rio Branco — com o detalhe que as mulheres trocaram as franjas pelo cós baixo da calça da Gang. E, evidentemente, não são mais chamadas de melindrosas.

Elas já atenderam por vários nomes. Uma “uva” era aquela que, de tão suculenta e bem-feita de curvas, devia abrir as folhas de sua parreira e deliciar os machos com a eternidade de sua sombra. Há cem anos as mulheres que circulam pela Rio Branco já foram chamadas de tudo e, diga-se a bem da verdade, algumas atenderam. Por aqui passou o “broto”, o “avião”, o “violão”, a

“certinha”, o “pedaço”, a “deusa”, a “boazuda”, o “pitéu”, a “gata” e tantas outras que podem não estar mais no mapa, como as mulatas do Sargentelli, mas já estão no Houaiss eletrônico. Houve um momento que, de tão belas, chegaram a ficar perigosas. Chamavam-nas “pedaço de mau caminho” ou “chave de cadeia”. Algumas, de carne tão tenra, eram “frangas”.

Havia, de um modo geral, um louvor respeitoso na identificação de cada um desses tipos que sucederam as melindrosas. Gosto de lembrar daquela, ali pelo início dos 60, que era um “suco”.

Talvez porque sucedesse o tipo de “uva” e fosse tão aperfeiçoada no inevitável processo de evolução da espécie que já viesse sem casca e, principalmente, sem os caroços. Sempre prontinhas para beber. De uns tempos para cá, quando se pensava que na esquina surgiria um vinho de safra especial, a coisa avinagrou. As mulheres ficam cada vez mais lindas mas os homens, na hora de homenageá-las, inventam rótulos de carinho duvidoso. O “broto”, o “violão” e o “pitéu” na versão arroba ponto com 2000 era a “popozuda”. Depois, software 2001, veio a “cachorra”, a “sarada”.

Pasmem: era elogio. Algumas continuavam atendendo.

Agora está entrando em cena, perfilada num funk do grupo As Panteras — um rótulo que, a propósito, notou a evolução das “gatas” —, a mulher do tipo “descontrolada”. (...). Não é exatamente o que o almofadinha lá do início diria no encaminhamento do eterno processo sedutivo, mas, afinal, homem nenhum também carrega mais almofadas para se sentar no bonde. Sequer bondes há. Já fomos “pães”. Muito doce, não pegou. Somos todos lamentáveis

“tigrões” em nossa triste sina de matar um leão por dia.

Elas mereciam verbetes melhores, que se lhes ajustassem perfeitos, redondos, como a tal calça da Gang. A língua das ruas anda avacalhando com as nossas “minas”, para usar a última expressão em que as mulheres foram saudadas com delicadeza e exatidão — dentro da mina, afinal, cabe tanto a pepita de ouro como a cavidade que se enche de pólvora para explodir e destruir tudo o que estiver em cima.

A deusa da nossa rua, que sempre pisou os astros distraída, não passa hoje de “tchutchuca marombada” ou “popozuda descontrolada”. É pouco para quem caminha nas pedrinhas portuguesas como se São Pedro fosse sobre as águas bíblicas. Algumas delas, uvas do vinho sagrado, santas apenas no aguardo da beatificação vaticana, provocando ainda maior alvoroço, alumbramento e estupefação dos sentidos.

JOAQUIM FERREIRA DOS SANTOS O que as mulheres procuram na bolsa: crônicas. Rio de Janeiro: Record, 2004.

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35 TEXTO II

(5)

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO

6

Ao enumerar e comentar as designações antigas e atuais aplicadas à mulher, o cronista estabelece uma diferença de épocas na maneira de representar a beleza feminina.

Explicite essa diferença e transcreva uma designação típica de cada uma das épocas retratadas no texto.

Questão 04

O cronista explica o sentido dos nomes almofadinha e mina, aplicados respectivamente ao homem e à mulher.

Resuma cada uma dessas explicações e identifique a figura de linguagem correspondente ao uso de cada nome.

Questão 05

(6)

Língua Portuguesa / Literatura Brasileira

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 7 Observe os verbos sublinhados nas passagens abaixo, todos no singular:

Há cem anos as mulheres que circulam pela Rio Branco já foram chamadas de tudo (l. 10) Sequer bondes há. (l. 29)

Por aqui passou o “broto”, o “avião”, (...) e tantas outras que podem não estar mais no mapa, (l. 11-13) dentro da mina, afinal, cabe tanto a pepita de ouro como a cavidade que se enche de pólvora (l. 33-34) Explique, com base nas regras de concordância da norma padrão, por que, nesses exemplos, o verbo haver fica sempre no singular, e por que passar e caber poderiam estar no plural: passaram e cabem.

Questão 06

(7)

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO

8

Inocência

Depois das explicações dadas ao seu hóspede, sentiu-se o mineiro mais despreocupado.

— Então, disse ele, se quiser, vamos já ver a nossa doentinha.

— Com muito gosto, concordou Cirino.

E, saindo da sala, acompanhou Pereira, que o fez passar por duas cercas e rodear a casa toda, antes de tomar a porta do fundo, fronteira a magnífico laranjal, naquela ocasião todo pontuado das brancas e olorosas flores.

— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os dias se juntam tamanhos bandos de graúnas1, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser debaixo do arvoredo. É uma menina esquisita...

Parando no limiar da porta, continuou com expansão:

— Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e perguntas que me fazem embatucar... Aqui, havia um livro de horas2 da minha defunta avó... Pois não é que um belo dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler? ... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou3 ela com toda a clareza, é uma moça muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados4 no pescoço e que manda nos homens... Fiquei meio tonto. E se o Sr. visse os modos que tem com os bichinhos?! ... Parece que está falando com eles e que os entende... (...) Quando Cirino penetrou no quarto da filha do mineiro, era quase noite, de maneira que, no primeiro olhar que atirou ao redor de si, só pôde lobrigar5, além de diversos trastes de formas antiquadas, uma dessas camas, muito em uso no interior; altas e largas, feitas de tiras de couro engradadas. (...)

Mandara Pereira acender uma vela de sebo. Vinda a luz, aproximaram-se ambos do leito da enferma que, achegando ao corpo e puxando para debaixo do queixo uma coberta de algodão de Minas, se encolheu toda, e voltou-se para os que entravam.

— Está aqui o doutor, disse-lhe Pereira, que vem curar-te de vez.

— Boas noites, dona, saudou Cirino.

Tímida voz murmurou uma resposta, ao passo que o jovem, no seu papel de médico, se sentava num escabelo6 junto à cama e tomava o pulso à doente.

Caía então luz de chapa sobre ela, iluminando-lhe o rosto, parte do colo e da cabeça, coberta por um lenço vermelho atado por trás da nuca.

Apesar de bastante descorada e um tanto magra, era Inocência de beleza deslumbrante.

Do seu rosto, irradiava singela expressão de encantadora ingenuidade, realçada pela meiguice do olhar sereno que, a custo, parecia coar por entre os cílios sedosos a franjar-lhe as pálpebras, e compridos a ponto de projetarem sombras nas mimosas faces.

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TEXTO III

(8)

Língua Portuguesa / Literatura Brasileira

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 9

35

A caracterização de Inocência confirma só parcialmente a idealização da heroína romântica.

Indique uma característica que Inocência apresenta em comum com as heroínas românticas e outra que a torna diferente dessas heroínas.

Questão 07

Era o nariz fino, um bocadinho arqueado; a boca pequena, e o queixo admiravelmente torneado.

Ao erguer a cabeça para tirar o braço de sob o lençol, descera um nada a camisinha de crivo que vestia, deixando nu um colo de fascinadora alvura, em que ressaltava um ou outro sinal de nascença.

Razões de sobra tinha, pois, o pretenso facultativo7 para sentir a mão fria e um tanto incerta, e não poder atinar com o pulso de tão gentil cliente.

VISCONDE DE TAUNAY Inocência. São Paulo: Ática, 2011.

1 graúna - pássaro de plumagem negra, canto melodioso e hábitos eminentemente sociais

2 livro de horas - livro de preces

3 secundou - respondeu

4 lavrados - na província de Mato Grosso, colares de contas de ouro e adornos de ouro e prata

5 lobrigar - enxergar

6 escabelo - assento

7 facultativo - médico

(9)

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO

10

— Neste lugar, disse o mineiro apontando para o pomar, todos os dias se juntam tamanhos bandos de graúnas, que é um barulho dos meus pecados. Nocência gosta muito disso e vem sempre coser debaixo do arvoredo. (l. 7-9)

Nesta passagem, há duas palavras, de mesma classificação gramatical, empregadas pelo locutor para indicar a proximidade ou distância do elemento a que se referem.

Cite essas palavras e identifique sua classificação gramatical.

Transcreva o trecho em que uma dessas palavras se refere a uma informação presente no próprio texto.

Questão 08

(10)

Língua Portuguesa / Literatura Brasileira

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 11 — Nem o Sr. imagina... Às vezes, aquela criança tem lembranças e perguntas que me fazem embatucar...

Aqui, havia um livro de horas da minha defunta avó... Pois não é que um belo dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler?... Que ideia! Ainda há pouco tempo me disse que quisera ter nascido princesa... Eu lhe retruquei: E sabe você o que é ser princesa? Sei, me secundou ela com toda a clareza, é uma moça muito boa, muito bonita, que tem uma coroa de diamantes na cabeça, muitos lavrados no pescoço (l. 11 -16) O trecho acima faz referência a crenças e valores de Inocência e de seu pai, Pereira.

Apresente dois traços do comportamento de cada um desses personagens que revelam a diferença de valores entre eles. Em seguida, indique a modalidade de romance em que tais personagens se inserem.

Questão 09

(11)

VestIbuLAr estAduAL 2013 2ª fase exAme dIsCursIVO

12

um belo dia ela me pediu que lhe ensinasse a ler?... (l. 12-13) E se o Sr. visse os modos que tem com os bichinhos?! ... (l. 16-17)

As formas verbais sublinhadas estão empregadas nos mesmos tempo e modo gramaticais, mas diferem pelo efeito de sentido que produzem.

Identifique o tempo e modo gramaticais comuns a essas formas e aponte aquela em que não há expressão de tempo, e sim de uma hipótese.

Questão 10

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02/12/2012

Língua Portuguesa / Literatura Brasileira

PADRÃO DE RESPOSTAS

(VALOR POR QUESTÃO = 2,00 PONTOS)

Questão Resposta

1

Romantismo

Segunda metade do século XIX

Um dos trechos e respectiva explicação:

• incorporando os termos nativos − Os escritores incorporaram à língua portuguesa palavras regionais e indígenas.

• e amolecendo nas folhas de bananeira / as expressões mais sisudas − Os escritores procuraram adequar a língua portuguesa à realidade e à natureza brasileiras.

2 Repetição do gerúndio (amaciando, tornando, incorporando, amolecendo) as expressões mais sisudas

3

Um elástico que já não se pode mais trocar, de tão usado;

A existência de uma língua depende de que ela seja usada por um grande número de pessoas, ao contrário de certos objetos, que podem ser consumidos pelo uso.

4

Até certo momento, as designações expressavam delicadeza; depois, tornaram-se menos delicadas e até depreciativas.

Uma das designações da época antiga: melindrosa, uva, suco, pitéu, broto, mina, avião, violão, certinha, pedaço, deusa, gata, franga.

Uma das designações da época atual: popozuda, cachorra, sarada, tchutchuca marombada, popozuda descontrolada.

5

Almofadinha: o indivíduo é nomeado com base em um hábito, que é o de carregar uma almofada para se sentar nos bondes.

Metonímia

Mina: a mulher é nomeada com um termo que significa ao mesmo tempo algo que contém coisa valiosa e oferece risco de confusão ou destruição.

Metáfora

6

O verbo “haver” fica no singular por ser impessoal nos dois exemplos.

“Passar” e “caber” possuem sujeito composto. Como este está posposto, o verbo pode concordar com o núcleo mais próximo, como ocorre nos exemplos, ou com a totalidade, indo para o plural.

7

Uma das características comuns:

• ser sonhadora

querer ser princesa

beleza deslumbrante

• aparência física frágil

Uma das características diferenciadoras:

ser iletrada

• viver no campo

• querer aprender a ler 8

(n)este (d)isso

Pronomes demonstrativos Nocência gosta muito disso

9

Dois dos traços de Inocência:

ousada

vaidosa

• quer aprender a ler

tem a mente cheia de sonhos Dois dos traços de Pereira:

• repressor

autoritário

• acha esquisitos os desejos da filha e os reprova Romance regionalista

10

pretérito imperfeito subjuntivo

visse

(13)

Caderno de prova

Este caderno, com oito páginas numeradas sequencialmente, contém cinco questões de Língua Portuguesa Instrumental e a proposta de Redação.

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Boa prova!

Língua portuguesa Instrumental com redação

02/12/2012

(14)

Língua Portuguesa Instrumental com Redação

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO

2

Tempo: cada vez mais acelerado

Pressa. Ansiedade. E a sensação de que nunca é possível fazer tudo - além da certeza de que sua vida está passando rápido demais. Essas são as principais consequências de vivermos num mundo em que para tudo vale a regra do “quanto mais rápido, melhor”. “Para nós, ocidentais, o tempo é linear e nunca volta. Por isso queremos ter a sensação de que estamos tirando o máximo dele. E a única solução que encontramos é acelerá-lo”, afirma Carl Honoré. “É um equívoco. A resposta a esse dilema é qualidade, não quantidade.”

Para James Gleick, Carl está lutando uma batalha invencível. “A aceleração é uma escolha que fizemos. Somos como crianças descendo uma ladeira de skate. Gostamos da brincadeira, queremos mais velocidade”, diz. O problema é que nem tudo ao nosso redor consegue atender à demanda.

Os carros podem estar mais rápidos, mas as viagens demoram cada vez mais por culpa dos congestionamentos. Semáforos vermelhos continuam testando nossa paciência, obrigando-nos a frear a cada quarteirão. Mais sorte têm os pedestres, que podem apertar o botão que aciona o sinal verde - uma ótima opção para despejar a ansiedade, mas com efeito muitas vezes nulo. Em Nova York, esses sistemas estão desligados desde a década de 1980. Mesmo assim, milhares de pessoas o utilizam diariamente.

É um exemplo do que especialistas chamam de “botões de aceleração”. Na teoria, deixam as coisas mais rápidas. Na prática, servem para ser apertados e só. Confesse: que raios fazemos com os dois segundos, no máximo, que economizamos ao acionar aquelas teclas que fecham a porta do elevador? E quem disse que apertá-las, duas, quatro, dez vezes, vai melhorar a eficiência?

Elevadores, aliás, são ícones da pressa em tempos velozes. Os primeiros modelos se moviam a vinte centímetros por segundo. Hoje, o mais veloz sobe doze metros por segundo. E, mesmo acelerando, estão entre os maiores focos de impaciência. Engenheiros são obrigados a desenvolver sistemas para conter nossa irritação, como luzes ou alarmes cuja única função é aplacar a ansiedade da espera. Até onde isso vai?

SÉRGIO GWERCMAN Adaptado de super.abril.com.br.

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20 TEXTO I

Questão 01

O texto apresenta palavras de dois especialistas - Carl Honoré e James Gleick - como defensores de opiniões diferentes em relação à aceleração do tempo.

Explicite, sem transcrever partes do texto, a opinião de cada um deles acerca desse tema.

(15)

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 3 Mais sorte têm os pedestres, que podem apertar o botão que aciona o sinal verde (l. 12-13)

No fragmento, é empregada uma expressão que pode ser considerada irônica, se for relacionada ao conjunto do 2º parágrafo.

Transcreva do fragmento a expressão que configura a ironia e explique por que essa expressão é irônica.

Questão 02

O autor do texto I aborda uma situação que diz respeito a toda a sociedade, envolvendo tanto ele como o leitor.

Nomeie a marca linguística empregada para indicar a inclusão do autor e dos seus leitores na situação.

Em seguida, transcreva um trecho que exemplifique sua resposta.

Questão 03

(16)

Língua Portuguesa Instrumental com Redação

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO

4

UAU!

NÃO TEMOS TEMPO A

PERDER, GATA.

PRA ONDE NÓS VAMOS TÃO

RÁPIDO?

FUTURO!PRO

NÃO TENTE CHEGAR MUITO

RÁPIDO AO FUTURO...

...PRA NÃO ACABAR ESQUECENDO O PRESENTE NO MEIO DO

CAMINHO.

FÁBIO MOON e GABRIEL BÁ paezinhos.blog.uol.com.br

Questão 04

Nos quadrinhos, as duas tartarugas fazem uma crítica em relação ao casal que está no carro.

Explicite essa crítica em uma frase, usando palavras diferentes daquelas utilizadas pelas tartarugas.

Em seguida, justifique por que a crítica é reforçada pela imagem das próprias tartarugas.

RICARDO REIS PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1999.

TEXTO II

(17)

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 5

Mestre, são plácidas1 Todas as horas Que nós perdemos, Se no perdê-las, Qual numa jarra, Nós pomos flores.

Não há tristezas Nem alegrias Na nossa vida.

Assim saibamos, Sábios incautos2, Não a viver, Mas decorrê-la, Tranquilos, plácidos, Tendo as crianças Por nossas mestras, E os olhos cheios De Natureza...

À beira-rio, À beira-estrada, Conforme calha3, Sempre no mesmo Leve descanso De estar vivendo.

O tempo passa, Não nos diz nada.

Envelhecemos.

Saibamos, quase Maliciosos, Sentir-nos ir.

Não vale a pena Fazer um gesto.

Não se resiste Ao deus atroz

Que os próprios filhos Devora sempre.

Colhamos flores.

Molhemos leves As nossas mãos Nos rios calmos, Para aprendermos Calma também.

Girassóis sempre Fitando o sol, Da vida iremos Tranquilos, tendo Nem o remorso De ter vivido.

Mestre

RICARDO REIS PESSOA, Fernando. Obra poética. Rio de Janeiro: Aguilar, 1999.

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Questão 05

Na 1ª estrofe do poema, para construir o sentido geral do texto, o poeta faz uma referência à expressão perder tempo, dando-lhe, entretanto, outro sentido, diferente do usual.

Explique o sentido usual da expressão perder tempo e apresente, também, o sentido que essa mesma expressão assume no poema.

40 TEXTO III

1 plácidas - calmas

2 incautos - desprevenidos

3 conforme calha - conforme seja

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Língua Portuguesa Instrumental com Redação

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO

6

Lembra-te de que tempo é dinheiro. Aquele que pode ganhar dez xelins* por dia com seu trabalho e vai passear, ou fica vadiando metade do dia, embora não despenda mais do que seis pence durante seu divertimento ou vadiação, não deve computar apenas essa despesa; gastou, na realidade, ou melhor, jogou fora, cinco xelins a mais.

(...)

Aquele que perde cinco xelins, não perde somente esta soma, mas todo o proveito que, investindo-a, dela poderia ser tirado, e que durante o tempo em que um jovem se torna velho, integraria uma considerável soma de dinheiro.

BENJAMIN FRANKLIN

* xelim - unidade de moeda equivalente a 12 pence

Os textos IV e V apresentam posições opostas sobre a relação com o tempo: para o primeiro, tempo é dinheiro, porque deve ser empregado em produzir riqueza; para o segundo, tempo não pode ser resumido ao dinheiro, porque isso é uma brutalidade.

Com base na leitura de todos os textos e de suas elaborações pessoais sobre o tema, escolha uma das duas posições e a defenda, redigindo um texto argumentativo em prosa, com no mínimo 20 e no máximo 30 linhas.

Utilize a norma padrão da língua e atribua um título a sua redação.

PROPOSTA DE REDAÇÃO

Dizemos, com frequência, que fomos atropelados pelos acontecimentos - mas quais acontecimentos têm poder de atropelar o sujeito? Aqueles em direção aos quais ele se precipita, com medo de ser deixado para trás. Deixamo-nos atropelar, em nossa sociedade competitiva, porque medimos o valor do tempo pelo dinheiro que ele pode nos render. Nesse ponto remeto o leitor, mais uma vez, à palavra exata do professor Antonio Candido: “O capitalismo é o senhor do tempo. Mas tempo não é dinheiro. Isso é uma brutalidade. O tempo é o tecido de nossas vidas”.

A velocidade normal da vida contemporânea não nos permite parar para ver o que atropelamos;

torna as coisas passageiras, irrelevantes, supérfluas.

MARIA RITA KEHL

TEXTO IV

TEXTO V

WEBER, Max. Os pensadores. São Paulo: Abril Cultural, 1985.

mariaritakehl.psc.br

(19)

Vestibular estadual 2013 2ª fase exame disCursiVO 7

(20)

02/12/2012 LPI COM REDAÇÃO PADRÃO DE RESPOSTAS

(VALOR POR QUESTÃO = 2,00 PONTOS)

Questão Resposta

1

Carl Honoré defende o critério da qualidade no lugar da quantidade, para superar os dilemas da aceleração do tempo.

James Gleik afirma que essa escolha já foi feita pelo homem, deixando implícito que não há o que superar.

2

Mais sorte

A ironia existe porque na verdade não existe sorte, considerando que o fato de apertar o botão para acionar o sinal verde não significa uma aceleração real, apenas um mecanismo para diminuir a ansiedade.

3

Primeira pessoa do plural / pronome nosso(a) Um dos exemplos:

Essas são as principais consequências de vivermos num mundo

• O problema é que nem tudo ao nosso redor consegue atender à demanda.

Semáforos vermelhos continuam testando nossa paciência, obrigando-nos a frear a cada quarteirão.

• Confesse: que raios fazemos com os dois segundos, no máximo, que economizamos ao acionar aquelas teclas que fecham a porta do elevador?

• para conter nossa irritação

4

A crítica se dirige a um estilo de vida que, em busca do futuro, acelera demais as ações do presente, dificultando que se aproveite este tempo.

A imagem das tartarugas remete a uma lentidão oposta à velocidade e à modernidade sugeridas pelo carro e pelo motorista.

5

Na linguagem usual, “perder tempo” tem sentido negativo: significa gastar o tempo sem proveito algum.

No poema, a mesma expressão é vista de maneira positiva: significa viver melhor o tempo que se tem ou aceitar a passagem natural do tempo.

ITENS PARA AVALIAÇÃO DA REDAÇÃO (VALOR POR ITEM = 2,00 PONTOS)

Adequação ao Tema

A avaliação do item considera o atendimento à proposta do tema, o projeto de desenvolvimento do texto, as marcas de autoria e a defesa consistente de ponto de vista.

Tipo de Texto

Avalia-se a construção efetiva de texto argumentativo, com recursos pertinentes ao tipo textual e atendimento à estrutura própria da dissertação, sem reprodução de clichês.

Desenvolvimento da Argumentação

A argumentação presente no texto é avaliada quanto à pertinência, suficiência e eficácia dos argumentos, além da coerência na explanação e articulação das ideias.

Estrutura do Período e Coesão

Observam-se, neste item, aspectos relativos à coesão textual e à estruturação sintática dos períodos, com uso adequado e produtivo dos elementos constituintes da superfície textual.

Modalidade

São avaliados aspectos que, apresentados no texto, demonstram domínio da variedade padrão da língua, sem marcas de oralidade ou informalidade.

(21)

Caderno de prova

Este caderno, com oito páginas numeradas sequencialmente, contém cinco questões de Língua Portuguesa Instrumental e a proposta de Redação.

Não abra o caderno antes de receber autorização.

Instruções

1. Verifique se você recebeu mais dois cadernos de prova.

2. Verifique se seu nome, seu número de inscrição e seu número do documento de identidade estão corretos nas sobrecapas dos três cadernos.

Se houver algum erro, notifique o fiscal.

3. Destaque, das sobrecapas, os comprovantes que têm seu nome e leve-os com você.

4. Ao receber autorização para abrir os cadernos, verifique se a impressão, a paginação e a numeração das questões estão corretas.

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Não serão consideradas as questões respondidas fora desses espaços.

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Será eliminado do Vestibular Estadual 2014 o candidato que, durante a prova, utilizar qualquer instrumento de cálculo e/ou qualquer meio de obtenção de informações, eletrônicos ou não, tais como calculadoras, agendas, computadores, rádios, telefones, receptores, livros e anotações.

Será também eliminado o candidato que se ausentar da sala levando consigo qualquer material de prova.

Boa prova!

Língua Portuguesa Instrumental com Redação

2 A fase

EXAME Discursivo

01/12/2013

(22)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

2

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa instrumental com redaÇÃo

Meus parabéns, professor Engelbrecht! O grupo de estudos resolveu chamá-lo "Engelbrecht Birdorum" em homenagem ao senhor.

10

Evidentemente algumas vezes os cientistas se excedem em sua ciência. Quando o grupo de cavalheiros e cavalheiras estava reunido observando o quê? Esperando o quê? E surgiu o tremendo pássaro que arrebatou o professor Engelbrecht, o que deveriam fazer todos os seus componentes? Claro que tentar a salvação do ilustre professor (vê-se que é ilustre pelo respeito com que o trata o outro cientista que corre, e pela barba, pela indumentária) chamando a rádio patrulha, cabo Kennedy, os postos de escuta de radar ou qualquer desses organismos mecânicos que existem para detecção e salvação universal.

Contudo os cientistas auxiliares (por motivo especial o pássaro gigantesco escolheu exatamente o decano1 dos sábios) pouco se importaram com a vida de Engelbrecht. Num átimo2 fizeram a única coisa que lhes parecia importante, no momento: classificar o pássaro, denominando-o já em honra do professor raptado.

É possível que isso correspondesse aos anseios de glória e à vaidade de Engelbrecht e os cientistas não perderam um minuto para decidi-lo. Em verdade, tendo este, possivelmente, dedicado a vida inteira à ciência, é natural que a morte pouco lhe importe desde que signifique sua definitiva imortalidade. É por isso, então, que o cientistazinho auxiliar corre e lhe comunica a boa nova que o pássaro que o arrebata será chamado “Engelbrecht Birdorum”.

Agora, uma pergunta ainda: quanto tempo durou o ataque dessa fera dos ares? De onde surgiu ela? A vinda dos cientistas a este local, inclusive munidos de binóculos, significaria já uma observação da possível existência dessa besta antediluviana3? Ou estavam eles calma e facetamente4 olhando mulheres nuas num telhado distante quando foram surpreendidos pelo ataque aéreo?

De qualquer forma, em grupo estavam e agrupados ficaram. Examinaram apenas o pássaro que se afastava com o professor na boca, denominaram-no e enviam a comunicação ao sábio. A não ser que o agrupamento se deva apenas à própria conjuntura, ao serem atacados se reuniram para defesa mútua. Mas não, estão todos muitos calmos e muito familiares; vê-se que não houve defesa porque não houve luta. O fato é que o pássaro (estranho e belo, por sinal) lá vai embora, levando no bico o nosso professor.

Adaptado de MILLÔR FERNANDES www2.uol.com.br

5

10

15

20

25

1 decano −o mais antigo

2 átimo − momento, instante

3 antediluviana − muito antiga

4 facetamente − de maneira peculiar

Millôr analisa um cartum dele mesmo

(23)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa instrumental com redaÇÃo

3

é natural que a morte pouco lhe importe desde que signifique sua definitiva imortalidade.

(l. 14-15)

No trecho, há uma aparente contradição, exposta por meio de um jogo de palavras que expressam ideias opostas.

Identifique as palavras que estariam em contradição e explique por que, no contexto, elas não seriam, de fato, contraditórias.

Questão

01

Em sua análise, Millôr apresenta, logo no primeiro parágrafo, um julgamento acerca da reação dos outros cientistas diante da situação de perigo em que está o professor.

Transcreva do primeiro parágrafo duas palavras que demonstrem a existência de um julgamento por parte do autor. Em seguida, explicite esse julgamento.

Questão

02

(24)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

4

No quarto parágrafo, o uso de um recurso línguistico sugere a reprodução do processo de investigação científica. Ao mesmo tempo, observa-se o uso de ironia, que não é próprio da ciência.

Identifique o recurso mencionado e explique em que consiste a ironia do autor.

Questão

03

10

O emplasto

1

Com efeito, um dia de manhã, estando a passear na chácara, pendurou-se-me uma ideia no trapézio que eu tinha no cérebro. Uma vez pendurada, entrou a bracejar, a pernear, a fazer as mais arrojadas cabriolas2 de volatim3, que é possível crer. Eu deixei-me estar a contemplá-la. Súbito, deu um grande salto, estendeu os braços e as pernas, até tomar a forma de um X: decifra-me ou devoro-te.

Essa ideia era nada menos que a invenção de um medicamento sublime, um emplasto anti- hipocondríaco, destinado a aliviar a nossa melancólica humanidade. Na petição4 de privilégio que então redigi, chamei a atenção do governo para esse resultado, verdadeiramente cristão. Todavia, não neguei aos amigos as vantagens pecuniárias5 que deviam resultar da distribuição de um produto de tamanhos e tão profundos efeitos. Agora, porém, que estou cá do outro lado da vida, posso confessar tudo: o que me influiu principalmente foi o gosto de ver impressas nos jornais, mostradores, folhetos, esquinas, e enfim nas caixinhas do remédio, estas três palavras: Emplasto Brás Cubas. Para que negá-lo? Eu tinha a paixão do arruído6, do cartaz, do foguete de lágrimas. Talvez os modestos me arguam esse defeito; fio, porém, que esse talento me hão de reconhecer os hábeis. Assim, a minha ideia trazia duas faces, como as medalhas, uma virada para o público, outra para mim. De um lado, filantropia7 e lucro; de outro lado, sede de nomeada. Digamos: � amor da glória.

Um tio meu, cônego de prebenda8 inteira, costumava dizer que o amor da glória temporal era a perdição das almas, que só devem cobiçar a glória eterna. Ao que retorquia9 outro tio, oficial de um dos antigos terços10 de infantaria, que o amor da glória era a coisa mais verdadeiramente humana que há no homem, e, conseguintemente, a sua mais genuína feição.

Decida o leitor entre o militar e o cônego; eu volto ao emplasto.

MAchADo DE ASSIS Memórias póstumas de Brás Cubas. Rio de Janeiro: Garnier, 1988.

5

10

15

1 emplasto − medicamento

2 cabriolas − cambalhotas

3 volatim − acrobata

4 petição − documento formal de solicitação

5 pecuniárias − relativo a dinheiro

6 arruído − ruído, barulho

7 filantropia − prática da caridade

8 prebenda − ocupação rendosa de pouco trabalho

9 retorquia − respondia

10 terço − tropa militar

(25)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa instrumental com redaÇÃo

5

No primeiro parágrafo, o personagem Brás Cubas se refere à ideia de emplasto, não como uma abstração, mas como algo concretizado, personalizado.

Cite quatro palavras ou expressões que evidenciam a concretização da ideia do personagem.

Questão

04

Apesar do que escreveu na petição ao governo, o narrador-personagem confessa aos amigos e aos leitores duas motivações que o teriam levado a criar o emplasto Brás Cubas.

Indique essas duas motivações confessadas pelo narrador. Em seguida, explique a oposição construída pelo narrador entre essas motivações confessadas e aquela apresentada na petição enviada ao governo.

Questão

05

(26)

língua portuguesa InstruMental CoM reDaÇÃo

VestIbular estaDual 2014 2ª fase exaMe DIsCursIVo

6

Ciência na educação popular

Há uma dimensão ética da divulgação científica na qual eu gostaria de me deter: a circulação das ideias e dos resultados de pesquisas é fundamental para avaliar o seu impacto social e cultural, como também para recuperar, por meio do livre debate e confronto de ideias, os vínculos e valores culturais que a descoberta do novo, muitas vezes, rompe ou fere. Nesse sentido, a divulgação não é apenas página de literatura, mas exercício de reflexão sobre os impactos sociais e culturais de nossas descobertas.

Os limites das manipulações com seres humanos têm dimensões técnicas e éticas que transcendem os estreitos corredores dos hospitais, dos institutos de pesquisa ou até mesmo dos respeitáveis conselhos de bioética. Informar essa discussão, de modo que os valores novos possam ser pensados e os antigos respeitados, é arte complexa de múltiplas dimensões humanas, científicas e culturais.

Acredito que esse aspecto da divulgação da ciência, uma vez que o público leigo � insisto � também deve ser alcançado, é responsabilidade do cientista e, a meu ver, deveria ser item do financiamento público da própria pesquisa. Dificilmente podemos imaginar que fundos privados, provenientes de empresas interessadas na comercialização dos produtos das pesquisas, investiriam recursos para promover a livre discussão sobre as repercussões éticas das inovações ou descobertas por eles financiadas.

ENNIo cANDottI Adaptado de casadaciencia.ufrj.br.

5

10

15

PrOPOsta dE rEdaçãO

No texto acima, o autor trata da necessidade de divulgar ideias e resultados de pesquisas como forma de democratizar, na sociedade, o debate acerca de valores culturais e sociais, de vantagens e de problemas que envolvem todas as pesquisas científicas e seu uso posterior na vida do cidadão comum.

Elabore um texto dissertativo-argumentativo, em prosa, com no mínimo 20 e no máximo 30 linhas, no qual discuta a necessidade de que a sociedade conheça e debata as motivações, interesses e usos das pesquisas científicas.

Utilize a norma padrão da língua e atribua um título à sua redação.

(27)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa instrumental com redaÇÃo

7

(28)

Questão Resposta 1

morte e imortalidade

Elas não estão em contradição, porque, no contexto, a morte se refere ao estado físico enquanto a imortalidade ocorreria por causa da fama no mundo da ciência.

2 Evidentemente e Claro (que)

O autor condena a falta de ação dos outros cientistas para salvar o professor.

3 Fazer perguntas sobre tempo, lugar e modo de ocorrência do fato.

As referências ao acaso e à observação de mulheres nuas.

4

Quatro dentre os elementos:

• bracejar

• pernear

• pendurou-se-me

• tomar forma de X

• deu um grande salto

• estendeu os braços e pernas

• fazer as mais arrojadas cabriolas 5

As motivações são a ambição por ganhar dinheiro e a vaidade / desejo de fama.

O narrador opõe essas motivações à alegação do resultado filantrópico, “verdadeiramente cristão”, feita na petição enviada ao governo.

01/12/2013 LPI COM REDAÇÃO PADRÃO DE RESPOSTAS

(VALOR POR QUESTÃO = 2,00 PONTOS)

Adequação ao Tema

A avaliação do item considera o atendimento à proposta do tema, o projeto de desenvolvimento do texto, as marcas de autoria e a defesa consistente de ponto de vista.

Tipo de Texto

Avalia-se a construção efetiva de texto argumentativo, com recursos pertinentes ao tipo textual e atendimento à estrutura própria da dissertação, sem reprodução de clichês.

Desenvolvimento da Argumentação

A argumentação presente no texto é avaliada quanto à pertinência, suficiência e eficácia dos argumentos, além da coerência na explanação e articulação das ideias.

Estrutura do Período e Coesão

Observam-se, neste item, aspectos relativos à coesão textual e à estruturação sintática dos períodos, com uso adequado e produtivo dos elementos constituintes da superfície textual.

Modalidade

São avaliados aspectos que, apresentados no texto, demonstram domínio da variedade padrão da língua, sem marcas de oralidade ou informalidade.

ITENS PARA AVALIAÇÃO DA REDAÇÃO (VALOR POR ITEM = 2,00 PONTOS)

(29)

Caderno de prova

Este caderno, com dezesseis páginas numeradas sequencialmente, contém dez questões de Língua Portuguesa/Literatura Brasileira.

Não abra o caderno antes de receber autorização.

Instruções

1. Verifique se você recebeu mais dois cadernos de prova.

2. Verifique se seu nome, seu número de inscrição e seu número do documento de identidade estão corretos nas sobrecapas dos três cadernos.

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4. Ao receber autorização para abrir os cadernos, verifique se a impressão, a paginação e a numeração das questões estão corretas.

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5. Todas as respostas e o desenvolvimento das soluções, quando necessário, deverão ser apresentados nos espaços apropriados, com caneta azul ou preta de corpo transparente.

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Será também eliminado o candidato que se ausentar da sala levando consigo qualquer material de prova.

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Língua Portuguesa/Literatura Brasileira

2 A fase

EXAME Discursivo

01/12/2013

(30)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

2

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa e literatura brasileira

TEXTO I

10

Diálogo da relativa grandeza

Sentado no monte de lenha, as pernas abertas, os cotovelos nos joelhos, Doril examinava um louva-deus pousado nas costas da mão. Ele queria que o bichinho voasse, ou pulasse, mas o bichinho estava muito à vontade, vai ver que dormindo – ou pensando? Doril tocava-o com a unha do dedo menor e ele nem nada, não dava confiança, parece que nem sentia; se Doril não visse o leve pulsar de fole1 do pescoço – e só olhando bem é que se via – era capaz de dizer que o pobrezinho estava morto, ou então que era um grilo de brinquedo, desses que as moças pregam no vestido para enfeitar.

Entretido com o louva-deus, Doril não viu Diana chegar comendo um marmelo, fruta azeda enjoada que só serve para ranger os dentes. Ela parou perto do monte de lenha e ficou descascando o marmelo com os dentes mas sem jogar a casca fora, não queria perder nada.

Quando ela já tinha comido um bom pedaço da parte de cima e nada de Doril ligar, ela cuspiu fora um pedaço de miolo com semente e falou:

� Está direitinho um macaco em galho de pau.

Doril olhou só com os olhos e revidou:

� Macaco é quem fala. Está até comendo banana.

� Marmelo é banana, besta?

� Não é mas serve.

Ficaram calados, cada um pensando por seu lado. Diana cuspiu mais um caroço.

� Sabe aquele livro de história que o Mirto ganhou?

� Que Mirto, seu. É Milllton. Mania!

� Mas sabe? Eu vou ganhar um igual. Tia Jura vai mindar.

� Não é mindar. É me-dar. Mas não é vantagem.

� Não é vantagem? É muita vantagem.

� Você já não leu o de Milton?

� Li mas quero ter. Pra guardar e ler de novo.

5

10

15

20

25

(31)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa e literatura brasileira

3

� Vantagem é ganhar outro. Diferente.

� Deferente eu não quero. Pode não ser bom.

� Como foi que você disse? Diz de novo?

� Já disse uma vez, chega.

� Você disse deferente.

� Foi não.

� Foi. Eu ouvi.

� Foi não.

� Foi.

� Foi não.

� Fooooi.

Continuariam até um se cansar e tapar o ouvido para ficar com a última palavra, se Diana não tivesse tido a habilidade de se retirar logo que percebeu a dízima2. Com o pedacinho final do marmelo entre os dedos ela chegou-se mais perto do irmão e disse:

� Gi! Matando louva-deus! Olhe o castigo!

� Eu estou matando, estou?

� Está judiando3. Ele morre.

� Eu estou judiando?

� Amolar um bicho tão pequenininho é o mesmo que judiar.

Doril não disse mais nada, qualquer coisa que ele dissesse ela aproveitaria para outra acusação.

Era difícil tapar a boca de Diana, ô menina renitente4. Ele preferiu continuar olhando o louva- deus. Soprou-o de leve, ele encolheu-se e vergou o corpo para o lado do sopro, como faz uma pessoa na ventania. O louva-deus estava no meio de uma tempestade de vento, dessas que derrubam árvores e arrancam telhados e podem até levantar uma pessoa do chão. Doril era a força que mandava a tempestade e que podia pará-la quando quisesse. Então ele era Deus?

Será que as nossas tempestades também são brincadeira? Será que quem manda elas olha para nós como Doril estava olhando para o louva-deus? Será que somos pequenos para ele como um gafanhoto é pequeno para nós, ou menores ainda? De que tamanho, comparando – do de formiga? De piolho de galinha? Qual será o nosso tamanho mesmo, verdadeiro?

José J. Veiga A máquina extraviada. Rio de Janeiro: editora Prelo, 1968.

40

45

50 30

35

1 fole − papo

2 dízima − refere-se à dízima periódica, algo sem fim

3 judiar − maltratar

4 renitente − teimosa

(32)

língua portuguesa e literatura brasileira

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

4

era capaz de dizer que o pobrezinho estava morto, (l. 5-6)

Continuariam até um se cansar e tapar o ouvido para ficar com a última palavra, (l. 37) qualquer coisa que ele dissesse (l. 45)

Será que as nossas tempestades também são brincadeira? (l. 51)

Nestas quatro passagens, retratam-se situações hipotéticas, apenas imaginadas pelo narrador ou pelos personagens.

Caracterize a forma linguística usada em cada uma para exprimir suposição em lugar de certeza.

Questão

02

Ele preferiu ficar olhando o louva-deus. Soprou-o de leve, ele encolheu-se e vergou o corpo para o lado do sopro, (l. 46-47)

Será que as nossas tempestades também são brincadeira? Será que quem manda elas olha para nós como Doril estava olhando para o louva-deus? (l. 51-52)

Nos dois trechos acima, há uma variação no envolvimento do narrador com a história que ele conta.

Explique em que consiste essa variação. Em seguida, indique o recurso gramatical usado para expressá-la.

Questão

01

(33)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa e literatura brasileira

5

Observe que, nos fragmentos abaixo, os pronomes o e elas desempenham a mesma função sintática: objeto direto.

a) Soprou-o de leve, ele encolheu-se e vergou o corpo para o lado do sopro, como faz uma pessoa na ventania.

b) Será que quem manda elas olha para nós como Doril estava olhando para o louva-deus?

Explique a diferença de formas entre os pronomes, com base na diversidade de usos da língua.

Reescreva integralmente cada construção sublinhada, de modo que o item a passe a ter a forma característica de b, e b passe a ter a forma característica de a.

Questão

04

No último parágrafo, as perguntas formuladas dizem respeito à relatividade dos animais e dos homens quando comparados uns aos outros. Essa ideia de que nada é absoluto também pode ser percebida nos diálogos entre os personagens Doril e Diana.

Transcreva, desses diálogos, duas passagens que exemplifiquem a percepção da relatividade retratada no conto. Justifique suas escolhas.

Questão

03

(34)

língua portuguesa e literatura brasileira

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

6

TEXTO II

5

10

15

ela surgiu não sei de onde

quando abri o Dicionário de Filosofia de José Ferrater Mora

(no verbete Descartes, René) mi- núscula

com suas muitas perninhas quase invisíveis

cruzou a página 1305 como se flutuasse (uma esfera de ar

viva)

e foi postar-se no alto

no limite entre o texto e a margem branca enquanto eu

fascinado

indagava:

como pode residir insuspeitado nestas encardidas páginas

– em minha casa, afinal de contas – um tal ser

mínimo mas vivo consciente de si

(e como eu

parte do século XXI) e que agora parece observar-me

tão espantado quanto estou

com este nosso inesperado encontro?

FeRReiRa gULLaR Em alguma parte alguma. Rio de Janeiro: José olympio, 2013.

Uma aranha

20

25

(35)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa e literatura brasileira

7

Questão

05

Um tema característico da renovação poética modernista é a valorização do cotidiano, como se observa em Uma aranha. No poema, essa valorização se expressa por meio da seleção vocabular e da referência às dúvidas existenciais. Observe os fragmentos:

Identifique duas palavras ou expressões que comprovam a valorização do cotidiano. Indique, também, o fragmento em que se evidencia a referência a dúvidas existenciais a partir de elementos do cotidiano e transcreva desse fragmento a palavra que revela a surpresa do poeta.

como pode residir insuspeitado nestas encardidas páginas

� em minha casa, afinal de contas � um tal ser (v. 16-20)

ela surgiu não sei de onde

quando abri o Dicionário de Filosofia de José Ferrater Mora

(no verbete Descartes, René) mi- núscula (v. 1-5)

I II

(36)

língua portuguesa e literatura brasileira

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

8

Pode-se observar uma semelhança e uma diferença nas representações do louva-deus, no texto I, e da aranha, no texto II. Um traço comum a ambos é a estrutura delicada e frágil do corpo, destacada logo no início dos textos. O traço diferenciador é a relação entre o animal e o ser humano.

Transcreva de cada um dos textos a expressão que mais explicitamente revela o traço comum ao louva-deus e à aranha.

Em seguida, indique o título do texto em que a relação entre animal e ser humano é de dominação, justificando sua resposta por meio de um enunciado completo.

Questão

06

Quatro trechos do poema estão delimitados graficamente por parênteses ou travessões. Dois deles empregam linguagem com características especiais: uma técnica e outra poética.

Identifique esses dois trechos e cite a linguagem característica observada em cada um.

Questão

07

(37)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa e literatura brasileira

9

TEXTO III

Gato gato gato

Familiar aos cacos de vidro inofensivos, o gato caminhava molengamente por cima do muro.

O menino ia erguer-se, apanhar um graveto, respirar o hálito fresco do porão. Sua úmida penumbra. Mas a presença do gato. O gato, que parou indeciso, o rabo na pachorra1 de uma quase interrogação.

(...)

Gato � leu no silêncio da própria boca. Na palavra não cabe o gato, toda a verdade de um gato.

Aquele ali, ocioso, lento, emoliente2 � em cima do muro. As coisas aceitam a incompreensão de um nome que não está cheio delas. Mas bicho, carece nomear direito: como rinoceronte, ou girafa se tivesse mais uma sílaba para caber o pescoço comprido. Girarafa, girafafa. Gatimonha, gatimanho3. Falta um nome completo, felinoso e peludo, ronronante4 de astúcias adormecidas.

O pisa-macio, as duas bandas de um gato. Pezinhos de um lado, pezinhos de outro, leve, bem de leve para não machucar o silêncio de feltro nas mãos enluvadas.

O pelo do gato para alisar. Limpinho, o quente contato da mão no dorso, corcoveante5 e nodoso6 à carícia. O lânguido sono de morfinômano7. O marzinho de leite no pires e a língua secreta, ágil. A ninhada de gatos, os trêmulos filhotes de olhos cerrados. O novelo, a bola de papel � o menino e o gato brincando. Gato lúdico8. O gatorro, mais felino do que o cachorro é canino.

Gato persa, gatochim � o espirro do gato de olhos orientais. Gato de botas, as aristocráticas pantufas do gato. A manha do gato, gatimanha: teve um gata miolenta9 em segredo chamada Alemanha.

Em cima do muro, o gato recebeu o aviso da presença do menino. Ondulou de mansinho alguns passos denunciados apenas na branda alavanca das ancas. Passos irreais, em cima do muro eriçado10 de cacos de vidro. E o menino songa-monga11, quietinho, conspirando no quintal, acomodado com o silêncio de todas as coisas.

No se olharem, o menino suspendeu a respiração, ameaçando de asfixia tudo que em torno dele com ele respirava, num só sistema pulmonar. O translúcido manto de calma sobre o claustro12 dos quintais. O coração do menino batendo baixinho. O gato olhando o menino vegetalmente nascendo do chão, como árvore desarmada e inofensiva. A insciência13, a inocência dos vegetais.

(...)

Menino e gato ronronando em harmonia com a pudica intimidade do quintal. Muro, menino, cacos de vidro, gato, árvores, sol e céu azul: o milagre da comunicação perfeita. A comunhão dentro de um mesmo barco. O que existe aqui, agora, lado a lado, navegando. A confidência essencial prestes a exalar, e sempre adiada. E nunca. O gato, o menino, as coisas: a vida túmida14 e solidária. O teimoso segredo sem fala possível. Do muro ao menino, da pedra ao gato: como a árvore e a sombra da árvore.

oTTo LaRa ReseNDe Bosi, alfredo. O conto brasileiro contemporâneo. são Paulo: Cultrix, 1975.

5

10

15

20

25

30

1 pachorra � lentidão

2 emoliente � que amolece

3 gatimonha, gatimanho � movimento lento com as mãos

4 ronronante � referente ao ruído produzido pelo gato

5 corcoveante � ondulante

6 nodoso � cheio de nós

7 morfinômano � que gosta de dormir

8 lúdico � relativo à brincadeira, ao jogo

9 miolenta � combinação de miar + lenta

10 eriçado � arrepiado

11 songa-monga � dissimulado

12 claustro � pátio interior nos conventos

13 insciência � ignorância

14 túmida � inchada

(38)

língua portuguesa e literatura brasileira

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

10

O texto Gato gato gato faz um uso inovador da língua, de modo a explicitar a necessidade de inventar palavras. Num dos parágrafos do texto, o autor justifica a renovação vocabular por ele praticada.

Com base nesse parágrafo, apresente a razão oferecida pelo autor para renovar o vocabulário.

Transcreva duas palavras, retiradas desse mesmo parágrafo, que ilustrem essa justificativa.

Questão

08

Em cima do muro, o gato recebeu o aviso da presença do menino. (l. 19)

O adjunto adverbial que ocorre neste enunciado pode ser deslocado para outras posições; em uma delas, porém, a frase se tornará ambígua.

Reescreva o enunciado duas vezes com o deslocamento do adjunto, de modo a manter o sentido original em uma e a criar ambiguidade em outra. Aponte, também, a construção ambígua e explique-a.

Questão

09

(39)

Vestibular estadual 2014 2ª fase exame discursiVo

língua portuguesa e literatura brasileira

11

Gato persa, gatochim � o espirro do gato de olhos orientais. (l. 16)

Ondulou de mansinho alguns passos denunciados apenas na branda alavanca das ancas.

(l. 19 - 20)

Os termos sublinhados acima evidenciam dois recursos de exploração da camada sonora das palavras.

Nomeie esses dois recursos. Em seguida, indique aquele que é um exemplo de neologismo, explicitando seu significado.

Questão

10

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