• Nenhum resultado encontrado

Até Mesmo a Menor das Criaturas Pode Mudar o Mundo: a Formação do Herói em O Senhor dos Anéis

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Até Mesmo a Menor das Criaturas Pode Mudar o Mundo: a Formação do Herói em O Senhor dos Anéis"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

1

Até Mesmo a Menor das Criaturas Pode Mudar o Mundo:

a Formação do Herói em “O Senhor dos Anéis”

Bruno Silva de Oliveira (PVIC), Profª. Lisle Andrea de Jesus Silva Menezes, Profª. Esp. Maria Divina de Jesus Silva

Universidade Estadual de Goiás, Unidade Universitária de Iporá, 76200-000, Brasil

bso_15@hotmail.com mariadv40@hotmail.com

Palavras-chaves: O Senhor dos Anéis, Tolkien, Campbell, Herói, Frodo.

1 INTRODUÇÃO

Na carta nº 246, J. R. R Tolkien responde a uma pergunta feita pela senhora Eileen Elgar, se Frodo1 havia fracassado em sua jornada por não ter destruído o Um Anel nas fornalhas da Montanha da Perdição; esta pergunta se tornou o ponto de partida desta pesquisa, pois ela faz refletir sobre alguns pontos da literatura os quais esta pesquisa foca, como o que é o herói, como ele se forma, e se Frodo é realmente um herói. Para responder a estas perguntas utiliza duas teorias referentes ao herói: a de Lord Raglan e a de Campbell.

2 MATERIAIS E MÉTODOS

Este estudo utiliza o método de pesquisa bibliográfica, tendo como corpus de análise a obra de John Ronald Reuel (J. R. R.) Tolkien, O Senhor dos Anéis (2002); para a análise da construção da figura arquetípica do herói utiliza-se O herói de mil faces, de Joseph Campbell (2007), e The Hero, de Lord Raglan (1956); e as obras Understanding The lord of the ring – the best Tolkien criticism, de Rose A.

1 Personagem central de uma das tramas principais do livro “O Senhor dos Anéis”, sendo o protagonista da jornada para destruir o Um Anel.

(2)

2

Zimbardo & Neil D. Isaacs (2004), The battle for the Middle-earth: Tolkien's divine desing in The Lord of the Ring, de Fleming Rutledge (2004), O Senhor dos Anéis &

Tolkien: o poder mágico da palavra, de Rosa Sílvia López (2004), entre outras como referências críticas sobre a obra do autor.

3 RESULTADOS E DISCUSSÃO

Neste estudo, utilizou-se duas teorias de formação do herói: a de Lord Raglan e a de Campbell.

A teoria de Lord Raglan expõe que o herói tem vinte e duas características que o padronizam, elas são:

(1) A mãe do herói é uma virgem real; (2) Seu pai é um rei, e, (3) Muitas vezes um parente próximo de sua mãe, mas, (4) As circunstâncias de sua concepção são incomuns, e, (5 ) Ele também é famoso por ser o filho de um deus. (6) Por ocasião do nascimento é feita uma tentativa, geralmente por seu pai ou seu avô materno, para matá-lo, mas (7) Ele é cuidado a distância, e (8) criados por pais adotivos em um país distante. (9) É-nos dito nada de sua infância, mas (10) Ao chegar a idade adulta, ele retorna ou vai para o seu futuro reino. (11) Depois de uma vitória sobre o rei e/ou um gigante, dragão ou fera, (12) Ele se casa com uma princesa, muitas vezes, uma filha do seu antecessor, e (13) torna-se rei. (14) Por um tempo ele reina sem intercorrências, e (15) prescreve leis, mas (16) depois que ele perde o favor dos deuses e/ou de seus súditos, e (17) é conduzido a partir do trono e da cidade, após o qual (18 ) ele se encontra com uma morte misteriosa, (19) Muitas vezes no topo de uma colina. (20) Seus filhos, se houver, não sucedê-lo. (21) Seu corpo não é enterrado, mas ainda assim (22) ele tem um ou mais santos sepulcros.2(Lord RAGLAN, 1956, p. 174-5)

2 Do original: (1) The hero's mother is a royal virgin; (2) His father is a king, and; (3) Often a near relative of his mother, but; (4) The circumstances of his conception are unusual, and; (5) He is also reputed to be the son of a god. (6) At the birth an attempt is made, usually by his father or his maternal grandfather, to kill him, but (7) He is spirited away, and (8) reared by foster-parents in a far country. (9) We are told nothing of his childhood, but (10) On reaching manhood he returns or goes to his future kingdom. (11) After a victory over the king and/or a giant, dragon, or wild beast, (12) He marries a princess, often a daughter of the predecessor, and (13) Becomes king. (14) For a time he reigns uneventfully, and (15) Prescribes laws, but (16) later he loses favour with the gods and/or his subjects, and (17) Is driven from the throne and city, after which (18) he meets with a mysterious death, (19) Often at the top of a hill. (20) His children, if any, do not succeed him. (21) His body is not buried, but nevertheless (22) he has one or more holy sepulchres.

(3)

3

Esta teoria expõe que o indivíduo nasce herói, que ele é predestinado a ter determinadas atitudes. Se compara herói consagrados pela literatura, como Édipo3, Jasão4, Perseu5, Sigurd/ Siegfried6 e Rei Arthur7 com a teoria acima exposta vislumbra-se que ela faz uma escala somatória das características, atribuindo um ponto para cada característica da lista que o individuo analisado possua, expondo e taxando se um herói é melhor do que o outro.

Se aplicar a teoria de Lord Raglan à história de Frodo, a pontuação deste é nula, pois o Condado não é um reino, não possui reis, rainhas ou princesas, Frodo não é filho de nenhum deus (ou valar) e ao se tornar adulto e enfrentar a jornada para destruir o Um Anel ele não mata nenhuma criatura, ele não casa com ninguém e não assume status de governante, e a história não narra a morte de Frodo já que este vai para as terras além-mar do oeste acompanhando os elfos.

Já a teoria de Campbell, nos elucida que o herói se forma em uma jornada, jornada esta composta por três fases distintas que se subdividem: partida ou separação (a chamada da aventura, a recusa do chamado, o auxílio sobrenatural, a passagem pelo primeiro limiar, o ventre da baleia), iniciação (o caminho de provas, o encontro com a deusa, a mulher como tentação, a sintonia com o pai, a apoteose, a benção última) e retorno (a recusa do retorno, a fuga mágica, o resgate como auxilio externo, a passagem pelo limiar do retorno, o senhor de dois mundos, liberdade para viver).

A teoria de Campbell aponta que o indivíduo se torna um herói, e que há uma estrutura básica na história de todos os heróis, mas que cada história possui suas particularidades.

Frodo é chamado para a aventura quando ele recebe a herança de Bilbo, seu tio. Anos depois, é informado por Gandalf que esta herança, o Um Anel, deverá ser destruída nas fendas da Montanha da Perdição. Ele inicialmente recusa este chamado por se considerar pequeno e incapaz desta jornada, mas é convencido por Gandalf, seu mentor e auxilio sobrenatural, a encarar o inicio da jornada, que é levar

3 Personagem central da tragédia Édipo-Rei, escrita por Sófocles.

4 Herói mítico presente no mito dos argonautas e na tragédia Medeia, de Eurípedes.

5 Herói mítico presente no mito da Medusa.

6 Personagem central da saga dos Volsungas.

7 Herói lendário da cultura britanica.

(4)

4

o anel a Valfenda. Em sua jornada, ele é acompanhado por mais três companheiros, e ao passar pela floresta velha e os perigos que ela possui, Frodo passa pelo primeiro limiar e transpõe o ventre da baleia.

Em sua iniciação, passa por um caminho de provas como um ataque de cavaleiros negros, ter que reassumir o fardo de ser o portador do Um Anel no conselho de Elrond e perder o seu mentor. Mas ele encontra com Galadriel e sofre a tentação de ceder o anel a senhora de Lothlórien, transpondo o encontro com a deusa e a tentação da mulher. A sintonia com o pai, vem quando Frodo aceita (a) ajuda(r) de Gollum por dó e misericórdia daquela “criatura” que um dia foi semelhante a ele, se assemelhando assim ao próprio Bilbo que “ao invés de iniciar a sua posse com ganância, ele o havia feito por compaixão8” do estado o qual Gollum (ou Sméagol) se encontrava em uma caverna (passagem esta referente ao livro O Hobbit, de J. R. R. Tolkien). O momento da apoteose é quando Frodo por vontade própria destruiria o Um Anel, mas este fato não acontece. Porém, a última benção é quando Gollum ataca Frodo toma-lhe o anel e por deslize cai no fogo da Montanha da Perdição.

A recusa do retorno simboliza os “troféus” da jornada, que no caso de Frodo são as mutilações, tanto físicas como mentais; a fuga mágica é o resgate realizado por Gandalf, e o resgate pelo auxilio externo é o encontro com o Condado que está tomado pela sombra. A passagem pelo limiar do retorno é a reconquista do Condado, tirando-o da tirania do mal. A etapa o senhor de dois mundo é quando Frodo e seus companheiros limpam e re-estabelecem a paz e a confiança no Condado. E a liberdade para viver é vislumbrada quando Frodo recebe o consentimento de embarcar no ultimo navio que vai para as terras do oeste, já que devido suas mutilações psicológicas provenientes de ser o portador do anel não permitiria que este vivesse muito e de forma plena.

“O herói, como Jung diz, é um 'homem grandioso... semi-divino por natureza,' que encontra 'aventuras perigosas e provações' e encontra o velho sábio”9. E Tolkien em O Senhor dos Anéis quis mostrar com a jornada heroica de

8 LÓPEZ, 2004, p. 127.

9 Do original: “The hero, as Jung says, is a 'greater man... semi-divine by nature,' who meets 'dangerous adventures and ordeals' and encounters the Wise Old Man”. (ZIMBARDO & ISAACS,

(5)

5

Frodo que “alguém se torna grande por causa de qualidades mais importantes que tamanho ou força”10; que Frodo é “um herói extremamente improvável, numa perigosa viagem, numa grande demanda”11 que testa-o ao limite, possibilitando que este descubra “qualidades nobres que jamais imaginava possuir: bravura, força, determinação e paciência”12.

4 CONCLUSÃO

Vislumbra-se que a teoria de Lord Raglan aponta que Frodo não é um herói, pois ele não segue o mesmo padrão de características dos heróis clássicos, como Édipo, Teseu, Hércules (ou Herácles); mas, segundo a de Campbell, Frodo é realmente um herói, pois este passa por uma jornada de formação, composta por limiares que o constrói, fazendo com que este se forme ao mesmo tempo em que se conhece. Referente as duas teorias a que endossa esta pesquisa é a de Campbell;

entretanto, não significa que se deva desconsiderar a teoria de Lord Raglan, pois em O Senhor dos Anéis, não há apenas um herói, mas inúmeros, caso de Aragorn que se enquadra na teoria deste.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

CAMPBELL, Joseph. O herói de mil faces. São Paulo: Pensamentos, 2007.

CARTER, Lin. O senhor do Senhor dos Anéis: o mundo de Tolkien. Rio de Janeiro, 2003.

COLBERT, David. O mundo mágico do Senhor dos Anéis. Rio de Janeiro: Sextante, 2002.

LÓPEZ, Rosa Sílvia. O Senhor dos Anéis & Tolkien: o poder mágico da palavra. São Paulo: Devir: Arte & Ciência, 2004.

Lord RAGLAN. The hero. New York: Vintage books, 1956.

RUTLEDGE, Fleming. The battle for Middle-earth: Tolkien's divine desing in The Lord of the Ring. Cambridge: W. B. Eerdmans, 2004.

TODOROV, Tzvetan. Introdução à literatura fantástica. São Paulo: Perspectiva, 2008.

2004, 173)

10 COLBERT, 2002, p 40 11 Idem.

12 Ibidem.

(6)

6

TOLKIEN, J. R. R. As cartas de Tolkien. Curitiba: Arte e Letra Editora, 2006.

__________. O senhor dos anéis: primeira parte: a sociedade do anel. - 2ª ed. - São Paulo: Martins Fontes, 2002.

__________. O senhor dos anéis: segunda parte: as duas torres. - 2ª ed. - São Paulo:

Martins Fontes, 2002.

__________. O senhor dos anéis: terceira parte: o retorno do rei. - 2ª ed. - São Paulo:

Martins Fontes, 2002.

ZIMBARDO, Rose A.; ISAACS, Neil D. Understanding The lord of the ring: the best of Tolkien Criticism. New York: Houghton Mifflin Company, 2004.

Referências

Documentos relacionados

A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se A espectrofotometria é uma técnica quantitativa e qualitativa, a qual se baseia no fato de que uma

Nossos parâmetros de rating levam em consideração o potencial de valorização da ação, do mercado, aqui refletido pelo Índice Bovespa, e um prêmio, adotado neste caso como a taxa

6 Consideraremos que a narrativa de Lewis Carroll oscila ficcionalmente entre o maravilhoso e o fantástico, chegando mesmo a sugerir-se com aspectos do estranho,

O valor da reputação dos pseudônimos é igual a 0,8 devido aos fal- sos positivos do mecanismo auxiliar, que acabam por fazer com que a reputação mesmo dos usuários que enviam

O enfermeiro, como integrante da equipe multidisciplinar em saúde, possui respaldo ético legal e técnico cientifico para atuar junto ao paciente portador de feridas, da avaliação

Apothéloz (2003) também aponta concepção semelhante ao afirmar que a anáfora associativa é constituída, em geral, por sintagmas nominais definidos dotados de certa

A abertura de inscrições para o Processo Seletivo de provas e títulos para contratação e/ou formação de cadastro de reserva para PROFESSORES DE ENSINO SUPERIOR

Transformar los espacios es también transformar la dinámica de las relaciones dentro del ambiente de trabajo, la glo- balización alteró el mundo corporativo, en ese sentido es