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Trabalho Inscrito na Categoria de Artigo Completo ISBN 978-65-86753-31-8

EIXO TEMÁTICO:

( ) Cidades inteligentes e sustentáveis ( x ) Conforto Ambiental e Ambiência Urbana

( ) Engenharia de tráfego, acessibilidade e mobilidade urbana ( ) Habitação: questões fundiárias, imobiliárias e sociais ( ) Patrimônio histórico, arquitetônico e paisagístico ( ) Projetos e intervenções na cidade contemporânea ( ) Saneamento básico na cidade contemporânea ( ) Tecnologia e Sustentabilidade na Construção Civil

O mundo pelo olhar atípico: Clínica de intervenção e espaço de convívio

destinados às pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA) em

Pederneiras (SP) com parâmetros bioclimatológicos.

The world by an athypic view: Intervention clinic and living space dedicated to people

with Autism Spectrum Disorder (ASD) in Pederneiras (SP) with bioclimatological

parameters.

El mundo pela mirada atípica: Clínica de intervención y espácio social para personas com

Transtorno del Espectro Autista (TEA) en Pederneiras (SP) com parámetros

bioclimatológicos.

Andre Canelada

Arquiteto e Urbanista, UNISAGRADO, Brasil andrecanelada@gmail.com

Fabiana Padilha Montanheiro

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211 RESUMO

O autismo, ou Transtorno do Espectro Autista (TEA), é uma condição que afeta as áreas de interação social, cognição e carência de comunicação verbal e não-verbal. O início de investigações sobre tema surgiu em 1911, com o psiquiatra Eugen Bleuler e posteriormente por Leo Kanner também psiquiatra, em 1943. Ainda hoje, não há tratamento que cure o transtorno, porém há intervenções terapêuticas que auxiliam o indivíduo autista a se inserir comumente na sociedade. São três os níveis de atenção que existem e se manifestam, dentre eles o nível primário, o secundário e o terciário. No Brasil, embora existam clínicas destinadas às intervenções, não há um espaço que una os três níveis do transtorno. Frente ao exposto, este estudo teve como objetivo projetar um espaço clínico com intervenções terapêuticas na cidade de Pederneiras (SP) atendendo a todos os níveis e, sirva como um espaço de convívio e interação entre os usuários do local. Metodologicamente, foram realizadas pesquisas na literatura em livros, artigos, websites e revistas sobre os assuntos pertinentes - autismo e arquitetura bioclimática.Com as diretrizes ponderadas, o conceito a ser utilizado para o desenvolvimento do projeto foi proposto a partir de uma analogia entre o símbolo do autismo, caracterizado pelo quebra-cabeças e as cores utilizadas por ele, que são variações dos tons primários. O projeto é composto por quatro blocos a partir do quebra-cabeça desconstruído. Cada bloco atende a um programa de necessidades específico. O complexo foi inserido em uma área que ao seu redor possui uma extensa natureza. PALAVRAS-CHAVE: Transtorno do Espectro Autista. Arquitetura Bioclimática. Níveis de atenção. Pederneiras.

ABSTRACT

Autism, or Autistic Spectrum Disorder (ASD), is a condition that affects the areas of social interaction, cognition and lack of verbal and non-verbal communication. The beginning of investigations on the subject came in 1911, with the psychiatrist Eugen Bleuler and later by Leo Kanner, also a psychiatrist, in 1943. Even today, there is no treatment that cures the disorder, but there are therapeutic interventions that help the autistic individual to insert themselves commonly. in society. There are three levels of care that exist and are manifested am ong them the primary, secondary and tertiary levels. In Brazil, although there are clinics for interventions, there is no space that unites the three levels of the disorder. In view of the above, this study aimed to design a clinical space with therapeutic interventions in the city of Pederneiras (SP) that meets all levels and serves as a space for socializing and interaction between users of the place. Methodologically, literature searches were carried out on books, articles, websites and magazines on the relevant subjects - autism and bioclimatic architecture. With the weighted guidelines, the concept to be used for the development of the project was proposed based on an analogy between the symbol of autism, characterized by the puzzles and the colors used by it, which are variations of the primary tones. The project consists of four blocks from the deconstructed puzzle. Each block meets a specific needs program. The complex was inserted in an area that has an extensive nature around it.

KEYWORDS: Autism Spectrum Disorder. Bioclimatic Architecture. Levels of attention. Pederneiras. RESUMEN

El autism, o trastorno del espectro autista (TEA), es una condición que afecta las áreas de interacción social, cognición y falta de comunicación verbal y no verbal. El inicio de las investigaciones sobre el tema se produjo en 1911, con el psiquiatra Eugen Bleuler y más tarde por Leo Kanner, también psiquiatra, en 1943. Aún hoy, no existe un tratamiento para curar el trastorno, pero existen intervenciones terapéuticas que ayudan a los autistas. individuo para insertarse comúnmente en la sociedad. Hay tres niveles de atención que existen y se manifiestan entre ellos los niveles primario, secundario y terciario. En Brasil, aunque existen clínicas para intervenciones, no existe un espacio que una los tres niveles del trastorno. En vista de lo anterior, este estudio tuvo como objetivo diseñar un espacio clínico con intervenciones terapéuticas en la ciudad de Pederneiras (SP) que cumpla con todos los niveles y sirva como espacio de socialización e interacción entre los usuarios del lugar. Metodológicamente, se realizaron búsquedas bibliográficas en libros, artículos, sitios web y revistas sobre los temas relevantes: autismo y arquitectura bioclimática. Con las pautas ponderadas, se propuso el concepto a utilizar para el desarrollo del proyecto a partir de una analogía entre el símbolo del autismo, caracterizado por los rompecabezas y los colores que utiliza, que son variaciones de los tonos primarios. El proyecto consta de cuatro bloques del rompecabezas deconstruido. Cada bloque cumple con un programa de necesidades específicas. El complejo se insertó en un área que tiene una naturaleza extensa a su alrededor.

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1 INTRODUÇÃO

Tamanaha, Perissinoto e Chiari (2008) explicam que o Transtorno do Espectro Autista (TEA) começou a ser pesquisado e difundido a partir de 1943. Definido pelo psiquiatra austríaco Leo Kanner, porém incompreendido pela maioria das pessoas na época, que classificavam aqueles que demonstravam os sinais de autismo como sendo esquizofrênicos. As características comuns ao transtorno são: dificuldades em relacionamentos sociais, em comunicação por carência na linguagem falada e perturbações no sistema neurológico (TAMANAHA; PERISSINOTO; CHIARI, 2008). Até hoje, diagnosticar uma pessoa com TEA não é simples, pois além dos sinais que são demonstrados, existem as peculiaridades de cada caso, tendo em vista os diferentes níveis que a condição pode tomar (TAMANAHA; PERISSINOTO; CHIARI, 2008).

O autismo pode ser classificado em três níveis de atenção em decorrência do estado e a gravidade em que a pessoa com o transtorno se encontra. Comumente, há espaços de intervenção para cada um dos níveis e não um que atenda os três em um mesmo lugar. Por isso, o presente trabalho teve como principal proposta a criação de um complexo com clínica de intervenção e espaços de convívio destinados às pessoas com TEA na cidade de Pederneiras, interior do estado de São Paulo, com ênfase na arquitetura bioclimática – tema atual e com grande relevância a projetos arquitetônicos.

Olgyay (1973 apud LAMBERTS et al., 2016) diz que a arquitetura bioclimática trata da ciência que estuda a relação direta entre o clima e o ser humano, com o objetivo de compreender as influências das condições climáticas locais na idealização de um projeto. A fim de obter os resultados esperados de acordo com cada projeto, devem ser analisadas questões relacionadas ao clima, podendo ser de fator geomorfológico como o

sol, latitude, altitude, ventos, massas de terra e água, topografia, vegetação, solo etc quanto sua caracterização definida por seus elementos (temperatura do ar, umidade do ar, movimentos das massas de ar e precipitações) (ROMERO, 2000, p. 01).

Lamberts, Dutra e Pereira (2014) corroboram, pois uma edificação pode tomar partido ou evitar os efeitos dessas variáveis, a fim de tornar os ambientes internos melhores em relação ao conforto dos usuários, podendo ser empregado, portanto, de forma artificial ou natural. 1.1 Autismo

Também conhecido como Transtorno do Espectro Autista (TEA), o autismo é uma condição que afeta as áreas de interação social, a cognição, carência e, em alguns casos, os padrões de comunicação verbal e não-verbal, podendo ser percebido em crianças de até três anos de idade (TAMANAHA; PERISSINOTO; CHIARI, 2008; GONÇALVES et al., 2017). Na maioria dos casos, o autismo surge como uma modificação genética, porém pode começar a ser desenvolvido por influências ambientais e comportamentais (VERGARA; TRANCOSO; RODRIGUES, 2018).

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pessoa pode possuir dificuldade em estabelecer comunicações verbais, mas não é limitante para a construção de relações sociais (RUSSO, 2017). Segundo Tamanaha et al. (2013, p. 11), a etiologia1 pode ser tanto por fatores genéticos, como algum “familiar de primeiro grau

acometido, presença de defeitos congênitos, idade materna ou paterna acima de 40 anos”. Quanto aos fatores ambientais, como

[...] exposição a agentes químicos, falta de vitamina D, falta de ácido fólico, infecções maternas, uso de certas drogas, como ácido valpróico durante a gestação, prematuridade (abaixo de 35 semanas) ou baixo peso ao nascer (menor que 2500g) (TAMANAHA et al., 2013, p. 11).

1.2 A arquitetura e o autismo

A percepção2 humana sobre o ambiente construído tende a ser seletiva. Cada pessoa

absorve as informações de um lugar em que se faz presente tendo em vista as “experiências vividas, os valores culturais do grupo social do qual o indivíduo faz parte e da seleção de códigos de referência significativos para a interpretação da realidade” (BESTETTI, 2014, p. 604).

A comunicação entre a pessoa e o espaço em que ela está inserida é feita através dos cinco sentidos - visão, audição, tato, paladar e olfato (VERGARA; TRANCOSO; RODRIGUES, 2018). Entretanto, segundo Grandin e Panek (2017), cerca de nove a cada dez pessoas autistas apresentam transtornos sensoriais, interferindo na relação que elas têm com o espaço. Por isso, a percepção espacial para os autistas tende a ser diferente, podendo limitar o conhecimento deles sobre o mundo. Isso porque acabam, em muitos casos, focando em pequenas partes e em detalhes, causando diferentes interpretações sobre um local devido ao distúrbio, que provoca “confusão na percepção das informações e na interpretação dos sentidos”, fazendo com que “o mundo passe a ser uma fonte de ruídos, odores e poluições visuais, ou seja, um cenário caótico que pode causar insegurança” [...] (VERGARA, TRONCOSO, RODRIGUES, 2018, s/p).

O comportamento do autista pode ser influenciado [...] pela arquitetura que o envolve (cor, textura, ventilação, sensação claustrofóbica, orientação, acústica etc.). Talvez alterando o modo como essas sensações são impostas, fazendo de uma maneira projetada para acomodar as necessidades específicas dos autistas, o comportamento pode ser melhorado, ou ao menos criará ambientes que promovam um mais eficiente desenvolvimento de habilidades (MOSTAFA, 2008, p. 191, tradução nossa).

Pesquisas indicam que o modo com que as crianças autistas enxergam as cores é diferente do modo com que crianças neurotípicas3 enxergam. Isso devido ao fato de anomalias

nos olhos dessas pessoas, que acabam possuindo os bastonetes4 e cones5 mudados devido a um

desequilíbrio químico. Em um teste executado, 85% das crianças autistas analisadas enxergavam as cores mais intensamente do que o normal, 10% enxergavam normalmente e 5% viam as cores

1 Segundo Ferreira (2010, p.325), a palavra etiologia é a “parte da medicina que trata das causas das doenças”. 2 “Tradução dos estímulos ambientais refletida em padrões de comportamento e com fatores selecionados por meio dos sentidos ativos de cada indivíduo” (BESTETTI, 2014, p. 604).

3 Criança que está dentro do nível e idade esperados para o desenvolvimento dos aspectos do sistema nervoso central, sendo eles linguísticos, de marcha, sensoriais, cognitivos entre outros (BREDA, ©2020).

4 “Células altamente sensíveis na parte mais exterior da retina (o revestimento no fundo do olho). Eles são usados em áreas de luz baixa e são mais sensíveis à luz, formas e mudanças de movimentos. Eles não detectam cores” (SMITH, 2017, s/p).

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de maneira menos intensa do que elas realmente eram (MOFFITT, 2011). O ambiente deve ser pensado de maneira acústica, também, de modo que minimize os ruídos externos de fundo e a reverberação (MOSTAFA, 2008).

1.3 Conforto Ambiental

A arquitetura sempre foi um fator vincular entre a natureza e o ser humano. Desde o primórdio das civilizações, a natureza possuía a função de abrigar e proteger as pessoas contra as intempéries climáticas. Com o passar do tempo e o desenvolvimento e criação de novas tecnologias e, consequentemente, as novas necessidades individuais, as edificações foram sendo pensadas e projetadas visando melhores condições de habitabilidade, principalmente relacionadas às questões térmicas, acústicas e lumínicas (FREITAS; AZERÊDO, 2013).

Ainda segundo os autores, desde a primeira concepção projetual arquitetônica ou urbana, o projeto deve visar o conforto ambiental, sendo primordial para a vitalidade em um espaço construído. Essa temática possui diversas vertentes de estudo, e todo o conhecimento adquirido pelas diversas pesquisas que são realizadas, devem ser postas em prática para que haja um espaço confortável.

Segundo Corbella e Yannas (2003, p.32),

Uma pessoa está confortável com relação a um acontecimento ou fenômeno quando pode observá-lo ou senti-lo sem preocupação ou incômodo. Então, diz-se que uma pessoa está em um ambiente físico confortável quando se sente em neutralidade com relação a ele (CORBELLA; YANNAS, 2003, p. 32).

De acordo com Sampaio e Chagas (2010), dependendo da circunstância em que o ser humano se encontra, o conforto ambiental pode ser dividido entre acústico, lumínico e térmico. 1.3.1 Conforto Térmico

O conceito de conforto térmico está relacionado às sensações e satisfações de uma pessoa no ambiente que a circunda. Quando há sensação de desconforto por parte do usuário do espaço, pressupõe-se que o calor produzido pelo corpo é diferente do calor que está sendo perdido para o ambiente, ou seja, o balanço térmico entre a pessoa e o espaço não está estável (LAMBERTS et al., 2016). Todavia, devido às diferenças biológicas entre os seres humanos, não é possível que um ambiente seja termicamente confortável para todos que o ocupam, entretanto, o projeto deve ser desenvolvido visando a agradabilidade pela maioria dos que usufruem do espaço (LAMBERTS et al., 2011).

O organismo humano pode ser comparado a uma máquina térmica, a qual produz uma quantidade de calor dependendo da atividade que está exercendo. Além disso, o homem precisa liberar uma quantidade de calor que seja suficiente para que sua temperatura interna se mantenha constante, fator conhecido como homeotermia, que é a capacidade do corpo humano em manter a temperatura estável, a qual possui média de 37ºC (FROTA; SCHIFFER, 2001).

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quantidade de calor cedido para o ambiente”, porém não é o suficiente para que haja o almejado conforto.

Um elemento capaz de conferir melhor conforto térmico, principalmente nos interiores dos ambientes, são os brises (Figura 1), estruturas que barram a incidência direta de iluminação natural, evitando o calor excessivo nos espaços (UGREEN, 2019).

Figura 1: Brises na fachada do edifício da Inter Crop

Fonte: Archdaily (2018).

1.4 Estratégias Bioclimáticas

Segundo Lamberts et al. (2016) estratégias bioclimáticas são técnicas de aquecimento e resfriamento de um projeto, para que ele atinja sensações de conforto térmico naqueles que utilizam o espaço sem o emprego de meios mecânicos e artificiais e, consequentemente, visando reduzir o consumo de energia nas edificações.

1.4.1 Zona de conforto

As condições delimitadas por essa zona de conforto (Figura 2) fazem com que a pessoa que esteja usufruindo de um espaço se sinta termicamente confortável quando exposta a temperaturas que variam entre 18°C e 29°C. Quando em temperatura próxima a 18°C, deve-se evitar o contato com correntes de vento, pois pode provocar desconforto (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2004).

Figura 2: Zona de conforto

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1.4.2 Zona de ventilação natural

A zona de ventilação natural (Figura 3) se trata de uma intervenção com resfriamento natural de um ambiente, em que o ar quente (interno) é substituído pelo ar frio (externo) através de ventilação cruzada, ventilação da cobertura e ventilação do piso sob a edificação (LAMBERTS

et al., 2016).

Figura 3: Zona de ventilação natural

Fonte: Projeteee (©2020).

1.4.3 Zona de inércia térmica para resfriamento

Segundo a plataforma nacional pública Projetando Edificações Energeticamente Eficientes (PROJETEEE), que “agrupa soluções para um projeto de edifício eficiente” (PROJETEEE, © 2020, s/p), a zona de inércia térmica para resfriamento é composta por,

uma edificação de elevada inércia térmica uma diminuição das amplitudes térmicas internas e um atraso térmico no fluxo de calor devido a sua alta capacidade de armazenar calor, fazendo com que o pico de temperatura interna apresenta uma defasagem e um amortecimento em relação ao externo (PROJETEEE, ©2020).

Em uma edificação, o calor que é armazenado no interior das estruturas de uma construção é devolvido ao ambiente apenas durante o período noturno, quando as temperaturas externas diminuem. No mesmo tempo, essa estrutura que é resfriada no período da noite se mantém fria durante parte do dia, reduzindo a temperatura média nesses espaços. Essa estratégia é conhecida como inércia térmica de resfriamento, muito utilizada para evitar picos de temperatura em locais onde a umidade e temperatura média estão acima da zona do conforto térmico (Figura 4) (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2004).

Figura 4: Zona de inércia térmica para resfriamento

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1.4.4 Zona inércia térmica e aquecimento solar

Um edifício que possui elevada inércia térmica proporciona uma diminuição das amplitudes térmicas6 devido a capacidade de armazenamento do calor (Figura 5). Os

componentes que possuem alta inércia térmica servem como barreiras, absorvendo o calor no verão para que ele não se propague de forma intensa no interior da construção, ou armazenando esse calor para liberá-lo no período noturno durante o inverno (PROJETEEE, ©2020).

Figura 5: Inércia térmica para aquecimento

Fonte: Projeteee (©2020).

1.4.5 Zona de sombreamento

Trata-se de uma estratégia criadora de uma barreira que “controla a recepção da radiação solar” (ANDRADE, 1996, p. 61). Quando bem projetada, essa proteção deve evitar que um edifício ou um ambiente receba ganhos solares nos períodos mais quentes do ano, porém sem prejudicar esses espaços no período do inverno (PROJETEEE, ©2020).

“As principais técnicas de sombreamento são o uso de proteções solares ou brises, beirais de telhado generosos, marquises, sacadas, persianas, venezianas ou outro protetor interno, a orientação adequada do projeto e o uso de vegetação” ( Figura 6) (LAMBERTS; DUTRA; PEREIRA, 2004, p. 91).

Figura 6: Zona de sombreamento

Fonte: Projeteee (©2020).

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2 OBJETIVOS

O trabalho possuiu como objetivo o desenvolvimento de um projeto arquitetônico de um espaço de intervenção, educação e recreação para pessoas que possuem o Transtorno do Espectro Autista (TEA) na cidade de Pederneiras, interior do estado de São Paulo, utilizando princípios da arquitetura bioclimática.

3 METODOLOGIA

A priori, para o desenvolvimento do projeto, a pesquisa contou com uma revisão bibliográfica pautada na temática autista, realizada por meio de artigos digitais em periódicos, sites, revistas e livros, revelando a história e o surgimento do tema de estudo, as principais intervenções terapêuticas que auxiliam na melhora do transtorno, bem como a relação que a arquitetura possui com essa causa. Partindo desse princípio, a revisão bibliográfica rumou ao segundo assunto que foi abordado no decorrer da pesquisa, o conforto ambiental, definindo o termo e explanando sobre as principais estratégias bioclimáticas utilizadas para a execução de ambientes confortáveis. Após a análise teórica, foi realizado um fichamento bibliográfico para elencar os principais assuntos que seriam abordados.

O segundo método adotado foi a realização de entrevistas informais com profissionais especializados no assunto sobre Transtorno do Espectro Autista, representados por uma psicóloga, uma terapeuta ocupacional e uma pedagoga. Não foi realizado um questionário prévio para as entrevistas, apenas uma conversa para que pudesse ser entendido como acontecem os atendimentos às pessoas com TEA, quais suas reais necessidades quanto aos espaços e qual a influência destes na terapia, intervenção e acompanhamento.

Posteriormente, foram elencadas e analisadas obras correlatas ao projeto proposto para a aquisição de repertório projetual. O reconhecimento da área da implantação da proposta foi realizado com visitas ao local, análise, levantamentos técnicos e registros fotográficos. Por fim, o início das primeiras concepções projetuais com a elaboração do conceito e partido, programa de necessidades e do croqui deram o embasamento necessário para que pudesse ser elaborado o anteprojeto, composto por plantas técnicas, cortes, elevações, detalhamentos e as volumetrias.

4 RESULTADOS

Existem quatro simbologias visuais que representam o Transtorno do Espectro Autista, sendo elas o quebra cabeça, a fita da conscientização, o logotipo da neuro diversidade e a cor azul (Figura 7).

Figura 7: Simbologias que representam o autismo

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O projeto utilizou como conceito formal duas dessas simbologias, representadas pelo quebra-cabeças, que é empregado como a representação da complexidade de se entender as pessoas autistas e a cor azul, que representa simbolicamente a maior incidência de casos no sexo masculino, sendo 80% dos casos totais. Além do azul, serão utilizadas as cores “vermelho”, “amarelo” e “verde”, presentes no quebra-cabeças, na fita e no logotipo da neuro diversidade. Além da questão formal, outro conceito utilizado na proposta é a bioclimatologia, fator importante, tanto nas questões técnicas da edificação quanto no entorno, visto que ambientes ou espaços termicamente confortáveis implicam no bem-estar daqueles que o utilizam. Outro princípio é o da acústica, que foi primordial, tendo em vista que a sensibilidade com barulhos é alta para as pessoas com TEA.

Para isso, a forma do edifício seguiu o conceito de encaixe proposto pelo quebra-cabeças, tendo em cada peça um uso diferenciado, variando entre clínicas para atendimento de pacientes de nível primário de atenção, secundário, terciário e para uso geral. No que concerne à questão térmica, tendo em vista a orientação solar, o posicionamento do edifício é de grande importância para a execução do projeto, garantindo que a porção de luz que cada ambiente irá receber seja adequada com o uso e a quantidade de horas que as pessoas permanecem no interior desses espaços. A instalação de brises nas esquadrias foi necessária para controlar a quantidade de iluminação no interior do edifício. O elemento água tornou-se um recurso utilizado em vários pontos do projeto, com o intuito de criar de microclimas agradáveis. O uso de vegetação, tanto dentro (com a criação de pequenos jardins internos que podem servir como intervenção sensorial) quanto fora é uma das questões que auxiliam, juntamente com o elemento água, na criação de um clima local mais ameno, já que a cidade de Pederneiras é conhecida pelas altas temperaturas no decorrer do ano.

Já a acústica foi realizada com vedação interna nas paredes e mobiliário adaptado que não causem barulhos ao serem movidos. As salas clínicas e os espaços de convívio foram afastados das vias e do estacionamento, também, para que não cause incômodo aos pacientes. 4.4 O Projeto

A partir da criação de um diagrama setorial, foram instituídos quatro edifícios: o administrativo, localizado ao norte no terreno; o clínico, localizado ao oeste, o de entretenimento, ao leste e o de pet terapia, ao sul (Figura 8). Após a elaboração formal, os edifícios foram posicionados de modo a favorecer a entrada de iluminação natural. Para isso, grandes esquadrias metálicas com vedação em vidro laminado temperado foram criadas, bem como uma estrutura envidraçada retrátil na laje superior dos edifícios, criando um vão central em todos os pavimentos, onde estarão localizados os jardins de inverno e a circulação vertical, composta por rampas.

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Figura 8: Implantação projetual

Fonte: Elaborado pelo autor.

Por se tratar de um fundo de vale, uma parte do rio presente no limite posterior foi alargado, criando um espaço com uma escadaria e um deck de madeira para contemplação. Aproveitando o recuo exigido por lei em áreas de preservação permanente, foi criado um bosque com vegetação ciliar e um com eucaliptos, para que a fragrância das árvores seja espalhada por todo o terreno por meio dos ventos.

Locais de permanência e de lazer, como o parquinho, o redário e as quadras foram projetados para atender a grande parte do público que frequentará a clínica, sendo eles pacientes, pais ou acompanhantes, profissionais que trabalham no local ou até a população da cidade. Foi criado um ponto de ônibus próximo à entrada principal do edifício para facilitar a locomoção daqueles que utilizam esse meio. Além disso, ressalta-se a criação de espaços denominados “treinos de vida diário”, que simulam espaços públicos, como um mercado, uma padaria, e uma residência, para auxiliar o paciente na criação de hábitos casuais fora do ambiente clínico.

Utilizando princípios da sustentabilidade na concepção projetual, os pisos das áreas concretadas externas de grande parte do projeto são constituídos por intertravados, que garantem a absorção da água da chuva ao solo. Além dele, utiliza-se a madeira ecológica pela facilidade de manuseio na instalação, pela pouca necessidade de manutenção e por não causar trepidação nos que andam por ela, principalmente em cadeiras de rodas.

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o espelho d’água central, foram divididos sazonalmente de acordo com a floração das espécies das árvores. O primeiro, possui vegetação que floresce na primavera; o segundo com vegetação veraneia; o terceiro representando o outono e o quarto o inverno. Na área que compete aos pergolados, as espécies encontradas são as frutíferas, criando um pequeno pomar em meio ao desenho de piso que utiliza madeira ecológica, cimento e grama. Para exemplificar o estilo de cobertura adotado ao projeto, foi realizado um detalhamento esquemático da estrutura ( Figura 9).

Figura 9: Detalhamento 01- Cobertura verde

Fonte: Elaborado pelo autor.

Os sistemas de cobertura verde, juntamente com a instalação de placas solares, aumentam a eficiência energética das mesmas, fazendo com que os custos mensais diminuam. Para isso, são utilizadas mantas impermeabilizadoras e um módulo laminar que sustenta todo o peso das estruturas. A inclinação das placas se dá de acordo com a latitude da cidade em que ela está instalada. Além desse detalhe, foi proposto um modelo de estrutura para as paredes, o qual garante conforto e qualidade acústica no interior dos edifícios. Para isso, a estrutura de vedação é composta por tijolos cerâmicos de dimensões 19x19x39cm, o qual garante, também, melhor conforto térmico comparado ao bloco de concreto; uma chapa de gesso laminado de 1,50cm, fazendo o papel de isolante acústico e, para o acabamento interno, drywall e pintura acrílica (Figura 10).

Figura 10: Detalhamento 05- Acústica das paredes externas

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Para melhor visualização do complexo, foi desenvolvida uma maquete eletrônica com o intuito principal de demonstrar a escala humana, a materialidade utilizada e os diversos volumes propostos (Figuras 11 a 14).

Figura 11: Volumetria 01 Figura 12: Volumetria 02

Fonte: Elaborado pelo autor. Fonte: Elaborado pelo autor.

Figura 13: Volumetria 03 Figura 14: Volumetria 04

Fonte: Elaborado pelo autor. Fonte: Elaborado pelo autor.

5 CONCLUSÃO

Conhecer e entender o Transtorno do Espectro Autista, taxado com muitos nomes antes da definição científica oficial, é a chave principal para a inclusão dos autistas na sociedade.

A história de superação de cada indivíduo contribuiu para que o tema fosse cada vez mais discutido, tanto popular quanto cientificamente, colaborando para a evolução dos métodos interventivos. Atualmente, o diagnóstico de uma pessoa autista não é simples, pois além dos sinais que são demonstrados, há as peculiaridades de cada caso, que dependem do nível que a condição pode tomar.

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Por esse motivo, as ideias previamente propostas foram atingidas, visto que espaços multiusos foram criados, capazes de atender não somente a comunidade pertencente ao espectro, mas a população da cidade em geral, por meio de atividades públicas como a cafeteria e os diversos usos projetados em toda a implantação.

REFERÊNCIAS

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Disponível em:

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CORBELLA, Oscar; YANNAS, Simos. Em busca de uma Arquitetura Sustentável para os trópicos: Conforto ambiental. Rio de Janeiro: Revan, 2003. 288 p.

FERREIRA, Aurélio Buarque de Holanda. Mini Aurélio: o dicionário da língua portuguesa. 8. ed. Curitiba: Positivo, 2010. 960 p.

FREITAS, Ruskin Marinho de; AZERÊDO, Jaucele de Fática Alves de. A Disciplina Conforto Ambiental: Uma Ferramenta Prática na Concepção de Projetos de Arquitetura, de Urbanismo e de Paisagismo. Caderno ProArq, n. 20, p. 94-113, 2013.

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GRANDIN, Temple; PANEK, Richard. O cérebro autista: pensando através do espectro. Pensando através do espectro. 6. ed. Rio de Janeiro: Record, 2017. 251 p.

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Referências

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