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Redefinindo a Diplomacia Num Mundo Em Transformação 5º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

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Redefinindo a Diplomacia Num Mundo Em Transformação

5º Encontro Nacional da Associação Brasileira de Relações Internacionais (ABRI)

Economia Política Internacional

O SISTEMA INTERNACIONAL DAS MUDANÇAS CLIMÁTICAS

Robson Coelho Cardoch Valdez Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul – PPGEEI/UFRGS Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande Do Sul - FEE

Belo Horizonte 29, 30 e 31 de julho de 2015

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RESUMO

O trabalho sugere que as mudanças climáticas estão agindo sobre as relações internacionais de forma a se consolidarem como condicionantes de uma alternativa de análise do sistema internacional. Trata-se do Sistema Internacional das Mudanças Climáticas. Nesta alternativa, a relação sistema capitalista-mudanças climáticas influi diretamente nas relações de poder entre os Estados no sistema internacional. Além da introdução, o artigo está dividido em três partes, sendo uma delas, a última, reservada às considerações finais. Assim, a primeira parte analisará as duas forças que operam no interior do sistema capitalista de produção causando impactos no meio-ambiente e, consequentemente, nas relações de poder do sistema internacional das mudanças climáticas. São elas: a “Força Político-Econômica” e a “Força Antrópico-Inercial”. Já a segunda parte do estudo trata do impacto das mudanças climáticas e seus efeitos na configuração do sistema internacional das mudanças climáticas.

Palavras-Chave

Mudanças climáticas, sistema internacional, relações internacionais.

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1 O Sistema Internacional das Mudanças Climáticas

Robson Coelho Cardoch Valdez1

Introdução

O campo de estudo das Relações Internacionais é vasto. No entanto, a contemporaneidade de temas como segurança, economia, defesa, e integração regional, por exemplo, têm obscurecido a importância de questões que não são somente cruciais às relações entre os países, mas também dizem respeito à relação do homem com o planeta. Trata-se das mudanças climáticas e seus impactos políticos e econômicos em escala global.

A controversa hipótese do aquecimento global cedeu lugar à institucionalização do termo

“mudança climática”. Tinha-se a impressão de que antes de se pensar em soluções para os efeitos do aquecimento global nas sociedades, fazia-se necessário evidenciar ou desqualificar o impacto da atividade humana sobre o aumento generalizado da temperatura do planeta. No entanto, após a publicação, em 2007, dos painéis intergovernamentais sobre mudança climática (IPCC), do Relatório de Desenvolvimento Humano do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas, também em 2007, e do Garnaut Climate Change Review: Final Report, em 2008, o termo “mudança climática” tornou-se aceito até mesmo por aqueles que argumentavam inexistir o “aquecimento global” (O’HARA, 2009, p.223). Dessa forma, a mudança climática impõe sérias dúvidas sobre seus efeitos no meio-ambiente do planeta e sua habilidade em prover os serviços necessários à manutenção de sociedades viáveis (STEFFEN, CRUTZEN MCNEILL, 2007, p. 614).

Nesse sentido, faz-se necessário analisar as relações internacionais a partir do impacto da mudança climática. Como pensar, por exemplo, o papel estratégico do Brasil como produtor mundial de alimentos a partir de estimativas recentes de queda na produção de alimentos dos países próximos à linha do equador por conta dos efeitos do aquecimento global (HANJRA;

QURESHI, 2010)? Ainda no que se refere à produção de alimentos, tem-se, também, o desafio adicional de conciliar compromisso do Brasil de preservar áreas de proteção ambiental com a disponibilização de áreas agricultáveis para a produção de biocombustíveis, setor igualmente

1 Analista/Pesquisador de Relações Internacionais da Fundação de Economia e Estatística do Rio Grande do Sul – FEE. Doutorando do Programa de Pós-Graduação em Estudos Estratégicos Internacionais da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (PPGEEI-UFRGS). Mestre em Relações Internacionais pela mesma universidade. Graduado em Economia pelo The College of Staten Island – CUNY, New York –USA. robson@fee.tche.br

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2 estratégico para o país. Soma-se a esta equação a constatação amplamente aceita de que as reservas de água do mundo, tão necessárias à produção de alimentos, são altamente demandadas nos setores industriais e urbanos em todas as regiões do planeta, em especial nos países em desenvolvimento onde o crescimento econômico tem sido mais acentuado ao longo das últimas décadas.

Adicionalmente, as mudanças climáticas têm produzido cenários alarmantes envolvendo questões crucias para o relacionamento dos países, quais sejam, fluxos migratórios, segurança alimentar e escassez de água. Tais fatores, por si sós, são capazes de influenciar interesses dos países e desestabilizar o relacionamento dos atores. De acordo com Barnett e Adger (2007, p. 641), a mudança climática é uma ameaça crescente à segurança humana por reduzir o acesso aos recursos naturais, assim como por comprometer a qualidade de recursos básicos para sustentabilidade dos modos de vida, com reflexos negativos na capacidade dos Estados de prover serviços e oportunidades a seus cidadãos. Assim, Barnett e Adgers chamam a atenção para o aumento do risco de conflitos violentos fomentados pelos impactos das mudanças climáticas.

Levando-se em consideração a relevância das mudanças climáticas nos campos econômicos e políticos, o trabalho será desenvolvido sob a perspectiva de um estudo de Economia Política Internacional. O artigo sugere que as mudanças climáticas estão agindo sobre as relações internacionais de forma a se consolidarem como condicionantes de uma alternativa de análise do sistema internacional. Trata-se do Sistema Internacional das Mudanças Climáticas. Nessa alternativa, a relação sistema capitalista/mudanças climáticas influi diretamente nas relações de poder entre os estados no sistema internacional.

Além desta introdução, o artigo está dividido em três partes, sendo uma delas, a última, reservada às considerações finais. Assim, a primeira parte analisará as duas forças que operam no interior do sistema capitalista de produção causando impactos no meio-ambiente e, consequentemente, nas relações de poder do sistema internacional das mudanças climáticas.

São elas: a “Força Político-Econômica” e a “Força Antrópico-Inercial”. Já a segunda parte do estudo trata do impacto das mudanças climáticas e seus efeitos na configuração do sistema internacional das mudanças climáticas.

A análise política e econômica dessa realidade é fundamental para entender as relações de poder inerentes às relações internacionais. Assim, a tentativa de analisar conjuntamente estas duas perspectivas visará à construção de um cenário analítico alternativo para as relações internacionais que contemple as mudanças climáticas como variável fundamental para análises mais apuradas das relações internacionais.

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3 1. A força político-econômica e a força antrópico-inercial

Entender a relação do homem com a natureza a partir do século XX é fundamental para mensurar o impacto das mudanças climáticas nas análises sobre o cenário internacional.

Mudanças nos padrões do clima do planeta já foram evidenciadas em períodos distintos na história do mundo. No entanto, como argumenta Ohara (2009, p.224), “nenhuma das ondas ou períodos anteriores a 1850 foram antrópicas”. Segundo o autor, tais mudanças foram causadas

por alterações na inclinação do eixo da Terra, força vulcânica ou irradiação solar.

Partindo-se, então, da constatação da ação antrópica como variável importante no atual contexto das mudanças climáticas no planeta, torna-se importante destacar que tal variável surge ao mesmo tempo em que a Revolução Industrial impulsiona o surgimento do sistema econômico capitalista e sua adoção por grande parte dos países em meados do século XIX. De certa forma, o capitalismo mundial nos dias de hoje – sistema misto de empresa privada, governo, famílias e comunidades – gira em torno de processos empresariais, tais como inovação, mercados e finanças (OHARA, p.224). Assim, ao se utilizar o circuito do capital monetário de Karl Marx como um sistema aberto e conectado aos processos sociais e ambientais, tem-se uma estrutura sistêmica de análise da relação entre de desenvolvimento econômico e o meio-ambiente.

Esta estrutura de observação, já em 1980, inspirou o sociólogo canadense – naturalizado norte-americano - Allan Schnaiberg, a publicar o trabalho “Meio-ambiente: do superávit à escassez” no qual defende a tese de que a interação ininterrupta entre o sistema capitalista de produção e o meio ambiente impõe custos elevadíssimos à preservação do planeta. Schnaiberg refere-se a esta perversa interação por meio da expressão “Esteira de Produção”. Considerando-se, assim, a “Esteira da Produção” como espaço de convergência dos atores sociais no âmbito do sistema capitalista, pode-se afirmar que a dinâmica de interesses opera sob os condicionantes de duas forças: a “Força Político-Econômica” e a “Força antrópico-inercial”.

Nesse processo, a “Força Político-Econômica” representa a interface dinâmica onde se dá o conflito e onde se constrói a cooperação entre os três principais determinantes inerentes ao próprio capitalismo: o Estado, o capital e o trabalho. Nesse sentido, o crescimento da economia seria o terreno político comum para esses três grupos de interesses conflitantes superarem suas diferenças.

Quanto à “Força Antrópico-Inercial”, trata-se da condição de inexistência de alternativa à

“Força Político-Econômica” que opera sobre a “Esteira da Produção”. Apesar de a antropia ser entendida como um impacto ambiental do homem, entende-se a “Esteira da Produção” como

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4 primeiro impacto ambiental originado da consolidação do sistema capitalista. Dessa forma, a ausência de alternativa ao modelo vigente funciona como uma força inercial que dinamiza e potencializa os efeitos da “Força Político-Econômica” em operação sobre a “Esteira da Produção”, potencializando também a antropia.

No que diz respeito à relação antropia-mudanças climáticas e suas implicações para a vida econômica e social das pessoas em escala mundial, Steffen, Crutzen e McNeill (2007, p.615) utilizam os termos “Earth System” e “Global Change” (Sistema Terra e Mudança Global) para analisar a abrangência e a dinâmica inerente às mudanças climáticas. “Sistema Terra”

exprime a ideia de que não apenas os processos geofísicos abrangendo os oceanos e a atmosfera são os principais responsáveis pelo suporte à vida na Terra. Para os autores, os processos biológicos e ecológicos são partes integrantes do “Sistema Terra” e não apenas os receptores das mudanças ocorridas no binômio oceano/atmosfera. Nesse contexto, as interações de ação e reação no interior do sistema são tão importantes quanto à ação da energia solar, por exemplo. Por fim, os autores argumentam que o “Sistema Terra” também inclui os homens, suas atividades e as sociedades, ou seja, o homem é um integrante ativo dentro do sistema.

No que diz respeito ao segundo termo cunhado pelos autores, “Mudança Global”

relaciona-se com as mudanças biofísicas e socioeconômicas que alteram a estrutura do Sistema Terra. Assim, “Mudança Global” diz respeito a uma ampla gama de fenômenos em escala planetária como mudanças nos fluxos fluviais, uso da terra e cobertura vegetal, urbanização, globalização, ecossistemas costeiros, ciclo do nitrogênio, ciclo do carbono, composição atmosférica, transporte, etc.

Neste contexto, a partir da década de 1950, o sistema produtivo passou a respaldar-se mais em consumo intensivo de energia e de compostos químicos e cada vez menos em mão- de-obra intensiva, aumentando a produção e o lucro. Em seguida, o lucro foi desproporcionalmente investido em novas tecnologias. Assim, para amortizar os custos de operação dessas novas tecnologias, a produção tem de permanecer em crescimento constante, o que demanda mais recursos naturais e energia. Adicionalmente, o aumento de produção provoca o aumento do volume e da toxidade do lixo industrial (GOULD, PELLOW, SCHNAIBERG, 2003, p. 2.)

Ohara (2009) relacionou a análise da “Esteira da Produção” de Schnaiberg ao circuito do capital-monetário exposto por Marx, estabelecendo-os dentro de um sistema mais amplo que inclui a energia solar, o ambiente ecológico, os sistemas da geologia, oceanos e espacialidade,

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5 assim como o ambiente social e político. Ohara refere-se a essa análise sistêmica como sendo o circuito aberto do capital-monetário ou esteira circular da produção.

Para Ohara (2009), as famílias, comunidade e o Estado possuem a capacidade de aprimorar o mercado de câmbio na medida em que atividades não mercantis tornam-se comercializadas. Assim, o dinheiro é usado para comprar commodities, força de trabalho e meios de produção – além de recursos naturais como petróleo, gás e carvão. A partir de então, o sistema produtivo transforma a matéria-energia em processos que vão de baixa a alta entropia. Desses processos surgem novas commodities (além de serviços) de valores equivalentes ao seu input mais um excedente do produto sobre os custos de produção. É nesse ponto que consumidores emergem como uma engrenagem importante do processo. A relação entre o excedente de produção e as necessidades de consumo das famílias, desenvolve, então, a necessidade de se trocar bens e serviços por preços que incluam a mais valia (lucro, juros, aluguéis). Em seguida, o excedente de capital é reinvestido no giro desse ciclo ou esteira de produção. Isto se dá por meio da retenção de lucros e alocação de poupanças via sistema financeiro que cria mecanismos creditícios para que esse processo não se interrompa.

Da mesma forma que Gould, Pellow e Schnaiberg, (2003) apontam a expansão da economia como condição necessária de se manter a Esteira de Produção em funcionamento, Ohara percebe a necessidade de transformar coisas em commodities como forma de gerar lucros, especialmente se o custo de produção for reduzido por meio dos baratos métodos de exploração de recursos e outros insumos. Dessa forma, Ohara (2009) alerta que “as this happens the resources become increasingly unavailable in an entropic sense”.

A pressão sobre a sustentabilidade do planeta tem sido evidente. A partir dos anos 1950, a população mundial dobrou para 6 bilhões de habitantes no final do século XX; a quantidade de automóveis subiu de aproximadamente 40 milhões para algo em torno de 700 milhões em 1996; o número de pessoas vivendo em áreas urbanas passou de 30% a 50% da população mundial; o consumo de papel alcançou 250 milhões de toneladas (STEFFEN, CRUTZEN, MCNEILL, 2007). Interpretando estes dados sob a perspectiva capitalista, torna-se coerente imaginar que o enfrentamento desse desafio ambiental passa, de alguma forma, pela busca de “mecanismos” que contemplem os interesses dos empresários, as necessidades das pessoas, o uso racional dos recursos naturais, a preservação dos ecossistemas e a viabilidade dos estados como agentes provedores de segurança e bem estar para suas populações. No entanto, dada a dinâmica aparentemente irreversível da esteira circular de produção desenvolvida por Ohara (2007), tem-se a impressão de que outra estratégia de enfrentamento dos desafios impostos pelas mudanças climáticas passa por uma espécie de revolução que

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6 abranja a sociedade, a economia e o meio-ambiente como um todo. Uma revolução que lembra os princípios utópicos de um sistema econômico e político idealizado por socialistas.

Sejam quais forem os desdobramentos do debate sobre as mudanças climáticas e seus impactos na economia e na política internacional, parece certo que o determinante “mudança climática” permanecerá como variável constante nos planos estratégicos dos países. Esta certeza respalda-se na ideia cada vez mais aceita de que as mudanças climáticas foram potencializadas pela ação do homem, principalmente, a partir da aceleração do crescimento econômico mundial nos últimos 50-60 anos. Sendo assim, entender, por exemplo, o impacto das mudanças climáticas sobre os recursos naturais dos Estados (água, terra agricultável, petróleo, etc.) pode subsidiar ajustes mais adequados aos objetivos de política externa dos países.

2. O sistema internacional das mudanças climáticas

Observa-se que, com o passar do tempo, apesar de divergências pontuais quanto aos métodos e as referências utilizadas na mensuração e explicação dos eventos climáticos extremos (secas, furacões, precipitações, etc.), consolida-se a percepção de que a mudança climática e todos os seus efeitos são uma realidade. Assim, análises e estudos sobre temas pertinentes à economia e à política internacional como pesquisas no campo da Economia Política Internacional ou das Relações Internacionais qualificam-se na medida em que o universo das mudanças climáticas seja incorporado em seus trabalhos.

Dada a pertinência da força político-econômica, assim como da força antrópico-inercial no interior das discussões a respeito das mudanças climáticas, faz-se necessário pensar as relações políticas e econômicas entre os países a partir de um novo paradigma que se constrói, qual seja, o Sistema Internacional das Mudanças Climáticas.

Nesse sentido, grupos de pesquisas sobre mudanças climáticas em todo o mundo têm divulgado resultados no mínimo preocupantes. Tais resultados influem diretamente nas estratégias domésticas e de inserção internacional dos países, assim como nas relações de poder no sistema internacional. Desenvolvimento econômico nacional, agricultura, acesso às fontes de energia, disputas territoriais, escassez de água, fluxos migratórios e segurança alimentar são apenas exemplos de temas sensíveis às capacidades individuais dos estados no interior do sistema internacional e que estão vulneráveis à contemporaneidade das mudanças climáticas.

Partindo-se, então, de algumas projeções percebidas como razoáveis pelo meio científico, pode-se, por exemplo, elaborar um cenário de mudança climática global com o

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7 propósito de, a partir desse cenário, dar maior abrangência às mais diversas análises no campos das Relações Internacionais e da Economia Internacional. Assim, a título de ilustração, temos os seguintes dados de referência:

• Há uma certeza virtual de que o limite crítico de aumento de 2ºC da temperatura média do planeta em relação ao período pré-industrial será superado devido ao crescente acúmulo de gases do efeito estufa na atmosfera;

• O maior experimento de modelagem do mundo baseado na universidade de Oxford, Inglaterra, tem projetado temperaturas médias duas vezes maiores que as previstas pelo IPCC (aumento médio da temperatura de 5.4ºC para o ano de 2100);

• Estudos, como os do Instituto Internacional do Arroz, têm projetado que cada 1ºC de aumento na temperatura média do planeta pode representar uma queda de 10% na produção mundial de arroz, trigo e milho;

• Uma em cada quatro pessoas no mundo não tem acesso à água potável;

• A economia mundial excedeu a capacidade regenerativa do planeta em 1980 e em 1999 ultrapassou-a em 20% (FOSTER, 2009, p.254-255).

John Bellany Foster, ao propor uma abordagem revolucionária ao desafio imposto à humanidade por meio das mudanças climáticas, atualmente em curso, sugere que, ao tratar tão controverso tema, faz-se necessário conhecer: a) para onde o sistema capitalista está se dirigindo atualmente; b) em que medida pode alterar seu curso por meio de tecnologia ou outros meios em resposta à convergente crise econômica e ecológica da atualidade; e c) as alternativas históricas ao sistema em vigor (FOSTER, 2009, p.256). No entanto, tais questionamentos contemplam tão somente as forças político-econômica e antrópico-incercial até aqui analisadas e que operam no processo de mudanças climáticas. Nesse sentido, como forma de ampliar a abordagem proposta por Foster e ao mesmo tempo compor um novo cenário para as relações internacionais, a pergunta que se coloca é: em que medida as mudanças climáticas podem influir nas relações de poder dentro do sistema internacional?

Apesar de não se ter certeza sobre a intensidade e o alcance dos efeitos das mudanças climáticas sobre as diversas áreas das relações internacionais, reconhece-se os riscos desse cenário à segurança humana (BARNETT; ADGER, 2007, p. 640). Na medida em que, por exemplo, as mudanças climáticas comprometem a capacidade dos Estados de proverem segurança e bem-estar a seus nacionais, torna-se factível especular que Estados mais impactados pelas mudanças climáticas teriam, coeteris paribus, menos capacidade de prover os meios para defesa de seus interesses nacionais no âmbito internacional. Adicionalmente, Barnett e Adger (2007, p.640) apontam duas formas pelas quais o conflito poderia emergir a

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8 partir dos efeitos das mudanças climáticas. Segundo os autores, as políticas referentes à redução de emissões provenientes de combustíveis fósseis, assim como os impactos das mudanças climáticas nos sistemas sociais são os dois vetores que contribuem para emergência de conflitos.

Tanto a força político-econômica quanto a força antrópico-inercial têm aumentado a dependência dos Estados nacionais em relação aos recursos naturais do planeta. A crescente demanda por recursos aliada a sua escassez tem comprometido a estabilidade do sistema internacional. Como a “Esteira da Produção”, interface de operação da força polítoco- econômica, se retroalimenta da necessidade de crescimento econômico dos países, a competição por recursos naturais vem agindo sobre a geopolítica dos recursos naturais do planeta e, consequentemente, impactando as relações de poder.

Há uma relação diretamente proporcional entre a soberania dos países sobre recursos estratégicos aos processos inerentes ao crescimento econômico mundial e o aumento de poder de barganha/autonomia desses países dentro do sistema mundial. Na medida em que o crescimento econômico demanda maior volume de recursos naturais, tais recursos tornam-se escassos, aumentando, assim, seu valor estratégico e monetário. Nesse contexto, levando-se em consideração os virtuais constrangimentos políticos e econômicos de um desabastecimento de gás natural boliviano2 ou de um aumento abusivo no preço da energia vendida pelo Paraguai3, o Brasil, teoricamente um Estado mais forte no âmbito político, econômico e militar,

“cedeu” à pressão conjuntural e acomodou os custos inerentes a estes dois contenciosos.

O novo sistema internacional que emerge na conjuntura das mudanças climáticas contempla os tradicionais recursos de poder que já operam dentro do sistema internacional (território, população, desenvolvimento econômico, capacidades militares, etc.). No entanto, os impactos das mudanças climáticas influem, também, na dinâmica desses recursos. Assim, as fontes energéticas, o acesso à água, e a segurança alimentar, aliados à lógica da “Esteira da

2 No ano de 2006, no dia primeiro de maio, o Governo Boliviano publicou o decreto 28701 “Heroes Del Chaco” de nacionalização dos hidrocarbonetos. O Governo brasileiro e a Petrobrás negociaram por meses com o Governo boliviano e a estatal Yacimentos Petrolíferos Fiscales Bolivianos (YPFB) para que o fornecimento de gás natural ao Brasil não fosse interrompido. Para saber mais ver: Cardoso, Guilherme Rios (2010). A Energia dos Vizinhos: uma análise da política externa do governo Lula na “nacionalização”

do gás boliviano e nas alterações do Tratado de Itaipu.

3 Em 25 de julho de 2009, Brasil e Paraguai assinaram o acordo sobre o valor pago pelo Brasil ao Paraguai referente ao fornecimento de energia elétrica excedente gerada pela usina hidrelétrica de Itaipu.

O acordo, que triplicou o valor da energia elétrica paraguaia vendida ao Brasil, foi aprovado pelo Congresso Nacional brasileiro em maio de 2011. Para saber mais ver: Paula, Orlando Fernandes de (2013). A política externa brasileira e as relações com o Paraguai: a revisão do Tratado de Itaipu.

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9 Produção”, consolidam-se como variáveis latentes de antigos e novos conflitos no cenário internacional.

2.1 - Acesso à água e segurança alimentar.

A “Esteira da Produção”, ao longo das últimas décadas, deixou um grande desafio à humanidade: conciliar desenvolvimento econômico e produção de alimentos. O desenvolvimento econômico dos países, consubstanciado nos parques industriais e nas sociedades urbanas de consumo, tem demandado volumes crescentes de água. Por outro lado, o aumento da renda média da população mundial, objetivo das estratégias de desenvolvimento, tem pressionado a demanda por alimentos. Assim, considerando-se que 80% da água do planeta é destinada à irrigação e 19 % da terra agricultável por meio da irrigação corresponde a 40% da produção mundial de alimentos, percebe-se que tanto a produção de alimentos quanto o acesso à água, para as cidades e para o campo, consolidam-se como um tema estratégico para os países (HANJRA; QURESHI, 2010, p.365-366).

O crescimento da competição por água entre vários setores da economia, como um todo, tem comprometido volumes destinados à produção de alimentos. A queda no volume de precipitações, além de influenciar no declínio da produção agrícola mundial, demandará maior volume de água para irrigação devido às altas evaporações associadas à elevação da temperatura média do planeta (p.368). Adicionalmente, vale ressaltar que as relações internacionais operam, atualmente, em um cenário de degradação ambiental que influi na manutenção e redução dos volumes de água disponíveis, tornando-se dessa forma, variável potencial para conflitos internos e externos. Nesse contexto,

With current water utilization practices, a fast growing population, and a nutritional transition towards diets that rely more on meat, global resource limits will be reached sooner. For example, the 2025 projections on water scarcity by the International Water Management Institute (IWMI) were reached in 2000. [...]

The availability of sufficient water resources is one of the major crises with overarching, hunger, ecosystem degradation, desertification, climate change, and even world peace and security. Water security is projected to become a more important determinant of food security than land security, according to the view held by the U.N (HANJRA; QURESHI, 2010, p. 366).

2.2 Fontes energéticas

As descobertas de novos campos de exploração de petróleo e gás, assim como a produção de biocombustíveis, fizeram emergir novos atores tanto no lado da oferta quanto no lado da demanda. Nesse sentido destacam-se, pelo lado da oferta de petróleo, o Brasil, os países do Golfo da Guiné e Sudão; pelo lado da demanda, China e Índia. De modo geral, o

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10 crescimento econômico dos países emergentes tem impulsionado a demanda por minérios e fontes de energia4.

Nessa corrida por crescimento econômico e recursos naturais, países emergentes agora competem com países desenvolvidos por mercados e fontes de energia no que parece ser uma nova partilha do continente africano5. Diferentemente da Conferência de Berlim de 1884/1885 em que se delinearam, de forma unilateral, regras pertinentes à colonização e exploração do espaço africano pelas potências europeias, a atual partilha da África acontece de forma negociada junto às nações africanas.

Dado o crescimento da economia mundial, a busca por recursos naturais estratégicos assim como a expansão de mercados das empresas multinacionais têm atraído novos atores à região. Além dos interesses das ex-metrópoles e demais potências na região, Brasil e, mais significativamente, China têm se destacado por uma inserção pragmática baseada no princípio internacional da não intervenção. Dessa forma, as nações africanas ganham autonomia em relação às potencias tradicionais, pois os acordos de cooperação entre países emergentes não são condicionados a cláusulas que dizem respeito, por exemplo, às políticas de proteção aos direitos humanos ou de promoção da democracia.

Vale ressaltar que o dinamismo da economia mundial e o consequente aumento dos fluxos comerciais têm contribuído com o aumento do valor estratégico do Atlântico Sul. O Cabo da Boa Esperança tem se tornado rota alternativa aos fluxos de comércio e de petróleo devido à ação de piratas na costa da Somália, e ao esgotamento do Canal de Suez e de Panamá por conta do aumento constante do tamanho das embarcações. A partir dessa realidade, é possível especular a entrada em operação da IV Frota norte-americana nas águas do Atlântico Sul, assim como a criação do AFRICOM como estratégias de militarização da região por parte dos Estados Unidos.

4 Nesse contexto, é importante ressaltar o impacto do aumento da produção de petróleo nos Estados Unidos. Em 2014, os norte-americanos tornaram-se os principais produtores de petróleo, ultrapassando a Rússia e a Arábia Saudita. O aumento da produção norte-americana tem sido creditado aos altos investimentos no setor, principalmente na extração do petróleo e gás por meio de tecnologias de extração usadas pelo país, que mistura a chamada fratura hidráulica e as perfurações horizontais (fracking).

5 A última década tem sido apontada como o maior período de crescimento econômico no continente africano desde 1950. Assim, a demanda asiática e preços internacionais favoráveis às commodities exportáveis do continente têm fomentado o incremento das relações estratégicas do continente africano com novos parceiros no âmbito das relações Sul-Sul (Brasil, Rússia, China). Estas relações, aliadas à dinâmica tradicional do continente africano com suas ex-metrópoles europeias e com os Estados Unidos, constituem o cenário geopolítico do que muitos autores chamam nova partilha da África. Para uma leitura exploratória sobre o tema ver Carmody, Padraig. The New Scramble for Africa. Cambridge: Polity Press (2011).

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11 A já complexa geopolítica do setor energético ganha nova dinâmica com a emergência desses novos condicionantes do setor: o aparecimento de novos players pelo lado da oferta de petróleo, gás e biocombustíveis; o aumento da demanda mundial por recursos energéticos pressionado pelo crescimento econômico da economia mundial, em especial dos países emergente; e o surgimento de rotas marítimas que forneçam segurança e agilidade no escoamento da produção energética mundial.

3. Considerações Finais

O sistema internacional das mudanças climáticas que se consolida no contexto da degradação ambiental caracteriza-se pelo fato de se levar em consideração os efeitos das mudanças climáticas sobre as relações de poder entre seus atores.

A ilustração 1 apresenta a dinâmica do sistema internacional das mudanças climáticas.

Nesta perspectiva de análise, os efeitos das mudanças climáticas sobre o sistema internacional são cíclicos. A intensidade e abrangência dos efeitos das mudanças climáticas sobre o sistema internacional relacionam-se à forma como as forças político-econômica e antrópico-inercial reagem às necessidades políticas, econômicas e sociais de se manter a esteira da produção em plena atividade.

A partir da aceleração do processo de degradação ambiental, a “Força Político- Econômica” e a “Força Antrópico-Inercial” influem diretamente na continuidade dos processos pertinentes à “Esteira da Produção”. O impacto negativo da esteira da produção sobre a preservação dos recursos naturais e sobre o equilíbrio dos ecossistemas necessários à manutenção da vida influi diretamente no agravamento das mudanças climáticas. Assim, os eventos extremos atribuídos às mudanças climáticas passam a condicionar políticas com alto potencial para conflitos que ameaçam a segurança e a sobrevivência dos estados. Dentro desse contexto, escassez de água, esgotamento de recursos energéticos e segurança alimentar emergem como condicionantes climáticos que influenciam a relação de poder entre os países.

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12 Figura 1 – O Sistema Internacional das Mudanças Climáticas

Elaboração do autor.

A partir do reordenamento dos interesses dos Estados e do estabelecimento de uma nova relação de poder entre eles, o sistema internacional passa, gradualmente, a refletir os efeitos das mudanças climáticas sobre o próprio sistema. As novas dinâmicas políticas e econômicas no interior do sistema se acomodam e permanecem condicionadas aos impactos das mudanças climáticas que seguirão influindo nas relações internacionais.

O processo se repete indefinidamente por conta da sinergia entre os elementos que compõem o sistema internacional das mudanças climáticas. O estabelecimento de novas relações de poder no interior do sistema internacional acaba por influenciar a configuração de uma “Nova Força Político-econômica” e uma “Nova Força Antrópico-inercial” que imprimirão um novo dinamismo à esteira da produção que, por sua vez, demanda mais recursos naturais (cada vez mais escassos). A intensificação da dinâmica nos processos da esteira da produção provoca o agravamento das mudanças climáticas, fomentando o surgimento de novos condicionantes às relações internacionais. Como resultado, tem-se uma “Nova Variação nas relações de poder nas R.I”.

Vale ressaltar que não necessariamente o Estado ou grupo de Estados “dominante” no sistema internacional será substituído por uma nova potência. Pode-se afirmar, no entanto, que mesmo que não haja uma mudança estrutural nas relações de poder entre os países, as mudanças climáticas podem sim ocasionar uma perda relativa de poder à potência dominante.

Nova força antrópico-

inercial Mudanças

climáticas

Nova variação

nas relações de poder nas

R.I

Meio-ambiente em Degradação

Nova força político- econômica Variação

nas relações de poder nas

R.I Força

político- econômica

Força antrópico-

inercial

Esteira da produção

Condicionantes climáticos

das R.I

Esteira da produção

Novos condicionantes

climáticos das R.I Mudanças

climáticas

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13 De forma análoga às análises convencionais, os recursos de poder seguem influenciando o modo como os estados utilizam tais recursos na defesa de seus interesses nacionais. Ademais, é importante observar que as mudanças climáticas exercem sobre os Estados uma pressão competitiva por recursos de poder que garantam acesso a recursos naturais estratégicos.

Justamente os recursos que venham proporcionar alternativas de enfrentamento e de adaptabilidade às adversidades que as mudanças climáticas impõem ao conjunto do sistema internacional.

Percebe-se, também, que o elemento nevrálgico dessa análise diz respeito à centralidade da esteira da produção. Como foi mencionado anteriormente, a inexistência de alternativa econômica e ecologicamente sustentável ao modelo de desenvolvimento econômico promovido pelos países é o principal combustível para a degradação do meio-ambiente e para o agravamento das mudanças climáticas.

Por fim, destaca-se que o modelo de análise do sistema internacional aqui proposto não desconsidera ou desqualifica os demais modelos. O Sistema Internacional das Mudanças Climáticas busca entender as relações internacionais contemporâneas levando em conta a pertinência do debate acerca das mudanças climáticas. Nesse sentido, tentou-se sistematizar uma análise que identificasse o impacto e a dinâmica das mudanças climáticas sobre as relações interestatais.

Referências

BARNETT, Jon, ADGER, W. Neil. Climate change, Human Security and Violent Conflict.

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