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Dinâmicas da agricultura e seus efeitos na sustentabilidade: casos de explorações bovinas no Norte de Portugal

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Academic year: 2021

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Dinâmicas da agricultura e seus efeitos na

sustentabilidade:

Casos de explorações bovinas no Norte de Portugal

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Joaquim António Ferreira de Sousa

Orientado por Profª Doutora Ana Alexandra Vilela Marta Rio Costa

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I

Dinâmicas da agricultura e seus efeitos na

sustentabilidade:

Casos de explorações bovinas no Norte de Portugal

Dissertação de Mestrado em Engenharia Zootécnica

Joaquim António Ferreira de Sousa

Orientado por Profª Doutora Ana Alexandra Vilela Marta Rio Costa

Composição do Júri:

Prof. Doutor Victor Manuel Carvalho Pinheiro

Prof. Doutor Manuel Luís Tibério

Profª Doutora Ana Alexandra Vilela Marta Rio Costa

(4)
(5)

III As doutrinas expostas neste trabalho são da inteira responsabilidade do autor.

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(7)

V Aos meus pais, como não podia deixar de ser.

(8)
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VII

Agradecimentos

À Professora Ana Alexandra Vilela Marta Rio Costa por me ter orientado com a disponibilidade e a paciência necessárias para retirar as várias dúvidas que este trabalho me suscitou, por ouvir as minhas opiniões, e por todos os ensinamentos e conselhos.

Aos bovinicultores inquiridos no trabalho de campo, pela disponibilidade em contribuírem para este estudo e pela simpatia que tanto caracteriza as gentes rurais.

Aos responsáveis e funcionários da Associação de Criadores do Maronês pela boa vontade com que me facultaram informações imprescindíveis.

À minha amiga, Daniela Pedrosa, pela ajuda na recolha de dados junto dos bovinicultores.

À Professora Maria José Marques Gomes, pela amabilidade com que me recebeu na UTAD e pela ajuda na resolução de alguns quesitos burocráticos.

À minha namorada, Susana Chaves, por estar sempre presente, mesmo quando está longe, por acreditar em mim, e pelo apoio e incentivo constantes durante o período de escrita deste documento.

Aos meus tios, António e Isabel Sousa, pela importância que tiveram na minha adolescência, para um impulso positivo no meu percurso escolar.

Aos meus pais, Fausto Sousa e Manuela Ferreira, por todo o amor e apoio, por todos os sins de confiança e por todos os nãos educacionais.

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IX

Resumo

A agricultura é um setor produtor de bens essenciais e que é definido, segundo a maioria dos autores, como atividade cuja sustentabilidade se apresenta, por excelência, dependente de parâmetros económicos, ambientais e sociais. Devido à utilidade basilar deste setor, reveste-se de toda a importância analisar qual a sua dinâmica e seu efeito na sustentabilidade, assim como identificar os meios e opções que a possam garantir. As alterações possíveis de observar na agricultura recente, e através de consulta estatística, evidenciam uma inquestionável relevância do elevado tamanho das explorações como um garante de competitividade e consequente viabilidade económica. A elevada produtividade e melhoramento tecnológico geralmente vinculados a sistemas produtivos de elevada dimensão revelam-se como aliados naturais da dimensão económica, mas também, da diminuição do custo ambiental por unidade de produto. Através da adaptação de uma ferramenta de avaliação de sustentabilidade – MESMIS – foi desenvolvida uma avaliação longitudinal (temporal) da sustentabilidade em seis casos de estudo recolhidos de uma amostra de explorações de gado bovino já avaliadas em 2004. Muitas das observações relativas às dinâmicas do setor agrícola foram também identificadas nos casos de estudo analisados entre 2004 e 2013. Verificou-se que explorações produtoras de raça Maronesa, assim como as explorações mais pequenas, revelaram uma evolução marcadamente negativa na sua sustentabilidade económica. Já explorações de maior dimensão ou produtoras de raças bovinas mais produtivas conseguiram ultrapassar em melhores condições um passado recente e economicamente conturbado do país. Numa perspetiva global, os casos de estudo analisados não registaram alterações consideráveis nas dimensões ambiental e social. Apesar de todos os esforços, os conceitos de sustentabilidade e a forma de tornar operacional a sua avaliação revestem-se ainda de ampla ambiguidade e cabe à ciência ser objetiva em traduzir de uma forma mensurável e (pouco) inequívoca a capacidade de manutenção de um sistema produtivo.

Palavras-chave: Agricultura, dinâmicas do setor agrícola, sustentabilidade, avaliação longitudinal da sustentabilidade, bovinos, gado maronês.

(12)
(13)

XI

Abstract

The agricultural sector is a producer of essential goods which is defined, by the majority of authors, as an activity whose sustainability is quintessentially dependant of economical, environmental and social parameters. Due to the sector’s fundamental purpose, it is of extreme importance to analyze its dynamics and the consequent effects on sustainability, as well as to identify the means and alternatives that could be able to ensure it. The changes that can be observed in the recent years of agriculture, and with the help of statistics, demonstrate that the large size of the animal farms as a means of competitiveness and economical viability is of an unquestionable importance. The high productivity and technological improvement usually linked to productive systems of great dimension prove to be natural allies of the economical dimension but also of the reduction of the environmental cost per product unit. Six case studies were chosen from a sample of bovine farms that were previously assessed in 2004 and the temporal evaluation of their sustainability was studied using and modifying a sustainability assessment tool – MESMIS. Many of the observations regarding the dynamics of the agricultural sector were also identified in the study cases from 2004 to 2013. It was concluded that the Maronesa breed farms and the smaller sized farms had a noticeable negative evolution in their economical sustainability. However, the bigger sized farms or those with a more productive bovine breeds managed to better overcome the recent and economically troubled past of the country. On a global perspective, the study cases did not show any relevant changes in the environmental and social dimensions. Despite all the efforts, the concept of sustainability and the way for its evaluation to become operational are still very ambiguous and it is the science’s role to be objective and to interpret the maintenance ability of a productive system in a measurable and unequivocal manner.

Key words: Agriculture, dynamics of the agricultural sector, sustainability, temporal sustainability evaluation, bovines, Maronesa breed.

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(15)

XIII

Índice

Índice de Figuras ... XV Índice de Quadros ... XIX Lista de Siglas e Abreviaturas ... XXIII

Capítulo 1. Introdução

... 1

1.1. Enquadramento do problema ... 3

1.2. Objetivos ... 4

1.3. Procedimento metodológico ... 5

1.4. Organização do trabalho ... 6

Capítulo 2. Dinâmica do setor agrícola nos últimos anos

... 9

2.1. Nota Introdutória ... 11

2.2. Evolução recente da agricultura em Portugal ... 11

2.2.1. A agricultura no PIB ... 11

2.2.2. Produtividade, Rendibilidade e Emprego ... 13

2.2.3. Estrutura e Dinâmica da produção ... 19

2.2.4. Comércio Internacional ... 23

2.2.5. Número e Dimensão das explorações ... 24

2.2.6. Produtos Tradicionais Qualificados ... 27

2.3. Perspetiva Internacional ... 32

2.3.1. Comparação Produtiva ... 32

2.3.2. Evolução das Explorações, do Emprego e da Rendibilidade ... 34

2.3.3. Produtividade e Poluição ... 36

2.3.4. Estrutura e Dinâmica da Produção na Europa ... 40

2.4. Considerações finais ... 44

Capítulo 3. Sustentabilidade e sua avaliação

... 47

3.1. Início e controvérsias ... 49

3.2. Definições de sustentabilidade ... 52

3.3. As três dimensões da sustentabilidade ... 54

3.4. Sustentabilidade na agricultura ... 57

(16)

XIV

3.5.3. Identificação de algumas metodologias de avaliação da sustentabilidade ... 64

3.5.4. Indicadores de sustentabilidade... 71

3.5.5. Revisão crítica sobre avaliação da sustentabilidade ... 73

Capítulo 4. Metodologia

... 77

4.1. Enquadramento ... 79

4.2. Metodologia MESMIS ... 81

4.3. Fases metodológicas utilizadas ... 84

4.3.1. Identificação dos casos de estudo ... 84

4.3.2. Seleção de indicadores ... 89

4.3.3. Recolha de dados ... 103

4.3.4. Tratamento de dados ... 105

Capítulo 5. Apresentação e discussão de resultados

... 109

5.1. Nota introdutória ... 111

5.2. Apresentação dos resultados obtidos ... 114

5.2.1. Resultados obtidos no subgrupo de explorações de raça bovina Maronesa114 5.2.2. Resultados obtidos no subgrupo de explorações de outras raças bovinas . 121 5.2.3. Resultados obtidos no subgrupo de pequenas explorações ... 127

5.2.4. Resultados obtidos no subgrupo de médias explorações ... 133

5.3. Avaliação comparativa da sustentabilidade entre os subgrupos ... 139

5.4. Avaliação económica sem subsídios ... 150

5.5. Considerações finais ... 153

Capítulo 6. Conclusões

... 155

6.1. Respostas aos objetivos do trabalho ... 157

6.2. Considerações finais e sugestões ... 163

Referências Bibliográficas ... 167

(17)

XV

Índice de Figuras

Figura II 1 - Evolução da produtividade parcial do trabalho agrícola e respetivos componentes em Portugal (2000=100) ... 16

Figura II 2 - Evolução da rendibilidade do trabalho agrícola e respetivos componentes em Portugal (2000=100) ... 17

Figura II 3 - Proporção de explorações com diferentes dimensões por número, UTA familiar, UTA assalariada e SAU, Portugal (2009) ... 25

Figura II 4 – Valor global da produção de produtos DOP/IGP/ETG-RP em Portugal ... 29

Figura II 5 – Ponderação dos valores de produção (produtos DOP/IGP/ETG-RP) por segmento de mercado em 2009, Portugal ... 30

Figura II 6 – Taxas de Crescimento Acumuladas dos produtos DOP/IGP/ETG-RP por segmento de mercado em Portugal entre 2002 e 2009 ... 31

Figura II 7 – Distribuição das explorações agrícolas por classe de tamanho (ha de SAU) na UE-15 ... 35

Figura II 8 – Emissão de gases efeito de estufa (CO2, CH4 e N2O) medidos em toneladas de

CO2eq por milhão de euros de VABpb em diferentes atividades económicas na UE-27 ... 39

Figura II 9 – Evolução da produção de carne por espécie animal na UE-27 (2005=100, baseado em toneladas de carcaça) ... 42

Figura II 10 – Evolução do número de cabeças (milhões) por espécie animal na UE-27... 43

Figura II 11 – Evolução da população bovina, do número de vacas leiteiras e da produção de leite na UE-27 (2004=100) ... 44

(18)

XVI

Figura V 1 - Evolução dos indicadores (índices) económicos no subgrupo das Maronesas .. 116

Figura V 2 - Evolução dos indicadores (índices) ambientais no subgrupo das Maronesas ... 118

Figura V 3 - Evolução dos indicadores (índices) sociais no subgrupo das Maronesas ... 119

Figura V 4 – Evolução de cada dimensão da sustentabilidade (Índice Global) no subgrupo das Maronesas ... 120

Figura V 5 - Evolução dos indicadores (índices) económicos no subgrupo das Outras ... 122

Figura V 6 - Evolução dos indicadores (índices) ambientais no subgrupo das Outras ... 123

Figura V 7 - Evolução dos indicadores (índices) sociais no subgrupo das Outras ... 125

Figura V 8 - Evolução de cada dimensão da sustentabilidade (Índice Global) no subgrupo das Outras ... 126

Figura V 9 - Evolução dos indicadores (índices) económicos no subgrupo das Pequenas Explorações ... 128

Figura V 10 - Evolução dos indicadores (índices) ambientais no subgrupo das Pequenas Explorações ... 129

Figura V 11 - Evolução dos indicadores (índices) sociais no subgrupo das Pequenas Explorações ... 131

Figura V 12 - Evolução de cada dimensão da sustentabilidade (Índice Global) no subgrupo das Pequenas Explorações ... 132

Figura V 13 - Evolução dos indicadores (índices) económicos no subgrupo das Médias Explorações ... 134

(19)

XVII Figura V 14 - Evolução dos indicadores (índices) ambientais no subgrupo das Médias Explorações ... 135

Figura V 15 - Evolução dos indicadores (índices) sociais no subgrupo das Médias Explorações ... 137

Figura V 16 - Evolução de cada dimensão da sustentabilidade (Índice Global) no subgrupo das Médias Explorações ... 138

(20)
(21)

XIX

Índice de Quadros

Quadro II 1 - Taxa de variação do PIB a preços constantes ... 12

Quadro II 2 - Taxa média de crescimento anual da Produção, dos Consumos Intermédios, do VAB Agrícola e do PIB em Portugal (%) ... 13

Quadro II 3 – Taxa de Variação Anual do Emprego em Portugal, Total e no setor da Agricultura, silvicultura e pesca (%) ... 14

Quadro II 4 – Taxa média de crescimento anual do Emprego, VAB (volume), Produtividade, VABcf real e Rendibilidade em Portugal (%) ... 15

Quadro II 5 - Estrutura da Produção Agrícola em Portugal e respetiva Taxa de Variação em volume ... 19

Quadro II 6 - Superfície de cultura (ha) e produção (t) de alguns componentes da produção vegetal ... 21

Quadro II 7 – Produção, em toneladas de carcaça, dos principais componentes da produção animal ... 22

Quadro II 8 – Evolução dos efetivos animais ... 22

Quadro II 9 – Evolução do número de explorações agrícolas ... 26

Quadro II 10 – Evolução da Superfície Agrícola Útil ... 26

Quadro II 11 - Comparação entre vários países europeus da produção (milhões de euros) por mil UTA, do número de hectares trabalhados por UTA, da produção (milhões de euros) por mil hectares e do tamanho médio das explorações, 2010 ... 33

Quadro II 12 – Evolução do Emprego, do VABpm (valor) e do Indicador A na 15 e na UE-27 ... 36

(22)

XX

2010 ... 38

Quadro IV 1 – Representação do processo de escolha da exploração do conjunto M 18+ CN….. ... 87

Quadro IV 2 – Conjunto de indicadores utilizados na avaliação de sustentabilidade de 2004 e seleção dos que foram utilizados no presente trabalho ... 90

Quadro IV 3 - Indicadores utilizados para a avaliação da sustentabilidade no presente trabalho ... 92

Quadro V 1 – Informação das abreviaturas, unidades e arredondamentos de cada indicador analisado ... 112

Quadro V 2 – Evolução dos indicadores económicos (valor real e índice) e do índice global económico no subgrupo das Maronesas ... 116

Quadro V 3 - Evolução dos indicadores ambientais (valor real e índice) e do índice global ambiental no subgrupo das Maronesas ... 117

Quadro V 4 - Evolução dos indicadores sociais (valor real e índice) e do índice global social no subgrupo das Maronesas ... 119

Quadro V 5 - Evolução dos indicadores económicos (valor real e índice) e do índice global económico no subgrupo das Outras ... 121

Quadro V 6 - Evolução dos indicadores ambientais (valor real e índice) e do índice global ambiental no subgrupo das Outras ... 123

Quadro V 7 - Evolução dos indicadores sociais (valor real e índice) e do índice global social no subgrupo das Outras ... 124

Quadro V 8 - Evolução dos indicadores económicos (valor real e índice) e do índice global económico no subgrupo das Pequenas Explorações ... 127

(23)

XXI Quadro V 9 - Evolução dos indicadores ambientais (valor real e índice) e do índice global ambiental no subgrupo das Pequenas Explorações ... 129

Quadro V 10 - Evolução dos indicadores sociais (valor real e índice) e do índice global social no subgrupo das Pequenas Explorações ... 130

Quadro V 11 - Evolução dos indicadores económicos (valor real e índice) e do índice global económico no subgrupo das Médias Explorações ... 133

Quadro V 12 - Evolução dos indicadores ambientais (valor real e índice) e do índice global ambiental no subgrupo das Médias Explorações ... 135

Quadro V 13 - Evolução dos indicadores sociais (valor real e índice) e do índice global social no subgrupo das Médias Explorações ... 136

Quadro V 14 – Índice e informações acerca da evolução de cada indicador de dimensão económica ... 142

Quadro V 15 - Índice e informações acerca da evolução de cada indicador da dimensão ambiental ... 145

Quadro V 16 - Índice e informações acerca da evolução de cada indicador da dimensão social ... 149

Quadro V 17 – Evolução do REF/CN, Resiliência, VAL/CN e Índice Global da dimensão económica nas situações com e sem subsídios no subgrupo das Maronesas... 151

Quadro V 18 - Evolução do REF/CN, Resiliência, VAL/CN e Índice Global da dimensão económica nas situações com e sem subsídios no subgrupo das Outras... 152

Quadro V 19 - Evolução do REF/CN, Resiliência, VAL/CN e Índice Global da dimensão económica nas situações com e sem subsídios no subgrupo das Pequenas Explorações .... 152

Quadro V 20 - Evolução do REF/CN, Resiliência, VAL/CN e Índice Global da dimensão económica nas situações com e sem subsídios no subgrupo das Médias Explorações ... 152

(24)
(25)

XXIII

Lista de Siglas e Abreviaturas

CI: Consumos Intermédios

CN: Cabeça Normal

DOP: Denominação de Origem Protegida

ETG-RP: Especialidade Tradicional Garantida – Registo Provisório

ha: hectare

hl: hectolitro

IGP: Indicação Geográfica Protegida

INE: Instituto Nacional de Estatísticas

IQFP: Índice de Qualificação Gráfica da Parcela

ME: Médias Explorações

PE: Pequenas Explorações

PIB: Produto Interno Bruto

po: Dados provisórios

REF: Rendimento Empresário e Família

SAU: Superfície Agrícola Útil

SNIRA: Sistema Nacional de Informação e Registo Animal

UE: União Europeia

UE15: Estados membros da União Europeia antes de 1 de Maio de 2004

UE27: Estados membros da União Europeia depois de 1 de Janeiro de 2007

UTA: Unidade de Trabalho Anual

VAB: Valor Acrescentado Bruto

VABcf: Valor Acrescentado Bruto a custo dos fatores

(26)

XXIV

pm

(27)

1

Capítulo 1

(28)
(29)

3

1.1. Enquadramento do problema

São imensas as variáveis que suportam e definem o percurso do setor agrícola no país. No mundo globalizado atual, todos os setores da economia se deparam com o desafio da concorrência externa, mas também com a possibilidade de novos mercados e clientes para lá das fronteiras. A agricultura portuguesa apresentar-se-á sempre condicionada por fatores ambientais, como a temperatura ou a natureza dos solos, que de algum modo podem definir quais as áreas em que melhor se produz e quais as áreas em que não há viabilidade. Outros condicionantes internos serão a forma de produção, a qualificação, a tecnologia utilizada, a situação económica e as políticas nacionais. Para além disto, teremos de ter sempre em conta a posição geopolítica do País no mundo, a sua dimensão e as diretrizes políticas da União Europeia (UE).

A agricultura apresenta-se como uma atividade muito importante pelo seu cariz de setor produtor de bens essenciais e torna-se assim relevante ter a perceção de qual a sua dinâmica, a evolução da sua sustentabilidade e quais as suas necessidades.

O termo “sustentabilidade” tem vindo a ser largamente repetido. Chega-nos através de meios como a comunicação social e é conceito empregue em várias pesquisas científicas nas últimas décadas: “O crescente interesse na ideia de sustentabilidade ou desenvolvimento sustentável nos últimos 15 anos trouxe consigo desafios relativamente à forma como a avaliação do seu impacto tem sido concebida” (Pope et al., 2004:597). Este trabalho surge como mais um contributo para uma área do saber que ainda tem muito por desvendar e muito para questionar o que neste domínio já foi preconizado e alegadamente descoberto.

A sustentabilidade é então, neste estudo, aplicado ao setor agrário. Este tem sido um alvo habitual de críticas negativas acerca dos seus impactos ambientais: “a agricultura convencional já não é adequada para a alimentação humana e para a preservação dos ecossistemas” (Lichtfouse, 2009:1). A juntar a estas preocupações, a agricultura é um setor altamente subsidiado e que se apresenta, em comparação com a generalidade dos outros setores do País, como sendo economicamente pouco produtiva e pouco rentável. Outro aspeto de relevo no setor agrícola são os agricultores, que aparecem como agentes de

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4

transformação dos solos e da paisagem e como importante garante da manutenção de pessoas no interior do País. Todos estes pontos de interesse e preocupação são relevantes na sustentabilidade do setor agrícola e acabam por ser traduzidos numa estrutura de avaliação baseada em diferentes dimensões da sustentabilidade: a económica, a ambiental e a social.

No cerne do presente trabalho consta uma avaliação longitudinal da sustentabilidade em explorações de gado bovino pertencentes ao solar da raça Maronesa, tendo esta especial protagonismo neste estudo. Sendo uma raça autóctone, a Maronesa reveste-se de basilar importância no que se refere à preservação do património genético (Marta-Costa, 2008). Além disto, existe um vínculo indissociável entre a manutenção desta raça com a permanência de gentes no interior do país conciliado com um especial aproveitamento que este gado faz da montanha. São animais de, e para, a região onde se encontram, numa perspetiva cultural e económica, sendo de todo importante uma avaliação que, não só perspetive o futuro dos sistemas produtores de gado maronês, mas também que vislumbre quais os caminhos que devem ser seguidos para melhor assegurar a sustentabilidade destes.

1.2. Objetivos

Como objetivo central, este trabalho pretende avaliar as dinâmicas do setor agrícola nos últimos anos e seus efeitos na sustentabilidade. Para este efeito, objetivos mais específicos foram delineados:

 Identificar as dinâmicas no setor agrícola, nos últimos anos, em Portugal e na UE. Para além da relação óbvia que esta parte do trabalho apresenta com o objetivo central, as informações aqui conseguidas permitiram uma abordagem mais conhecedora e uma visão mais ampla sobre o setor, auxiliando assim a análise e a retirada de conclusões sobre o objeto de estudo utilizado neste trabalho.

 Aprofundar conhecimento sobre o que é a sustentabilidade e como esta é avaliada. Surge, tal como o objetivo anterior, como um suporte importante à componente prática, mas também, como uma oportunidade de discorrer e retirar conclusões sobre um conceito de difícil definição e cercado de amplo debate.

(31)

5  Avaliação da evolução da sustentabilidade, entre 2004 e 2013, em explorações bovinas pertencentes à área geográfica conhecida como solar da raça Maronesa. Essa avaliação (longitudinal) permitirá a comparação de indicadores de sustentabilidade de determinados sistemas em tempos distintos, tentando perceber, deste modo, quais as dinâmicas que ocorreram entre os anos avaliados. A realização deste objetivo apresenta-se como a componente prática deste trabalho. Algumas questões prévias a considerar nesta avaliação são: 1) Quais os sistemas que melhor ultrapassaram a crise económica e social advinda de uma crise financeira mundial (2008) e de uma situação de insustentabilidade de financiamento nos mercados internacionais que obrigaram a uma intervenção de auxílio externo (2011)? 2) Qual a importância que a propalada ideia de revitalização da agricultura e do “regresso aos campos” dos últimos anos, teve para a sustentabilidade destes sistemas? 3) Quais as alterações estruturais em cada um dos sistemas e como isso afeta a sua dimensão económica e ambiental? 4) Quais os sistemas que evoluíram num sentido tendencialmente mais poluente e delapidador dos recursos naturais? 5) Como as dimensões económica, ambiental e social, se interligaram e se influenciaram ao longo do tempo em cada um dos sistemas?

1.3. Procedimento metodológico

O conjunto de trabalhos necessário à elaboração deste estudo pode ser dividido em cinco fases:

Fase 1: Pesquisa estatística e análise da evolução do setor agrícola em Portugal e na União Europeia. Foram consultados vários documentos referentes às alterações estruturais e económicas que esse setor vem sofrendo, nomeadamente, do Ministério da Agricultura, da Comissão Europeia, do INE, do Eurostat, do PORDATA, entre outros. As consultas estatísticas nacionais e internacionais permitiram identificar alguns pontos críticos para a sustentabilidade (especialmente económica) das explorações no setor agrícola ao longo do tempo, e daí, resultou a perceção dos sistemas que seriam mais pertinentes avaliar na componente empírica da dissertação.

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6

Fase 2: Revisão bibliográfica sobre sustentabilidade, agricultura sustentável e sua avaliação. Foram consultados livros e várias publicações científicas de revisão de conceitos e de estudos de avaliação da sustentabilidade.

Fase 3: Identificação e seleção dos casos de estudo e dos indicadores de sustentabilidade a utilizar. Este estudo surge como um segundo ciclo avaliativo cujos resultados foram comparados com um estudo anterior desenvolvido em 2004 por Marta-Costa (2008). Deste modo, com base num conjunto de critérios, foram escolhidos seis casos de estudo e sete indicadores de sustentabilidade para cada uma das três dimensões da sustentabilidade – uma amostra de 6 explorações e 21 indicadores escolhidos (e em alguns casos modificados) da amostra de 115 explorações e dos 52 indicadores utilizados no trabalho de Marta-Costa (2008).

Fase 4: Monitorização dos indicadores económicos, ambientais e sociais na amostra em estudo, tendo por base a realização de inquéritos aos bovinicultores e de consulta de informação a documentos referentes às explorações selecionadas para posterior comparação e análise da evolução desses indicadores entre 2004 e 2013.

Fase 5: Identificação das tendências da atividade em estudo na região alvo e constatar quais os problemas e possíveis soluções que se deparam diante das explorações bovinas, de forma a perspetivar o caminho a trilhar para se alcançar maior sustentabilidade.

1.4. Organização do trabalho

Para além da Introdução, onde se caracteriza sucintamente os problemas abordados assim como se identificam os objetivos e os procedimentos efetuados, o presente trabalho está organizado em cinco capítulos.

O segundo Capítulo, relativo à Dinâmica do setor agrícola nos últimos anos, apresenta um conjunto de estatísticas e observações referentes ao setor agrícola em Portugal e na UE. No terceiro encontra-se uma revisão bibliográfica sobre Sustentabilidade e sua avaliação. A Metodologia é o quarto Capítulo, onde se explica, com detalhe, cada um dos primeiros quatro passos do protocolo metodológico utilizado. No quinto faz-se a Apresentação e discussão de resultados, de modo a observar, analisar, justificar e discutir os resultados

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7 obtidos, comparando-os com as evoluções estatísticas observadas para o setor agrícola em Portugal e na UE. Por fim, o sexto capítulo, as Conclusões, abrangem um conjunto de constatações observadas e de análises críticas aos resultados obtidos e a todo o processo efetuado neste trabalho, mas também, às impertinências que se levantam dentro do tema da sustentabilidade, assim como se apresentam sugestões que se percecionem como relevantes para futuros trabalhos de avaliação da sustentabilidade.

(34)
(35)

9

Capítulo 2

(36)
(37)

11

2.1. Nota Introdutória

A análise da dinâmica da agricultura que aqui se expõe não se limita a uma janela de tempo fixa. Se assim fosse, por um lado, condicionaria bastante a recolha de informações de várias fontes. Por outro, todos os valores, tendências e indicadores que se vão percebendo e analisando têm uma interligação que permite importantes leituras e assertivas conclusões mesmo quando observadas a partir de janelas de tempo com diferentes datas ou diferentes amplitudes.

Este capítulo tem como objetivo a análise das dinâmicas do setor nas escalas nacional e internacional, mas também a análise comparativa de indicadores estatísticos entre Portugal e outros países da Europa. Um avaliação geral que permite identificar as tendências, suas razões e quais os caminhos que possivelmente se devem adotar para atingir um conjunto de metas que se acreditam serem importantes para o setor agrícola e seus setores a montante e a jusante. A forma de apresentação do capítulo consiste na constatação de dados e imediatas conclusões relativas a cada ponto.

2.2. Evolução recente da agricultura em Portugal

2.2.1. A agricultura no PIB

A situação económica do país na última década tem sido marcada por um conjunto de acontecimentos desfavoráveis, entre eles: estagnação económica, endividamento elevado e incapacidade de financiamento a juros suportáveis que obrigaram a um pedido de ajuda internacional. Esta conjetura difícil tem sido também acompanhada por uma envolvente macroeconómica de estagnação ou reduzido crescimento económico e uma crise financeira mundial despoletada em 2008.

A zona Euro apresentou, entre 2000 e 2011, uma taxa de crescimento médio da sua economia de 1,2%, com Portugal a acompanhar esta tendência de fraco crescimento com

(38)

12

valores ainda mais baixos na ordem dos 0,4% (Gabinete de Planeamento e Políticas, GPP, 2012).

No Quadro II 1 podemos verificar, para o período de 2003 a 2013, as taxas de variação do PIB, realçando-se os valores que demonstram uma situação recessiva a partir de 2008.

Quadro II 1 - Taxa de variação do PIB a preços constantes (%)

Zona Euro (17 Países) Portugal 2003 0,7 -0,9 2004 2,2 1,6 2005 1,7 0,8 2006 3,3 1,4 2007 3 2,4 2008 0,4 0 2009 -4,4 -2,9 2010 2 1,9 2011 1,6 -1,3 2012 -0,7 -3,2 2013 -0,4 -1,4

Fonte: Eurostat / Institutos Nacionais de Estatística citado por PORDATA (2014e). Base: 2005

O setor da agricultura, a par da situação económica desfavorável do país, viu o seu Valor Acrescentado Bruto (VAB) a preços constantes, diminuir, entre 2000 e 2011, em média 0,3% por ano. No entanto, para o mesmo período, o VABpm1 da agricultura a preços correntes

observou um decréscimo mais acentuado de 3,3% por ano. Este desfasamento do decréscimo de preços constantes (volume) e preços correntes (valor) deveu-se ao crescimento acentuado dos preços dos consumos intermédios (CI) e da estabilização dos preços dos produtos agrícolas (ver Quadro II 2) (GPP, 2012). No entanto, alguns dados provisórios e estimativas apontam para melhorias. Apesar de em 2012 (dados provisórios) haver uma diminuição do VABpb2 real (volume), pode-se registar uma mudança de tendência

1

VABp m = (Produ ção – Consum os In terméd ios )pm; p reços de merca do (pm) são os preços que resultam d o

con fronto da oferta com a procura (GPP, 2012).

2

VABp b é a valoriza ção do p rod uto agrícola a p reços ba se; VA Bpb = VABpm + ADL; ADL sã o as ajuda s diretas

(39)

13 pela melhoria do VABpb em valor. Em 2013 (estimativas) o VABpb cresceu 4,8% em volume e

9,6% em valor e os CI tiveram uma variação negativa em volume de 2,6%, enquanto os preços dos produtos agrícolas apresentaram um aumento na ordem dos 3,2% (INE, 2013a).

Quadro II 2 - Taxa média de crescimento anual da Produção, dos Consumos Intermédios, do VAB Agrícola e do PIB em Portugal (%)

2011/2000

Volume Preço Valor Produção Agrícola -0,1 0,5 0,4

Consumos Intermédios 0 2,8 2,8

VABpm Agricultura -0,3 -3 -3,3

PIB Nacional 0,4 2,3 2,7

Nota: Dados provisórios em 2010 e estimativas em 2011. Fonte: Adaptado de GPP (2012).

Os valores decrescentes do VAB e a fraco aumento da produção agrícola em valor têm afetado a importância da agricultura no total do PIB. A agricultura teve um peso na economia nacional de 2,5% em 2000, 1,7% em 2007 e 1,4% (estimativa) em 2011 (GPP, 2012). Esta diminuição do peso do VAB agrícola no total do VAB do país acompanha a tendência geral na UE27 (INE, 2013a). No entanto, o peso do VABpb agrícola na economia

nacional, ao contrário do que sucedeu em anos anteriores, teve um acréscimo em 2012 (provisório) e 2013 (estimativa) (INE, 2013a). Algumas das melhorias percebidas em 2012 e principalmente em 2013, são consequência da melhoria mais acentuada dos preços dos produtos agrícolas e de um aumento menos marcado dos preços dos CI acompanhado por uma diminuição da utilização dos mesmos.

2.2.2. Produtividade, Rendibilidade e Emprego

Em termos simples podemos perceber a produtividade como a capacidade de produção de bens agrícolas por unidade de trabalho anual (UTA) ou, quando se refere à produtividade da terra, a produção conseguida por unidade de superfície. Em termos mais técnicos, a produtividade é o valor acrescentado por trabalhador (PORDATA, 2014d) ou, mais especificamente, o VAB, normalmente medido em preços constantes, por UTA (GPP, 2012).

(40)

14

A rendibilidade de cada UTA estará portanto condicionada à produtividade e aos preços dos inputs e outputs; a rendibilidade dependerá também dos valores dos subsídios.

Em Portugal, o emprego tem diminuído desde 2003, com decréscimos mais acentuados a partir de 2009. O setor da agricultura tem, no entanto, apresentado uma diminuição do emprego ainda mais marcante. Na Quadro II 3 pode-se constatar a taxa de variação do emprego total de Portugal e especificamente do ramo agricultura, silvicultura e pesca.

Quadro II 3 – Taxa de Variação Anual do Emprego em Portugal, Total e no setor da Agricultura, silvicultura e pesca (%)

Total Agricultura, silvicultura e pesca 2000 2,6 3 2001 1,3 0,8 2002 0,5 -5 2003 -0,9 -0,5 2004 -0,1 -5,2 2005 -0,3 -2,2 2006 0,1 -2,6 2007 -0,1 -2,3 2008 0,5 -1,4 2009 -2,7 -1,9 2010 -1,7 -7,9 2011 -2,1 -11,6

Fonte: INE; Augusto Mateus & Associados citados por PORDATA (2014b) .

Apesar das sucessivas diminuições do emprego no setor primário e na indústria agroalimentar, a produção e o VAB em volume na agricultura sofreram, como já foi visto (Quadro II 2), diminuições ligeiras, pelo que se conclui que houve no mesmo período um aumento da produtividade no setor (ver Figura II 1 e Quadro II 4).

Na Quadro II 4 podem-se observar as taxas médias de crescimento de alguns indicadores que se encontram interligados. Como é mencionado no parágrafo anterior, deu-se um aumento da produtividade (2,5%), visto que para diminuições do emprego na ordem de 2,7% por ano houve apenas uma diminuição de 0,3% do VAB em volume. Apesar da

(41)

15 crescente produtividade no setor, deu-se uma queda da rendibilidade. Como já foi referido, o VAB em valor tem sofrido um decréscimo (-3,3 %) bem mais acentuado do que o VAB em volume e deste modo o verdadeiro ganho por UTA tem-se deteriorado. A rendibilidade é definida como a razão entre o VAB em valor sobre o emprego, no entanto, uma análise mais correta caracteriza a rendibilidade como o VABcf real3 sobre o emprego.

Quadro II 4 – Taxa média de crescimento anual do Emprego, VAB (volume), Produtividade, VABcf real e Rendibilidade em Portugal (%)

Emprego (UTA)

VAB

(volume) Produtividade VABcf real Rendibilidade Taxa de Crescimento

Média Anual (2000-2011) -2,7 -0,3 2,5 -4 -1,3

Nota: Dados provisórios em 2010 e estimativas em 2011. Fonte: Adaptado de GPP (2012).

Nos gráficos seguintes pode-se observar a evolução e relação entre produtividade, VAB (volume) e emprego (Figura II 1) e entre rendibilidade, VABcf real e emprego (Figura II 2).

3

VABcf é a va lorização do p roduto a cus to de fatores, é o VABpm mais tod as a s aju das diretas ligada s e des ligada s a os produ tos líq uid os d e impos tos. VA Bcf rea l é o VABcf defla ciona do pelo ín dice d e p reços imp lícitos do PIB (GPP, 2012). Defla cionar o VABcf pelo índ ice de p reços d o PIB permite-nos d ar uma melhor ideia d o “valor” do dinheiro gan ho p or UTA de a cordo com as a ltera ções gerais d os p reços n o pa ís, ou sej a, uma melhor perceção do pod er de compra.

(42)

16

Nota: Dados provisórios em 2010 e estimativas em 2011. Fonte: Adaptado de GPP (2012).

Figura II 1 - Evolução da produtividade parcial do trabalho agrícola e respetivos componentes em Portugal (2000=100)

O aumento dos níveis de produtividade deve-se essencialmente a melhorias tecnológicas e alterações da ocupação cultural e também à diminuição acentuada do número e do peso relativo das explorações mais pequenas (GPP, 2012).

60 70 80 90 100 110 120 130 140 2000 2007 2008 2009 2010 2011 UTA VAB (volume) Produtividade

(43)

17

Nota: Dados provisórios em 2010 e estimativas em 2011. Ano 2000 = Índice 100 Fonte: Adaptado de GPP (2012).

Figura II 2 - Evolução da rendibilidade do trabalho agrícola e respetivos componentes em Portugal (2000=100)

A rendibilidade não obteve uma evolução mais desfavorável devido à maior produtividade que os agricultores conseguiram obter. A incapacidade de melhoria tecnológica ou de aumento do volume de produção de algumas explorações expuseram-nas a uma situação de inviabilidade levando à diminuição do emprego. Mesmo para muitas explorações que elevaram a sua produtividade, toda a envolvente económica desfavorável e o elevado aumento dos preços dos CI não permitiram ganhos de rendibilidade.

É de realçar o aumento dos subsídios no setor na ordem de 3% por ano para o período em análise e, também, que apesar da produtividade do trabalho agrícola ter vindo a crescer a um ritmo substancialmente superior ao verificado no conjunto da economia, o setor revela ainda níveis de produtividade muito reduzidos (GPP, 2012). Sem os subsídios, que continuamente têm aumentado, a diminuição da rendibilidade revelar-se-ia ainda mais marcante, o que mostra a importância da contínua necessidade de melhoria das capacidades de aproveitamento de recursos e otimização produtiva no setor.

Os anos de 2012 e 2013 marcam uma viragem na rendibilidade dos agricultores e, deste modo, uma bonificação pela aceleração da produtividade que tem vindo a ser conseguida. O aumento da produtividade dos últimos anos em consonância com uma melhoria da relação índice de preços dos produtos / índice de preços dos CI nos anos de 2012 e 2013 traduziu-se,

50 60 70 80 90 100 110 2000 2007 2008 2009 2010 2011 UTA VABcf real Rendibilidade

(44)

18

segundo estimativas para 2012 (INE, 2013b) num aumento da rendibilidade real por UTA de 9,5%. Estimativas de 2013 (INE, 2013a) corroboram a estimativa anterior do aumento da rendibilidade em 2012 e estimam para 2013 um aumento da rendibilidade real por UTA em 4,5%. O aumento da rendibilidade em 2013 é consequência apenas do aumento do VAB agrícola, já que tanto os subsídios aos produtos como os subsídios desligados dos produtos foram reduzidos (estimativa de -14 % de subsídios).

Em comparação com valores médios da rendibilidade agrícola da UE27 a rendibilidade agrícola nacional tem uma tendência contrária. A rendibilidade média do triénio 2010-2012 em comparação com o triénio 2000-2002 apresenta um recuo em Portugal de 7,8%, enquanto na UE27 se deu um aumento de 27,9% (INE, 2013a).

Comparando o setor agrícola com os outros setores, a nível nacional, e tendo, em 2009, a agricultura um peso de 2% no PIB e um peso no volume de trabalho de 8,3%, revela-nos que a produtividade parcial do trabalho agrícola é inferior a 1/3 da do conjunto da economia4 (GPP, 2011).

Embora estes dados possam indicar a tendência de uma menor capacidade de evolução produtiva ou de menor capacidade de aproveitamento de recursos por parte do tecido agrícola nacional, para uma análise mais rigorosa deverá ter-se em conta valores e questões que aqui não são apresentados, como a totalidade de subsídios que cada país dá ao setor agrícola, outras variáveis políticas, diferenças edafoclimáticas, distintas capacidades que cada País teve para se adaptar, quer à crise financeira de 2008 em especifico, quer à situação de baixo crescimento económico da UE que marca o início do século XXI.

4 A relação en tre a produ tivida de do trab alh o num setor e a prod utivida de no conj un to da economia é igual

ao qu ocien te da divisão do p eso des se setor n o P IB pelo s eu p eso no empre go, ou seja, nes te cas o 2%/8,3% = 0,241 (GPP, 2011).

(45)

19 2.2.3. Estrutura e Dinâmica da produção

Pode-se dividir o setor agrícola em dois principais subsetores, a produção vegetal e a produção animal. Na Quadro II 5 podemos ver a estrutura da produção em 2010 e a variação em volume dos vários componentes desde 2000.

Quadro II 5 - Estrutura da Produção Agrícola em Portugal e respetiva Taxa de Variação em volume (%).

Estrutura em 2010 Taxa de Variação 2010/2000 PRODUÇÃO VEGETAL 57,6 -6,4 Cereais 2,8 -47,7 Plantas Industriais 0,8 -34,1 Plantas Forrageiras 3,5 -19,5 Produtos Hortícolas 20,5 7,9 Batatas 1,6 -25,9 Frutos 12,2 -3,8 Vinho 13,9 -2,6 Azeite 2,1 22,2 Outros 0,1 231,2 PRODUÇÃO ANIMAL 37,1 5 Bovinos 6,9 5,1 Suínos 8,7 18,4 Aves de Capoeira 6 16,8 Leite 9,7 -4,6 Outros 5,8 -3,5 SERVIÇOS AGRÍCOLAS 4,8 20,9 ATIVIDADES SECUNDÁRIAS 0,5 8,4

Fonte: Adaptado de GPP (2011). Base: 2000

Para além dos subsetores Produção Vegetal e Produção Animal, são também identificados os Serviços Agrícolas e Atividades Secundárias que juntos correspondem, em 2010, a 5,3% do total de valor produzido pelo setor agrícola.

Dentro da produção vegetal destaca-se a contribuição dos produtos hortícolas, dos frutos e do vinho. As variações entre 2000 e 2010 são predominantemente negativas nas várias componentes da produção vegetal. De realçar a forte queda na produção de cereais.

(46)

20

São os componentes mais produtivos já citados que conseguem a dinâmica mais animadora, sendo a sua variação pouco negativa e, no caso das hortícolas, positiva em 7,9%. O azeite regista também um acréscimo de 22,2%.

A produção animal apresenta menores amplitudes na proporcionalidade de cada componente, sendo de realçar que as maiores variações registadas na década em causa são os acréscimos da produção de suínos e aves de capoeira.

Confrontando as duas produções, vegetal e animal, verificamos o maior contributo por parte da primeira, com 57,6%, contra os 37,1% da segunda. Ainda assim, aprofundando a perceção que temos de cada subsetor, é de notar que é na produção de animais que existe a maior dependência de CI, levando a que a diferença entre estes subsetores, pelo prisma do VAB, seja bem mais vincado. Segundo o Eurostat (2012), a parcela do total do valor do produto que está afeta aos custos dos CI representa, em Portugal e em 2011, 88,6% na produção animal, contrastando com a muito menor relevância dos custos dos CI no valor final dos produtos vegetais, 13,8%.

Para um conhecimento mais específico das mudanças que se registaram no setor agrícola português são apresentados nas Quadros II 6, II 7 e II 8 alguns valores não económicos acerca da produção animal e vegetal.

(47)

21 Quadro II 6 – Evolução da superfície de cultura (ha) e produção (t) de alguns componentes da produção

vegetal

Superfície (ha) Produção (t)

1999 2009 2012 1999 2009 2012 Cereais (1) 592 930 322 565 287 942 1 656 836 1 120 239 1 178 143 Leguminosas (2) 14 878 4 669 4 561 7 649 2 589 2 566 Batata 62 332 28 583 25 052 946 920 435 285 445 649 Tomate (Industria) 15 127 16 783 13 895 1 010 406 1 346 084 1 298 902 Girassol 50 134 21 346 18 030 17 538 11 456 9 624 Frutos (3) 62 230 44 261 44 455 711 178 619 737 576 185 Vinho (a) 213 638 179 880 176 985 po 7 601 563 5 710 715 6 162 000 po

Azeitona para Azeite 358 470 336 566 338 562 320 865 414 687 404 626 po

Hortaliças (4) 26 144 - 33 370 578 110 - 840 744

1: Somatório das superfícies e produções de trigo, milho, centeio, triticale, arroz, aveia e cevada. 2: Somatório das superfícies e produções de feijão e grão-de-bico.

3: Somatório das superfícies e produções de laranja, maça, pera e pêssego.

4: Valor total do grupo de hortaliças contabilizadas em 1999 não corresponde necessariamente ao grupo de hortaliças contabilizadas em 2012; Ausência de dados relativos a 2009.

a: Unidade de Produção: hl. po: Dados provisórios.

Fonte: INE (2001; 2002; 2011; 2013b).

Tal como é evidenciado na Quadro II 5, temos neste Quadro II 6 o reforço do aumento da produção de hortícolas e a forte diminuição de quase todas as outras produções. De registar o aumento significativo da produção de tomate. O Quadro regista vários componentes que devem ser entendidos como uma visão das principais culturas e não uma visão global de todas elas. Os Frutos, por exemplo, referem-se aqui apenas às produções de quatro espécies, consideradas as mais importantes e que mais afetam o setor.

(48)

22

Quadro II 7 – Evolução da produção, em toneladas de carcaça, dos principais componentes da produção animal Produção (t) 1999 2009 2012po Bovinos 98 215 102 995 92 988 Ovinos 22 325 17 895 17 524 Caprinos 2 547 1 551 1 542 Suínos 373 249 395 970 384 182 Aves 288 100 333 483 334 088 Leite 1 897 466 1 900 508 1 899 424 Ovos 110 041 124 184 120 483

po: Dados provisórios.

Fonte: INE (2001; 2011; 2013b).

Acerca da produção dos principais componentes da produção animal é de registar, ao longo do tempo, uma maior estabilidade do que sucede na produção vegetal. Aves, Suínos e Ovos aparecem como as componentes onde se observam aumentos de produção.

Quadro II 8 – Evolução dos efetivos animais Efetivos (1000 cabeças) 1999 2009 2012 Bovinos (1) 1 421 1 391 1 495 Vacas Leiteiras (2) 357 289 237 Ovinos 3 584 2 906 2 092 Caprinos 630 487 404 Suínos 2 350 2 325 2 024

1: Total de bovinos, incluindo as Vacas Leiteiras. 2: Referente a animais com 2 ou mais anos de idade. Fonte: INE (2001; 2011; 2013b).

A tendência geral dos efetivos animais é a sua diminuição, registando-se uma maior estabilidade nos bovinos. Aqui é de depreender que a estabilidade, ou até possivelmente algum aumento, acontece nos bovinos de carne, tendo em conta o registo da diminuição das vacas leiteiras.

(49)

23 2.2.4. Comércio Internacional

No período de 2000 a 2011, as exportações têm crescido na ordem dos 4% ao ano (GPP, 2012). A intensidade exportadora tornou-se ainda mais marcada em anos mais recentes com um crescimento de 10,9% e 14,2% (previsão) em 2010 e 2011, respetivamente (INE; Augusto Mateus & Associados citados por PORDATA, 2014c). Este crescimento da intensidade exportadora foi também acompanhado pelo setor agrícola com crescimentos anuais superiores aos dos apresentados pelo total da economia. O complexo agroalimentar (produção agrícola e industrias alimentares, bebidas e tabaco) apresentou um aumento médio anual das exportações de 8,3% (GPP, 2012).

A orientação exportadora da agricultura evoluiu de 3,4%, em 2000, para 9,9%, em 2011. Para além disto, é necessário ter em conta que muitos dos produtos agrícolas são incorporados nas indústrias alimentares. Este setor teve também aumentos que se traduzem numa evolução de 15,1%, em 2000, para 28,2%, em 2011, tendo a sua exportação incorporada 11% da produção agrícola total. Deste modo pode dizer-se que existe uma proporção dos bens agrícolas exportados de forma direta (9,9%) e indireta (11%) na ordem dos 21% (GPP, 2012).

O aumento das exportações no setor agrícola e na economia do país em geral assenta na necessidade de encontrar mercado externo num período de dificuldade financeira da população portuguesa.

Por sua vez, as importações, dentro do complexo agroalimentar registaram um aumento médio anual, entre 2000 e 2011, de 4,6%. O grau de autoaprovisionamento tem sido bastante estável na década 2000-2011, sendo o seu valor, em 2009, de 83%, ou 73% quando referido ao grau de autoaprovisionamento corrigido5 (GPP, 2012).

5 Dedu zindo as dup licações a o longo da fileira. Como por exemplo a s produ ções a lim enta res qu e sã o

dirigid as para cons umos in terméd ios dos p róprios ramos a limenta res ou os a liment os p rod uzid os para alimenta ção an imal (GPP, 201 2).

(50)

24

2.2.5. Número e Dimensão das explorações

A evolução da dimensão das explorações agrícolas nos últimos anos pode estar associada à evolução de outros indicadores já analisados, como a rendibilidade ou a necessidade de exportação.

A otimização produtiva como meio para chegar à viabilidade económica ou a maiores níveis de rendibilidade estão, nos dias de hoje, impreterivelmente ligados a fatores como: mão-de-obra qualificada; avanço tecnológico; alta produção com elevado aproveitamento de recursos e com capacidade de atingir significativas quotas de mercado; capacidade de chegar a mercados externos; entre outros. Este conjunto de indicadores está subjacente a uma ideia de necessidade de elevados investimentos e recursos concentrados com fim a um objetivo comum, ou seja, empresas de elevada dimensão económica.

A Figura II 3 dá-nos uma ideia da elevada proporção (sensivelmente 90%) de pequenas e muito pequenas explorações que existem no país. Estas explorações são maioritariamente empresas familiares com baixa taxa de contratação e com utilização de pequenas quantidades de terra. Por outro lado, as médias e grandes explorações são utilizadoras de mais mão-de-obra contratada e naturalmente utilizadoras de maiores quantidades de superfície agrícola.

(51)

25

Fonte: GPP (2012)

Figura II 3 - Proporção de explorações com diferentes dimensões por número, UTA familiar, UTA assalariada e SAU, em Portugal (2009)

Embora grande parte das explorações seja de pequena dimensão, a evolução dos últimos anos tem demonstrado (GPP, 2012):

 Aumento da dimensão média das explorações de 9,8 ha/exploração, em 1999, para 12,7, em 2009;

 Redução do número de explorações. Menos 27%, em 2009, em comparação com 1999, acompanhado de aumento do número de explorações com mais de 50 ha;  Redução da SAU em 5% (2009/1999). Diminuição que ocorreu principalmente ao

nível das pequenas explorações, tendo-se mesmo verificado um aumento da SAU em explorações com mais de 50 ha.

Veja-se nas Quadros II 9 e II 10, as dinâmicas acontecidas no número de explorações e na SAU em 1989, 1999 e 2009. Portugal viu o seu número de explorações agrícolas cair drasticamente nas últimas décadas, não se registando tão vincada diminuição na SAU. O resultado traduz-se no aumento do número de explorações de grande dimensão e na diminuição do número das pequenas explorações.

(52)

26

Quadro II 9 – Evolução do número de explorações agrícolas

Total >= 50 ha 1989 1999 2009 1989 1999 2009 PORTUGAL 598 742 415 969 305 266 9 236 9 905 10 460 Continente 550 879 382 163 278 114 9 050 9 612 10 047 Norte 192 213 137 552 110 841 788 874 926 Centro 241 898 162 373 105 092 1 302 1 548 1 494 Lisboa 19 833 12 208 7 602 238 241 257 Alentejo 70 792 51 059 42 196 6 503 6 762 7 159 Algarve 26 143 18 971 12 383 219 187 211 Açores 24 706 19 280 13 541 184 290 412 Madeira 23 157 14 526 13 611 2 3 1

Fonte: INE e PORDATA citados por PORDATA (2012a).

Quadro II 10 – Evolução da Superfície Agrícola Útil

Superfície Agrícola Útil (ha)

1989 1999 2009 PORTUGAL 4 005 573 3 863 094 3 668 145 Continente 3 879 579 3 736 140 3 542 305 Norte 778 953 673 555 644 027 Centro 827 240 724 551 570 003 Lisboa 97 243 91 853 87 588 Alentejo 2 039 364 2 144 249 2 152 389 Algarve 136 779 101 932 88 297 Açores 118 983 121 308 120 412 Madeira 7 012 5 645 5 428

Fonte: INE e PORDATA citados por PORDATA (2012b).

Enquanto a totalidade do número de explorações sofreu um decréscimo, entre 1989 e 2009, de 49%, as explorações de tamanho igual ou superior a 50 ha registaram um aumento na ordem dos 13%. Podemos observar, que embora o Centro e o Norte do país representem (em 2009) dois-terços da totalidade das explorações, é no Alentejo que se encontra quase 60% da SAU. O Alentejo é a única região continental onde não se verifica decréscimo de SAU, possivelmente correlacionado pela capacidade de sobrevivência e de crescimento das explorações de grande dimensão, que caracterizam a região.

(53)

27 A ideia da necessidade de maximização da produção e da utilização de elevados recursos em explorações de elevada dimensão é de algum modo corroborada empiricamente pela evolução que é apresentada nos últimos anos.

Outros fatores podem ser apontados como influenciadores do registo evolutivo no número e dimensão das explorações, tais como: processos de florestação, de urbanização e de envelhecimento demográfico (GPP, 2012). Ainda assim, alguns pontos de âmbito social como a urbanização e o envelhecimento demográfico poderão explicar apenas parte da questão, ou seja, o desapego por trabalhar no campo por parte dos jovens, preferindo a cidade, e, deste modo, o aumento da idade dos agricultores presentes em agricultura familiar e de pequena dimensão, acabando por não se verificar a continuidade da atividade pelas gerações mais novas. Outra parte da questão estará sempre associada à rendibilidade, num período em que a situação recessiva tem revelado dificuldades de emprego tanto em meios rurais como urbanos.

2.2.6. Produtos Tradicionais Qualificados

Tendo-se observado no ponto anterior a importância das grandes explorações, como possível parte da solução para a viabilidade económica e melhores rendimentos, resulta a oportunidade de contrabalançar a análise da importância da quantidade produzida, com a qualidade. Faz-se aqui, portanto, uma breve observação aos produtos tradicionais. Estes produtos são normalmente reconhecidos por serem característicos de determinada região e produzidos com determinada especificidade. Barberis (1992) citado por Batista et al. (2008) refere que para um produto se considerar típico deverá ser portador de um conjunto de características como localização geográfica determinada, especificidade das matérias-primas e das técnicas de preparação e proximidade entre produtor e consumidor. Numa abordagem mais subjetiva, Bernat (1996) citado ainda por Batista et al. (2008:3), descreve que “produtos agroalimentares tradicionais são produtos portadores de elevado conteúdo simbólico, associado à ruralidade, à natureza, à nostalgia de um tempo passado, a um desejo de pertença a uma dada região, de enraizamento, de um certo regionalismo, ao prestígio e ao prazer”.

(54)

28

Observa-se, então, a perceção de algum conflito entre a produção de bens agrícolas tradicionais com a concentração de recursos e elevadas produções. São produtos que estão conectados com uma agricultura muito característica e que mantém um conjunto de particularidades que, possivelmente, se perderiam numa agricultura que foque objetivos quantitativos em detrimento de objetivos qualitativos. Estes produtos podem usufruir de proteção institucional mas devem, também, visar a sua sustentabilidade em conseguir nichos de mercado específicos ou um valor acrescentado mais elevado (preço mais caro) através da capacidade de conseguir promover a sua qualidade e tipicidade.

A Figura II 4 mostra-nos, sob um prisma geral, o valor de produção de produtos DOP/IGP/ETG-RP6, entre 2002 e 2009.

6

(55)

29

Fonte: Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural ( DGADR, 2014).

Figura II 4 – Evolução do valor da produção de produtos DOP/IGP/ETG-RP em Portugal

Podemos verificar que o valor da produção oscila bastante, atingindo dois picos, 2005 e 2009, de praticamente igual valor, cerca de 78 milhões de euros, e tendo como valor de produção mais baixo cerca de 56 milhões de euros, em 2006.

Existe, no entanto, grande heterogeneidade na ponderação dos valores de produção de cada segmento de mercado, como é observável na Figura II 5. Por sua vez, na Figura II 6, podemos entender qual a variação das taxas de crescimento de cada um dos segmentos de mercado entre 2002 e 2009.

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Fonte: Direção Geral de Agricultura e Desenvolvimento Rural (2014)

Figura II 5 – Ponderação dos valores de produção (produtos DOP/IGP/ETG-RP) por segmento de mercado em 2009, Portugal

Entre os produtos tradicionais, destaca-se como segmento de mercado dominante os Frutos, com 52,23% do total do valor de produção em 2009. Outros segmentos que apresentam relevância são os Queijos e Produtos à base leite (17,69%), Carnes de Bovino (14,21%), Azeitonas (7,92%) e os Produtos de salsicharia, Presuntos e Paletas (6,74%).

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Fonte: DGADR (2014).

Figura II 6 – Taxas de Crescimento Acumuladas dos produtos DOP/IGP/ETG-RP por segmento de mercado em Portugal entre 2002 e 2009

Todos os segmentos de mercado, à exceção das Carnes de Ovinos, registaram um aumento nos valores de produção. De destacar o aumento dos Produtos de salsicharia, Presuntos e Paletas (175,61%) e dos Méis (156,67%).

No geral, a conclusão que se pode observar dos dados é que, embora os produtos tradicionais sejam um nicho de mercado com alguma variância, têm registado alguns aumentos que permitem antever, pelo menos, uma manutenção da procura dos consumidores por um tipo de alimentos que permitem a viabilidade económica de algumas pequenas ou médias explorações que apostam sobretudo na qualidade e na comercialização de proximidade. Ainda assim, é de notar que a produção conseguida deste nicho tem uma ponderação muito reduzida na totalidade da produção agrícola nacional.

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2.3. Perspetiva Internacional

2.3.1. Comparação Produtiva

Uma cuidada comparação e análise das diferenças que existem entre vários países ajuda-nos a entender quais os caminhos que podem levar o setor agrário para níveis de melhores performances, tanto numa perspetiva de ganho económico como na capacidade da melhor utilização de recursos e consequentes menores impactos ambientais.

Como indicador de base para uma comparação do setor agrário entre vários países será interessante saber qual a produção, em euros, gerada por unidade de trabalho. Na Quadro II 11 são apresentados dados acerca da produção por UTA, os hectares trabalhados por UTA, a produção conseguida por hectare e a dimensão das explorações.

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33 Quadro II 11 - Comparação entre vários países europeus da produção (milhões de euros) por mil UTA, do número de hectares trabalhados por UTA, da produção (milhões de euros) por mil hectares e do tamanho

médio das explorações, 2010 7

Nota: Países da UE27 (exceto Luxemburgo, Reino Unido e Bélgica por falta de dados) mais Noruega, Suíça e Croácia.

Fonte: Dados calculados através de Eurostat (2012)

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Os país es foram dispostos de forma descend ente seg undo a produ ção p or UTA. Os valores que rep res en tam a p rod uçã o, em milhões d e euros, p or mil UTA devem ser comparad os com o cuidad o en tend imento de qu e os ín dices de p reços s ão distin tos em cad a pa ís. De qualquer da s formas estes valores dã o uma perceçã o geral das d iferença s d e p rodutividad e n os países ap res en tad os.

M € / mil UTA ha / UTA M € / mil ha ha / Exploração

Dinamarca 161,2 50,6 3,2 62,9 Paises Baixos 117,1 11,6 10,1 25,9 Alemanha 76,1 30,6 2,5 55,8 Noruega 68,0 21,7 3,1 21,6 Suécia 65,6 53,9 1,2 43,1 França 65,1 35,7 1,8 53,9 Suiça 59,6 10,9 5,5 17,7 Finlândia 51,9 38,4 1,4 35,9 Itália 51,9 13,5 3,8 7,9 Áustria 51,4 25,2 2,0 19,2 Espanha 38,4 26,7 1,4 24,0 R. Checa 35,7 32,3 1,1 152,1 Eslováquia 30,9 33,8 0,9 77,4 Irlanda 26,0 30,2 0,9 35,7 Chipre 24,7 6,4 3,9 3,0 Estónia 23,7 37,5 0,6 48,0 Malta 19,6 2,3 8,3 0,9 Grécia 15,6 8,2 1,9 4,9 PORTUGAL 12,8 10,1 1,3 12,0 Hungria 12,4 11,1 1,1 8,1 Eslovénia 11,9 6,3 1,9 6,5 Croácia 11,5 7,1 1,6 5,6 Lituânia 10,4 18,7 0,6 13,7 Polónia 10,0 7,6 1,3 9,6 Letónia 9,1 21,1 0,4 21,5 Roménia 6,5 8,3 0,8 3,4 Bulgária 6,2 11,0 0,6 12,1

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Os valores apresentados nas duas colunas centrais (hectares por trabalhador e produção por mil hectares) estão matematicamente ligados aos valores da produção conseguida por mil UTA. É dedutivo que elevada produtividade estará associada à utilização de grandes áreas de SAU por trabalhador e/ou a elevadas produções por unidade de SAU. A produtividade conseguida por hectare estará condicionada por variáveis difíceis ou impossíveis de controlar como o clima ou a qualidade do solo. Para além de varáveis edafoclimáticas, a produtividade por ha é condicionada pela qualificação dos trabalhadores, pela tecnologia utilizada e pela capacidade de intensificação. Relativamente à quantidade de área explorada por UTA, esta poderá estar ligada e ser influenciada por um conjunto vasto de variáveis: questões económicas, como a capacidade de investimento; socioculturais, como a facilidade de compra e venda de património e as qualificações e espirito empresarial dos agentes que trabalham no setor; políticas, como ordenamento do território e tipo de ajudas praticadas. Podemos aferir que elevadas áreas exploradas por UTA significarão, em princípio, a existência de significativa quantidade de explorações de média e grande dimensão. Dimensão em área e, concludentemente, dimensão económica. Essa hipótese é corroborada com uma evidente relação que existe entre os valores da área explorada por UTA com a dimensão das explorações. Como ponto de conclusão fica alguma evidência da importância da dimensão económica das explorações para uma boa performance produtiva por UTA.

2.3.2. Evolução das Explorações, do Emprego e da Rendibilidade Uma análise temporal ao que se tem verificado na UE torna clarividente uma tendência natural em que o tecido agrícola de cada país converge para uma condição de maior produtividade por UTA através do aumento da dimensão das explorações e de maiores áreas trabalhadas por UTA. Segundo o estudo da European Commission (2010) temos:

 Na UE-15, entre 1995 e 2007, uma diminuição anual do número de explorações na ordem dos -2,2% e uma diminuição do número de UTA na ordem dos -2%. Na UE-27, entre 2003 e 2007, as diminuições anuais do número de explorações e do número de UTA são respetivamente, -2,3% e -3,3%.

Imagem

Figura II 1 - Evolução da produtividade parcial do trabalho agrícola e respetivos componentes em Portugal  (2000=100)
Figura II 2 - Evolução da rendibilidade do trabalho agrícola e respetivos componentes em Portugal  (2000=100)
Figura II 3 - Proporção de explorações com diferentes dimensões por número, UTA familiar, UTA assalariada  e SAU, em Portugal (2009)
Figura II 4 – Evolução do valor da produção de produtos DOP/IGP/ETG-RP em Portugal
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