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Capítulo 2. Dinâmica do setor agrícola nos últimos anos

2.3. Perspetiva Internacional

2.3.3. Produtividade e Poluição

A crescente produtividade que se tem verificado no setor agrícola é justificada pelas maiores áreas trabalhadas por UTA (e consequente diminuição de emprego) e pela evolução tecnológica que tem permitido extrair cada vez mais produto por unidade de área ou por unidade de recursos. Juntamente com a elevada produção de alimento que se vai verificando surgem também as mais variadas opiniões e preocupações sociopolíticas relativamente aos possíveis impactos ambientais.

É de senso comum a perceção negativa, sob o ponto de vista da poluição ambiental, que existe em relação à agricultura e indústria alimentar altamente especializada e altamente

37 produtiva. Em contraposição, a agricultura familiar ou mais arcaica é comummente ligada à ideia de produção “amiga do ambiente” (Capper et al., 2009).

Na Quadro II 13 podemos analisar a correlação que, por ventura, existirá entre a produtividade por unidade de área e o impacto ambiental (neste caso retratado e restringido à emissão de gases efeitos estufa) causado pela produção de unidade de produto (euros).

É importante que todos os sistemas de produção de alimentos sejam avaliados a partir do custo ambiental por unidade de produto (Capper et al., 2009). A observação do Quadro deixa perceber uma ligação entre elevadas produtividades por área com as menores emissões de gases efeito estufa por unidade de produto. Estes valores revelam-se contrários à conexão geralmente existente entre agricultura altamente produtiva e agricultura poluente.

Na realidade, até poderão ser feitas algumas conclusões apriorísticas relativamente à expressão poluente da agricultura altamente produtiva. Este tipo de agricultura, caracterizada pela especialização e otimização de recursos, estará sempre ligada à menor utilização desses recursos para iguais capacidades produtivas, resultando numa poupança ambiental. Como refere Capper et al. (2009), para se conseguir um abastecimento alimentar económico e ambientalmente sustentável, os agricultores precisam de identificar os sistemas e práticas que permitem a melhor utilização dos recursos disponíveis. O autor, ao analisar o custo ambiental da produção de leite, concluiu que a produção de 1kg de leite, em 1944, tinha um custo ambiental de 3,66 kg de CO2eq, enquanto em 2007 (animais

consideravelmente mais produtivos do que em 1944) o custo ambiental era de 1,35 kg de CO2eq por kg de leite.

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Quadro II 13 – Produção (euros) conseguida no setor agrícola em mil ha de SAU e emissão de gases com efeitos estufa (CO2eq8) por 1000 milhões de euros produzidos pelo setor agrícola, 20109

Fonte: Dados calculados através de Eurostat (2012); Eurostat / AEA / JRC / ETC/ACC / DG CLIMA citados por PORDATA (2014a).

8 Os d iferen te s gases com efeito de es tufa sã o calculados a través d o s eu poten cia l d e a qu ecimento global (compa ra tivamente ao CO2 ) e os resu ltados exp ressam -s e em equ iva len tes a CO2. Para ob ter emissões em equ iva len tes a CO2 utilizand o o seu potencial de aq uecimento glo ba l, são usad os os seguin tes fa tores de pond era ção: d ióx ido de ca rb ono = 1, metano = 21, óx id o n itros o = 310 (PORDATA, 2014 a ).

9 Os países foram dis postos de forma descendente s egun da a produ ção consegu ida p or unidad e d e superfície. M € / mil ha M tCO2eq /1000 M € Paises Baixos 10,11 0,89 Malta 8,34 1,04 Suiça 5,46 0,98 Chipre 3,88 1,61 Itália 3,85 0,68 Dinamarca 3,19 1,14 Noruega 3,14 1,43 Alemanha 2,48 1,65 Áustria 2,04 1,28 Grécia 1,92 1,49 Eslovénia 1,89 2,19 França 1,82 1,81 Croácia 1,61 1,61 Espanha 1,44 1,15 Finlândia 1,35 1,90 Polónia 1,31 1,95 PORTUGAL 1,26 1,57 Suécia 1,22 2,09 Hungria 1,12 1,62 R. Checa 1,11 2,10 Eslováquia 0,91 1,79 Irlanda 0,86 4,19 Roménia 0,78 1,80 Estónia 0,63 2,19 Bulgária 0,57 2,40 Lituânia 0,56 3,28 Letónia 0,43 2,96

39 Na Figura II 8 podemos observar as emissões (CO2eq) de gases efeito de estufa por

milhão de euros de VABpb em alguns setores da EU-27, nos anos de 1998 e 2008.

Fonte: Eurostat (2013d).

Figura II 8 – Emissão de gases efeito de estufa (CO2, CH4 e N2O) medidos em toneladas de CO2eq por milhão

de euros de VABpb em diferentes atividades económicas na UE-27

Com exceção da Eletricidade, gás e abastecimento de água, os outros setores (desprezando Outros serviços e construções), conseguem, entre 1998 e 2008, uma redução da emissão de CO2eq por unidade de VAB produzido. Assim, é corroborada a linha de ideias

anteriormente analisada, de que o avanço tecnológico (que está, salvo algumas exceções, intimamente ligado com o avanço temporal) pode ser uma mais-valia na diminuição do impacto ambiental por unidade de produto.

No setor agrícola será ainda importante verificar qual a evolução na utilização de rações, combustíveis, fertilizantes e fitofármacos na UE, já que estes são amplamente considerados como agentes poluentes. Esses três componentes compõem a maioria dos CI da agricultura. A evolução em volume da utilização de CI regista apenas um variação positiva, entre 2005 e 2010, de 1,5%. A estagnação na utilização de CI poderá estar associada aos aumentos dos seus preços em comparação com a evolução dos preços dos produtos agrícolas, como igualmente já se tinha verificado em Portugal. Enquanto o índice de preços dos produtos sofreu, entre 2005 e 2010, um aumento de 8,9%, registou-se, para o mesmo período, um aumento de 17,6% para os CI (aumentos de 10,6% nos combustíveis e

Total otal Agricultura, caça, floresta e pesca Mineração e Pedreiras Eletricidade, gás e abastecimento de água Indústria Transportes, armazenamento e comunicação Outros serviços e construção

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lubrificantes, 12,5% nas rações e de 26,4% nos fertilizantes e melhoradores de solo). Tendo havido também uma estagnação da produção agrícola (volume), no período entre 2005 e 2010, com aumento de 0,1% (ou decréscimo de 2% se medido pelo VABpb em volume)

percebe-se que não há grandes alterações da produtividade conseguida por CI utilizado10: registando-se apenas um decréscimo de 1,8%. Temos portanto uma idêntica utilização de CI e, igualmente, uma manutenção da sua eficiência produtiva, ou seja, idênticos inputs de agentes poluentes para idêntico output de produto (European Comission, 2012).

É pertinente, neste ponto, alertar para outros paradigmas da poluição e como esta afeta a sustentabilidade. Marta-Costa (2010a) refere-se a uma das teorias da visão economicista11 de sustentabilidade onde é reforçada a ideia da gestão sustentável dos recursos e que deste modo se consegue uma taxa de extração de bens naturais menor que a taxa de reprodução e/ou regeneração, garantindo-se a manutenção do sistema.

Assim, podemos olhar para a dualidade produção-poluição na perspetiva de custo ambiental por produto produzido mas com a salvaguarda que produções exaustivas poderão não respeitar uma regeneração do sistema – solo, ar, água – que permitam a sua contínua utilidade ao longo do tempo.