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Capítulo 6. Conclusões

6.1. Respostas aos objetivos do trabalho

Neste subcapítulo apresenta-se a resposta direta alcançada com este estudo às questões colocadas inicialmente e que fundamentaram a sua existência.

Quais as evoluções da agricultura no país e na Europa?

Constatar as evoluções temporais que se registam no setor agrícola poderá dar-nos perspetivas do seu percurso futuro, assim como nos facilita percecionar quais as transformações que resultam em diferentes produtividades e impactos ambientais. A par da observação longitudinal (central neste trabalho), é sempre proveitosa alguma comparação transversal entre o setores agrícolas de diferentes países, permitindo assim um reforço (ou anotação da ausência deste) na corroboração de quaisquer conclusões. Neste capítulo, é exposto um resumo sucinto das várias conclusões que foram sendo percebidas ao longo de cada ponto apresentado neste documento.

As mais evidentes conclusões que se podem retirar da análise de várias janelas de tempo e da comparação de um conjunto de indicadores mensuráveis são:

1. os aumentos de produtividade no setor agrícola, tanto à escala nacional como europeia;

2. a volatilidade da rendibilidade, que embora esteja, obviamente, relacionada com a produtividade, sofre alterações devido a outras variáveis como as alterações nos preços dos CI e dos produtos finais. A rendibilidade tem aumentado na UE mas diminuído em Portugal, ainda assim, a nível nacional dados provisórios e estimativas (principalmente para 2013) apontam para o início de uma retoma de ganho de rendibilidade;

3. a diminuição do emprego agrícola, dados estes que surgem intimamente ligados com os aumentos de produtividade;

4. a diminuição do número de explorações, essencialmente devido ao desaparecimento de muitas pequenas explorações;

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5. a redução do impacto ambiental por unidade de produto, possível devido a uma otimização da utilização de recursos;

6. a importância de sistemas especializados e altamente produtivos, como solução geral a um conjunto de problemas existentes nas dimensões económica e ambiental deste setor.

O aumento da produtividade agrícola é aqui entendida não só como uma melhoria para os ganhos do trabalhador. É, no mundo globalizado em que vivemos, uma necessidade para a viabilidade de uma exploração. A competitividade das empresas agrícolas nacionais tem uma importância crucial para a coexistência de um setor produtor de alimentos economicamente sustentável e uma produção de alimentos facilmente acessível (baixo preço) a toda a população e capaz de concorrer nos mercados estrangeiros.

Em Portugal, os aumentos de produtividade não foram acompanhados pelo aumento da rendibilidade dos trabalhadores. Este fenómeno deve ser entendido em alguma profundidade de modo a não se retirar conclusões precipitadas típicas de diabolização dos grandes centros produtivos, quer seja neste setor ou em qualquer outro setor do mercado. Como em quase todas as atividades profissionais ou até em cada agregado familiar do país, os custos dos produtos consumidos têm aumentado a um ritmo mais acelerado do que os ganhos, resultando em menores valores acrescentados. A otimização produtiva num país com vários desequilíbrios (elevado endividamento; crise financeira mundial de 2008; pedido de ajuda financeira em 2011) é muita vez, e no curto-médio prazo, uma corrida não pela melhoria, mas sim pela capacidade de evitar uma descida demasiado abrupta. A produtividade agrícola portuguesa está muito aquém dos países europeus mais desenvolvidos e igualmente aquém da produtividade média dos outros setores da economia nacional. Somente a contínua aposta na competitividade permite performances do setor que possibilitam maiores rendibilidades dos intervenientes. A elevada produtividade está também conectada com a capacidade de otimização dos recursos e elevada eficiência, tonando-se assim uma via para uma produção com menos impacto ambiental por unidade de produto.

A competitividade que aqui se fala mostra-se fortemente correlacionada em todo este trabalho com a importância da existência de grandes unidades produtivas. Estas permitem

159 elevada produção e consequentemente significativas quotas de mercado (e deste modo maior capacidade de negociação). Possibilitam maior capacidade de aproveitamento de recursos, de melhores investimentos tecnológicos e maiores produtividades por UTA através da otimização do uso de mão-de-obra. Esta otimização do uso de mão-de-obra choca imperativamente com questões sensíveis da dimensão social pois está associada a uma diminuição do emprego. Empiricamente é inequívoca a trajetória dos ganhos de produtividade correlacionada com a diminuição do emprego. Existindo a capacidade de cada trabalhador controlar mais sistemas de produção (superfície de solo, número de animais, máquinas industriais), o número de trabalhadores reduz-se e aumentam os ganhos (produtividade, rendibilidade) por trabalhador.

Que interrogações e desafios se colocam à avaliação da sustentabilidade?

Como definição estrita, um sistema sustentável é aquele que se consegue manter ao longo do tempo. Anteriormente ao apogeu das preocupações ambientais depreendia-se a continuidade ou morte empresarial de um sistema produtivo de acordo com a sua viabilidade económica. No entanto, a constatação da delapidação de recursos naturais que alguns setores da economia provocavam, obrigaram a uma revisão dos vários parâmetros que poderiam ser causa da sustentabilidade (ou ausência desta) dos sistemas produtivos. A partir daqui, ao termo sustentabilidade se enraízam um conjunto de dimensões que o caracterizam como conceito amplo e de dependências várias, como a viabilidade económica e a reprodutibilidade ambiental. A dilatação do conceito de sustentabilidade prosseguiu uma trajetória que, neste momento, permite uma certa analogia daquele conceito com outros de foro algo subjetivo, como acontece com os sentimentos: o amor, o ódio ou a compaixão. À definição de sustentabilidade é colada, não poucas vezes, a visão de um “mundo melhor” e, também, um conjunto de metas forjadas apenas por juízos de valor e sem qualquer rigor objetivo sobre se estamos a alertar para parâmetros que, efetivamente, permitem a perduração de um sistema. Confunde-se “o que queremos que a sustentabilidade seja” ou “aquilo que queremos a que a sustentabilidade leve” com aquilo que se devia estar a analisar: “o que é necessário para que a sustentabilidade exista”. Daqui emerge um caminho natural de politização do conceito de sustentabilidade, onde a dimensão ambiental adquire,

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em teoria, relevante importância, devido ao seu apoio popular que lhe está vinculado. A dimensão social, em particular, surge com significativa ambiguidade, confundindo-se muitas vezes se estamos a pensar a sustentabilidade ou a objetivar metas baseadas em juízos de valor ou com vista a ganhos políticos.

Para que existam boas aspirações a uma correta avaliação da sustentabilidade torna-se imprescindível, portanto, e primeiro que tudo, ter uma noção clara de que o que se pretende é a manutenção de um sistema ao longo do tempo e quais os parâmetros que de forma mais objetiva e inequívoca permitem assegurar essa meta. A importância de ter uma visão sistémica dos processos que levam à sustentabilidade pode permitir a eliminação de indicadores, de conjuntos de indicadores, ou até de dimensões que se percebam como redundantes ou simples replicadores de outros fatores mais diretos. A ciência deve procurar encontrar os meios de fornecer o conhecimento que permita a elaboração de ferramentas de sustentabilidade eficientes para que, no caso do setor agrícola, os proprietários de explorações possam gerir a sua unidade produtiva de acordo com os seus objetivos, que na maioria dos casos se adequarão a elevadas produtividades que não destruam o sistema base natural que lhe dá sustento.

Um dos maiores desafios que a avaliação da sustentabilidade encontra é a complexidade inerente aos processos que permitem a sustentabilidade e a dificuldade em interligar os vários dados que nos possam permitir concluir qual o caminho objetivo para a perduração saudável de uma unidade produtiva. Aliado a isto, surge talvez um problema maior, o da impermanência da complexidade, pois num mundo em que tudo se altera a passo galopante, a ciência que se debruça sobre a avaliação da sustentabilidade corre o risco de estar continuamente desatualizada.

Quais as dinâmicas percebidas nos sistemas avaliados e quais os seus efeitos na sustentabilidade?

As dinâmicas percebidas dos sistemas avaliados neste trabalho permitem uma contraposição com a realidade observada no setor agrícola a nível nacional e europeu. Trata-

161 se, no entanto, de uma avaliação de casos de estudo que não possibilita inferências acerca do universo de explorações delimitado pela área geográfica em que o estudo incide.

Como principais conclusões retiradas desta avaliação temos:

1. As profundas alterações constatadas no setor agrícola português foram também percebidas nos subgrupos analisados quando comparados entre 2004 e 2013. Essas evoluções ocorreram sobretudo ao nível da dimensão económica, sendo as dimensões ambiental e social marcadas pela estabilidade ou pequenas alterações, quando apreciadas de uma forma global.

2. Quebra geral e acentuada nos indicadores económicos, em especial nos subgrupos das Maronesas e PE, tal como é depreendido do panorama no setor agrícola português, onde explorações com menor capacidade produtiva e com menor dimensão sofreram com maior intensidade os malefícios de um período económico conturbado. A maior rusticidade e adaptabilidade da Maronesa ao seu solar de origem não foi vantagem suficiente para que as explorações conseguissem uma evolução mais favorável do que aquelas que produzem outras raças. As Maronesas tiveram ainda uma maior quebra nas ajudas subsidiárias do que outras raças bovinas. A maior produtividade das outras raças, inclusive as leiteiras, permitiu menores impactos negativos ocorridos da já mencionada conjuntura que o país atravessou. Por outro lado, os maiores efetivos permitiram uma contínua melhor eficiência, quando comparados com os outros subgrupos, na utilização dos seus fatores de produção. O subgrupo das ME apresenta as maiores produtividades e realça-se como aquele que melhor consegue amortecer a desfavorável evolução económica. No geral, os vários sistemas analisados concentraram a produção no seu produto principal enquanto os bovinicultores revelaram um maior asseio contabilístico.

3. Idênticas tendências, nos diferentes subgrupos, das evoluções registadas nos indicadores ambientais. De realçar o maior uso de concentrados para possíveis tentativas de maiores ganhos de produtividade e maior facilidade de maneio alimentar e a diminuição drástica do uso de fitofármacos, possivelmente pelo aumento dos custos. Os sistemas observados recorrem, no geral, a uma agricultura

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mais mecanizada, menos utilizadora de agentes químicos como fitofármacos e adubos, mais focada na produção animal com diminuição da produção forrageira e ausência de venda de produtos vegetais e, finalmente, a opção por um maneio alimentar mais cingido às rações comerciais.

4. A análise à dimensão social permite perceber que em todos os subgrupos se regista uma maior propensão dos bovinicultores em equacionar a continuação da atividade bovina através dos seus filhos, havendo mesmo uma melhoria das motivações em relação ao setor agrário nos sistemas com piores evoluções económicas. Algumas melhorias que o setor registou em 2012 e principalmente em 2013 e a relutância em deixar as terras ao abandono podem estar na base dessa esperança positiva, enquanto que o aumento da idade dos bovinicultores e dos seus filhos e a ideia de revitalização da agricultura como atividade profissional em Portugal podem ser as causas que levam os bovinicultores a projetarem a continuação da atividade através dos filhos. No geral, observa-se um menor investimento em novas tecnologias, muito naturalmente devido aos maus retornos económicos pela qual as explorações têm passado. Houve um aumento da proporção de terra própria, devido a diminuições das áreas arrendadas e maior aquisição de terra própria. À exceção do subgrupo das ME, mantêm-se ou aumentam as atividades alternativas, usufruindo assim as famílias de outros rendimentos que não apenas da exploração bovina. 5. Apenas um sistema, o representado pelo subgrupo das ME, pode ser considerado

como tendo uma evolução positiva, ou pelo menos estável, no que se refere à sua sustentabilidade. Caracterizada por conseguir suster muitos dos males advindos do mau período económico do país e do setor agrícola e alcançando ligeiras melhorias nas dimensões social e ambiental. Em todos os outros subgrupos, as alterações bastante negativas na dimensão económica permitem concluir uma evolução negativa na sustentabilidade como um todo. Sendo do realçar, no entanto, quebras consideravelmente mais dramáticas nos indicadores económicos nos subgrupos das Maronesas e das PE do que o sucedido no subgrupo das Outras. No caso da situação real ser, efetivamente, idêntica ao verificado nos subgrupos avaliados, e mantendo- se o trajeto económico do país e do setor agrícola semelhante ao verificado nos

163 últimos anos, poderá concluir-se que as pequenas explorações, e principalmente as pequenas explorações de gado maronês tenderão continuamente a desparecer. Isto não levaria, necessariamente, a uma incapacidade de preservação da raça maronesa, mas obrigaria a uma alteração da conceção de como gerir e adaptar as explorações às novas realidades.

6. Embora se tenha verificado uma diminuição das ajudas subsidiárias em todos os sistemas analisados, verifica-se que o maior responsável pelas perdas de rendibilidade foi devido às diminuições dos VAB’s. As ajudas subsidiárias foram, deste modo, uma parcela estabilizadora. A ausência dessa parcela (tanto em 2004 como em 2013) pode confirmar uma ainda pior evolução económica em todos os subgrupos. De registar, como ponto positivo, a manutenção de um valor positivo do REF conseguido nas ME em 2013 na situação sem subsídios.