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Deficiência hídrica em feijoeiro. IV. Alterações micrometeorológicas

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DEFICIÉNCIA HÍDRICA EM FEIJOEIRO.

IV. ALTERAÇÕES MICROMETEOROLÓGICAS 1

HOMERO BERGAMASCHI2, HAMILTON J. VIEIRA3, josÉ C. OMETT04 LUIZ R. ANOELOCCI o PAULO L LIBARDI 5

RESUMO - Em experimento de campo, conduzido em Piracicaba, SP, à latitude de 22 042' sul e altitude de 576 m, foram avaliadas alterações micrometeorológicas em culturas de feijão (Phaseoàis vzdgaris L.), sub-metidas a diferentes condições de disponibilidade hfdrica no solo. Os tratamentos constaram de três épocas de semeadura (7.7,22.7 e 4.8.83) e duas condições de disponibilidade de água no solo (com e sem irrigação), durante a estiagem de 25.9 a 12.10, em subparcelas de 30 mx 20 m. Durante o período de estiagem e em dias de alta demanda evaporativa atmosférica, a temperatura do dossel (medida com sensor infra-vermelho) foi sempre superior à do ar junto à cultura não irrigada, ocorrendo o contrário na cultura irrigada. A tempera-tura e o déficit de satempera-turação de vapor d'água do ar da camada limite também aumentaram sob déficit hídrico no solo, elevando a demanda evaporativa da atmosfera junto à cultura não irrigada. As alterações microme-teorológicas se acentuaram com a evolução do déficit hídrico e foram maiores nas horas mais quentes do dia e com a cultura menos desenvolvida. As condições micrometeorológicas seguiram as variações do balanço de energia da cultura.

Termos para indexação: Phaseolus vu/ga#s, deficiência hídrica, micrometeorologia, temperatura, umidade. WATER DEFICIT IN COMMON BEANS. IV. MICROMETEOROLOGICAL MODIFICATIONS ABSTRACT - Micrometeorologicai rnodifications were evaluated in corrrnon bean (Phaseolus vu/garis L.) cropa subject to varying condilions of soil-water availability, in an experiment conducted at Piracicaba, SP, Brazil, 220 42 south latitude and 576 m altitude. Common beans were sown in 30m x 20 m split-plots, on three dates (July 7, July 22, and August 4, 1983), each receiving two condilions ol soil water availability wilh conlinued irrigalion and wilh a period of water stress caused by an 18-day period without ram (Sept. 25 to Oct. 12). During the drought period, on days with high aftnospheric evaporative demand, the temperature of the canopy surface (measured by a remoto intrared sensor) was higher than air temperalure dose to the planta in the stressod crop, whilo the contrary occurred in the irTigaled one. Soil waler deticil increased the air temperature and the water vapor saluration defidit near the planta. Micrometeorological modiricalions were higher by the end ot the arought period and during the warmer tirnes ot the days. They also wore highor at lhe plots o? tho Ialest sowing date (loas developed planta). The micrometeorological conditions noar lhe planta were in agreement wilh lhe crop energy balance.

Index tenlis: Phaseo/us vulgar/a, waler dellcit, micrometeorology, temperature, humidily

INTRODUÇÃO

Todo o desenvolvimento e o desempenho produ-tivo de uma cultura é função de dois fatores funda-mentais: sua potencialidade genética e as condições do ambiente. Os fatores do meio são os que mais di-fidilmente o homem consegue controlar e que, pela sua grande variabilidade e multiplicidade de intera-ções, muito freqüentemente impõem estresses aos vegetais, tanto por deficiência como por excesso.

Aceito pan publicação em 15 de outubro de 1987. Parte da Tese de Doutorado do primeim autor. ESALQIUSP, novJ84.

2 Eng. - Agr., Dr., Fac, de Agron., UFRGS, Caixa Postal 776, CEP 90000 Porto Alegre, RS. Bolsista do CNPq. Eng. - Agr., M.Sc., Empresa Catarinense de Pesquisa Agropecuária (EMPASC), Caixa Postal 0-20, CEP 88000 Florianópolis, SC.

Eng. - Agr., Dr., ESALQIUSP, Piracicaba, SP.

Eng. - Agr., Dr., ESALQI'USP, Piracicaba, SP. Bolsista do CNPq.

A deficiência hídrica conduz a modificações no ambiente físico das culturas, modificações, estas, que envolvem desde o abaixamento do potencial da água e da condutividade hidráulica do solo até alterações em toda a termodinámica do sistema, como resultado de mudanças no próprio balanço energético. Sendo a evapotranspiração o processo que normalmente consome a maior parte da energia disponível em ecossistemas vegetados, sempre que este processo é afetado todo o estado energético do sistema fica al-terado.

Trabalhando no campo com sorgo irrigado, em experimento de verão, Van Bavel & Ehrler (1968) constataram que, mesmo em condições de ar quente e seco do meio-dia, a temperatura da folhagem este-ve, sempre, vários graus centígrados abaixo da do ar ambiente. Idso et aI. (1981), trabalhando com alfafa no campo, também verificaram que a temperatura das folhas bem supridas de água se manteve abaixo

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da temperatura do ar, aumentando esta diferença com o aumento do déficit de pressão de vapor do ar. Os autores associaram este comportamento à densi-dade de fluxo transpiratório, que é função do déficit de pressão de vapor do ar, a força motriz da trans-piração.

Por outro lado, inúmeros trabalhos têm demons-trado que, em culturas deficientes em água, a tem-peratura das folhas é superior à do ar, o que toma úteis as medidas de temperatura do dossel vegetativo para indicar o estado de estresse hídrico das plantas (Walker & Hatfield 1979).

Em trabalhos com feijoeiro, conduzidos no campo por Sakai et aI. (1987), em Campinas, Si', e em casa de vegetação por Santos & Santos (1987), em Pelo-tas, RS, também foram observadas temperaturas in-feriores nas folhas sem estresse e superiores com estresse hídrico, em relação à temperatura atmosfé-rica.

Partindo deste princípio, Idso et aI. (1977) esta-beleceram um modelo de estimativa de rendimento baseado no acúmulo do que denominaram graus-dia de estresse, que é a própria diferença de temperatura entre dossel e o ar, tomadas com sensores infra-vermelhos, ao meio-dia, e somada em alguma parte do ciclo. Este modelo, inicialmente utilizado em trigo

(T. durwn), no Arizona, foi estendido para outras

culturas e outros locais, com resultados positivos. Waiker & l{atfield (1979) testaram, o modelo, com sucesso, em feijoeiro, verificando alta correlação entre o rendimento da cultura e o acúmulo de graus-dia de estresse da floração à maturação, confirmando a importância deste período em termos de produção de grãos; a inclusão do período de emergência à flo-ração não afetou significativamente a correlação ob-tida para o período de pós-floração.

Na Colômbia, lCretchmer et aL (1980) utilizaram o sensoriamento com termômetro infra-vermelho para identificação de materiais genéticos de feijoeiro mais tolerantes à seca. A diferença de temperatura folha-ar, a resistência estomática e o potencial da água nas folhas estiveram altamente correlacionados, sugerindo que este critério pode ser usado como

ia-dicador do nível de estresse hídrico nas plantas.

No Brasil, Epiphanio (1982) utilizou, com êxito, a metodologia de acúmulo de graus-dia de estresse, a partir de sensoriamento com termômetro infra-ver-melho, obtendo boas estimativas de rendimento de milho.

Através do balanço de energia, Wiebelt & Hen-derson (1978) descreveram que o aumento da resis-tência à difusão de vapor na transpiração ocasiona Pcaq. agropec. bisa., Brasilia,, 24(7.769- 777, julho 1989.

elevação da temperatura das folhas, já que o fluxo de calor latente é reduzido e o fluxo de calor sensível é aumentado, sendo isto válido para toda a comunida-de. Também baseados no balanço de energia, em soja no campo, em Taquari. RS, Fontana et aI. (1987) constataram que o déficit de saturação do ar na

cai-Pira irrigada foi sempre inferior ao da cultura sob déficit hídrico, sendo que esta diferença foi de até

100010 nas horas mais quentes.

Com base nesta premissa, e considerando a im-portância da interação cultura-ambiente, especial-mente em termos de demanda evaporativa atmosfd-rica, este trabalho busca descrever e avaliar as alte-rações micrometeorológicas em culturas de feijão, em resposta à disponibilidade hídrica.

MATERIAL E MÉTODOS

O experimento foi conduzido na Escola Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz"/Universidade de São Paulo, au Piracicaba, SP, à latitude de 22042' Sul e altitude de 576 m, no ano de 1983, em condições de campo. O clima da região é Cwa, pela classificação de Koeppen, e o solo local foi classificado como Terra Roxa Estniturada. Consistiu de duas parcelas de feijoeiro com dimensões de 60 m x 30 m. correspondentes a dois tratamentos de disponibilidade hídri-ca: (1) - irrigado, sempre que o potencial matricial da água do solo a 0,15 m de profundidade atingisse -0,05 MPa; (D) - com deficiência hfdrica, sem irrigação, durante uma estiagem de 17 dias, a partir de 25 de setembro. Para o presente traba-Lo, foram utilizados apenas resultados referentes ao período de estiagem, no qual os tratamentos de disponibilidade hídri-es foram aplicados, desprezando-se o restante do período ex-perimental.

A cultivar utilizada foi Aroana 80, de hábito de cresci-mento indeterminado arbustivo, tipo II segundo a classifica-çáo do dAT. Dentro de cada parcela, a semeadura foi efe-tuada em três épocas (três subparcelas): 7.7; 22.7 e 4.8.83. Com isso, o período de diferenciação dos tratamentos de dis-ponibilidade hídrica coincidiu com o fmal de enchimento de grãos e maturação fisiológica, na primeira época; formação e desenvolvimento de vagens, na segunda época; formação de botões florais e floração, na terceira época. Pela limitação de equipamento, optou-se pela detenninação de parâmetros mi-crometeoroldgicos na segunda e terceira épocas de semeadu-ia, que se encontravam em estádios considerados mais críti-cos, durante o período de diferenciação dos tratamentos 1 e D. Detalhes da fenologia, do desenvolvimento da cultura e das condições do experimento foram apresentados por Ber-gamaschi etal. (1988a, b).

A semeadura foi feita manualmente, em sulcos espaçados de 0.5 m, procurando-se obter em tomo de 200.000 pIaui-tas/ha ap6s estabilizada a emergência, correspondendo a dez plantas por metro.

As determinações dos parâmetros micrometeorológicos foram efetuadas ao longo do período diurno, no centro das subparcelas, a intervalos de aproximadamente meia hora. Para análise das alterações micrometeorológicas decorrentes do déficit hídrico no solo, foram selecionados cinco dias de

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observações, todos eles com elevada demanda evaporativa atmosférica, buscando representar e evolução da diferencia-ção dos tratamentos 1 eI).

A temperatura da superfície do dossel vegetativo foi me-<lida com um termômetro infra-vermelho, modelo PRT 10, fabricado por Barnes Engeneering Co. Em cada horário, e an cada subparcela, foram feitas de oito a dez medidas, to-madas obliquamente (aproximadamente 450), à altura do observador, descrevendo um giro de 3600. Assim proceden-do, buscou-se medir a temperatura da superfície do dossel em todas as direções e com o menor efeito possível da superfície do solo.

A temperatura e o déficit de saturação de vapor d'água do ar junto às plantas foram determinados através de psicrôme-tro de pares termo-elétricos cobre-constantan, localizado na altura do topo da cultura, em microabrigo aberto de PVC branco, colocado à meia-distãncia entre a linha de plantas e o centro da entrelinha. Estes sensores faziam parte do equipa-mento utilizado na determinação do balanço de energia da cultura, cujas medidas foram feitas com potenciônletro de leitura direta, com resolução de 0,01 mV e mais um dígito estimado. Maiores detalhes deste equipamento foram descri-tas por Bergamaschi et aI. (1988b).

RESULTADOS E DISCUSSÃO

Na Fig. 1 pode-se observar que, para os dias 27 e 28 de setembro (fase inicial da estiagem), as curvas de temperatura do dossel, de temperatura e déficit de saturação do ar junto às plantas, estão muito próxi-mas ou, até, superpostas; destaca-se, apenas, a ter-ceira época com a temperatura do dossel superior à do ar. Esta diferença é perceptível para as horas mais quentes do dia (a partir das 11 horas) e se destaca mais nos resultados do dia 28,9 (Fig. 1 b).

Considerando que a estiagem foi iniciada em 25.9, portanto havendo grande quantidade de água disponível no solo para as plantas, em 27 e 28 de se-tembro, como demonstrado por l3ergamaschi et aI. (1988b), pode-se atribuir esta maior temperatura do dossel, na terceira época, a uma maior exposição e maior aquecimento da superfície do solo. Como

sa-lientaram Walker & Hatfield (1979), as medidas de temperatura do dossel, por sensoriamento remoto, são influenciadas por todos os materiais que estive-ram ao foco do sensor; dessa maneira, a temperatura da superfície do solo afetará essas medidas quando a cobertura for incompleta e esta superfície estiver se-ca, aquecendo-se mais intensamente. Com efeito, nos dias 27 e 28 de setembro o índice de área foliar nas parcelas da terceira época era de 1,25, inferior a da segunda época - 1,80 -, e a superfície do solo já estava seca, o que justifica a diferença. As deter-minações com sensor dirigido obliquamente à culta-ra, procurando minimizar a influência da tempera-

tara do solo, como descreveram Walker & Hatfield (1979), devem ter reduzido, mas não eliminado, este efeito, em face da menor cobertura do solo pelas plantas do terceiro plantio. Nas parcelas correspon-dentes à segunda época, este procedimento pode ter sido eficaz em função do maior desenvolvimento das plantas.

As diferenças da temperatura do dossel, observa-das na Fig. 1, são coerentes com os resultados dos balanços de energia do dia 28.9; neste, foi constatado que maior quantidade de energia foi destinada ao fluxo de evaporação na parcela da segunda época de semeadura (87% do saldo de radiação), em relação à terceira época (77% do saldo de radiação). Enquanto isto, a quantidade de energia utilizada, no aqueci-mento do ar (calor sensível) foi maior na parcela da terceira época de semeadura (17% do saldo de radia-ção) e menor na segunda época (7% do saldo de ra-diação) (l3ergamaschi et aI. 1988b).

Para o dia 30.9 (Fig. 2), com a inclusão dos dados obtidos nas parcelas irrigadas das segunda e terceira épocas de semeadura, as alterações micrometeoroló-gicas mostram-se mais evidentes, em especial a tem-peratura do dossel. As parcelas correspondentes ao tratamento 1 foram irrigadas no dia 29.9 e tiveram temperaturas mais baixas do que as parcelas não irri-gadas. Com a irrigação, além do melhor suprimento de água às plantas, as camadas superficiais do solo permitiram intensa evaporação, talvez limitada ape-nas pelo suprimento de energia direta do solo, con-forme observaram Black et aI- (1970). Por outro la-do, no tratamento D a superfície do solo já se en-contrava seca, restringindo parcialmente o processo de evapotranspiração e, portanto, o consumo de energia na forma de calor latente de evaporação. A exemplo dos dias 27 e 28 de setembro, no dia 30.9 a superfície do solo deve se aquecido mais na ter-ceira época de semeadura não irrigada, em relação à segundo época também não irrigada, pela maior quantidade de energia recebida, dada a menor co-bertura foliar, e por se encontrar seca. Conforme Wiebelt & Henderson (1978), a menor utilização do saldo de radiação como calor latente de evaporação causa uma maior conversão de energia para a forma de calor sensível, destinado ao aquecimento do sis-tema, causando temperaturas mais elevadas na su-perfície do dossel. Neste caso, pode-se deduzir que houve uma interação entre a disponibilidade hídrica e o fndice de área foliar, influenciando o aquecimento da superfície do solo e o ambiente imediatamente próximo a ela. Por outro lado, deve-se considerar que o índice de área foliar sofreu reduções pela defi- Pesq. agropec. bras,, Brasilia, 24(7):769-777, jtilho 1989,

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FIG. 1. Temperatura do dossel, temperatura e déficit de saturação (DS) do ar junto às plantas de feijoeiro. cultivar Aroana 80, em duas êpocas da semeadura, nos dias 27.9 (a) e 28.9(b). Piracicaba, 1983.

Pcsq. agopec. bras., Brasilia, 24(7):769-777,julho 1989.

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FIO. 2. Temperatura do dossel, temperatura e déficit de saturaçào (DS) do ar junto às plantas de feijoeiro, cultivar Aroana 80, em duas épocas de semeadura, irrigado (1) e com suspensâo da irrigaçào (0), em 30.9. Piracicaba, 1983.

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ciência bídrica (Bergamaschi et ai. 1988a), o que demonstra relação recíproca entre a planta e o am-biente físico que a cerca.

A dependência das condições micrometeorolégi-s ao balanço de energia também pode jumicrometeorolégi-stificar a maior temperatura do ar e o maior déficit de satura-ção de vapor d'água junto à cultura na parcela não irrigada, em relação à irrigada da segunda época de semeadura (Fig. 2b). Essas diferenças se evidencia-ram mais no período da tarde, o que parece relacio-nar-se ao balanço energético.

Os resultados relativos aos dias 4 e 9.10 (Fig. 3e 4) seguem as tendências do dia 30.9, porém com di-ferenças mais acentuadas, o que deve ser atribuído à intensificação da deficiência hídrica do solo e aos seus efeitos sobre termodinámica da cultura. Quanto à temperatura do dossel, os resultados são análogos, e as causas devem ser basicamente as mesmas apon-tadas na análise dos resultados do dia 30.9. Os efei-tos da deficiência hídrica nas condições microme-teorológicas foram mais evidentes, o que pode ser devido a uma interação disponibilidade hídrica x ín-dice de área foliar mais intensa. Evidentemente, o déficit hídrico nas folhas e os movimentos foliares de paraheliotropismo, reduzindo perdas de água por transpiração e permitindo maior incidência de radia-ção sobre a superfície do solo, devem ter contribuído para maiores temperaturas nas parcelas não irriga-das. Estes resultados concordam com Dubetz (1969), Walker & Hatfield (1979), Kretchmer et aI. (1980) e Lawn (1982).

As oscilações de alguns pontos nas curvas de temperatura do dossel do dia 9.10 (Fig. 4a) decorrem da nebulosidade momentânea durante as observa-ções, o que, segundo alguns autores citados por Epi-phanio (1982), é fator que dificulta as medidas e de-ve ser considerado na interpretação dos resultados.

As alterações de temperatura e de déficit de sa-turação do ar junto à cultura se intensificaram nos dias 4 e 9.10 (Fig. 3b e 4b), em relação aos dias an-teriores. No dia 9.10 as alterações foram ainda mais acentuadas, e isto pode ser atribuído à evolução da deficiência hídrica e à maior diferença de índice de área foliar entre a parcela irrigada e não irrigada, em cuja data se utilizou a terceira época (mais influen-ciada no desenvolvimento das plantas). A 9.10,0 ín-dice de área foliar na parcela irrigada da terceira época era de 2,0, enquanto no tratamento não irriga-do era de 1,3.

Nos resultados dos dias 4.10 e 9,10, pode-se ve- Pesq. agxopec. bras,, Brasília, 24(7):769-777,julho 1989.

rificar que, nas parcelas em déficit hídrico, a tempe-ratura do dossel foi superior à tempetempe-ratura do ar adjacente a ele. Porém, nas parcelas irrigadas, a su-perfície da cultura se manteve mais fria do que o ar, concordando com resultados de Van Bavel & Ehrler (1968), Idso et aI. (1981), Sakai et aI. (1987) e San-tos & SanSan-tos (1987).

As alterações micrometeorológicas ocasionadas pelo déficit hídrico no solo são coerentes com a aná-lise dos balanços de energia (Bergamaschi et ai. 1988b), e bem mais evidentes em 9.10. Neste dia, uma maior limitação ao processo de evapotranspira-ção ocasionou maior quantidade de calor destinado ao aquecimento do sistema planta-solo, nas parcelas não irrigadas, estando de acordo com resultados de Fontana et ai. (1987). Em 9.10, 35% do saldo de ra-diação foram utilizados no aquecimento do ar e do solo na parcela sob déficit hídrico, contra apenas 1% na parcela irrigada da terceira época.

Convém ressaltar que nos tratamentos cuja co-bertura do solo era incompleta, a temperatura do dossel resultou de uma integração das temperaturas das superfícies das plantas e do solo. Nas parcelas sob déficit hídrico, a influência da temperatura da superfície do solo deve ter sido maior, por estar mais seca e pela maior quantidade de energia destinada ao aquecimento do solo.

As alterações observadas no déficit de vapor d'á-gua do ar permitem inferir que, além da deficiência de umidade no solo, as parcelas não irrigadas tam-bém foram submetidas a uma maior demanda eva-porativa da atmosfera, imposta pelas alterações mi-crometeorológicas junto às plantas, em decorrência de modificações no balanço energético. A interação destes dois fatores (disponibilidade de água no solo e demanda evaporativa) é ponto fundamental em ter-mos de respostas da cultura ao fator água. Além disso, considerando que o déficit de saturação de va-por d'água do ar foi elevado e a temperatura das fo-ffias foi ainda maior do que a do ambiente externo, o gradiente de vapor folha-ar, que é a força motriz da transpiração, foi muito acentuado durante as horas mais quentes. Com isso, o fluxo de água através da planta teria de ser intenso, a fim de suprir a demanda imposta pelo gradiente de pressão de vapor folha-ar. Entretanto, como o suprimento de água pelo solo era limitado, em decorrência do seu baixo potencial ma-tricial, houve déficit hídrico nas plantas, com altera-ções no seu desenvolvimento, nas trocas de vapor e energia, bem como nas condições micrometeorológi-cas.

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FIG. 3. Temperatura do dossel, temperatura e déficit de saturaçao (OS) do ar junto &s plantas de feijoeiro, cultivar Aroana SC em duas épocas de semeadura. irrigado (1) e com suspensão da Inigaçâo (D), em 4.10. Piracicaba, 1983.

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FIO. 4. Temperatura do dossel, températura e déficit da saturação (DS) doar junto âs plantas de feijoeiro, cuilvar Aroana 80, em duas épocas de semeadura, irrigado (1) 0 com suspensão da lnlgaçâo (D), em 9.10. Piracicaba, 1983.

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CONCLUSÕES

1. Durante um período de estiagem, houve au-mento da temperatura do dossel, como decorrência do déficit hídrico no solo e da redução do índice de área foliar. Em dias de alta demanda evaporativa da atmosfera, e nas horas mais quentes, a temperatura da superfície da cultura sob déficit hídrico foi supe-rior à do ar da camada limite, enquanto nas parcelas irrigadas ocorreu o inverso.

2. A temperatura e o déficit da saturação de va-por d'5gua do ar junto às plantas também aumenta-mm em decorrência do déficit hídrico no solo, por-tanto, aumentando a demanda evaporativa da at-mosfera junto à cultura não brigada.

3. As alterações micrometeorológicas acentua-ram-se à medida em que evoluiu o déficit hídrico no solo, e foram mais evidentes nas horas mais quentes do dia. As alterações ocorreram antes e mais acen-tuadan-jente na cultura menos desenvolvida. As ten-dências observadas nos parâmetros analisados de-monstraram coerência com os balanços de energia da cultura, também evidenciando relação recíproca en-tre a planta e o ambiente físico que a cerca.

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Referências

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