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Avaliação da habilidade de organização temporal para o estudo: o caso de estudantes do curso de Engenharia Civil da UFRN

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(1)

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE CENTRO DE EDUCAÇÃO

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO

Magda Maria Pinheiro de Melo

AVALIAÇÃO DA HABILIDADE DE ORGANIZAÇÃO TEMPORAL PARA O ESTUDO: O CASO DE ESTUDANTES DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA

UFRN

Natal 2020

(2)

Magda Maria Pinheiro de Melo

AVALIAÇÃO DA HABILIDADE DE ORGANIZAÇÃO TEMPORAL PARA O ESTUDO: O CASO DE ESTUDANTES DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA

UFRN

Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Educação (PPGEd) da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Educação.

ORIENTADOR: Prof. Dr. Isauro Beltrán Núñez

Natal 2020

(3)

Magda Maria Pinheiro de Melo

AVALIAÇÃO DA HABILIDADE DE ORGANIZAÇÃO TEMPORAL PARA O ESTUDO: O CASO DE ESTUDANTES DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA

UFRN

Conceito final

Aprovado em 10 de julho de 2020

BANCA EXAMINADORA

_____________________________________________________________________ Orientador – Prof. Dr. Isauro Béltran Núñez

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

_____________________________________________________________________ Examinador Interno – Profa. Dra. Betania Leite Ramalho

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

______________________________________________________________________ Examinador Interno – Profa. Dra. Izabel Augusta Hazin Pires

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

____________________________________________________________________ Examinador Externo – Profa. Dra. Edênia Maria Ribeiro do Amaral

Universidade Federal Rural de Pernambuco

______________________________________________________________________ Examinador Externo – Prof. Dr. Roberto Valdés Puentes

Universidade Federal de Uberlândia

_____________________________________________________________________ Examinador Interno Suplente – Profa. Dra. Iloneide Carlos de Oliveira Ramos

Universidade Federal do Rio Grande do Norte

____________________________________________________________

Examinador Externo Suplente – Profa. Dra. Gloria Anisia Fariñas León

(4)

Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas - SISBI

Catalogação de Publicação na Fonte. UFRN - Biblioteca Setorial Moacyr de Góes - CE

Elaborado por Rita de Cássia Pereira de Araújo - CRB-15/804 CDU 37.091.322.7 RN/UF/BS-CE Moacyr de Góes

1. Habilidade de estudo - Tese. 2. Organização do tempo - Tese. 3. Perspectiva Histórico-Cultural - Tese. I. Núñez, Isauro Beltrán. II. Título.

Melo, Magda Maria Pinheiro de.

Avaliação da habilidade de organização temporal para o estudo: o caso de estudantes do curso de Engenharia Civil da UFRN / Magda Maria Pinheiro de Melo. - Natal, 2020.

198 f.: il.

Tese (Doutorado) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte, Centro de Educação, Programa de Pós-Graduação em Educação.

(5)

Dedico este trabalho a minha família. A meus pais Heitor e Auri, por me ensinarem o valor da educação, ao meu esposo Olavo Júnior e aos meus filhos Bia e Léo por fazerem parte da minha vida.

(6)

Os dias talvez sejam iguais para um relógio, mas não para um homem” (Marcel Proust).

(7)

AGRADECIMENTOS

Uma tese de doutorado nunca é realizada apenas pelo autor, visto serem muitas pessoas que contribuem nessa construção, e, dessa forma, são muitos os agradecimentos. É muito bom poder expressar gratidão a todas as pessoas que, de alguma forma, auxiliaram na realização desta pesquisa.

Começo agradecendo a Deus, por me dar saúde e discernimento, permitindo mais uma conquista em minha vida, a minha família, a meus pais Heitor (in memorian) e Auri, como reconhecimento de todo amor e esforço por eles empreendidos para a minha formação, ao meu esposo Olavo Júnior pelo companheirismo, incentivo e ajuda na realização deste trabalho, e aos meus filhos Beatriz e Leonardo pelo carinho e pela compreensão nos dias em que não pude estar junto deles.

Minha gratidão se estende ao Professor Dr. Isauro Béltran Núñez, amigo e orientador, que sempre me incentivou e acreditou no meu trabalho, e aos professores Dr. Roberto Valdés Puentes, Dra. Edênia Maria Ribeiro do Amaral, Dra. Gloria Anisia Fariñas León, Dra. Betania Leite Ramalho, Dra. Izabel Augusta Hazin Pires e Dra. Iloneide Carlos de Oliveira Ramos, componentes da banca, por aceitarem o convite, dedicarem um tempo de suas vidas à análise deste trabalho e contribuírem efetivamente para a sua construção.

Não posso deixar de externar minha gratidão a todos os meus amigos da Comperve, em especial, a Beatriz, Auniebson, Sandra, Willame, Iloneide e Raquel pela efetiva contribuição na elaboração desta pesquisa. Além de todos os outros amigos que, de uma forma ou de outra, me auxiliaram nesta caminhada.

Aproveito este momento para agradecer aos professores e técnicos administrativos do Programa de Pós-Graduação em Educação pela atenção dispensada na convivência do dia a dia. Finalizo agradecendo à Universidade Federal do Rio Grande do Norte, minha segunda casa desde o tempo do curso de graduação, e, em especial, aos professores e alunos do Departamento de Engenharia Civil pelo apoio dado na coleta das informações.

(8)

RESUMO

Na sociedade contemporânea, os indivíduos devem aprender a tomar decisões acertadas em pequenos intervalos de tempo, em virtude das mudanças constantes nas formas de socialização da informação e da busca pelo conhecimento contínuo e múltiplo na vida profissional. Dessa forma, as universidades enfrentam vários desafios na formação profissional dos seus discentes, sendo um deles o desenvolvimento da habilidade para organizar o tempo de estudo, a qual é primordial, pois, quando os discentes não fazem uso racional do tempo, vários problemas podem ser gerados, principalmente, quanto ao desempenho acadêmico e à saúde. O presente trabalho, fundamentando-se em autores da perspectiva Histórico-Cultural, teve por objetivo geral investigar a avaliação que os estudantes do curso de Engenharia Civil da UFRN fazem sobre a habilidade para organizar o tempo de estudo no curso universitário. A metodologia empregada combinou as dimensões quantitativa e qualitativa da pesquisa educacional, atendendo à natureza do objeto de estudo e ao objetivo da pesquisa. Como instrumento de pesquisa, foi elaborado e validado um questionário, aplicado a 261 estudantes do curso escolhido, que contém perguntas fechadas e abertas bem como enunciados para serem valorados segundo a escala Likert. Os dados referentes às questões abertas e fechadas foram analisados por meio da estatística descritiva, da análise léxica e da análise de conteúdo, sendo realizada ainda a triangulação dos resultados dessas duas análises, permitindo inferir as representações em estudo. Já os enunciados, avaliados segundo a escala Likert, foram analisados por meio dos valores das médias e dos desvios-padrão, da análise de cluster e da análise fatorial. A junção desses resultados permitiu obter uma visão mais integral da avaliação feita pelos estudantes relativa à habilidade de organizar o tempo para o estudo. As representações dos estudantes sobre o que é organizar o tempo de estudo no curso universitário estão relacionadas à forma como eles planejam as atividades de estudo em um período de tempo. Os resultados das análises léxica e de conteúdo evidenciaram que elementos relativos à flexibilização do planejamento por meio da antecipação de problemas e ao controle dos resultados obtidos foram pouco citados ou estão ausentes das respostas dos participantes. Os enunciados com maior nível de concordância entre os discentes estão relacionados aos motivos que os levam a organizar o seu tempo para estudar, estando estes em estreita ligação com os aspectos referentes à dimensão indutora de sua personalidade (sentimentos, emoções, sentidos, etc.). Dessa forma, percebe-se que os estudantes priorizam o planejamento de sentido da organização temporal em detrimento do controle do processo e dos resultados como também do prognóstico provável (flexibilização do planejamento por meio da antecipação de problemas), evidenciando que essa habilidade parece não ter sido adequadamente formada, uma vez que todos esses elementos a constituem. É importante compreender a avaliação dos estudantes a fim de a instituição encontrar formas que possibilitem aos discentes aprender a habilidade de organização do tempo de estudo, favorecendo, assim, a melhoria do seu desempenho acadêmico e da sua saúde, bem como uma adequada formação profissional.

Palavras chave: Habilidade de estudo. Organização do tempo. Perspectiva Histórico-Cultural.

(9)

ABSTRACT

In contemporary society, individuals must learn to make the right decisions in small time intervals, due to the constant changes in the forms of socialization of information and the search for continuous and multiple knowledge in professional life. Thus, universities faces several challenges in the professional training of their students, one of which is the development of the ability to organize study time, which is essential, because when students do not make rational use of time, several problems can be generated mainly in terms of academic performance and health. The present work, based on authors from the Historical-Cultural perspective, had the general objective of investigate the evaluation that students of the Civil Engineering course at UFRN make about the ability to organize study time in the university course. The methodology used combined the quantitative and qualitative dimensions of educational research, considering the nature of the object of study and the objective of the research. As a research instrument, a questionnaire was developed and validated, applied to 261 students of the chosen course, which contains closed and open questions, as well as statements to be valued according to the Likert scale. Data on open and closed questions were analyzed using descriptive statistics, lexical analysis and content analysis, and the results of these two analyzes were also triangulated, allowing inferences of the representations under study. The statements, assessed according to the Likert scale, were analyzed using the values of average and standard deviations, Custer analysis and factor analysis. The combination of these results allowed to obtain a more comprehensive view of the evaluation made by the students regarding the ability to organize the time for study. Students' representations of what it means to organize study time in the university course are related to the way they plan study activities over a period of time. The results of the lexical and content analyzes showed that elements related to planning flexibility through the anticipation of problems and the control of the results obtained were seldom mentioned or are absent from the participants' answers. The statements with the highest level of agreement among the students are related to the reasons that lead them to organize their time to study, being closely connected with the aspects related to the inductive dimension of their personality (feelings, emotions, senses, etc.). Thus, it is noticed that students prioritize the planning of the sense of temporal organization over the control of the process and results as well as the probable prognosis (flexibility of planning through anticipation of problems), showing that this skill does not seem to have been properly formed, since all these elements constitute it. It is important to understand the students’ evaluation with the intention that the institution finds ways that enable students to learn the ability to organize their study time, thus favoring the improvement of their academic performance and their health, as well as an adequate professional training.

Keywords: Study ability. Organization of time. Cultural Historical Perspective. Engineering

(10)

LISTA DE ILUSTRAÇÕES

Figura 2.1 Estrutura dos subdomínios em relação aos momentos de orientação,

execução e controle... 63

Figura 3.1 Estrutura da metodologia utilizada na pesquisa... 73

Figura 3.2 Esquema de triangulação dos resultados da Análise Léxica e de Conteúdo... 91

Figura 4.1 Nuvem de Palavras – O que é organizar, na opinião dos estudantes, o tempo de estudo no curso universitário... 113

Figura 4.2 Árvore de similitude para a reposta à pergunta para você, o que é organizar o tempo de estudo no curso universitário... 116

Figura 4.3 Núcleo das representações dos estudantes sobre o que é organizar o tempo de estudo no curso universitário... 123

Figura 4.4 Gráfico dos valores das médias para cada enunciado... 138

Figura 4.5 Dendograma com os agrupamentos dos enunciados... 151

Quadro 2.1 Estrutura da habilidade de organização temporal para o estudo... 61

Quadro 3.1 Plano do questionário... 76

Quadro 3.2 Estrutura de apresentação e análise dos resultados da pesquisa... 83

Quadro 3.3 Fases da Análise de Conteúdo... 88

Quadro 4.1 Palavras mais citadas de acordo com a classe gramatical... 114

Quadro 4.2 Resultados das análises das pontuações atribuídas aos enunciados pelos estudantes... 158

(11)

LISTA DE TABELAS

Tabela 4.1 Perfil social dos estudantes... 102

Tabela 4.2 Perfil econômico dos estudantes... 104

Tabela 4.3 Perfil de ingresso no curso... 106

Tabela 4.4 Perfil referente às habilidades de organização temporal dos estudantes.. 108

Tabela 4.5 Quantidade e percentual de palavras por classe gramatical... 114

Tabela 4.6 Pares de palavras de maiores coocorrências na Análise de Similitude.... 117

Tabela 4.7 Categorias relacionadas ao que é organizar o tempo de estudo no curso universitário, na opinião dos estudantes... 119

Tabela 4.8 Frequência e percentagem das categorias empíricas relacionadas aos fatores associados à facilidade de organizar o tempo de estudo no curso universitário... 125

Tabela 4.9 Frequência e percentagem das categorias por ordem de citação constantes nas respostas dos estudantes... 128

Tabela 4.10 Frequência e percentagem das categorias relacionadas às justificativas de escolha do fator 1 como mais importante... 130

Tabela 4.11 Valores de média e de desvio padrão de todos os enunciados... 138

Tabela 4.12 Média e desvio padrão dos enunciados referentes ao subdomínio 1 – Planejamento de sentido da organização do tempo para estudar... 141

Tabela 4.13 Média e desvio padrão dos enunciados relativos ao subdomínio 2 – Controle das condições de planejamento do tempo para estudar... 143

Tabela 4.14 Média e desvio padrão dos enunciados relativos ao subdomínio 3 – Prognóstico provável da organização do tempo de estudo... 145

Tabela 4.15 Média e desvio padrão dos enunciados relativos ao subdomínio 4 – Controle dos resultados da organização do tempo para estudar... 147

Tabela 4.16 Médias e desvios-padrão dos enunciados e dos grupos formados... 151

Tabela 4.17 Resultados da Análise Fatorial dos enunciados... 153

Tabela 4.18 Enunciados e cargas fatoriais integrantes do Fator 1... 154

Tabela 4.19 Enunciados e cargas fatoriais integrantes do Fator 2... 155

Tabela 4.20 Enunciados e cargas fatoriais integrantes do Fator 3... 156

(12)

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 14

1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA ... 27

1.2 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO ... 28

2 HABILIDADE DE ORGANIZAÇÃO DO TEMPO DE ESTUDO .. 29

2.1 O TEMPO NA EXISTÊNCIA HUMANA ... 29

2.1.1. O tempo na atividade humana ... 30

2.1.2 Características e tipologia do tempo ... 32

2.2 HABILIDADES PARA O ESTUDO ... 38

2.2.1 A compreensão de habilidade na pesquisa ... 38

2.2.1.1 Personalidade e temporalidade ... 38

2.2.1.2 Consciência e temporalidade ... 43

2.2.1.3 Atividade e temporalidade. A atividade de estudo ... 45

2.2.1.4 Habilidade como um tipo de atividade da personalidade. As habilidades para o estudo ... 49

2.3 HABILIDADE DE ORGANIZAÇÃO DO TEMPO DE ESTUDO ... 56

2.3.1 A estrutura da habilidade de organização do tempo de estudo no curso universitário ... 61

3 METODOLOGIA ... 71

3.1 INSTRUMENTO UTILIZADO PARA A COLETA DE DADOS ... 74

3.1.1 O questionário e sua construção ... 74

3.1.2 Processo de validação do questionário ... 78

3.1.2.1 Validade ... 78

3.1.2.2 Confiabilidade ... 80

3.1.3 Forma e contexto da aplicação ... 81

3.2 ORGANIZAÇÃO, TRATAMENTO E ANÁLISE DOS DADOS ... 82

3.2.1 Análise do perfil sociodemográfico e caracterização da organização do tempo de estudo ... 83

3.2.2 Análises das representações dos estudantes sobre o que é organizar o tempo de estudo ... 84 3.2.2.1 Análise Léxica ... 84 3.2.2.1.1 Nuvem de palavras ... 86 3.2.2.1.2 Análise de similitude ... 86 3.2.2.2 Análise de Conteúdo ... 87 3.2.2.3 Triangulação de informações ... 91

(13)

3.2.3 Análises da avaliação dos estudantes sobre sua habilidade para organizar o

tempo de estudo ... 92

3.2.3.1 Média e Desvio Padrão ... 92

3.2.3.2 Análise de cluster ... 93

3.2.3.3 Análise Fatorial ... 95

4 APRESENTAÇÃO E ANÁLISES DOS RESULTADOS ... 98

4.1 O CURSO DE ENGENHARIA CIVIL DA UFRN ... 99

4.2 PERFIL SOCIODEMOGRÁFICO E CARACTERIZAÇÃO DA

ORGANIZAÇÃO TEMPORAL PARA O ESTUDO DOS

ALUNOS DO CURSO DE ENGENHARIA CIVIL ... 101

4.2.1 Perfil sociodemográfico dos alunos ... 101

4.2.1.1 Perfil Social ... 101

4.2.1.2 Perfil Econômico ... 104

4.2.1.3 Perfil de Ingresso no Curso ... 106

4.2.2 Caracterização dos estudantes sobre as suas habilidades de

organização temporal para estudar ... 107

4.3 REPRESENTAÇÕES SOBRE A ORGANIZAÇÃO TEMPORAL

PARA O ESTUDO E FATORES QUE FACILITAM ESSA

ORGANIZAÇÃO: O CASO DOS ESTUDANTES DE

ENGENHARIA CIVIL ... 112

4.3.1 O que é organizar o tempo de estudo de acordo com as

representações dos estudantes ... 112

4.3.1.1 Análise Lexical ... 113

4.3.1.2 Análise de Conteúdo ... 119

4.3.1.3 Triangulação dos resultados das análises do léxico e de conteúdo

... 122

4.3.2 Fatores que, na opinião dos estudantes, facilitam a organização do

tempo de estudo no curso universitário ... 124

4.4 AVALIAÇÃO SOBRE A HABILIDADE DE ORGANIZAÇÃO DO

TEMPO DE ESTUDO: O CASO DOS ALUNOS DE

ENGENHARIA CIVIL ... 136

4.4.1 Análise geral e por subdomínio das médias e dos desvios-padrão

das pontuações atribuídas aos enunciados ... 137

4.4.1.1 Análise geral ... 137

4.4.1.2 Análise por subdomínio ... 140

4.4.2 Análise de cluster (ou de agrupamentos) ... 150

(14)

4.4.4 Resultados das análises dos enunciados ... 157

5 CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 161

REFERÊNCIAS ... 167

ANEXO A - PLANO DE VALIDAÇÃO DOS ENUNCIADOS DO

QUESTIONÁRIO ... 178

ANEXO B – ENUNCIADOS MODIFICADOS APÓS ANÁLISE DE

EXPERTOS ... 189

ANEXO C – QUESTIONÁRIO APLICADO ... 191

ANEXO D – TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E

(15)

1 INTRODUÇÃO

As universidades enfrentam vários desafios na formação profissional dos seus discentes. Um deles se relaciona ao fato de a sociedade atual ser caracterizada pelas profundas mudanças nas formas de socialização da informação e na busca pelo conhecimento contínuo e múltiplo. Os conhecimentos estão em constante mudança, e alguns deles caducam rapidamente, exigindo que as instituições de nível superior formem profissionais que desenvolvam a aprendizagem de forma autônoma e autorregulada, para que possam se manter atualizados ao longo de suas carreiras profissionais.

Como destaca Cabrera (2009), o conhecimento pertinente em um currículo demanda atingir o outro lado da moeda, ou seja, aperfeiçoar o processo de aprendizagem relativo a esse tipo de conhecimento, no qual o aprender a aprender é constante. Uma aprendizagem autônoma está fundamentada na concepção do estudante enquanto sujeito, além de ativo e fundamental do processo de aprendizagem, como fonte da atividade e de autotransformação.

O estudo, como qualquer uma das atividades humanas, necessita de condições apropriadas para que seja realizado, e essas condições não devem ser pensadas somente como cognitivas, materiais ou ambientais, mas também, como psicológicas, afetivas e vivenciais, as quais envolvem as emoções, os sentimentos, as motivações e as necessidades.

O desenvolvimento de habilidades para estudar, e, dentre elas, a habilidade para organizar o tempo de estudo, deve ser incorporado na formação dos estudantes universitários. Essas habilidades possibilitam ao discente desenvolver suas próprias estratégias de estudo e ter controle sobre esse processo em função das atividades propostas nas disciplinas cursadas. Do contrário, quando o estudante não faz uso racional do seu tempo, ou seja, não planeja, organiza e controla seu tempo de vida (que inclui tempo de estudo, de trabalho, de lazer, de realização de tarefas domésticas, de repouso, de alimentação, entre outros), inicia-se um círculo vicioso, no qual o não cumprimento das tarefas propostas gera tensão e ansiedade, as quais, por sua vez, interferem nas atividades de estudo, proporcionando baixos rendimentos acadêmicos o que, posteriormente, influenciam na desmotivação para estudar (VIÑAS, 1991).

Quando os estudantes têm consciência do tempo estimado para estudar, o autocontrole formado, que possibilita o rearranjo da situação sob novas perspectivas, reduz ou neutraliza a ação estressora, ou seja, eles podem se preparar para os eventos, buscar ajuda, ajustar os planos às novas condições, proporcionando, dessa forma, a redução do estresse. Sendo assim, o tempo é considerado como uma maneira de gerenciar ou reduzir o estresse. O tempo perdido traz

(16)

inúmeras consequências como, por exemplo, a redução do potencial do estudante e a desorganização de sua atividade de estudo. Desse modo, percebe-se que a organização do tempo é um fator individual significativo (BOLOTOVA, 2006).

É importante ressaltar que, nos dias atuais, o mundo passa por mudanças nas formas de socialização em virtude da pandemia provocada pelo vírus causador da Covid-19, a qual exige, como medida de contenção da doença, o isolamento social. Em razão dessa pandemia, as universidades estão buscando formas de ensino que permitam a continuidade da formação de seus alunos. Mesmo após o término dessa pandemia, devido às questões sanitárias, as aulas presenciais não poderão acontecer da mesma maneira como ocorriam antes dela. Tentando minimizar ou resolver o problema, as universidades estão adotando o ensino a distância, o ensino remoto e o ensino híbrido, este último somente será utilizado após a liberação da quarentena pelas autoridades de saúde. Essas mudanças alteram as relações espaço-tempo com as quais os estudantes estão acostumados.

Nesse contexto, é ainda mais importante que o discente organize seu tempo de estudo de forma autônoma, uma vez que o ensino remoto, a distância ou o híbrido exigem, de maneira mais intensa, o planejamento e o controle das ações de estudo para a efetiva realização da atividade de estudo. O não planejamento, de forma flexível, dos objetivos a serem alcançados e do tempo de vida do estudante poderão dificultar ou, até mesmo, impedir a assimilação dos conteúdos necessários a sua formação, provocando, dessa maneira, repetência e evasão.

A existência humana, segundo Fariñas (2004), não tem um curso mecânico, sendo necessário que o indivíduo tenha capacidade para perceber os momentos de avanço, de retrocesso e de percalço, e dar um rumo a sua viagem para que possa tomar as rédeas de sua vida e conseguir viver de maneira sã. Para ela, é necessário acoplar o tempo pessoal aos outros tempos. A autora destaca ainda que há vários estilos de planejamento pessoal, que vão desde pessoas que fazem o controle estrito do tempo até as que planejam de forma mais relaxada e aberta.

Uma das características essenciais do lado dinâmico da personalidade de um indivíduo é sua capacidade de estabelecer metas, distribuindo-as no tempo e definindo seus objetivos de vida. Segundo Bolotova (2006), é importante para o estudante avaliar uma nova situação e visualizá-la não só no momento presente, mas também numa perspectiva futura, estabelecendo metas viáveis para sua concretização, o que proporciona o desenvolvimento de sua personalidade. Para essa autora, o fator temporal atua como um começo na formação de um sistema unificado para a construção de vários modelos de personalidade.

(17)

Sendo assim, percebe-se que a habilidade de organização temporal, além de ser um tipo de atividade da personalidade, é também um indicador do seu desenvolvimento como ser humano. Bolotova (2006) ainda destaca que os processos de desenvolvimento, formação e socialização do indivíduo ao longo de sua vida são determinados pela sua implementação no tempo, ou seja, sua percepção como sujeito de vida no passado, presente e futuro.

Analisando os estudos sobre organização temporal, embasados em diferentes perspectivas epistemológicas e metodológicas, constata-se que a questão do tempo de estudo tem sido investigada como habilidade (considerando essencialmente o aspecto cognitivo, ou seja, realização de uma sequência de ações), como hábito (aspecto cognitivo, ou seja, automatização operacional) e como fator motivacional (relacionado com o aspecto afetivo). No entanto, essas visões afastam os aspectos da temporalidade da hierarquia de valores do sujeito e também da personalidade.

Os estudos, em sua maioria, não analisam a organização temporal para o estudo sob uma visão mais integral, como fator de desenvolvimento da personalidade do estudante, relacionando os aspectos cognitivos com os afetivos e, ainda, considerando as questões vivenciais dos discentes.

Conforme demonstrado em diversas pesquisas (ALMEIDA, 2007; SOARES; ALMEIDA; GUISANDE, 2011; SOARES; PINHEIRO; CANAVARRO, 2015), a adaptação do estudante ao Ensino Superior é afetada por diversos fatores, e, entre eles, estão os relativos às habilidades de estudo, as quais incorporam a organização do tempo. Entretanto, na trajetória universitária, é necessário que o estudante atue ativamente, como também que a habilidade para organizar seu tempo de estudo e gerir sua própria aprendizagem esteja formada, de modo a contribuir para uma autonomia crescente, e ainda que disponha de condições intelectuais, sociais e culturais que favoreçam um aprendizado contínuo ao longo de toda sua vida profissional. Nesse contexto, compreender como o estudante avalia sua habilidade de organização temporal permitirá a detecção das fragilidades apresentadas por ele na estrutura dessa habilidade, o que poderá proporcionar melhoria da formação dessa habilidade durante a trajetória acadêmica, a qual é indispensável para o bom desempenho de sua futura profissão.

A educação contemporânea é marcada por diversas dificuldades de aprendizagem causadas pelas diferenças individuais apresentadas pelos estudantes. Por esses motivos e pela necessidade de uma formação autônoma e diversificada, ocasionada pelo fluxo contínuo das informações, é necessário que o estudante adquira conhecimentos não só relacionados à formação específica, mas também às habilidades essenciais para o desenvolvimento de sua personalidade, e, entre elas, a de organização temporal.

(18)

Nesse sentido, visando entender a avaliação que o estudante faz sobre sua habilidade de organização do tempo de estudo, é necessário, inicialmente, conhecer quais as representações que os estudantes têm sobre o que é organizar o tempo de estudo em um curso universitário e quais os fatores que, na opinião deles, facilitam essa organização.

Ter consciência das dificuldades para organizar o tempo de estudo, revelando os fatores contribuintes desse fenômeno, poderá propiciar aos estudantes a superação das deficiências e dar um salto qualitativo, buscando aprender como organizar seu tempo, que é uma habilidade fundamental para o bom desempenho de sua atividade profissional, já que o engenheiro, em seu cotidiano profissional, desenvolve várias atividades que, em muitas situações, ocorrem simultaneamente.

Por outro lado, conhecer como os estudantes avaliam o desenvolvimento de sua habilidade para organizar o tempo torna-se uma fermenta de extrema importância para que os professores dos cursos de engenharia, particularmente os de Engenharia Civil, possam contribuir para a superação desse problema, buscando a aprendizagem autônoma e autorregulada de seus alunos, possibilitando, dessa forma, uma reengenharia do ensino que contribua para o desenvolvimento da personalidade do estudante por meio de uma didática desenvolvimentista.

Para os cursos de engenharia da UFRN, esse é um estudo inédito, já que, até o momento, não foi desenvolvida nenhuma pesquisa que objetivasse conhecer como o estudante avalia o desenvolvimento de sua habilidade de organização temporal. Vale ressaltar que este estudo está vinculado a um projeto de pesquisa do Núcleo Permanente de Concursos da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, intitulado Análise dos Processos de Avaliação Realizados Pela Comperve, e à linha de pesquisa Educação, Representação e Formação Docente do Programa de Pós-Graduação em Educação dessa instituição.

Como contribuição teórica, esta pesquisa auxiliará na compreensão em relação à habilidade de organização do tempo de estudo dos alunos universitários em geral, e, em particular, de estudantes de cursos de engenharia civil.

Como contribuição prática, esta pesquisa permitirá compreender qual é a avaliação que os estudantes do curso de Engenharia Civil da UFRN fazem sobre a habilidade para organização do tempo de estudo, podendo propiciar, dessa forma, a melhoria das práticas pedagógicas da educação superior em engenharia. O estudo poderá servir como referência para o desenvolvimento de novas formas de pensar e agir por parte de discentes e docentes da engenharia. Poderá, ainda, contribuir para a reconstrução de uma nova cultura da mediação pedagógica do processo de ensino-aprendizagem com possibilidades de redução dos baixos

(19)

rendimentos acadêmicos e dos altos índices de evasão e repetência característicos dos cursos dessa área.

Diante do exposto, enfatiza-se a necessidade de saber organizar o tempo de estudo, uma vez que essa habilidade contribui para a aprendizagem como atividade da personalidade. Jimenéz (2015, p. 96) afirma que a administração do tempo é “uma maneira de ser e uma forma de viver”, sendo o tempo um dos mais importantes e críticos recursos da humanidade.

Esse insucesso acadêmico é influenciado, segundo vários pesquisadores (BUENO, 1993; PEREIRA, 1995; ANDIFES, 1996; SANTOS; SILVA, 2011; SANTOS JÚNIOR, 2015; GILIOLI, 2016), por variáveis que estão relacionadas às características individuais dos estudantes (habilidades para estudar, dificuldades na aprendizagem, percurso e desempenho escolar, vocação equivocada, fatores psicológicos e socioeconômicos, entre outros), à instituição (organização curricular dos cursos, interações professor-aluno, técnicas utilizadas para a transmissão do conhecimento, equipamentos e serviços disponíveis, etc.) e a fatores externos (transição entre espaço cultural e espaço geográfico, atratividade da profissão escolhida, expectativas do mercado de trabalho, entre outros).

Diversas pesquisas, baseadas na Perspectiva Histórico-Cultural, apresentam as dificuldades dos estudantes em relação à organização do tempo de estudo. Em uma delas, Fariñas (1991), há mais de duas décadas, investigou a organização temporal e o projeto de vida de jovens cubanos. Para a realização desse estudo, foram aplicados questionários e entrevistas com estudantes secundaristas e universitários, com faixa etária entre 15 e 18 anos. A análise dos dados evidenciou que os jovens são classificados em dois grupos, denominados pela autora de: sujeitos previsores, aqueles que planejam suas atividades para o dia ou para prazos mais longos; e sujeitos não previsores, os que não fazem nenhum planejamento e realizam o estudo à medida que as atividades vão se apresentando. Para ela, de acordo com os dados obtidos na época, não existia uma cultura psicológica sobre o tempo nos jovens estudantes cubanos, mesmo sendo esta imprescindível.

Uma outra pesquisa foi desenvolvida por González (2009), visando conseguir automatizar habilidades e hábitos de estudo em alunos do primeiro ano da carreira de Agronomia da Universidade de Montaña de San Andrés, na Colômbia. Foi feito um diagnóstico com trinta alunos, e somente 13,33% dos estudantes relataram que realizavam o planejamento e a organização do tempo de estudo. Esse resultado demonstrou que organizar o tempo de estudo foi uma dificuldade encontrada por esses estudantes, e que poucos tinham uma formação adequada da referida habilidade.

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Núñez (2011) realizou uma investigação com vinte e quatro estudantes do primeiro ano de um curso de medicina do Policlínico Universitário Boyeros, em Cuba. Ela diagnosticou dificuldades na formação das habilidades de estudo de alunos, as quais influenciavam, negativamente, o desempenho dos estudantes. No resultado dos estudos realizados pela autora, encontram-se vários problemas na formação da habilidade de estudo, relatados pelos estudantes, que estão diretamente relacionados à inabilidade para organizar o tempo de vida, e, em especial, o de estudo como, por exemplo: o estabelecimento de um horário e de um plano de trabalho para cada dia de estudo; a iniciação dos estudos; o término de seus deveres e trabalhos no tempo proposto; a procrastinação do estudo para as últimas horas da noite e para os últimos dias antes das provas; e o não planejamento de horas de distração. Os resultados mostram, mais uma vez, as dificuldades relacionadas à organização do tempo de estudo de discentes universitários.

Torres e Vieira (2013), em sua pesquisa, objetivavam examinar as dificuldades experimentadas ao longo da formação universitária de estudantes ingressantes e concluintes. Participaram da pesquisa 102 alunos (54 ingressantes e 48 concluintes) dos cursos de História, Filosofia, Linguística, Biologia e Psicologia da Universidade da República, no Uruguai. As dificuldades encontradas para realização da atividade de estudo foram agrupadas, pelas autoras, nas seguintes categorias: a) tarefa de estudo, que se refere às dificuldades relatadas com a modalidade de estudo, sua organização e desempenho concreto; b) compreensão, relativa às dificuldades apresentadas nessa categoria independentemente dos conteúdos aplicados; c) leitura e escrita, que estão vinculadas a redação, ortografia, vocabulário e leitura; e d) condições que afetam a tarefa de estudo, que são materiais (acesso à biblioteca, falta de tempo), motivacionais (motivar-se para o estudo, ler) e cognitivas (prestar atenção, concentrar-se). A falta de tempo foi um dos problemas apresentados pelos estudantes nessa pesquisa, demonstrando que a ausência de habilidade para organização temporal traz dificuldades na realização das atividades de estudo.

Analisando a percepção que têm os estudantes do primeiro semestre dos cursos do Instituto Tecnológico Superior de Tantoyuca, no México, sobre a atividade de estudo, Fundora et al. (2017) aplicaram questionários com uma escala autovalorativa a 345 alunos dos nove cursos do referido instituto. Dentre as perguntas presentes no questionário, duas estavam relacionadas à organização temporal: a primeira questionava se os alunos faziam um planejamento de seu horário de estudo, e o resultado obtido foi que somente 20,2% sempre o realizavam. Já a segunda indagava se os estudantes analisavam o cumprimento das atividades de estudo que haviam planejado. O resultado mostrou que apenas 33,9% dos discentes sempre

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faziam a análise do cumprimento da atividade, evidenciando que somente uma pequena parcela de estudantes organizavam seu tempo de estudo

Alicerçados na Teoria Social Cognitiva, alguns pesquisadores demonstram os problemas apresentados pelos estudantes no que se relaciona a organizar o tempo de estudo. Entre eles, Barrera, Danolo e Rinaudo (2008) desenvolveram uma pesquisa que tinha por objetivo enunciar as relações entre o manejo do tempo e o rendimento acadêmico de 462 alunos matriculados do primeiro ao quinto ano de diferentes cursos da Universidade Nacional Rio Cuarto na Argentina. Os resultados mostraram que os níveis de associação entre o manejo do tempo e o rendimento acadêmico são baixos.

Já Broc Cavero (2011) realizou uma investigação com 91 estudantes da especialidade Educação Primária no curso de graduação em Magistério da Faculdade de Educação de Zaragoza, na Espanha, tendo por objetivo estudar as relações entre variáveis metacognitivas de aprendizagem (gestão do tempo e regulação de esforços), volitivas (incentivos de base negativa) e rendimento acadêmico. Seus resultados revelaram que a gestão do tempo é a melhor variável preditora do rendimento acadêmico, sendo seguida pelos incentivos de base negativa, destacando que, quanto maior o incentivo de base negativa, menor é o rendimento, ou seja, os sentimentos e as emoções negativos sobre si mesmos, relacionados com a tarefa e a visualização das consequências negativas próprias em uma situação de fracasso, acarreta um baixo rendimento e vice-versa.

Soares, Almeida e Guisande (2011), ao realizarem um estudo com 677 estudantes do primeiro ano, de dezesseis cursos de graduação da Universidade do Minho, em Portugal, com o objetivo de analisar o impacto que têm as percepções dos estudantes sobre o clima de aula na qualidade de suas vivências acadêmicas, incluíram como uma das variáveis a gestão do tempo. Nos resultados obtidos, os estudantes indicaram, em geral, que têm uma percepção muito positiva sobre organizar e gerir o tempo. Entre as áreas estudadas (ciências, formação de professores, tecnologias e ciências sociais e humanas), as de Ciências e de Tecnologia apresentaram os índices mais baixos na gestão do tempo, demonstrando que os estudantes dessas áreas apresentam dificuldades na organização do tempo.

Na pesquisa desenvolvida por Guimarães (2016), participaram 20 estudantes, sendo dez com notas altas de entrada no Ensino Superior e dez, com notas baixas, matriculados no primeiro ano, além de 20 professores do curso de Engenharia Informática, da Universidade de Beira Interior em Portugal. Os objetivos do estudo eram analisar o discurso do aluno iniciante do curso de Engenharia Informática sobre seus processos autorregulatórios no domínio da planificação ao longo do primeiro ano e explorar as diferenças nos discursos sobre esses

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comportamentos autorregulatórios no grupo com notas de candidatura elevada e no grupo com notas de candidatura baixa. Nessa pesquisa, de acordo com a percepção dos estudantes e dos professores, a autora detectou que grande parte dos discentes do primeiro ano não planejava as suas tarefas acadêmicas ou o seu tempo acadêmico, não havendo priorização, o que revela pouca autonomia e responsabilização na realização dos estudos. Na opinião dos entrevistados, o Ensino Médio não os preparou para o ritmo e a complexidade de conteúdos abordados no Ensino Superior, nem para a gestão do tempo e de tarefas que são exigidas para obter aprovação.

Garzón e Gil (2018) estudaram a relação entre a gestão do tempo e o rendimento acadêmico de 494 estudantes do primeiro ano, de nove cursos das universidades El Bosque e Uniempresarial, localizadas na cidade de Bogotá. Os autores destacaram que há uma baixa correlação entre as variáveis gestão do tempo e rendimento acadêmico. No entanto, apesar dessa baixa correlação, para os autores, no alunado de baixo rendimento, o planejamento das tarefas resulta pouco efetiva, o que poderia ser causado pelo cálculo errôneo sobre o tempo de realização de certas atividades, as interrupções, a carência de auto monitoramento a respeito de um objetivo preciso ou a falta de adaptação a acontecimentos inesperados. Em contrapartida, o alunado de alto rendimento apresenta maior grau de estruturação do tempo, separando as tarefas de estudo do restante de suas atividades e localizando-as em espaços concretos de sua rotina semanal.

As pesquisas fundamentadas no estudo baseado em competência também demonstram as fragilidades dos estudantes referentes à organização do tempo de estudo. Em uma pesquisa que teve como objetivo analisar a relação entre estilos de aprendizagem, habilidades de gestão do tempo e resultados acadêmicos de 111 estudantes do Instituto de Educação Secundária da Comunidade Valenciana, na Espanha, Pérez-González, García-Ros e Talaya-González (2003) constataram, a partir das informações coletadas e das análises estatísticas, que tanto os estilos de aprendizagem como as habilidades de gestão do tempo são preditores dos resultados acadêmicos.

Resultados semelhantes foram encontrados por Dúran-Aponte e Pujol (2013), ao realizarem uma investigação sobre estilos de aprendizagem, gestão do tempo e rendimento acadêmico. Essas autoras aplicaram quatrocentos e dez questionários com estudantes concluintes da Universidade Simón Bolivar, na Venezuela, e encontraram relações sugestivas de que os maiores rendimentos acadêmicos estão associados ao estabelecimento de objetivos e ao uso de ferramentas de gestão do tempo. Essas pesquisas revelaram que o rendimento acadêmico melhora quando os estudantes conseguem organizar seus tempos de estudo.

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Em contrapartida, os estudos de Monsalve Gómez, Romero e Barberá (2014), realizados com alunos da pós-graduação à distância da Fundação Universitária Luis Amigó em Medellin, na Colômbia, apontaram o contrário e destacaram que não há correlação estatística significativa entre a gestão do tempo e o rendimento acadêmico dos estudantes. É importante ressaltar que a pesquisa colombiana foi realizada em um contexto virtual, e as pesquisas venezuelana e valenciana, em um contexto presencial, o que pode ter influenciado nos resultados divergentes.

Uma outra investigação realizada no contexto virtual, conduzida por Romero e Barberá (2015), tinha por objetivo estudar a formação a distância em relação à flexibilidade temporal dos estudantes universitários do Campus Virtual da Catalunha. Os resultados dessa pesquisa evidenciaram que a falta de planejamento e de gestão do tempo foram consideradas, pelos tutores, as principais dificuldades dos estudantes.

Outras pesquisas, baseadas em perspectivas teóricas diferentes das citadas anteriormente, também demonstraram que a organização do tempo se apresentava como uma dificuldade para o desenvolvimento da atividade de estudo.

Em um estudo com alunos do oitavo semestre da Escola Profissional de Ciências da Comunicação Social, da Universidade Nacional de Altiplano no Peru, o qual objetivava descrever o planejamento do tempo de estudo dos discentes, Mamani (2011) chegou à conclusão de que os estudantes planejavam ocasionalmente o estudo, deixando de lado o planejamento formal, ou seja, primavam pelo planejamento mental ou empírico. O autor afirma que os estudantes não têm um horário fixo de estudo para contemplar as distintas atividades e ações que realizam: pessoais, recreativas e de formação profissional (estudo em aula e fora dela). Ele destacou ainda que as práticas pré-profissionais alteram o planejamento do tempo de estudo. Esses resultados revelaram que dimensões relacionadas à estrutura da organização do tempo de estudo não são desenvolvidas adequadamente pelos estudantes.

Apoiando-se no enfoque construtivista, Sahahí, Gómez e Covarrubias (2015) desenvolveram uma pesquisa com o objetivo de identificar fatores que contribuem para o êxito acadêmico dos estudantes universitários de diferentes áreas da Universidade de Colima, no México. Foram entrevistados 4 alunos com melhor rendimento escolar das áreas de Ciências da Saúde, Engenharia, Humanidades e Econômica-Administrativa. Os resultados mostraram que a habilidade de administração do tempo é uma das mais importantes para que o estudante universitário cumpra todas as suas atividades acadêmicas e consiga seus objetivos pessoais. Os autores ressaltaram que os estudantes que conseguem concluir exitosamente a universidade apresentam alta motivação, atitude favorável para a carreira e bons hábitos de estudo.

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Jiménez (2015) realizou uma pesquisa, baseada na Teoria da Administração, de Webber A. Ross e Mc Cay, James Taylor, com 935 alunos, de diferentes cursos, da Universidade Mayor de San Andrés na Bolívia, tendo como objetivo conhecer a administração do tempo dos estudantes que trabalhavam. Dos entrevistados, 67,8% não organizavam seu tempo, e 95,5% declararam que o tempo não era suficiente para realizar suas atividades. Nas conclusões apresentadas nesse trabalho, o autor destacou que os estudantes revelaram, por meio de suas declarações, ter baixa autoestima e baixa apreciação de seu valor, de sua família, de seu descanso, de sua necessidade de encontrar-se consigo mesmo.

Durán (2017), aplicando o método de comparação constante da Teoria Fundamentada de Glaser e Strauss, realizou um estudo com o objetivo de analisar a interação entre as habilidades de estudo independentes e a gestão do tempo dos estudantes de medicina da Universidade de Concepción (Chile). Em suas conclusões, a autora destacou que a gestão do tempo, visando uma aprendizagem autodirigida, varia de acordo com a influência dos elementos internos (as preferências pessoais pelos temas tratados em cada disciplina e ano de estudo, a retroalimentação obtida de seu desempenho, a atitude para a aprendizagem e o conceito de êxito e aprendizagem determinado por cada um dos estudantes) e externos (carreira: os tipos de avaliação a que são submetidos, as exigências acadêmicas que vão variando a cada ano e a cada disciplina, o contato com os pacientes e a ausência da diretividade docente; e outros elementos: presença de familiares e amigos ou namorados e o equilíbrio na relação com eles que cada um deseja manter).

Os resultados dos estudos relacionados à habilidade de organização temporal realizados no Brasil não diferem dos obtidos no resto do mundo e revelam que planejar metas e fazer a organização temporal das atividades de estudo, de maneira autorregulada, é uma das dificuldades dos estudantes.

Mercuri (1992), Sonneville (1992), Carelli e Santos (1998) e Basso et al. (2013) desenvolveram investigações relacionadas à disponibilidade de tempo dos discentes para o estudo, e não, propriamente, à organização temporal, apesar de concluírem, em seus resultados, que há uma má administração do tempo de estudo pelos alunos.

Em sua tese de doutorado, Mercuri (1992) desenvolveu estudos sobre a relação entre as condições necessárias para desenvolver as atividades de estudo, as quais foram definidas como as tarefas realizadas fora dos horários de aula, e o rendimento acadêmico. Essas condições estavam relacionadas ao contexto físico e social nos quais ocorrem o estudo (espaciais), à disponibilidade de acesso ao material envolvido nas atividades (materiais), à disponibilidade e previsão de tempo (temporais) e ao domínio de habilidades e estratégias necessárias ao estudo

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(pessoais). Foram aplicados questionários a 467 estudantes e 22 professores de cursos das áreas de Ciências Biológicas e Profissões de Saúde, Ciências Exatas e Tecnológicas e Ciências Humanas, de cursos de graduação da Universidade Estadual de Campinas, em São Paulo. Com relação às condições temporais, a autora obteve dados referentes à regularidade com que o aluno estuda, à previsão de horários semanais, à avaliação da suficiência ou insuficiência de tempo, às razões da insuficiência de tempo, à existência de horários vagos na grade semanal de aula e ao aproveitamento destes. Essa autora destaca que a falta de tempo foi apontada como o principal determinante das dificuldades de realização das atividades de estudo. Para ela, essa percepção pode decorrer tanto de um inadequado gerenciamento do tempo por parte do estudante quanto da existência real de um elevado número de atividades a serem realizadas dentro de um determinado período de tempo.

Sonneville (1992) teve por objetivo examinar a conciliação dos estudos com o trabalho de 210 estudantes da Faculdade de Educação do Estado da Bahia, Campus Salvador. O autor constatou que a maioria dos estudantes dedicavam ao estudo menos de 1 hora por dia, não existindo diferença significativa entre os estudantes que trabalhavam e os que não trabalhavam quanto à repetência e à evasão. Ele destacou ainda que o número de horas dedicadas às atividades de estudo extraclasse gerava uma diferença significativa no desempenho acadêmico. No entanto, a maioria dos estudantes não via a possibilidade de melhorar sua atuação por falta de disponibilidade de tempo, e poucos percebiam a necessidade de serem responsáveis por essa melhoria (dedicando mais tempo ao estudo, o que poderia ser conseguido com a organização temporal de sua vida).

Por sua vez, Carelli e Santos (1998) pesquisaram as condições temporais (relacionadas ao intervalo de tempo que o aluno tem para se dedicar a trabalhos extraclasse) e pessoais (aspectos ligados ao repertório comportamental assim como às condições físicas do aluno associadas ao seu desempenho) de estudo de 181 universitários dos cursos de Psicologia, Engenharia Civil e Farmácia da Universidade São Francisco (Campinas/São Paulo), matriculados nos turnos diurno e noturno. Por meio dessa pesquisa, as autoras constataram que a maioria dos alunos indicava como principal dificuldade não dispor de tempo suficiente para estudar, particularmente os alunos do turno noturno, que dedicavam grande parte do tempo ao trabalho. Outro resultado obtido na pesquisa foram as afirmações dos alunos referentes à influência do tempo de que dispõem como uma condição que afeta os estudos e ao prejuízo nos rendimentos acadêmicos escolares causados pela falta de tempo. Dessa forma, elas concluíram que, baseadas nos resultados obtidos, a condição temporal é um fator importante e mal

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administrado pelos universitários, seja pelo fato de serem alunos-trabalhadores, seja por terem muitos compromissos sociais e/ou familiares.

Na Universidade Federal de Santa Catarina, Basso et al. (2013) desenvolveram um programa de oficinas junto a 37 universitários que enfrentavam problemas no seu desempenho acadêmico. Ao serem questionados sobre quais os motivos da busca pelas oficinas, os estudantes destacaram as dificuldades para organizar o tempo como sendo o principal. As condições temporais estavam relacionadas ao planejamento do tempo de estudo extraclasse, ou seja, o tempo de estudo precisava ser suficiente para completar as atividades, estudar para as avaliações e reforçar o desempenho acadêmico.

Leite, Tamoyo e Günther (2003) investigaram o papel dos valores individuais na organização do tempo. Duzentos e setenta e um estudantes universitários responderam à escala de organização temporal e ao inventário de valores de Schwartz, versão brasileira. Nos resultados apresentados pelos autores, as mulheres são mais organizadas que os homens, os estudantes da área humanística planejam melhor o tempo que os da área das Ciências Exatas e os alunos dos primeiros semestres tiveram mais competência no uso do tempo que os alunos dos outros semestres. Destacaram também que o preditor motivacional mais forte para a organização do tempo é a importância que o indivíduo atribui a valores de benevolência (os que promovem a preservação e promoção do bem-estar das pessoas com as quais mantém contato) e de conformidade (os que buscam a contenção dos impulsos de transgressão das normas sociais).

Oliveira, Teixeira e Carlotto (2016), embasadas na psicologia escolar, desenvolveram, por meio de um projeto de extensão de uma universidade gaúcha, oito oficinas, as quais abordavam o tema da gestão do tempo. As oficinas, realizadas com diferentes grupos de estudantes, que permitiram uma primeira reflexão sobre a gestão do tempo para muitos dos envolvidos, tinham dois objetivos principais: avaliar e discutir a forma como os participantes costumavam organizar seu tempo como também estimular o planejamento pessoal por meio de estratégias de gestão do tempo.

Os autores constataram que os estudantes apresentavam variadas dificuldades, que foram agrupadas em quatro categorias principais:

a) dificuldades relacionadas à procrastinação como, por exemplo, o adiamento de responsabilidades para a última hora, a demora em iniciar as tarefas e a perda de tempo significativa nas redes sociais da internet;

b) dificuldades em dizer não às demandas alheias;

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d) dificuldades em conciliar estudos, convivência familiar e lazer.

Os estudos realizados na Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) também demonstraram as fragilidades apresentadas pelos estudantes no que diz respeito à organização do tempo de estudo.

Gonzaléz (2015), em sua dissertação de mestrado, embasada na Teoria Social Cognitiva, investigou habilidades, hábitos e atitudes de estudo (HHAs) utilizados por estudantes universitários e sua relação com o desempenho acadêmico. A pesquisa foi realizada com 1.143 estudantes de cinquenta e cinco cursos das áreas de Biociências, Exatas, Saúde, Humanas, Sociais Aplicadas e Tecnológicas da Universidade Federal do Rio Grande do Norte, os quais responderam a um questionário on-line elaborado pela autora e seus colaboradores. No estudo, foram contempladas doze variáveis para análise do gerenciamento do tempo e planejamento dos estudos, e dez apresentaram associação positiva com o desempenho acadêmico dos estudantes. Dentre as variáveis relacionadas à organização temporal que predizem o sucesso acadêmico, a que apresentou maior semelhança entre os centros estudados foi a de conseguir cumprir um calendário e os horários de estudo, sendo esta representativa das áreas de biociências, tecnológica e humanas.

No relatório de uma pesquisa realizada no Núcleo Permanente de Concurso da UFRN (2020), sobre a atividade de estudo dos alunos da instituição, ficou constatado que os alunos não dispõem de tempo para estudar, demonstrando, assim, que a habilidade de organização temporal não está adequadamente formada nesses discentes. Nesse estudo, foi aplicado um questionário com 24 enunciados, os quais foram avaliados e pontuados utilizando a Escala Likert, que variava entre a concordância total (valor cinco) e a discordância total (valor um) em relação a cada enunciado. Os resultados dessa pesquisa mostraram que o maior índice de discordância dos estudantes estava relacionado a ter tempo suficiente para realizar os estudos exigidos no curso, ou seja, eles concordam que não dispõem de tempo suficiente para atender às exigências do curso.

Diante dos vários estudos apresentados, pode-se perceber que os estudantes universitários apresentam dificuldades para organizar o tempo de estudo, seja por não terem disponibilidade de tempo, seja por não saberem ou não realizarem, de forma adequada, a organização do seu tempo de vida, o qual inclui o tempo dedicado aos estudos. As deficiências na formação da habilidade de organização temporal podem ser consequência da ausência ou formação inadequada dessa habilidade por parte das instituições de Educação Básica e da falta de desenvolvimento dessa habilidade no Ensino Superior, o que acarreta dificuldades na realização das atividades de estudo e, consequentemente, no desempenho acadêmico dos

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estudantes. Além disso, podem causar prejuízos à saúde dos discentes, devido aos altos níveis de estresse a que são submetidos quando da escassez de tempo.

Baseando-se na problemática apresentada e buscando contribuir para a melhoria da compreensão sobre a habilidade de organização do tempo de estudo, considera-se o seguinte problema científico: qual modelo permite identificar e caracterizar os elementos fundamentais da avaliação que fazem estudantes do curso de Engenharia Civil das suas habilidades para organizar o tempo de estudo no curso universitário?

O objeto de estudo é a avaliação que fazem os estudantes sobre a habilidade de organização temporal para estudar.

A tese defendida é a de que a avaliação que fazem os estudantes sobre a habilidade de organização do tempo de estudo pode revelar dificuldades em relação a essa importante habilidade para o estudo.

1.1 OBJETIVOS DA PESQUISA

O objetivo geral desta pesquisa é investigar a avaliação que os estudantes do curso de Engenharia Civil da UFRN fazem sobre a habilidade para organizar o tempo de estudo no curso universitário.

Com base no objetivo geral da pesquisa, foram elaborados os seguintes objetivos específicos:

1 Caracterizar o perfil sociodemográfico dos estudantes do curso de Engenharia Civil da UFRN;

2 Caracterizar a organização do tempo de estudo dos estudantes do curso de Engenharia Civil da UFRN;

3 Identificar e caracterizar as representações dos estudantes sobre o que é organizar o tempo de estudo no curso universitário;

4 Discutir, segundo a opinião dos estudantes, fatores que facilitam a organização o tempo de estudo de forma adequada;

5 Identificar e caracterizar a avaliação que fazem os estudantes sobre sua habilidade de organizar o tempo de estudo na vida universitária.

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1.2 ORGANIZAÇÃO DO ESTUDO

O presente estudo foi dividido em quatro seções, das quais a primeira é esta introdução, além das considerações finais, da bibliografia e dos anexos.

A matriz teórica do estudo, apresentada na segunda seção, é composta por três subseções. A primeira, denominada de “O tempo na existência humana”, contém as várias percepções de tempo adotadas pelos seres humanos, suas características e tipologia. A segunda, intitulada “Habilidades de estudo”, destaca a compreensão sobre o termo habilidade, iniciando pela apresentação dos conceitos de personalidade, consciência e atividade, como também suas relações com a temporalidade, para, em seguida, discutir a habilidade como uma atividade da personalidade. Na terceira, sob o título “Habilidade de organização do tempo de estudo”, discute-se essa habilidade como um domínio de estudo, composta de subdomínios relativos ao sistema de operações necessárias à execução da habilidade e de dimensões representativas das operações isoladas que permitem a realização da ação, apresentando-se seu conceito e sua estrutura. A estrutura teórica fundamentou a elaboração do questionário aplicado. Nessa segunda seção, também são discutidas as habilidades de estudo e a organização do tempo de estudo como uma delas.

Na terceira seção, está a metodologia empregada no processo investigativo, incluindo os pressupostos metodológicos, o tipo de pesquisa, o instrumento utilizado na coleta dos dados, a organização, o tratamento e a análise dos dados obtidos.

Na quarta seção, há, em seu escopo, a apresentação e a análise dos resultados, divididos em três etapas: a primeira se refere ao perfil sociodemográfico e à caracterização da organização do tempo de estudo dos alunos; a segunda está relacionada às representações dos estudantes sobre o que é organizar o tempo de estudo no curso universitário e aos fatores que facilitam essa organização; e a terceira diz respeito à avaliação dos estudantes sobre a habilidade de organização do tempo de estudo.

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2 HABILIDADE DE ORGANIZAÇÃO DO TEMPO DE ESTUDO

A pesquisa educacional, como argumenta Ortiz (2015), se realiza sob determinado quadro teórico, de forma implícita ou explícita, e, nesse caso, faz-se necessário explicitá-lo. Esse quadro orientará a elaboração da metodologia e a interpretação dos resultados na busca de respostas às questões de estudo, contribuindo, dessa forma, para diminuir o que Núñez e Ramalho (1999) denominam de “dispersão semântica¨ na pesquisa educacional.

Nesta seção, será apresentado o quadro teórico que sustenta a compreensão da habilidade de organização do tempo de estudo como um tipo de atividade da personalidade. A discussão se inicia com uma reflexão sobre o tempo na existência humana, prosseguindo com a apresentação da tipologia do tempo, que ajuda a compreender sua organização. São discutidos, ainda, o conceito de habilidade e o de habilidade de estudo como atividades da personalidade, e, a partir dessa discussão, apresenta-se o conceito de habilidade de organização do tempo de estudo, no contexto dos cursos universitários.

Com a finalidade de subsidiar teoricamente o objeto de estudo, foi elaborado, nesta tese, um modelo teórico da habilidade em termos de seu conteúdo conceitual (denominado de domínio), como subsídio para identificar e caracterizar as representações dos estudantes. Por sua vez, esse domínio foi estruturado em subdomínios relacionados a um dado agrupamento de elementos estruturais e em dimensões que correspondem ao detalhamento desses elementos para caracterizar a avaliação que se faz da habilidade em estudo. Toma-se como referência as contribuições teóricas da Escola Histórico-Cultural, em especial, as ideias de A. N. Leontiev, N. F. Talizina e I. I. Iliasov.

2.1 O TEMPO NA EXISTÊNCIA HUMANA

O tempo sempre despertou o interesse da humanidade, que busca compreendê-lo identificando suas características e desenvolvendo instrumentos para medi-lo, ações que o homem vem realizando desde a idade antiga.

Qualquer atividade humana, seja profissional, de estudo ou de lazer, exigirá a execução de ações que estão organizadas no tempo, e, sendo assim, o planejamento de metas baseadas na organização temporal se torna indispensável para que o indivíduo obtenha êxito em qualquer área do desenvolvimento humano.

Dessa forma, a organização temporal realizada de forma responsável e consciente é de fundamental importância para a sobrevivência na vida atual, na qual as pessoas estão sempre

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submetidas ao relógio, contando os minutos que restam do seu tempo para executar alguma atividade. Na sociedade contemporânea, as mudanças constantes também obrigam os indivíduos a tomarem decisões acertadas em curtos intervalos de tempo.

Para iniciar esta seção, é importante apresentar as concepções gerais do tempo. Responder perguntas como: que é o tempo? quais são suas características? existe apenas um tipo de tempo? Elas se tornam imprescindíveis para que se possa compreender como os seres humanos entendem o tempo e, consequentemente, como organizam sua vida em relação à temporalidade.

2.1.1. O tempo na atividade humana

Nos dicionários da língua portuguesa, a palavra tempo tem muitos significados, entre eles, o de que tempo é “a sucessão dos anos, dias, horas, que envolve a noção de presente, passado e futuro” (FERREIRA, 2008). No entanto, o conceito de tempo é multidisciplinar e bem mais complexo. Não se pode falar em um único conceito de tempo, e, dessa forma, para se ter uma noção sobre o que é o tempo, é necessário conhecer as várias concepções que foram desenvolvidas ao longo da história da humanidade, principalmente na Física e na Filosofia, apesar de esse conceito também fazer parte dos estudos da História, da Biologia, da Psicologia, das Ciências Sociais, da Geologia, entre outras.

Todos os seres vivos estão submetidos às mudanças ambientais, que ocorrem de forma periódica e cíclica na natureza, como, por exemplo, os dias e as noites, as estações do ano e as fases lunares. O mais poderoso ritmo da natureza é o ciclo de 24 horas do dia e da noite, que governa uma grande variedade de padrões de comportamento temporal das criaturas vivas (SZAMOSI, 1988). Para esse autor, a estratégia de adaptação a esses padrões utilizada pelas formas de vida existentes é, essencialmente, a mesma e consiste na evolução de algum mecanismo fisiológico interno que regula o comportamento temporal do indivíduo. Esse mecanismo é denominado relógio biológico ou interno e está presente em todas as formas de vida, desde um paramécio (protozoário) até um ser humano.

A noção de tempo foi evoluindo juntamente com o cérebro humano, ou seja, vários eventos evolutivos fizeram com que os seres humanos percebessem o tempo a partir do relógio biológico e, posteriormente, também começassem a processar informações envolvendo o uso de intervalos de tempo. Daí surge uma questão: como a mente humana consegue aprender a respeito do mundo exterior, inclusive no que se refere à percepção de tempo? Szamosi (1988) identificou dois pontos de vista que buscam responder a essa indagação.

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No primeiro, empirista, conforme alguns cientistas, como Jonh Locke, David Hume, Denis Diderot, Jean D’Alembert, Ernest Mach, Bertrand Russel, entre outros, tudo que é aprendido parte de experiências individuais, ou seja, o ser humano nasce como uma lousa limpa, que vai sendo preenchida por meio das experiências acumuladas ao longo da existência. No segundo, racionalista, pensadores, como René Descartes, Baruch Spinoza, Gottfried Leibniz, Immanuel Kant, entre outros, defendiam a ideia de que a mente humana produz o que se observa do mundo exterior.

Reis (1994, p. 13) afirma que

[...] não se pode falar de um “conceito do tempo”, mas de concepções do tempo. Estas pretenderiam o estatuto de conceito definitivo. Mas nenhuma noção ou definição do tempo recebeu uma aprovação unânime, embora todas elas tenham contribuído à construção de uma ideia, a mais informativa, sobre um possível conceito do tempo.

Para esse autor, as concepções de tempo estão baseadas nos conceitos de mudança e movimento. A mudança não é movimento, apesar de um conceito não existir sem o outro. A mudança caracteriza a perspectiva subjetivista, pois a alma muda qualitativamente. A consciência não volta ao seu estado inicial, pois nela ocorrem mudanças. Já o movimento é o principal conceito da perspectiva objetivista, pois é reversível, quantificável e mensurável.

O problema do tempo é um dos mais antigos e complexos da história do ser humano. Inicia-se na pré-história, período no qual os conceitos de espaço e de tempo não eram generalizados, sendo considerados como símbolos humanos, portadores de significado emocional (SZAMOSI, 1988). Na antiguidade, o conceito de tempo “era concreto, definido por e relacionado com acontecimentos, colorido pelas emoções e carregado de significado simbólico” (SZAMOSI, 1988, p. 69). Nesse período, existiam diferentes concepções de tempo, elaboradas a partir da contribuição de vários pensadores, entre eles, Heráclito, Platão, Aristóteles, Plotino e Agostinho. Na Idade Média, houve um retrocesso no conceito de tempo, uma vez que sua percepção como um ciclo retorna para a vida e a imaginação dos povos medievais. Nessa época, São Tomás de Aquino, um dos principais representantes dessa época, tentou conciliar as concepções aristotélica-ptolomaica com as da Igreja.

Os pensadores da modernidade, como Galileu, Descartes, Newton, Leibniz e Kant, apresentam concepções diferentes de tempo, as quais vão desde um tempo absoluto e quantificável até um tempo intuitivo e indivisível. O desenvolvimento de novas teorias da física, na contemporaneidade, também modificou profundamente as concepções de tempo. Ele deixa de ser considerado como absoluto e passa a ser concebido como um tempo relativo, concepção

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