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GABINETE DO DES. NAULO HENRIQUES DE SÁ E BENEVIDES
ACÓRDÃO
APELAÇÃO CÍVEL N° 200.206.021285-5 / 001 — 7 a Vara da Fazenda Pública da Capital
Relator : Des. Saulo Henriqu4ts de Sá e Benevides. Apelante : Darlan Escorei Barrps.
Advogado : Flávio Aureliano dc. Silva Neto e outros. Apelado : Município de João '3essoa.
Advogada : Paulo Wanderley Camara.
AÇÃO DF INDENIZAÇA0 POR DANOS MORAIS E MATERIAIS — LUCRUS CESSANTES — RESPONSABILIDADE CIVIL POR BURACO EM VIA PÚBLICA — OMISSÃO DO ESTADO — TESE DA RESPONSABILIDADE SUBJETIVA — CULPA NÃO COMPROVADA — DANOS MORAIS NÃO CONFIGURADOS — PROVIMINTO NEGADO.
No to,i2nte à responsabilidade civil do Estado, se o prejuízo advém c4 ? uma conduta omissiva, invoca-se a teoria da responsatflidade subjetiva. Precedentes.
- Em atàr's- omissivos, não havendo comprovação da culpa ou dolo por part da Administração não há que se falar em direito a repara çãv. Nas palavras de Celso Antônio Bandeira de Melo: "O Estado nito agiu, não pode logicamente, ser ele o autor do dano. E, se não foi o autor, só cabe responsabilizá-lo caso esteja obrigado
41) a impedir o dano. Isto é: só faz sentido responsabilizá-lo sedescumpr'u dever legal que lhe impunha obstar ao evento lesivo" ("Curso de direito administrativo", Malheiros Editores, São Paulo, 2092, p. 855). (Resp 549812/CE – Rel. Min. Franciulli Neto – Tui.na – Julgado em 06/05/2004 – Publicado no DJ 31/05/2061, p. 273).
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VISTOS, RELATADOS E DISCUTIDOS os presentes autos acima identificados.
ACORD AMa Egrégia Terceira Câmara Cível do Colendo Tribunal de Justiça do Estado, por unanimidade, em negar provimento ao recurso.
RELATÓ RIO
Trata-se apelação cível interposta em face da decisão do M.M. Juiz de Direito da 7a Vara da E- zenda Pública da Capital (fls.49/52) que, nos autos da "Ação Sob o Rito Sumário para Reparação de Danos Materiais, Morais e Lucros Cessantes", ajuizada por Darlan Jscorel Barros, ora apelante, contra o Município de João Pessoa, julgou improcedente o edido exordial que visa à condenação da apelada ao pagamento de indenização no moi 'tante de R$ 21.000,00 (vinte e um mil reais.).
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O apelan . e, nas razões recursais de lis. 55/58, aduzindo a responsabilidade objetiva da apel Ála e reiterando a consistência da provas acostadas, alega que o acidente ocorreu em virtuddi'da ausência de sinalização e conservação da via.
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A apelalá, nas contra-razões de fls. 61/71, pugna pelo desprovimento da apelação, reiterando a ausência de comprovação da omissão administrativa e do nexo de ceusalidade entre a omissão e o dano causado.
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Instada a Manifestar-se, a douta Procuradoria de Justiça, no parecer de fls. 78/81, opinou pelo prosseguindo da ação sem, contudo, pronunciar-se a respeito do mérito, porquanto, ausente determinação legal e/ou interesse público que justificasse a intervenção ministerial. l' !. É o relatório. ! VOTO: • nn
Trata-se cÉ ação em que o apelante visa à reparação de danos materiais, morais e lucros ce,splantes decorrentes de acidente com veículo de sua • propriedade, provocado pela existtncia de buracos em via pública.I
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, Alega qu;..., enquanto conduzia seu veículo, foi subitamente rpreendido por um buraco no asfalto causado pela forte chuva que caía no momento, não _ 71, tendo opções para evitar o evento panoso.
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Por conseguinte, alegou que houve omissão por parte do Poder Público em sinalizar os locais pi ;judicados pela ação chuvosa e que sendo o período de instabilidade climática considerado um fato notório pela população do município, a abertura do buraco em via pública seria presumidamente previsível, afastando, desta forma, uma eventual alegação da imprevi lr'ibilidade dos fatos (fls. 09).
Inicialmente, é mister ressaltar que o cerne da questão consiste em saber se houve ou não responsabilidade do município de João Pessoa ante o fato de terem sido os danos provocados pelos ¡buracos abertos em via pública em momento de forte
período chuvoso na capital.
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• O apelantcII, colacionando fotos, laudo do CPTRAN, manchetes de jornais que registraram a cena 'do ocorrido e demais documentos comprobatórios da ocorrência do prejuízo, aduz, que a responsabilidade a ser verificada no caso é objetiva.
i, Vejamos. 1
No tocantx à responsabilidade civil do Estado, sabe-se que a regra é a responsabilidade objetiva (td,i ria do risco administrativo), segundo a qual o poder público é obrigado a reparar o ' ano por ele causado por meio de seus agentes. Nessa
, hipótese, basta ficar comprovada c.flocorrência do prejuízo e o nexo causal entre a conduta e
o dano para que haja o dever de i4enizar.
É o art. 37, §6° da Constituição Federal que consagra a responsabilidade objetiva da administração ao aduzir que "as pessoas jurídicas de direito público e as de direito privado prestadoras de serviços públicos responderão pelos danos
que seus agentes, nessa qualidadc: causarem a terceiros, assegurado o direito de regresso contra o responsável nos casos de dolo ou culpa.".
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Nas palavras de José dos Santos Carvalho Filho "A norma reforça a sujeição do Poder Público à respCnsabilidade objetiva, tendo como fundamento a teoria do risco administrativo, de modo Oe, se a União ou outra pessoa de sua administração causar qualquer tipo de dano no* desempenho de tais atividades, estarão inevitavelmente sujeitas ao dever de reparar os respectivos prejuízos através de indenização, sem que
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possam trazer em sua defesa G 1; argumento de que não houve culpa no exercício da atividade. Haverá, pois, risco administrativo natural nas referidas tarefas, bastando, assim, que o lesado comprove opto, o dano e o nexo causal entre o fato e o dano que sofreu. „I
Todavia, ião havendo provas de que os estragos na avenida não tiveram como causa direta um alto comissivo da Administração pública e que o evento danoso ocorreu em decorrência .,zíle uma suposta ausência de providências e/ou falta de sinalização, torna-se evidente q4 as alegações do apelante têm como fundamento uma conduta omissiva da administradão. Nesse sentido, alegou o apelante que o dano teria ocorrido em virtude da "falta de ..1,.uidado do Município com a pavimentação e sinalização das vias", segundo se depreende àS fls. 56.
Sendo asJim, conforme já consagrado na doutrina dos grandes juristas José dos Santos Carvalhc1 Filho, Celso Antônio Bandeira de Mello e do reputado mestre Prof. Oswaldo Aranha Bandeira, a responsabilidade a ser apurada no caso exige necessariamente indagar se a conduta omissiva ocorreu em virtude de culpa ou dolo por parte da administração. Trata-se, ao revés do entendimento até então adotado nos presentes autos, de responsabilidade subjetiva.
• , Nas palavs de José dos Santos Carvalho Filho:ii,
Pi/ "[...]IN responsabilidade civil do Estado, no caso de conduta omissiva, só
.r‘ se dedenhará quando presentes estiverem os elementos que caracterizam a
,,a.-
culpa [A culpa origina-se, na espécie, do descumprimento do dever legal, atribtolo ao Poder Público, de impedir a consumação do dano. Resulta, /
por cpnseguinte, que nas omissões estatais, a teoria da responsabilidade objet-.Ïa não tem perfeita aplicabilidade, como ocorre nas condutas omisáivas"2I;
Corroborando o mesmo raciocínio, Celso Antônio Bandeira de Mello defende a idéia de que para configurar a responsabilidade estatal não basta a simples relação entre ausência do serviço (omissão estatal) e o dano sofrido. Afirma ele, "cumpre que haja algo mais: a culpa por negligência, imprudência ou imperícia no serviço, ensejadoras do dano, ou então o dolo, intenção de omitir-se, quando era obrigatório para o Estado atuar e fazê-lo segundo um certo padrão de eficiência capaz de obstar ao evento lesivo. Em uma palavra: é necesgrio que o Estado haja incorrido em ilicitude, por não ter 1111
acorrido para impedir o dano o ja por haver sido insuficiente neste mister, em razão de comportamento inferior ao padrá legal exigível. "3
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Este entenPimento já consagrado pela doutrina majoritária encontra respaldo na jurisprudência do Supremo Tribunal Federal, conforme se depreende da seguinte ementa:
"CONSTITUCIONAL. ADMINISTRATIVO. CIVIL. DANO MORAL. RESRONSABILIDADE CIVIL DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PÚBLICO E DAS PESSOAS JURÍDICAS DE DIREITO PRIVADO PRESTADORAS DE SERVIÇO PÚBLICO. ATO OMII.;.;SIVO DO PODER PÚBLICO: MORTE DE PRESIDIÁRIO POR
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OUT O PRESIDIÁRIO: RESPONSABILIDADE SUBJETIVA: CU
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IA PUBLICIZADA: FAUTE DE SERVICE. C.F., art. 37, § 6°. I - A ltesponsabilidade civil das pessoas jurídicas de direito público e das pessols s jurídicas de direito privado prestadoras de serviço público,g
respo,sabilidade objetiva, com base no risco administrativo, ocorre diante dos sguintes requisitos: a) do dano; b) da ação administrativa; c) e desde que h, ja nexo causal entre o dano e a ação administrativa.
"II - Essa responsabilidade objetiva, com base no risco administrativo, admiip pesquisa em torno da culpa da vítima, para o fim de abrandar ou
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1 CARVALHO FILHO, José dos Santos.'I Manual de Direito Administrativo. 12a ed. Rio de Janeiro: Editora Lumen Juris, 2005. p.426. I,
2
Idem, Ibidem, p.436.
3 Direito Administrativo. 17 8 ed. São Pulo: Malheiros, 2004. p. 896.
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mest,J excluir a responsabilidade da pessoa jurídica de direito público ou da petsoa jurídica de direito privado prestadora de serviço público.
"III L Tratando-se de ato omissivo do poder público, a respc:asabilidade civil por tal ato é subjetiva, pelo que exige dolo ou culpai, numa de suas três vertentes, negligência, imperícia ou impOdência, não sendo, entretanto, necessário individualizá-la, dado que bode ser atribuída ao serviço público, de forma genérica, a _jalde de sendee dos franceses.
"IV - Ação julgada procedente, condenado o Estado a indenizar a mãe do presidiário que foi morto por outro presidiário, por dano moral. Ocorrência da fajfi'te de service" (STF, Segunda Turma, RE 179147/SP, Min. Carlos Velo') [grifou-se].
O argumento de que haveria responsabilidade administrativa pelo simples fato de ser notoriamente ionhecido o período chuvoso que recai sobre a cidade em certos meses não merecer prosper. Admitir-se esta linha de raciocínio sem comprovar a culpa pela omissão, seria promovier a responsabilização integral da Administração Pública diante de qualquer dano provoca+ pelas chuvas nas vias públicas que causassem prejuízos a terceiros, exigindo do Poder Publico uma conduta próxima à onipresença em todos os locais prejudicados.
• É preciso considerar que somente haveria responsabilidade da • administração caso fosse evidUciada a falta, o mau funcionamento ou ainda, o
funcionamento retardado do serviço.
No entantd, compulsando os autos não é possível concluir se houve, de fato, omissão do Poder Públic i6 ou se os estragos foram provocados instantes antes do ocorrido sem que houvesse, sequg, tempo suficiente para considerarmos que o município quedou-se inerte em restabelecer à normalidade da via pública ou sinalizá-la visando evitar danos aos seus administrados.
Em outras palavras, não é possível concluir que houve um mau ou retardado funcionamento do servi;o público, mas pelo contrário, há grandes possibilidades dos estragos na avenida terem sièo causados em virtude das fortes chuvas que caíram nas horas precedentes.
Nota-se que este entendimento encontra fundamento nas próprias declarações do apelante que na exordial afirmou que em decorrência da forte chuva "só conseguiu enxergar o referido 14iraco quando estava praticamente em cima" (fls. 04). Corroborando a tese, os recortes de jornais locais (fls. 25/26) confirmam o alarmante e excepcional volume pluviométricd., que assolou a região naquela época.
Portanto, aberia ao apelante ter promovido a demonstração da culpa da Administração no decorr ,r da instrução processual, não cabendo aqui extrairmos o entendimento a partir de meras pr sunções.
Face ao exposto, nego provimento a Apelação. É como Nito.
Presidiu alit Sessão o Exmo. Sr. Des. Saulo Henriques de Sá e Benvides. Participaram do julgammto, além do relator, Eminente Des. Saulo Henriques de Sá e Benevides, o Exmo. Dr. uardo José de Carvalho Soares, Juiz convocado para substituir o Exmo. Des. Genésicn Gomes Pereira Filho e o Exmo. Dr. Tércio Chaves de Moura , Juiz convocado para subs. i.ituir o Exmo. Des. Márcio Murilo da Cunha Ramos.
Presente a r) julgamento o Exmo. Sr. Dr. Marcus Vilar Souto Maior, Procurador de Justiça.
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João Pessisa, 02 de dezembro de 2008. -
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Des. Saulo flenr , ues de á e Benevides ., Relator ,.' j •, ' , ; 111