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DESAFIOS E DIFICULDADES NA PESQUISA DOCUMENTAL DA VIDA E OBRA DOS ARQUITETOS LÚCIO COSTA E SYLVIO DE VASCONCELLOS

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DESAFIOS E DIFICULDADES NA PESQUISA DOCUMENTAL

DA VIDA E OBRA DOS ARQUITETOS LÚCIO COSTA E

SYLVIO DE VASCONCELLOS

PEREIRA COSTA, STAËL DE ALVARENGA (1); GIMMLER NETTO, MARIA

MANOELA (2); PODSHIVALOFF BERTU, LARISSA (3); SCHIAVO, PRISCILA (4)

1. Laboratório da Paisagem – Escola de Arquitetura Universidade Federal de Minas Gerais, Rua Paraíba 697, sala 404C, bairro Funcionários, CEP: 30130-140 - Belo Horizonte, MG.

staelalvarenga@gmail.com

2. Laboratório da Paisagem – Escola de Arquitetura Universidade Federal de Minas Gerais, Rua Paraíba 697, sala 404C, bairro Funcionários, CEP: 30130-140 - Belo Horizonte, MG.

manoelagnetto@gmail.com

3. Laboratório da Paisagem – Escola de Arquitetura Universidade Federal de Minas Gerais, Rua Paraíba 697, sala 404C, bairro Funcionários, CEP: 30130-140 - Belo Horizonte, MG.

larissabertu@live.com

4. Laboratório da Paisagem – Escola de Arquitetura Universidade Federal de Minas Gerais, Rua Paraíba 697, sala 404C, bairro Funcionários, CEP: 30130-140 - Belo Horizonte, MG.

priscila_schiavo@hotmail.com

RESUMO

O presente artigo é fruto da pesquisa “O Paradigma da Preservação Cultural Brasileira e sua Interface com as Escolas Inglesa e Italiana de Morfologia Urbana”, realizada pelo Laboratório da Paisagem.Identificou-se que os estudos realizados pelos arquitetos Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos representavam a possível origem da morfologia urbana no Brasil.O presente artigo apresenta três objetivos principais, sendo o primeiro, salientar a importância da documentação como fonte de pesquisa. Em seguida, expor a ausência ou parcialidade de informações entendidas como essenciais para a investigação proposta. Além disso, busca-se ressaltar as dificuldades em obter comprovações sobre as origens das metodologias dos arquitetos, nas análises sobre a arquitetura colonial brasileira. Os primeiros passos da pesquisa debruçaram sobre a vida e obra de Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos, ou seja, uma pesquisa bibliográfica inicial que permitiu, em parte, saber onde viveram, estudaram e atuaram, além das influências e convivências. Com relação aos trabalhos desenvolvidos por estes, na busca pela relação com os estudos desenvolvidos por Michael Conzen e Saverio Muratori, representantes das escolas Inglesa e Italiana de morfologia urbana, respectivamente, enfrentou-se a dificuldade de conexão com as referências bibliográficas, que se fazem incomuns. Além disso, procurou-se compreenderas análises morfológicas dos arquitetos brasileiros mesmo com a ausência de justificativas, de desenvolvimento e aplicação das metodologias, que em um segundo momento foram base para determinações de preservação patrimonial, uma vez que atuaram simultaneamente no SPHAN, atual IPHAN. A inexistência de evidências da influência dos estudos europeus nos brasileiros, aliados a análise temporal na qual as

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metodologias foram desenvolvidas, sugerem a sincronicidade das análises morfológicas acerca da evolução tipológica e urbana.

Palavras-chave: Documentação; arquitetura; Lúcio Costa; Sylvio de Vasconcellos; morfologia

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Agradecimentos

Os autores agradecem o apoio às pesquisas, realizadas com aportes financeiros fornecidos pelos órgãos de fomento FAPEMIG e CNPQ, desenvolvidas no Laboratório da Paisagem (LaP) da Escola de Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG).

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INTRODUÇÃO

O presente trabalho é fruto da pesquisa "O paradigma da preservação cultural brasileira e sua interface com as escolas inglesa e italiana de morfologia urbana", realizada pelo Laboratório da Paisagem, na Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais. O principal objetivo focou na investigação da origem dos estudos morfológicos no Brasil. A pesquisa anterior, "A sincronicidade nas escolas de morfologia urbana e os seus paradigmas sociais”, aprofundou nos estudos das principais escolas de morfologia urbana, italiana e inglesa, e identificou relações com estudos realizados pelos arquitetos brasileiros Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos.

Saverio Muratori, arquiteto italiano, nascido em 1910, foi o principal idealizador da metodologia apreendida pela escola de mesma nacionalidade, a partir de estudos acerca da evolução tipológica, publicados ao longo dos anos 60. Simultaneamente, o geógrafo inglês Michael Conzen, nascido em 1907, pesquisou sobre a evolução urbana em cidades inglesas, criando a metodologia de estudo baseada em períodos morfológicos. Com o intuito de compreender as motivações, intenções, o embasamento científico e os processos de estudos dos autores das teorias, buscou-se recapitular informações sobre a vida e obra, reconhecendo as metodologias e aplicando em estudos na cidade mineira de Ouro Preto, antiga Vila Rica, conforme demonstrada no livro “Fundamentos de Morfologia Urbana”.

Neste processo, Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos foram elencados como possíveis pioneiros dos estudos morfológicos no Brasil. Esses arquitetos desenvolveram trabalhos similares às metodologias das tradicionais escolas, e definiram critérios para preservação cultural em território nacional. Sendo assim, nesta etapa da pesquisa, Lúcio e Sylvio passam a ser objeto de estudo, adotando-se a hipótese de um possível contato entre eles e os representantes europeus, ou influência indireta através do contato com os estudos ou terceiros que pudessem estabelecer uma relação entre erudição em território europeu e nacional.

Os principais objetivos da pesquisa focaram na busca da origem dos estudos de Lúcio Costa sobre evolução tipológica e de Sylvio de Vasconcellos a respeito da evolução urbana, ambos principalmente no estado de Minas Gerais. Para isso foi essencial entender a vida e atuação profissional baseada na análise do contexto social, político e econômico, buscando perceber o porquê das pesquisas realizadas por Lúcio e Sylvio. Bem como reconhecer os princípios metodológicos e como estes estudos morfológicos resultaram em análises e

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decisões sobre a preservação cultural brasileira, já que atuaram simultaneamente no órgão responsável pelo patrimônio desde os anos 30.

Pautada em pesquisas bibliográficas e documentais, o estudo ainda em andamento, enfrentou hora na ausência de documentação, hora na parcialidade das informações encontradas sobre a vida dos arquitetos. Sendo assim, o presente trabalho tem como principais objetivos enfatizar a importância da documentação como fonte de pesquisa, revelando como a ausência justificativas e de referenciais teóricos implicam em resultados parciais pois não é possível sua comprovação documental. Mas mantém-se a hipótese dos estudos morfológicos como arcabouço instrumental para desenvolvimento de políticas de preservação nacional.

ESTUDOS MORFOLÓGICOS BRASILEIROS

Sobre Lúcio Costa, em sua coletânea de textos intitulada "Registro de uma vivência" livro publicado em 1995, esclareceu diversas opiniões através de relatos pessoais Enquanto sobre Sylvio de Vasconcellos, a escassez de relatos sobre a vida no período de interesse e a falta de citação bibliográfica, como exemplo o livro Mineiridade, publicado em 1968, tornaram a busca um pouco mais trabalhosa.

A trajetória de vida, lugares onde moraram e estudaram e o contexto da época, início do século XX, foram dados levantados na investigação sobre Lúcio Costa. Nascido em Toulon, na França, em 1902, foi o principal nome teórico da arquitetura moderna no Brasil. A facilidade de acesso à trabalhos, livros e depoimentos deve-se à sua ampla atuação e reconhecimento nacional a partir de obras como o edifício sede do Ministério da Educação e Saúde Pública (MESP), construído no Rio de Janeiro no início dos anos 1940 e Brasília, a capital nacional inaugurada em 1960.

Lucio Marçal Ferreira Ribeiro de Lima e Costa viveu os oito primeiros anos no Brasil e, após retornar com a família para a Europa, permanece até 1916. Neste periodo morou na Inglaterra, Paris e Suíça, o que explicita a vivência infantil de Lúcio em outro contexto social, político e cultural. Mais tarde, conclui a graduação em Arquitetura na Escola Nacional de Belas Artes, no ano de 1924, e desde jovem esteve presente no cenário das transformações estéticas e artísticas no Brasil. Segundo sua filha Maria Elisa Costa1, Lúcio "começou a

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trabalhar muito cedo (em 1922), ainda antes de se formar, tinha talento, desenhava lindamente, e tornou-se logo um jovem arquiteto de sucesso fazendo arquitetura eclética e neocolonial daquele momento."

Autor de uma teoria modernista particularmente brasileira, Lúcio Costa, ao reconhecer, documentar e refletir sobre a arquitetura vernacular colonial, modifica os principais pontos da teórica corbusiana entendendo a produção arquitetônica moderna como evolução natural do colonial brasileiro. Esta constatação é feita, ao descobrir Diamantina, cidade histórica mineira, por influência de José Mariano Filho (1915-1998).

Professor de Lúcio Costa, foi uma dos intelectuais defensores da arquitetura colonial como base para arquitetura eclética vigente, a partir da reprodução dos estilos anteriores que se apresentavam aos clientes através dos catálogos, produzidos pelos arquitetos. Sendo assim, a viagem de Lúcio, a princípio com a função de execução de um catálogo de tipologias, resulta na descoberta da arquitetura vernacular e estabelecimento de relações com a modernidade, como resultado do estudo de evolução das tipologias arquitetônicas.

A simplicidade formal e estrutural das residências coloniais, construídas nos séculos XVIII e XIX, exemplificaram para Lúcio as razões das concepções arquitetônicas modernas, o que resultou em um croqui de evolução das fachadas, apresentado no artigo Documentação Necessária, publicado em 1938, como mostra a Figura 1. Artigo importante não só pela apresentação de um esquema de análise tipológica semelhante à metodologia desenvolvida por Saverio Muratori e publicada nos anos 60, mas por demonstrar a preocupação do arquiteto com relação a falta de conhecimento e valorização da arquitetura nacional, e alerta para a importância da documentação dos edifícios. A semelhança de abordagem morfológica pode ser percebida com os estudos de aplicação do livro Fundamentos de Morfologia Urbana, no qual a evolução tipológica é representada, conforme Figura 1.

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FIGURA 1: Croquis Lúcio Costa, a esquerda, mostrando a evolução das fachadas desde o colonial

mineiro à arquitetura moderna. COSTA, Lúcio. Documentação Necessária, 1938. À direita, o estudo de evolução das fachadas de Ouro Preto, a partir da aplicação da metodologia da escola italiana de

Morfologia Urbana. PEREIRA COSTA, Staël de Alvarenga; GIMMLER NETTO, Maria Manoela. Fundamentos de Morfologia Urbana. Belo Horizonte: C/Arte, 2015.

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Da mesma forma, os estudos sobre evolução urbana de Vila Rica, atual Ouro Preto, elaborados por Sylvio de Vasconcellos, podem ser relacionados à metodologia da escola inglesa de morfologia urbana. O arquiteto brasileiro, nascido em Belo Horizonte em 1916, cresceu em um ambiente propício à ideias preservacionistas pela convivência com o pai Salomão e com o tio avô Diogo de Vasconcellos, importante historiador mineiro. Salomão de Vasconcellos (1877-1965), foi " um insigne historiador de Minas Gerais, autor de obras de grande importância no cenário da produção historiográfica mineira que influenciou toda uma gama de novos historiadores" (Vieira, 2016). Conviveu com importantes intelectuais e políticos mineiros, foi colaborador do SPHAN2, atuando como representante da instituição entre 1938 e 1945.

Sylvio de Vasconcellos. Arquiteto e urbanista mineiro, é o retrato da intelectualidade modernista mineira. Mais conhecido em pequeno circulo intelectual local, a despeito da intensa produção literária e arquitetônica, traduziu para as Minas os conceitos da nova arquitetura. Ao mineiro novo. um novo habitat. Essa era a exigência. (BRASILEIRO, 2008, p.74)

Sylvio graduou-se em arquitetura pela Escola de Arquitetura da Universidade Federal de Minas Gerais no ano de 1944, lecionando na escola entre 1948 e 1969, e conclui, em 1952, o curso de especialização em Urbanismo. Como titular da cadeira de Teoria da Arquitetura, desempenhou pesquisas sobre a história da arquitetura e das cidades mineiras, e no ano de 1953, torna-se um dos primeiros professores catedráticos da Escola.

A tese de concurso para provimento da cadeira, publicada em 1951, "Arquitetura particular em Vila Rica", aborda arquitetura residencial em Ouro Preto, e apresenta a dedicatória feita "A Rodrigo M. F. de Andrade e Lucio Costa". "Vasconcellos desenvolveu um vasto campo investigativo, escrevendo sobre a formação da arquitetura mineira e sobre as novas posturas a serem adotadas, vinculadas ao Movimento Moderno em Arquitetura." (BICALHO e ARAÚJO, 2015, p.85)

No ano de 1964 tornou-se diretor da escola. Simultaneamente à carreira acadêmica, exerceu, entre 1939 a 1969, o cargo de chefe do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional, do então Ministério da Educação e Cultura, Seção Minas Gerais.

A exemplo de Lúcio Costa - que exaltava na arquitetura colonial civil mineira a "saúde plástica" das tipologias - Sylvio conecta as formas e as técnicas tradicionais a mais moderna estética: o termo "barro armado" muitas vezes substitui, em textos técnicos de diversas fontes, a denominação pau a pique." (BICALHO e ARAÚJO, 2015, p.89)

2 Serviço do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nomenclatura vigente entre a data de criação, 1937, e o ano de 1946, com a sigla SPHAN.

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Para Sylvio, passado o delírio eclético, seria possível resgatar a "verdade arquitetônica", como se as expressões de fins do século XIX e início do século XX não passassem de um hiato entre o colonial e o modernismo, não representando os valores culturais do periodo. (BICALHO e ARAÚJO, 2015, p.91)

Os principais estudos de Sylvio de Vasconcellos, analisados paralelamente à escola inglesa, foram publicados em 1956 no livro Vila Rica - Formação e Desenvolvimento residências, no qual croquis demonstram como a ocupação urbana da cidade evoluiu. A pesquisa de Michael Conzen acerca da evolução urbana de cidades inglesas, foi publicada nos anos 60. Na Figura 2 é possível estabelecer relação entres estes estudos, a partir da apresentação de croquis de Sylvio, sobre a evolução urbana de Vila Rica, e o mapa síntese desta mesma evolução, publicado no livro Fundamentos de Morfologia Urbana, gerado a partir da aplicação da metodologia de análise urbana morfológica estabelecida pela escola inglesa.

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FIGURA 2: Croquis Sylvio de Vasconcellos, mostrando a evolução da ocupação urbana de Vila Rica. VASCONCELLOS, Sylvio de. Vila Rica: formação e desenvolvimento-residências. 1956. E o

mapa síntese da evolução urbana de Vila Rica, a partir da aplicação da metodologia da escola inglesa de Morfologia Urbana. PEREIRA COSTA, Staël de Alvarenga; GIMMLER NETTO, Maria

Manoela. Fundamentos de Morfologia Urbana. Belo Horizonte: C/Arte, 2015.

Como conclusão da análise dos estudos morfológicos no Brasil, contatou-se a realização dos estudos, com posterior sistematização e publicação, realizada tanto por Lúcio Costa quanto por Sylvio de Vasconcellos. Porém, a não referencia à estudos anteriores, simultâneos ou troca de informações e influencias, não permite a confirmação da relação entre as tradicionais escolas de morfologia urbana e as análises apresentadas.

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POSSÍVEIS APLICAÇÕES NO ÂMBITO DA PRESERVAÇÃO

CULTURAL

Com o objetivo de compreender a relação entre os estudos morfológicos dos arquitetos Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos, com as questões que permeiam a preservação do patrimônio histórico e artístico cultural, relatórios de tombamento foram analisados buscando esclarecimentos da transformação da teoria em prática. A Figura 3, apresenta trechos de um dos relatórios investigados.

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FIGURA 3: Trechos do parecer de tombamento da Casa à Praça Tiradentes e Casa à Rua São José,

Ouro Preto, Minas Gerais. Disponível em: http://acervodigital.iphan.gov.br/. Acesso em 16 de março de 2017.

As decisões sobre os processos refletiam a estrutura organizacional da instituição e a hierarquia decisória. Tais decisões estão registradas em pareceres técnicos, escritos, em sua maior parte por arquitetos, pelos pareceres das intâncias diretoras IPHAN - Regionais e Divisões e Direção Geral e pareceres de Conselheiros. (REIS, 2012, p. 123)

O parecer da Figura 3, foi emitido em Belo Horizonte, no dia 10 de novembro de 1949, pelo então chefe do 3º Distrito da DPHAN3, Sylvio de Vasconcellos, para o então Diretor Geral Rodrigo Melo Franco de Andrade. O documento apresenta uma lista de monumentos do estado que, segundo o autor, deveriam ser indicados à inscrição no livro do tombo. Contudo o relatório não apresenta as motivações para indicação, bem como são ausentes plantas, croquis ou texto justificativo das escolhas, que contam com edificações religiosas, residências e chefarizes de diversas cidades mineiras.

O arquivo também foi encaminhado ao Diretor da D.E.T.4, cargo ocupado por Lúcio Costa que, com o posicionamento, suscinto concorda com a indicação descrita anteriormente. "De acordo com o tombamento proposto. Á consideração do Sr. Diretor do PHAN.". Este foi um dos documentos analisados que permitiu afirmar a atuação simultânea e colaborativa dos dois arquitetos em estudo, no órgão nacional de proteção do patrimônio, e que proporcionou embasamento para a conclusão da ausência de comprovação documental do uso da metodologia da morfologia urbana como instrumento de preservação de edifícios, cidades e paisagens. Para compreender a estrutura do SPHAN:

A estrutura era composta pela Diretoria Geral e a ela estavam surbodinadas as Divisões de Estudos de Tombamento (DET) e de Conservação e Restauração (DCR), além do Serviço Auxiliar. A Divisão de Estudos e Tombamento compreendida a Seção de Arte e a seção de História, enquanto a Divisão de Conservação e Restauração abrangia a Seção de Projetos e a Seção de Obras. (REIS, 2012, p.119)

3 Diretoria do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional. Nomenclatura vigente entre os anos 1946 e 1970, com a sigla DPHAN.

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"Em relação às cidades históricas mineiras, o procedimento adotado pelo IPHAN no tombamento dos conjuntos urbanísticos foi contrário ao habitual." Segundo REIS, 2012, tal tratamento deve-se a "profusão de exemplares do periodo colonial, construídos durante o ciclo da mineração", além da manutenção de "características originais preservadas até aquele momento", final da década de 60, devido ao "isolamento geográfico e pela estagnação econômica [...], ao contrário do que aconteceru em grandes centros urbanos."

A postura priorizada pelo Instituto - de tombar o conjunto de elementos representativos da arquitetura colonial - se realizou, segundo Maria Cecília Londres Fonseca, a partir de dois aspectos: o perigo que representava a aceleração do crescimento urbano e a desconsideração da população pelos objetos antigos, considerados velharias sem valor, passíveis de extinção. A permanência de tais objetos constituía um entrave ao desenvolvimento das cidades, e sua manutenção impedia justamente a inserção de novas edificações. (REIS, 2012, p 117)

IMPORTÂNCIA DA DOCUMENTAÇÃO COMO FONTE DE PESQUISA

Registrar é uma prática comum na história da humanidade e permitiu, ao longo do tempo, o conhecimento, análise e reprodução de acontecimentos e fatos históricos. Importante a curto ou longo prazo, a documentação permite a investigação de terceiros em periodos temporais que, em alguns casos, impedem o contato com os envolvidos. Este é o caso da referida pesquisa.

Se da Antiguidade Clássica à Revolução Francesa, os documentos desempenharam um papel de prova e demonstraram o exercício do poder por parte das administrações, consolidando a noção de arquivos de Estado e dos Arquivos Nacionais, é no século XIX que se atribuiu aos documentos um valor de testemunho para a reconstituição da História, criando-se a dicotomia que, para alguns, ainda persiste no papel, nas funções e no trabalho com os documentos de arquivo. (INDOLFO, 2007, p. 29)

A utilização de documentos nas pesquisas acadêmicas e produções científicas, faz-se primordial uma vez que são elementos representativos de seu tempo, seja pela forma que se apresentam ou conteúdo, relacionando a memória à história, passível de disseminação da informação. No processo metodológico estabelecido para a pesquisa, foram incorporados métodos exploratórios de pesquisa bibliográfica e documental, na busca por raízes ideológicas.

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A pesquisa bibliográfica e documental, que tem como objetivo tomar conhecimento dos registros textuais ou fotográficos, é essencial já que, através do material recolhido, ocorre a compilação de informações que poderão responder aos questionamentos levantados, direta ou indiretamente. Na etapa de concepção do projeto de pesquisa foram elaboradas hipóteses sobre a aplicação das metodologias de análise morfológica de Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos nas diretrizes e determinações de preservação do patrimônio histórico nacional.

Em casos nos quais as buscas não resultam em informações suficientes, a ausência de dados também indica respostas. Na pesquisa em questão, buscou-se entender o motivo da ausência de referenciais teóricos, não sendo possível comprovar as relações com os estudos morfológicos tradicionais. As hipóteses sugeridas permeiam a ausência do costume de sistematizar metodologias e citar referências bibliográficas.

Por outro lado, a constatação da carência de informações foi um importante dado para a continuidade na busca dos documentos e reflexão acerca das metodologias de estudo e trabalho dos arquitetos brasileiros a partir da década de 30.

De acordo com o Arquivo Nacional (2011), o fator determinante que confere a um documento a sua condição de documento arquivístico é que ele faça parte de um conjunto orgânico e cumpra uma determinada função ao ser produzido; desta forma, qualquer ação ou acontecimento que se deve comprovar precisa da produção de um documento.(MERLO e KONRAD, 2015, p. 29)

No âmbito desta pesquisa, foi constatado que, o maior desafio não se concentra na falta de acesso aos documentos, e sim a ausência de fato de tais registros uma vez que a prática da citação não era usual. Ou seja, os estudos e aplicações não geraram dados suficientes para análises no presente momento, capazes de gerar confirmações de algumas hipóteses levantadas na pesquisa.

No processo de investigação sobre as metodologias européias, constatou-se que os estudos da escola inglesa, desenvolvidos por Michael Conzen, foram sistematizados e publicados no livro "Alnwick, Northumberland: a study in town plan analysis", em 1960. Com relação as investigações da escola italiana, elaborados por Saverio Muratori, a organização e publicação foram realizadas pelos alunos Gianfranco Cannigia e Gian Luigi Maffei.

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Sendo assim, explicitado o procedimento de pesquisas científicas baseadas em análises documentais, tem-se a prática do registro como essencial para toda e qualquer investigação, visto que toda a reflexão, estudo, conhecimento e análise é baseada nos registros existentes e acessíveis. Esse patrimônio documental deve ser reconhecido e preservado, como forma de garantir, sustentando ou refutando, análises presentes, estabelecendo relações entre o próprio documento, a história e a memória.

PARCIALIDADE DE INFORMAÇÕES

A pesquisa sobre os arquitetos Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos buscou a compreensão da formação do pensamento de cada um, baseado na trajetória de vida e atuação profissional. Foi realizado o levantamento e investigação de livros, fotos, documentos, mapas e croquis entendidos como essenciais para a identificação de justificativas do modo de pensar, referenciais teóricos, relações pessoais e influências.

Neste processo de levantamento das informações, a prática da documentação em periodos temporais anteriores faz-se primordial já que compõem o único acesso aos acontecimentos passados, ou seja, todos os dados relativos à vida dos arquitetos deveriam estar devidamente registrados, o que não foi constatado ao longo da pesquisa. Para o desenvolvimento de uma análise completa da constituição das ideias e das metodologias de estudos entende-se como necessário informações pautadas na educação e nas bases conceituais e teóricas utilizadas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Na investigação da origem dos estudos morfológicos no Brasil, os arquitetos Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos, foram elencados como possíveis precursores. A partir da identificação de semelhanças entre as pesquisas realizadas por estes e as metodologias desenvolvidas pelas tradicionais escolas de morfologia urbana, inglesa e italiana, buscou-se entender os precedentes teóricos das figuras brasileiras. Posteriormente, estas informações foram base para compreensão da atuação dos arquitetos no órgão responsável pela preservação do patrimônio histórico e artístico nacional.

Lúcio Costa, principal teórico modernista brasileiro, expandiu os conceitos modernos tradicionais ao compreender a arquitetura proposta pelo movimento, como evolução do colonial mineiro. A partir do desenvolvimento de estudos tipológicos, similares aos estudos

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do italiano Saverio Muratori, levanta a questão do reconhecimento, valorização e preservação patrimonial e documental.

O mineiro Sylvio de Vasconcellos, estudioso da formação da arquitetura mineira e a evolução urbana, produziu mapas e croquis que se assemelham aos desenvolvidos pelo geógrafo inglês Michael Conzen. Sua atuação no SPHAN, estabelecendo diálogos com Lúcio Costa, teve início ainda antes de sua formação porém não há registros concretos da aplicação da metodologia de estudo nos pareceres técnicos emitidos.

A dificuldade de se estabelecer relações entre os estudos europeus e brasileiros, faz-se pela documentação e publicação incompleta dos dados. Hora por falta de referencias bibliográficas em livros publicados, hora pela inexistência de elementos teóricos essenciais para compreensão da formação intelectual dos arquitetos.

O mesmo desafio foi enfrentado na tentativa de comprovação da aplicação dos estudos morfológicos apresentados por Lúcio Costa e Sylvio de Vasconcellos em determinações patrimoniais e diretrizes de políticas de preservação. A ausência de justificativas técnicas nos pareceres analisados não permite tal afirmação. Por fim, sugere-se, como continuidade da pesquisa, a investigação de dossiês de tombamento que podem conter textos detalhados sobre as motivações de indicação de tombamento, o que pode indicar, e afirmar, a prática dos estudos morfológicos como ferramenta da preservação patrimonial.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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Referências

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