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A prática profissional no campo da adoção : um estudo sobre família

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Academic year: 2021

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(1)UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO PROGRAMA DE PÓS-GRADUÇÃO EM SERVIÇO SOCIAL. EDINEIDE MARIA DA SILVA. A PRÁTICA PROFISSIONAL NO CAMPO DA ADOÇÃO: UM ESTUDO SOBRE FAMÍLIA. RECIFE 2006.

(2) EDINEIDE MARIA DA SILVA. A PRÁTICA PROFISSIONAL NO CAMPO DA ADOÇÃO: UM ESTUDO SOBRE FAMÍLIA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-graduação em serviço Social d Universidade federal de Pernambuco, como requisito parcial para a obtenção do grau de Mestre em Serviço Social. Orientadora: Profª Maria de Fátima Souza Santos (UFPE). Co-orientador do Professor. Paulo Rogério Meira Menandro (UFES). UFPE Recife, 2006.

(3) Silva, Edineide Maria da A prática profissional no campo da adoção : um estudo sobre família / Edineide Maria da Silva. – Recife : O Autor, 2006. Dissertação (mestrado) – Universidade Federal de Pernambuco. CCSA. Serviço Social, 2006. Inclui bibliografia e anexos. 1. Família - Brasil. 2. Adoção - Brasil. 3. Serviço social - Prática. 4. Representações sociais. I. Título. 364 362. CDU (1997) CDD (22.ed.). UFPE CSA2010-001. 3.

(4)

(5) À Luísa Maria, minha flor do maracujá, pela paciência com as minhas ausências e incentivo sorridente ao meu trabalho..

(6) AGRADECIMENTOS. Aos meus pais, pelo amor, educação e incentivo a uma vida de respeito ao outro e por acreditarem na minha vida profissional, num conhecimento formal e em todo investimento para que minhas conquistas se concretizassem. A minha irmã Edjane, pelo exemplo na área de Serviço Social e dedicação na inclusão social. Ao meu irmão Marcos, pela disponibilidade em oferecer ajuda e pela alegria com que vive. Aos meus amigos, Carlos e Charmênia, pelo respeito, carinho, por terem sido os grandes incentivadores da minha pesquisa e pelo apoio fundamental para que ela chegasse ao fim. A Marli, por todo o apoio estratégico e por cuidar tão bem da minha filha. A Anamaria pela amizade cuidadosa, pelos risos, e ajuda nos momentos mais difíceis e por mostrar que uma mão amiga é tudo o que mais necessitamos. A Julieta Cristina, Juju, minha amiga de tantos anos, parceira de sorrisos e lágrimas. A Patrícia Uchôa, minha amiga, por todas as parcerias e pelo incentivo à pesquisa. A Carlos Santos, pela amizade de tantos anos e pelo estímulo à escrita Ao meu amigo Paulo Vasconcelos, pelos momentos de alegria, carinho e por estimular o caminho da pesquisa e da escrita pelo estímulo à escrita. A Cláudio Margolis pela amizade e pelo Abstract. A Marcelo Wilker pelas sugestões bem-humoradas. A minha orientadora Maria de Fátima Souza Santos por incentivar e acreditar na minha pesquisa, pela competência e seriedade profissional, pelos ensinamentos, disponibilidade e pela amizade que podemos construir em meio aos desafios do conhecimento, cumprimento de prazos e “angústias” intelectuais. Ao meu co-orientador Professor Paulo Rogério Meira Menandro pela competência e seriedade profissional, pela acolhida em Vitória do Espírito Santo, zelo com a minha segurança e com os meus dados de pesquisa, pela grande disponibilidade e sugestões preciosas na construção da minha dissertação..

(7) Aos professores, funcionários e colegas do programa de Pós-graduação em Serviço Social, em especial, a profª Anita Aline, pelos ensinamentos em metodologia científica, pelo incentivo à pesquisa e pela atenção e zelo com as minhas questões. Aos colegas do Mestrado, parceiros na busca pelo saber. As minhas amigas e parceiras da CEJA-PE, Ana Elizabeth, Maria de Lourdes e Linderfrance, por todo apoio recebido e incentivo nos dias difíceis. Ao Juiz Élio Braz Mendes, por confiar em meu trabalho, pelo estímulo dado na busca pelos meus conhecimentos científicos e por acreditar e trabalhar pelo interesse superior da criança. A Juíza Maria da Conceição Siqueira e Silva, por ter autorizado a realização desta pesquisa na sua comarca. A CAPES/PROCAD por apoiar esta pesquisa. E em especial, às assistentes sociais, psicólogas e psicólogo que se dispuseram a participar desta pesquisa, confiando nos seus objetivos, compartilhando comigo sua prática e me ensinando e estimulando a buscar novos conhecimentos.. 7.

(8) LISTA DE SIGLAS. ECA.................................... Estatuto da Criança e do Adolescente DNCr................................. Departamento Nacional da Criança FCBIA...............................Fundação Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência FEBEM............................. Fundação do Bem Estar do Menor FUNDAC.......................... Fundação da Criança e do Adolescente FUNABEM........................ Fundação Nacional do Bem-Estar do menor SAM................................... Serviço Nacional de Menores RS..................................... Representações Sociais TRS.................................. Teoria das Representações Sociais.

(9) LISTA DE TABELAS E FIGURAS. Tabela 1 - Categorias das respostas da associação livre de família e adoção Dendograma 01 – Parecer Favorável Tabela 2 - Parecer Favorável Dendograma 02 – Parecer Desfavorável Tabela 03 – Parecer Desfavorável.

(10) VERDADE A porta da verdade estava aberta, mas só deixava passar meia pessoa de cada vez. Assim não era possível atingir toda a verdade. Porque a meia pessoa que entrava Só trazia o perfil de meia verdade. E sua segunda metade Voltava igualmente com meio perfil. E os meios perfis não coincidiam. Arrebentaram a porta. Derrubaram a porta. Chegaram ao lugar luminoso Onde a verdade esplendia seus fogos. Era dividida em metades, Diferentes uma da outra. Chegou-se a discutir qual a metade mais bela. Nenhuma das duas era totalmente bela. Carecia optar. Cada um optou conforme Seu capricho, sua ilusão, sua miopia. Carlos Drummond de Andrade.

(11) SUMÁRIO. 1. FAMÍLIA............................................................................................................. 13. 1.1. Aspectos históricos e sua contemporaneidade..................................................... 13. 1.2. Família no Brasil: Algumas discussões............................................................... 19. 1.3. Família: aspectos legais....................................................................................... 23. 2. ABANDONO INFANTIL E ADOÇÃO............................................................. 27. 2.1. O Papel do Estado e da Sociedade....................................................................... 27. 2.2. Adoção: um pouco de história............................................................................. 31. 2.3. Adoção: aspectos legais e o papel da equipe interprofissional............................ 32. 3. PRÁTICA PROFISSIONAL E SEUS ENTRELACES NA ADOÇÃO............. 38. 4. O CAMPO DE ESTUDO DAS REPRESENTAÇÕES SOCIAIS...................... 42. 5. OBJETIVOS........................................................................................................ 54. 5.1. Objetivo geral...................................................................................................... 54. 5.2. Objetivos específicos........................................................................................... 54. 6. MÉTODO............................................................................................................ 55. 6.1. Sujeitos................................................................................................................ 55. 6.2. Material e procedimento de coleta....................................................................... 56. 7. ANÁLISE DOS DADOS E DISCUSSÃO.......................................................... 59. 7.1. Dificuldades e desafios na prática profissional................................................... 62. 7.2. A fundamentação de uma prática........................................................................ 70. 8. PARECER: o escrito registrando representações sociais.................................... 88. 8.1. Parecer favorável................................................................................................. 88. 8.2. Parecer desfavorável............................................................................................ 92. 9. CONCLUSÃO.................................................................................................... 100. REFERÊNCIAS................................................................................................................ 106 ANEXOS........................................................................................................................... 112.

(12) RESUMO. O presente trabalho objetivou estudar a prática profissional no contexto da adoção, a fim de identificar o modo como os profissionais lidam com o tema família no cadastramento de pretendentes à adoção, em função dos novos arranjos familiares que se apresentam na sociedade e das formalizações legais na definição de família e das novas discussões teóricas O estudo teve como aporte teórico a Teoria das Representações Sociais e foi realizado em duas etapas. Na primeira etapa, foram entrevistados 09 técnicos que atuam na área da infância e juventude da região metropolitana do Recife. As entrevistas foram analisadas a partir da análise de conteúdo. Na segunda etapa, foram analisados, 87 pareceres emitidos no cadastramento de pretendentes à adoção. Os pareceres foram analisados através do software de análise quantitativa de dados textuais, o ALCESTE. Os resultados obtidos apontaram para representações sociais de família, cujo modelo é identificado ao nuclear, no qual as figuras do homem e da mulher são necessárias à formação e desenvolvimentos dos filhos. A família foi representada como um ambiente de proteção e refúgio. Os pareceres emitidos confirmam o superior interesse da criança e do adolescente, previsto em lei e o modelo de família idealizado, que se caracteriza como um espaço de harmonia e de afetos. As figuras do idoso e os arranjos homossexuais são identificados como as últimas opções para a colocação de família substituta, confirmando ainda que a ação profissional no contexto de adoção encontra-se entrelaçada a outras representações sociais, a exemplo do idoso e da homossexualidade. Por fim, destacamos a importância do trabalho interdisciplinar para um fenômeno complexo como a família, em especial no Judiciário, a fim de possibilitar a reflexão sobre o conceito hegemônico e tradicional de família e lidar com os novos arranjos e possibilidades familiares como uma realidade que se apresenta no campo da adoção, esta uma medida de proteção à infância e adolescência abandonadas. PALAVRAS-CHAVES: Família. Adoção. Prática Profissional. Representações Sociais..

(13) ABSTRACT The purpuse of this work was to study the professional practice of the judiciary’s technical personnel in the field of adoption. The study intended to analise the way these professionals dealt with the concept of family. Direct interviews with 09 professionals and study of 87 technical recommendations for adoption processes were used to identify how this personnel viewed new family patterns, new legal definitions of family and recent theoretical discussions on the matter. The theoretical basis for the study was provided by the Social Representations Theory. The research was carried out at the Childhood and Youth Department in Recife. An analysis of content was applied to interviews. As for the documents of technical recommendations, the software ALCESTE was used for quantitative analysis of text data. The results suggest that the recommendations were mainly based on the traditional nuclear family concept. Therefore, the presence of a man and a woman was considered a necessary condition for upbringing. The family was represented as an environment of harmony and protection. The study showed that the professionals’ first concern was the children’s well-being, which is in accordance to the law and with the idealized model of family. Elderly people and homosexuals applying for adoption were thought of as the last options. This confirms the influence of various social representations, such as that of homosexuality and old age, in the analysis of adoption processes by professionals in the Judiciary. Therefore, we emphasize the importance of interdisciplinary work within the Judiciary in such a complex matter as the family. The sort of work could allow a more profound reflection on the hegemonic and traditional idea of family and woul help professionals in dealing with new family patterns as options for adoptions, which could broaden the possibilities of protecting childhood and adolescence. KEYS WORD: Family. Adoption. Social Representations. Professional Practice.

(14) 14. 1. FAMÍLIA. 1.1 Aspectos históricos e sua contemporaneidade. O Estatuto da Criança e do Adolescente (1990) ao tratar do Direito à convivência familiar e comunitária, aponta claramente o lugar de destaque da família nas condições necessárias ao desenvolvimento saudável da criança e do adolescente. O direito da criança e do adolescente de ser criado e educado no seio de sua família e, excepcionalmente, em família substituta, assegurando-se a convivência familiar e comunitária, garantido pelo Estatuto, revela a responsabilidade da família enquanto espaço social. Nela, deverão ser garantidos os direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade. Ao se discutir sobre o tema família, já se tornou quase unanimidade que tal instituição mostra-se com inúmeros arranjos, dinâmicas e que não é mais possível falar apenas em um modelo de família, embora se considere uma certa hegemonia em determinada constituição, como o modelo nuclear, representado pelas figuras do homem, mulher e filhos. Mudanças têm sido observadas, que apontam para uma tendência geral associada às transformações no mundo do trabalho, no contexto econômico, bem como a difusão generalizada da informação no mundo, destacando-se assim, novas perspectivas quanto ao poder patriarcal, a diminuição no tamanho das famílias e novos papéis da mulher na constelação familiar (GARCIA, 2003). Definir o termo família, não parece ser tarefa fácil, sem tomar por base perspectivas teóricas e abordagens disciplinares. Seu estudo vem ocorrendo em vários âmbitos da sociedade, tendo sido alvo de políticas sociais. _________________________ Este trabalho fez parte do convênio firmado entre as pós-graduações da Universidade Federal de Pernambuco e a Universidade federal do Espírito Santo e Universidade de Brasília, no âmbito do Programa de Cooperação Acadêmica Nacional (PROCAD/CAPES) no ano de 2005. Participamos e apresentamos parte dos dados no Simpósio Nacional de psicologia Social e do Desenvolvimento – PROCAD- Psicologia/ CAPES na Universidade Federal do Espírito Santo, em outubro de 2005..

(15) A família pode ser compreendida enquanto locus de produção de identidade social básica para qualquer criança, objetivando uma cidadania ativa. Para os pobres, associa-se àqueles em quem se pode confiar e como um tipo de relação, na qual as obrigações morais são a base fundamental. A família se apresenta como ordem moral, que se funda num dar, receber e retribuir contínuos, sendo referência simbólica fundamental, uma linguagem através da qual os pobres traduzem o mundo social, orientando e atribuindo significado a suas relações dentro e fora de casa. (NEDER, 1997). Sob a perspectiva da família conjugal, ela se apresenta como um grupo necessário, que cuida biológica e psicologicamente de um ser dependente, na qual há a idéia de proteção exercida por um grupo formador de identidades pessoais, seja ele biológico ou não. O processo de formação da personalidade é localizado no interior da família e da convivência íntima. (PONCIANO e FERES-CARNEIRO, 2003). Consideramos importante para o avanço na discussão dessa instituição, fazermos uma breve trajetória nas transformações ocorridas nas características centrais da família ao longo da História. Nessa trajetória, poderemos identificar vários aspectos da sua dinâmica e estruturação interna, bem como do seu papel nas sociedades. Os clássicos estudos de Ariès (1981) tentam mostrar que a idéia de família natural é uma criação histórica, é mutável e assume características diversas. O sentimento de família, ou seja, pai, mãe e filho, como valor era algo desconhecido na Idade Média e tal sentimento só nasceu nos séculos XV e XVI. A família existia como realidade vivida, “seria paradoxal contestála. Mas ela não existia como sentimento ou como valor” (p.273) Para o autor, observar o lugar da criança na família é primordial, pois:. Entre o fim da Idade Média e os séculos XVI e XVII, a criança havia conquistado um lugar junto aos pais, lugar este que não poderia ter aspirado no tempo em que o costume mandava que fosse confiada a estranhos. Essa volta das crianças ao lar foi um grande acontecimento: ela deu á família do século XVII sua principal característica, que a distinguiu das famílias medievais [...] Essa família do século XVII, entretanto, não era a família moderna: distinguia-se desta pela enorme massa de sociabilidade que conservava (ARIÈS, 1981, p. 270). 15.

(16) Na família medieval a educação se confundia com a inserção das crianças nas atividades dos adultos que ocorria na maioria das vezes, nas ruas, a partir do convívio com pessoas mais próximas. As trocas afetivas e comunicações sociais eram realizadas em um ambiente mais amplo, caracterizando-se o que alguns historiadores chamaram de “sociabilidade”. A família cumpria a sua função de assegurar a transmissão da vida, dos bens e dos nomes. A família se transformou profundamente na medida em que modificou suas relações internas com a criança. Passou a ser uma preocupação na dinâmica familiar a sua educação e a preparação para a vida futura, sendo a escola o seu principal complemento e sua função de ser apenas uma instituição do direito privado para a transmissão dos bens e dos nomes passando a assumir a função moral e espiritual, formando assim corpos e almas. (ARIÈS, 1981, p. 277) Com o surgimento da escola, a partir do século XVI, da privacidade, da preocupação de igualdade entre os filhos, e da permanência das crianças junto aos pais, tendo a igreja um papel importante na valorização do sentimento de família, começa a se delinear no início do século XVIII a família nuclear burguesa. A partir desse período, a família passou a manter a sociedade à distância em um espaço confinado, cada vez mais longe da zona extensa da vida particular. A família moderna, diferentemente, separa-se do mundo e se opõe à sociedade o grupo solitário dos pais e filhos. A família, portanto, se une pelo sentimento, o costume e o gênero de vida, abandonando as promiscuidades impostas pela antiga sociedade. Essa ascendência moral pode ser compreendida como um fenômeno burguês. Para Áries, “Com o tempo a vida familiar estendeu-se a quase toda sociedade, a tal ponto, que as pessoas esqueceram de sua origem aristocrática e burguesa”. (ARIÈS, 1981, p. 271). Szymanski (2000, p. 24), apoiando-se em Maturana (1993), considera que além de tal esquecimento, foi esquecido também a “origem histórica dos valores, crenças e normas inerentes a esse modelo de família. Aceitaram, como verdade estabelecida, a relação baseada na hierarquia e subordinação, poder e obediência”. Tal modelo centrado na criança, no lar e no patrimônio, caracterizado pelo padrão emocional em torno da autoridade paterna e do amor parental pelos filhos, foi disseminado no meio burguês, antes de ser estendido a toda sociedade. No meio da população pobre, mais 16.

(17) numerosa, observou-se ainda por muito tempo, o modelo medieval, com suas crianças afastadas dos pais (OSTERNE, apud, PIO, 2003, p.55). Giddens (1993) destaca que o domínio direto do homem sobre a família, que na realidade era extenso, permaneceu até quando o homem era o centro do sistema de produção, até a última parte do séc. XIX, e foi enfraquecendo a partir da separação entre o lar e o local de trabalho. O controle das mulheres com relação à criação dos filhos aumentou na medida em que as famílias ficavam menores e as crianças passaram a ser vistas como vulneráveis e necessitando de um treinamento emocional a longo prazo. A figura da mãe idealizada foi parte integrante da moderna construção da maternidade (p. 53-54). Há a contribuição de Engels (1981) para a discussão do modelo monogâmico de família, como resultante das condições históricas das relações capitalistas de produção.. A monogamia nasceu da concentração de grandes riquezas nas mãos de um homem [...] e do desejo de transmitir essas riquezas por herança aos filhos deste homem, excluindo os filhos de qualquer outro. Por isso era necessária a monogamia da mulher, mas não do homem; tanto assim que a monogamia daquela não constituiu o menor empecilho à poligamia, oculta ou descarada deste (ENGELS, 1981, p. 82).. A família monogâmica, para o autor, reflete fielmente sua origem histórica e é uma manifestação das relações conflituosas entre o homem e a mulher originadas pela dominação masculina, reproduzindo os antagonismos, dentro dos quais se move a sociedade capitalista. Numa perspectiva antropológica, Sarti (1999, p. 41), considera que a família constitui um terreno privilegiado para estudar a relação entre a natureza e a cultura. A família é a concretização de um a modo de viver os fatos básicos da vida, havendo nela uma relação com o parentesco, mas não se confunde com ele. No parentesco podemos identificar três tipos básicos de relação: a relação de consangüinidade entre os irmãos, a relação de descendência - pai e filho, mãe e filho - e a relação de afinidade, através do casamento. Esses três tipos de relação existem e compõem uma estrutura abstrata presente em todas as sociedades humanas, sendo, portanto, universais. Segundo a autora, Lévi-Strauss, (1947) em sua obra principal, “As estruturas elementares do parentesco”, ao retirar da família biológica o foco principal e voltando sua 17.

(18) atenção para o sistema de parentesco, deu um passo decisivo para a desnaturalização da família. Conforme ele, a família não deveria ser pensada como átomo de parentesco, como uma unidade biológica, pai, mãe e filho e sim como uma atualização de um sistema mais amplo. Dessa forma, ao dissociar o átomo de parentesco da unidade biológica, Levi-Strauss provocou uma verdadeira inflexão nos estudos de parentesco, uma vez que os laços de parentesco passam a ser vistos como um fato social e não um fato natural. O átomo de parentesco deve ser compreendido não apenas pelo ser, pois, para o autor, a família entra no terreno da cultura e não está fundamentada na natureza biológica do homem, mas na natureza social: as famílias se constituem como aliança entre grupos. A explicação das mudanças na família, no mundo contemporâneo, para Sarti (2002), está relacionada com a perda do sentido de tradição. A tradição vem sendo abandonada como em nenhuma outra época da história. O amor, o casamento, a família, a sexualidade e o trabalho, vividos, anteriormente, como papéis preestabelecidos, na contemporaneidade são concebidos como parte de um projeto em que a individualidade é o que decisivamente conta e vem adquirindo uma importância social cada vez maior. Nesse sentido, a afirmação da individualidade resulta em implicações evidentes nas relações familiares, cuja fundação está baseada no princípio da reciprocidade e da hierarquia. Seguindo as proposições de Sarti (2002), Amazonas, Damasceno, Terto e Silva (2003), realizaram uma pesquisa na cidade do Recife, que tinha por objetivo estudar o funcionamento e os arranjos familiares de crianças de uma escola pública da referida cidade. Os resultados mostraram vários tipos de arranjos familiares, predominando a família nuclear. No entanto, os autores reforçam que nas famílias das camadas populares que foram estudadas, há a necessidade de pessoas dentro dos seus lares para ajudar no cuidado dos seus filhos e, muitas vezes, dividindo as despesas da casa. Não raramente, a família nuclear é substituída pela extensa, uma vez que a solidariedade entre os parentes e entre os vizinhos é condição primordial para a sobrevivência dessas famílias em situação de carência financeira. A pesquisa aponta, também, para a presença da mulher assumindo papel central, de provedora. E, em oposição, os homens aparecem de forma fragilizada, manifestada através do desemprego, envolvimento com a polícia, uso de drogas. Nos casos de monoparentalidade, a sua existência necessariamente pode significar 18.

(19) um modelo alternativo de relações familiares, mas também uma impossibilidade de realização do modelo ideal, com a mãe em casa, o pai no trabalho e a criança na escola. De acordo com Neder (1994), não existe, histórica e antropologicamente falando um modelo padrão de organização familiar, ou seja, não existe a família regular, tampouco o padrão europeu de família patriarcal, do qual deriva a família nuclear burguesa, e que esta seja a única possibilidade histórica de organização familiar, adequada a orientar a vida cotidiana no caminho do progresso e da modernidade. Para a autora, apoiando-se em Todorov (1989) “pensar as famílias de forma plural pode significar uma construção democrática baseada na tolerância com as diferenças com o Outro” (NEDER, 1997, p, 28). Bilac (1995, p. 31) destaca que a variabilidade histórica da instituição família é um desafio para qualquer conceito geral, pois a generalização do termo família para designar instituições e grupos historicamente tão variáveis, leva a ocultar as diferenças nas relações entre a reprodução e as demais esferas da vida social. Acrescenta ainda que nas sociedades modernas de classe, há um descolamento crescente na produção em relação a outras esferas da vida social. O que se percebe é uma crescente especialização institucional. Cada dimensão da sociedade tem suas instituições próprias e assim, também, a reprodução passa a ser organizada por instituições específicas. A família pode ser concebida como instituição fundada na e para a reprodução quotidiana e geracional dos seres humanos. Com um enfoque mais dirigido à importância da família na constituição do indivíduo, Minayo (1996), afirma que na família acontecem fatos importantes: a descoberta do afeto, da subjetividade, da sexualidade, a experiência de vida, a formação da identidade pessoal, o nascimento e a morte. A família reflete as mudanças que ocorrem na sociedade, mas atua também sobre ela, fazendo dela própria um centro importante da vida social, representando assim, o espaço privado em constante relação com o espaço público. A autora lista uma série de alterações que vêm ocorrendo no contexto da família, tais como o casamento e procriação mais tardios; aumento de divórcios e casamentos extraconjugais; aumento de famílias monoparentais; redução do número de filhos; a finalidade da união não é mais basicamente ter filhos; a geração de filhos através da concepção em laboratório; o concubinato e a união experimental e livre com maior aceitação social do que em épocas 19.

(20) passadas; modificação na atuação do homem e da mulher na sociedade; socialização dos filhos, sendo quase inteiramente transferida para os serviços públicos ou privados.. 1.2 Família no Brasil: algumas discussões. Historicamente sabemos que a família, no Brasil, sempre foi pensada como uma instituição que moldou os padrões de colonização e ditou normas de condutas desde o período da colonização. Todavia, até algumas décadas atrás, pouco se sabia sobre o perfil dessa família. Segundo Samara (1990), predominava na literatura uma imagem vinculada ao modelo patriarcal abordado pelos estudos de Gilberto Freyre (1987) em Casa Grande e Senzala, sendo suas idéias reconhecidas como decisivas na configuração do modelo patriarcal da família brasileira. Pesquisas mais recentes (Samara, 2002; Souza e Botelho, 2001) têm apontado para o fato de que as famílias do tipo patriarcal extensas não foram as únicas predominantes, sendo mais comuns aquelas que se caracterizavam com estruturas mais simples e menor número de integrantes, indicando assim que a descrição de Freyre (1987), para as áreas canavieiras foi indevidamente utilizada, sendo necessários novos estudos de família que considerem tal descrição levando em consideração a temporalidade, etnias, grupos sociais, e contextos econômicos regionais, razão e sexo e movimento da população. Sâmara (2002, P. 44-45) afirma que pesquisas realizadas na primeira metade do século XIX identificaram que os domicílios das pessoas pobres, com destaque para os estados de Minas Gerais e Bahia, eram em sua maioria, chefiados por mulheres, que tinham o trabalho da família como o suporte para a sobrevivência, organizava as tarefas e gerenciava os pequenos negócios. Nesses casos, as crianças, adultos dependentes e agregados ajudavam a “engrossar” a renda familiar. No Nordeste, a estrutura da família em geral, se comparada com a do Sul, era mais complexa. Mas os homens e mulheres dividiam deveres e trabalhavam para a sobrevivência do grupo, segundo pesquisa do Censo de Fortaleza em 1887. 20.

(21) Souza e Botelho (2001), fazem referências aos estudos de Sylvio Vasconcelos, a respeito da caracetrização da mineiridade, em especial sobre a região influenciada pelo ouro, destaca que o paternalismo se dissolve nas Minas urbanas ou ruralizadas, predominando os matriarcados onde eles “não facilitam oligarquias, seccionadas pela inexistência de linha sucessória masculina rígida, pelas demandas infindáveis em torno de heranças e pelas descendências ilegítimas” (p. 11) Goldani (1993) ao abordar as famílias no Brasil contemporâneo, avalia que juntamente com a visão nostálgica de uma imagem de família do passado, com casal, filhos e grupo de parentesco que se complementavam, convivem novas referências que parecem fundamentar a visão negativa da crise da família. Surge o estereótipo da família de “classe média urbana”, utilizada como modelo pela mídia. Tal modelo ainda está centrado nas funções reprodutivas e nele, evidentemente, a criança ocupa um lugar destacado. Neste modelo, o individualismo, a privacidade e as relações afetivas entre os seus membros passaram a ter maior relevância, originando novos padrões de sociabilidade. Os estereótipos extremos de família “patriarcal”, associado com o “tradicional” e a referência “moderna” de família “classe média urbana”, encontram apoio para a percepção pública da chamada “crise da família”. Atribui-se à variedade de arranjos domésticos dos grupos populares, sobretudo as famílias monoparentais e, em especial, mulheres com filhos, uma maior instabilidade do vínculo conjugal, fato que tem alimentado o mito da desorganização familiar entre os pobres. Tal concepção se encontra arraigada nos mais diversos setores profissionais e acadêmicos. (GOLDANI, 1993, p. 74). Mesmo que no Brasil predomine um modelo hegemônico de autoridade e hierarquia na família, não se podem negar as profundas transformações nas relações entre homem e mulher, pais e filhos, dos mais velhos aos mais novos. As decisões resultam cada vez mais de uma negociação, com a participação e influência de todos os membros. Há processos de barganha entre os membros que estariam levando à novas dinâmicas e arranjos familiares. As formas dessas ocorrências e o poder relativo dos membros na família variam por sexo, por gerações, bem como de acordo com as etapas do ciclo vital familiar e diferenciadas por grupos e contextos sociais.. 21.

(22) Para Goldani, não há desagregação da família, tampouco a sua substituição por outras instituições e sim, mudanças no sentido de um modelo mais informal e democrático de relações, havendo espaço para interdependência das trajetórias individuais. Nesse sentido, os “arranjos domésticos familiares tomam novas formas, tamanhos e significados” (GOLDANI, 1993, p.100). A circulação de crianças em camadas pobres aponta para a temática interessante das dinâmicas familiares “alternativas” ao modelo hegemônico de família nuclear, e que essa hegemonia não se exerce da mesma forma em todas as camadas sociais. O cuidado de uma criança é um assunto que não está limitado à mãe nem ao casal. Tal cuidado mobiliza uma rede de adultos que se estende além do próprio grupo de parentesco. (FONSECA, 2002). Em resumo, as pesquisas apresentam uma imagem da família no Brasil como uma “sociedade multifacetada, móvel, flexível e dispersa”. (CORRÊA, apud, SOUZA E BOTELHO, 2001, p. 03). Os indicadores sociais do IBGE (2001), apontam as novas transformações sociais brasileiras. Em relação às dissoluções de casamento, entre 1991 e 2002, houve um aumento de 30,7% no número de separações e de 55,9%, no de divórcios. O tamanho das famílias brasileiras também sofreu alterações. Na década de 80 a média era de 4,5 pessoas e chega ao fim dos anos 90 com apenas 3,4 pessoas. A família tradicional, constituída por pais e filhos representava 60% das famílias em 1992, e caiu para 55% em 1999 e, ao mesmo tempo, ocorreu um aumento da população de outros tipos de composição familiar no mesmo período: mulheres sem cônjuge e com filhos de 15,1% para 17,1%, de casal sem filhos, de 12,9 para 13,6. Observou-se ainda o crescimento do número de pessoas vivendo só, representando 8,6% em todo o Brasil. Com relação às mudanças no perfil demográfico das chefias femininas no Brasil, tem ocorrido um crescimento generalizado em todas as regiões, sendo elas quase na sua maioria do tipo monoparental. A maioria das chefes monoparentais é constituída por mulheres separadas ou divorciadas, vindo em seguida as viúvas e as solteiras. Em seguida, vêm as mulheres que moram sozinhas.Porém, tal crescimento foi tipicamente urbano. As chefes monoparentais são mais jovens que as dos outros tipos de arranjos familiares e mais velhas do que as que vivem com os maridos, tendo ou não filhos. As mulheres sem maridos ou companheiros são as mais pobres e as. 22.

(23) negras apresentam uma proporção maior de monoparentais com relação às chefias brancas. (BERQUÓ, 1998, p, 190) A monoparentalidade tem sido associada não apenas ao sexo, mas também à pobreza e às famílias monoparentais femininas e que acabam formando o estigma, de que as mulheres são menos capazes para cuidar das famílias sem um homem ao seu lado. Tal associação, inevitavelmente, fortalece a idéia de que essas famílias são vulneráveis ou de risco e não são vistas como potencialmente autônomas (VITALE, 2002, p. 51). Uma nova conceituação que enfoca o aspecto das novas configurações familiares pode ser observada na definição de Szymanski (2002, p, 9) em que família é “uma associação de pessoas que escolhe conviver por razões afetivas e assume um compromisso de cuidado mútuo e, se houver, com crianças, adolescentes e adultos”. Garcia (2003) em seu estudo a respeito da família identificada com a ideologia igualitária, na qual as formas hierárquicas de relações familiares são rejeitadas, objetivando-se construir uma nova forma e relação familiar, conclui que a politização que caracteriza esse tipo de família no Brasil transfere habilidades e conceitos de democracia para as relações familiares. Essas famílias estão inseridas no universo de camadas médias urbanas, com alto nível de instrução e um padrão de vida alto e estável e, na maioria, são formadas por profissionais liberais, e elegem o diálogo como um grande catalisador da coesão familiar. A família assume, assim, um novo papel na “polis – politizada, politizando seus membros” (p.97). A família nuclear conjugal ainda mantém a sua força simbólica e continua sendo um modelo que organiza as relações e orienta as condutas, mantendo-se como referência nas ações e intervenções com a família. Mas as famílias que fogem do modelo hegemônico:. Acabam sendo olhadas com muita desconfiança, sendo freqüentemente alvo de estigmatização, sobretudo pelos profissionais que lidam com família [...] quem estuda com família, em qualquer área de atuação – pesquisa, saúde física e mental, educação, bem estar, etc. -, traz consigo uma visão introjetada de família que acaba comprometendo o olhar e a ação sobre as famílias distintas das nossas referências (SARTI, 1999, p, 49).. 23.

(24) Os enfoques e construções teóricas, baseadas em seus respectivos quadros epistemológicos, apresentam a família ora em transição, ora tendo como determinantes das suas mudanças, os fatores econômicos, sociais, culturais. No entanto, parece haver uma direção para o fato de que a família é uma construção histórica. Parece-nos inegável a afirmação de que independentemente das discussões de sua desagregação, enfraquecimento e de seus novos arranjos, a família ainda pode ser identificada como um espaço indispensável à socialização e como espaço de garantia da sobrevivência, de desenvolvimento e de proteção integral dos filhos e demais membros. É nela que se propiciam as bases afetivas e materiais para o bem estar e desenvolvimento dos seus componentes. Após essa retrospectiva, qual a contribuição teórica que a área do Direito nos oferece para avançarmos na discussão de família, uma vez que nosso objeto de pesquisa se encontra no contexto do Judiciário?. 1.3 Família: aspectos legais. O fenômeno da família no Direito brasileiro recebeu uma espécie de tratamento subsidiário, uma vez que era vista como decorrente de uma relação jurídica que lhe antecedia, ou seja, o casamento, a matriz que gerava as relações familiares, excluindo, portanto, o que hoje se chama união livre ou como anteriormente, o concubinato. Desta forma, a convivência familiar era o resultado de um dos deveres do casamento. Ao homem cabia a função gerencial dos interesses dos filhos e da esposa e esta perdia parte de sua capacidade civil, sendo rebaixada ao estatuto de semi-imputável, colocada inclusive juridicamente ao lado dos silvícolas, pródigos e menores púberes. Tal situação foi corrigida só em 1962, com o Estatuto da Mulher Casada (Lei nº 4.121 de 29.08.62) que revogou tal disposição. Todavia, observa-se que embora os direitos da mulher, neste período, tenha avançado, não se equiparava aos direitos do homem. (AOKI, 1994, PIMENTEL, 2002).. 24.

(25) A filiação estava subordinada à relação matrimonial e desta forma, eram filhos legítimos somente aqueles resultantes do casamento que estava acima dos filhos naturais e estes, dos ilegítimos e os espúrios, que, sequer, possuíam direito ao nome. O Código Civil Brasileiro, formulação burguesa por excelência, ainda se ressentia do controle do Estado religioso, característico do período do Império, sepultado pela República, mas que estava presente na formação dos juristas, razão pela qual o casamento era condição necessária e suficiente para a existência e estabelecimento da família. A família natural não era reconhecida e a (o) concubina (o) era responsável pela destruição dos lares constituídos. Por ser a família decorrente de uma relação jurídica anterior, o legislador não se preocupou em conceituar a família, enquanto ente jurídico, limitando-se a descrever os deveres resultantes do matrimônio. (AOKI e TARDELLI, 1994, p.12). Vemos esta concepção ainda nas Constituições de 1934 art. 124, a de 1946, art. 163; 1967 art. 167, que apontam a família como constituída pelo casamento e tendo direito à proteção do Estado. Ao discutir a história das idéias jurídicas, tendo como referência a questão do poder e da disciplina sobre a família, instituição-chave no leque das práticas de controle e disciplinamento social, na passagem à modernidade, Neder e Cerqueira Filho (2001, p. 5), consideram que o projeto político republicano que possibilitou a separação da Igreja e do Estado, não foi suficiente para tal separação, pois se encontraram evidências de uma continuidade psicológica e ideológica que garantia a prática autoritária de controle social o que fica evidente no campo do Direito de família. Pode-se identificar uma dessas evidências nas pressões da Igreja exercidas contra a escola pública de tempo integral. Essas pressões não podem ser vistas simplesmente como a preservação dos interesses econômicos, pelo fato da igreja deter uma rede grande de escolas confessionais, pois o núcleo cultural e ideológico desta resistência “está fortemente imbuído da idéia de família tridentina, enquanto projeto civilizador da Igreja, e constitui a base afetiva das lutas ideológicas que emperram as políticas públicas nestes setores”. Na legislação brasileira, até a Constituição de 1988, a proteção do Estado era dirigida ao que se chamava de família legítima, aquela constituída pelo casamento. O Código Civil de 1916, vigente até entrar em vigor o Novo Código Civil em 11 de janeiro de 2003, não reconhecia 25.

(26) a união estável e estabelecia que, ao homem, cabia a chefia da sociedade conjugal.. A. Constituição de 1988 amplia o conceito de família, reconhecendo a união estável como entidade familiar entre o homem e a mulher, suprimindo o termo “constituída pelo casamento” e acrescenta que a família será formada por qualquer dos pais e com seus filhos (art. 226, § 3 e 4). Reconhece, ainda, a igualdade de direitos entre homens e mulheres quanto à sociedade conjugal, que passará a ser exercida por ambos e, em seu art 5º, dispõe sobre a igualdade entre homens e mulheres em direitos e obrigações. Encontramos também no Estatuto da Criança e do Adolescente, em seu art. 25, a referência à família natural, que deve ser entendida como a comunidade formada pelos pais ou qualquer deles e seus descendentes. A Constituição, portanto, traz à tona a concepção de família não mais como decorrente de um outro instituto jurídico e reconhecendo-a como uma fonte de direitos com delineamento jurídico próprio. Diniz (2002, p. 12-14) considera que a família possui vários caracteres, a saber: o biológico, por ser um agrupamento natural, onde o indivíduo nasce, cresce até casar-se e constituir a sua própria família, sujeitando-se a várias relações como o poder familiar, direito de obter alimentos e obrigação de prestá-los a seus parentes, dever de fidelidade e de assistência em virtude de sua condição de cônjuge; caráter psicológico, pelo fato de possuir um elemento espiritual unindo os componentes do grupo, o amor familiar; caráter econômico, por ser o grupo no qual o homem, com o auxílio mútuo e o conforto afetivo, se mune de elementos imprescindíveis à sua realização material, intelectual e espiritual; caráter religioso, pois a família é um ser eminentemente ético ou moral, principalmente por influência do Cristianismo; caráter político, por ser a célula da sociedade e dela nasce o Estado; caráter jurídico, por ter sua estrutura orgânica regulada por normas jurídicas, cujo conjunto constitui o Direito de família. Como regra geral, o Direito Civil moderno define a família de forma mais restrita, considerando como seus membros as pessoas unidas pela relação conjugal ou de parentesco. Nesse sentido, pode-se considerar a família sob um conceito mais amplo: como o parentesco, sendo um conjunto de pessoas unidas por vínculo jurídico de natureza familiar, compreendendo os ascendentes, descendentes e colaterais de uma linhagem, incluindo-se também os ascendentes, descendentes e colaterais do cônjuge, denominados parentes por afinidades ou afins.. Em 26.

(27) conceito restrito, a família compreende apenas o núcleo formado por pais e filhos que vivem sob o pátrio poder, ou ainda como disposto no art. 226 da Constituição Federal que estendeu sua tutela da entidade familiar para a família monoparental. A família pode ser considerada ainda sob o conceito sociológico, integrada pelas pessoas que vivem sob o mesmo teto, sob a autoridade de um titular (VENOSA, 2003 p. 16). O Novo Código Civil (Lei nº 10.406 de 10 de janeiro de 2002) que entrou em vigor em janeiro de 2003, vem atender às mudanças que dizem respeito à igualdade entre homens e mulheres, seus direitos e obrigações, já estabelecidas pela Constituição e pelas legislações internacionais de direitos humanos. Há grandes avanços neste Código, em especial quanto às normas discriminatórias de gênero, quanto ao poder familiar compartilhado. Este novo Código elimina a expressão “pátrio poder”, substituída por “poder familiar”, a chefia familiar passa a ser compartilhada, sendo de responsabilidade do homem e da mulher os encargos da família. A direção da sociedade será exercida por ambos, sempre no interesse do casal e dos filhos. Com relação ao nome dos nubentes, qualquer deles poderá acrescentar ao seu, o sobrenome do outro; diferentemente do Código Civil que estabelecia que a mulher assumiria o sobrenome do marido e quanto à guarda dos filhos, esta deverá ser atribuída ao cônjuge com melhores condições de exercê-la. Observa-se ainda que a palavra “homem” é substituída pela palavra “pessoa”, quando o termo é usado genericamente ao se referir ao ser humano. Pelo Código Civil de 1916 cabia à mãe o pátrio poder em relação ao filho ilegítimo, neste caso, no Novo Código Civil, é abolida a referência discriminatória, sendo substituída pelo filho não reconhecido pelo pai, ficando aquele sob o poder familiar exclusivo da mãe. A disposição geral do Estatuto da Criança e do Adolescente de que a criança terá o direito de ser criado e educado no seio da família, a prioridade absoluta em todos os atendimentos, e a concepção da família como o núcleo natural e fundamental da sociedade, tendo a proteção da sociedade e do Estado, certamente são avanços significativos na área dos direitos humanos, mas devemos apontar que a estruturação da família apresentada pela legislação brasileira não corresponde às organizações familiares nas diferentes classes sociais. Percebe-se ainda, uma busca na legitimação de um modelo conservador da família, que não vem acompanhando as novas configurações na sociedade contemporânea. 27.

(28) Faremos a seguir uma breve passagem pela história do atendimento às crianças abandonadas e pelas políticas desenvolvidas para o seu acolhimento pelo Estado e pela Sociedade. Consideramos esta próxima trajetória importante para situarmos a questão da família no contexto de adoção de crianças e adolescentes, tendo em vista que esta instituição possui também uma relação intrínseca com a história do abandono de crianças. Na retrospectiva histórica, encontraremos várias funções para a adoção.. 2. ABANDONO INFANTIL E ADOÇÃO. 2.1 O Papel do Estado e da Sociedade. Na história do Ocidente cristão e na História do Brasil se identificam três grandes fases de assistência e proteção à infância abandonada. A primeira, a fase Caritativa, a mais longa e durou até meados do séc. XIX. A segunda fase, Filantrópica, até o início da década de sessenta e a fase da Assistência Social. (MARCÍLIO, 1998). A fase Caritativa se consolidou no Brasil a partir do século XVIII, através da influência de Portugal, onde o Estado não assumia diretamente a assistência às crianças abandonadas, sendo estas de responsabilidade das Câmaras Municipais que delegava grande parte da responsabilidade, às Santas Casas de Misericórdia. Esta fase teve como principal forma de atendimento à criança abandonada, as Rodas dos Expostos:. A roda se constituía em todo um sistema legal e assistencial dos expostos até a sua maioridade. Em realidade, Roda era o dispositivo cilíndrico no qual eram enjeitadas as crianças e que rodava do exterior para o interior da casa do recolhimento. A denominação de Roda para atendimento que era oferecido aos nela enjeitados presta-se à confusão e aos entendimentos de que a assistência a estes se resumia ao recolhimento imediato à exposição e deixa obscuras todas as etapas e modalidades de assistência que os mesmos recebiam até sua maioridade (FALEIROS, 1995, p. 230)·.. 28.

(29) A primeira Roda dos Expostos foi instalada na cidade de Salvador em 1726, a segunda no Rio de Janeiro, em 1738, em Recife em 1789. Até o Século XIX foram construídas outras dez Rodas de Expostos. Muitas dessas Rodas surgiram no Brasil quando na Europa estavam sendo combatidas devido a alta mortalidade infantil e ainda pela suspeita de fomentar o abandono de crianças. (RIZZINI , 2004) A segunda fase, filantrópica científica, se caracteriza pelo movimento higienista de extinção das Rodas, que perdurou até o ano de 1951, tendo sido o Brasil o último país a extinguir esse sistema. O aumento da exposição de crianças, a morte de crianças nos hospitais de expostos, era de tamanha intensidade, que levaram os governos e a sociedade a estabelecerem normas, instituições e políticas públicas para enfrentar tal problema social. Surgiram cruzadas contra a mortalidade infantil e nas instituições de proteção aos expostos foram utilizados novos métodos e posturas no tratamento das crianças, surgindo assim a medicina pediátrica e a puericultura. A Medicina e o Direito se uniram nesse período e a designação de infância mudou: “de um lado, o termo criança foi empregado para o filho das famílias bem postas. Menor tornouse o discriminativo da infância desfavorecida, delinqüente, carente, abandonada”. (MARCILIO 1998, p, 195). O Brasil, no final do séc XIX, foi marcado por transformações, dentre elas a erradicação da escravatura, a reestruturação da forma de trabalho e o novo regime político (República). Tal cenário levou o país a discutir idéias relacionadas à identidade nacional, uma vez que o Brasil precisava firmar-se como nação independente. A criança deixa de ser “objeto de interesse, preocupação e ação no âmbito privado da família e da igreja para tornar-se uma questão de cunho social, de competência administrativa do Estado” (RIZZINI, 1997, p. 24). O discurso na passagem do regime Monárquico para o Republicano, era dirigido à salvação das crianças e, assim, transformar o Brasil. O aparato médico-jurídico-assistencial tinha como meta vigiar a criança, educá-la para o trabalho, recuperá-la e reprimi-la, a fim de conter o “menor delinqüente”. Objetivava, portanto, sanear a sociedade; e, por isso, a criança pobre, materialmente e moralmente abandonada, era considerada um problema social. A saúde e a educação surgem como prioridades das políticas públicas. Ocorre paralelamente a valorização da família e das relações mães/filhos, sendo esta, fator importante 29.

(30) para o desenvolvimento pleno da criança. Surgem políticas públicas de assistência às mães pobres e trabalhadoras. A partir da valorização da família, acredita-se que a criança abandonada tem um direito a uma família substituta legalizada. Neste período, os países europeus passam a incluir em sua legislação o instituto da adoção. No cenário mundial, após a Primeira Grande Guerra Mundial, o número imenso de crianças órfãs passa a ser problema exclusivo de cada país e entra na órbita internacional. Em 1924, a Liga das Nações Unidas proclama a Primeira Carta de Direitos Universais da Criança, aperfeiçoada posteriormente em 1959 e a criança ganha status de Sujeito de Direito. Em meados do século XX, o Estado passa a assumir a responsabilidade pela assistência e pela proteção da criança abandonada, surge então a fase do Estado do Bem-Estar Social que se fundamenta nos Direitos Universais da Criança, proclamado pelas Nações Unidas: direito à vida; à saúde; à liberdade; respeito, dignidade, à convivência, familiar e comunitária; à educação, à cultura, ao esporte, ao lazer; e à profissionalização e à proteção no trabalho. No Brasil, a partir de 1920, montam-se os primeiros códigos de Leis dirigidas à infância desvalida e desviante e nela é incluído o instituto de adoção. Surgem as creches, os Centros de Saúde Materno-Infantil, instituições de abrigos de proteção, de educação, de capacitação da infância sem família e da adolescência delinqüente. O Código de Menores é criado em 1927, unindo a visão higienista de proteção do meio e do indivíduo com a visão jurídica repressiva e moralista que pretendia prevenir a delinqüência e o abandono, com artigos que proibiam a permanência de “menores” nas vias públicas. Nesse período, ocorre a criação e regulamentação por parte do Judiciário, do Juizado de Menores e de instituições auxiliares, configurando o Estado como o responsável pela tutela da criança órfã e abandonada. As funções de Estado se dirigiam à vigilância e controle da assistência ao menor e à repressão aos desviantes. Para tal, foram criados órgãos públicos especializados, como o Departamento Nacional da Criança (DNCr), criado em 1919, cuja função seria controlar toda a assistência à infância carente. Em 1941 foi criado o Serviço Nacional de Menores (SAM), fundado para controlar a assistência à infância carente e ao menor infrator. O relatório realizado pelo sociólogo Alberto Guerreiro Ramos, (Pereira, 1999) sobre a condição dos favelados no Rio de janeiro na década de 40, aponta claramente a preocupação com 30.

(31) a população pobre e os objetivos do DNCr. O relatório concluía que as grandes áreas de preocupação deveriam ser a dos bairros pobres e favelas onde conviveriam a prostituição, a delinqüência juvenil, a vadiagem, a mortalidade infantil e materna. Na visão do DNCr, a mulher pobre fazia parte do grupo indefinido entre a marginalidade e a ocupação de tarefas “humildes”. Ela era, de forma estereotipada a empregada doméstica, sob a eterna ameaça de se tornar mãe solteira, o seu lar era tido como inevitavelmente instável e seu filho um abandonado material e moralmente. Nesse caso, o problema passava para a figura do menor abandonado. O menor aí se trata de “um infrator, de um adulto em miniatura, tão demonizado quanto este” (PEREIRA, 1999, p, 5). Somente em 1960, em função dos Direitos da Criança, o Brasil foi pressionado a estabelecer o seu Estado de Bem-Estar Social para assuntos relativos à infância carente e em situação de risco. No entanto, surge a ditadura militar e a Lei de Segurança Nacional mistura-se à proteção da infância desvalida e delinqüente. Em 1964, o SAM foi extinto e em seu lugar foi criada a Fundação Nacional do Bem-Estar do Menor, FUNABEM e sua ramificação estadual e municipal era prevista através da Fundação do Bem Estar do Menor (FEBEM). Após a criação do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, a FUNABEM passa a ser FCBIA, Fundação Centro Brasileiro para a Infância e Adolescência, a FEBEM é transformada em Fundação da Criança e do Adolescente (FUNDAC), cujo objetivo é promover, no Estado, o atendimento à criança e ao adolescente abandonados e/ou em conflito com a lei, garantindo-lhes as políticas de direitos e proteção especial. Ela é composta por Unidades de abrigo, Centro de Internação provisória, Centros de ressocialização e Casas de Semi Liberdade, fazendo parte do Centro de Atendimento Integrado, juntamente com órgãos do Judiciário, Ministério Público, Defensoria Pública e Assistência Social. Após as mudanças na orientação da política em 1988, a Constituição impôs a regulamentação do seu artigo 227, originando assim o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), no qual, em consonância com a doutrina das Nações Unidas para proteção dos direitos da infância e adolescentes, é estabelecida a proteção integral da criança e do adolescente considerando-os sujeitos de direitos e cidadãos em desenvolvimento, com direitos elementares à pessoa humana, estabelecendo como direito básico a convivência familiar e comunitária. O 31.

(32) Estatuto vem estabelecer novos paradigmas quanto à infância e adolescência e sob a doutrina da proteção integral, determina que cabe ao Estado e à sociedade, assegurar, com absoluta prioridade, às crianças e adolescentes a efetivação dos direitos referentes à vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao esporte, ao lazer, à profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à liberdade e à convivência familiar e comunitária. Não mais poderão ser tratados como meros objetos de intervenção do Estado. O Estatuto determina três conjuntos de ações para o atendimento à criança e ao adolescente: Políticas Sociais básicas para todos, Políticas Assistências para os que delas necessitam e Políticas de Proteção Especial para os que estão em situação de risco pessoal ou social. É nesta última Proteção que encontraremos a adoção, como um instituto Jurídico de atendimento à criança e adolescente, como objetivo de assegurar o direito à convivência familiar e comunitária. Mas a adoção nem sempre foi concebida nessa perspectiva. Veremos adiante que ela foi formulada, no decorrer da História, e em especial, no Brasil, com outros objetivos.. 2.2 Adoção: um pouco de história. Segundo Figueiredo (2002), a história da humanidade e alguns mitos fundadores de diversos povos são repletos de registros sobre a adoção. São encontrados exemplos como os de Putifar adotando José do Egito, a adoção de Teseu Hipólito, mencionada por Sófocles, Rômulo e Remo, adotados por uma loba e depois por Faustulo e Aça Laurentia. A adoção nos povos antigos tinha como principais objetivos, a perpetuação dos deuses e do culto familiar e seus respectivos cultos e oferendas. Há referências dela no Código de Manu, como possibilidade para aqueles que não tiveram filhos e, na Bíblia, com a denominação de levirato. Na Grécia Clássica e na Roma Antiga, os legisladores codificaram a adoção, motivados antes de tudo, por questões religiosas. Para gregos e romanos, os mortos exerciam uma forte influência no presente e futuro dos vivos e, para se manter uma relação conveniente entre mortos e vivos, existia um “culto dos ancestrais” que era praticado pelo chefe de família e apenas 32.

(33) os homens tinham o direito de manter a chama acesa que homenageava os mortos (SIQUEIRA, 1998, p. 36-37). A cristianização da Europa, lentamente acabou com o culto aos mortos e, conseqüentemente, a função da adoção como uma forma de perpetuar a linhagem, perdia seu sentido. Além do mais, a Igreja considerava que a adoção podia estar sendo utilizada também para legitimar filhos bastardos, levados pelos maridos infiéis ao seio sagrado do matrimônio. Na Idade Média, diante da reviravolta ideológica no que diz respeito à linhagem, que está estreitamente ligada aos laços sangüíneos, tal ideologia consangüínea acomodou muito mal a adoção. Ocorreram alguns casos nesse período, entre os nobres, mas os adotados não se beneficiavam dos títulos de nobreza (ABREU, 2002, p. 21). Na modernidade, há relatos de que a Imperatriz Josefina era estéril e assim, Napoleão, sensibilizado pelo fato, teria incluído a adoção no Código Civil francês para adotar Eugene de Brauharnais. Os reflexos do Código francês influenciaram várias legislações posteriores, inclusive na América Latina (ABREU, 2002; SIQUEIRA, 1998).. 2.3 Adoção: aspectos legais e o papel da equipe interprofissional. No Brasil, foram raras as referências à adoção nos textos jurídicos até a postulação do Código Civil de 1916. Nele a adoção é vista como uma questão de Direito privado, que não interessa ao Estado e, portanto, um assunto situado dentro da esfera das relações privadas e familiares. O instituto da adoção possuía nessa legislação uma série de limitações, dentre elas, só os maiores de 50 anos poderiam adotar, contanto que não tivessem filhos dados pela natureza, ou que já tenham morrido os que procriaram. Durante a vigência do Código Civil, o principal beneficiado do direito era a linhagem, o casal, a família e não a criança, sendo o objetivo principal, encontrar uma criança para um casal (ABREU, 2002; SIQUEIRA, 1998).. 33.

(34) No Código de Menores (1927), que não anulou o antigo Código, é prevista a adoção simples, a qual não rompe os laços entre os adotandos e seus pais biológicos, podendo a criança ser devolvida aos seus pais, caso o adotante desistisse da adoção. Há também a adoção plena, na qual há a total vinculação do adotado a sua nova família, sendo, portanto, irrevogável. A Constituição de 1988, em seu capítulo FAMÍLIA DA CRIANÇA, DO ADOLESCENTE E DO IDOSO, prevê que a “adoção será assistida pelo Poder Público, na forma da Lei que estabelecerá casos e condições de sua efetivação por parte de estrangeiros” e “os filhos havidos por adoção terão os mesmos direitos e qualificações, proibidas quaisquer designações discriminatórias relativas à filiação”. (art.227 § 5º e 6º). Com o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) em vigor em 1990, o respeito pela filiação é incondicional, a adoção é irrevogável e o pátrio poder é transferido para a família adotante. De acordo com os dispositivos do ECA (arts. 39 a 52), a adoção é a modalidade de colocação em família substituta que atribui à criança e adolescente a condição de filho, inclusive de herança, havendo o desligamento completo de qualquer vínculo com os pais ou parentes, salvaguardando-se os impedimentos matrimoniais. É vedada a adoção por procuração e o adotando deverá ter, à época da adoção, no máximo 18 anos; e os adotantes devem ser maiores de 21 anos e pelo menos 16 anos mais velhos que o adotado, independentemente do estado civil. Com o novo Código Civil, Lei nº 10406, em vigor desde 2003, a menoridade cessa aos 18 anos e habilita a pessoa a todos os atos da vida civil, reduzindo-se a idade mínima para os adotantes, mas mantendo-se a diferença mínima de 16 anos entre o adotando e adotado. A nova Lei estabelece ainda que ninguém poderá ser adotado por duas pessoas, salvo se forem marido e mulher, ou viverem em união estável e, nesses casos, um dos adotantes deverá ser maior de 18 anos. Casais divorciados ou judicialmente separados podem adotar conjuntamente, desde que a convivência com criança ou adolescente tenha se iniciado na constância da sociedade conjugal e que haja a concordância de ambos quanto à guarda e o regime de visitas. A adoção é irrevogável e mesmo com a morte dos adotantes não será restabelecido o pátrio poder dos pais biológicos. A adoção como instituição jurídica, assim definida por Diniz (1994, p. 13):. 34.

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