QUEM SOU EU?
Luana Pompéo Rodrigues – luanapompeorodrigues@gmail.com Universidade Franciscana, Programa de pós-graduação Ensino de Ciências e Matemática
Santa Maria – RS
Suelen da Silva Zuquetto – suelen.zuquetto@iffarroupilha.edu.br Universidade Franciscana, Programa de pós-graduação Ensino de Ciências e Matemática Santa Maria – RS
Rosemar de Fátima Vestena – rosemarvestena@gmail.com
Universidade Franciscana, Programa de pós-graduação Ensino de Ciências e Matemática Santa Maria – RS
Resumo: Objetiva-se com este artigo apresentar o Produto Educacional (PE) denominado “Quem sou eu?” o qual foi desenvolvido na disciplina Ciências nos Anos Iniciais do Programa de Pós-graduação em Ensino de Ciências e Matemática, no segundo semestre de 2020. O referido PE foi idealizado para ser aplicado na Educação Infantil (EI) atendendo aos documentos oficiais que norteiam o currículo da EI no que tangencia os conhecimentos acerca da construção de identidade e consciência corporal. A intenção desta atividade é incentivar as crianças à conscientização da construção de sua identidade pessoal, visando seu desenvolvimento biopsicossocial. Devido à Pandemia SARC COVID 19, deflagrada pela Organização Mundial de saúde em março de 2020, o PE foi testado no ambiente domiciliar junto a um estudante de escola pública, matriculado na etapa Pré B da EI. Constatou-se que este PE tem potencial de viabilizar a construção da identidade da criança na primeira infância, contribuindo com o processo de aprendizagem e de percepção de si, do outro e do meio. Demonstrando assim, relevante contribuição com o currículo escolar na EI, agregando atenção às vias sensoriais da aprendizagem e do estímulo às funções cognitivas e às emoções mencionadas pelos estudos neurocientíficos de Pantano; Rocca (2015).
Palavras-chave: Identidade Pessoal, Produto Educacional, Educação Infantil.
INTRODUÇÃO
Considerando que a Educação Infantil (EI) é a etapa inicial da educação básica e que possui grande importância na construção global da criança, principalmente por ser o contato inicial com o conhecimento formal científico, é fundamental que se crie metodologias e estratégias que potencializem o desenvolvimento biopsicossocial das crianças. Foi apenas em 1988 com a promulgação da Constituição Federal que emergiram inovações para essa modalidade de ensino, pois pela primeira vez inclui-se num documento leis sobre essa etapa, trazendo a oferta da Educação Infantil em creches e pré-escolas, sendo um dever do Estado e direito de toda criança. Para dar subsídio a essa lei, a LDB 9394/96, apoiada na CF, estabelece que a educação infantil é a primeira etapa da Educação Básica. A partir de então se torna necessário um atendimento integral, unindo assim o aspecto assistencialista (0 a 3 anos) e
pedagógico (4 a 6 anos). Nesse sentido a escola hoje deve possuir um caráter formador, aprimorando valores e atitudes, desenvolvendo desde a EI, o sentido da observação, despertando a curiosidade intelectual das crianças, capacitando-as a serem capazes de buscar informações, onde quer que elas estejam a fim de utilizá-las no seu cotidiano (KREFTA, 2011). Atentando à EI e a presença da educação científica nessa etapa escolar Doménech (2014) destaca que o ensino de Ciências é válido desde a EI, pois aguça a curiosidade e potencializa para busca de novos conhecimentos tanto na infância quanto em etapas subsequentes da vida escolar. “Pesquisas modernas sugerem que a curiosidade pode ser essencial para o desenvolvimento apropriado de capacidades cognitivas e de percepção no início da infância. Também há poucas dúvidas que a curiosidade continua sendo uma força poderosa para a expressão intelectual e criativa mais tarde na vida” (LIVIO, 2018, p.20).
Os documentos oficiais, como a Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2017), enfatizam que as relações de ensino e aprendizagem com crianças nesses estágios precisam se valer do princípio da ludicidade. Dessa forma, as crianças manifestam o desejo de entender causas e efeitos principalmente do seu entorno e, desse modo, envolvem-se com objetos de aprendizagem com atenção e entusiasmo. Diante disso, os jogos, as brincadeiras que trazem consigo situações cotidianas dos estudantes são fundamentais como molas propulsoras para o desenvolvimento de atitudes e posturas de aprendizagem nos estudantes (FORTUNA, 2001).
Nesse sentido, no currículo para a EI a competência oito da Base Nacional Comum Curricular (BNCC) ratifica a necessidade do autoconhecimento e autocuidado e dispõe ao sistema educacional a importância do estudante em conhecer-se, apreciar-se e cuidar de sua saúde física e emocional, compreendendo-se na diversidade humana e reconhecendo suas emoções e as dos outros, com autocrítica e capacidade de lidar com elas (BRASIL, 2018). Nessa seara a BNCC expressa as aprendizagens esperadas em cada Campo de Experiências (CE) (O eu, o outro e o nós; Corpo gestos e movimento; Traços, sons, cores e formas; Escuta, fala, pensamento e imaginação e Espaços, tempos, quantidades, relações e transformações).
Por outro lado, para continuar mobilizando a curiosidade e o espírito investigativo das crianças os professores necessitam surpreendê-los propondo atividade com o auxílio de recursos didáticos que os aproximem cada vez mais de suas necessidades e interesses. Nessa seara surgem os Produtos Educacionais (PE) os quais permitem a mediação docente de conhecimentos, previamente selecionados e pensados didaticamente considerando a faixa etária do estudante, o ano escolar e as diferenças biopsicossociais dos envolvidos no processo de ensino e aprendizagem (ROSA; LOCATELLI, 2018).
Assim, tomou-se como referência na construção desse Produto Educacional três dos cinco CE anteriormente citados “O eu, o outro e o nós” que visam sensibilizar as crianças para
respeitar e expressar sentimentos e emoções. Atuar em grupo e demonstrar interesse em construir novas relações, respeitando a diversidade e solidarizando-se com os outros. Conhecer e respeitar regras de convívio social, manifestando respeito pelo outro; e “Corpo, gestos e movimentos” em que o mesmo sinaliza para reconhecer a importância de ações e situações do cotidiano que contribuem para o cuidado de sua saúde e a manutenção de ambientes saudáveis; apresentar autonomia nas práticas de higiene, alimentação, vestir-se e no cuidado com seu bem-estar, valorizando o próprio corpo; utilizar o corpo intencionalmente (com criatividade, controle e adequação) como instrumento de interação com o outro e com o meio e coordenar suas habilidades manuais e “Escuta, Fala, Pensamento e Imaginação” Expressar ideias, desejos e sentimentos em distintas situações de interação, por diferentes meios. Argumentar e relatar fatos oralmente, em sequência temporal e causal, organizando e adequando sua fala ao contexto em que é produzida. Ouvir, compreender, contar, recontar e criar narrativas. Conhecer diferentes gêneros e portadores textuais, demonstrando compreensão da função social da escrita e reconhecendo a leitura como fonte de prazer e informação.
Outrossim, na elaboração do presente PE observou-se a valorização e contemplação das vias de aprendizagem, conforme estudos neurocientíficos, abordados por Pantano; Rocca (2015) que abordam as funções cognitivas, as vias sensoriais e as emoções, capazes de ofertar momentos que estimulem as funções cognitivas de atentar, lembrar, organizar, executar, aprender, entre outras, assim como de exploração sensorial manual (formas e encaixes), visual (cores, formatos e percepção das diferenças), também abarcando questões afetivas e emocionais, aspectos sumamente importantes para um ensino e aprendizagem embasados na valorização da diversidade educacional.
Entende-se assim que os aspectos mencionados são basilares para o desenvolvimento global do estudante e que o autoconhecimento corporal por meio do esquema corporal se mostra como um importante meio para desenvolvê-los. Segundo Wallon (1974) a consciência do corpo como meio de comunicação consigo mesmo e com o meio. É um elemento básico indispensável para a formação da personalidade da criança. É uma representação relativamente global, científica e diferenciada que a criança tem de seu próprio corpo.
Diante do exposto, apresenta-se o Produto Educacional “Quem sou eu?” que visa desenvolver na criança o autoconhecimento corporal e evidenciar a importância deste na percepção das relações com seu corpo, com o outro e com o meio.
SISTEMATIZAÇÃO DO PRODUTO EDUCACIONAL
Categoria do produto
Proposta de ensino – Atividade prática
Link de acesso ao produto (moldes para serem confeccionados) https://drive.google.com/file/d/1HVFufK3rmw82hPDRZdn4mAg8Be5bDaEj/view?usp=sharing Imagens do produto
Público alvo Crianças da Educação Infantil e do primeiro ciclo de alfabetização (três a sete anos)
Descrição do produto
Trata-se de uma proposta de ensino a ser aplicada por meio de uma atividade lúdica e concreta em que os estudantes deverão expressar como auto reconhecem, ou seja, o formato e cor de seus corpos com a cor e formato de seus cabelos, encaixando moldes de feltro contemplados nos diferentes formatos e tons de pele, com diferente formatos e cor de cabelo.
Materiais utilizados
● Tesoura;
● Moldes dos corpos em papel;
● Feltro (vários tons de marrom, rosa claro, branco, preto, amarelo, laranja); ● Cola. Conteúdos conceituais ● Esquema Corporal; ● Conhecimento Corporal; ● Consciência Corporal.
Objetivo geral Explorar o conhecimento do esquema corporal a partir do produto educacional “Quem sou eu?"
Objetivos específicos
● Identificar o conhecimento corporal prévio das crianças; ● Identificar como as crianças auto reconhecem seus corpos; ● Incentivar o autoconhecimento corporal;
● Estimular a consciência corporal das crianças;
● Incentivar a interação com seu corpo, com o outro e com o meio.
Operacionalização do produto: (Como utilizar, jogar etc.).
As crianças serão convidadas a encaixar os moldes de feltro conforme sua consciência corporal, ou seja, a partir da visão que têm do próprio corpo, encaixarão os moldes, expressando suas dimensões e formatos do corpo, tom da pele e como percebem seus cabelos, cor, forma e tamanho.
Impacto do produto educacional (potencialidades)
É um produto que requer um trabalho manual para sua construção, mas de fácil acesso aos materiais para a sua confecção. É importante que os professores planejem a elaboração deste produto, criem os moldes nos tons de pele, e os formatos e cores de cabelo, de acordo com a realidade de suas turmas. A partir desse produto muitos temas podem ser trabalhados em aula, como:
Conhecimento corporal; Diferenças;
Questões raciais; Questões de gênero;
Questões de inclusão e acessibilidade (podem ser elaborados moldes de cadeiras de rodas, óculos, bengalas, gesso, mão mecânica, próteses de perna etc.), para que os alunos também utilizem na construção de seus corpos;
Corpo e Saúde;
Características hereditárias (tom da pele e formato do corpo, cor e formato do cabelo...). O professor(a) poderá utilizá-lo, criando e recriando o produto conforme suas necessidades e poderá explorá-lo de acordo com os objetivos a serem atingidos com cada turma.
3 CONSIDERAÇÕESFINAIS
Para a elaboração de um PE é importante que se contemple aspectos comunicacionais, pedagógicos, teóricos e críticos e que seja dinâmico, desafiador e atrativo aos estudantes. Na EI é relevante que se tenha um olhar atento à capacidade curiosa das crianças e, a partir de seus
questionamentos é possível explorar o conhecimento científico e incentivar o conhecimento pessoal à fim de que eles reconheçam suas particularidades e potencialidades, identificando-se e conhecendo-se saberão interagir com o outro e com o meio. A atividade “Quem sou eu” aplicada no ambiente domiciliar, com uma criança de 5 anos, trouxe resultados positivos, à medida que ele entendeu a atividade, conseguiu realizá-la e além de demonstrar a perspectiva de si, do seu corpo, surgiram muitos questionamentos, como: por que algumas pessoas são gordas? Por que as pessoas têm cabelo laranja? O que é bom comer para ser magro? Existe menina com corpo de menino?
Posto isso, evidenciou-se que o referido PE potencializou a exploração de conhecimentos, incentivando principalmente a curiosidade, demonstrando-se latente aos objetivos almejados.
4 REFERÊNCIAS
BRASIL. Base Nacional Comum Curricular. Brasília: MEC, 2017. Disponível em:
http://basenacionalcomum.mec.gov.br/images/BNCC_EI_EF_110518_versaofinal_site.pdf
Acesso em: 11 de dezembro de 2020.
DOMÉNECH, J. C. Las histórias com contrarios como herramienta didáctica em la enseñanza de las ciencias en Educación Infantil. In: MARTINEZ, P. M.; GONÇÁLEZ, M. B. A;
PÉREZ, R. A. R. Investigción e inovación em Educación Infantil. 2014.
FORTUNA, T. R. Formando professores na Universidade para brincar. In: SANTOS, S. M. P. (org.). A ludicidade como ciência. Petrópolis, Rio de Janeiro: Vozes, 2001.
LIVIO, M. O que nos torna curiosos. Editora Record: São Paulo, 2018.
ROSA, C.T.W; LCATELLI, A. Produtos educacionais: diálogo entre universidade e escola.
Ensino de Ciências e Tecnologia em Revista, v. 8, n. 2, p. 26-39, 2018. Disponível em:
http://srvapp2s.urisan.tche.br/seer/index.php/encitec/article/view/2716Acesso em: 1 Jun. 2020.
PANTANO. T; ROCCA. C. C. A. Como se estuda? Como se aprende? São José dos Campos. SP: Pulso Editorial, 2015.
WALLON, H. A Evolução Psicológica da Criança. São Paulo: Edições 70, 1974.
Imagem disponível em: https://br.freepik.com/vetores-gratis/um-desenho-de-menino- gordo-e-magro_2413349.htm, acesso em 09 de dezembro de 2020.
Imagem disponível em: https://pt.dreamstime.com/ilustra%C3%A7%C3%A3o-stock- de-fino-%C3%A0-crian%C3%A7a-gorda-image75833431, acesso em 09 de dezembro de 2020.
