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O impacto da governança por números nas relações laborais: da Síndrome do sobrevivente à solidariedade de Supiot / The impact of governance by numbers on labour relations: from the Survivor's Syndrome to Supiot's Solidarity

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Academic year: 2020

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Braz. J. of Develop.,Curitiba, v. 6, n. 8, p. 62495-62510. aug. 2020. ISSN 2525-8761

O impacto da governança por números nas relações laborais: da Síndrome

do sobrevivente à solidariedade de Supiot

The impact of governance by numbers on labour relations: from the

Survivor's Syndrome to Supiot's Solidarity

DOI:10.34117/bjdv6n8-618

Recebimento dos originais: 25/07/2020 Aceitação para publicação: 27/08/2020

Marcelino Meleu

Pós-Doutor em Direito Público

Rua Antônio da Veiga, n. 140, Bairro Itoupava Seca, Blumenau/SC E-mail: mmeleu@furb.br

Aleteia Hummes Thaines

Pós-Doutora em Direito Público

Rua Oscár Martins Rangel, 4500, Bairro Fogão Gaúcho, Taquara/RS E-mail: ale.thaines@gmail.com

Laís Cristina Bandeira

Mestre em Direito pela Unochapecó

Rua Benjamin Borges dos Santos, 1100, Bairro Fraron, Pato Branco/PR E-mail: laisscristina1@gmail.com

RESUMO

O respeito aos direitos fundamentais constitui elemento de necessária cooperação social à nível internacional, apesar disso, especialmente com a abertura das fronteiras encontra-se uma dicotomia, de um lado, a perspectiva global, voltada a uma lógica de mercado e, de outro, uma perspectiva local de solidariedade que é questionada, por conduzir a uma ordem jurídica de direito de concorrência de governança por números, que cria graves problemas sociais. Nas relações laborais evidencia uma fragilização do estado, e outras autoridades de regulação, ocasionando uma dispersão da autoridade, do poder e, objetificando o trabalhador como “instrumento” de concretização de trabalho e lucro, ou seja, promovendo a coisificação do sujeito (Arendt). A partir desta policontexturalidade (Teubner) que envolve as relações sociais, o presente trabalho objetiva estudar o impacto da governança por números nas relações laborais e, de forma específica analisar a ocorrência da síndrome do sobrevivente (Lifton e Olson) advinda daquela lógica, visando a ressignificação da referida lógica pela noção de solidariedade (Supiot), em uma análise sistêmica-autopoietica. Apoiada no método sistêmico de Niklas Luhmann, percebe-se que as relações que fortaleçam laços de solidariedade tendem a afastar meios opressivos, gerando um sentimento de pertencimento à organização, que, por via de consequência acaba influenciando para uma maior produtividade e lucratividade do mercado.

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ABSTRACT

Respect for fundamental rights is a necessary element of social cooperation at the international level, yet especially with the opening of borders there is a dichotomy, on the one hand, the global perspective, geared to a market logic, and on the other, a local perspective of solidarity that is questioned, as it leads to a legal order of competition law of governance by numbers, which creates serious social problems. In labor relations it shows a weakening of the state, and other regulatory authorities, causing a dispersion of authority, power and, objectifying the worker as an "instrument" to concretize work and profit, that is, promoting the coisification of the subject (Arendt). From this polyontexturality (Teubner) that involves social relations, the present work aims to study the impact of governance by numbers in labor relations and, in a specific way to analyze the occurrence of the survivor syndrome (Lifton and Olson) coming from that logic, aiming at the resignification of that logic by the notion of solidarity (Supiot), in a systemic-autopoietic analysis. Based on Niklas Luhmann's systemic method, it is perceived that relationships that strengthen bonds of solidarity tend to remove oppressive means, generating a feeling of belonging to the organization, which, as a consequence, ends up influencing greater productivity and market profitability.

Keywords: Governance, Solidarity, Policontexturality

1 INTRODUÇÃO

Para a compreensão do significado de governança por números e como esse conceito afeta as relações de trabalho sendo o possível causador da síndrome do sobrevivente, desenvolvemos na seguinte pesquisa, uma análise no sentido policontextural das relações laborais, partindo de uma visão sistêmica para chegar a uma finalidade de reformulação do sistema de governança, que gere a sociedade atual, e, que encontra-se subordinada a uma lógica perversa de domínio de mercado, conduzindo uma ordem jurídica voltada ao direito de concorrência de governança por meio de fatores baseados em números, cálculo, lucro e produção.

Este estudo se justifica pela necessidade de se discutir a governança por números como possível instrumento causador da fragilização das autoridades de regulação. E se assim consumado, pode ocasionar uma dispersão da autoridade, do poder, e uma visão monocontextural das relações de trabalho, e como consequência pode conduzir o trabalhador como “instrumento” de concretização de trabalho e lucro. Tal cenário, pode afastar um ambiente de trabalho digno, e, suprimir direitos no ambiente laboral.

O presente trabalho tem como objetivo geral estudar o princípio da solidariedade como superação da síndrome do sobrevivente. E, por objetivos específicos: 1. Analisar as relações laborais a partir de uma visão policontextural, 2. Identificar a coisificação do homos laborandi advinda da governança por números, e, 3. Analisar a forma de superação da síndrome do sobrevivente.

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O aprofundamento teórico do estudo pauta-se na pesquisa bibliográfica, consubstanciada nas leituras de obras e artigos que produzam um referencial teórico para o enfrentamento do tema, se valendo do método sistêmico preconizado por Niklas Luhmann, o qual pretende analisar o sistema e o entorno e sua relação com a sociedade.

2 UMA VISÃO POLICONTEXTURAL SOBRE A RELAÇÃO LABORAL

A ideia de policontexturalidade, inicialmente cunhada por Luhmann, e posteriormente desenvolvida por Gunther Teubner (em um viés voltado para o direito privado), para lidar com a complexidade da sociedade analisada pela ótica sistêmica, parte do pressuposto que nenhuma auto-observação (auto-observação de si mesmo) tem capacidade de entender o sistema, de forma plena (LUHMANN, 2006), o que implica na necessidade de uma observação a partir de múltiplos contextos. Tal concepção propõe a ressignificação das relações e, com isso, do próprio direito. No campo do direito do trabalho esse olhar se mostra fundamental, uma vez que, a relação de trabalho estabelecida entre empregado e empregador reflete no âmbito de outras relações, como por exemplo, na dimensão familiar, psíquica, física-biológica, etc.

Nesse sentido, podemos destacar as diversas demandas existentes na justiça trabalhista, que reclamam por indenizações em virtude de abalos psíquicos, por comprometimento da vida social, entre outras motivações. Se houve um momento de construção de elementos protetivos mínimos em face dos trabalhadores, com o incremento da massificação da produção, como no período da revolução industrial, entramos em um contexto que demanda, não só a consagração dos instrumentos protetivos outrora conquistados, mas também a necessidade de outras garantias, que levem em consideração os múltiplos contextos da sociedade atual.

Em suma, a Revolução Industrial fez surgir as cidades e a pratica de negociação nas diversas partes do mundo, bem como, fez surgir o burguês, o homem da cidade que tinha dinheiro para gastar. A principal característica da revolução industrial é o surgimento da máquina que substituiu o homem. A elevada disponibilidade de mão-de-obra em relação ao número de trabalho ofertado gerou baixos ganhos para os trabalhadores e altos lucros para as indústrias. Assim, observa-se como a ideia de lucro baseada em baixo custo da mão-de-obra é da própria essência da industrialização. Com a revolução industrial, acelerou-se ainda mais o processo de imigração para as cidades, contribuindo para a formação de uma nova classe populacional, a classe operaria, a qual se impõe condições precárias de trabalho e de vida onde a exploração da mão-de-obra é clara e o viés de humanidade não existe (MAIOR, 2000, p. 56-57).

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Tal contexto, modifica as relações laborais. No Brasil, por exemplo destaca-se a evolução das diretrizes protetativas, acompanhando o cenário mundial. Nesse sentido, a Lei Aurea em 1888 aboliu a escravidão dando espaço ao trabalho livre e assalariado. Em momento posterior durante a década de desertificação neoliberal, nos anos 1990, pudemos presenciar, simultaneamente, tanto a pragmática desenhada pelo consenso de Washington com suas desregulamentações, nas mais distintas esferas do mundo do trabalho e da produção, quanto uma significativa reestruturação produtiva nas industrias, e isso exigiu mudanças no plano de organização sócio-técnica da produção, e também no processos de reteritorrialização e desterritorialização da produção, e muitas outras consequências (ANTUNES, 2010, p. 105).

Isso, a partir de um período marcado pela mundialização e financeirização dos capitais, tornando um tanto ultrapassado, tratar de modo independente os três setores tradicionais da economia, ou seja, da indústria, agricultura, e serviços, e o entrosamento entre estas atividades que são a agroindústria, a indústria de serviços e os serviços industriais, que estão conectados pela lógica de mercado (governança por números). Partindo do pressuposto de que nenhuma auto-observação tem capacidade de entender o sistema de forma plena, (dito aqui o contrato de trabalho), a ideia monocontextural ilustra as relações laborais atualmente, uma vez que, a ideia de policontexturalidade não se aplica ao Direito produzido pelo Estado (centralizado), no sentido de que há uma limitação deste, para observar toda a realidade que se apresenta na atualidade, surgindo a necessidade de se olhar a realidade policontextural e hipercomplexa da sociedade moderna, de forma múltipla, ou seja, através de uma multiplicidade de observações possíveis. No cenário atual, esta visão se revela de forma complexa, uma vez que interfere diretamente nas relações de emprego (LUHMANN, 2006).

Ocorre que, um modelo policontextural de direito, produzido através das irritações jurídicas oriundas de violações nas relações laborais, resultam em uma reconstrução normativa, que na visão de Teubner modificam a dinâmica de evolução para um cenário “não dominável” (TEUBNER, 2005, p. 157). Nesta concepção, as relações laborais sob um viés policontextural, são compostas, de um lado, por organizações econômicas com fins lucrativos e atuação de nível internacional que buscam lucro a qualquer custo e, de outro, é composta por trabalhadores que lutam pela manutenção dos direitos básicos no exercício laboral. Para atingirem o resultado lucro, na maioria das vezes, estas organizações sacrificam um bem maior: a dignidade da pessoa humana, assim faltam condições mínimas, necessárias para que o trabalhador desenvolva suas atividades de forma segura, diante disso se observa além do contrato de trabalho, este que partindo de uma visão não mais monocontextural, é apenas uma formalidade.

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Aqui para melhor ilustrar a presente ideia, podemos citar como exemplo as situações em que o empregado se coloca à disposição do empregador após a jornada de trabalho, durante seu horário de almoço, ou então em períodos de descanso remunerado. Diante de tal visão faz-se necessário e urgente enxergar jornada de trabalho como tempo de vida, pois, desta forma, o empregado se encontra 24 horas a disposição do trabalho, e, acaba por perder sua identidade como indivíduo tornando-se apenas um objeto utilizado para determinado fim.

Ainda sob um viés de pluralismo, interessante se faz a análise da “era digital” em detrimento à desconexão do trabalhador de seu exercício laboral. Aqui não se nega o surgimento de inúmeros benefícios inerentes ao trabalho com a chegada de avançadas tecnologias, mas se salienta que, tal facilidade induz o empregado a passar 24 horas em função de seu empregador, em outras palavras, a facilidade com que o mesmo leva seu trabalho para qualquer lugar. Daí, a importância deste direito a desconexão, uma vez que, o mesmo está ligado as regras de limitação de jornada, sob uma visão policontextural, e, não se restringe apenas a regulamentação de novas tecnologias, mas serve também, para evitar que o trabalhador se torne escravo de tais aparatos e se torne apenas mais um objeto do seu empregador, cenário este, que traz à tona a coisificação do ser humano, onde o excesso de trabalho predomina como um dos principais motivos que leva os trabalhadores a desenvolver depressão e outras patologias, que em casos mais avançados os levam a cometer suicídio, resultado da não desconexão do trabalho (SEVERO, 2014, p.45).

Assim, da mesma forma que avançadas tecnologias podem ser utilizadas para melhorar condições de trabalho e, facilitar o acesso a informações, essa mesma “facilidade de acesso” compromete “o tempo de vida” do empregado. Este fator também alcança o contrato de trabalho, onde se estipula a quantidade de horas a serem trabalhadas, que em muitos casos não passa de uma máscara que encobre a exploração do trabalhador, que se submete diante da necessidade de sobrevivência, uma vez que, os mecanismos de proteção existentes para o mesmo procurar por seus direitos, são poucos e muito frágeis, desse modo o contrato de trabalho é questão de mera formalidade, consequência disso é a sobrecarga do homos laborandi, entre outras supressões de direitos. A carência de uma visão policontextural das relações de trabalho acarretam consequências também no momento em que o homos laborandi procura por seus direitos, pois, na perspectiva policontextural, também o acesso à justiça não mais se conecta de forma absoluta como expressão de acesso ao judiciário (HABERMAS, 2002, p. 299-300).

Nesse sentido, surge mais um forte motivo para se observar além do contrato de trabalho, buscando evitar a exploração e inobservância de direitos e respeito à dignidade no âmbito das relações laborais, interessante se faz a reflexão de que ao ser contratado o empregado assina um

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documento no qual a jornada de trabalho já se encontra definida. Motivo pela qual é de suma importância observar o que existe além desta formalidade, como exposto até o presente momento a carência de uma visão policontextural das relações de trabalho vem desencadeando consequências como por exemplo a sociedade ligada à um viés de mercado e a inobservância de direitos fundamentais inerentes ao trabalhador deixam de observa-lo enquanto individuo de direitos como será exposto a seguir.

3 A GOVERNANÇA PELOS NÚMEROS E COISIFICAÇÃO DO HOMUS LABORANDI

O conceito de governança refere-se à internalização da norma. A governança global ocupa uma posição de destaque em favor da gestão estatal: governança, a sociedade civil, a subsidiariedade, flexibilidade, capital humano, entre outros, estas são características da atual governança pelos números. Atualmente, o poder não está mais ligado ao governo soberano, mas à governança eficaz (SUPIOT, 2007, p.184). É a adoção de um protagonismo imposto pela lógica de mercado, ou, como em Luhmann, esta comunicação é oriunda do subsistema econômico e transmitida para o subsistema jurídico, que é representado através desta normatização de questões do âmbito econômico. Diante disso, pode ser então, uma comunicação, que vise o fortalecimento de uma fundamentação social baseada na lógica dos números e do cálculo, onde a busca da maximização desenfreada de lucros passe a se sobrepor face aos direitos básicos e fundamentais dos indivíduos, pontualmente aqui, dos trabalhadores.

Para melhor entender a governança por números, oriunda da subordinação subjetiva do Estado às trocas econômicas internacionais (lex mercatória) e, às regras ditadas pela economia, podem ser citados inúmeros exemplos a fim de compreender a questão: a flexibilização dos direitos trabalhistas; terceirização da mão de obra e a iminente extinção de direitos anteriormente conquistados são alguns dos reflexos desse modelo de governança. Aqui, os riscos inerentes a normatizações fundamentadas em princípios econômicos ocupam um grande espaço na sociedade, surgem não só em forma de incentivos à exploração da mão de obra trabalhista, por parte dos empregadores, mas também, da criação de brechas jurídicas que admitam a subtração de direitos laborais do indivíduo através de uma lógica perversa de mercado, que para atingir seu objetivo principal, a lucratividade, “consequentemente” compromete a existência e o estado de bem-estar do ser humano enquanto ser laboral.

São nos novos modos de exploração do ser humano que se torna mais clara e evidente, a dimensão jurídica das novas técnicas de governança. Esta, que recicla os materiais, em especial o contrato de trabalho, que serve para tecer vínculos de sujeição de inovação e que torna o homem

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dependente de critérios de avaliação de objetivos que lhes ditam o comportamento sem a necessidade de proferir ordens. O exposto não inclui somente os trabalhadores ou grandes empresas, mas também os que se encontram excluídos delas, como as pessoas que as dirigem, ou seja, os gerentes ou os patrões (SUPIOT, 2007, p.212).

Vale ressaltar que, numa uma observação de primeira ordem, não podemos dizer que há uma submissão efetiva por parte dos Estados, frente aos ordenamentos das organizações geridas por preceitos econômicos, estando, ainda, presente nestes Estados a autoridade sobre as normatizações e algumas regulações quanto a economia, contudo, subjetivamente há que se reconhecer que a mundialização das organizações econômicas, tem exigido que os Estados deem um certo protagonismo para as questões ligadas a economia (LUHMANN, 2005).

A adoção desse protagonismo imposto pela lógica de mercado, ou conforme o entendimento do autor citado acima, faz com que a comunicação oriunda do subsistema econômico seja transmitida para o subsistema jurídico, que é representado através desta normatização de questões do âmbito econômico. Neste viés de mercado, a forma de controle sobre o trabalhador não desaparece, apenas muda de forma e ocorre menos sobre a maneira de efetuar determinada tarefa do que sobre o seu resultado, ao invés de o trabalhador se submeter às ordens de um chefe na execução de seu trabalho (SUPIOT, 2007, p. 212-213). Isso ocorre por que o empregado adere a objetivos que são claros e de conhecimentos de todos no ambiente laboral, ou seja, predomina aqui a busca pelos números1.

Segundo o autor, o trabalhador estava destinado a realizar seus atos na ordem e velocidade previstas, estando sobre o controle e supervisão de outra pessoa assalariada de nível hierárquico maior. Essa condição era adaptada e programada para uma produção em massa que obedecia a padrões de qualidade que exigiam muito pouco, isto é, resta evidente a governança por números, onde o objetivo é cumprir as metas estabelecidas ou então alcançar um determinado número deixando de lado a qualidade.

Desta forma, talvez o trabalho seja um modelo apolítico de vida, mas certamente não é anti-político. Este último é precisamente o caso do labor, atividade na qual o homem não convive com o mundo, nem com os outros, está a sós com seu corpo ante a pura necessidade de manter-se vivo.

1O autor destaca que: “Fomos objetivados!”: é assim que os trabalhadores designam as novas formas de direção do

“recurso humano” às quais estão submetidos. O trabalhador objetivado é aquele que, estando submetido ao poder anônimo de objetivos a serem atingidos, perdem o último elemento de subjetividade, a relação pessoal com um chefe. Consultar a obra: Ensaio sobre a função antropológica do direito. Alain Supiot. Tradução: Maria Ermantina de Almeida Prado Galvão – São Paulo: WMF Martins Fontes, 1º ed. 2007. p.212.

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É verdade, o trabalhador também vive na presença e na companhia dos outros, mas esta convivência não possui nenhuma das características da verdadeira pluralidade, sua vida faz parte do trabalho e não mais o trabalho de sua vida (ARENDT, 2007, p. 224). Segundo a autora, o homem dos dias atuais trabalha pela necessidade de manter-se vivo. O trabalhador apenas sobrevive, e a partir do momento em que sobreviver a mais um dia de trabalho, o mesmo perde a concepção de tempo ou de vida o que o leva de encontro com a crise existencial, e assim resta clara a coisificação do ser humano.

Vale ressaltar, que desde a revolução industrial, conforme citado em momento anterior neste trabalho, quando os empregados eram vistos como instrumentos para alcançar uma maior produção, se impõe condições degradantes de trabalho ditadas pelas regras desumanas de mercado, observa-se que o comportamento do homos laborandi foi padronizado e "rotinizado" como forma de obter disciplina e subordinação, e como consequência disso o trabalhador passa da qualificação de sujeito para “coisa”( BAUMAN, 2008).

O trabalho pode ser definido como uma atividade artificial da existência humana. O mesmo produz um mundo artificial de coisas diferentes de qualquer ambiente natural, dentro de cada fronteira habita cada vida individual, por mais que esse mundo se destine a sobreviver e a transcender todas as vidas individuais, por fim, a condição humana do trabalho é a mundanidade, ou seja, a condição atual é de um sistema que valoriza somente os bens materiais, estes, que infelizmente, advém na maioria das vezes da exploração do homem.

O homem vive enquanto trabalha, e não consegue se desligar do labor, é como se estivesse em função do mesmo 24 horas por dia, características da era antissocial, apesar dos trabalhadores desenvolverem as suas atividades na maioria das vezes em grupo, há pressão do ambiente laboral e a falta de condições necessárias para o desenvolvimento de um trabalho bom, sem prejuízos à saúde do trabalhador. Assim, resta clara a ligação do impacto da governança por números à coisificação do ser humano, onde ao invés do trabalho fazer parte da vida do homem, ele se torna a vida do mesmo, e em condições brutais, na maioria das vezes, sem dignidade ou sem o mínimo indispensável, que lhe garanta um pouco de proteção no âmbito laboral, o que o torna um sobrevivente, que se mantem no trabalho por questão pura e simples de necessidade. Nesta perspectiva de governança por números, o governo se apresenta como uma imensa máquina, regida por um conjunto de forças, engrenagens, pesos e contrapesos. Neste cenário o trabalhador é considerado apenas uma peça, que no momento em que apresentar falhas é simplesmente substituída, é apenas um número utilizado para atingir outros números (SUPIOT, 2014, n. p.).

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Atualmente, o mundo do trabalho vêm sofrendo drásticas mudanças, tanto nos países centrais, como no Brasil. Existe uma demanda muito grande de mão de obra a disposição do trabalho, e, a nível mundial não se pode negar que esta demanda encontra-se nos trabalhos parciais, precários, temporários, que se não aceitos nas condições propostas, se convertem num quadro de desemprego. Mais de um bilhão de homens e mulheres estão sofrendo as consequências das mudanças constantes do trabalho precarizado, instável, temporário, terceirizado, quase virtual, e dentre eles, centenas de milhões têm seu cotidiano moldado pelo desemprego estrutural (ANTUNES, 2010, p.103).

O cenário econômico dos dias atuais, revela uma questão que interfere diretamente nas relações de emprego, este que é composto por empresas, com atuação de nível internacional que buscam lucro a qualquer custo. Diante da concorrência, da luta, em busca de destaque no mercado de trabalho, as empresas passam a investir em capital e tecnologias, aprimorando a capacidade produtiva e reduzindo custos, e como consequência disso o trabalho humano é substituído pela máquina, razão pela qual o trabalhador para manter seu emprego se submete a condições precárias de trabalho (SANTOS,2012, n.p.).

Atualmente, o trabalhador, máquinas ou animais, tudo o que der lucro para o empregador ou contribuir para com ele, são tratados e vistos da mesma forma: como coisas, e coisas não têm família, não precisam de saúde, de descanso, de lazer, de comida, de educação, de moradia enfim, não precisam de respeito, é assim que os trabalhadores são vistos, diante desta era extremamente capitalista, são vistos como coisas que existem para servir e quando não for assim são descartadas (Lourenço, 2014; n.p.). As grandes empresas não se interessam com as condições de vida e de trabalho, ou se a remuneração que seus empregados recebem se faz suficiente diante de suas necessidades básicas, para que possam sobreviver com dignidade, se interessam apenas com o labor e de preferência que seja de baixo custo, enfim, buscam números. Ao se falar em coisificação do

homus laborandi não se pode negar que o homem deixa de agir como “indivíduo, e se interessa

apenas por sua própria sobrevivência”, e assim passa a agir como “membro da espécie”, a sociedade capitalista predomina e é vista como um todo, o “móvel gigantesco do processo de acumulação isenta dos limites impostos pela duração da vida individual e da propriedade individual”. (SEVERO; ALMEIDA. 2014 p.17)

A partir de todo o exposto, a sociedade ligada a um viés mercado, e a busca desenfreada pelos números, vai de encontro com flexibilização dos direitos trabalhistas, e, com isso o direito do trabalho retroage e o dever de importar-se com o próximo deixa de existir, e uma das consequências desta “governança de mercado” é o surgimento da síndrome do sobrevivente, onde a vida do

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trabalhador faz parte do trabalho, o que deveria ser o oposto, diante disso acredita-se que somente um ideal de solidariedade com o próximo promete mudar este cenário de exploração e coisificação do ser humano em troca de “números”, tal ideal será explanado no decorrer do próximo tópico.

4 O PRINCIPIO DA SOLIDARIEDADE E A SUPERAÇÃO DA SÍNDROME DO SOBREVIVENTE

A síndrome do sobrevivente foi descrita pela primeira vez em 1976 por Lifton e Olson. Esta síndrome é também conhecida como síndrome do campo de concentração, devido aos desastres causados pelas bombas atômicas que explodiram sobre Hiroshima e Nagasaki, poucas pessoas sobreviveram deste desastre, e as que se salvaram em sua maioria se suicidaram por se sentirem culpadas pela morte de seus familiares ou por que não se achavam dignas de terem sobrevivido, vivendo assim o resto de suas vidas a procura de uma resposta (LIFTON, 2005, n.p.). Segundo os autores a síndrome do sobrevivente traz como características a impressão de ansiedade elevada para a morte, imagens e lembranças decorrentes sobre algum desastre, pesadelos e pensamentos negativos, culpa pela morte de outros ou busca de culpado, prevaleciam sentimentos de culpa pela sobrevivência e de autocondenação por ter sobrevivido, embotamento emocional e sentimento de degradação, entorpecimento psíquico, apatia, isolamento, deterioração das relações sociais, luta interna para encontrar algum significado do desastre, seja religioso, racional, ou metafísico, irritabilidade, ira, agressão, neste caso similar a psicopatia, sentimento de culpa agressão e problemas físicos, como hipertensão, dor de cabeça e transtornos gastrintestinais.

Diante disso, as verdadeiras testemunhas são as que não testemunharam, e resta aos sobreviventes o encargo de testemunhar por delegação, de qualquer forma os que não sobreviveram não poderiam ter testemunhado e a culpa de quem sobrevive existe perante um ser superior, nenhum tipo de punição vinda da sociedade é capaz de ameniza-la (AGAMBEM, 2008, p.43). Alguns autores, entre os quais Silva (2010, p.17), trabalham a síndrome do sobrevivente, num viés trabalhista, como equivalente a um transtorno de estresse pós-traumático. Para esse autor, tal situação surge quando o trabalhador percebe sua limitação para atender as demandas solicitadas pelo trabalho.

A partir do exposto, o transtorno de estresse pós-traumático advém de uma série de sintomas característicos e perturbações. O mesmo encontra-se classificado dentro da categoria dos transtornos de ansiedade e, suas características são: reviver traumas, diminuição de responsabilidade, aumento de ansiedade e culpa. O TEPT (transtorno de estresse pós-traumático) como também é conhecido, surge de uma cascata de respostas biológicas e psicológicas, que resultam de respostas cerebrais

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neuroquímicas quando o sujeito se encontra diante de alguma espécie de ameaça ou trauma (GAUER, 2003, n.p.).

Em sentido análogo, o transtorno de estresse pós-traumático pode ser classificado de três formas: revivescência do trauma, resistência a situações que relembrem o evento traumático gerando falta de afetividade, e hiperestimulação autonômica (MAURAT E FIGUEIRA, 2001, n.p.). Os autores citam como característica desta síndrome, o estresse de rotina, transtornos clínicos agudos e crônicos, desastres ocasionados pelo homem e principalmente estresse relacionado ao ambiente laboral, também se ressalta a possibilidade de vítimas secundarias desta síndrome, ou seja, pessoas que acompanham a rotina de estresse dos familiares, ou presenciaram eventos traumáticos que aconteceu com eles, já é o suficiente para ser vítima da síndrome do sobrevivente.

No ambiente laboral, diante de casos como o da síndrome do sobrevivente, por muitas vezes se revela a opção do empregador pela demissão ao invés de sanções menos graves. Aqui resta claro a expressão de um poder unilateral, ou seja, são expressadas por penas consentidas por aqueles que as sofrem. Tal condição foi destacada pela doutrina, como originária do que se denominou “Síndrome do Sobrevivente”, ou seja, para manter um trabalho, que para o bem ou para o mal, lhe remunera de alguma forma, e, assim, lhe proporciona sobreviver, mesmo que hajam situações contrárias as premissas legais, o trabalhador não reclama, uma vez que, o fazendo, fatalmente lhe causaria a demissão, pois não se tem garantia contra a despedida arbitrária (SUPIOT, 2007, p. 215). Segundo estudos realizados, a síndrome do sobrevivente possui características relacionadas ao trabalho reestruturado, a dimensões neuro-indócrina associada à falta de recuperação física e psíquica, depressão desesperança, ansiedade ou mudanças na expressão da raiva, marcas físicas dor muscular esquelética e doenças devido a esforço repetitivo. Inicialmente esta síndrome se manifesta através da fadiga, dor osteomuscular ou síndrome Miofascial que é uma espécie de desordem de contração muscular com presença de dor, esta que pode evoluir para LER/DORT que são as lesões por esforços repetitivos, do ponto de vista psíquico, a síndrome do sobrevivente manifesta-se por meio da ansiedade e da falta de esperança levando o trabalhador na maioria das vezes ao encontro da depressão2 (HOEFEL, 2002, n.p.).

Importante ressaltar que, se delineia uma divisão do trabalho entre as organizações internacionais, umas encarregadas das mercadorias e capitais e outras encarregadas das pessoas,

2 Nesta mesma linha de pensamento, Anna Harendt diz que o homem dos dias atuais, trabalha pela necessidade de

manter-se vivo. Sendo assim, o mesmo perde a concepção de tempo ou de vida o que o leva de encontro com a crise existencial, e, a falta de condições necessárias para o desenvolvimento de um trabalho bom sem prejuízos à saúde do trabalhador, os leva a desenvolver o transtorno de estresse pós-traumático, ou seja, à síndrome do sobrevivente. Consultar a obra: A Condição Humana. ARENDT, Hannah. 10º edição. Rio de Janeiro: Forense Universitária, 2007. p.224.

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abertas as fronteiras para a circulação de mercadorias e capitais e permanecendo as mesmas fechadas aos homens surgem serias consequências humanas e assim quem detém o poder usa o direito para explorar os outros, que diante da necessidade de manter-se no mercado de trabalho apenas sobrevivem (SUPIOT, 2007, p. 268,269). Neste sentido, a era que se convencionou chamar modernidade se caracterizou por uma mudança drástica da realidade (BAUMAN, 1998, n.p.). O investimento no capital, em grande escala, em tecnologias e meios lucrativos de produtividade, com o viés de redução de custos, afeta o trabalhador, de modo que o mesmo passa a ter seus direitos restringidos em prol da busca por resultados, e diante da necessidade de manter seu emprego, o mesmo se submete a condições sub-humanas de trabalho de tal modo que passa a sobreviver ao trabalho dia a pós dia.

Atualmente com a abertura das fronteiras, visando atender uma série de fatores econômicos, políticos e técnicos a vida em sociedade se encontra precipitada. Assim as solidariedades nacionais começam a ser questionadas, por um lado pelo que se denomina globalização e de outro pela chamada localização e pela reterritorialização. Desta forma globalização e localização são as duas faces inseparáveis de estratégias econômicas mundiais que se fundamentam na valorização de vantagens competitivas locais e assim pode se dizer que o estado se encontra numa situação perigosa (SUPIOT, 2007, p. 192).

Neste sentido, o conceito de solidariedade surge do direito civil, no qual serve como corretivo para os inconvenientes da pluralidade dos credores. Atualmente se fala em uma solidariedade para o direito social, podendo servir para conter os efeitos da desestruturação social ligados a mundialização, ou então reconhecer as condições de vida e de trabalho que são atingidas pela liberalização das trocas mundiais. Depois de renovada a interpretação do princípio de solidariedade, surge uma abertura para contribuições de todos os países envolvidos pela sua efetivação. Tal ato contribuirá para se devolver ao homos laborandi os seus direitos, gerando para este ao invés de um sentimento de onipotência, um sentimento de pertencimento à organização, este último que resulta em uma melhor produtividade por parte do trabalhador (SUPIOT, 2007, p. 261-267). Nesta perspectiva, a solidariedade contribuiria para a própria existência humana3, ou seja, sem a solidariedade pode-se dizer que nenhum sistema sobreviveria por muito tempo. A igualdade entre seres humanos no que se refere à dignidade e a coordenação da solidariedade constitui mecanismo de controle da lógica mercantil a todas as atividades humanas. Nos países emergentes, como o

3 Nesse sentido, na análise biológica proposta por Maturana e Varela, encontramos fundamento a essa colocação, desde

aquele campo de conhecimento. Tais autores descrevem que “a aceitação do outro junto a nós na convivência, é fundamento biológico do fenômeno social”, uma vez que “sem aceitação do outro junto a nós, não há socialização, e sem esta não há humanidade”. (MATURANA; VARELA, 2001, p. 269).

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Brasil, os institutos de solidariedade não são vistos como obstáculos, ao contrário, são vistos como uma das condições necessárias e urgentes para a composição de um déficit social4.

O princípio da solidariedade é “de grande atualidade, já que, como a globalização é uma fonte de interdependência em face de riscos capitais (tecnológicos, ambientais, políticos, sanitários) dos quais nenhum país pode dizer-se a salvo, a organização da solidariedade diante desses riscos adquire uma importância vital em escala planetária” (SUPIOT, 2007, p. 260). Tal princípio que se transformou ao longo dos tempos, apresenta hodiernamente um sentido que abrange não só os direitos sociais, mas também direitos e princípios, contribuindo assim, para afastar eventual desestruturação da sociedade em um cenário mundializado (Id. p. 265).

O autor propõe uma observação do direito cuja a interpretação seja aberta a todos, promovendo o respeito à diversidade, de modo a conduzir a humanidade a um entendimento sobre valores que a una. Esta união pode revelar uma cooperação social de modo a efetivar a dignidade humana, seja entre nacionais, como na relação destes com estrangeiros, pois há um dever social, uma vez que

Não há talvez nada mais urgente, em um mundo crescentemente dirigido por corporações internacionais e com a motivação de poder embutida em suas operações, do que, articular um conjunto de objetivos humanamente ricos de desenvolvimento e um conjunto de atitudes mais gerais sobre os propósitos da cooperação que serão necessários a fim de manter as pessoas na busca desses objetivos5. (NUSSBAUM, 2013, p. 377).

Diante de todo o exposto, como forma de superação da síndrome do sobrevivente desencadeada pela governança por números propõe que seja reexaminado o princípio da solidariedade. O princípio da solidariedade é muito atual, já que, como a globalização é uma fonte de interdependência em face de riscos capitais dos quais nenhum país pode-se dizer a salvo, a organização da solidariedade diante desses riscos adquire uma importância vital em escala planetária. Neste sentido, a solidariedade não é considerada somente um modo de proteger os homens contra os riscos da existência, mas também de lhes dar meios de lutar por seus direitos e de exercer liberdades que já possuem.

4 Observações externas, como a realizada por Alain Supiot destacam que, com o programa Bolsa Família, o Brasil se

torna referência na implementação de medidas solidárias. (SUPIOT, 2014)

5 Vale ressaltar, a obra de Martha Nussbaum onde sobressai a promoção das capacidades humanas em um mundo de

desigualdades, objetivando aquela cooperação. Identificando as capacidades, a filósofa apresenta alguns princípios para o desenvolvimento em estrutura global que garanta a todos os seres humanos as oportunidades básicas, sem desconsiderar que “vivemos em um mundo em que simplesmente não é verdade que cooperar com os outros em termos justos seja vantajoso para todos” (2013, p. 337). A superação desta condição implica certamente sacrifícios de indivíduos e de nações. Consultar a obra: Fronteiras da Justiça: deficiência, nacionalidade, pertencimento à

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5 CONCLUSÕES

A reflexão proposta neste trabalho têm como foco a análise da governança por números, partindo de uma visão Sistêmica proposta por Niklas Luhmann, e como sua consequência, o surgimento da síndrome do sobrevivente. Ao fazer a análise das relações laborais em um contexto policontextural foi possível observar o que existe além da formalidade do contrato de trabalho. Da mesma forma que foi possível identificar, a falta de uma visão policontextural destas relações, que vem desencadeando consequências como por exemplo, a flexibilização de direitos trabalhistas, longas jornadas de trabalho, exploração da mão-de-obra, e principalmente desrespeito a dignidade do trabalhador, características da lógica de mercado existente.

Em um segundo momento, no presente trabalho identificados a sociedade ligada a um viés mercado, onde a busca desenfreada pelos números, vai de encontro com flexibilização dos direitos trabalhistas, e, com isso o direito do trabalho retroage e o dever de importar-se com o próximo deixa de existir, consequência desta “governança de mercado” é o surgimento da síndrome do sobrevivente. Diante de tal cenário, há muito pouco a se falar em respeito ao homos laborandi, uma vez que resta clara a violação de direitos do trabalhador decorrente da lógica de mercado.

Por fim, ao concluir a presente pesquisa, tendo feito a observação policontextural das relações laborais, chega-se à conclusão de que a sociedade está ligada à um viés de mercado, e como consequência disso desencadeia-se a síndrome do sobrevivente, percebe-se que as relações que fortaleçam laços de solidariedade aparecem como forma de afastar meios opressivos, gerando um sentimento de pertencimento à organização, que, consequentemente influencia para uma maior produtividade e lucratividade do Mercado, desta forma a solidariedade surge como forma de superação da síndrome do sobrevivente.

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