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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS DA AMAZÔNIA PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO TRÓPICO ÚMIDO - PDTU TESE DE DOUTORADO

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Academic year: 2019

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NÚCLEO DE ALTOS ESTUDOS DA AMAZÔNIA

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO

EM DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL

DO TRÓPICO ÚMIDO - PDTU

TESE DE DOUTORADO

REGULARIZAR A TERRA: UM DESAFIO PARA AS

POPULAÇÕES TRADICIONAIS DE GURUPÁ

Girolamo Domenico Treccani

BELÉM (PA)

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Tese de Doutorado apresentada ao Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido – PDTU do Núcleo de Altos Estudos da Amazônia da Universidade Federal do Pará, como requisito parcial para a obtenção do título de Doutor em Desenvolvimento Sustentável.

Professora Orientadora: Ligia T. L. Simonian

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Treccani, Girolamo Domenico

Regularizar a terra: um desafio para as populações tradicionais de Gurupá / Girolamo Domenico Treccani.

725 f.: il.; 23 cm

Tese (Doutorado) – Universidade Federal do Pará, Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, Doutorado em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido. Belém, 2006.

Inclui bibliografias

1.Terras – Legislação – Gurupá (PA). 2. Propriedade rural – Legislação - Gurupá (PA). 3. Gurupá (PA) – Posse de terra. I. Título.

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TESE APRESENTADA EM BANCA E APROVADA POR:

___________________________

Profa. Dra. Ligia T. L. Simonian – Orientadora; UFPA

___________________________

Profa. Dra. Edna Castro – Examinadora interna; UFPA

___________________________

Prof. Dr. David McGrath – Examinador interno; UFPA

___________________________

Prof. Dr. José Heder Benatti – Examinador externo; UFPA

___________________________

Prof. Dr. Roberto Araújo de Oliveira Santos – Examinador externo; MPEG

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Agradecimentos

Este trabalho não teria sido possível sem a colaboração dos funcionários, estagiários e consultores da FASE Núcleo Local de Desenvolvimento Sustentável, programa inserido na FASE Amazônia que, nestes anos, dedicaram seu trabalho para o sucesso do programa. A todos os meus agradecimentos: Adamor Chaves da Silva, Agenor Ramos Pombo, Aroldo José Diamantino Nogueira, Cléo Gomes da Mota (Engenheiro Florestal), Denyse Maria de Almeida Gomes (Engenheiro Agrônomo), Deolindo Vandekoken (“Capixaba”), Fátima Pinã-Rodrigues (Engenheira Florestal), Ivandilson Cleber Bahia Jorge (“Dílson”), Ivanir Pinheiro Pilonetto, João Batista da Silva (Técnico em Agropecuária), José Pedro Rosário Monteiro (“Pedrinho” - Técnico Florestal), Karina Ninni Ramos (Jornalista), Luciane Gérssica de Almeida Ferreira (Secretária Executiva Bilíngue), Lucidéa Maria Pinto da Silva (“Dea” - Bacharel em Turismo), Manoel José Nogueira de Carvalho (“Zé Nogueira”), Marcos Gomes da Silva, Maria Antonia Santos do Nascimento (Secretária Executiva Bilíngue), Maria de Jesus de Paula e Sousa, Maria Selma Santos do Nascimento (Técnica Florestal), Nilza de Sousa Miranda (Técnica Florestal), Pâmela Melo Costa (Graduanda em Eng. de Pesca), Raimundo Monteiro dos Santos (“Noguerinha” técnico da FASE e atual Prefeito Municipal de Gurupá), Raimundo Pinto Machado (“Curió”), Raoni Nascimento Silva (Graduando em Eng. Florestal), Raul Chucair do Couto (Engenheiro Florestal), Renata Teixeira de Oliveira (Engenheiro Florestal), Sandra Regina da Costa (Engenheiro Florestal), Wilson dos Santos Fernandes. Sheila Leão (Engenheira Florestal), que elaborou os quadros relativos aos Projetos de Manejo. A colaboração de cada um(a) foi importante na construção coletiva de um Projeto Local de Desenvolvimento Sustentável.

Sérgio Alberto Queiroz Costa (Engenheiro Agrônomo), Manoel Pantoja da Costa (“Bira”), Pedro Alves Vieira (“Pedro Tapuru”), Selma Aparecida Gomes (Ecóloga) e Renata Aparecida Alves (Ecóloga): “cúmplices” no “Componente Fundiário” do NDLS Gurupá, preciosos(as) companheiros(as) na pesquisa pelos caminhos a serem trilhados nos processos de regularização fundiária, fontes inesgotáveis de informações, mediadores nos contatos com as comunidades, “questionadores” sobre as possíveis “brechas” legais que viabilizassem o reconhecimento do direito dos trabalhadores(as) de Gurupá.

Ligia T.L. Simonian pela ajuda em sistematizar as idéias e procurar os caminhos para viabilizar este trabalho.

Aos professores do NAEA pelos ensinamentos e aos funcionários pela atenção no atendimento.

Paulo Henrique Borges de Oliveira Júnior (Engenheiro Agrícola); Jorge Pinto da Silva (Engenheiro Agrônomo), coordenadores do NDLS Gurupá pelas informações prestadas, pelo compromisso em viabilizar a continuidade do trabalho da equipe e na gestão democrática do Programa.

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sustentável municipal, ajudou a refletir sobre a legislação relativa aos Planos de Manejo Florestal.

Aos diretores do STR de Gurupá, de maneira especial Hermes Viana da Costa (Presidente) e José Vagner Primavera Pinto (Tesoureiro), pelo apoio prestado e pelos ricos debates sobre a situação fundiária do município.

Padre Giulio Lupi, vigário de Gurupá, pelos documentos e preciosas informações prestadas.

Eloísa dos Santos Leal, Diana Regina Nobre Correa, Rosalina Ferreira Brunini, Cecília Tatiana Beleza Mesquita, Deliana Da Fonseca Rocha, Maria Namir Rosane Costa de Freitas, que realizaram a pesquisa no arquivo do ITERPA.

Mauro Luis Ruffino (Coordenador Técnico do PROVÁRZEA), Serguei Aily Franco de Camargo (Coordenador do Componente Estudos Estratégicos) Maria Clara Forsberg (IBAMA/PROVÁRZEA - Gerente do Componente Estudos Estratégicos) e Antonia L. F. Barroso (IBAMA/PROVÁRZEA - Assistente do Componente Estudos Estratégicos), por toda a ajuda prestada na viabilização do “Estudo de Áreas Comunitárias na Várzea Amazônica. Sub-estudo: Identificação e Análise dos Diferentes Tipos de Apropriação da Terra e suas Implicações sobre o Uso dos Recursos Naturais Renováveis da Várzea Amazônica no Imóvel Rural, na Área de Gurupá” (Projeto PNUD/BRA/00/008/CEF03 PROVÁRZEA).

Ibraim das Mercês Rocha (procurador fundiário do estado do Pará), pelos debates sobre os diferentes temas relacionados á questão agrária no Pará.

José Maria Hesqueth Conduru Neto (GRPU/PA - UFRA) e Orlando Correa (GRPU/PA) pelo material fornecido e sugestões sobre os caminhos a serem adotados para agilizar a tramitação dos processos.

David McGrath, Antonia do Socorro Pena da Gama e José Heder Benatti (IPAM), Ana Carolina Santos Surgik, Consultores do estudo: “Aspectos jurídicos e fundiários da utilização social, econômica e ambiental da várzea: análise para elaboração de modelos de gestão”, encomendado pelo Pró-Várzea que ajudaram a discutir os diferentes sistema de utilização da várzea e os aspectos jurídicos subjacentes.

Ronaldo Barata, Dulce Leoncy, Sérgio Maneschy, Jorge Santos e Carlos Lamarão Correa (Diretores do ITERPA), pelas informações prestadas e por facilitar o acesso ao arquivo do ITERPA.

Manuel Amaral (GTNA), pelo material sobre exploração madeireira e informações sobre o PMFC.

Tasso Azevedo (Diretor) e Roberta Del Giudice (consultora Jurídica) do Programa Nacional de Florestas pelas informações e documentos fornecidos.

Brenda Brito (IMAZON), pelo material sobre exploração madeireira.

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RESUMO

As populações tradicionais da Amazônia, a partir da década de oitenta do século passado, redescobriram a possibilidade de afirmação de sua identidade e de seus direitos e passaram a lutar nessas direções. Um momento fundamental neste processo foi o de reconhecer sua heterogeneidade socioeconômica e cultural: povos indígenas, remanescentes das comunidades de quilombos, ribeirinhos, extrativistas, camponeses, pescadores. Na busca do reconhecimento de seus direitos às terras que ocupam e aos recursos naturais nela existentes, constataram que a legislação não apresentava normas que espelhassem a contento suas experiências de vida. Instrumentos jurídicos inovadores surgem nesse contexto, a exemplo das unidades de conservação de uso direto e de outras modalidades de regularização fundiária de natureza agro-ecológica.

Nessa perspectiva, a experiência dos agroextrativistas do município de Gurupá, estado do Pará, foi investigada e é discutida com base em evidências qualitativas e quantitativas produzidas sob uma orientação interdisciplinar quanto à metodologia. Ainda, considerou-se o local/regional a partir da história e das tendências ambientais e socioeconômicas recentes. Essa abordagem implicou em uso de um conjunto de imagens de importância iconográfica e na discussão de conceitos, como o de populações tradicionais, desenvolvimento sustentável e política pública.

Por sua vez e ao longo da tese, a literatura acadêmica, a documentação especializada e os dados produzidos in locus revelam a problemática jurídica-fundiária entre os agroextrativistas gurupaenses como elemento central e ao mesmo tempo aglutinante nas transformações que está a os atingir. Nestes termos, tem-se um processo de ocupação das terras permeado por conflitos de interesses, abusos e mesmo violência, uma legislação em vigor ao longo do tempo e plena de contradições, e a existência de registros cartoriais de imóveis dominados por inconsistências jurídicas. Diante disso, esses trabalhadores e os especialistas sensíveis a sua causa surgem como vitoriosos em muitas questões ao demandarem ao poder público possibilidades que pudessem garantir-lhes segurança jurídica com vistas à permanência na terra.

Palavras chaves: Populações tradicionais, remanescentes das comunidades de quilombos,

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SUMMARY

The traditional populations of the Amazon, from the early eighties of the XXth century,

rediscovered the possibility of affirmation of their identity and rights and they have started to fight towards these endeavors. A basic moment of this process was to recognize their socio-economic and cultural heterogeneity as indigenous remnant people of the communities like Maroons, people living from the land, peasant farmers and small communities living along the Amazon’s rivers. In the search of the recognition of their rights over the lands that they occupy and to the natural resources that exist in the land itself, they realized that the legislation did not present norms that reflect satisfactorily their experiences of life. Innovative legal instruments are appearing on this regard and they follow the units of conservation of direct use and other modalities of agrarian regulations of agroecological nature.

In this perspective, the experience of the people living of the land of the city of Gurupa, state of Para, was researched and it is argued on the basis of qualitative and quantitative evidences produced under an inter-disciplinary orientation, as far as methodology of investigation is concerned. It has also been considered the history and the latest environmental and socio-economic trends referring to the place/region under consideration. This approach implied the use of a set of images of iconographic importance and in the discussion of concepts of traditional populations, sustainable development and public politics.

Throughout the thesis, the academic literature, the specialized documentation and the data produced in locus disclose the legal-agrarian problematic among the people living of the land of Gurupa as the central element and, at the same time, it brings together the transformations that are about to affect them. Along these lines, there is a process of occupation of lands permeated by conflicts of interest, abuses and even violence; the present laws which come from the past are full of contradictions. In addition, there is also the existence of documents from registry offices dominated by legal inconsistencies. Facing this situation, these workers and specialists sensible to their cause appear as successful in many issues when demanding from the public authority possibilities that could guarantee legal security to them in view of their remaining lands.

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RIASSUNTO

Le popolazioni tradizionali dell’ Amazzonia, a partire dal 1970-1980 hanno riscoperto la possibilitá di affermazione della loro identitá e dei loro diritti e hanno iniziato a lottare in queste direzioni. Un momento fondamentale di questo processo é stato quello di riconoscere la loro eterogeneitá socio-economica e culturale: popolazioni indigene, discendenti di “quilombo”, “ribeirinhos” (comunitá che vivono lungo i fiumi), comunitá estrativiste (comunitá che vivono dai prodotti della terra), contadini, pescatori. Alla ricerca del riconoscimento dei loro diritti alla terra che occupano e alle risorse naturali che in questa esistono, hanno constatato che la legislazione non presentava norme che riflettessero corretamente le loro esperienze di vita. Strumenti giuridici innovatori nascono in questo contesto, ad esempio delle unitá di conservazione di uso diretto e di altre modalitá di regolarizzazione delle terre di natura agro-ecologica.

L´esperienza degli agroestrativisti del comune di Gurupá, nello stato del Pará, é stata investigata e discussa con base nelle evidenze qualitative e quantitative prodotte sulle orientazioni interdisciplinari per quanto riguarda la metodologia. É stato anche considerato il luogo/regione a partire dalla storia e dalle tendenze ambientali e socio-economiche recenti. Questa maniera di trattare questa tematica ha reso necessaria l´utilizzazione di un insieme di immagini di importanza iconografica sia nella discussione di concetti, come quello di popolazioni trazionali, sia lo sviluppo sostenibile e la politica pubblica.

Nella tesi la letteratura accademica, la docunentazione specializzata e i dati prodotti

in locus hanno rivelato la problematica giuridica della regolarizazzione della terra degli agroestrativisti di Gurupá come elemento centrale e, allo stesso tempo, agglutinante nelle trasformazioni che li colpiscono. In questi termini, si ha un processo di occupazione delle terre pieno di conflitti di interessi, abusi e perfino violenza, una legislazione in vigore da molto tempo e piena di contraddizioni, e l’ esistenza di documenti notarili di immobili dominati dalla inconsistenza giuridica. Davanti a una tale situazione, questi contadini e gli specialisti sensibili alla loro causa, sono vittoriosi in molte questioni nel chiedere al potere pubblico le possibilitá che possano garantire loro la sicurezza giuridica per rimanere sulla terra.

Parole-tema: Popolazioni tradizionali, discendenti delle comunitá di “quilombo”, “várzea”,

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LISTA DE TABELAS

Título Pág.

01 Gurupá - Habitantes de 1970 a 2000 73

02 Brasil População Urbana e Rural (1970-2000) 75

03 Habitantes de Gurupá no século XVIII 153

04 Número de escravos envolvidos na exploração da borracha 192

05 Produção extrativa vegetal no Pará – 2000 205

06 Município de Gurupá - Produção extrativa e agrícola (1960-2003) 208 07 Município de Gurupá – Valor da produção extrativa e agrícola

(1960-2003) 209

08 Município de Gurupá - Área colhida (1993-2002) 210

09 Comércio de madeiras da Amazônia (1913-1918) 212

10 Produção de madeiras em toras (1950-2003) 218

11 PMFS de Uso Múltiplo 233

12 Situação dos PMFS Pequena Escala madeireiro em Gurupá

protocolados em 2003 (ATAEDI e APROJA) 235

13 Modalidades de Manejo Florestal 251

14 Situação dos Planos de Manejo Florestal Comunitário 253

15 Diferenças entre PL 4776/2005 e a Resolução COEMA Pará nº 29/04 257

16 Produção e valor da produção do açaí no Brasil – 1996 269

17 Situação dos PMFS não madeireiros em Gurupá 273

18 Tipos de mandioca 283

19 Rebanho de Gurupá de 1990 a 2003 288

20 Evolução de indicadores de monitoramento da produção de camarão 302

21 Cartas confirmadas no Grão Pará 335

22 Lista das sesmarias confirmadas de Gurupá 336

23 Leis que ampliaram o prazo para registrar terras no Pará 364

24 Tamanho dos Títulos de PosseTítulos 368

25 Tamanho a ser autorizado pela Assembléia Legislativa 393

26 Distribuição espacial e tamanho dos documentos que não transferem

propriedade 410

27 Distribuição espacial e tamanho dos documentos que transferem

propriedade 410

28 Situação dos processos de cancelamento de irregulares 422

29 RESEX no Brasil 459

30 Áreas propostas para a criação de RESEX no Pará 464

31 RDS a serem criadas no Pará 472

32 Proposta de criação de PAE no Pará 478

33 PDS a serem criados no Pará 479

34 PAF a serem criados no Pará 480

35 Sugestão da FETAGRI sobre o Mosaico a ser criado no Pará 482

36 Andamento dos processos 538

37 Comunidades quilombolas nos levantamentos da FCP, Anjos, INCRA

e Treccani 565

38 Titulação de terras quilombolas (1995-2004) 572

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LISTA DE GRÁFICOS

Título Pág.

01 Gurupá: evolução da população urbana e rural em números

(1970-200) 74

02 Gurupá: evolução da população rural e urbana em porcentagem

(1970-200) 74

03 Brasil, Pará e Gurupá - evolução da população urbana em

porcentagem (1970-200) 75

04 Valor da produção extrativa e agrícola de Gurupá (1993-2003) 207

05 Produção de madeira 219

06 Gurupá - Valor arrecadado com a venda da madeira (1993-2003) 219

07 Madeira liberada pelo IBAMA (2001-2005) 236

08 Situação dos Planos de Manejo 254

09 Evolução da produção de açaí e palmito 270

10 Famílias envolvidas no manejo 271

11 Gurupá: Produção de Palmito (1978-2003) 277

12 Evolução da produção da farinha de mandioca em toneladas

(1960-2003) 283

13 Gurupá: Produção Municipal de castanha do pará (1980-2003) 286

14 Evolução dos indicadores ambientais na produção de camarão 301

15 Evolução dos indicadores econômicos na produção de camarão 302

16 Áreas tituladas no Brasil total 573

17 Áreas tituladas no Brasil pela União e Estados 573

18 Áreas tituladas no Pará 613

LISTA DE MAPAS

Título Pág.

01 Amazônia Legal 22

02 Localização geográfica do município de Gurupá no Brasil 78

03 Influência da cabanagem na área quilombola 174

04 Ação clandestina dos madeireiros de Porto de Moz 223

05 Localização das comunidades pesqueiras 304

06 Provável localização das Cartas de Sesmaria de Gurupá 337

07 Provável localização dos Registros Paroquiais 354

08 Provável localização dos Títulos Legitimados 375

09 Provável localização dos Títulos de Propriedade 376

10 Provável localização dos Títulos Definitivos 378

11 Provável localização dos Títulos Coloniais 379

12 Provável localização dos Títulos de Terra Devoluta 380

13 Provável localização dos Títulos Provisórios 381

14 Localização dos Processos de Regularização Fundiária Familiar 404

15 Légua Patrimonial de Gurupá 411

16 Provável localização dos registros de Aníbal Carvalho e Francisco S.

Santos 421

17 Áreas regularizadas ou em processo de regularização 444

18 Áreas de uso especial (indígenas e unidades de conservação) 447

19 Proposta de criação da RESEX Marajoi 463

20 RDS Itatupã-Baquiá 469

(13)

Título Pág.

22 Requerimentos de autorização de uso incidentes no PAE de Camutá 477 23 Corredores ecológicos atuais e a proposta do novo corredor 481

24 Áreas de várzea e de terra firme 503

25 Área do estado do Pará sujeita ao regime das marés 520

26 Localização das Comunidades do Igarapé do Costa, Piracoema e

São Ciriaco 528

27 Localização da ilha do Urutai 536

28 Localização da ilha das Cinzas 538

29 Distribuição geográfica das comunidades quilombolas do Pará 610 30 Distribuição geográfica das comunidades quilombolas tituladas do

Pará 614

31 Área titulada em favor da ARQMG 618

LISTA DE FIGURAS

Título Pág.

01 Linha do Tratado de Tordesilhas 104

02 Pólos e zonas madeireiras do Pará, 1998 214

03 Logotipo do STR de Gurupá 279

04 Calendário Anual de Atividades da RDS Itatupã-Baquiá. Região de

várzea. Município de Gurupá – Pará 317

05 Calendário Anual de Atividades da Comunidade São Francisco.

Região de Terra-firme. Município de Gurupá – Pará 318

06 Expansão da fronteira de ocupação 321

07 Imagens de Camutá do Pucurui de 15/07/1986 e de 05/11/2001 322

08 Imagens da região de Uruará, da década de 1990 e de 2000 322

09 Cartaz da oposição sindical de 1986 431

10 Diferentes realidades a serem contempladas na regularização

fundiária de ilhas 487

11 Perfil das ilhas de Gurupá 509

12 Perfil das ilhas com presença do interior nacional 510

13 Perfil das Ilhas e lagos de Santarém 511

14 Aumento de ilha na margem direita do Rio Amazonas (1986) 512

15 Aumento de ilha na margem direita do Rio Amazonas (2001) 512

16 Diminuição da Ilha do Majó (1986) 512

17 Diminuição da Ilha do Majó (1999) 512

18 Perfil de terreno de marinha 513

19 Situação da Várzea de Santarém 514

20 Croquis de uma colocação 515

21 Colocações contíguas 516

22 Colocações de seringueiros da região de Itatupã 517

23 Vazão do Rio Amazonas 519

24 Localização da Ilha de Santa Bárbara 525

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LISTA DE FOTOS

Título Pág

01 Objeto encontrado em Carrazedo em 2000 96

02 Objeto encontrado em Carrazedo em 2003 96

03 Expedições que saíram de Gurupá 99

04 Forte de Santo Antonio 109

05 Obelisco do forte - placa com a referência aos holandeses 113

06 Obelisco - placa da chegada de Tavares 124

07 Prefeitura Municipal de Gurupá 194

08 Pequena serraria 220

09 Jangada popular 227

10 Curso sobre cubagem de madeira 229

11 Jovens que trabalham com marchetaria 263

12 Escola de marcenaria 264

13 Grupo de Mulheres de São João do Jaburu 266

14 Seminário Consulta 267

15 Açaí 268

16 Pau Mulato 272

17 Barco com palmito 275

18 Palmito na ponte 275

19 Fabriqueta 276

20 Vidros com palmito 276

21 Criança com castanhas 287

22 Horta suspensa 290

23 Plantas medicinais 290

24 Casco o meio de transporte mais utilizado: crianças indo para escola 295

25 Conserto de rede de pesca 296

26 Pesca com tarrafa 296

27 Pesca com zagaia 296

28 Homens tecendo matapis 297

29 Viveiro de camarão 298

30 Camarão antes da engorda e depois 303

31-39 Atividades agro-florestais desenvolvidas pelas famílias em Gurupá: açaí, palmito, madeira, mandioca, horta, criação, pesca e caça 313

40 Elaboração do Calendário sazonal (1) 314

41 Elaboração do Calendário sazonal (2) 314

42 Identificação dos diferentes usos das áreas de exploração 318

43 Ato público realizado durante o acampamento sindical de 1986 432 44 Selma Gomes e comunitários no 2° Curso de mapeam ento

participativo (nov. 2000) 483

45 Capa do Plano de Uso da ATARCP 485

46 Capa do Plano de Uso da Ilha da Santa Bárbara 486

47 Diferença da maré na região do Itatupã (Vazante) 508

48 Diferença da maré na região do Itatupã (Enchente) 508

49 Demarcação provisória dos limites 617

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LISTA DOS ANEXOS

Título Pág.

01 Nomes científicos da flora e fauna citados 680

02 Carta de Datta e Sesmaria passada a Paschoal Carvalho e

Albuquerque 683

03 Carta de Confirmação passada para Paschoal Carvalho e

Albuquerque 685

04 Carta de Datta e Sesmaria passada a Francisco Xavier Bottero 687 05 Carta de Confirmação passada para Francisco Xavier Bottero 689

06 Lista das comunidades quilombolas tituladas no Brasil 691

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LISTA DE SIGLAS

ABNT: Associação Brasileira de Normas Técnicas

AIMEX: Associação das Indústrias Exportadoras de Madeira;

ALPPAR: Associação Livre dos Pescadores e Pescadoras Artesanais de Gurupá; AMICOS: Associação dos Moradores Igarapé do Costa;

AMOSC: Associação dos Moradores da Comunidade de São Ciriaco de Urucurituba; APA: Área de proteção ambiental;

APROJA: Associação dos Produtores do Jaburu;

ARQMG: Associação das Comunidades Remanescentes de Quilombo do Município de Gurupá;

ARQMR: Associação dos Remanescentes de Quilombo Maria Ribeira; Art.: Artigo

ART: Anotação de Responsabilidade Técnica;

ATAEDI: Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas do Distrito do Itatupã; ATAIC: Associação dos Trabalhadores Agroextrativistas da Ilha das Cinzas; ATARCP: Associação dos Trabalhadores Rurais do Camutá do Pucurui; ATPF: Autorização de transporte de produtos florestais;

ATRISB: Associação dos Trabalhadores Rurais da Ilha de Santa Bárbara; CEDENPA: Centro de Estudos e Defesa do Negro no Pará;

CEPAF: Conselho Estadual de Política Agrícola, Agrária e Fundiária; CF: Constituição Federal;

CNBB: Conferência Nacional dos Bispos do Brasil; CNIR: Cadastro Nacional de Imóveis Rurais; COEMA: Conselho Estadual do Meio Ambiente;

COOMAG: Cooperativa Mista Agro-Extrativista de Gurupá; COVATE: Comissão de Avaliação de Terras do Estado; CND: Conselho Nacional de Desestatização;

CNS: Conselho Nacional dos Seringueiros;

CNPT: Centro Nacional das Populações Tradicionais; CPT: Comissão Pastoral da Terra;

DOU: Diário Oficial da União;

DRP: Diagnóstico Rural Participativo;

EMATER: Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural; FAEPA: Federação da Agricultura do Estado do Pará;

FAO: Food and Agriculture Organization of the United Nations (Organização para a Alimentação e Agricultura das Nações Unidas);

FASE: Federação dos Órgãos de Assistência Social e Educacional; FATE: Ficha de Avaliação Técnica Expedida;

FETAGRI: Federação dos Trabalhadores na Agricultura; FNO: Fundo Constitucional de Financiamento do Norte; FSC: Forest Stewardship Council;

GEBAM: Grupo Executivo Baixo Amazonas; GPS: Global Positioning System;

GRPU: Gerência Regional do Patrimônio da União;

IBAMA: Instituto Brasileiro de Meio Ambiente e Recursos Naturais Renováveis; IBDF: Instituto Brasileiro de Desenvolvimento Florestal (atualmente IBAMA); IBGE: Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística;

ICMS Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços; IDH: Índice de Desenvolvimento Humano;

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IMAZON: Instituto do Homem e Meio Ambiente da Amazônia; INCRA: Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária INPA: Instituto Nacional de Pesquisa da Amazônia;

INPE: Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais; IPAM: Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia; ISA: Instituto Socioambiental;

ITERPA: Instituto de Terras do Pará;

ITESP: Fundação Instituto de Terras do Estado de São Paulo;

IUCN: International Union for the Conservation of Nature and Natural Resources JUDAM: Jovens Unidos para o Desenvolvimento da Marchetaria em Gurupá; LPM: Linha de Preamar Médio.

LSR: Laboratório de Sensoriamento Remoto; MDA: Ministério do Desenvolvimento Agrário; MFC: Manejo Florestal Comunitário;

MMA: Ministério do Meio Ambiente, dos Recursos Hídricos e da Amazônia Legal; MP: Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;

MONAPE: Movimento Nacional dos Pescadores;

MOPEBAM: Movimento dos Pescadores e Pescadoras do Oeste do Pará e Baixo Amazonas;

MOPEPA: Movimento dos Pescadores do Pará; MPEG: Museu Paraense Emílio Goeldi;

NAEA: Núcleo de Altos Estudos da Amazônia; NDL: Núcleo de Desenvolvimento Local; ONG: Organizações não-governamentais; PAE: Projeto de Assentamento Agroextrativista; PAF: Projeto de Assentamento Florestal;

PAOF: Plano Anual de Outorga Florestal; PDS: Projeto de desenvolvimento Sustentável;

PDTU: Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Sustentável do Trópico Úmido

PGE – PA: Procuradoria Geral do Estado do Pará; PIB: Produto Interno Bruto;

PL: Projeto de Lei;

PMFC: Plano de Manejo Florestal Comunitário; PMFS: Plano de Manejo Florestal Simplificado;

PMFS: Planos de Manejo Florestal Sob Regime Sustentável;

PMFSEmpresarial: Plano de Manejo Florestal Sustentável de Uso Múltiplo em Escala Empresarial

PNF: Programa Nacional de Florestas; RADAM: Projeto Radar na Amazônia;

RDS: Reserva de Desenvolvimento Sustentável; RESEX: Reserva Extrativista;

RMDS: Reserva Municipal de Desenvolvimento Sustentável; RPPN: Reservas particulares de patrimônio natural;

SCNR: Sistema Nacional de Cadastro Rural;

SECTAM: Secretaria Executiva de Ciência, Tecnologia e Meio Ambiente; SIG: Sistema de Informações Geográficas;

SIPAM: Sistema de Proteção da Amazônia;

(18)

SPU: Secretaria do Patrimônio da União;

SPVEA: Superintendência do Plano de Valorização Econômica da Amazônia; SR-INCRA 01: Superintendência Regional do INCRA do Pará;

STF: Supremo Tribunal Federal;

STR: Sindicato dos Trabalhadores Rurais;

SUDAM: Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia; TI: Terras Indígenas;

TCAPMFS: Termo de Compromisso de Averbação para o Plano de Manejo Florestal Simplificado;

TCARL: Termo de Compromisso de Averbação da Reserva Legal; TJE – PA: Tribunal de Justiça do Estado do Pará;

TRMFM: Termo de Responsabilidade de Manutenção de Floresta Manejada; UC: Unidade de Conservação;

UFPA: Universidade Federal do Pará; VTN: Valor da Terra Nua;

WWF: World Wildlife Foundation

(19)

SUMÁRIO

Agradecimentos

Siglas

Lista de tabelas Lista de gráficos Lista de mapas Lista de figuras Lista de fotos Sumário Apresentação

pág. 1 – Introdução e metodologia

1.1 Apresentação da problemática 21

1.2 Problemas e hipóteses de trabalho 21

1.3 Contextualização do problema 29

1.4. Perspectivas teóricas 44

1.4.1 Referencial antropológico e sociológico 44

1.4.2 Referencial Jurídico 49

1.5 Metodologia de trabalho 61

1.6 O trilhar de caminhos já desbravados 69

1.7 Gurupá: o centro espacial da pesquisa 71

1.8 Detalhamento do trabalho 82

2 – Elementos de história regional e de Gurupá 94

2.1 A época pré-colombiana e a chegada dos europeus 94

2.2 Gurupá: o começo do processo de ocupação 108

2.3 Gurupá: ponto de apoio da expansão portuguesa 118

2.4 O começo da decadência 128

2.5 A disputa para o controle da mão-de-obra indígena 130

2.6 A escravidão dos negros como “solução” para o problema da

mão-de-obra 139

2.6.1 Escravidão e resistência dos negros no Brasil 139

2.6.2 A escravidão e os quilombos no Grão Pará 145

2.7 Época pombalina: a efêmera tentativa de desenvolvimento 150

2.8 Quilombos em Gurupá: uma presença significativa 161

2.9 O lento caminho para a libertação dos escravos 166

2.10 Cabanagem: luta pela liberdade 170

2.11 Brasil: último país da América Latina a abolir a escravidão 181

2.12 O ciclo da borracha 184

3 – Situação Econômica 201

3.1 O planejamento do desenvolvimento regional 201

3.2 Principais produtos explorados em Gurupá 206

3.2.1 Madeira; 211

3.2.1.1 Exploração ilegal da madeira 211

3.2.1.2 Exploração de madeira hoje 221

3.2.1.3 Modificação na legislação dos PMFC 241

3.2.1.4 Situação dos PMFC hoje 253

(20)

3.2.3 Outras alternativas de uso sustentável dos recursos florestais 263

3.2.3.1 Aproveitamento dos resíduos 263

3.2.3.2 Manejo Florestal de Uso Múltiplo 265

3.2.4 Açaí 268

3.2.5 Palmito 273

3.2.6 Agricultura e pecuária 279

3.2.7 Participação familiar no sistema de produção 290

3.2.8 Pesca 291

3.3 Calendário Sazonal 312

3.4 Qual desenvolvimento para Gurupá? 320

4 -Processo de ocupação das terras 325

4.1 Cartas de sesmaria no Brasil 326

4.1.1 Cartas de sesmaria no Grão Pará 334

4.1.2 Cartas de sesmaria em Gurupá 337

4.1.3 Sesmarias e terrenos de marinha: os casos de Gurupá e Belém 341

4.2 Regime de Posse e Lei de Terras 343

4.2.1 Registro Paroquial no Pará e em Gurupá 353

4.3 Estadualização das terras: Títulos de Posse 357

4.3.1 Títulos de Posse em Gurupá 369

4.4 Títulos de Legitimação de Posse em Gurupá 375

4.5 Títulos de Propriedade 375

4.6 Título Definitivo 378

4.7 Título Colonial 379

4.8 Título de Terra Devoluta 380

4.9 Título Provisório 381

4.10 Alienação de Terras Públicas na legislação federal e dos estados 382 4.10.1 Processos de compra e doação de terras públicas em tramitação em

Gurupá 402

4.11 Usucapião: caminho incorreto para se adquirir propriedade das terras

públicas 406

4.12 Distribuição espacial dos registros 410

4.13 Légua patrimonial: um direito outorgado em 1897 não materializado

cento e oito anos depois 413

4.14 Cadastro georeferenciado: o começo da solução dos conflitos 414 4.15 Qual o melhor caminho cancelamento dos registros irregulares? 418

5 - Lavradores adquirem consciência de seus direitos 425

5.1 Papel das CEB no despertar de uma nova consciência; 425

5.2 Nascimento da oposição sindical e conquista da direção do STR 431

5.3 Papel das mulheres nesta luta 436

5.4 O STR e a luta pela terra 439

5.5 A Casa Família Rural: educação específica para os jovens do interior 441

5.6 O STR encampa a luta pela Regularização da terra 442

6 – Documentar a terra: uma luta constante 445

6.1 Modelos étnicos de regularização 445

6.1.1 Índios 445

6.1.2 Remanescentes das Comunidades de Quilombos 449

6.2 Modelos agro-eco-culturais de regularização 450

(21)

6.2.1.1 Reservas Extrativistas em Gurupá 460

6.2.2 Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) 463

6.2.2.1 RDS em Gurupá 464

6.2.3 Projetos de Assentamento Agro-Extrativista (PAE) 471

6.2.3.1 PAE em Gurupá 472

6.2.4 Projetos de Desenvolvimento Sustentável (PDS) 476

6.2.5 Projeto de Assentamento Florestal (PAF) 477

6.2.6 Mosaico e Corredor Ecológico: bases de uma proposta de alcance

regional para a defesa da vida e da biodiversidade 478

6.3 Plano de Uso: elemento fundamental da regularização fundiária

sustentável 480

6.4 O desafio da regularização fundiária das ilhas 486

6.4.1 Origem histórica dos terrenos de marinha 486

6.4.2 Terrenos de marinha na legislação atual 493

6.4.2.1 Definição e medição dos terrenos de marinha 496

6.4.3 Celebração de contrato de cessão de uso 497

6.4.4 A influência das marés: uma realidade física que condiciona a vida

econômica, social e jurídica da região das ilhas 499

6.4.5 Aplicação desta legislação no Estado do Pará 514

6.4.6 Santarém e Gurupá: a abertura de novos caminhos 517

7 - Quilombos: Titulação das terras de quilombo: caminhos e entraves 535

7.1 Como surgiu o artigo 68 do ADCT e as constituições estaduais 535

7.1.1 Art. 68 do ADCT 535

7.1.2 Constituições estaduais 541

7.2 As diferentes tentativas de regulamentar o art. 68 do ADCT • 5

4 2 7.2.1 A pressão do movimento negro para a efetivação do art. 68 do ADCT 544 7.2.2 A organização dos remanescentes das comunidades de quilombos 546 7.3 Quem tem competência de colocar em prática o artigo 68 do ADCT 546

7.3.1 As titulações do INCRA 547

7.3.2 A entrada em cena da Fundação Cultural Palmares e o Dec. 3.912/01 550

7.4 Como atuam os governos estaduais 554

8. Uma luta sem fim 557

8.1 Dimensão numérica e espacial das comunidades quilombolas hoje 557

8.2 Quilombos no Governo Lula 558

8.3 Reavaliação dos conceitos 565

8.4 Situações diversas - soluções diversas 579

8.5 Defesa do território 594

8.6 Desenvolvimento sustentável dos territórios quilombolas 595

9 - Quilombos no Pará: a consolidação de uma experiência exitosa 596

9.1 Titulação dos quilombos no Pará 596

9.2 Quilombos em Gurupá: comunidades consolidando suas conquistas 602

10 – Conclusão 615

10.1 Regularização fundiária: a base do desenvolvimento sustentável 618

Referências 626

(22)

Nomes científicos da flora e fauna citados 662 Carta de Datta e Sesmaria passada a Paschoal Carvalho e Albuquerque 665 Carta de Confirmação passada para Paschoal Carvalho e Albuquerque 667

Carta de Datta e Sesmaria passada a Francisco Xavier Bottero 669

Carta de Confirmação passada para Francisco Xavier Bottero 671

Lista das comunidades quilombolas tituladas no Brasil 673

(23)

1 INTRODUÇÃO

As populações tradicionais da Amazônia

construíram, ao longo das gerações, um conjunto considerável de conhecimentos e práticas sobre o mundo natural e a biodiversidade, fundamental para sua sobrevivência na floresta e à beira de rios e lagos.

(Andrello e Nunes)

1.1 APRESENTAÇÃO DA PROBLEMÁTICA

A questão da terra ressurge em âmbito mundial nas últimas décadas, fruto de visões diferentes que concorrem entre si quanto ao controle de espaços estratégicos, principalmente devido às riquezas naturais existentes. Por sua vez, estas estão a serem exploradas dominantemente em base a um modelo econômico centrado em práticas destrutivas, portanto, sendo permeado por violências diversas e ao mesmo tempo por resistências de segmentos das populações locais, a exemplo das identificadas como tradicionais (ALMEIDA, 1987/1988; DALLARI, 1997; HARDIN, 1968; SURGIK, 2004). A maneira como estas populações, particularmente as da Amazônia brasileira,1 utilizam a terra e os demais recursos naturais é o que se

discute neste trabalho.

Essa Amazônia nos últimos anos está a chamar a atenção do mundo inteiro, especialmente por ter sido transformada em palco de disputa entre projetos antagônicos. A mesma compreende uma área de cerca 4.871.000 km2, que pode ser visualizada no Mapa 1,e que ocupa 3/5 do território nacional. E além de apresentar uma riquíssima biodiversidade, essa região detém uma grande heterogeneidade de grupos sociais que aqui se estabeleceram: alguns em séculos atrás, outros em décadas mais recentes (MORAN, 1990). Uma das dificuldades iniciais a serem superadas é a definição dos sujeitos a serem identificados, pois este é um problema etnológico de monta, pois implica precisar o conceito de "população tradicional", especialmente a partir de seu conteúdo cultural, econômico social e jurídico.

(24)

Mapa 01: Amazônia Legal

Fonte: Arquivo FASE Programa Amazônia NDL (Gurupá) (referência incompleta).

É de ressaltar-se, neste ponto, que o processo de ocupação das terras amazônicas começou há mais de 12.000 anos, quando chegaram os primeiros povos indígenas (ROOSEVELT, apud MORAN, 1987). E desde então, populações com

tradições culturais diferentes se estabeleceram neste "inferno verde"2. Nas últimas

décadas, as mesmas se mobilizaram para reivindicar direitos territoriais em muitas instâncias e momentos, como por exemplo, nas ocasiões da elaboração e promulgação da Constituição Federal de 1988 (SIMONIAN, 2000). Dentre outros aspectos, cada uma dessas populações apresenta características próprias do uso da terra e dos demais recursos naturais.

(25)

Recentemente, o Sistema Nacional de Unidades de Conservação – SNUC (BRASIL. Lei 9.985, 2000), aprovado pelo Congresso Nacional, tratou dessa questão. Precisamente, em seu inciso XV do art. 2°, tem-se a seguinte definição:

População tradicional: grupos humanos culturalmente diferenciados, vivendo há, no mínimo, três gerações em um determinado ecossistema, historicamente reproduzindo seu modo de vida, em estreita dependência do meio natural para sua subsistência e utilizando os recursos naturais de forma sustentável.

Este dispositivo legal, porém, foi vetado pelo Presidente da República sob a alegação que a definição era ampla demais e contrariava o interesse público. Ele exigia a comprovação de uma posse secular (pelo menos três gerações), enquanto isso, o art. 1.242 do Código Civil (BRASIL, Código, 2002), permite o usucapião ordinário, em que não se estabelecem limites de tamanho, desde que passados dez anos. Ainda, note-se que a Lei do SNUC (BRASIL, Lei 9.985, 2000) deixa de equacionar minimamente essa questão conceitual, pois utiliza expressões como “populações locais” e “populações tradicionais”,3 porém sem definí-las.

Também, na perspectiva legal e normativa, outras definições ou descrições dos elementos que caracterizam estas populações estão previstas na portaria do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais – IBAMA que criou o Centro Nacional do Desenvolvimento Sustentado das Populações Tradicionais – CNPT (BRASIL, Portaria n˚. 22, 1992) que prevê que são: “[...] comunidades que tradicional e culturalmente têm sua subsistência baseada no extrativismo de bens naturais renováveis”. E o decreto que reconheceu as Reservas Extrativistas – RESEX (BRASIL, Decreto n˚. 98.897, 1990, art. 1˚) as define como: “[...] espaços territoriais destinados à exploração auto-sustentável e conservação dos recursos naturais renováveis, por populações extrativistas”. Por sua vez a Lei de Gestão de Florestas Públicas (BRASIL, Lei nº 11.284, de 2 de março de 2006, art. 3º, X), utiliza a expressão: “comunidades locais”, assim definidas:

Art. 3º Para os fins do disposto nesta Lei, considera-se: ...omissis...

X - comunidade local: grupo humano, distinto por suas condições culturais, e organizado segundo seus próprios costumes e tradições, cujo modo de vida está relacionado à produção e à reprodução de conhecimentos tradicionais associados aos componentes da diversidade biológica, incluídas nesta definição as comunidades quilombolas;

(26)

Pelo que se depreende dessas definições, as mesmas apontam para os entendimentos produzidos no âmbito das ciências sociais, notadamente da antropologia, ao longo das últimas décadas.

Também, o mesmo pode ser dito quanto às elaborações no contexto das políticas públicas de natureza sócioambiental para as populações tradicionais. Nesta direção, Murrieta et al. (1995, p. 51) as apresentam assim:

Populações tradicionais são todas as comunidades que tradicional e culturalmente têm sua subsistência baseada no extrativismo de bens naturais renováveis, um conceito flexível para atender a diversidade de comunidades rurais existentes no Brasil.

Inclusive, o CNPT (BRASIL. Centro, 2003), que é legalmente responsável pela maior parte dessas políticas, apresenta uma definição retirada de obras de Diegues. Para este autor, tais populações apresentam as seguintes características:

a. Dependência e até simbiose com a natureza, os ciclos naturais e os recursos naturais renováveis a partir do qual se constrói um "modo de vida”; b. Conhecimento aprofundado da natureza e de seus ciclos que se reflete na elaboração de estratégias de uso e de manejo dos recursos naturais. Esse conhecimento é transferido de geração em geração por via oral;

c. Noção de território ou espaço onde o grupo se reproduz econômica e socialmente;

d. Moradia e ocupação desse território por várias gerações, ainda que alguns membros individuais possam ter-se deslocado para os centros urbanos e voltado para a terra dos seus antepassados;

e. Importância das atividades de subsistência, ainda que a produção de mercadorias possa estar mais ou menos desenvolvida, o que implica numa relação com o mercado;

f. Reduzida acumulação de capital;

g. Importância dada à unidade familiar, doméstica ou comunal e às relações de parentesco ou de compadrio para o exercício das atividades econômicas, sociais e culturais;

h. Importância de mito e rituais associados à caça, à pesca e a atividades extrativistas;

i. A tecnologia utilizada é relativamente simples, de impacto limitado sobre o meio ambiente. Há uma reduzida divisão técnica e social do trabalho, sobressaindo o trabalho artesanal. Nele, o produtor e sua família, dominam o processo de trabalho até o produto final;

j. Fraco poder político, que em geral reside com os grupos de poder dos centros urbanos; e

k. Auto-identificação ou identificação pelos outro de se pertencer a uma cultura distinta das outras.

(27)

quanto à experiência do Rio de Janeiro, a Lei 293/1995 (RIO, 1995, apud SANTILLI, 2005, p. 128) permite às populações nativas residentes há mais de cinquenta anos nas UC do estado, o direito real de uso das áreas ocupadas: “[...] desde que dependam para a sua subsistência, direta e prioritariamente dos ecossistemas locais, preservando os atributos essenciais de tais ecossistemas“.

De todo modo, a imprecisão antropológica e sociológica persiste quanto ao uso de vários termos para indicar a mesma realidade. Almeida (1994) mostra como a partir da segunda metade dos anos de 1980 os termos ‘camponês’ e ‘trabalhador rural’ tradicionalmente utilizados pelos partidos políticos, movimento sindical e entidades confessionais e sua crítica substituição por um conjunto de termos ligados à denominações de uso local e das condições econômicas, tais como: ‘seringueiros’, ‘castanheiros’, ‘juteiros’, ‘barranqueiros’, ‘assentados’, ‘colonheiros’, ‘posseiros’, ‘colonos’, ‘pescadores’, ‘ribeirinhos’4. Ainda conforme Almeida (1994) variam suas representações e organizações de mobilização: ‘comissões’ (de ‘atingidos por barragens’), ‘conselhos’ (de ‘seringueiros’), ‘associações’ (de garimpeiros e de ‘assentados’), ‘comunidades negras rurais’ e ‘comunidades de resistência indígena’. Utilizar-se-á a expressão ‘populações’ para identificar um conjunto de pessoas que tem uma identidade socioeconômica e cultural específica.

Essa discussão remete a uma complexidade enorme quanto a tais populações, o que implica uma definição a partir de diferentes parâmetros:

a) por sua identidade histórico-cultural de natureza étnica: índios e remanescentes das comunidades de quilombo;

b) pela maneira com a qual se relacionam com a natureza: ribeirinhos, camponeses históricos amazônicos5;

4 Extrativistas que trabalham, respectivamente com seringa (Hevea brasiliensis), castanha-da-amazônia (Bertholletia excelsa – H. & B.), juta (Corchorus capsularis) e captura de peixes e de crustáceos.

5 Neste trabalho, a opção é pela expressão “campesinato histórico da Amazônia” em vez de

caboclo”, o que tem por base o argumento de Lima (1999), em torno deste último termo, pois não

(28)

c) pelas diferentes modalidades de exploração dos produtos da floresta e agricultura: seringueiros, castanheiros, roceiros6;

d) por explorar os recursos fornecidos pelas centenas de rios, igarapés, furos, paranás e lagoas: pescadores, vazanteiros;

e) por terem sido fruto das recentes políticas pública de ocupação da região: colonos, fazendeiros, peões, vaqueiros.

Entretanto, apesar de ter passado tanto tempo desde os primórdios desta expansão, procura-se mostrar que mesmo contemporaneamente, o direito à terra destas populações não é reconhecido uniformemente pelo ordenamento jurídico brasileiro.

Aliás, essa questão é minimamente paradoxal, pois, conforme Emperaire e Lescure (2000), o extrativismo diz respeito a aproximadamente um terço da população rural amazônica. Se for verdade que “No desenho contemporâneo de diferentes modos de apropriação territorial no Brasil, a legislação reconhece e legitima uma certa diversidade da estrutura agrária” (FACHIN, 1999, p. 125), constata-se, na prática, que as “populações tradicionais” permanecem excluídas do reconhecimento formal deste direito. Sua concepção de posse e uso dos recursos naturais escapa dos parâmetros oficiais, pois como ressalta Benatti (1996), há diferentes concepções de posse na região. E, pelo que as evidências produzidas a partir da pesquisa que sustenta este trabalho, existe um conflito entre o apossamento tradicional da terra rural na Amazônia e o sistema legal estatal.

A construção de um novo direito que atenda seus interesses não poderá deixar de levar em consideração as palavras de Ricardo e Lima (2005, p. 2): “É preciso garantir o reconhecimento das suas diversidades e das enormes diferenças entre os processos de reconhecimento de direitos na relação com o Estado”. Qualquer tentativa de serem criados padrões novos de homogeneização jurídica será, portanto, destinada ao fracasso.

1.2 PROBLEMAS E HIPÓTESES DE TRABALHO

A delimitação do objeto de análise implica que se formulem indagações fundamentais, as quais têm por finalidade a produção de evidências específicas que possam levar a um entendimento mais complexo da realidade. Conseqüentemente, por ocasião do planejamento e da execução da pesquisa, trabalharam-se as seguintes questões: as modalidades de acesso à terra das populações tradicionais;

(29)

a possibilidade do desenvolvimento sustentável, mesmo sem a segurança jurídica que advêm da regularização fundiária; a legalidade e/ou ilegalidade do processo de ocupação das terras em Gurupá, estado do Pará. A resposta a estas perguntas nasce de uma série de hipóteses de trabalho que foram aprofundadas e demonstradas ao longo da pesquisa:

1 – Os modos tradicionais de exploração dos recursos naturais e as relações sócio-econômicas que advêm desta situação se refletem não só na vida destas populações, mas, também, na sua cultura e deveriam condicionar o direito.

2 – As diferentes modalidades de acesso à terra por parte das populações tradicionais amazônicas não são de todo reconhecidas pelo atual ordenamento jurídico.

3 – O reconhecimento do direito à terra destas populações, qualquer que seja a modalidade jurídica que poderá assumir, deverá ter um conteúdo marcadamente étnico e ambiental.

4 – Só uma regularização fundiária que respeite as diferentes modalidades de uso da terra e demais recursos naturais irá oferecer a estas populações a segurança jurídica necessária para garantir o desenvolvimento sustentável.

5 – As populações tradicionais só poderão manter sua tradição cultural se conseguirem garantir sua sustentabilidade ecológica e econômica.

6 – O ordenamento jurídico deve preservar e valorizar os direitos culturais das populações tradicionais fruto de seu conhecimento da biodiversidade amazônica. 7 – Só as propriedades que foram legalmente constituídas e atendem os requisitos constitucionais de uso adequado dos recursos naturais, que promovam o bem-estar de todos, respeitem às relações trabalhistas e tenham uma produtividade dentro dos padrões estabelecidos em lei, merecem o amparo jurisdicional.

Especificamente, quanto à "etnicidade",7 esta é uma realidade sempre mais presente

nos discursos reivindicativos de milhões de pessoas em todo o mundo, que precisa ser incorporada à prática jurídica estatal, em especial quanto ao reconhecendo uma pluralidade de situações locais que, todavia, não foram devidamente

(30)

regulamentadas pelos diferentes ordenamentos jurídicos. A utilizar-se de a compreensão de Almeida (2002, informação verbal / i. v.), "[...] a expectativa de direitos coletivos tem uma dimensão étnica". Ainda, é de se ressaltar que, do ponto de vista legal, a documentação fundiária expedida para essas populações tradicionais requer que se incorpore a dimensão da proteção do meio ambiente.

Os passos necessários para responder a estes desafios e comprovar as hipóteses de trabalho apresentadas acima levaram ao delineamento da seguinte estratégia de pesquisa:

1 – Análise da história municipal como pano de fundo onde se situam as lutas atuais; 2 – Identificação, caracterização e localização das comunidades tradicionais de Gurupá;

3 – Identificação das suas atividades econômicas mais importantes e mecanismos legais que permitem a estas atividades;

4 – Análise do processo documental de ocupação das terras;

5 – Identificação das diferentes possibilidades jurídicas de regularização fundiária e uso dos recursos naturais;

6 – Discussão com as comunidades e demais atores sociais em vista de elaborar uma estratégia global de intervenção;

7 – Acompanhamento dos processos administrativos em vista de superar os eventuais entraves existentes.

Assim, o primeiro passo a ser dado a estas populações é “dar[-lhes] visibilidade”, pois um dos problemas a ser enfrentado é a própria “invisibilidade” das populações camponesas amazônicas, pois elas parecem se diluir no conjunto dos outros grupos sociais presentes na região, ou servir como mero pano de fundo para os que se preocupam unicamente com a conservação da natureza.

(31)

os estudos relativos às sociedades amazônicas sempre foram considerados como algo historicamente marginal. É ainda Nugent que mostra como, na maioria dos casos, também as recentes pesquisas sobre a Amazônia, preocupadas mais do que anteriormente a levar em consideração as questões sociais, as populações locais são descritas muito mais como populações com vocação migratória que membros efetivos da sociedade regional.

Um primeiro passo para resgatar a cidadania destas populações, mesmo antes de se iniciar a ter qualquer preocupação com a questão da terra, será aquele de lhes dar visibilidade superando a o estereotipo de considerá-las como “intrusos” na paisagem natural intocada. Caso contrário, sua colaboração para o desenvolvimento sustentável da região será praticamente nula. Apesar das diferenças existentes entre estes grupos sociais, o traço comum é a adoção de uma economia de subsistência8 onde diferentes mecanismos sociais, como idade, normas e valores culturais definem a divisão de trabalho. A utilizar-se uma expressão de Chayanov (1966), pode-se entender que procuram a “maximização de segurança e minimização de riscos” como um modo de legitimação. As estratégias diferentes de uso dos recursos parecem criar um sistema orientado para uma simples reprodução da população.

1.3 CONTEXTUALIZAÇÃO DO PROBLEMA

As políticas públicas de ordenamento territorial implantadas nos últimos cinqüenta anos pelos diferentes governos mudaram radicalmente a paisagem da Amazônia brasileira. A abertura de espaços para a expansão da sociedade nacional nessa região deu-se por meio de um sistema interligado de estradas e de projetos de colonização, ao mesmo tempo em que se intensificou a exploração dos recursos, como os minerais, os hídricos e os madeireiros, dentre outros, processos esses que foram responsáveis por essa transformação. Em conseqüência, conforme Simonian (2004, i. v.), tem-se na região “[...] um arco de desmatamento que cresce a cada dia, bacias fluviais cada vez mais poluídas, assentamentos humanos em processo de deterioração sócioambiental crescente etc”.

Portanto, contemporaneamente, o que se tem nessa Amazônia é a persistência de processos destrutivos, o que no mais das vezes fere os interesses

(32)

das populações tradicionais. Nesta direção, é possível afirmar que, hoje, os pesquisadores chegam invariavelmente à mesma conclusão de Sioli (1994, p. 3):

O meu acostumado ambiente amazônico, o de 1940 a 1970, já não existe mais, nem o da natureza, nem o humano. [...]. Ao meu ver o verdadeiro problema consiste em uma corrida dramática e nefasta, à qual assistimos, entre dois competidores. Qual desses dois terá êxito: a destruição finalmente total da vida na Amazônia (mais tarde no planeta inteiro), ou o colapso desta civilização devastadora? – Será que a tarefa dos atuais defensores da Amazônia se restringe, por isso, a dar alento às realizações dos projetos e empreendimentos “desenvolvimentistas” para ampliar a chance do segundo competidor do colapso desta civilização ganhar a corrida?

E se Charles Wagley, Eduardo Galvão, Dalcídio Jurandir e Inglês de Souza voltassem à região que descreveram nas décadas passadas, não encontrariam a mesma realidade. A economia local, alicerçada na coleta da borracha (Hevea brasiliensis), da castanha-da-amazônia (Bertholletia excelsa H.B.K.), da piaçava (Leopoldina piassaba), do timbó (Erythrinaspeciosa Andr), do corte de madeiras, da pesca e salga de peixes,9 se transformou sensivelmente. Furtado (1994, p. 67) apresenta as profundas modificações acontecidas:

Vivessem hoje os antropólogos Charles Wagley (1955) e Eduardo Galvão (1955) e retornassem à velha e ribeirinha Itá (Gurupá, no Baixo Amazonas), por certo que encontrariam um novo cenário não só com as modificações acarretadas pelo tempo e pertinentes a toda comunidade humana que passa por um processo de mudanças, mas com traços de transformação maior que têm caracterizado todas, ou quase todas, as comunidades caboclas da região. O mesmo aconteceria com os escritores Dalcídio Jurandir em sua nativa Cachoeira no Marajó, e Inglês de Souza em Óbidos, no Médio Amazonas [...]. Com certeza, santos, visagens e encantados teriam sumido com as queimadas e extrativismos [...] Um [Jurandir] teria visto menos chuvas nos campo de Cachoeira e mais fazendas de gado a dominar os cursos d´água, dificultado pescarias de caboclos na Ilha de Marajó; o outro [Souza] teria [...] visto menos peixes nos grandes lagos do médio rio amazonas e mais conflitos entre os diversos segmentos sociais da região pela busca, manutenção e preservação dos espaços produtivos (grifos de Girolamo D. Treccani).

Estes autores estariam, se ainda vivessem, a se defrontar com uma realidade conflituosa, antes não tão evidente e que desorganizou o sistema social e econômico tradicional, pois colocou em crise a agricultura de base familiar e o uso sustentável dos recursos naturais, forçando muitas famílias a migrar rumo à cidade.

Essa nova situação não encontra sua explicação nos argumentos utilizados por muito tempo por diferentes escolas que procuraram explicar a origem das crises ambientais dos países do terceiro mundo relacionado-as constantemente aos índices crescentes de natalidade. O excesso populacional deveria ser controlado

(33)

para permitir oferecer uma qualidade de vida melhor (MALTHUS, 1798). Estas discussões ganharam uma nova conotação mais ampla com a obra de Hardin10.

Para ele na medida em que as populações cresciam pressionavam um determinado ambiente com suas sempre maiores demandas por recursos fazendo com que, com o tempo, fosse estourada a “capacidade de suporte” daquele lugar gerando a fome. Além do crescimento demográfico a organização social destes povos, baseada no uso comum dos recursos, era outra fonte desta “tragédia”, pois, sempre, os homens priorizam seus interesses pessoais em detrimento dos interesses coletivos.

A tese de Hardin (1968), de que a propriedade privada protege melhor o meio ambiente e favorece o desenvolvimento, não é algo que pertence ao passado. O economista Haddad (2001, p. A11) falando da preservação dos mananciais de São Paulo, afirma que:

O que é de todo mundo, mas cujo uso por alguém prejudica a utilização por outro, tende a ser utilizado de forma não eficiente. Já o dono, por sentir diretamente o impacto de suas ações, irá explorar seus recursos da melhor forma possível. Logo a regularização do direito de propriedade em áreas ocupadas também é uma boa idéia.

Estas “verdades científicas” se chocam com a prática secular de parte considerável das populações tradicionais amazônicas, de maneira especial os povos indígenas, quilombolas e extrativistas, que conseguiram sobreviver sem causar prejuízos significativos à natureza.

A situação atual, portanto, não é fruto da “Tragédia dos Comuns” de Hardin (1968), isto é, não é resultado do esgotamento dos recursos naturais devido à sobre-população ou melhoria qualitativa das técnicas utilizadas, mas sim é fruto de uma deliberada ação governamental que priorizou a apropriação da região por parte do capital. Por isso a adoção de políticas que não levaram em conta estas visões diferentes levou a choques entre os nativos e grupos de migrantes amparados pelo grande capital e que contavam com todo o apoio oficial. Modos de resistência foram ganhando peso passando da mera denúncia à apresentação de modelos diferentes de política a serem adotadas. O constante domínio mantido pelas elites sobre o

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aparelho do Estado fez, conforme Simonian (2000), com que se continuasse a privilegiar um sistema produtivo voltado para o mercado, isto em detrimento do favorecimento das atividades econômicas desenvolvidas pelas populações tradicionais, normalmente mais voltadas para a sua própria reprodução social.

Entre as políticas públicas adotadas na Amazônia que podem ser apontadas como responsáveis por isso, tem-se o apoio aos grandes projetos, as grandes obras de infra-estrutura e a política agrária, como já apontado. Esta última tinha como preocupação principal a de evitar o agravamento dos conflitos agrários existentes nas áreas mais densamente povoadas do país; de fato, a mesma limitou-se a expandir a fronteira agrícola distribuindo lotes nos projetos de colonização localizados nas beiras das grandes rodovias de integração nacional,11 ou nos

Projetos de Assentamento – PA criados a partir das desapropriações por interesse social para fins de reforma agrária. Este processo se deu sem qualquer participação das populações locais, como reconhece Benatti (2003, p. 13):

Porém, as políticas desenvolvidas nesta região nos últimos quarenta anos, com o intuito de “incorporá-la” ao território nacional, desconheceram o espaço regional, excluindo por isso toda uma história, cultura, economia e relações jurídicas desenvolvidas e aplicadas na região. A essas políticas somou-se uma concepção centralizadora e militarista de ocupação da região, que causou sérios problemas na estrutura agrária e fundiária amazônica, facilitou ainda mais a concentração de terra e aumentou os conflitos na disputa por ela.

Estas políticas causaram custos ambientais diretos, pois a abertura destas rodovias na Amazônia levou ao desmatamento de 50 km de floresta em cada margem das rodovias (BRASIL. Instituto, 2001, p. 11). Assim, é de considerar-se que, entre os custos indiretos, é de se contabilizar o estreitamento do contato das populações tradicionais com os grupos que migraram para a região trazendo consigo uma concepção econômica predatória que gera conflitos inevitáveis com as tradições antigas, isto é, além do impacto ambiental, precisa-se olhar o impacto cultural desagregador.

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Como resultado de processos administrativos e judiciais de discriminação de terras devolutas,12 especialmente as arrecadações sumárias13e as desapropriações,mais

de24,5milhões de hectares foram incorporados ao domínio público e tornaram-se disponíveis para projetos de colonização.

Esta política de ocupação foi associada ao favorecimento da expansão de grandes propriedades agropecuárias que passaram a dominar a região graças à farta concessão de incentivos fiscais. São mundialmente conhecidos os frutos destas políticas: conflitos pela posse da terra14 e concentração da propriedade da terra15. É

em meio a este contexto de conflitos, que a sociedade está à procura de soluções, que: “[...] a disputa pela posse da terra [torna-se] um problema social, político, jurídico e ecológico não superado [...]”, conforme Benatti (2003, p. 14), propõe. Assassinatos e grilagem foram alguns dos instrumentos utilizados para garantir a constituição e consolidação das grandes propriedades rurais16. Esta política, que não

levava em mínima consideração os impactos ambientais levou a derrubada de mais de 550.000 km² de floresta para dar espaço às empresas agropecuárias17.

A extração seletiva de apenas algumas essências florestais consideradas de maior interesse comercial levou a derrubada indiscriminada da cobertura arbórea

12 O processo discriminatório administrativo e judicial estão regulamentados na Lei nº. 6.383/76 (BRASIL, Lei, 1976).

13 A arrecadação sumária está prevista no art. 28 da Lei nº. 6.383, de 7 de dezembro de 1976 (BRASIL, Lei, 1976).

14 O que preocupa é a dimensão espacial desta “geografia do terror”: de 1964 a 2001 foram registrados 1.961 conflitos espalhados em 124 municípios, isto é, 86,71% dos municípios existentes no estado do Pará conviveram com conflitos agrários; em 58% dos municípios foram assassinados trabalhadores rurais. Os números da violência são estarrecedores: mais de duzentas mil famílias envolvidas em conflitos; mais de 20 milhões de hectares foram disputados entre trabalhadores, fazendeiros e empresas. As regiões que apresentam o maior número de hectares em conflitos são o sul 4.639.657,1674 ha e sudeste 3.515.474,1811 ha, com 59.530 e 65.444 famílias envolvidas respectivamente (ver TRECCANI, no prelo).

15 Costa (2000, sobretudo as p. 47-62) analisa amplamente o papel dos incentivos fiscais na Amazônia, mostrando sua inviabilidade econômica, ecológica e social.

16 De 1964 a 2004, no estado do Pará foram assassinados 792 trabalhadores, lideranças sindicais, religiosas e políticas (TRECCANI, no prelo). Segundo o Ministério de Política Fundiária e do Desenvolvimento Agrário (BRASIL, 1999, p. 8): “A grilagem é dos mais poderosos instrumentos de domínio e concentração fundiária no meio rural brasileiro. Em todo o País, o total de terras sob suspeita de serem griladas é de aproximadamente 100 milhões de hectares - quatro vezes a área do Estado (sic) de São Paulo ou a área da América Central mais México. Na região Norte, os números são preocupantes: da área total do Estado (sic) do Amazonas, de 157 milhões de hectares, suspeita-se que nada menos de 55 milhões tenham sido grilados, o que corresponde a três vezes o território do Estado (sic) do Paraná" (grifos de Girolamo D. Treccani).

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Gráfico 01: Gurupá - evolução da população urbana e rural em números      Fonte: IBGE; pesquisa feita pelo autor
Gráfico 02: Gurupá - evolução da população rural e urbana em porcentagem           Fonte: IBGE; pesquisa feita pelo autor
Gráfico 03: Brasil, Pará e Gurupá - evolução da população urbana em porcentagem.
Foto 03: Expedições que saíram de Gurupá.
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