II Jornada de Debates sobre Ensino de Ciências e Educação Matemática I Encontro Nacional de Distúrbios de Aprendizagem na Perspectiva Multidisciplinar
“Recursos Didáticos e Tecnologias de Ensino”
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Representação de Cientistas: um estudo baseado em desenhos de
alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental de Santa Maria/RS
1Scientist's representation: a study based on drawings by students from Elementary School in Santa Maria/RS _____________________________________ JAIANE DE MORAES BOTON2
VANESSA NASCIMENTO PEREIRA3
MICHELI BORDOLI AMESTOY4
MICHELE FANFA5
LUIZ CALDEIRA BRANT DE TOLENTINO-NETO6
Resumo
Esse trabalho faz parte do Projeto de Pesquisa “Desempenho Escolar Inclusivo na Perspectiva Multidisciplinar” e tem como objetivo investigar que representação de Cientista é expressa pelos alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental e identificar o que caracteriza esse profissional segundo tais alunos. Para tanto, analisamos os desenhos desenvolvidos por 95 alunos de todos os Anos Finais do Ensino Fundamental (6º a 9º Ano) de duas escolas públicas da rede municipal e estadual de Santa Maria, Rio Grande do Sul. Após a análise dos desenhos percebemos que a maioria dos jovens estudantes não possui uma definição correta do que é ser um cientista. Há um desconhecimento da carreira, suas possibilidades de atuação e locais de trabalho. Palavras-chave: cientista; representações; ensino fundamental.
Abstract
This work is part of the Research Project "Inclusion and Scholar Performance in Multidisciplinary Perspective" and aims to investigate which scientist's representation is expressed by the students of Secondary School, and to identify features this professional according to these students. For this, we analyzed the drawings developed by 95 students from all Years Secondary School (from Grade 6 to 9, between 12 and 15 years old) from two public schools of Santa Maria, Rio Grande do Sul, Brazil. After analyzing the drawings we saw that most young students don’t have an accurated definition of which is a scientist. There is a ignorance of possibilities for action in professional areas, workplace and how to become a scientist.
Keywords: cientist; representation; secondary school.
1 Apoio Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior - CAPES - Brasil 2 Universidade Federal de Santa Maria - jaiambbio@gmail.com
3Universidade Federal de Santa Maria - vanessa.pereira0304@gmail.com 4Universidade Federal de Santa Maria - micheliamestoy@gmail.com 5Universidade Federal de Santa Maria - fanfami@gmail.com
II Jornada de Debates de Ensino de Ciências e Educação Matemática.
Introdução
A educação científica é, cada vez mais, uma necessidade para todos, pois estamos imersos num mundo repleto de informação, tecnologia, em que cada vez mais necessitamos tomar decisões, a fim de melhorar nossas vidas. Devemos romper a visão descontextualizada, socialmente neutra, individualista, rígida e elitista em que a Ciência está inserida. Mas como atingir esse objetivo?
A construção de uma sociedade mais justa e solidária não se faz com pessoas que somente dominam um conteúdo escolar ou acadêmico, mas com pessoas que saibam articular esse conhecimento à sua vivência e experiência, na concreta ação desse sujeito enquanto agente e transformador de concepções.
As informações novas a que os alunos entram em contato, interagem com seus conhecimentos prévios, e os resultados desta interação são novos significados. As representações dos alunos a respeito do que é um cientista são representadas pelas interações destes “conhecimentos”.
Um conjunto de trabalhos realizados com diferentes tipos de instrumento de pesquisa - questionários, entrevistas, análise de desenhos, descrição de desenhos, análise e discussão de histórias de ficção científica etc - revela que os alunos apresentam uma visão estereotipada sobre cientistas (Reis, Rodrigues & Santos, 2006). Tais estereótipos remetem a diferentes características, a saber: imagem caricaturada do cientista, vivisseccionista, pessoa que sabe tudo, tecnólogo, professor como cientista, alunos como cientistas e empresário (ibid).
II Jornada de Debates de Ensino de Ciências e Educação Matemática.
1. Metodologia
Esse trabalho faz parte do Projeto de Pesquisa “Desempenho Escolar Inclusivo na Perspectiva Multidisciplinar”, aprovado no âmbito do Edital 038/2010/CAPES/INEP – Observatório da Educação, e tem como objetivos investigar que representação de cientista é expressa pelos alunos dos Anos Finais do Ensino Fundamental, e identificar o que de acordo com estes alunos caracteriza esse profissional. Para tanto, analisamos os desenhos desenvolvidos por 95 alunos de todos os Anos Finais do Ensino Fundamental (6º a 9º Ano) de duas escolas públicas da rede municipal e estadual de Santa Maria, Rio Grande do Sul.
Para o desenvolvimento do trabalho foi solicitado aos alunos que desenhassem, sem preocupações artísticas, um cientista em seu local de trabalho. Em um segundo momento solicitamos que os alunos respondessem um questionário com 6 questões para podermos perceber de onde originava a ideia de cientista de tais alunos. Salientamos que neste trabalho utilizamos apenas a análise dos desenhos, deixando os questionários e o cruzamento com os desenhos para um trabalho futuro.
Os desenhos foram posteriormente analisados pelos autores, a partir de categorias criadas a posteriori, que incluem itens como gênero dos cientistas, utilização de jaleco, instrumentos utilizados, trabalha sozinho ou em grupo, é considerado louco, faz uso de animais, entre outros.
2. Resultados e Discussão
Participaram desse estudo 95 alunos, as idades variam entre 10 e 17 anos (como mostra a tabela 1)
Tabela 1. Distribuição dos alunos por variação de iadade
6º Ano 7º Ano 8º Ano 9º Ano
10 - 14 11 - 17 12 - 16 12 - 16
Os gêneros dos alunos participantes são demonstrados na tabela abaixo, sendo 51,5% do gênero masculino.
II Jornada de Debates de Ensino de Ciências e Educação Matemática. Ano/Gênero Masculino Feminino
6º 11 14
7º 13 12
8º 10 10
9º 15 10
Total 49 46
Após a análise dos 95 desenhos percebemos que apesar das turmas serem de anos diferentes (6º ao 9º), os resultados não apontam discrepâncias entre as respostas dos alunos dos diferentes anos. No entanto, foi possível observar algumas características peculiares em grande parte dos desenhos.
Percebemos que a maioria dos jovens estudantes não possui uma definição adequada do que é ser um cientista. Há um desconhecimento da carreira, suas possibilidades de atuação e locais de trabalho.
Somado a isso também há um desinteresse pela profissão de cientista constatada a partir de estudos realizados com alunos de 15 anos de idade que estão na educação compulsória em diversos países. Esses estudos foram realizados a partir de um instrumento de pesquisa internacional intitulado ROSE (The Relevance of Science Education). Uma adaptação desse método de pesquisa no Brasil, realizada pela Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FEUSP), tem convergido com essas informações, ou seja, os jovens brasileiros não têm demonstrado somente o desinteresse pela profissão Cientista, mas também, o total desconhecimento das áreas de atuação e locais de trabalho. Um dos dados relevantes dessa pesquisa no Brasil nos remete a um desinteresse sem gênero-dependência, isto é, tanto as meninas quanto os meninos apontam os mesmos graus de desinteresses e desconhecimentos nas pesquisas.
A imagem estereotipada do cientista
Pudemos observar que 71,8% dos alunos, representaram cientistas do gênero masculino, sendo possível notar que, inclusive que as meninas desenham cientistas do gênero masculino.
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sozinhos, ou seja, os cientistas estavam sempre trabalhando solitariamente. O que submete a ideia que eles acreditam que um cientista trabalha sempre sozinho, e de que interage apenas com o seu local de trabalho, ou seja, o seu mundo. A turma que menos representou um cientista trabalhando sozinho foi a do 6º ano.
Ficou evidente que a imagem estereotipada que os alunos têm do que é um cientista limita-se ao gênero masculino e ainda de que este cientista não interage com ninguém, trabalhando quase sempre solitário, em seu local de trabalho, como mostra a figura 1 abaixo. Esta imagem de homem cientista e sozinho perpetua por todo o Ensino Fundamental, visto que a análise foi feita em quatro (4) turmas dos anos finais.
FIGURA 1: Imagem estereotipada do cientista Tipos de especialização científica
Constatamos que um fator interessante a se destacar, aliado ao estereótipo mencionado anteriormente, deixa mais claro a opinião que os alunos têm sobre o que é um cientista e como ele trabalha.
Dentre todos os desenhos a análise apontou que 56,2% das representações dos cientistas utilizavam como vestimenta um jaleco, uma peça de roupa, normalmente de tecido branco, utilizada como forma de barreira corporal em laboratórios, e frequentemente usada por profissionais da área da pesquisa, médicos, farmacêuticos, enfermeiros, biomédicos, biólogos dentre outros profissionais.
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principalmente tubos de ensaio, juntando às duas características já citadas, a imagem pode remeter a um profissional da área da química.
Deste modo, um Químico foi o que grande parte dos alunos representaram em seus desenhos, porém em raros desenhos foram representados professores como cientistas. Tal fator deve-se ao fato de os alunos não enxergarem o professor como um cientista.
Abaixo a figura 2 representa um Químico como cientista e um professor como cientista.
FIGURA 2: Tipos de especialização, químico e professor Local de trabalho do cientista
Como já mencionado anteriormente 82.1% das representações utilizavam vidrarias, juntamente com esse dado acrescentamos o fato que 93,5% dos alunos representaram em seu desenho o cientista em um laboratório conduzindo experimentos, e muitas vezes realizando experiências. É interessante destacar que a turma que menos representou o cientista em um laboratório, trabalhando especificamente com vidrarias foi a do 9º ano (etapa em que, tradicionalmente, se aborda Química no curriculo), onde além das vidrarias eles representaram junto com os cientistas, computadores, quadros, livros e microscópios.
Poucos desenhos representaram um cientista em sala de aula, com algum tipo de quadro explicativo, ou mesmo escrevendo no quadro negro. Apenas 12,6% representaram quadros em seus desenhos, e a turma que mais o representou foi a do 9º ano com 5 desenhos, seguido da turma do 6º ano com 4 desenhos representativos.
II Jornada de Debates de Ensino de Ciências e Educação Matemática. quadro negro, segue um exemplo também.
FIGURA 3: Locais de trabalho Outros resultados obtidos com a análise
Além dos dados citados anteriormente obtivemos outras características representados pelos estudantes que consideramos relevantes como para nosso estudo, tais como: a) utilização de óculos; b) utilização de máscara e touca; c) cientistas com barba ou bigode; d) utilização de equipamentos tecnológicos; e) representações com animais e f) representações de cientistas loucos. Alguns desses resultados estão apontados na tabela 3.
Tabela 3 – Alguns resultados obtidos
DESCRIÇÃO SIM NÃO
Utilizavam óculos 30% 70%
Possuíam barba ou bigode 10% 90%
Utilizavam veneno 6,3% 93,7%
Local de trabalho: Campo 1,1% 98,9%
A análise apontou que apenas 22,1% dos alunos representaram um cientista trabalhando com tipo de equipamento tecnológico, dentre alguns equipamentos apontamos os, robôs, computadores e os microscópios.
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Dentre as representações dos cientistas 41% delas, representaram um “cientista louco” como mostra a figura 4, com os cabelos espetados ou bagunçados e até com a língua de fora, o que remete à famosa fotografia do físico alemão Albert Einstein.
FIGURA 4: “Cientistas loucos”
Conclusão/Considerações finais
Torna-se interessante o incentivo às Ciências nas escolas, não apenas como disciplina, mas também como possibilidade profissional. É importante desmistificar a ideia limitada que os alunos têm do que é um cientista, quais suas características, quais seus locais de trabalho, seus instrumentos de trabalho. Para tanto, é conveniente que se mostre aos alunos a gama de possibilidades nessa carreira, as diferentes maneiras de se trabalhar e fazer ciência.
Por fim, as análises mostraram a necessidade de realizar novas investigações sobre representações de cientistas com os alunos, para buscarmos entender de onde eles adquiriram/construíram essa visão de cientista, por exemplo, além do ambiente escolar, por qual veículo de comunicação essa informação foi transmitida essa imagem.
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dos dados obtidos pelo ROSE, além dos já comentados questionários aplicados aos alunos.
Referências
CACHAPUZ, A., GIL-PEREZ, D., CARVALHO, A.M.P., VILCHES, A. (2005). A Necessária Renovação do Ensino das Ciências. São Paulo: Cortez.
DELIZOICOV, D.; ANGOTTI, J. A e PERNAMBUCO, M. M. (2002). Ensino de Ciências: Fundamentos e Métodos. São Paulo: Cortez.
KOSMINSKY, Luis; GIORDAN, Marcelo. (2002). Visões de ciências e sobre cinetistas entre estudantes de Ensino Médio. In Química nova na escola, n.15.