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EXMO. SR. DR. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA RODRIGO JANOT

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Academic year: 2021

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EXMO. SR. DR. PROCURADOR-GERAL DA REPÚBLICA – RODRIGO JANOT

WADIH NEMER DAMOUS FILHO​, brasileiro, casado, advogado, atualmente exercendo mandato de deputado federal, inscrito na OAB/RJ sob o nº 768-B com endereço funcional na Câmara dos Deputados, gabinete 413, anexo IV e ​PAULO ROBERTO SEVERO PIMENTA​, brasileiro, casado, deputado federal, portador da cédula de identidade de 2024323822 – SSP/RS, CPF 428449240-34, com endereço na Praça dos Três Poderes – Câmara dos Deputados, gabinete 552, anexo IV, CEP 70160-900 – Brasília –DFXXX vêm, em nome próprio, oferecer

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Exmo. Sr. Procurador-Geral da República,

O Presidente da República, na última semana, decidiu por criar um novo Ministério, e para o respectivo cargo de Ministro nomear o então Secretário do Projeto de Parcerias e Investimentos, o ex-governador do Rio de Janeiro Wellington Moreira Franco.

O novo Ministério surge do desmembramento da Secretaria de Governo, e tem o nome de “Secretaria-Geral da Presidência”.

O ato de nomeação foi publicado no diário oficial da União no dia 03.02.2017, página 1 (doc. Anexo).

Ocorre que Moreira Franco, como também é fato notório, foi citado por mais de 30 vezes nas delações premiadas obtidas na chamada “Operação Lava-Jato”, como receptor direto de valores pecuniários a título de propina. Em apenas uma delas, por exemplo, foi acusado por ex-diretor da empreiteira Odebrecht de ter recebido R$ 30 milhões para a paralisação de determinada obra.

A referida empreiteira, como hoje se sabe, tinha até mesmo um departamento próprio apenas para o pagamento de propinas a políticos e administradores públicos. As respectivas listas continham valores e alcunhas de políticos a quem eram destinadas. A alcunha “Angorá”, hoje já é sabido, se referia a Moreira Franco, oriunda de apelido a ele dado na década de 1980 por seu adversário político, o ex-governador Leonel Brizola.

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Silva como Ministro-Chefe da casa Civil pela então Presidente Dilma Roussef.

Naquela oportunidade, diante das pressões e ameaças à estabilidade de seu governo, a então Presidenta decidiu nomear para cargo central de seu governo uma figura política de peso, de modo a tentar restabelecer sua solidez.

Ressalte-se que o ex-Presidente Lula, à época, sequer era réu em qualquer ação penal, e havia plena justificativa política para sua nomeação.

Ainda assim, o ato foi interpretado como uma suposta forma de “blindar” o ex-Presidente em face da atuação da Justiça Federal de primeira instância, já que seu respectivo juízo prevento (13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, titularizada pelo juiz Sérgio Moro) é pródiga em prisões cautelares decretadas por tempo indeterminado e condenações quase que certas dos réus das ações penais referentes à já citada operação. Nomeado para cargo de Ministro, portanto, a investigação ou ação penal contra o ex-presidente passaria à competência do Supremo Tribunal Federal.

Diante dessa interpretação, alguns partidos políticos ajuizaram ações de mandado de segurança perante o Supremo Tribunal Federal, questionando o ato. A ação proposta pelo PPS foi distribuída ao Min. Gilmar Mendes, que concedeu tutela provisória impedindo a nomeação do ex-Presidente Lula ao cargo de Ministro-Chefe da Casa Civil (MC em Mandado de Segurança nº 34.070, decisão publicada em 28.03.2016).

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Poder Judiciário.

Ora, muito embora os subscritores discordem de tal decisão (eis que, como visto, o ex-Presidente sequer era réu e havia plena justificativa política para sua nomeação), é necessário, caso se considere tais casos similares, que agora se trate com isonomia o caso da nomeação do Sr. Moreira Franco12​.

Por outro lado, caso se concorde que os casos são distintos, há que se reconhecer que a nomeação do Sr. Moreira Franco (ao contrário da nomeação de Lula), está sim eivada de ilegalidade por desvio de finalidade.

Ora, em primeiro lugar, não há justificativa política para sua nomeação como Ministro. O próprio Presidente Michel Temer declarou que a nomeação é apenas uma formalização, eis que Moreira Franco já faz parte do governo. De fato, o ex-governador é gestor de projeto central e bilionário de investimentos do Governo, o que lhe confere grande poder político e proximidade com o núcleo do poder. O ex-Presidente Lula, à época, não exercia qualquer cargo no Governo, daí a necessidade de integrá-lo, tanto formalmente, quanto substancialmente.

A única diferença, portanto, é que o cargo anteriormente ocupado por Moreira Franco não lhe dava status de Ministro, permitindo que ele fosse julgado pela Justiça Federal de 1ª instância.

1 O código de processo civil em vigor, em seu art. 926, determina o seguinte: “Art. 926. Os tribunais devem uniformizar sua jurisprudência e mantê-la estável, íntegra e coerente”.

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Outro sinal claro de que a nomeação de Moreira Franco está sendo efetivada com desvio de finalidade é que a pasta que ele passa a ocupar foi criada especialmente para sua nomeação, a partir de um desmembramento artificial e evidente sobreposição de funções entre, agora, uma “Secretaria de Governo” e “Secretaria-Geral da Presidência”. Trata-se, evidentemente, de uma repartição artificial de competências para dar foro privilegiado a quem, na prática (e como disse o próprio Presidente da República) já fazia parte do governo.

Não se nega, repita-se, que o Presidente da República tem a prerrogativa de nomear seus Ministros. No entanto, a nomeação de alguém citado mais de 30 vezes em delações premiadas como receptor de propinas, antes de esclarecidos plenamente os fatos, e para pasta criada especialmente para ele, é indício suficiente de que a finalidade do ato não corresponde àquela prevista pelo ordenamento jurídico3​. No mínimo, o Presidente deveria aguardar a homologação das delações e a apuração dos fatos nela contidos.

O desvio de finalidade é instituto previsto pela Lei da Ação popular (Lei 4.717/65 – Art. 2º, parágrafo único, e 4​) e na lei de improbidade administrativa (Lei 9.429/1992 - Art. 11, I 5​). Trata-se de mitigação da regra de ausência de controle judicial dos atos discricionários do poder público, e ocorre

3 Segundo o parecer da própria PGR no caso da nomeação do ex-Presidente Lula, pp. 31-32: “Colhem-se, portanto, os seguintes parâmetros para aferir desvio de poder: a) o agente busca atingir finalidade deturpada com o ato administrativo; b) o vício é objetivo, satisfaz-se com descompasso entre a finalidade legal e a real; c) ​dada a artificiosidade que o circunda, sua prova dá-se por meio de indícios que, revelando coerência, sejam capazes de nulificar o ato ​; d) o desvio é passível de controle judicial, na modalidade de controle de legalidade, até na via do mandado de segurança”. Grifo nosso.

4 ​ “e) o desvio de finalidade se verifica quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência”.

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quando o agente pratica o ato visando a fim diverso daquele previsto, explícita ou implicitamente, na regra de competência.

Ressalte-se que a apuração do desvio de finalidade é objetiva, não sendo essencial que se comprove o móvel subjetivo do agente de atingir a fim diverso do previsto na lei. Sequer se exige que ele tenha consciência de tal desvio. É o que ensina Celso Antônio Bandeira de Mello:

“No desvio de poder, ao contrário do que habitualmente se afirma e do que

nós mesmos vínhamos sustentando, nem sempre há um ‘móvel’, isto é,

uma intenção inadequada. Com efeito, o agente pode, equivocadamente,

supor que uma dada competência era prestante de direito, para a busca de

um dado resultado e por isto haver praticado o ato almejando alcançá-lo

pela via utilizada. Neste caso não haverá intenção viciada”.

“É certo, entretanto, que o frequente, o comum, é que exista vício de

intenção, o qual poderá ou não corresponder ao desejo de satisfazer um

apetite pessoal. Contudo, o ato será sempre viciado por não manter relação

adequada com a finalidade em vista da qual poderia ser praticado. ​ O que

vicia, portanto, não é o defeito de intenção, quando existente - ainda

que através disto se possa, muitas vezes, perceber o vício - mas o

desacordo objetivo entre a finalidade do ato e a finalidade da

competência​”6​. Grifos nossos.

Sendo assim, o presente caso demanda atuação imediata dessa Procuradoria-Geral da República, que tem como uma de suas missões institucionais a defesa da Constituição e das leis, no sentido de adotar a medida que entender cabível para suspender cautelarmente a eficácia da nomeação de Welington Moreira Franco para o cargo de Ministro de Estado, bem como, ao final, ver decretada sua nulidade, pelo evidente desvio de finalidade do ato. 6​Curso de Direito Administrativo

​ , ​29​a​ ed. São Paulo: Malheiros, 2013,​ pp. 349 e

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