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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE NO NORTE CENTRO DE CIENCIAS SOCIAIS E APLICADAS DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL KALINE BEZERRA DE OLIVEIRA

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE NO NORTE CENTRO DE CIENCIAS SOCIAIS E APLICADAS

DEPARTAMENTO DE SERVIÇO SOCIAL

KALINE BEZERRA DE OLIVEIRA

AGROECOLOGIA X AGRONEGÓCIO: DUAS MATRIZES DE PRODUÇÃO EM DISPUTA NO CAMPO BRASILEIRO

NATAL 2016

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KALINE BEZERRA DE OLIVEIRA

AGROECOLOGIA X AGRONEGÓCIO: DUAS MATRIZES DE PRODUÇÃO EM DISPUTA NO CAMPO BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Departamento de Serviço Social, da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como requisito para obtenção do título em Bacharel em Serviço Social.

Profa. Orientadora: Dra. Ilena Felipe Barros

NATAL 2016

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Oliveira, Kaline Bezerra de.

Agroecologia x agronegócio: duas matrizes de produção em disputa no campo brasileiro / Kaline Bezerra de Oliveira. - Natal, RN, 2016.

70f.

Orientador: Profa. Dra. Ilena Felipe Barros.

Monografia (Graduação em Serviço Social) - Universidade Federal do Rio Grande do Norte. Centro de Ciências Sociais Aplicadas. Departamento de Serviço Social.

1. Agronegócio - Monografia. 2. Agroecologia - Monografia. 3. Agrotóxicos – Monografia. I. Barros, Ilena Felipe. II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Título.

RN/BS/CCSA CDU 338.432.5

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DEDICATÓRIA

Dedico este trabalho a minha filha de 4 anos Ester a quem amo muito. Também ao meu esposo, Evanildo, a minha mãe Cleonice (inmemoriam) e ao meu pai Geraldo, sendo estes detentores apenas do antigo primário. Aos meus oito irmãos Francisco, Franklin, Jeferson, Wagner, Geraldinho, Carlinhos, Rosália e, especialmente, minha irmã Fátima e ao meu cunhado Josivan que sempre me trataram como uma filha bem como aos demais cunhados e sobrinhos.

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EPIGRAFE

“Cada dia a natureza produz o suficiente para nossa carência. Se cada um tomasse o que lhe fosse necessário, não havia pobreza no mundo e ninguém morreria de fome.” – Mahatma Gandhi

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AGRADECIMENTOS

Agradeço a Deus pelo dom da vida e pela a oportunidade de concluir a graduação. Considerando que fui acometida de inicio de depressão pós-parto e tive que trancar as disciplinas por três semestres consecutivos.

Também não poderia deixar de agradecer ao meu querido esposo Evanildo Costa Soares por ser um bom companheiro me apoiando psicologicamente, financeiramente, por acreditar no meu potencial e por me apoiar em todos os momentos de dificuldades que enfrentamos juntos durante o período da graduação.

Agradeço a minha amiga Rosa por se dispor a cuidar da minha filhinha enquanto eu ia estudar ao viajar de Santa Cruz a Natal. Sou grata a minha amiga Fátima pelo apoio financeiro, aos meus queridos amigos Valdete e Veridiano que me consideram como sua filha. A minha sogra Terezinha por ter um imenso carinho pela minha filha.

A todos vocês a minha gratidão.

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LISTA DE GRÁFICOS Gráfico 1: Censo demográfico 2005/2006

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LISTA DE TABELAS TABELA 01: Conflitos pela terra 2010/2015

TABELA 02: Conflitos pela água 2010/2015 TABELA 03: Conflitos trabalhista 2010/2015

TABELA 04: Agrotóxicos em processo de reavaliação no Brasil

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LISTA DE SIGLAS - ABAG - Associação Brasileira de Agribusiness

- ABIQUIM - Associação Brasileira da Indústria Química - ANVISA – Agência Nacional de Vigilância Sanitária - BC – Banco Central

- BM – Banco Mundial

- CLOC – Coordenadoria Latinoamericana de Organizaciones del Campo - CPT – Comissão Pastoral da Terra

- ENFF – Escola Nacional Florestan Fernandes

- FAO - Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação - FMI – Fundo Monetário Internacional

- IBAMA - Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis - IBC – Instituto Brasileiro do Café

- INCA – Instituto Nacional do Câncer

- MST – Programa Agrário: Reforma Agrária Camponesa e Popular - MMC – Movimento de Mulheres Camponesas

- MAB – Movimento de Atingidos por Barragens

- MAPA - Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento - MPA – Movimento de Pequenos Agricultores

- PARA - Programa de Análise de Resíduos de Agrotóxicos em Alimentos - PRONAF - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar - SNCR – Sistema Nacional de Cadastro Rural

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RESUMO

Este trabalho se propõe analisar as contradições e problemas causados pelo atual modelo de desenvolvimento para o campo, denominado de agronegócio, e seus rebatimentos no contexto das relações sociais, da produção agrícola e da vida humana. Neste sentido, observa-se que o processo de modernização do campo se deu de forma conservadora por propiciar um desenvolvimento econômico que favoreceu a elite agrária, com o apoio do Estado, das empresas multinacionais e do mercado financeiro internacional. Fortaleceu ainda mais a concentração da terra de modo a inviabilizar a realização da reforma agrária. Em contrapartida, o agronegócio tem provocado o empobrecimento de trabalhadores/as do campo, bem como a sua exclusão, além de constituir-se como uma ameaça para a saúde humana por não conseguir produzir alimentos saudáveis devido ao uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras. Esse modelo de desenvolvimento na agricultura, centrado no monocultivo e na utilização de agroquímicos contribuem para o aparecimento de doenças, a exemplo do câncer, configurando-se como um caso de saúde pública. Além disso, tem agredido e destruído a biodiversidade e comprometido o equilíbrio ambiental. Por isso, vale salientar que a agroecologia constitui-se como uma matriz de produção capaz de produzir alimentos saudáveis em harmonia com a natureza em quantidades satisfatórias para acabar com a fome no mundo. A metodologia contemplou o método de Marx, materialismo dialético, para análise da realidade do campo brasileiro e a pesquisa qualitativa.

Palavras chaves: Agronegócio. Agroecologia. Produção agrícola. Agrotóxicos.

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ABSTRACT

This work aims to analyze the contradictions and problems caused by the current model of development for the countryside, known as agribusiness, and its repercussions in the context of social relations, agricultural production and human life. In this sense, it can be observed that the process of modernization of the countryside took place in a conservative way, favoring an economic development that favored the agrarian elite, with the support of the State, multinational companies and the international financial market. It further strengthened the concentration of land in order to render land reform unfeasible. On the other hand, agribusiness has led to the impoverishment of rural workers and their exclusion, as well as to constitute a threat to human health because it can not produce healthy food due to the excessive use of pesticides in the plantations. This model of development in agriculture, centered on monoculture and the use of agrochemicals, contribute to the emergence of diseases, such as cancer, as a case of public health. In addition, it has attacked and destroyed biodiversity and compromised the environmental balance. Therefore, it is worth noting that agroecology is a production matrix capable of producing healthy food in harmony with nature in satisfactory quantities to stop hunger in the world. The methodology contemplated the Marx method, dialectic materialism, for the analysis of the Brazilian field reality and the qualitative research.

Keywords: Agribusiness. Agroecology. Agricultural production. Pesticides.

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SUMÁRIO

1. INTRODUÇÃO...14

2. AGRICULTURA E CAPITALISMO NA CONTEMPORANEIDADE...19

2.1 Transformações societárias e as consequências para o campo...19

2.2 Modernização conservadora: industrialização e pobreza no campo...28

2.3 Agronegócio: Avanço do capital na mercantilização da terra...32

3. A PRODUÇÃO DE ALIMENTOS SAUDÁVEIS E A SUPERAÇÃO DO AGRONEGÓCIO E DOS AGROTÓXICOS...41

3.1 A produção de alimentos e o uso de agrotóxicos: a vida do planeta em perigo...41

3.2 A agroecologia e soberania alimentar: alternativa para uma vida saudável....50

3.3 Campanha contra os Agrotóxicos e pela Vida: Resistência e Lutas...57

CONSIDERAÇÕES FINAIS...66

REFERÊNCIAS...68

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1. INTRODUÇÃO

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14 1. INTRODUÇÃO

A presente monografia tem por objetivo analisar as contradições e problemas causados pelo atual modelo de desenvolvimento capitalista para o campo, denominado de agronegócio, e seus rebatimentos no contexto das relações sociais, da produção agrícola e da vida humana.

Os objetivos específicos são: 1) Analisar o processo de modernização conservadora, desencadeada a partir dos anos 1970, no sentido de compreender as transformações ocorridas na produção agrícola; 2) Discutir o desenvolvimento do agronegócio no campo brasileiro e seus rebatimentos na agricultura e na vida em sociedade; 3) Discutir sobre uso excessivo dos agrotóxicos na produção agrícola e suas consequências para a saúde e a produção de alimentos no Brasil; 4) Apresentar a produção agroecológica como alternativa para o desenvolvimento da agricultura e da produção de alimentos saudáveis.

O interesse pelo estudo da questão agrária na atualidade deu-se pela minha inquietação inicial em pesquisar um tema que estivesse relacionado com a produção de alimentos saudáveis para promoção da saúde das pessoas. Diante disso, foi necessário analisar as duas matrizes de produção atualmente em disputa pela terra no campo: o agronegócio e a agricultura camponesa que se baseia em princípios da agroecologia para manusear a produção de alimentos sem a utilização de agrotóxicos.

O desenvolvimento da matriz de produção do agronegócio no Brasil se deu a partir do da modernização conservadora nos anos de 1970, com a chamada revolução verde. Desde então, as políticas agrícolas vem sendo direcionadas conforme os ditames dos organismos multilaterais FMI, BM, visando atender aos interesses de acumulação do capital financeirizado.

Essa matriz de produção configura-se como um modelo de produção excludente, por gerar o aumento do empobrecimento dos camponeses, sobretudo devido à alta concentração de terra e dos recursos naturais que são patrimônio da humanidade em mãos de empresas privadas multinacionais que se beneficiam com o apoio do governo por meio de incentivos fiscais, além de conduzir as políticas agrícolas voltadas para atender os seus interesses de mercado mundial. Dessa forma, promovem a intensificação do processo de exploração da força de trabalho bem como desrespeitam aspectos culturais dos camponeses e indígenas contribuindo para a sua exclusão, contribuindo também para a expulsão do homem do campo. Assim, tal modelo para o campo torna-se também uma ameaça para saúde do planeta ao provocar a destruição da biodiversidade e do meio ambiente devido a sua base de produção

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se dar em forma de monocultura, bem como pelo uso excessivo de agrotóxicos nas lavouras afetando tanto a saúde dos trabalhadores que manipulam e aplicam os venenos quanto da população que consomem estes alimentos com o teor de agrotóxicos acima do que é permitido pelos órgãos de fiscalização (ANVISA). Este trabalho apresenta propostas e alternativas concretas para o desenvolvimento sustentável do campo brasileiro através de práticas de produção da agricultura camponesa baseadas em princípios da agroecologia como estratégia política para o processo de superação do agronegócio. Dessa forma, observa-se como as políticas agrícolas vêm sendo conduzida pelo Estado privilegiando os interesses de acumulação do sistema capitalista em detrimento dos interesses da classe trabalhadora.

Neste contexto de problemas sociais resultantes do atual modelo para o campo e considerando que o Serviço Social tem como objeto de trabalho as expressões da questão social, entende-se que a questão agrária e todos os problemas dela decorrentes surgem como uma particularidade da ação profissional. Diante disso, vale destacar que a profissão emerge com o objetivo de apassivar a classe trabalhadora dentro de uma perspectiva profissional acrítica desvinculada das relações capitalistas de forma que a questão social era entendida em uma perspectiva conservadora a partir do pensamento social da igreja como uma questão moral de responsabilidade dos indivíduos, sendo assim, a atuação profissional baseava-se no controle social, policiamento e na culpabilização dos indivíduos, bem como no seu ajustamento a ordem do capital.

Por isso, consequentemente as políticas sociais se configuravam e ainda se configuram dentro de uma lógica conservadora e assistencialista de modo que a sua execução se dava setorialmente e de forma fragmentada assumindo um caráter pontual.

Vale destacar a mudança da perspectiva teórico-metodológica a partir da influencia das teorias marxistas sobre o Serviço Social por meio do movimento de intenção de ruptura nas universidades bem como o movimento de reconceituação ocorrido na América Latina fez com que a profissão desse um salto qualitativo do ponto de vista teórico metodológico, ético- político e técnico-operativo de modo a proporcionar ao Serviço Social a leitura da realidade brasileira em uma perspectiva crítica relacionando os problemas sociais como resultado da base econômica desigual do modo de produção capitalista.

Com isso, a profissão rompe com o histórico conservadorismo profissional atribuindo- lhe um novo significado e uma nova direção social. Neste contexto, o Serviço Social passa a orientar a sua prática profissional baseado pelo então denominado projeto ético político profissional que tem como compromisso a defesa intransigente dos direitos sociais e políticos

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dos indivíduos sociais buscando a sua emancipação política, porém objetivando, sobretudo, a plena emancipação humana através da superação da ordem do capital para a implantação de uma nova ordem social baseada na justiça e na equidade.

A metodologia contemplou o método de Marx, materialismo dialético, para análise da realidade do campo brasileiro. De acordo com esta perspectiva crítica da realidade foi possível desvendar a triste realidade dos trabalhadores rurais, bem como o seu processo de empobrecimento como resultado de determinações da sociabilidade capitalista materializada no campo brasileiro através do agronegócio.

Tendo tal compreensão, Netto (2011)

Apresenta que o objetivo de um pesquisador deve ser a distinção entre

“aparência e essência”, ou seja, é apreender a essência (a estrutura e a dinâmica) do objeto. Numa frase, o método de pesquisa que, por meio de procedimentos analíticos, propicia o conhecimento teórico, partindo da aparência, visa alcançar a essência do objeto. Feito isso e operando a sua síntese, o pesquisador reproduz, no plano do pensamento, ou seja, no plano ideal, a essência do objeto que investigou. Em toda pesquisa, parte-se da aparência e conforme avança a análise sobre a pesquisa, chega-se a conceitos e novas abstrações. Entretanto, o procedimento analítico não se encerra neste ponto, pois, após se obter as determinações mais simples, é necessário retornar ao objeto. (NETTO, 2011, p.22)

Os procedimentos metodológicos dessa monografia contemplaram a revisão de literatura e a pesquisa documental, baseados na pesquisa qualitativa. Segundo Minayo (2001, p.21-22):

A pesquisa qualitativa responde a questões muito particulares. Ela se preocupa, nas ciências sociais com o nível de realidade que não pode ser quantificado. Ou seja, ela trabalha com o universo de significados, motivos, aspirações, crenças, valores e atitudes, o que corresponde a um espaço mais profundo das relações dos processos e dos fenômenos que não podem ser reduzidos a operacionalização de variáveis.

Sendo assim, este trabalho está estruturado sob a forma de dois capítulos, sendo que o primeiro traz aspectos do processo de desenvolvimento capitalista atual (fetichismo da mercadoria; mercantilização das relações sociais; exploração da força de trabalho) no campo para atender a lei geral da acumulação; acentuando pobreza e as expressões da questão social. Neste sentido, destaca-se o processo de expropriação e empobrecimento a que estão

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submetidos os trabalhadores rurais a partir da modernização conservadora no campo brasileiro. Consequentemente, é notório o aumento da violência e dos conflitos no campo entre os trabalhadores rurais, latifundiários e empresas multinacionais disputando por recursos naturais (água e terra). E por último, discorre sobre o agronegócio e a produção em larga escala na agricultura.

Posteriormente, no segundo capítulo são tratadas questões relacionadas ao uso abusivo de agrotóxicos e insumos químicos nas lavouras, considerando que muitos desses venenos tiveram a sua venda proibida em outros países, porém são utilizados livremente no Brasil para assegurar uma maior produtividade das commodities e dessa forma compromete o equilíbrio dos ecossistemas e dos recursos naturais. Dessa forma, torna os solos inférteis, polui os lenções freáticos, provoca devastações ambientais; além de ameaçar a saúde dos trabalhadores que manipulam e aplicam os venenos nas plantações bem como da população que consomem estes alimentos com o teor de agrotóxicos acima do que é permitido pelos órgãos de fiscalização; acarretando o aparecimento de um numero significativo de doenças, a exemplo do câncer dentre outras. Também, discorre sobre a agroecologia que se configura como a única alternativa viável para promover o verdadeiro desenvolvimento para o campo brasileiro, por se tratar de uma matriz de produção que consegue atingir números de produção de alimentos satisfatório capaz de sanar a fome no mundo ultrapassando a produção dos sistemas de produção convencionais, através de técnicas de cultivo que produz em harmonia com a natureza sem a utilização de agrotóxicos respeitando a biodiversidade do planeta, bem como considera a diversidade cultural dos povos do campo, destacando-se os camponeses e os povos indígenas promovendo a sua inclusão, além de promover a democratização da riqueza socialmente produzida no campo através da ampliação do número de postos de trabalho visando melhorar as condições de vida dos camponeses.

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2. AGRICULTURA E CAPITALISMO NA CONTEMPORANEIDADE

“Por onde passei, plantei a cerca farpada, plantei a queimada. Por onde passei, plantei a morte matada. Por onde passei, matei a tribo calada, a roça suada, a terra esperada… Por onde passei, tendo tudo em lei, eu plantei o nada”. (Confissões do Latifúndio – D. Pedro Casaldáliga)

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2. AGRICULTURA E CAPITALISMO NA CONTEMPORANEIDADE

2.1 Transformações societárias e as consequências para o campo

Na sociabilidade contemporânea as relações de produção e reprodução social, assumem um caráter cada vez mais alienante, considerando que no sistema capitalista, o homem, enquanto trabalhador, passa da condição de criador para um estágio de dominação pelo próprio objeto de sua criação. Neste sentido, ocorre o fetichismo da mercadoria que faz com que o homem se relacione estranhamente com o objeto de sua criação, passando a ser subordinado a ele, sendo esta uma relação de produção capitalista historicamente determinada.

Tendo em vista que o trabalhador é obrigado a vender a sua força de trabalho ao dono dos meios de produção para atender, sobretudo, as necessidades de reprodução ampliada do capital. Nesta relação de produção que envolve o assalariamento dos trabalhadores, o trabalho excedente ou trabalho não pago e a exploração da força de trabalho, que é geradora da riqueza capitalista, configura-se como sustentáculo do capitalismo. Nas relações capitalistas as mercadorias ganham centralidade e não os homens que as produz. Sendo assim, concordamos com Granemann (1999, p.4) quando afirma que:

É pelo trabalho que o homem se diferencia e se distancia da natureza, ao submetê-la a sua vontade no ato de transformá-la em produtos necessários à sua vida. Tais produtos são valores de uso, que podem satisfazer diferentes necessidades humanas. (GRANEMANN apud MARX, 1988).

Porém, na sociabilidade capitalista, mais precisamente através do processo de globalização e financeirização do capital, o trabalho perde consideravelmente o seu caráter emancipatório e humanizador deixando de promover a verdadeira civilização e humanização do homem passando a desprivilegiar cada vez mais as suas necessidades, priorizando as necessidades do acumulo do capital. Neste sentido, Lefebvre (1973) sugere, ainda, que apontar como se reproduzem as relações de produção não significa sublinhar a coesão interna ao capitalismo, mas mostrar também e, sobretudo, como essas relações amplia e aprofunda em escala mundial suas contradições e suas mistificações.

Esse processo atual de desenvolvimento do capital tem provocado mudanças significativas na base produtiva do capital implementando a reestruturação produtiva.

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Segundo Antunes (2013) consiste em uma resposta do capital a sua lógica destrutiva e aos seus determinantes estruturais, quais sejam: as taxas decrescentes de lucro; a resistência operaria; e a própria impossibilidade de controle do capital enquanto um sistema de metabolismo societal orientado para sua a expansão e acumulação. Como forma de se refazer e se fortalecer para alcançar o seu objetivo principal que é a reprodução ampliada do acúmulo do capital este sistema tem investido também em inovação tecnológica.

No que concerne ao desenvolvimento tecnológico e científico, a ciência e seus resultados tem sido utilizada especialmente para atender aos objetivos do capital. Porém, diante de todo o processo de inovação tecnológica o trabalho vivo permanece essencial constituindo-se como sua principal força produtiva do capital.

De acordo com Antunes (2013):

[...] trabalho vivo, em conjugação com ciência e tecnologia, constitui uma complexa e contraditória unidade, sob as condições de desenvolvimento capitalista. [...] liberada pelo capital para expandir-se, mas sendo em última instancia prisioneira da necessidade de subordinar-se aos imperativos do processo de criação de valores a ciência não pode converte-se em principal força produtiva. (ANTUNES, 2013, p.122-123).

Contraditoriamente, tendo em vista que o desenvolvimento das forças produtivas deveria fortalecer o caráter social do homem no que diz respeito a sua civilização e desenvolvimento enquanto um ser social observa-se a total exploração dos trabalhadores pelo capital. Sendo assim, vale destacar que para a Lei Geral da Acumulação, torna-se necessário um exército industrial de reserva que esteja disponível para o capital, sendo estes inseridos ou repelidos de acordo com as necessidades do capital, por isso, concordamos com Siqueira (2013), ao afirmar que:

A existência do Exército Industrial de Reserva (EIR) está diretamente vinculada a acumulação de riqueza pelo capitalista, ou seja, quanto maior a potência de acumular riqueza, maior tende a ser a magnitude do EIR. E quanto maior esse EIR em relação ao exército ativo, tanto mais tende a crescer a superpopulação. E quanto maior a massa de superpopulação maior o pauperismo. (SIQUEIRA, 2013, p. 170).

Diante do exposto, um grande contingente da população encontra-se desempregada passando a viver sobre precárias condições de vida em situação de risco e vulnerabilidade social de modo que se tornam vítimas das diversas expressões da questão social.

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Nesse contexto, segundo Iamamoto (2008), a antiga questão social, ganha novas roupagens. Evidenciada no distanciamento entre as relações sociais e o progresso da força de trabalho social, sendo a primeira caracterizada como a mola propulsora da segunda. Esse processo resulta na vulgarização da vida humana, na violência obscurecida pelo fetiche do dinheiro e na penetração do capital em todas as dimensões da vida.

Seguindo a lógica de manutenção, consolidação e fortalecimento das formas de reprodução social do sistema capitalista, o Estado desenvolve ações de cunho assistencialista e benemerente voltadas para amenizar as sequelas da questão social sem afetar os interesses da classe dominante dentro do contexto da luta de classes, que para Harvey (2004b):

A condição preterida para a atividade capitalista é um Estado burguês em que instituições de mercado e regras contratuais (incluindo os contratos de trabalho) sejam legalmente garantidas e em que se criem estruturas de regulação para conter conflitos de classes e arbitrar entre as reivindicações das diferentes facções do capital [...]. Políticas relativas à segurança da oferta de dinheiro e aos negócios e relações comerciais externas também têm de ser estruturadas para beneficiar a todos. (HARVEY, 2004b, p. 80).

Dessa maneira, o governo dos países de capitalismo periférico seguem as orientações e ditames dos organismos multilaterais e entidades internacionais FMI, Banco Mundial. Portanto, passam a adotar medidas antissociais e contrarreformas a exemplo das privatizações, ajustes fiscais, desmonte de direitos sociais, precarização das relações de trabalho com o objetivo de fomentar o acúmulo do capital em detrimento da defesa dos interesses da classe trabalhadora. Dessa forma, o Estado burguês ao desenvolver suas ações, imprime a lógica neoliberal para as políticas sociais nos países de capitalismo, sobretudo, nos países de capitalismo periférico, dentre eles o Brasil. Tais políticas assumem um caráter cada vez mais fragmentado, seletivo, setorializado trazendo sérios prejuízos ao campo social de forma que as expressões da questão social dentre elas a pobreza, bem como toda sorte de desigualdades sociais tem sido enfrentadas pelas práticas filantrópicas e caritativas na tentativa de desresponsabilizar o Estado da sua obrigação em assegurar o acesso aos serviços e direitos sociais da população. Estas ações têm sido utilizadas pelo capital junto ao Estado para diminuir a pobreza sem afetar os fundamentos que a geram. De acordo com Siqueira (2013):

A pobreza não é um resquício de sociedades pré-capitalistas, ou um produto de um insuficiente desenvolvimento. Ela é um produto necessário do MPC. Dessa forma, o próprio desenvolvimento capitalista, o aumento da riqueza socialmente produzida, não só não reduz a pobreza, como pelo contrário, a

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22 produz e a amplia: com mais desenvolvimento capitalista, maior pauperização. A maior riqueza produzida na sociedade comandada pelo capital não gera sua maior distribuição, mas sua acumulação. (SIQUEIRA, 2013).

Portanto, na sociabilidade do capital como resultado das suas relações de produção e reprodução social jamais será possível haver igualdade de direitos, justiça social e emancipação humana. Considerando que o trabalho necessário voltado para suprir as necessidades dos trabalhadores será sempre relegado e o trabalho excedente estará ocupando uma posição central.

Neste contexto, entende-se que Iamamoto (2006) está correta ao dizer que: a produção da riqueza social sempre será coletiva e a sua apropriação privada. A partir deste pressuposto, no contexto da sociedade de classes, a sociedade sofrerá com o processo de alienação que envolve todas as dimensões da vida social ultrapassando a esfera da produção; alcançando a esfera da reprodução social de modo que o Estado, a política, a economia, a cultura, a vida cotidiana, bem como outros complexos sociais são envolvidas e submetidas à lógica do acúmulo do capital.

Para Mandel (1985), a financeirização da economia radicaliza o complexo dos fetichismos da vida social — esta “religião da vida diária” — e a exploração do trabalho, com seu fosso das desigualdades impulsionando as crises. Assim sendo, o capitalismo financeiro sendo este o estágio mais avançado do capital tem promovido significativamente o processo de exploração e alienação da produção em relação à classe trabalhadora, particularmente para os trabalhadores do campo, o agronegócio tem contribuído para o emprobrecimento destes trabalhadores bem como para o surgimento de condições favoráveis para a intensificação das mais diversas formas das expressões da questão social.

No contexto das injustiças sociais e suas terríveis consequências para os trabalhadores do campo, nota-se que o capital financeiro tem provocado o estrangulamento da pequena agricultura devido à expansão das pastagens quanto o seu empobrecimento através do agronegócio. Diante do exposto, podemos destacar que o Brasil é um dos países com maior índice de concentração de terra. Tal fato contribui para que muitos trabalhadores do campo sejam impedidos de ter a acesso a propriedade da terra para trabalhar e dela retirar o seu sustento e de sua família. Desse modo, o processo de expropriação e a exploração dos trabalhadores rurais brasileiros surgem como um grave problema social resultante da distribuição desigual das terras brasileiras fazendo emergir um processo de resistência e luta pela terra entre trabalhadores do campo, grandes proprietários de terra e empresas nacionais e

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internacionais agropecuárias gerando um aumento significativo do número de violência no campo.

Diante de tal fato, constata-se que a questão agrária e a má distribuição da terra têm desencadeado em sérias situações de violência no campo. Neste contexto de conflitos são notórias as ações estratégicas do governo para contê-los de forma superficial e sem qualquer interesse para realizar a reforma agrária. Desta forma, trazendo a luz o período da ditadura militar onde a política agraria continuava voltada para atender os interesses do grande capital de forma que o governo criou alguns projetos de colonização e se utilizou de falsas promessas para os trabalhadores do campo de várias regiões do país com o intuito de fazê-los ocupar diversas áreas da região da Amazônia e do Centro-Oeste e ao mesmo tempo conter os conflitos relacionados à posse de terra nas várias partes do Brasil.

Por isso, concorda-se com Morissalva (2001) ao afirmar que:

Pela propaganda oficial, havia terras em abundancia a espera de colonizadores às margens das grandes rodovias; a Transamazônica, a Cuiabá- Santarém, e a Cuiabá-Santarém e a Cuiabá Porto Velho. Essas políticas espelhava o interesse do governo em esvaziar os conflitos por terra nos quatro cantos do Brasil. O general Médici a Justificava como uma forma de “levar homens sem terra para terras sem homens”. [...] os governos militares elaboraram vários planos para a “ocupação” da Amazônia. Mas agora, isso envolvia a proteção da grande propriedade contra os sem-terra. [...] A política de “ocupação” da Amazônia ignorava a existência de populações indígenas e caboclas, e até mesmo urbanas, na região. Os grandes projetos governamentais (rodovias, usinas hidrelétricas, exploração de minérios etc.) e da iniciativa privada geraram uma intensa apropriação e expropriação de terras. Muitas tribos indígenas e posseiros perderam terras e vidas nesse processo. (MORISSAWA, 2001).

Seguindo essa mesma ideia, os projetos de colonização serviram como forma de controle sobre a questão agrária, porém, mostraram-se ineficazes, pois em sua maioria fracassaram e se tornaram motivos de escândalos e corrupção pela má utilização dos recursos públicos. Porém, no que diz respeito à luta pela terra, torna-se fundamental evidenciar o papel da CPT (Comissão Pastoral da Terra) que de acordo com Morissawa (2001).

Foi um importante instrumento de desmascaramento das políticas e projetos dos militares, e permanece sendo espaço central na organização e projeção das lutas pela conquista da terra. [...] em 1975, surgiu a CPT, também da Igreja Católica, que, juntamente com as paróquias das periferias da cidades e das comunidades rurais passou a dar assistências aos camponeses durante o regime militar. [...] A falta da perspectiva da reforma agrária em seus Estados levou muitos trabalhadores rurais para a Amazônia e o Centro-

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24 Oeste. [...] na colonização espontânea, os trabalhadores rurais derrubavam a mata e passavam a cultivá-la. Logo apareciam pessoas dizendo-se donas da área, com títulos legais ou forjados, expulsavam os ocupantes e plantavam o pasto para a pecuária. [...] Agricultores analfabetos ou semi-analfabetos foram assim expulsos da terra e perderam as benfeitorias que haviam feito, sem direito algum. Essas foram as bases dos conflitos nas região, geralmente resolvidos a bala, com a morte de centenas de posseiros. (MORISSAWA, 2001, p. 105).

Sendo assim, muitos trabalhadores do campo têm sofrido com o processo de expropriação como resultado das ações de grandes empresas capitalistas. Tendo este apoio do governo brasileiro através de incentivos fiscais, empréstimos bancários e outras formas de privilégios e financiamentos para que estas grandes empresas tenham todas as condições favoráveis para investir em grandes negócios relacionados à propriedade da terra. Para Martins (1980):

A questão agrária no Brasil tem duas faces combinadas: a expropriação e a exploração. Há uma clara concentração da propriedade fundiária, mediante a qual pequenos lavradores perdem ou deixam a terra, que é o seu principal instrumento de trabalho, em favor de grandes fazendas. [...] a expropriação constitui uma característica essencial do processo de crescimento do capitalismo é um componente da lógica de reprodução do capital. O capital só pode crescer, só pode se reproduzir, a custa do trabalho, porque só o trabalho é capaz de criar riqueza. (MARTINS, 1980, p.50).

Considerando tal afirmação, o processo de expropriação dos trabalhadores do campo consiste na perda da posse da terra e de seus instrumentos de trabalhos pelas grandes empresas capitalistas. Sendo assim, a maioria desses trabalhadores passa a ter a sua mão de obra subjugada pelas mesmas de forma que eles são obrigados a vender a sua força de trabalho e a riqueza que por eles são geradas tornam-se frutos do capital.

Assim, o sistema capitalista age conjuntamente em todos os processos sociais, a sua dominação no campo também envolve a apropriação de recursos hídricos por grandes empresas bem como por meio da construção de barragem ou açudes. Em decorrência disso, surgem muitas ações de resistência por parte de agricultores. Tais ações em geral tem caráter coletivo relacionando-se também com a preocupação de preservar as fontes de água e o meio ambiente.

Em face do levantamento anual realizado pela Comissão Pastoral da Terra (CTP) em 2015, tem-se: 50 pessoas foram assassinadas no campo, o maior número de vítimas desde 2004, e 39% a mais do que em 2014, quando foram registrados 36 assassinatos.

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Como em anos anteriores, a violência se concentrou de forma, pode-se dizer espantosa, na Amazônia, onde foram computados 47 dos 50 assassinatos – 20 em Rondônia, 19 no Pará, 6 no Maranhão, 1 no Amazonas, 1 no Mato Grosso -; 30 das 59 tentativas de assassinato; 93 das 144 pessoas que receberam ameaças de morte; 66 dos 80 camponeses presos. E ainda 20.000.853 dos 21.374.544 hectares em conflito. Dessa maneira, 527 dos 998 conflitos por terra também lá ocorreram, com destaque para o Maranhão com 120, 99 no Pará e 83 em Rondônia.

Ainda segundo a CPT o quadro de conflitos e de violência já há alguns anos ganham destaque o que se chama de populações tradicionais, as que têm uma relação com a terra- natureza, não mercadológica. Segundo Porto-Gonçalves e Barbosa (2014) “no Brasil inteiro, independentemente da região geoeconômica, são as populações tradicionais que vêm ocupando a cena do enfrentamento fundiário e sinalizando para a ressignificação da questão (da reforma) agrária”. E também surgem outros grupos sociais como os “Atingidos por Barragens, Atingidos pela mineração, Atingidos pelo linhão. São atingidos o que indica que sua identidade está marcada pela violência que sofrem e não por alguma memória geográfica e culturalmente situada”. Vejamos de forma detalhada a tabela 1 abaixo os principais conflitos por terra no campo de 2010 a 2015.

TABELA 01: CONFLITOS PELA TERRA 2010/2015

Conflitos de terra 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Ocorrências de conflito 638 805 816 763 793 771

Ocupações/Retomadas 180 200 238 230 205 200

Acampamentos 35 30 13 14 20 27

Total Conf. Terra 853 1.035 1.067 1.007 1.018 998

Assassinatos 30 29 34 29 36 47

Pessoas Envolvidas 351.935 458.675 460.565 435.075 600.240 603.290 Fonte: CPT (2015).

A não efetivação da Reforma Agrária no Brasil está diretamente relacionada com a concentração fundiária contribuindo exponencialmente para o desencadeamento de diversos conflitos no campo. Nesse sentido, destacamos o conflito por água, que de acordo com a CPT (2015) são ações de resistência, em geral coletivas, que visam garantir o uso e a preservação das águas; contra a apropriação privada dos recursos hídricos; contra a cobrança do uso da água no campo; e de luta contra a construção de barragens e açudes. Este último envolve os atingidos por barragens, que lutam pelo seu território do qual são expropriados. Haver disputas por água no Brasil é uma situação que, a princípio, parece contraditória. Assim,

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conflitos em tempos de seca são ações coletivas que acontecem em áreas onde ocorre estiagem prolongada e reivindicam condições básicas de sobrevivência e ou políticas de convivência com o semiárido.

Diante dos fatos, observa-se que no Brasil o número de conflitos por água tem aumentado, sobretudo, nos três últimos anos conforme mostra a tabela 2 a seguir:

TABELA 02: CONFLITOS PELA ÁGUA 2010/2015

Conflitos pela Água 2010 2011 2012 2013 2014 2015

No de Conflitos 87 68 79 93 127 135

Assassinatos 2 2 2 2

Pessoas Envolvidas 197.210 137.855 158.920 134.835 214.075 211.685 Fonte: CPT (2015).

Ainda no contexto das consequências que o sistema capitalista tem causado no campo, podemos evidenciar a questão dos conflitos trabalhistas. Sendo assim, para CPT (2015) Conflitos Trabalhistas compreendem os casos em que a relação trabalho X capital indicam a existência de trabalho escravo, superexploração.

Na compreensão do que é Trabalho Escravo, a CPT (2015) segue o definido pelo artigo 149, do Código Penal Brasileiro, atualizado pela Lei nº 10.803, de 11.12.2003, que o caracteriza por submeter alguém a trabalhos forçados ou a jornada exaustiva, ou por sujeitá-lo a condições degradantes de trabalho, ou quando se restringe, por qualquer meio, sua locomoção em razão de dívida contraída com o empregador ou preposto, ou quando se cerceia o uso de qualquer meio de transporte por parte do trabalhador com o fim de retê-lo no local de trabalho ou quando se mantém vigilância ostensiva no local de trabalho ou se apodera de documentos ou objetos pessoais do trabalhador com o fim de retê-lo no local de trabalho.

Observa-se que na sociedade contemporânea haja vista, todo o processo de desenvolvimento das forças produtivas ainda persiste inúmeras contradições nas relações de trabalho bem como nas formas de trabalho análoga ao trabalho escravo.

Neste contexto, de acordo com Martins (1980):

É conhecida a situação dos trabalhadores avulsos em amplas regiões do país – conhecidos como Boias–frias em São Paulo Minas Gerais, Paraná, Rio de Janeiro, Goiás, ou como “clandestinos” em Pernambuco; ou “volantes” na Bahia e em outras regiões. As oportunidades de empregos para esses trabalhadores são sazonais, o os impede de trabalhar todos os meses do ano. Para atenuar as dificuldades que enfrentam, aceitam deslocar-se para grandes distancias, levados pelo “gato” longe da família, sem qualquer direito

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27 trabalhista assegurado. [...] mais grave ainda é a situação dos peões na Amazônia Legal, são geralmente utilizados na fase da abertura das fazendas, de derrubada da mata. São trabalhadores sem-terra, recrutados pelos “gatos” em Goiás, no Nordeste e mesmo em São Paulo e depois vendidos como uma mercadoria qualquer aos empreiteiros encarregados do desmatamento. (MARTINS, 1980, p. 49).

Diante dessa triste realidade, podemos analisar os dados conforme a tabela 3 abaixo, que apresenta a precarização das relações de trabalho no campo através de formas de trabalho análogas ao trabalho escravo que ainda persistem no Brasil.

TABELA 03: CONFLITOS TRABALHISTA 2010/2015

Conflitos de terra 2010 2011 2012 2013 2014 2015

Trabalho Escravo 204 230 168 141 131 80

Assassinatos 1 1

Pessoas Envolvidas 4.163 3.929 2.052 1.716 2.493 1.760

Superexploração 38 30 14 13 10 04

Assassinatos 1 2 1

Pessoas Envolvidas 1.643 466 73 142 294 102

Total Conf. Trabalhista 242 260 182 154 141 84

Fonte: CPT (2015).

Observa-se que de acordo com os dados houve uma diminuição no número de trabalho escravo no ano de 2015. Porém tal diminuição apresenta-se ainda inconsistente do ponto de vista de sanar o problema do trabalho escravo no Brasil.

Considerando o contexto de violência e barbárie no campo causado pelo modelo capitalista para a agricultura devido a sua perspectiva pela não realização da reforma agrária, ressalta-se que ocorre um processo de luta e resistência por parte de sujeitos sociais, incluindo camponeses, povos indígenas, quilombolas, dentre outros que tem empreendido formas de enfrentamento contra a elite latifundiária no Brasil.

De acordo com a CPT (2015)

Indicou que eles participaram em 763 conflitos, nos demais não há informação. Entre eles, destacaram-se com 33,2% ou 253 ocorrências, os camponeses posseiros, incluindo entre eles todas as suas categorias sociais ou diferentes nominações regionais (posseiros, seringueiros, castanheiros, ribeirinhos, fecho e fundo de pastos, geraizeiros, pescadores, vazanteiros e etc.). A seguir, aparecem os camponeses sem terra com 28% ou 214 indígenas e quilombolas lutam pelas demarcações de seus territórios de vida. (CPT, 2015, p.40)

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Diante do exposto, destaca-se o papel imprescindível dos movimentos sociais no processo de enfrentamento e resistência dos trabalhadores do campo contra as investidas do capital para a agricultura. Sendo assim, conforme a CPT (2015):

O Movimento Social (MS) visto a partir da lógica de reconfiguração social de conflitos (potencializa e politiza os sujeitos) amplia as fronteiras dos camponeses, dando-lhes voz na produção de novos projetos de sociedade, possibilitando a construção de cultura política, de espaço de educação e formação política (TORRES, 2008).

Logo, os movimentos sociais a exemplo do MST1 constituem-se em espaços coletivos estratégicos onde os indivíduos sociais ao passar pelo processo de politização podem se enxergar como sujeitos históricos e políticos detentores de direitos sociais de modo a ampliar a sua força politica para obterem o atendimento das suas demandas de forma satisfatória.

2.2 Modernização conservadora: industrialização e pobreza no campo

Observa-se que a falta de vontade política por parte do governo brasileiro em realizar a reforma agrária no Brasil contribuiu para desencadear um processo de privilegiamento por parte do mesmo para a defesa dos interesses econômicos do sistema capitalista por meio da captação de recursos públicos financeiros para a agricultura, em detrimento dos interesses dos trabalhadores no campo. Tal fato contribuiu ainda mais para o enfraquecimento do movimento pela reforma agrária no país. Neste contexto, surge e se fortalece o processo de modernização do campo através da chamada modernização conservadora que de acordo com Delgado (2013):

Tratava-se ainda de uma resposta política agrícola dominada excessivamente pela prioridade do IBC2 à valorização cafeeira e ao regime cambial dos anos 1950. Ela foi também uma maneira de responder aos intensos desafios da industrialização e urbanização, combinados com uma necessária diversificação e elevação das exportações primárias e agroindustriais do Brasil, estancadas durante vinte anos no nível de 1 a 1,5 bilhão de dólares por ano. (DELGADO, 2013, p.13).

1 MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem terra.

2 IBC – Instituto Brasileiro do Café.

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Neste sentido, a integração técnica da indústria com a agricultura e a mudança de base técnica de sua produção só pode acontecer com a atuação do Estado brasileiro que deu todo o suporte necessário para que o sistema capitalista se fortalecesse no campo.

Diante disso, segundo Delgado (2013):

Perseguiu-se na política agrícola a concepção de planejamento induzido dos mercados de produtos rurais mediante a desoneração dos riscos estruturais do processo produtivo privado (risco de produção e de preços). Estimulou-se a adoção de pacotes tecnológicos da revolução verde, então considerados sinônimos de modernidade, e incentivou-se um enorme aprofundamento das relações de crédito na agricultura, mediando a adoção desses pacotes com mecanismos de seguro de preço e seguro do crédito à produção. (DELGADO, 2013, p.13).

Ainda relacionado ao papel do Estado no que concerne fortalecimento do capital no campo, nota-se a contradição na condução da política econômica agrícola, bem como do papel relevante do crédito através do fundo público, que além de prover crédito para as grandes empresas nacionais e internacionais e para a burguesia rural promoveu significativos privilégios para os mesmos através de incentivos fiscais.

Delgado (2013) ainda ressalta:

[...] percebe-se na política econômica a grande evidência na liberalidade de crédito rural, a prodigalidade dos incentivos fiscais (principalmente nas desonerações do imposto de renda e do imposto territorial rural, e ainda o aporte direto e expressivo do gasto público na execução das políticas de fomento produtivo e comercial, dirigidas as clientelas das entidades criadas ou recicladas no período (SNCR, política de garantia de preço, Proagro, pesquisa e extensão rural, etc.). (DELGADO, 2013, p.13-14).

Neste contexto, é possível observar que desde a década de 1960, o papel do Sistema Nacional de Cadastro Rural (SNCR) foi decisivo para viabilizar a integração técnica da indústria com a agricultura, no sentido de fortalecer as estruturas fomentadoras da produtividade para promover o crescimento capitalista no setor. Neste sentido, atualmente os complexos agroindustriais configura-se como blocos de capital do agronegócio que vem ganhando lugar privilegiado na política agrícola de Estado.

Contraditoriamente, embora o governo brasileiro saiba que a agricultura familiar produz mais alimentos, não se investiu em políticas de incentivo para os pequenos produtores

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agrícolas. Por isso, as práticas destes produtores são cada vez mais desvalorizadas e consideradas ultrapassadas do ponto de vista da produção.

Para Karnopp e Oliveira (2012, p. 220) “Travestida como uma salvação para o atraso tecnológico e para a escassez de alimentos do mundo subdesenvolvido”, como afirma Guimarães (1982), a Revolução Verde3 foi aderida por governos dos países em desenvolvimento visando a uma substituição da base produtiva tradicional por uma moderna - premissa que pode ser visualizada na Teoria da Modernização - que iria auferir maiores índices de produtividade.

A chamada modernização conservadora, além de trazer uma considerável inovação tecnológica para o setor agrícola, propiciou um grande desenvolvimento econômico para o Brasil de forma que gerou grandes saldos na balança comercial, bem como um aumento significativo do PIB do país. Porém tal desenvolvimento não correspondeu com a argumentação ideológica proposta por aqueles que compunham o esquema econômico e político do capital rural por meio de propostas e promessas que suspostamente iriam trazer melhorias das condições de vida para os trabalhadores rurais.

Nessa direção, foram feitas promessas de combate à fome, ao analfabetismo, a pobreza, geração de emprego e renda. Entretanto, tais promessas não se configuraram na realidade. Na verdade, aconteceu o inverso, de modo que ocorreu um aumento do desemprego e exclusão de grande parte dos trabalhadores, que ao serem expropriados passaram a fazer parte da grande massa de desempregados, principalmente como resultado da inovação tecnológica no espaço rural, o que gerou o aumento da pobreza e das desigualdades sociais.

O desenvolvimento plurissecular do” capitalismo real” é a demonstração cabal e irretorquível de que a produção capitalista é simultaneamente produção polarizada de riqueza e de pobreza (absoluta e relativa). Ainda se está por inventar ou descobrir uma sociedade capitalista – em qualquer quadrante e em qualquer período histórico – sem o fenômeno social da pobreza como contraparte necessária da riqueza socialmente produzida. (NETTO, 2007, p. 143)

3A Revolução Verde ocorreu no final do ano de 1940. A expressão surgiu em 1966, em Washington. O processo de modernização agrícola veio com o propósito de aumentar a produção através do desenvolvimento em sementes, fertilização do solo e utilização de máquinas no campo que pudessem aumentar a produção.

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Sendo assim, engana-se quem pensa que na sociabilidade capitalista o crescimento econômico é a condição necessária para combater a pobreza e as desigualdades sociais, e para a promoção do desenvolvimento social e político dos trabalhadores.

Ainda conforme Netto (2007):

No desenvolvimento do capitalismo no Brasil, entre 1930 e os finais da década de 70: o país se industrializou e se urbanizou, modernizou a sua agricultura e, em escala mundial foi daqueles que apresentaram uma performance econômica extraordinária- ao longo de todos esses cinquenta anos, o PIB cresceu a uma média a uma média anual de 5,9% e a renda per capita foi multiplicada por 5. Mas o padrão de desigualdade não foi minimamente alterado, como constaram analistas cuidadosos: eles concluíram que tal crescimento “não demonstrou ser suficiente, por si só, para alterar o jogo redistributivo. (NETTO, 2007, p.144)

Sendo assim, considerando todo o processo de inovação tecnológica e êxito econômico do capital no campo, nota-se que houve uma modernização conservadora. Portanto, não houve e nunca haverá no sistema capitalista uma justa redistribuição da riqueza socialmente produzida. Nesse contexto, a revolução verde surge como um modelo baseado no uso intensivo de agrotóxicos e fertilizantes sintéticos na agricultura, que é um fato corrente no campo e está presente na vida de muitos produtores em diversas áreas do mundo.

Para Andrade e Ganimi (2007, p. 45) ”a Revolução Verde não é apenas um avanço técnico para aumentar a produtividade, mas também existe uma intencionalidade inserida dentro de uma estrutura e de um processo histórico”. Essa superação das técnicas tradicionais, e a implementação de métodos de produção exógenos são costumadamente apresentados quando se refere a um programa.

Segundo Brum (1985), a revolução verde tinha como objetivo uma maior produtividade no meio rural. O programa teve como principais mudanças propostas as sementes modificadas geneticamente que poderiam ser adequadas a distintas condições de clima e solo assim como ser resistentes a pragas. Além disso, o uso intensivo de fertilizantes e adubos químicos fazia parte do pacote tecnológico difundido pelo programa. Com esses avanços, a exportação de tal programa que surgiu nos Estados Unidos com a finalidade de modernizar a agricultura e consolidar um mercado consumidor para os produtos advindos da indústria foi questão de tempo.

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2.3 Agronegócio: Avanço do capital na mercantilização da terra

A chamada modernização conservadora, através da substituição da base agrícola de produção e das técnicas tradicionais por métodos de produção tecnológica mais modernos bem como a fusão entre agricultura e indústria geraram processos cujas modificações repercutiram tanto nos aspectos políticos, econômicos, sócioespaciais quanto nas relações sociais de produção no campo. Sendo assim, tal movimento consolidou ainda mais a relação entre os grandes proprietários de terra, bancos, empresas nacionais e internacionais junto ao Estado criando as bases para o processo de territorialização e legitimação do agronegócio ou capital financeiro internacional no espaço rural brasileiro através da instituição dos complexos agroindustriais, dessa forma, considerando as transformações da estrutura agrária refuta ainda mais a possibilidade da realização da Reforma Agrária no Brasil.

Segundo Campos (2011):

A aliança com o latifúndio revela que, no seu processo de territorialização, o agronegócio traz elementos novos – nos aspectos técnicos, nas articulações políticas, na articulação de capitais investidos nos negócios de base agropecuária, entre outros – mas também carrega as heranças da história e da especialidade do modo capitalista de produção no território brasileiro. Entre essas heranças está o latifúndio. (CAMPOS, 2011, p.121).

Para Sauer (2008, p. 14) a partir dos anos 1990, se populariza no Brasil o termo agronegócio (tradução literal do termo inglês agribusiness) cujo sentido designa, a princípio, um conjunto de ações ou transações (produção, industrialização e comercialização), ou seja, negócios relacionados à agricultura e à pecuária. Sendo assim, para este autor:

A defesa do termo é calcada na noção de que há uma cadeia de negócios, constituindo-se a agropecuária de atividades produtivas que não podem ser analisadas isoladamente. Consequentemente, o termo designa os negócios agropecuários propriamente ditos (envolvendo os produtores rurais). Também os negócios da indústria e comércio de insumos (fertilizantes, agrotóxicos, máquinas, etc) e a comercialização da produção (aquisição, industrialização e/ou beneficiamento e venda aos consumidores finais). (SAUER, 2008, p. 14-15).

Seguindo este mesmo raciocínio Jank (2005, p. 26) denota que “o termo refere-se a uma associação de diferentes etapas da produção (produção, processamento, armazenamento e distribuição), ou seja, a um processo de integração horizontal”. Por outro lado foi apropriado

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por determinado segmento no Brasil para designar tecnificação (uso de tecnologia moderna) e escala na agropecuária. Consequentemente, está explícita ou implicitamente relacionando à modernização e passou a ser usado para indicar eficiência, ganhos em produção e produtividade e, um elemento chave, inserção competitiva no mercado globalizado.

O termo agronegócio ganhou materialidade no Brasil com a Associação Brasileira de Agribusiness (ABAG) fundado em evento ocorrido na Câmara dos Deputados, em maio de 1993. Dentre as várias entidades que representavam os interesses do agronegócio no Brasil, A ABAG se destaca, tornando-se uma das mais importantes no contexto da disputa de interesses sobre a questão agrária.

De acordo com Campos (2011):

A ABAG tem sua origem vinculada a uma conservadora articulação política contra a reforma agrária na constituinte, surge no cenário nacional como símbolo de um novo padrão de organização do empresariado rural e agroindústrial, que tem como prioridade pautas econômicas e “não ideológicas”, como mecanismo de atuação o diálogo com a sociedade civil e com governos e como missão “conscientizar os tomadores de decisão e os formadores de opinião para a importância e complexidade do agribusiness e a sua relevância no desenvolvimento socioeconômico e a necessidade de tratá-lo sistematicamente”. (CAMPOS, 2011, p. 105).

O conceito de agronegócio no Brasil é construído no contexto político e econômico dos anos 1990, no processo de implementação das reformas neoliberais que foram determinadas pelos organismos internacionais: Fundo Monetário Internacional – FMI e o Banco Mundial.

Segundo Campos (2011):

No contexto de maior avanço neoliberal no Brasil, o Estado reduz drasticamente seu papel social e econômico, no sentido de investidor direto, inclusive nas atividades agropecuárias, o que propicia o aumento da participação de conglomerados estrangeiros em vários setores do agronegócio, a intensificação dos processos concentração e centralização de capital nos complexos agroindustriais e uma grande expansão espacial das atividades vinculadas ao setor em vários estados do país, engendrando múltiplos impactos sócioespaciais. Nesse sentido, é que consideramos pertinente considerar o agronegócio como face neoliberal de expansão do capital no campo brasileiro. (CAMPOS, 2011, p. 106).

Dessa forma, o agronegócio ao conduzir a política econômica defende os interesses neoliberais objetivando a abertura de novos locus de acumulação do capital. Através de processos como as privatizações que de acordo com a mesma autora:

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34 As privatizações e as parcerias público–privadas, bem como a redução do papel do Estado na regulação do mercado de trabalho, no controle dos recursos naturais e na garantia de direitos sociais universais, como a saúde e previdência. Entretanto reivindica políticas protecionistas, créditos subsidiados e investimentos estatais para viabilizar maior capacidade produtiva e rentabilidade aos setores do agronegócio. As forças hegemônicas do agronegócio no Brasil defendem que a base da economia do país deve ser a produção e a exportação de comodities. E é nessa perspectiva que intevém nas políticas agrárias, agrícola, industrial, ambiental, cambial, tributária e trabalhista no país. (CAMPOS, 2011, p.108-109).

Sendo assim, a agricultura brasileira bem como os seus frutos têm se transformado em mercadorias inseridas na lógica do capital constitui-se em um grande negócio e, seus altos rendimentos tem sido utilizados para gerar saldo na balança comercial pagamento da dívida externa do país, sobretudo, em tempo de crise dos bancos internacionais. Neste sentido, para Sant’ana (2012):

No período de 1983-2003, o Estado brasileiro oscila entre uma política externa voltada para a produção de superávit primário ou uma política mais liberalizada com fraca regulamentação das atividades produtivas; na realidade o que define a condução da política externa é a conjuntura internacional: em tempos de maior liquidez de capital, busca-se a produção de superávit; em tempos de menor liquidez, abandona-se a ênfase no superávit. SANT’ANA (2012, p.28 apud DELGADO, 2010).

Neste sentido, o modelo do capital para a agricultura, denominado agronegócio, vem estrategicamante dominando a produção das mercadorias agrícolas e dos preços do mercado nacional e internacional através do capital financeiro e das empresas transnacionais junto à burguesia latifundiária e ao Estado no contexto da frouxidão das políticas fundiárias. Tal realidade gera a alta concentração de terras no Brasil, tendo em vista que este modelo busca a produção de comodities, destacando-se na produção da soja, cana, milho e pecuária extensiva. Dessa forma, ao fazer uso dos produtos químicos de forma intensiva provoca a infertilidade dos solos gerando a necessidade de um número cada vez maior de terras para o seu cultivo.

Para esta autora, observa-se que:

O agronegócio deve ser compreendido como uma complexa articulação de capitais direta e indiretamente vinculados com os processos produtivos agropecuários, que se consolida no contexto neoliberal sob a hegemonia de grupos multinacionais e que, em aliança com o latifúndio e o Estado, tem transformado o interior do Brasil em um locus privilegiado de acumulação capitalista, produzindo, simultaneamente, riqueza para poucos e pobreza para muitos e, por conseguinte, intensificando as múltiplas desigualdades socioespaciais. (CAMPOS, 2011, p. 109).

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