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1 A PAIXÃO E MORTE DE JESUS

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Academic year: 2021

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Novo Testamento

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ORAÇÃO

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1 A PAIXÃO E MORTE DE JESUS

Os elementos que conhecemos da Paixão e morte de Jesus, provêm dos 

“Evangelhos”. Nunca será demais lembrar que estes textos não tiveram como  primeira intenção servirem de documentação histórica sobre a pessoa de Jesus  e toda a sua envolvência; são, antes de tudo, textos religiosos, destinados a  alimentar a fé dos crentes. 

O relato da Paixão e morte de Jesus é certamente dos mais antigos da 

catequese primitiva. Impedia que se esquecesse que Aquele que era celebrado  pela comunidade como o Senhor vivo e ressuscitado, tinha sido crucificado. 

Servia também para manifestar, de forma mais clara, o mistério de Jesus: na  Paixão, manifesta‐se o “Kyrios” (o “Senhor”), que morre rodeado por um 

esplendor divino e a quem o Pai nunca abandona. A Paixão confirma, assim, que  Jesus veio de Deus, cumpriu um mandato do Pai e que o Pai esteve sempre a  seu lado, acabando por não deixar que a morte vencesse Jesus, o Filho amado.

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Apesar dos relatos da Paixão e morte de Jesus que chegaram  até nós serem, fundamentalmente, textos de carácter 

teológico, é possível ao historiador utilizá‐los para entender e  situar historicamente a morte de Jesus. Podemos tentar, a  partir dos textos, destacar alguns elementos históricos sobre  o processo de Jesus.

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a) o choque com a mentalidade dominante

O ministério de Jesus, o que Ele anunciava, teve, no início, um sucesso  espantoso. As multidões seguem‐no porque as suas palavras transmitem 

esperança e vêm ao encontro das aspirações das pessoas. É, sobretudo, o seu  anúncio de um mundo novo (“reinado de Deus”) que atrai os pobres e 

marginalizados: eles sentem, através das palavras de Jesus, que Deus não os  exclui nem rejeita e que ‐ ao contrário do que dizem os “chefes” do Povo ‐ todos  têm lugar à mesa do banquete do “Reino”. Acresce ainda que os gestos de 

perdão e de misericórdia que Jesus todos os dias tem, o seu cuidado com os  excluídos, a sua atenção a todos os que estão privados de vida e de liberdade, a  doutrina de que o homem é o valor supremo na ordem natural (o sábado foi  feito para o homem), tudo isto impressiona as pessoas.

Alguns interrogam‐se se não será ele o Messias esperado; outros consideram‐no  um grande profeta (cfr. Mt 16,14); outros surpreendem‐se com a autoridade  com que Jesus fala (cfr. Mc 1,27; Mt 7,28‐29)... Numa tarde de maior sucesso,  chegam mesmo a querer aclamá‐lo rei (cfr. Jo 6,15). 

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As autoridades começam a inquietar‐se. Os saduceus (a  aristocracia sacerdotal, os verdadeiros detentores do poder 

económico e religioso), olham‐no como um perigoso agitador, que  ameaça a ordem e, por arrasto, coloca em causa os seus privilégios  de classe... Além disso, as palavras de Jesus acerca da riqueza e dos  ricos (“ninguém pode servir a dois senhores porque, ou há‐de odiar  um e amar o outro, ou se dedicará a um e desprezará o outro. Não  podeis servir a Deus e às riquezas” ‐ cfr. Mt 6,24) são uma denúncia  vigorosa do estilo de vida e das preocupações deste grupo... 

Os fariseus, por seu lado, veem em Jesus um herege, que não  aceita a autoridade absoluta da “Lei” e que propõe uma religião  nova, baseada no amor e na misericórdia. 

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As correcções à “Lei” (cfr. Mt 15,10‐20) feitas por Jesus e a  denúncia que Ele faz do legalismo que toma uma forma anti‐

humana (cfr. Mc 2,23‐28; 3,1‐6), são uma revolução que ameaça os  fundamentos da fé. Gestos como o da purificação do Templo (cfr. 

11,15‐19 e par.; cfr. Jo 2,13‐22), apenas confirmam que Jesus é um  contestatário, que não está disposto a pactuar com o sistema 

religioso estabelecido; e frases como “em verdade, em verdade vos  digo que os publicanos e as prostitutas preceder‐vos‐ão no Reino  dos céus” (Mt 21,31), são uma provocação inaudita aos que se  consideravam os verdadeiros detentores da revelação de Deus.

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Não espanta, portanto, que as autoridades tenham, desde muito  cedo, decidido eliminar o profeta incómodo. Marcos dá conta, 

ainda na Galileia, de uma conjura entre fariseus e herodianos para  matar Jesus (Mc 3,6). Mateus confirma esse dado, embora não 

refira os herodianos (cfr. Mt 12,14). Lucas refere uma tentativa de  assassínio de Jesus logo no início do seu ministério, após o 

discurso na sinagoga de Nazaré (cfr. Lc 4,29,30). Não há dúvida: 

desde o início do seu ministério Jesus despertou inimigos entre os  representantes do poder político, económico e religioso. O 

projecto do “Reino”, a ser levado até às últimas consequências,  não podia terminar senão na cruz.

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b) Jesus anuncia a sua morte e ressurreição

Jesus teve consciência disto?

A resposta é, obviamente, positiva. Por várias vezes, Jesus fez  referências explícitas à sua morte.

Os três anúncios da Paixão e morte (Mc 8,31; 9,31; 10,33‐34 e  par.) são textos onde se reflecte, de forma clara, a consciência que  Jesus tinha do caminho a que o levaria o anúncio do “Reino”. Mas  estes textos indicam mais que isso: Ele nunca pretendeu recuar: a  sua preocupação era seguir o plano do Pai, anunciar o “Reino” e  confiar no Deus que não abandona o justo ao poder da morte.

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Muitos outros textos dão testemunho desta consciência. Ele mesmo diz  aos discípulos que é o esposo que um dia lhes será arrebatado (Mc 2,19‐

20); que tem de receber um baptismo e que se sente angustiado até que  esse baptismo se realize (Lc 13,33); que é a pedra rejeitada pelos 

construtores, mas cujo destino é converter‐se em pedra angular (Mc  12,10)... Diante da mulher que o unge com perfume, Jesus diz que ela o  está a ungir para a sepultura (Mc 14,8). Uma das suas parábolas 

apresenta‐o como o filho do proprietário, morto pelos trabalhadores da  vinha ((Mc 12,8)... De outra vez declara, com uma certa ironia, que um  profeta não pode morrer fora de Jerusalém; e, uma vez que ele está a  caminho de Jerusalém dá a entender que sabe o que o espera na cidade  (Lc 13,33).

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Não há dúvida: Jesus tinha uma consciência nítida de que o  anúncio do “Reino”, chocando com a mentalidade dominante,  havia de conduzi‐lo à morte. No entanto, com inteira liberdade,  continuou a percorrer o caminho do “Reino” e a concretizar o  plano do Pai para os homens. Para Jesus, a morte seria o preço a  pagar pela destruição das cadeias que oprimiam os homens. Era  como o grão de trigo que, morrendo, daria fruto.

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c) a última ceia de Jesus com os discípulos

Os “evangelhos são claros ao afirmar que Jesus celebrou uma “ceia” com  os discípulos, pouco antes de ser preso. Mas, essa “ceia” teve algum 

significado especial? Que significado?

É uma das questões que mais se sublinha no Novo Testamento. Para  João, Jesus teria celebrado uma simples “ceia de despedida”, durante a  qual teria deixado aos discípulos o seu “testamento” (cfr. Jo 13,1‐17,26); 

e teria morrido na véspera da Páscoa, precisamente à hora em que, no  Templo, se imolavam os cordeiros para a “ceia pascal”. Para os 

“Sinópticos”, a última “ceia” de Jesus com os discípulos teria sido uma 

“ceia pascal” (cfr. Mc 14,12‐26; Mt 26,17‐30; Lc 22,7‐38): celebração do  Deus libertador, que tirou o seu Povo do Egipto e celebração da Páscoa  escatológica (da libertação definitiva do Povo de Deus). 

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Os dados divergem e os estudiosos não conseguem perceber com  clareza de que ceia se tratou; percebem‐se razões quer a favor quer 

contra a hipótese da última ceia de Jesus com os discípulos ter sido uma  ceia pascal.

Os textos dos “Evangelhos Sinópticos” não descrevem uma “ceia pascal” 

em sentido estrito (falta a referência a alguns elementos fundamentais  sem as quais ‐ segundo o Rabbi Gamaliel ‐ a “ceia pascal” não cumpria a  sua obrigação: o cordeiro pascal, as ervas amargas…). 

No entanto, Lucas põe Jesus a dizer, de forma explícita, aos discípulos: 

“desejei ardentemente comer esta Páscoa convosco antes de morrer” (Lc  22,15).

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Será que os “Evangelhos Sinópticos” descrevem essa “ceia pascal”, de acordo  com o que era a prática litúrgica da “ceia do Senhor” celebrada nas 

comunidades cristãs primitivas e ignorando, conscientemente os costumes  judaicos? Será que a perspectiva dos “Sinópticos” é simbólica (serve para  apresentar a morte de Jesus na cruz no dia de Páscoa” como a libertação  definitiva do Povo de Deus)?

Seja como fôr, não há dúvida de que, para os “Sinópticos”, a “ultima ceia” de  Jesus com os discípulos teve um significado pascal. Não é, apenas, a celebração  da saída dos hebreus do Egipto... É a celebração da última e definitiva 

intervenção libertadora de Deus na história dos homens: esta intervenção  acontece em Jesus e com Jesus. O que se celebra é o momento culminante da  história da salvação: o momento em que Deus, através de Jesus, liberta e salva  definitivamente os homens. A “última ceia” de Jesus com os discípulos anuncia  esse mundo futuro (“Reino de Deus”) onde o Povo de Deus terá vida e 

felicidade, sem estar mais sujeito à opressão.

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d) a prisão de Jesus

Os quatro “Evangelhos” narram a prisão de Jesus. Em relação ao essencial,  todos estão de acordo: Jesus foi preso no monte das Oliveiras (situado no  lado oriental da corrente do Cédron), numa propriedade chamada 

“Getsémani” (cfr. Mc 14,32‐52; Mt 26,30‐56; Lc 22,39‐53). É natural que  Jesus se tenha refugiado no Monte das Oliveiras. “A arqueologia patenteia‐

nos as grutas antigas onde Jesus, naturalmente, devia passar as noites com  os seus discípulos. A mesma arqueologia também demonstra a existência  dum lagar de azeite muito importante naquele lugar, o que vem condizer  com os textos evangélicos, uma vez que a palavra “Getsémani” significa  precisamente «lagar de azeite»” (Carreira das Neves, Jesus Cristo, História  e Fé, pág. 227).

À frente do grupo que prendeu Jesus, estava Judas, um dos discípulos.

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Porque é que Judas se prestou a este papel? Por causa da soma ridícula de trinta  moedas de prata?

Tendemos a dar uma resposta negativa. Essa referência será uma alusão a Zac  11,12. Na realidade, seguindo palavras do Pe. Joaquim Carreira das Neves, pode‐

se por em questão se Judas seria mesmo um venal ou um corrupto. Ele amava  Jesus como todos os demais. Talvez se diferenciasse dos outros por uma febre  política, bem à maneira de alguns grupos religiosos judeus de então. Tudo dá a  entender que terá duvidado do Mestre como líder religioso‐político (...). As suas  esperanças terão ficado frustradas porque a lógica de Jesus não era a sua lógica. 

Ele pensava à maneira do Antigo Testamento e o que aconteceu poderá ter sido  Judas a passar uma «rasteira» a Jesus para que ele se assumisse definitivamente  (cf. Carreira das Neves, Jesus Cristo, História e Fé, pág. 207). 

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Se assim foi, Judas pensaria que, entregando Jesus, obrigá‐lo‐ia  a começar a revolução que instauraria o “Reino de Deus”. 

Como Jesus não reagiu e se deixou prender, Judas terá   entrado em desespero e suicidou‐se.

A fuga dos discípulos é verosímil. A ideia era prender Jesus  e não todo o grupo. Lucas não menciona essa fuga: tem a ver  com o seu estilo de evitar factos lamentáveis ou pouco 

edificantes.

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e) o processo

Os quatro evangelistas apresentam notáveis diferenças sobre os acontecimentos  que se seguiram à prisão de Jesus. Mateus e Marcos falam de duas reuniões do  Sanhedrin uma de noite e outra pela manhã (Mt 26,57; 27,1; Mc 14,53; 15,1). 

Lucas fala apenas de uma única sessão, realizada “quando se fez dia” (Lc 22,66).

Arqueólogos descobriram  recentemente local onde  Jesus poderá ter sido  julgado. Encontraram‐se  ruínas do que se pensa ter  sido o Palácio de Herodes

http://zap.aeiou.pt/arqueologos‐terao‐descoberto‐local‐onde‐

jesus‐cristo‐foi‐julgado‐54513

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e) o processo

Historicamente, podemos aceitar que Jesus foi conduzido a casa do  sumo‐sacerdote Caifás. Aí, houve um primeiro encontro entre Jesus e  vários membros do Sanedrin. Jesus foi acusado, no decurso dessa sessão,  de se ter manifestado contra o Templo (cfr. Mc 14,58 e par.) e de se ter  apresentado como o Messias, Filho do Deus bendito (Mc 14,61 e par.). É  de crer que, durante o interrogatório, Jesus tenha deixado transparecer a  sua consciência de estar ligado ao Pai e ao advento do “Reino de Deus”. 

Não havia dúvidas: estava a blasfemar e era “réu de morte”. A segunda  reunião do Sanedrin não foi um julgamento, mas sim um encontro “para  precisar as modalidades das acusações que iriam ter contra Jesus diante  de Pilatos” (Carreira das Neves, Jesus Cristo, História e Fé, pág. 241).

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Não há dúvida: quem decidiu a morte de Jesus foram os chefes  religiosos judeus, certamente preocupados com a sua revolução  religiosa e as consequências que daí poderiam advir.

Discute‐se se o Sanedrin teria ou não, na época de Jesus, 

competência jurídica para pronunciar uma condenação à morte. Por  isso, o historiador não consegue saber, com absoluta certeza, se o 

Sanedrin pronunciou uma sentença jurídica, confirmada posteriormente  por Pilatos, ou se se contentou apenas em dar uma opinião (uma 

proposta) ao procurador romano. 

De qualquer forma, parece claro (sobretudo nos textos de Marcos e  Mateus) que as autoridades judaicas foram as grandes responsáveis  pela morte de Jesus.

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O Sanedrin leva, então, Jesus diante de Pilatos, o procurador romano  (habitualmente residia em Cesareia marítima; mas vinha a Jerusalém por  ocasião das festas, para cuidar da manutenção da ordem pública). 

Pilatos era, de acordo com Flávio Josefo, um homem pouco escrupuloso,  brutal, que cometeu muitos erros políticos. No entanto, os relatos evangélicos  apresentam‐no como alguém que se apercebe da inocência de Jesus e quer  salvá‐lo. Tenta libertar Jesus questionando os acusadores sobre o mal (como se  Pilatos não encontrasse tal mal), e recordando o costume de libertar um preso  por altura da celebração da Páscoa (Mc 15,6‐ ‐11 e par). Tenta também 

comover a multidão, apresentando Jesus flagelado (Lc 23,16). No entanto, as  autoridades judaicas não transigem: querem a morte de Jesus. 

Pilatos, enquanto político, terá querido evitar um motim. Se acontecesse,  durante a festa da Páscoa, com tanta gente presente em Jerusalém, teria  consequências imprevisíveis. Então, entrega Jesus para ser crucificado. A  decisão de Pilatos é o fundamento jurídico para a morte de Jesus.

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f) a crucifixão

Uma vez pronunciada a sentença de Pilatos, desencadeou‐se o 

processo que conduziu à morte de Jesus. O lugar da execução, fora  das muralhas, era um lugar oportuno para que os transeuntes que  entravam ou saíam da cidade pudessem presenciar o espectáculo  (tinha sempre cariz castigador e didáctico: castiga‐se o culpado; 

adverte‐se outros para que não incorram na mesma infracção). 

A imposição de que uma pessoa ajudasse o condenado a levar a  cruz, não tem nada de improvável (Mc 15,21). Jesus estaria 

esgotado pelo tratamento que havia recebido, especialmente pela  flagelação. Este cansaço de Jesus é também corroborado pelo facto  de Jesus não ter estado muito tempo com vida na cruz (Mc 15,44). 

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O condenado só levava o braço transversal da cruz. Tratava‐se de  uma viga que era pendurada num poste, fixo no lugar do suplício. 

Essa viga formava com o poste um T (crux commissa) ou uma cruz  (crux immissa). 

Como todos os condenados, Jesus levava pendurado ao 

pescoço um letreiro que indicava o motivo da condenação (Mc  15,26). Condená‐lo como «rei dos judeus» seria, para as 

autoridades romanas um argumento de dissuasão. Procurava‐se  desencorajar qualquer pessoa que sentisse a tentação de 

sublevar a população por motivos nacionalistas.

(24)

Quando Jesus chegou ao lugar do Gólgota, deram‐lhe vinho 

misturado com mirra. Era um costume judaico, que se destinava a  anestesiar um pouco as dores do condenado. A repartição das 

vestes do condenado entre os soldados, era habitual para os  romanos.

Jesus morreu suficientemente depressa para que Pilatos ficasse  admirado. Os “bandidos” crucificados com Jesus (a palavra grega  utilizada para designá‐los parece indicar que se trata de 

revolucionários políticos) duraram, sem dúvida, mais tempo. A sua  crucifixão ao lado de Jesus dava a tudo aquilo as aparências de um  assunto político.

(25)

A morte de Jesus teve algumas testemunhas. Próximo, 

encontravam‐se algumas mulheres que o seguiam (Mc 15,40). Os  discípulos, aparentemente, estão escondidos. Segundo Marcos, foi  um membro do Sanedrin que tirou Jesus da cruz (Mc 15,43). 

Segundo a lei judaica, era necessário enterrar um executado antes  do pôr‐do‐sol.

Se se adopta a cronologia de João ‐ a mais provável ‐ tudo isto  aconteceu numa tarde de sexta‐feira, dia 7 de Abril do ano 30 (cfr. 

Beaude, Jesus de Nazaret, págs. 190‐193). 

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g) o sentido da morte de Jesus

Que sentido teve a morte de Jesus? Ele foi a “vítima” que o Pai  exigiu, a fim de nos perdoar os nossos pecados? Essa terá sido a  linguagem encontrada pelos primeiros cristãos para falar da morte  de Cristo. Fundamenta‐se na teologia dos sacrifícios do Antigo 

Testamento. Mas à luz do caminho percorrido até hoje, não será,  concerteza, a linguagem mais adaptada para nos dar o sentido da  morte de Jesus.

(27)

A morte de Jesus deve de ser entendida noutro contexto: enquadra‐se com o que  foi a sua vida e a sua missão. Desde cedo, Jesus apercebeu‐se que o Pai o chamava  a uma missão: anunciar a Boa Nova aos pobres, sarar os corações feridos, pôr em  liberdade os oprimidos. Para concretizar este projecto, Jesus passou pelas estradas  da Palestina “fazendo o bem” e anunciando a proximidade de um mundo novo, de  vida, de liberdade, de paz e de amor para todos. Ensinou que Deus era amor e que  não excluía ninguém, nem mesmo os pecadores; ensinou que os leprosos, os 

paralíticos, os cegos, não deviam ser marginalizados, pois não eram amaldiçoados  por Deus; ensinou que o dinheiro não pode ser o “deus” do homem; ensinou que  o homem é o valor mais importante, que deve sobrepor‐se até às mais sagradas  leis religiosas; ensinou que ninguém tem o direito de excluir ou escravizar um  homem ou mulher, muito menos em nome de Deus; ensinou que são os pobres e  os marginalizados os preferidos de Deus e aqueles que têm o coração mais 

disponível para acolher a novidade do “Reino”; ensinou que só os que aceitam pôr  em causa o seu egoísmo e converter‐se é que são dignos de ser “filhos de Deus”.

(28)

O projecto libertador de Jesus entrou em choque ‐ como não podia 

deixar de ser ‐ com a atmosfera de egoísmo, de má vontade, de opressão  que dominava a Palestina. As autoridades políticas e religiosas sentiram‐

se incomodadas com a denúncia de Jesus: não estavam dispostas a 

renunciar a esses mecanismos que lhes asseguravam poder, influência,  domínio, privilégios; não estavam dispostos a arriscar e a aceitar a 

conversão proposta por Jesus. A pregação do “Reino de Deus” que 

convida ao amor, à simplicidade, à humildade, ao perdão, ao serviço, veio  incomodar todos os instalados.

A morte de Jesus é a consequência lógica do anúncio do “Reino”: 

resulta das tensões e resistências que o anúncio do “Reino” provoca  entre os dominadores deste mundo.

(29)

Se podemos dizer que a morte de Jesus só se entende no 

contexto da sua vida, também podemos dizer que a morte de 

Jesus é o culminar da sua vida: é a afirmação mais radical daquilo  que Jesus pregou: o amor que se dá até às últimas consequências. 

Na cruz, vemos aparecer esse homem novo, que ama os outros  com radicalidade e que não tem medo de lutar, até ao fim, contra  todas as causas objectivas que causam medo, exploração, 

opressão, sofrimento. A cruz acaba por ser símbolo dessa vida  nova de comunhão e de fraternidade que Jesus veio iniciar. 

Na cruz, nasce o homem novo: o homem que não tem medo  de se dar a si próprio para eliminar aquilo que rouba a vida e a  felicidade e que, em última análise, é o pecado. 

(30)

.2  A RESSURREIÇÃO DE JESUS

Os “Evangelhos” não descrevem a ressurreição de Jesus. 

Informam‐nos, apenas, sobre o sepulcro vazio e referem as  aparições do ressuscitado. 

Mesmo em relação a estes dois pontos, os relatos não são  coincidentes quanto aos pormenores; são‐no, no entanto, 

quanto ao essencial.

(31)

a) o sepulcro vazio

Todos os evangelistas afirmam, embora de diferentes maneiras, que o  túmulo de Jesus foi encontrado vazio na manhã do primeiro dia da  semana. 

Lucas apresenta um grupo de mulheres a ir ao sepulcro de Jesus  para ungir o corpo com aromas e perfumes; no entanto, encontram o  túmulo vazio e recebem de “dois homens com trajes resplandecentes” 

a notícia de que Jesus ressuscitou (cfr. Lc 24,1‐12). Marcos e Mateus,  por seu lado, falam de um grupo de mulheres que, antes de entrar no  túmulo, reparam que a pedra da porta do sepulcro foi removida. Um  anjo (Mateus) ou um jovem vestido com uma túnica branca (Marcos),  anunciam que Jesus ressuscitou e convidam as mulheres a comprovar  que o seu corpo não está ali (Mc 16,1‐8; Mt 28,1‐7).

(32)

Que pensar destes dados? 

Muitos consideram o dado do sepulcro vazio como ‘não histórico’: seria  uma construção da comunidade para afirmar a fé na ressurreição. No  entanto, se este dado fosse uma construção da comunidade, como é  que a comunidade teria posto um grupo de mulheres como 

testemunhas (recordar que, no contexto da sociedade palestina de 

então, o testemunho das mulheres não tinha qualquer valor jurídico, por  elas serem consideradas naturalmente mentirosas)?

Também se deve observar, como o exegeta protestante P. Althaus,  que a mensagem pascal não poderia ter‐se mantido em Jerusalém, nem  durante uma hora, se o sepulcro de Jesus não estivesse, de facto, vazio  (cfr. Dorado, A Bíblia Hoje, pág. 268).

(33)

Outros consideram que o facto de o túmulo ter aparecido vazio não 

significa nada: o corpo poderia ter sido roubado, transladado para outro  lugar ou, até, reanimado (no caso de a morte de Jesus não ter sido real,  mas apenas aparente). Também se fala no “túmulo errado”: como Jesus  foi sepultado à pressa, as mulheres não teriam fixado bem o autêntico  túmulo de Jesus e teriam procuraram o corpo no túmulo errado... 

De facto, estas objecções devem ter feito sentido para os discípulos. É  por isso que, a princípio, ninguém acredita na ressurreição (os textos 

mais tardios ‐ de Mateus e de João ‐ têm, no entanto, o cuidado de dizer  que o corpo de Jesus não foi roubado). Os próprios discípulos de Emaus  (cfr. Lc 24,22‐24) recusam acreditar que o sepulcro vazio signifique que  Jesus ressuscitou. 

(34)

O sepulcro vazio parece ser um facto; mas, por si só, não constitui uma  prova da ressurreição de Jesus. “Os discípulos não apelam nunca à 

descoberta do sepulcro vazio para robustecer a fé da Igreja ou para  refutar e convencer os adversários. A fé no ressuscitado é, pois,  independente do sepulcro vazio. Tal sepulcro não determina o 

acontecimento pascal; quanto muito, apenas o ilumina. O sepulcro vazio  não é um artigo de fé: não é fundamento nem objecto da fé pascal. 

Segundo a mensagem neo‐testamentária, não é preciso acreditar 

através do sepulcro vazio e, muito menos, no sepulcro vazio. A fé cristã  não convoca o sepulcro vazio, mas o encontro com o Cristo vivo: “Porque  buscais entre os mortos aquele que está vivo”? (Lc 24,5) (Hans Kung, Ser  Cristiano, págs. 463‐464).

(35)

b) as aparições do ressuscitado

Os relatos das aparições de Jesus ressuscitado não são coincidentes. 

São narrativas autónomas, embora com um objectivo único ‐ transmitir  a fé na ressurreição.

O primeiro testemunho é de Paulo e aparece na primeira carta aos  Coríntios. Paulo, pretendendo reforçar a fé dos Coríntios na 

ressurreição, diz que Jesus ressuscitado “apareceu a Cefas e, em 

seguida aos doze. Depois, apareceu a mais de quinhentos irmãos de  uma só vez, a maior parte dos quais ainda vive, enquanto alguns  morreram. Depois, apareceu também a Tiago e, a seguir, a todos os  apóstolos. E em último, apareceu‐me também a mim...”  (1 Cor 15,5‐8).

(36)

Os outros relatos são muito variáveis. Marcos, por exemplo, termina o seu 

“Evangelho” com a apresentação do sepulcro vazio e o anúncio da ressurreição  às mulheres (cfr. Mc 16,1‐8) (vimos já que os relatos marcianos de aparição de  Jesus ressuscitado ‐ cfr. Mc 16,9‐20 ‐ são um acrescento posterior que não fazia  parte da obra original); Lucas apresenta a aparição aos onze exclusivamente em  Jerusalém (com uma referência a Emaús) (Lc 24,13‐53); Mateus apresenta as  aparições de Jesus ressuscitado aos discípulos, na Galileia (Mt 28, 28,16‐20); e,  finalmente, João fala de aparições em Jerusalém (cfr. Jo 20,19‐29) e na Galileia  (cfr Jo 21,1‐14). 

“Se estivermos bem atentos ao estudo das aparições, facilmente chegamos à  conclusão que estes relatos têm a ver com a óptica própria de cada evangelista,  seja cristológica, seja eclesiológica, ao mesmo tempo na dependência da 

tradição eclesial (catequética e pastoral) e das testemunhas oculares” (Carreira  das Neves, Jesus Cristo, História e Fé, pág. 298).

(37)

Os relatos das aparições do ressuscitado não são, pois, reportagens  gravadas dos acontecimentos. Também devemos renunciar ao outro  extremo: considerá‐los como simples invenções da Igreja primitiva... 

Abandonadas essas posições extremas, ficamos com o facto das 

aparições, atestadas por Paulo e pelos evangelistas: não podemos, sem  mais, negar toda a confiança ao testemunho de Paulo, dos evangelistas e  desses quinhentos irmãos de que Paulo fala. 

Em relação aos relatos que chegaram até nós, temos de ver neles  catequese feita pela comunidade cristã primitiva, a partir dos 

testemunhos daqueles que encontraram Jesus vivo e ressuscitado. No  estado actual dos textos, é muito difícil perceber o que aconteceu: eles  reflectem a fé da comunidade em Jesus ressuscitado (embora essa fé  parta dos testemunhos).

(38)

c) a ressurreição: um facto histórico ?

A ressurreição de Jesus será um facto constatável pela ciência histórica? 

De forma nenhuma. Estamos diante de algo que escapa à observação 

histórica e que se situa no âmbito da fé. A ciência histórica não tem meios  para comprovar algo que ultrapassa o âmbito humano. 

No entanto, dizer que a ressurreição de Jesus não pode ser 

comprovada pela ciência histórica, não significa que ela não seja um  acontecimento real. Alguns críticos consideraram que a ressurreição de  Jesus, uma vez que não podia ser comprovada pela história, era apenas  um produto da imaginação ou da idealização da comunidade crente; mas  é um erro crasso considerar que é real apenas aquilo que pode ser 

objectivamente comprovado pela história.

(39)

Que valor histórico dar aos relatos de ressurreição  que chegaram até nós?

Claude Geffré considera que os textos não nos apresentam informadores, mas  testemunhas da ressurreição. O informador seria alguém que procura transmitir  uma informação objectiva sobre um acontecimento; a testemunha, neste 

contexto, não é aquele que relata de forma objectiva e racional o que viu,  mas é  um crente, cujo testemunho não é neutro: está influenciado pela dimensão da fé  (Claude Geffré, Le Christianisme au risque de l’interpretation, págs. 107‐128). 

A ressurreição de Jesus, tal como nos é transmitida pelos textos que 

chegaram até nós, é um acontecimento interpretado, que não se pode atingir a  não ser a partir da linguagem própria da fé pascal. É por isso que temos uma  multiplicidade de relatos: trata‐se de uma experiência de fé, que cada um “diz” 

na sua linguagem própria. “O testemunho dos apóstolos não é uma crónica de  acontecimentos, mas o acontecimento da palavra que resulta inseparavelmente  da experiência de um fenómeno real e da interpretação crente” (Carreira das  Neves, Jesus Cristo, História e Fé, pág. 320).

(40)

Há, no entanto, um facto que pode ser verificado 

historicamente: a espantosa transformação operada nos discípulos. 

De um grupo isolado, com medo, frustrado, desanimado vemos, de  repente, nascer uma comunidade viva, decidida, animada, cheia de  esperança e que parte pelo mundo a anunciar o projecto libertador  de Jesus de Nazaré. É esta transformação que é preciso explicar; e  a explicação torna‐se mais fácil à luz dos relatos da ressurreição: foi  o encontro com Jesus vivo e ressuscitado que transformou os 

discípulos e os tornou testemunhas a partir de Jerusalém e até aos  confins do mundo. 

(41)

d) o sentido teológico da ressurreição de Jesus

Para Jesus, a ressurreição ou glorificação, significa a sua proclamação  solene como Filho de Deus, como Messias libertador, como Kyrios

(“Senhor”) dos homens e do universo. É a prova que Jesus veio do Pai. É  a demonstração de que Deus não abandonou Jesus na sua luta contra o  egoísmo, a opressão, o pecado. 

Para nós, a ressurreição de Jesus significa, em primeiro lugar, uma  libertação. Em Cristo, a morte é vencida e inaugura‐se uma nova vida. A  partir de Cristo, o homem não precisa mais de condicionar os seus actos  e atitudes com medo das forças inibidoras da morte. Cristo mostrou que  o fim último do homem não é o desaparecimento e o esquecimento, mas  uma vida nova ‐ a vida de Deus. A partir daqui, o homem pode enfrentar  a vida com alegria, com tranquilidade e com esperança, dando um 

sentido novo aos seus actos.

(42)

Em segundo lugar, a ressurreição de Jesus mostra que faz sentido lutar pela  verdade, pela justiça e pela paz, contra os mecanismos de opressão e de 

injustiça. Não há morte para quem entrega a sua vida na luta pela fraternidade: 

esses tornam‐se filhos de Deus e, como Jesus, serão glorificados. Sempre que o  homem se esforça ‐ à imagem de Jesus ‐ por construir um mundo novo, está a  construir uma vida nova, para si e para os seus irmãos. Deus garante essa vida  nova a quem se esforça por viver de acordo com dinamismos de amor, de 

justiça, de fraternidade.

Em terceiro lugar, a ressurreição de Jesus é uma manifestação do “Reino de  Deus” na sua plenitude. É a amostragem desse mundo novo de homens novos  que Jesus veio semear. Apresenta aquilo que os servidores do “Reino” podem  esperar se continuarem a viver nessa dinâmica; anuncia um mundo onde todos ‐ mesmo o pobre, o oprimido, o marginalizado, o injustiçado ‐ terão vida em 

abundância.

(43)

Há algo que é fundamental ter em conta: a ressurreição de Jesus não é  um acontecimento isolado do passado, que se torna para nós uma 

simples recordação; mas é algo cuja força sentimos, que transforma a  nossa vida e lhe dá sentido, que nos inspira na construção de um mundo  de paz e de justiça, que nos transmite confiança e esperança. É, 

portanto, algo que está vivo, cujo dinamismo actua no nosso coração e  que, através de nós, transforma o mundo.

A partir da ressurreição de Jesus, estamos, todos os dias, a 

ressuscitar ‐ nós, as coisas, o mundo. Porque este dinamismo de vida  que Jesus vivo e ressuscitado nos transmitiu, continua a agir em nós e,  através de nós, a transformar o mundo.

(44)

.3 SEGUIR JESUS CRISTO HOJE

Hoje, Jesus de Nazaré está presente e actuante naqueles que, no  vasto âmbito da história e da vida, levam adiante a causa do 

“Reino de Deus”. Independentemente da coloração política ou  ideológica e da adesão a alguma religião ou credo cristão, 

sempre que o homem busca o bem, a justiça, o amor, a 

solidariedade, a comunhão, o entendimento entre os homens, aí  está presente Jesus ressuscitado. Sempre que o homem se 

empenha em superar o próprio egoísmo e em construir um  mundo mais fraterno e mais justo, está a construir o “Reino de  Deus”

(45)

No entanto, Jesus está hoje presente no mundo de uma forma  especial nos seus seguidores ‐ os cristãos. Ser cristão não é copiar  os gestos de Jesus; ser cristão, significa possuir a mesma atitude e o  mesmo espírito de Jesus, incarnando‐se dentro da realidade 

concreta em que estamos inseridos. Significa, sobretudo, 

empenhar‐se para que haja um mundo de paz, de fraternidade, de  amor, de abertura e entrega a Deus. Isso implica denunciar e 

combater tudo o que gera ódio, divisão, ateísmo, em termos de  estruturas, de práticas, de valores, de ideologias; significa anunciar  e realizar numa práxis comprometida, amor, solidariedade, 

fraternidade na família, na escola, no sistema económico, nas  relações políticas.

(46)

Este comprometimento levará, inevitavelmente, a crises, a confrontos, a  sofrimentos de toda a ordem. No caso de Jesus, levou‐o à cruz; mas a 

ressurreição mostrou que este combate vale a pena e que a morte não deve  meter medo a quem luta para construir este mundo novo.

Ser cristão significa ainda ‐ à imagem de Jesus ‐ solidarizar‐se com aqueles  que são crucificados neste mundo: os que sofrem violência, os que são 

explorados, os que são marginalizados, os que são espoliados dos seus direitos... 

Defendê‐los, promovê‐los, atacar todas as práticas que roubam a humanidade a  homens e mulheres, assumir a causa da libertação de todos os escravos, é a  tarefa do cristão. 

Jesus viveu assim. A cruz foi a consequência lógica deste compromisso. Mas  ele mostrou‐nos a todos que viver comprometido com esta causa, é viver a 

partir de um dinamismo que a morte não pode vencer. 

(47)

Novo Testamento

Referências

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