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Repositório Institucional UFC: A jornada de uma heroína musical escrita com arranjos, harmonias e algumas doses de transgressão

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Academic year: 2018

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·s

EDCBA

'

E n t r e v is t a

yxwvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

evista com Mona Gadelha, dia 30 de abril de 2016.

Caio - Simone, como surgiu a Mona Ga-_ a em sua vida?

ona - Mona Gadelha...

baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( r e f le t in d o ) .

::> nome é Simone.

É

interessante por-e, quando eu estudava no Colégio João

=

t e s (atualmente localizado n o bairro

Bar-; : d o C e a r á ) , tinha um professor que toda

z

na chamada ele falava: "Simone. Sirno-_ de Beauvoir" ( im p o r t a n t e e s c r it o r a , in t e

-=

a i, f iló s o f a e x is t e n c ia lis t a , a t iv is t a p o t

i-a

e t e ó r ic a s o c ia l n a s c id a

na

F r a n ç a em ~ 8 ef a le c id a em 1986.

*A

p a r t ir d e a g o r a ,

os os n o m e s m e n c io n a d o s p o r M o n a e s

-- ão r e f e r e n c ia d o s ao f in a l d a e n t r e v is t a ) . E

=~

falava: " N o s s a , quem será essa mulher

e

esse cara me chama?" Mas eu achava ito: "Simone de Beauvoir". E não foi por sa da Simone de Beauvoir que minha ãe me deu esse nome. Minha mãe ( R it a - e x s n d r e G a d e lh a , c o m 87 a n o s ) , uma rnu-_r que foi funcionária pública a vida toda,

ascida em Cajazeiras, na Paraíba, e migrou ra o Ceará ... Minha heroína, minha mãe,

irn como a Simone de Beauvoir, se tor-minha heroína também.

Com 14 anos, eu participei do primeiro

=

ival de r o c k do Ceará. Na verdade, cha-ado de "Primeiro Concerto de R o c k do

: = a r á " . E na organização desse concerto,

:=

o por um programa de rádio, na época

amado Show do Grilo, na rádio

Uirapu-_ in a u g u r a d a em F o r t a le z a no d ia 16 d e

o d e 1956 p o r J o s é P e s s o a d e Araújo

= é c io d e B o r b a d e V a s c o n c e lo s ) , eu co-eci vários compositores, músicos. Um es acabou se tornando meu namorado, su primeiro namorado, que é o Ricardo -~gusto Rocha, grande compositor, rnúsi-_ . E o Ricardo começou a me chamar de a como apelido. Fez uma música que - a a de uma Mona, de uma personagem

amada Mona. Depois eu vi que têm vários es, acho que o Bo Diddley, pioneiro do -- , tem uma música chamada "Mona", e

cou.

uando eu participei de um festival na a do Sol, na praia da Tabuba ( p r a ia 1 0 -- z a d a

a

3 0 k m d e F o r t a le z a , em C a u c a ia )

- aquela época era muito comum ter fes-a s fes-ao fes-ar livre nfes-as prfes-aifes-as - pfes-articipei com +a banda chamada Kaleidoscópio, que era a banda formada por mim e pelo artista tirnidia na época, o Siegbert Franklin. A

gente tinha essa banda e fomos participar do Festival da Costa do Sol. Lá eu conheci o Alceu Valença. Eu acabei lid a n d o uma can-ja" ( im p r o v is a r ) participando do show dele, tudo no improviso.

E na época ele perguntou meu nome, eu falei: "Simone". E ele perguntou: " T e m

um apelido?" e eu falei: "Mona". E ele falou:

" V o c ê devia assinar Mona Gadelha, porque já tem a Simone, famosa, cantora e tal, você devia assinar Mona".

Achei bonita a sonoridade e ficou Mona Gadelha. Então, foi assim, um apelido e um toque de um artista famoso e acabou fican-do Mona Gadelha até hoje. E muita gente me chama de Simone, eu tenho essa dupla identidade, "Simone, Mona". Na redação do jornal O P o v o U o r n a l f o r t a le z e n s e , f u n d a d o

em 1928, p e r t e n c e n t e ao G r u p o O P o v o d e C o m u n ic a ç ã o ) , onde eu trabalhava, era Si-mone Gadelha; quando eu ia pro palco era Mona Gadelha.

É

interessante isso, essa ambiguidade, essas personagens.

Nícolas - Existe algo que a Mona faz que talvez a Simone não faça?

Mona - Olha ... Acho que a Mona é mais artista. A Simone é mais tímida, mais conti-da. No primeiro disco, eu tenho uma música chamada "Identidade secreta", porque eu sempre fui muito ligada na cultura de qua-drinhos, super-heróis, eu era uma criança que tanto lia Fernando Pessoa como com-prava revista do Super-Homem. E essa mú-sica fala de um personagem e talvez tenha a ver com a Simone falando pra Mona, no primeiro disco.

É

uma letra que diz assim: "Nunca quis pagar o preço da fama / Nem vender minha alma ao diabo / Nem sentir a solidão das es-trelas / Ficar sozinha ou mal acompanhada / Queria ser um personagem / Um persona-gem exposto às multidões / Nada mais que um personagem / Sem coragem pra dizer não".

Talvez você tenha acabado de me dar um grande in s ig h t , talvez isso seja a Simone falando da Mona e a Mona cantando. Quer dizer, no fundo a Simone sempre foi uma criança muito tímida, mas, quando eu ouvi rock pela primeira vez, quando eu ouvi Janis Joplin, quando eu ouvi Beatles, eu pensei: "Eu queria fazer isso aí, é isso que eu quero fazer".

MONA GADELHA

I

9

Com ar de quem

es-tava satisfeita por estar

onde estava, Mona,

mo-mentos antes da captação da entrevista, disse que, "antes de mais nada", era

um honra participar da

Revista Entrevista.

O interesse em entre-vistar Mona Gadelha par-tiu de Caio Vitor. Também

músico, conheceu Mona

pessoalmente no Porto

Iracema das Artes e, ao

saber do retorno dela ao

ambiente acadêmico da

(5)

Já Diego se

interes-sou em acompanhar Caio

na equipe de produção

quando soube que Mona

cantava

baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

r o c k eja z z , dois dos gêneros musicais

fa-voritos dele.

Para a pré-entrevista, Mona escolheu a panifica-dora Delitália, localizada no bairro Meireles, para se reunir com a equipe de

produção. Segundo ela,

o motivo de ser lá e não no apartamento dela era porque o prédio é muito quente.

A Simone é mais a leitora. Eu lia sempre, era uma criança que lia muito, lia muito, eu lia mais do que brincava. Era até chama-da de "intelectual", era superchato, "ah, lá vem a intelectual chata, que só lê, lê". As brincadeiras eram todas intelectualizadas, brincava de escrever, inventava coisas para escrever ...

EDCBA

C l a r y c e - Mona, você citou sua mãe, dis-se que ela era sua heroína.

M o n a - Sim.

C l a r y c e - Qual foi a influência dos seus pais na sua carreira artística? Desde o co-meço, quando você era criança ainda, até hoje?

M o n a - Os meus pais se separaram mui-to cedo, eu tinha quatro anos quando minha mãe se separou do meu pai. Então, naque-la época, como eu nasci em 1960, mais ou menos a separação foi em 1964 - incrível, um ano terrível! Então, a influência é mui-to maior da minha mãe, né? A minha mãe sempre gostou muito de música, de dançar, e eu ouvia muita música em casa, rádio, ou-via demais. E o rádio era desde às cinco da manhã, quando começavam os programas. Eu ouvia muito.

Eu acho que a influência da minha mãe foi muito tempo depois, depois que eu pas-sei da fase do r o c k , do b lu e s , porque

(6)

's que eu fui ver: "Poxa, minha mãe já

a ,a de coisas muito legais que eu ain-- ão me ligava, porque o meu negócio na

a era o

baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

r o c k , era o b lu e s " .

eu avô, pai do meu pai - porque eu fui :; s próxima do meu avô do que do meu -, depois da separação dos meus pais ...

- +I/e muito mais próxima dos meus tios,

minhas tias, dos meus irmãos, do que priamente do meu pai. Então, eu lembro

meu avô tinha uma casa no bairro

Ben-a

e eu gostava de comprar o jornal pra ;:, o jornal O P o v o . Eu ia cedo pra banca

=o ornal, comprava, e ficava lendo com ele _ e recitava versos, então eu acho que tem

a formação aí.

Diego - Falando propriamente desse co-- ecinho. Na conversa anterior que Caio,

ê

e eu tivemos, você mencionou que sete anos já escrevia pequenas me-_ as, já compunha. Como é que se deu, ---áo, esse seu primeiro contato com a mú-_ a, pegando também essas influências da _ a mãe, do seu avô ...

Mona - Eu acho que vem do rádio. A Jo-:'11 Guarda ( m o v im e n t o c u lt u r a l b r a s ile ir o

r g id o em m e a d o s d a d é c a d a d e 1 9 6 0 , q u e = e s c t e v e m ú s ic a , c o m p o r t a m e n t o

e

m o d a )

_ ava começando a explodir no Brasil, en-: tinham os fã-clubes. O fã-clube do Jerry ~·aniversus o fã-clube do Wanderley

Car-Eu já gostava mais do Roberto Carlos, anções dele, e a Tropicália ( m o v im e n t o ~ p t u r a q u e s a c u d iu

o

a m b ie n t e d a

mú-o p u la r d a c u lt u r a b r a s ile ir a e n t r e 1 9 6 7

, tudo isso. E eu comecei a ler muito o do r o c k . O texto do r o c k me atraiu _ Quando eu falo desse texto, eu

o das letras do Bob Dylan, das letras n Lennon. Isso me atraía demais. Eu :; a muito de procurar traduções, de ler :ações onde eu pudesse encontrar tra-- s daquelas letras. Pelas letras do Bob

eu era completamente fascinada. rcolas - Uma curiosidade: como eram letras de uma criança tão nova? Você

s-nbra

do que você escrevia, qual o teor essas músicas?

Mona - Com sete anos eu fazia até uns derninhos. Eu recortava, pegava uma folha _ papel, fazia um desenhozinho, uma capa,

rampeava.

fazia uns jornaizinhos, "jornais

a

rua", ainda tenho isso na minha casa em - - o Paulo, tenho guardado alguns. E as le-as eram le-assim um sofrimento ( e s t ic a n d o a

: : o n a ç ã o d a p e n ú lt im a s í la b a ) , uma criança e sofria demais. Ouvia Ataulfo Alves ( c a n

-tsrole

t r e c h o d e u m a m ú s ic a d e A t a u lf o ) , ou-a Mou-aysou-a ... Umou-a criou-ançou-a que curtiou-a Mou-aysou-a! - ão, eu já era uma "véia" ( r is o s ) .

Aline - O que teus pais pensavam sobre

MO

essa veia artística e musical, já que aos sete anos você já estava compondo? O que eles achavam disso?

Mona - Ah, minha mãe achava lindo, né? Adorava. Mas, depois, na adolescência, houve aquela preocupação de sempre ter o cuidado de estudar e tudo. Eu era muito es-tudiosa, a primeira da classe. Muito estudio-sa no Ginásio - a gente chamava de Ginásio e Científico. No Ginásio, eu era a primeira da classe, no Científico ... Eu chutei o pau da barraca ( r is o s ) .

No Científico, eu entrei no Colégio Cea-rense ( C o lé g io C e a r e n s e d o S a g r a d o C o r a -ç ã o , f u n d a d o em

1913,

em F o r t a le z a , m a s n ã o f u n c io n a m a is ) e você tinha uma estru-tura pra fazer arte. A gente tinha auditório, teatro, tinha muito incentivo às artes no Colégio Cearense. Eu enveredei por isso aí. Quando eu vi aquele teatro, eu falei: "Puxa, é aqui mesmo". E os irmãos Marista deram essa liberdade pra fazer arte.

Nessa época eu fui muito mal nas Ciên-cias Exatas todas. Eu fui muito mal porque o meu negócio era ler, era escrever ... Então, era uma ótima aluna de Literatura, mas pés-sima aluna de Matemática. E fui em frente, fui levando.

Caio - Nós nos identificamos. ( r is o s )

Caio - Mona, na pré-entrevista você nos contou que a sua adolescência foi no bairro Benfica. Qual a importância do bairro na sua iniciação artística?

Mona - Ah, maravilhosa! Porque perto tinha toda uma turma, coincidentemente no Benfica, e ali mais perto do Centro, porque a( R u a ) Senador Pompeu é uma rua imensa, né? Era onde eu morava. Eu morava quase chegando na( A v e n id a ) Treze de Maio, umas três longas quadras da Treze de Maio, até o Centro. Então, eu ia para o colégio a pé, eu andava muito a pé. Fortaleza era uma cida-de boa para andar a pé, muito. Eu ia para o colégio a pé.

Era maravilhoso! Eu saía da Senador Pompeu e ia até o Colégio Cearense. E nes-se caminho eu encontrava vários amigos que já faziam música. Isso foi muito legal! Então, tem essa influência das redondezas, porque tinham muitos artistas que moravam na região. Tinha o próprio Siegbert Franklin, que morava na ( R u a ) Barão do Rio Branco; o Floriano Martins, na Rua Assunção; o Lú-cio Ricardo, na Rua Assunção ... Todo mun-do morava muito perto. O Nirton Venâncio, cineasta e poeta, morava, se não me enga-no, na ( R u a ) Solón Pinheiro; Era muito inte-ressante essa confluência de vários artistas nessa região.

E o Benfica com a universidade, a

Sca-Ia Publicidade, uma agê c'a e

A artista deu de pre-sente alguns COs da pró-pria discografia à equipe

de produção. Algumas

faixas, como "James Oean" e "Cor de Sonho",

foram executadas em

(7)

Todos os contatos que a equipe de produção

realizou com Mona por

telefone ou presencial-mente foram facilitados pela gentileza da cantora,

que sempre atendeu à

dupla de forma bastante gentil e solícita.

Pelo já conhecimento de Caio sobre a carreira

de Mona, o material de

produção ficou

rapida-mente pronto, em cerca

de dois dias, o que facili-tou na condução dos

pro-cedimentos posteriores

da entrevista.

110

EDCBA

t e x t o d o

rock

m e a t r a i u m u i t o . Q u a n d o

e u

f a l o d e s s e t e x t o , e u

f a l a n d o

d a s l e t r a s d o

8 0 b

D y l a n , d a s l e t r a s d o J o h n L e n n o n . I s s o m e a t r a í a

d e m a i s " .

marcou época, que foi muito ousada, muito pioneira em campanhas publicitárias, uma agência que investia muito em criação, dava muita liberdade de criação.

Dava pra circular a pé por tudo isso, a Senador Pompeu, a Avenida da Universi-dade ... Era muito legal poder andar a pé. A cidade não era tão perigosa assim como é hoje. Podia realmente circular e andar a pé.

É

por isso que o meu disco, o último disco

que eu fiz, se chama

baZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C id a d e B lu e s R o c k n a s R u a s , porque eu me lembro muito da gente ir

pros shows a pé. O Teatro da Emcetur ( a t u a l-m e n t e

é

oT e a t r o C a r f o s C â m a r a ) a gente ia a pé, a gente não tinha grana, não tinha carro. Um grupo de gente a pé ...( r is o s ) .

J u l i a - Até hoje o Benfica é um bairro bem vivo, né? Tem essa vivacidade que a gente sente às vezes mesmo não morando no entorno.

M o n a - Tem.

J u l i a - Você ainda tem uma ligação mui-to forte com o bairro?

M o n a - Demais, demais! O Benfica tem toda uma memória afetiva, têm os anos que eu passei na faculdade, que foram anos ma-ravilhosos, o tempo que eu passei na Sca-Ia, eu estudei também dois anos de alemão no Centro de Humanidades. Eu frequentava muito ali o bosque da universidade ( e s p a

-ço p e r t e n c e n t e ao C e n t r o d e H u m a n id a d e s I d a U n iv e r s id a d e F e d e r a l d o C e a r á ) , se reu-nia com o pessoal ( h o je

é

o B o s q u e M o r e ir a C a m p o s ) .

Aliás, quando eu fui me inscrever no fes-tival de rock ( a o q u a l e la ser e f e r iu no c o m e

-ço d a e n t r e v is t a ) eu já passeava ali pelo bos-que e cheguei lá pra turma dos rockeiros e eles disseram: "Ah, e você faz o quê?" E eu: "Ah, eu vou muito ao bosque". Eles acha-vam que eu fumava muita maconha, que eu era a maior maconheira ( r is o s ) e eu não ti-nha nenhuma relação. Por uma questão de gosto mesmo, de ser jovem e tudo ...

Engraçado que aquele negócio de quem frequentava o bosque parecia que era um passe livre. Era a única mulher do grupo chegando com aquele monte de cabeludo - todos usavam cabelos longos - e para me inscrever no festival de r o c k sem ter música, sem ter nada, queria ir de qualquer forma, e

acabei conhecendo várias pessoas.

D i e g o - Mona, foi a partir daí que come-çou a "Turma do Rock"?

M o n a - Foi.

D i e g o - Como é que foi isso, quanto ba-rulho vocês fizeram na época?

M o n a - A gente ficava procurando espa-ço pra tocar. A gente trocava muita infor-mação de discos. Eu lembro quando a gen-te começou a ouvir p u n k r o c k . Como todo adolescente que gosta de copiar, a gente ia numa loja do Centro e comprava um monte de broche, de alfinete, e compramos umas calças largas, costuramos tudo com alfinete e saímos às ruas. Aquilo era um escândalo

( r is o s ) , mas era um prazer enorme ser trans-gressor naquela época, sabe? Era um so-frimento pros pais, uma confusão danada, mas a gente era bem transgressor p r a q u e la

época.

E, tocando, era muito eu e o Perfume Azul, um grupo liderado pelo Lúcio Ricardo, que era muito transgressor também. O Lú-cio ele já vinha com aquela proposta andró-gina, de cantar de bustiê, cantar com aque-les casaquinhos que nem o Robert Plant, do Led Zeppelin. Era um verdadeiro escândalo na cidade tudo isso!

Mas a gente enfrentava esse preconcei-to com um público muipreconcei-to bacana, porque a gente tinha um público de jovens que ado-rava os shows da gente e tal, todo mundo dançava... Então, tinha esse contra ponto aí. Nós não estávamos sozinhos. A gente tinha um público muito legal que nos acom-panhava, que era a turma toda de jovens, como

vocês,

na época ( r is o s ) .

N í c o l a s - Você também tocava algum instrumento nessa época?

(8)

e-

a-

r-

'l-o

a

e

s

MO A GADELHA 113

Ao citar que o livro

KJIHGFEDCBA

C o n t a g e m D e p r e s s iv a

estava totalmente digi-talizado, Caio e Diego se interessaram pelo ma-terial e pediram à Mona que o enviasse. A artista rapidamente mandou os arquivos para o email dos produtores.

(9)

A artista ficou bastan-te empolgada em saber que a edição da revista seria apenas dedicada às mulheres. Tal informação foi comemorada por ela.

A empolgação do

professor Ronaldo com a entrevista de Mona sem-pre foi notável. Durante a reunião de pauta, dois dias antes do encontro com a cantora, ele acom-panhou, batendo os pés no chão, cada acorde das músicas que os entrevis-tadores ouviram.

juntos, em parceria".

A gente fez uma música que tem muito a ver com a nossa história, chama-se "James Dean", que era um ícone pra gente. O James Dean era um cara transgressor por natureza e ao mesmo tempo melancólico. Então, diz muito da gente aquela música. Eu fiz a letra e ele musicou e a gente começou a fazer um processo de mais músicas juntos. Mas você tinha perguntado ...

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

N íc o la s - Se você tocava.

M o n a - Então, o Ricardo me deu meu primeiro violão e era muito difícil porque escola de música, tinha o quê? Tinha o Con-servatório

KJIHGFEDCBA

( d e M ú s ic a A lb e r t o N e p o m u c e -n o ) que eu cheguei a fazer algumas aulas com a grande professora da época, que era a D'Alva Stella, que me dava aula de canto lírico.

E eu lembro que os meus amigos roquei-ros acharam aquilo um absurdo: "Mas tu vais estudar canto lírico? Pra que, mulher, estudar canto lírico?" "Mas é a forma que eu tenho de tomar conhecimento, de tentar instruir minha voz". E olha, foi fantástico eu ter estudado porque eu tinha insegurança como cantora, porque os meninos falavam: "Não, porque tua voz é muito assim, tu tens uma voz pequena" ... Tinha essa coisa de voz pequena.

E, quando eu fui estudar com a D'Alva, a primeira coisa que ela fez foi ligar o piano e dizer: "Deixa eu te mostrar a extensão da tua voz. Você é mezzo contralto. Você tanto pode cantar soprano como contralto". E eu tive umas aulas com ela e aquilo foi fantásti-co pra mim, foi maravilhoso, foi a passagem pelo Conservatório de Música. Foi muito rá-pido, mas foi bom.

Depois, eu cheguei a estudar música também na Orquestra do Sesi ( S e r v iç o S o -c ia l d a I n d ú s t r ia ) . O Sesi tinha uma orques-tra de cordas, já era música clássica. Porque eu era muito inquieta. Até hoje eu sou. E fui lá estudar contrabaixo acústico, tive umas aulas de contra baixo, depois de violino, na orquestra, mas sempre foi difícil por causa da condição financeira, de ter de estudar, fazer cursinho, trabalhar. Não é uma descul-pa, porque eu sei que têm pessoas que es-tudaram uns instrumentos avidamente, com

muito cuidado, mesmo sem condição, mas acho que pra mim pesou.

Quando eu estudava lá no Sesi, eu pas-sava o dia todo lá porque é uma escola muito voltada pra pessoas em situação de exclusão social e tudo, mas eu consegui en-trar, conversei lá com eles, "poxa, me dei-xa entrar, eu gosto tanto de música ..." Mas era uma escola muito voltada para pessoas com baixa renda e acabou se tornando um

celeiro de grandes músicos.

T h e y s e - Mona, como é que foi pra essa mulher tão singular no ambiente em que vi-via

à

época, como é que foi a participação num evento histórico como a M a s s a f e ir a ?

Você tão jovem, ainda com inseguranças, como você mesma mencionou. Como é que foi a participação nesse evento no ano de

1979?

M o n a - Na época eu nem tinha dimen-são disso, né? Eu estava ali no momento, eu acho que com muita sorte de estar ali, de muito jovem participar e cantar. Eu me apresentei com o Fernando Marques, pia-nista, só voz e piano, não deixa de ter sido impactante porque todo mundo com banda e tudo e eu cheguei lá. Eu lembro que eu tinha ido passar o Carnaval em Salvador e tinha visto o Caetano Veloso cantar de shor-tinho. Eu falei assim: "Ah, eu também vou cantar de short" ( r is o s ) .

Fui lá, botei um short e cantei no M a s -s a f e ir a , piano e voz e eu de short e tal, e eu não esperava ser convidada. Estava ali muito na diversão, vendo aqueles grandes artistas do Ceará, Ednardo, Téti, Rodger, todo mundo, eu não esperava. Convivendo com Petrúcio Maia, com Stélio Valle, com os grandes compositores, eu nem tinha di-mensão do que estava acontecendo.

Quando eu estava no Rio é que eu acho que eu tive noção, "nossa, eu

aqui no Rio". E já imediatamente conheci o Domin-guinhos e ele convidou a gente pra fazer uma gravação dos vocais do disco da mu-lher dele, que estava lançando um disco da Guadalupe, a primeira mulher dele - primei-ra não sei, acho que segunda. Enfim, eprimei-ra a mulher do Dominguinhos na época ( r is o s )

- e a gente fez, eu, Téti e Ângela linhares fizemos os vocais, meu primeiro trabalho remunerado em estúdio foi esse contratado pelo Dominguinhos, o que é uma honra.

C a io - Viajar pela primeira vez para o Rio de Janeiro, participar da gravação do his-tórico álbum duplo Massafeira, ao lado de

liA

m in h a m ú s ic a

,

.

e r a u m a

rnusica

m e la n c ó lic a , m a s e r a

e n s o la r a d a , e r a c h e ia

d e

5 0 1 1

E e u c h e g u e i n o

(10)

11( ... )

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

o n d e e u tr a b a lh a v a , e r a S im o n e G a d e lh a ;

,q u a n d o e u ia p r o p a lc o , e r a M o n a G a d e lh a .

E in te r e s s a n te is s o , e s s a a m b ig u id a d e ,

e s s a s

p e r s o n a g e n s " .

rqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

nomes já consagrados como Ednardo, Rod-ger Rogério, Téti e Petrúcio Maia. Tudo isso antes de completar 20 anos de idade. Como sentiu essa experiência?

M o n a - Nossa, incrível, né? Eu não ti-nha ideia do que estava acontecendo, a importância disso eu só fui

KJIHGFEDCBA

s a c a r muitos anos depois, a felicidade de estar dividindo um quarto lá no Rio com grandes artistas, grandes cantoras, né? Com Ana Fonteles, que era jovem, mas a gente já sabia que era uma grande cantora, um prestígio entre os autores. Conviver ali com Petrúcio Maia e ouvir ele dizer que gostava dos b lu e s que eu fazia.

Existia uma situação: como eu não era uma música, tecnicamente falando, eu não era uma instrumentista, tinha essa coisa de achar que o que eu fazia não tinha essa segurança. Até porque os meninos brinca-vam muito dizendo: "Ah, mas b lu e s são só quatro acordes, b lu e s é muito fácil". E, iro-nicamente, o b lu e s fácil, o b lu e s de quatro acordes, foi um dos grandes fenômenos do disco M a s s a f e ir a .

E hoje as pessoas adoram a música e pra mim ainda é engraçado isso porque ainda

na minha cabeça os músicos falando: "Mas é muito fácil de tocar, é muito simples isso aí que ela fez". E na época eu não ti-nha amadurecimento pra s a c a r que coisas simples podem ser muito complexas e so-fisticadas. E difíceis! "Ah, mas são quatro acordes". Mas, se você não souber colocar alma, f e e lin g , naqueles quatro acordes, não vai adiantar nada. E eu tinha no meu senti-mento, na minha emoção, eu tinha o b lu e s

muito dentro de mim. Porque eu comecei ouvindo Janis Joplin, Muddy Watter, esses blueseiros todos, John Hooker, eu tinha uma afeição, uma identidade com o b lu e s ,

essa melancolia, esse modo de compor com o blues, eu tinha uma afinidade que é até inexplicável, uma menina do Ceará que é ligada em b lu e s , só se explica mesmo pelo lado de emoção e afetividade.

E eu amava Janis Joplin, como eu amava ouvir e me influenciar. Então, eu tinha essa situação de ser jovem e reverenciar as pes-soas todas. Eles é quem sabiam fazer

rnú-5

Diego chegou a visitar o Porto Iracema das Artes após o primeiro contato com Mona. No entanto, a cantora ainda não havia chegado ao local de tra-balho, o que o impossi-bilitou de cumprimentá-Ia pessoalmente de novo.

(11)

Na reunião de pauta, Aline sugeriu que seria bacana se houvesse uma pergunta que enfocasse as dificuldades que Mona teria passado para se fir-mar como uma artista mulher. O questionamen-to acabou fechando toda a entrevista.

Theyse ficou encan-tada com a música de Mona, "Cor de Sonho". Antes da reunião de pau-ta, ela chegou a repetir várias vezes que estava admirada com o verso "posso até te matar com

um beijo na boca".

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

" D a v a p r a c ir c u la r a p é p o r tu d o is s o , a

(Rua)

S e n a d o r P o m p e u , a A v e n id a d a U n iv e r s id a d e ...

E r a m u ito le g a l p o d e r a n d a r a p é . A c id a d e n ã o

e r a tã o p e r ig o s a a s s im c o m o é h o je " .

sica; eu, não. Eu

KJIHGFEDCBA

t a v a ali de aprendiz, né? Com meus acordes simples, com as minhas canções singelas, e foi um susto quando a gente ouviu na audição, quando chegou o disco pra gente ouvir na primeira audição, o disco M a s s a f e ir a , na casa do pai do Ed-nardo, eu acho, et a v a lá todo mundo senta-do, convidamos vários artistas da cidade na época, eu lembro que t a v a o Mino - eu não vou lembrar de todo mundo -, mas todo mundo ali sentado e colocamos o disco pra ouvir, era uma audição dos dois LPs.

Quando começou a tocar a "Cor de So-nho", que era a minha música, todo mun-do se levantou e aplaudiu de pé. E eu falei: "Nossa, que loucura, que ironia! Porque era a música simples, era a música fácil". E foi impactante, foi espontâneo as pessoas aplaudirem aquilo. E depois foi a música do disco que tocou no rádio.

E até hoje é uma música que as pesso-as gostam e gravam e pedem pra eu can-tar. Eu até às vezes falo: "Pessoal, essa de novo não, de novo ... Vamos cantar outra?"

( r is o s ) . Mas toda vez eu canto e pra mim é muito engraçado, muito interessante, é

curioso como as pessoas me escrevem, pessoas jovens, de todas as idades, falando que se identificam, que acham bonito, que também passam noites sem dormir, é en-graçado isso.

R u te - Ainda sobre a viagem. Você so-freu algum tipo de preconceito por ser tão nova e mulher, convivendo com pessoas mais experientes, mais velhas? Você teve alguma divergência com alguém, você sen-tiu isso?

M o n a - Não ... Na viagem, não. Por incrí-vel que pareça, a gente lá no Rio, conviven-do esses artistas toconviven-dos, toconviven-dos eram muitos amigos. Tinham as brincadeiras bestas de sempre, né? Eu lembro que uma vez, eu e a Ângela Linhares chegamos pra sair com dois músicos de fora, a gente levou uma vaia na frente quando a gente chegou por-que éramos cearenses. Os músicos deram uma vaia na gente ... Essas besteiras tinham, essas coisinhas. Tinham muito essas coisas de cearenses, que não perdem a piada por nada, tinha essa esculhambação toda.

(12)

~ ita uruao.

o

que havia era um clima no _ da questão mercadológica: se o disco ia - 'r, se o disco ia ser divulgado, existia esse - ma pesado no ar, isso existia. O que ia _ ontecer. .. Era muito mais essa

preocupa-çáo

mercadológica da nossa situação com ~e ação ao disco do que entre nós. Entre nós e a um clima muito bacana, muito de

amiza-e, muito legal.

SRQPONMLKJIHGFEDCBA

N íc o la s - Então, de certa forma, você achou que estar inserida nesse momento,

essa cena musical, com nomes tão legais ue abraçaram, que apadrinharam você, foi sorte?

M o n a - Eu acho que sorte, né? Ali foi. Sorte de estar naquele lugar, naquele mo-mento, ter essa chance de estar com essas pessoas. E também teve a ousadia de ter ido procurar. Eu acho que a ousadia da menina ímida que foi lá cantar

KJIHGFEDCBA

r o c k e conhecer os músicos e começou a lidar com essas pes-soas até chegar ali ... Muita ousadia.

Sempre fui muito ousada e muito co-rajosa. Eu nem sabia que eu era coco-rajosa. Hoje eu vejo que tinha muita coragem. Se fosse analisar na época, eu não sabia, mas foi muita coragem de ser nova e estar ali, no meio daquelas pessoas, e ter um compor-tamento transgressor, um comportamento anticonvencional pra uma menina.

C a io - Só retomando um pouco da via-gem, pra finalizar esta passagem. Qual a in-fluência do Pessoal do Ceará em você como artista e na sua geração, que é pós-Pessoal do Ceará? Qual a importância desse movi-mento musical pra arte de vocês?

M o n a - Uma influência literalmente li-terária. A poética do Pessoal do Ceará é o que mais me fascina. Eu sei porque musi-calmente eles são incríveis. Se você pegar os artistas da chamada geração Pessoal do Ceará, cada um tem uma singularidade no

modo de compor e ao mesmo tempo uma

identidade ... Você sabe que é o pessoal do Ceará, que é daquela geração cearense.

Mas o que me pega mesmo, o que me comove demais é a grande poética.

É

a po-esia, são as letras, o modo de cantar, é tudo lírico. E eu sempre tive essa admiração por essas canções. Nós somos cancionistas, grandes cancionistas, um cancioneiro

fa-buloso, e isso me motivou até a fazer um disco chamado P r a ia L í r ic a - U m t r ib u t o

à

c a n ç ã o c e a r e n s e d o s a n o s 1 9 7 0 , em que eu selecionei algumas músicas e cantei só com voz e piano, que foi uma atitude nostálgica e ao mesmo tempo também ousada, em 2009 e 2010, quando eu morava em São Paulo e participava de muitos seminários, de mui-tos evenmui-tos para analisar a Música Popular Brasileira, e a música do Ceará não existia, nunca existiu, não se fala.

Eu dizia assim: "Que coisa mais estra-nha! Não se fala da música do Ceará, não se fala dos grandes letristas do Ceará", pelo menos onde eu morava, em São Paulo. Eu sentia essa dificuldade.

Eu lembro de uma grande ocupação do

( b a n c o ) Itaú sobre os anos 1970 e não tinha uma menção sequer ao Ceará. E a geração do Pessoal do Ceará, na década de 1970, é importantíssima para a música brasileira.

É

uma geração de ouro e aquela ocupação do Itaú sem uma menção ao Pessoal do Cea-rá. Aquilo me deixava assim ... Chateada. E falava: "Pelo menos eu vou tentar fazer al-guma coisa que é muito pouco, porque eu não sou uma artista do m a in s t r e a m ( lig a d a

ao c o n s u m o de m a s s a ) , eu sou uma artista independente, mas eu vou pelo menos me colocar diante dessa história toda".

E eu fiz o disco, P r a ia L í r ic a , que dividiu a crítica, né? Eu percebi que não foi muito bem recebido por alguns críticos que não aceitam releituras de outro modo, porque você tem essa dificuldade no Brasil. Você chega nos Estados Unidos, na Inglaterra, você pega uma canção dos Beatles e ela é regravada 50 mil vezes. Aqui ( n o B r a s il) tem um negócio de interpretação definitiva. En-tão, aquela música é gravada por um artista tal e não pode mais, porque "não, porque aí

não pode mudar e tudo".

Até hoje, a música que eu gravei pra esse disco que se chama "Paralelas", do Belchior, é a minha música mais ouvida. Eu tenho quase setenta músicas disponíveis na internet e a mais ouvida é a gravação do Belchior, "Paralelas".

T h e y s e - E essa Mona tão ligada no tex-to, na letra, como você falou, essa sua es-sência na literatura que a acompanha nas

1/( ... )

U m a

in flu ê n c ia

lite r a lm e n te

lite r á r ia . A

p o é tic a

d o P e s s o a l d o C e a r á é o q u e m a is m e

fa s c in a .

E u s e i p o r q u e

m u s ic a lm e n te

e le s s ã o

in c r ív e is " .

MONA GADELHA

I

17

A entrevista com a ar-tista estava marcada para ser no dia 28 de abril. No entanto, devido a algu-mas atividades no Porto Iracema das Artes, Mona só pôde estar disponível no dia 30 de abril.

(13)
(14)
(15)

Sem exceção, todos os entrevistadores elo-giaram o estilo da casa

do professor Ronaldo,

com uma arquitetura que

dá espaço tanto para o

clássico como para o mo-derno.

Alguns estudantes

chegaram a visitar o

fa-moso jardim do

profes-sor Ronaldo Salgado, que fez questão de apresentar cada espécie de flor pre-sente no ambiente.

USe

NMLKJIHGFEDCBA

v o c ê n ã o s o u b e r

c o lo c a r a lm a ,

feeling,

n a q u e le s q u a tro

a c o rd e s

(de blues),

n ã o v a i a d ia n ta r n a d a .

E e u tin h a n o m e u

s e n tim e n to , n a m in h a

e m o ç ã o , e u tin h a o

blues

m u ito d e n tro d e

m im " .

composições também ... Como é o proces-so criativo da Mona Gadelha, das canções, como a "Cor de Sonho" e "A dor" também, ambas com uma letra bem significativa? Pa-rece que a Mona escreve pra alguém às ve-zes ... Como é esse processo criativo?

M o n a -

É

com muita base nas coisas que eu leio mesmo. Têm duas influências for-tes, que é a Literatura e o Cinema. Tem uma música chamada "Crepúsculo de uma deu-sa" que eu escrevi depois que eu vi aquele filme ...

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C r e p ú s c u lo d o s d e u s e s , acho que o nome original é S u n s e t B o u le v a r d ( f ilm e a m e r ic a n o la n ç a d o em 1950)... Que é do Billy Wilder, né? E tem a Norma Desmond e eu assisti àquele filme e eu sou muito liga-da nesse conceito da solidão, nessa situa-ção de solidão do artista, e ali eu acho que a personagem ela vive uma solidão, uma de-cadência, uma atriz de Hollywood que entra em um processo de decadência.

Eu terminei de ver o filme e escrevi essa letra, "Crepúsculo de uma deusa", baseada no filme, que diz: "Quem vai te acalentar nessa noite fria? / Quem vai te beijar nessa cama vazia?" e faço um grande m ix . Eu

pe-guei a situação do filme, coloquei situações minhas também. Acho que toda letra minha é autobiográfica.

Ao mesmo tempo, estava lendo muito o Zygmunt Bauman, sociólogo polonês. Eu ti-nha feito uma pós-graduação em São Paulo em Sociologia, em Globalização e Cultura, e estava lendo muito o Bauman e ele falando das relações líquidas, dessa liquidez, dessas coisas difíceis. Juntei tudo isso numa única música, e acho que ela tem muita influência da Patti Smith, no modo dela cantar.

(16)

..em

wvutsrqponmlkjihgfedcbaZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

sabe, né? Eu mando pro espaço e eqa na Patti Smith. Seria um sonho, eu

eria me jogar e morrer porque ...

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( r is o s ) .

NMLKJIHGFEDCBA

T h e y s e - Então, até que ponto é bom e ;:-'" que ponto é ruim ser essa artista

inde-'" dente, não fazer parte do m a in s t r e a m ,

ma indústria musical assim tão forte?

M o n a -

É

bom esse lado da falta de com-'omisso com a novidade, com o mercado,

cê ser muito sincero com o seu trabalho. as, sem dúvida, é ruim porque você não _ nsegue chegar nas pessoas. Todo show _ e eu faço eu encontro pessoas que estão e vendo pela primeira vez e eu já com sete scos lançados. Às vezes eu sou entrevista-a por um jornentrevista-alistentrevista-a jovem, que nem vocês, e a pessoa não sabe da minha história. Não corno vocês que fizeram o dever de casa,

esquisaram ...( r is o s )

Eu lembro que nas aulas da Adísia

Sá,

a UFC, ela dizia: "Vocês não podem ir para ma entrevista sem saber a história das pes-soas, gente. Pra entrevistar você tem de sa-ber". Acho que ela t a v a puta porque alguém "oi entrevistá-Ia e não sabia quem era ela e ela ficava invocadíssima.

D ie g o - Mona, voltando para o lado da literatura, me interessa também saber como

é

que foi produzir literatura na época da ditadura militar. A gente soube que teve a publicação do "O Homem Padrão", que foi esse conto ...

M o n a - ( c o r r ig in d o ) Foi um poema.

D ie g o - Sim, um poema. Conta pra gente como é que estava esse clima, como é que foi produzir nessa época.

M o n a - A minha forma de se expressar, de ser adolescente solitária, melancólica, era escrevendo, o meu negócio era escre-ver. Escrevia, tinha os meus caderninhos, e era tudo muito espontâneo, né? Eu lia muito Clarice Lispector, lia muito Fernando Pes-soa, lia José de Alencar também, lia tudo.

Quando eu tive a chance de receber jornais alternativos e eles aceitavam cola-boração, comecei a mandar meus poemas também. E teve um chamado "O Homem Padrão", que foi publicado na capa de um jornal, C o g u m e lo A t ô m ic o , e eu recebi, fi-quei contente e ao mesmo tempo morrendo de medo, eu falei: "A Polícia Federal vai me prender, esse poema aqui é muito forte".

E eu lembro que na época os meus ami-gos começaram a me botar medo também, "teu poema aí na capa do jornal, isso aí pode dar problema". Eu tinha 15 anos ( r i-s o i-s ) . Fiquei apavorada com aquilo! Porque falava do homem padrão, falava da relação do operário que trabalha, que cumpre a jor-nada de trabalho. Olha a maluquice, né?

Porque existia um clima muito grande

de medo. Todo mundo tinha muito medo. Eu lembro que a publicação disso me deu muito medo. Eu comecei a ficar preocupa-da com aqueles jornais chegando e eu acho que eu nem mandei nada depois, também. Fiquei com medo.

J u lia - Mona, abre aspas: "Aquela ado-lescente melancólica que escrevia", fecha aspas. E hoje, a Mona Gadelha não tem mais essa necessidade de colocar pra fora o que sente?

M o n a - Sim. Eu escrevo, mas escrevo de uma forma muito mais autocrítica, né? Eu escrevo e vou editando. Eu acho que, quan-do eu era aquan-dolescente, escrevia no fluxo, sem tanto autocrítica. Hoje, não.

Escrever eu acho que é o ato mais mara-vilhoso e mais difícil. Eu acho que a grande arte é escrever. Escrever um romance pra mim é a grande arte. "Escrever um roman-ce" ( e n f a t iz a n d o a e x p r e s s ã o ) , né? Você tem um romance publicado e esse romance pode inclusive ser transposto para outras linguagens, pra filme, pra música ... Escrever é o grande ápice da arte.

C a ro l - E você, tendo ganhado um con-curso, inclusive com um júri presidido pelo Moreira Campos, tendo publicado alguns poemas ... Por que você não enveredou pela carreira literária? Por que você não investiu mais, já que teve um reconhecimento no iní-cio? Por que você não continuou?

M o n a - Acho que a mesma coragem que eu tinha pra fazer música eu não tinha cora-gem pra literatura. Eu acho que eu sacralizei muito a literatura, eu achei uma coisa muito sagrada. "Ah, isso aqui é uma coisa muito difícil", me senti mais frágil. Pra música eu sempre tive muito ímpeto, muita coragem, mas na literatura ...

Também não tive muito incentivo. Na verdade, não é bem incentivo. O Mino, por exemplo, me ajudou a lançar um livro que eu nem pensava. Fui na casa dele, eu frequen-tava muito o estúdio lá, passava as tardes lá vendo ele desenhando, era muito bom. Isso foi uma coisa muito bacana pra mim, que eu tinha na adolescência, essa sacada, de con-viver com pessoas mais velhas, com artistas que pudessem me trazer experiências, me indicar livros.

Eu era jovem e era amiga do Gilmar de Carvalho, era amiga do Mino, era amiga da Ângela Borges, do Augusto Pontes, isso foi muito legal pra mim, eu não tinha essa bar-reira de idade. Eu era amiga deles.

Então, o Mino era um artista em que eu frequentava o ateliê e via ele desenhando e tudo. Um dia ele chegou e disse: "Traga os seus contos". Teve um conto premiado que foi premiado e tal. Então, eu levei os contos

MONA GADELHA

I

21

A experiência artísti-ca e jornalístiartísti-ca de Mona

certamente contribuiu

para a fluidez e a coerên-cia de conteúdos durante

uma entrevista que

du-rou, ao todo, exatamente duas horas, 12 minutos e 36 segundos.

Um grande dilema

que acompanhou toda a

equipe de

entrevistado-res durante o estudo da

história de vida de Mona,

exatamente pelo amplo

leque de conhecimentos que ela possuía, foi como

(17)

A entre ista '0- e

-rompida por um nus

ta-do motivo: sabendo que

um avião estava passan-do, o professor Ronaldo

fez questão que todos

fizessem silêncio e

espe-rassem ele sobrevoar a

casa.

o

mesmo dia da

en-trevista foi também o dia do aniversário de 21 anos da Carol Meio, feito que

gerou muitos abraços e

felicitações à moça por parte de toda a equipe de entrevistadores, do pro-fessor e da entrevistada.

e ele guardou ali e no outro dia ele me ligou: "Moninha, venha aqui no estúdio hoje

à

tar-de que eu quero te mostrar um negócio".

Quando eu cheguei lá, ele tinha desenha-do o livro inteiro. Desenhou em pranchas, porque naquela época não tinha computa-dor, ele desenhou, deixou naquelas pran-chas, eu olhei e falei assim: "Mino, que coi-sa brilhante". "Agora a gente vai publicar".

"Publicar como?"

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( r is o s ) . "Não, pera aí ... " Eram umas loucuras que só tinha naquela

época. "Vou ligar aqui pro Valtinho. Vamos fazer o livro da Mona, vamos publicar e tal". Eu: "Então

tá,

e a gente lança junto com um show no Teatro Universitário, com Rodger Rogério, Ricardo Bezerra, T éti, Jorge Hél-der, Lúcio Ricardo".

Lançamos um livro no Teatro Universitá-rio. O Mino lá defendendo, eu me lembro que ele quebrou um maior pau com um ra-paz lá porque o rara-paz chegou e disse: "Ah, eu acho que têm uns contos muito ingênu-os". E ele: "Ingênuo o quê?" ( r is o s ) E foi o maior quebra pau lá, me defendendo e tudo. E eu senti isso no lançamento: "Rapaz, lite-ratura é mais complicado que música. Sei não, se eu vou encarar isso agora, quem sabe um dia, isso é barra pesada, a turma já vem com tudo, parece que a patrulha é pior ainda, hein?" ( r is o s ) . Porque, quando você canta, você extravasa lá e tudo, agora a li-teratura, né?

Então, já teve essas polêmicas e aquela situação de fazer faculdade, trabalhar, can-tando, eu fui deixando realmente em segun-do plano, continuei lendo, mas deixando em segundo plano.

A literatura era uma coisa que eu ficava sempre pensando: "Ah, mas tem de se

pre-parar, tem de ler cinco mil livros" ... Foi por isso. De certa forma, eu acabei me arrepen-dendo um pouco de ter deixado, porque eu vinha num fluxo tão ativo ...

NMLKJIHGFEDCBA

J u lia - Você disse mesmo que era in-quieta. E talvez por isso tenha sido tão revo-lucionária ... Como está esse espírito revolu-cionário hoje?

M o n a - Eu costumo dizer que a minha geração ficou "emparedada", porque hoje você tem uma geração da nova música bra-sileira, que são as pessoas na faixa de 25 a 30 anos que conseguem um público mui-to interessante através dos meios digitais. Você tem os artistas com nomes consagra-dos que têm público a vida toda, que tive-ram h it s executados no rádio. E tem a minha

geração, que fica no meio ali, que não foi nem para um lado nem para o outro,

tentan-"Então,

e u tin h a e s s a

s itu a ç ã o

d e s e r jo v e m

e

re v e re n c ia r

a s p e s s o a s

to d a s . E le s

é

q u e m

s a b ia m

fa z e r m ú s ic a ;

e u , n ã o . E u

tava

a li d e

a p re n d iz .

C o m

m e u s

a c o rd e s

s im p le s ,

c o m

(18)

do ... Têm muitos artistas, se eu for falar vão ser muitos!

Quando a Internet surgiu, a gente ainda ficou pensando: "lh, será que isso vai dar certo? Esse negócio de MP3?" Eu lembro demais, a gente tinha reuniões para discutir. "Mas esse MP3 vai dar certo? As pessoas vão 'baixar' músicas?" E quem nasceu já com essa linguagem, já dominou, já domi-nou ...

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( e n f a t iz a n d o a r e p e t iç ã o d a e x p r e s

-são). Então, é mais difícil pra gente. A gente continua sendo os transgressores e os

mar-ginais dessa história.

É

engraçado isso.

NMLKJIHGFEDCBA

D ie g o - Mona, você fala muito a respeito

desse comportamento transgressor, libertá-rio. Você teve muito contato com a Literatu-ra B e a t , como mencionou antes. Você acha

que ter contato com esse tipo de leitura re-almente realçou esse seu comportamento, esse seu espírito?

M o n a - Sim, o r o c k , essa literatura ... Era uma literatura também muito combatida. Na faculdade, gostar de Literatura B e a t era pe-cado, não podia. Tinha muitas brigas no pá-tio ( d o curso) Comunicação porque eu

gos-tava de Jack Kerouac, muitos quebra-paus. Não podia gostar de Jack Kerouac, de Allen Ginsberg, era uma confusão.

Você pode gostar de Allen Ginsberg e gostar de Carlos Orummond de Andrade, eu sempre tive essa questão comigo. A minha grande pergunta era: "Por que tem que li-mitar as coisas? Por que eu só posso gostar de uma coisa?" Essa coisa segmentada, eu sempre tive muita dificuldade. "Ai, só pode andar com a turma do r o c k , com a turma da

MPB". Esse negócio das turmas ...

Eu, quando cheguei em São Paulo, que-ria saber como as coisas se davam, como as

coisas funcionavam na rnusrca. E teve um produtor que falou assim: "Olhe, você tem alguma turma? Faz parte de alguma turma?" E eu disse: "Não". E ele falou: "Pois você vai ter de ter uma turma". E eu falei: "Fudeu, porque eu não vou ter turma. Eu não tenho turma. Eu gosto de tudo, eu gosto de sam-ba, eu gosto de r o c k , de MPB, de literatura ... Como é que eu vou fazer? Eu vou me lascar nessa história. Eu não tenho turma".

Eu me lembro demais disso ... "Você tem

( e n f a t iz a n d o ap a la v r a ) de achar sua turma". Eu nunca esqueci isso. Ele estava falando uma verdade mesmo, né? Esse negócio da turma.

Eu tinha turma quando era adolescente, acho que turma tem a ver com adolescên-cia. Na adolescência você precisa de uma turma, até para se fortalecer e enfrentar as coisas. "A minha turma", isso eu tinha, na adolescência. Mas depois eu descobri um horizonte que não tem limite.

Eu tinha um programa na Rádio

Universi-110

jo rn a lis m o fo i m u ito

o tra b a lh o p e s a d o

d e re d a ç ã o , o p e rá ria .

E s c re v e r m a té ria , fe c h a r

jo rn a l. O q u e e u te n ta v a

fa z e r e ra s e m p re u m

tra b a lh o c o m to d a

e x c e lê n c ia p o s s ív e l" .

Devido a um

contra-tempo com o ônibus,

Ka-mylla Karen chegou um

pouco atrasada, nada, no entanto, que atrapalhasse o decurso da entrevista.

Por outro lado, Caio Vitor, apesar de ter com-parecido ao Maloca Dra-gão e ainda ter se

apre-sentado na noite com a

(19)

Além da

movimenta-ção das mãos no

cabe-lo, Mona estava com um

óculos na mão que ora

deixava descansando nas

pernas ora colocava-o

nos olhos.

Os momentos em que

Mona falava sobre seu

comportamento

trans-gressorforam os que mais renderam risadasàequipe de entrevistadores.

tária

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( e q u ip a m e n t o p e r t e n c e n t e

à

U n iv e r s i-d a i-d e F e d e r a l do C e a r á ( U F C ) , d e f r e q u ê n c ia

FM 1 0 7 , 9 , in a u g u r a d o no d ia 15d e o u t u b r o d e 1981), quando eu fiz o curso de

comu-nicação. O Rodger Rogério me perguntou se eu queria apresentar um programa na Rádio Universitária. Eu falei: "Ah, eu quero. Eu produzo, eu levo meus discos ... Posso fazer?" "Vá lá". Fiz um programa que era aos domingos, eram três horas, ao vivo. Eu saía da praia direto pra rádio, às vezes eu ia de maiô e tudo, com a toalha amarrada e che-gava na rádio com meus discos debaixo do braço ( r is o s ) .

E fazia o programa. Exatamente pra co-locar essa maluquice que eu tô falando de gostar de tudo e não ter limite, o nome do programa era "Música do Planeta Terra". Eu tocava tudo! Eu tocava Janis Jopplin, Arrigo Barnabé ...

Eu sempre tive essa vontade de conhe-cer mais coisas e fazer mais coisas. Não me limitar a um negócio só. Agora isso sempre foi problemático, as pessoas não aceitam muito. "Ah, é cantora e escreve também? Como assim?" Tinha essa coisa, não sei se ainda tem, mas tinha isso. "Ela é cantora e passou no vestibular?" ( r is o s ) Era assim, era

assim.

NMLKJIHGFEDCBA

C la ry c e - Você citou os anos 1980, e nessa época o pensamento vigente, entre os músicos cearenses, era que eles tinham de se descolar até o Rio de Janeiro ou São Paulo para fazer a carreira decolar, aconte-cer de fato. Por que tinha esse pensamento na época?

M o n a - Tinha mesmo. Todo mundo di-zia: "Você tem de ir embora! Você tem de ir embora!" Todo mundo. Eu fui expulsa!

( r is o s ) "Você tem de ir embora!" "Você tem

de mostrar seu talento lá fora, tem de ir em-bora!"

Sabe, eu fui muito maluca, acho que não pensei direito, porque, quando cheguei em São Paulo, tive um impacto. Eu tinha tanta saudade, eu sofria tanto de saudade, dos amigos, de casa, do almoço de domingo na casa da minha mãe ... Aquilo foi di-fí-cil de-mais!

C a io - Como fazer para manter o contato com a família?

M o n a - Ligava, passava horas. E eu acha-va, na minha cabeça: "Não, eu vou, mas eu vou voltar. Vou ficar morando em São Paulo e em Fortaleza". Bem louca, né? Porque era impossível!

E você chega e tem logo um encontro com a realidade. Quando eu cheguei em São Pau-lo, a música alternativa que estava predomi-nando era a d a r k gótica ( g ê n e r o e m q u e as

m ú s ic a s possuem u m a s o n o r id a d e s o m b r ia ) .

A minha música era uma música melan-cólica, mas era ensolarada, era cheia de sol! E eu cheguei no d a r k . Falei: "Pronto, me lasquei". ( r is o s ) Era tudo muito cada um na sua. lembro-me demais, a gente não podia dançar junto. Aquilo foi um primeiro impac-to em São Paulo. Eu, com meu disco, um disco que falava de céu, "será que o céu é azul, .." Eu simplesmente guardei.

Mas o que ocorre? Quando eu cheguei em São Paulo, comecei a ter uma sorte mui-to grande no jornalismo. Eu mandava meu currículo e era chamada. F o lh a d e S ã o P a u lo U o r n a l b r a s ile ir o e d it a d o na c id a d e d e S ã o P a u lo e o segundo m a io r jo r n a l d e c ir c u la ç ã o

do B r a s il, segundo dados do I n s t it u t o V e r i-f ic a d o r d e C ir c u la ç ã o ( lV C ) ) , E s t a d ã o ( c o d i-n o m e dojo r n a l O E s t a d o d e S ã o P a u lo . F o i f u n d a d o c o m base nos id e a is d e um g r u p o d e r e p u b lic a n o s , e m

4

d e ja n e ir o d e 1 8 7 5 . H o je ,

é

um dos p e r ió d ic o s m a is in f lu e n t e s

nop a í s ) . . . Era entrevistada nesses locais.

Era incrível porque isso foi muito inte-ressante. Quando cheguei na cidade, o meu currículo era avaliado, os textos lidos. En-tão, todo emprego que eu chegava, as pes-soas diziam: "Seu texto é muito bom!" E eu ficava: "Olha, que legal! Eles leem mesmo o texto e chamam". E eu acabei indo traba-lhar em uma revista de moda, que era uma revista que eu recebia na Scala e achava in-crível.

Então, eu vi esse nascimento da moda brasileira, foi muito interessante. Mas aqui-lo ali era o meu trabalho do dia a dia, eu ia ter de escolher. Porque achava que dava pra fazer música e jornalismo ao mesmo tempo,

mas, em São Paulo, eu confesso que não dava, era complicado ...

K a m y lla - Mona, você começou a carrei-ra musical no Ceará e deu continuidade a ela em São Paulo. Quero saber como você vê o reconhecimento dentro do Estado, na cida-de natal, e fora. Como você enxerga esse reconhecimento, tanto no Ceará quanto em São Paulo, como nos países lá fora?

M o n a - No Ceará, eu vejo um reconhe-cimento muito interessante. Fui convidada para ser coordenadora do laboratório de Música do Porto Iracema das Artes ( in a u g u -r a d a e m 2 0 1 3 ,

é

u m a e s c o la de f o r m a ç ã o e

c r ia ç ã o c u lt u r a l, lig a d a ao C e n t r o D r a g ã o do

(20)

Eu percebo porque eu tenho cinco mil pessoas na minha página no facebook e eu percebo pessoas das mais variadas áreas, é incrível! Acho muito bacana chegar em um hotel e o cara que é manobrista falar: "Gosto muito do seu trabalho". Como é que

esse cara chegou? (à

YXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

m ú s ic a d e la ) . Porque eu imagino que ele tenha dificuldade, eu

não toco no rádio. Então, como é que ele chegou?

É

difícil, pra mim, pensar que eu não tenho oportunidade de chegar nesses grandes meios de comunicação. Porque eu sei que a minha música é própria pra isso, ela chega nas pessoas.

A prova é a "Cor de Sonho", que é uma música de 30 anos que até hoje as pessoas escutam e gostam. Então, tem essa dificul-dade, sim. Agora, do ponto de vista de his-tória, é muito bacana ter uma história reco-nhecida. Agora mesmo o professor Gilmar de Carvalho lançou um livro chamado M ú s

i-ca de F o r t a le z a , e eu sou um dos ensaios do livro. Pra mim, isso é um reconhecimento maravilhoso!

O Aquiles Reis, que é crítico e é do Grupo MPB4, fez um texto lindo falando que eu era a voz feminina de uma geração. Achei lindo isso. Eu tenho esse reconhecimento pontual que é muito bacana. Agora, eu gostaria de chegar para um público muito maior, que minha música chegasse a um público maior. Porque é uma música, é canção com refrão, com parte A, parte B, e poderia chegar a um

público muito maior. Mas há uma dificul-dade, ainda muito grande, desses grandes meios de comunicação.

NMLKJIHGFEDCBA

N íc o la s - Em algum momento você pen-sou em desistir da carreira?

M o n a - Não, nunca. Até porque eu acho que música é uma necessidade. Eu não pos-so deixar de cantar nunca. Pra mim cantar é ... Cada vez mais ... ( e m t o m dea d m ir a ç ã o )

Eu cantava muito mais, eu fazia muito mais shows quando estava morando em São Paulo. Eu fiz muito mais shows. Eu acho que o número de shows foi diminuindo, porque no meu primeiro disco eu fiz muitos shows, o disco foi muito bem recebido pela crítica.

É

engraçado, porque o primeiro disco é o que dá mais nos nervos, né?

É

o primeiro e eu fiquei apavorada! Foram muitos músi-cos, sofri muito com a mixagem, foi um par-to! ( r is o s ) E quando lançou eu falei assim: "Seja o que Deus quiser!" Porque eu estava apavorada. Pra minha surpresa, foi um disco superbem recebido pela crítica, a crítica só falou bem desse disco, impressionante! Foi um momento muito legal, fiz muitos shows, muitos shows ... E fui indo para uma maturi-dade, eu acho, de voz.

Cada vez hoje que eu estou no palco, que eu estou cantando, eu penso assim: "Poxa, isso aqui é um momento único!" Como é legal cantar ... Parece que a pessoa está le-vitando, é um negócio impressionante, de bom e de prazeroso.

"Podia

e s c re v e r e m u m o u tro â m b ito , m a s e s c re v e r

p ra jo rn a l, fa z e r c rític a d e m ú s ic a , fa z e r re s e n h a d e

u m d is c o ... E u s e m p re fiq u e i fo ra d is s o " ,

MO A GADELHA

I

25

Quando Mona falou

que se sentia um pouco

solitária porque lia Jack Kerouac na universidade, Diego e Theyse se

entre-olharam. Motivo: Diego

gosta bastante do escritor.

De sorriso fácil, a en-trevistada respondeu com prontidão a todas as per-guntas, sem hesitar ou

re-cuar em momento algum.

O que era mais notável

(21)

Sempre quando cita-va sua mãe, lembrando da influência dela na vida da artista, Mona deixava a fala mais tranquila e branda.

Dois gravadores es-tavam registrando a en-trevista: um pertencente ao professor Ronaldo e o outro ao GRUPPE TV, projeto de extensão do

curso de Jornalismo.

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

C la ry c e - Falando agora da questão do jornalismo: por que você decidiu cursar Co-municação Social e não Música?

M o n a - Boa pergunta. Eu pensei muito em fazer Música, mas sou uma pessoa que tudo que eu vou fazer eu consulto, assim, uma assembleia de amigos, de pessoas. E todo mundo me falou: "Olha, não tem um curso que vai lhe oferecer o que você quer." Pensei: "Puxa, a área mais próxima do ato de escrever, de fazer letras, é Comunica-ção." Então, eu fui pra Comunicação pela escrita, pelo escrever. E foi bacana, foi uma descoberta legal. Depois que eu fui pra São Paulo, eu fiz vários cursos de música, eu es-tudei música.

R u te - Como é que foi a trajetória acadê-mica no jornalismo?

M o n a - No jornalismo eu trabalhei em to-dos os veículos. Eu trabalhei em televisão, que eu acho mais difícil de todos; como edi-tora de revista, de jornais. Lá em São Paulo,

eu editei um jornal que se chamava

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

M e io e Mensagem U o r n a l s e m a n a l la n ç a d o em São

P a u lo em a b r il d e 1978), que era um jornal que eu lia muito na época da ( a g ê n c ia d e p u -b lic id a d e ) Scala, onde eu trabalhava como publicitária. Fui editora desse jornal. Fazia muito freelance ... Sempre escrevi muito so-bre moda.

Também trabalhei muito sobre marketing e negócios. Escrevi nos primeiros veículos sobre informática e tecnologia. Escrevia

IIE u a c h o q u e

é

u m

m o m e n to fa n tá s tic o .

F a z ia te m p o q u e e u n ã o

v ia , n o s ú ltim o s d o is o u

trê s a n o s , u m m o m e n to

tã o in te re s s a n te n a

m ú s ic a d o C e a rá .

P rin c ip a lm e n te

c o n te m p la n d o

a s v á ria s

(22)

"Escrever

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

e u a c h o

q u e

é

o a to m a is

m a ra v ilh o s o

e m a is

d ifíc il. V o c ê te m

u m

ro m a n c e

p u b lic a d o

e e s s e ro m a n c e

p o d e in c lu s iv e s e r

tra n s p o s to

p a ra

o u tra s lin g u a g e n s ,

p ra film e , p ra

m ú s ic a ... E s c re v e r

é

o

g ra n d e á p ic e d a a rte " .

muito sobre tecnologia, adorava, era muito ligada. As primeiras revistas sobre tecnolo-gia no Brasil fui eu que escrevi, no Caderno de Informática do Estadão. Eu sempre fugi da escrita sobre música. De crítica e anali-sar ... Eu nunca me senti à vontade como cantora, como artista, para escrever sobre o trabalho de outro colega. Como crítica, sabe? Podia escrever em um outro âmbito, mas escrever pra jornal, fazer crítica de mú-sica, fazer resenha de um disco ... Eu sem-pre fiquei fora disso.

R u te - Ainda hoje é assim?

M o n a - Ainda hoje. Prefiro não. Se eu tiver de escrever vai ser pra algum texto

es-pecífico, pra um livro, pra uma coisa mais ...

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

( p r o lo n g a n d o a f a la ) . Mas pra fazer uma re-senha de disco, eu nunca me senti à vonta-de pra fazer isso.

A lin e - Qual experiência mais a marcou como jornalista?

M o n a - Uau, teve tantas ... Teve muitas. Eu lembro da cobertura que eu fiz, com a

T V M a n c h e t e ( r e d e d e t e le v is ã o b r a s ile i-r a f u n d a d a no R io d e J a n e ir o d e 1983 p e lo jo r n a lis t a

e

e m p r e s á r io u c r a n ia n o n a t u r a li-z a d o b r a s ile ir o A d o lp h o B lo c h . A e m is s o r a p e r m a n e c e u no a r a t é 10d e m a io d e 1 9 9 9 ) ,

das romarias de Juazeiro. Eu fui com muito medo, com muita má vontade. "Ah, vai ser uma trabalheira, não vou saber fazer". Foi interessante porque a TV Manchete era na-cional, então a gente fazia matérias aqui pra ver se entrava no nacional. E foi uma

ma-téria que entrou. Infelizmente eu não tenho essa. Naquela época era tudo naquelas fitas gigantes. Mas foi uma matéria que entrou nacionalmente, isso foi muito marcante.

E ser editora do M e io e M e n s a g e m foi marcante. Na experiência como editora, eu aprendi muito. Muito de tudo, de rela-ções humanas, da síntese do texto ... Foi um aprendizado incrível e sofrido, muito sofrido porque não tinha tecnologia, a gente escre-via naquelas máquinas pesadas, as Olivettis

( m a r c a d e m á q u in a s d e d a t ilo g r a f ia ) , e edi-tar naquelas máquinas sem o editor de texto foi "paulêra" ( d if í c il, f o r t e ) . Então, pra mim, foi marcante isso.

MONA GADELHA

I

27

O fotógrafo Filipe Pe-reira, já tendo registrado outras entrevistas, não ti-tubeou ao ser convidado para fotografar a conver-sa com Mona Gadelha. Respondeu com um

so-n o ro "sim",

Horas depois da

(23)

De acordo com al-guns colegas, Nícolas, assim que chegou em casa, para não perder a inspiração, procurou logo escrever as primeiras li-nhas do texto do perfil de Mona Gadelha.

o

vasto e eclético repertório musical e cul-tural de Mona rendeu elogios à artista por par-te dos entrevistadores, já que muitos puderam conhecer alguns grandes nomes durante o diálogo com a cantora.

Ah, e o caderno de domingo. Marcante demais! Foi o primeiro veículo que eu

traba-lhei, o jornal O

ZYXWVUTSRQPONMLKJIHGFEDCBA

P o v o . Trabalhar em um ca-derno com profissionais incríveis dos quais

eu era fã, Nonato Albuquerque, Isabel Pi-nheiro, Luís Sergio Santos ... Eu era novinha, chegando para trabalhar com esses caras.

Foi demais!

TSRQPONMLKJIHGFEDCBA

J u lia - Falando um pouco do seu espí-rito transgressor, revolucionário. Você se encontrou dentro do jornalismo? Porque a gente percebe que na sua trajetória você disse: "Ah, eu vou pra São Paulo porque eu não estou me encontrando aqui em Fortale-za". Você se encontrou no jornalismo? Como era ter esse espírito transgressor dentro de veículos tão tradicionais?

M o n a - Olha, você falou que eu tinha ido pra São Paulo porque eu não tinha me en-contrado. Na verdade, não foi bem assim. Eu fui pra São Paulo porque eu comecei a perceber que eu já tinha conquistado tudo aqui. Tinha um público bacana que me acompanhava, tinha uma cumplicidade dos intelectuais, das pessoas formadoras de opinião da cidade, eu tinha feito shows

in-críveis.

Então, eu cheguei no ponto que, bom, pelo menos as pessoas achavam isso: "Ou você sai daqui para tentar uma coisa maior ou então ... " Né? Foi muito no desafio e no impulso.

J u lia - É dessa questão de inquietude que eu falava mesmo ...

M o n a - Ah, tá certo! Exatamente. Ago-ra, no jornalismo não teve muito espaço pra essa transgressão, não. O jornalismo foi muito o trabalho pesado de redação, operá-ria. Escrever matéria, fechar jornal. O que eu tentava fazer era sempre um trabalho com toda excelência possível. Eu era uma edi-tora que lia todos os releases ( m a t e r ia is in -f o r m a t iv o s s o b r e e v e n t o s jo r n a lí s t ic o s ) que chegavam na minha mão, todos!

Eu ficava até altas horas da noite lendo os releases no "papelzinho", marcando com marcador de texto. Eu dava toda importân-cia. E também todo jornalista que chegava na redação pedindo uma chance para fazer um freelance ( t r a b a lh o r e m u n e r a d o s e m li-g a ç ã o c o m e m p r e s a s d e c o m u n ic a ç ã o ) , eu dava. Todos. Eu sempre nesse ponto era uma colega muito solidária.

O cara chegava querendo fazer um fre-elance, eu: "Ah,

aqui. Vá fazer essa ma-téria" e, se fosse um texto legal, aquilo ali ficava constante. Tinha esse lado legal. Mas

muito de operária mesmo, de trabalhar mui-to, até chegar um ponto de não aguentar mais redação.

T h e y s e - Já no que diz respeito à atuação

no campo da produção cultural: qual é a im-portância da Brazilbizz Music e como foi que surgiu a ideia de montar essa produtora?

M o n a - Surgiu de forma muito espontâ-nea porque hoje os artistas se auto produzem muito, né? Os artistas independentes foram quase que levados a ter de se autoprodu-zir e os meios tecnológicos ajudaram muito nisso, então você faz seu cartaz em casa, você faz o seu site, você grava em casa.

Eu lembro demais quando eu trabalhava no M e io e M e n s a g e m , que o Roberto Duaili-bi, da DPZ( " D P Z & T " , a g ê n c ia d e p u b lic id a d e p a u lis t a ) , numa entrevista pra mim ele falou assim: "Ah, no futuro você vai poder fazer a revolução na sua casa. Porque você fazia a revolução com mimeógrafo, mas você vai poder fazer com impressoras, vai poder fa-zer seu jornal em casa".

E eu fiquei com aquilo na cabeça. Que in-teressante, não tinha muita dimensão disso, hoje você pode fazer tudo se autoproduzin-do, tem muitos artistas que são verdadeiros empreendedores. Eu acho que, para o bem e para o mal, quem tem a vocação pra ser empreendedor, ótimo. Mas quem não tem fica perdido também. Então, o mercado se expandiu muito, isso facilitou muito.

Tem muita gente fazendo música, fazen-do arte, produzinfazen-do cultura. E foram surgin-do as produtoras culturais, e nos juntamos eu e a Maira Sales, quando ela produziu um show meu aqui no Dragão do Mar, que foi o lançamento do disco C e n a s

e

D r a m a s , que foi lindo, a Praça Verde ( e s p a ç o p e r t e n c e n t e

ao C e n t r o D r a g ã o d o M a r d e A r t e

e

C u lt u r a ( C D M A C ) ) lotada!

Foi muito bonito, foi uma ousadia dela. Eu morava em São Paulo e falei: "Maira, isso não vai dar certo, não. Como é que vai ser esse público na Praça Verde, cara? Te-nho público pra isso não. Faz muitos anos que eu saí de Fortaleza. T ô achando isso uma loucura".

Ela falou assim: "Não, mais eu vou" ( p r o -d u z ir o s h o w ) . A Maira é muito empreen-dedora, uma produtora muito movida pela paixão. Para o bem e para o mal também. Porque paixão às vezes é complicado ... Mas ela saiu, dizendo: "Vou conseguir chamada na Verdes Mares ( e m is s o r a d e t e le v is ã o c e a r e n s e , p e r t e n c e n t e ao S is t e m a V e r d e s M a r e s ) , vou botar no rádio!" E conseguiu. A gente na Verdes Mares, tinha um cara incrí-vel chamado Mansueto, Mansueto Barbosa, falecido. Ele abria as portas pra cultura, ele nos cedia chamadas gratuitas na emissora.

Referências

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