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O mito da caverna. Por Platão

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Academic year: 2021

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O mito da caverna

Por Platão

Dois dos mais importantes filósofos da era pré-socrática: Heráclito de Éfeso e Parmênides de Eléia, tinham concepções antagônicas a respeito da existência. E Platão, conclui que ambos estavam certos...

Heráclito viveu entre os séculos VI e V A.C ,tinha um caráter desconcentrado e um temperamento esquivo e desdenhoso. Escreveu um livro intitulado "Sobre a natureza", da qual chegaram até nós inúmeros fragmentos, talvez constituídos de uma série de aforismos e intencionalmente elaborado de modo obscuro e num estilo que recorda as sentenças oraculares, "para que dele se aproximassem somente aqueles que o podiam" e o vulgo se mantivesse distante. E o fez para evitar a depreciação e a desilusão daqueles que, lendo coisas aparentemente fáceis, acreditam estar entendendo aquilo que, no entanto, não entendem. Por isso foi denominado "Heráclito o Obscuro". A base da filosofia de Heráclito é que "tudo se move", "tudo escorre", nada é permanente, imóvel e fixo, tudo muda e se transforma , sem exceção: "Não se pode descer duas vezes o mesmo rio". É claro o sentido desse fragmento: O rio é "aparentemente" sempre o mesmo, mas "na realidade"

é constituído por águas sempre novas e diferentes, que sobrevêm e se dispersam. Por isso, não se pode descer duas vezes a mesma água do rio, precisamente porque ao descer pela segunda vez já se trata de outra água que sobreveio. E também porque, nós próprio mudamos: No momento em completamos uma imersão no rio, já nos tomamos diferentes de como éramos quando nos movemos para nele imergir. Por isto, tudo está destinado a caracteriza-se por uma contínua passagem de um contrário ao outro: As coisas frias esquentam, as quentes esfriam, o vivo morre, mas do que está morto, renasce outra vida... O perene correr de todas as coisas e o devir universal revelam-se como harmonia de contrários: "A doença torna doce a saúde, a fome torna doce a saciedade e o cansaço torna doce o repouso. Não se conheceria sequer o nome da justiça, se ela não fosse ofendida."

Embora não haja certeza absoluta, pensa-se que Parmênides nasceu em Eléia em 515 a. C., e tenha morrido a 450 a. C., nessa mesma cidade, onde viveu. Eléia era uma cidade grega situada na costa da Campânia, no sul da Itália. Da sua obra escrita, em forma de poema, restam-nos apenas 154

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fragmentos. Para além dela, só se tem conhecimento de um conjunto de leis, deixado aos cidadãos de Eléia, que os magistrados dessa cidade consideravam de grande valor. O ser é. O não-ser não é.Como Parmênides justifica esse seu grande princípio? A argumentação é muito simples, tudo aquilo que alguém pensa e diz; é. Não se pode pensar (e, portanto dizer) se não pensando (e, portanto dizendo) aquilo que é. Pensar o nada significa não dizer nada Por isso, o nada é impensável e indizível. Assim pensar e ser coincidem. Parmênides aponta para o principio de não-contradição, ou seja, afirma a impossibilidade e que os contrários coexistam ao mesmo tempo. E os dois contrários supremos são precisamente o "ser" e o "não ser": Havendo ser, é necessário que não haja o não-ser. O ser é imutável e imóvel, não tem um passado, pois o passado é aquilo que não é mais e não futuro porque o futuro é aquilo que ainda não é, sendo portanto um "presente" eterno, sem início nem fim.

Platão nasceu em Atenas, aproximadamente em 428 a.C, um ano após a morte do estadista ateniense Péricles. Era filho de Ariston e de Perictione. Seu nome verdadeiro era Aristoclés e Platão, na verdade, era seu apelido. Consta que sua mãe descendia de Sólon. Inicialmente, foi discípulo do filósofo Crátilo, que seguia o pensamento de Heráclito de Éfeso. Ainda em sua juventude, Platão encontrou Sócrates e a influência desse filósofo foi determinante para o conjunto do pensamento platônico. Após a morte do mestre, Platão começa a viajar. Vai a Mégara e ao sul da Itália, onde encontra o filósofo pitagórico Arquitas de Tarento. Vai também a Siracusa, na Sicília e ao norte da África.

É por esta época que começa a escrever seus primeiros diálogos. Em 387 a.C., funda em Atenas sua própria escola filosófica: a Academia. Dedica-se ao ensino por longo período até que, em 367 a.C., Platão parte para Siracusa com a esperança de lá implantar seus ideais políticos. Dionísio I, o tirano local havia morrido e com a sucessão de Dionísio II, havia chance para mudanças na política local. A viagem de Platão, contudo, foi inútil. Nenhuma mudança fora possível. Decepcionado, o filósofo retorna para Atenas. Em seus últimos anos, Platão continua a filosofar. Reconsidera e reelabora posições anteriores e se ocupa com novos problemas também. Sua última obra, as Leis, trata da preocupação fundamental de toda sua vida: a política. Seu mais famoso discípulo foi o filósofo Aristóteles.

Na juventude, Platão tinha uma característica mais socrática e na maturidade desenvolveu a sua própria concepção, conseguindo conciliar as diferenças "do ser" e "do ser não é".

Platão concluiu que Heráclito estava certo em considerar que nada é perfeito, bem como nada é permanente. Por sua vez, também concluiu que Parmênides também estava certo, quando afirmava que o ser é imutável e imóvel, pois o passado é aquilo que não é mais e o futuro porque o futuro é aquilo que ainda não é.

A concepção de Platão baseava-se na TEORIA DA REMINISCÊNCIA (Teoria da Lembrança).

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Platão divide a realidade em duas partes: MUNDO SENSÍVEL (percebido pelos sentidos físicos:

visão, audição, olfato, degustação e tato) e o MUNDO DAS IDÉIAS (plano metafísico). Passou a considerar a diferença e aco-existência do "É" e do "ESTAR SENDO". Para Platão, no mundo das idéias encontra-se a imutabilidade, o perfeito, o modelo ou seja, a VERDADE ABSOLUTA; já no mundo sensível, tudo muda e nada é perfeito dentro da máxima do "ESTAR SENDO", A VERDADE RELATIVA.

Para sua afirmação, Platão considera que haja essa relação, a existência da "alma", que nos trás a lembrança do MUNDO DAS IDÉIAS.

Para exemplificar esta concepção, Platão escreve no livro VII – República - , um diálogo entre Sócrates e GLAUCON ficou conhecido como o "Mito da Caverna"...

SÓCRATES - Figúrate agora o estado da natureza humana, em relação á ciência e à ignorância, sob a forma alegórica que passo a fazer. Imagina os homens encerrados em morada subterrânea e cavernosa que dá entrada livre à luz em tôda extensão. Aí, desde a infância, têm os homens o pescoço e as pernas presos de modo que permanecem imóveis e só vêem os objetos que lhes estão diante. Presos pelas cadeias, não podem voltar o rosto.

Atrás deles, a certa disância e altura, um fogo cuja luz os alumia; entre o fogo e os cativos imagina um caminho escarpado, ao longo do qual um pequeno muro parecido com os tabiques que os pelotiqueiros põem entre si e os espectadores para ocultar-lhes as molas dos bonecos maravilhosos que lhes exibem.

GLAUCON - Imagino tudo isso.

SÓCRATES - Supõem ainda homens que passam ao longo dêste muro, com figuras e objetos que se elevam acima dêle, figuras de homens e animais de tôda a espécie, talhados em pedra ou madeira. Entre os que carregam tais objetos, uns se entretêm em comversa, outros guardam em silêncio.

GLAUCON - Simgilar quadro e não menos singulares cativos!

SÓCRATES - Pois são nossa imagem perfeita. Mas, dize-me: assim colocados, poderão ver de si mesmos e de seus companheiros algo mais que as sombras projetadas, à claridade do fogo, na parede que lhes fica fronteira?

GLAUCON - Não, uma vez que são forçados a ter imóveis a cabeça durante toda a vida.

SÓCRATES - E dos obejetos que lhes ficam por detrás, poderão ver outra coisa que não as sombras?

GLAUCON - Não.

SÓCRATES - Ora, supondo-se que pudessem conversar, não te parece que, ao falar das sombras que vêem, lhes dariam os nomes que elas representam?

GLAUCON - Sem dúvida.

SÓRATES - E, se, no fundo da caverna, um eco lhes repetisse as palavras dos que passam, não julgariam certo que os sons fôssem articulados pelas sombras dos objetos?

GLAUCON - Claro que sim.

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SÓCRATES - Em suma, não creriam que houvesse nada de real e verdadeiro fora das figuras que desfilaram.

GLAUCON - Necessáriamente.

SÓCRATES - Vejamos agora o que aconteceria, se se livrassem a um tempo das cadeias e do êrro em que laboravam. Imaginemos um dêstes cativos desatado, obrigado a levantar-se de repente, a volver a cabeça, a andar, a olhar firmemente para a luz. Não poderia fazer tudo isso sem grande pena; a luz, sôbre ser-lhe dolorosa, o deslumbraria, impedindo-lhe de discernir os objetos cuja sombra antes via.

Que te parece agora que êle responderia a quem lhe dissesse que até então só havia visto fantasmas, porém que agora, mais perto da realidade e voltado para objetos mais reais, via com mais perfeição? Supõem agora que, apontando-lhe alguém as figuras que lhe desfilavam ante os olhos, o obrigasse a dizer o que eram. Não te parece que, na sua grande confusão, se persuadiria de que o que antes via era mais real e verdadeiro que os objetos ora contemplados?

GLAUCON - Sem dúvida nenhuma.

SÓCRATES - Obrigado a fitar o fogo, não desviaria os olhos doloridos para as sombras que poderia ver sem dor? Não as consideraria realmente mais visiveis que os objetos ora mostrados?

GLAUCON - Certamente.

SÓCRATES - Se o tirassem depois dali, fazendo-o subir pelo caminho áspero e escarpado, para só o liberar quando estivesse lá fora, à plena luz do sol, não é de crer que daria gritos lamentosos e brados de cólera? Chegando à luz do dia, olhos deslumbrados pelo esplendor ambiente, ser-lhe ia possível discernir os objetos que o comum dos homens têm por sêrem reais?

GLAUCON - A princípio nada veria.

SÓCRATES - Precisaria de algum tempo para se afazer à claridade da região superior.

Primeiramente, só dicerniria bem as sombras, depois, as imagens dos homens e outros sêres refletidos nas águas; finalmente erguendo os olhos para a lua e as estrelas, contemplaria mais facilmente os astros da noite que o pleno resplendor do dia.

GLAUCON - Não há dúvida.

SÓCRATES - Mas, ao cabo de tudo, estaria, decerto, em estado de ver o próprio sol, primeiro refletido na água e nos outros objetos, depois visto em si mesmo e no seu próprio lugar, tal qual é.

GLAUCON - Fora de dúvida.

SÓCRATES - Refletindo depois sôbre a natureza dêste astro, compreenderia que é o que produz as estações e o ano, o que tudo governa no mundo visível e, de certo modo, a causa de tudo o que êle e seus companheiros viam na caverna.

GLAUCON - É claro que gradualmente chegaria a tôdas essas conclusões.

SÓCRATES - Recordando-se então de sua primeira morada, de seus companheiros de escravidão e da idéia que lá se tinha da sabedoria, não se daria os parabéns pela mudança sofrida, lamentando ao mesmo tempo a sorte dos que lá ficaram?

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GLAUCON - Evidentemente.

SÓCRATES - Se na caverna houvesse elogios, honras e recompensas para quem melhor e mais prontamente distinguisse a sombra dos objetos, que se recordasse com mais precisão dos que precediam, seguiam ou marchavam juntos, sendo, por isso mesmo, o mais hábil em lhes predizer a aparição, cuidas que o homem de que falamos tivesse inveja dos que no cativeiro eram os mais poderosos e honrados? Não preferiria mil vêzes, como o heói de Homero, levar a vida de um pobre lavrador e sofrer tudo no mundo a voltar às primeiras ilusões e viver a vida que antes vivia?

GLAUCON - Não há dúvida de que suportaria tôda a espécie de sofrimentos de preferência a viver da maneira antiga.

SÓCRATES - Atenção ainda para êste ponto. Supõe que nosso homem volte ainda para a caverna e vá assentar-se em seu primitivo lugar. Nesta passagem súbita da pura luz à obscuridade, não lhe ficariam os olhos como submersos em trevas?

GLAUCON - Certamente.

SÓCRATES - Se, enquanto tivesse a vista confusa -- porque bastante tempo se passaria antes que os olhos se afizessem de novo à obscuridade -- tivesse êle de dar opnião sôbre as sombras e a este respeito entrasse em discução com os companheiros ainda presos em cadeias, não é certo que os faria rir? Não lhe diriam que, por ter subido à região superior, cegara, que não valera apena o esfôrço, e que assim, se alguém quisesse fazer com êles o mesmo e dar-lhes a liberdade, mereceria ser agarrado e morto?

GLAUCON - Por certo que o fariam.

SÓCRATES - Pois agora, meu caro GLAUCON, é só aplicar com tôda a exatidão esta imagem da caverna a tudo o que antes haviamos dito. O antro subterrâneo é o mundo visível. O fogo que o ilumia é a luz do sol. O cativo que sobe à região superior e a contempla é a alma que se eleva ao mundo inteligível. Ou, antes, já que o queres saber, é êste, pelo menos, o meu modo de pensar, que só Deus sabe se é verdadeiro. Quanto a mim, a coisa é como passo a dizer-te. Nos extremos limites do mundo inteligível está a idéia do bem, a qual só com muito esforço se pode conhecer, mas que, conhecida, se impõe à razão como causa universal de tudo o que é belo e bom, criadora da luz e do sol no mundo visível, autora da inteligência e da verdade no mundo invisível, e sôbre a qual, por isso mesmo, cumpre ter os olhos fixos para agir com sabedoria nos negócios particulares e públicos.

Resumindo, Platão conclui sobre os dois mundos:

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MUNDO VISÍVEL - SENSÍVEL FÍSICO

MUNDO INVISÍVEL - INSENSÍVEL METAFÍSICO

A sua geografia limita-se ao espaço sombrio da caverna

É todo universo fora da caverna, o espaço composto pelo ar e pela terra inteira

Caracteriza-se pela escuridão, é um mundo de sombras, de lusco-fusco, de imagens imprecisas (ídolos)

Dominado pela claridade exuberante de Hélio, o Sol que tudo ilumina com seus raios esplendorosos, permitindo a rápida identificação de tudo, alcançando- se assim a ciência (gnose) e o conhecimento

(episteme) Nele o homem se encontra encadeado,

constrangido a olhar só para a parede na sua frente, ficando com a mente embotada, preocupando-se apenas com as coisas mesquinhas do seu dia-a-dia

Plenitude do homem liberto da opressiva caverna, podendo investigar e inquirir tudo ao seu redor conhecendo enfim as formas perfeitas

Homem dominado pelas sensações e pelos sentidos mais primários

Homem orientado pela inteligência (nous) e pela razão (logos)

Em situação de desconhecimento e ignorância (agnosis)

Em condições de cultivar a sabedoria e a busca pela verdade e pelo ideal da junção do bem com o belo (kalogathia)

Condição em que se encontra o homem comum Condição do filósofo

Com votos de profunda paz nos seus pensamentos, irradiante alegria nos seus sentimentos e harmonia nas suas ações,

com prosperidade, força e minha benção.

THASHAMARA O eterno aprendiz.

Referências

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