Unidades de Conservação:
conceitos e práticas
Talita Góes Márcio da Silva Orlando Ferretti Yan Ewald Zechner
www.observa.ufsc.br
Uma advertência inicial...
Trata-se de uma temática interdisciplinar. Por isso a necessidade de:
busca bibliográfica mais apurada para aprimorar conteúdo;
compreensão da transformação espacial e da construção dos territórios;
entendimento e conhecimento sobre as paisagens;
reflexões sobre o atual modelo econômico hegemônico (suas estratégias, apropriações e discursos).
Por que estudar na geografia as Áreas Protegidas?
Por tratar-se de um território que contempla lugares e paisagens;
Por constituir-se de objetivos distintos dos espaços urbanos e rurais – destinados a preservação e conservação da natureza;
Por se constituir em novas estratégias e configurações espaciais;
Pela gama de conflitos;
Por fim, representam “novas” entidades espaciais
Elementos para uma metodologia - Por uma Geografia das Áreas Protegidas (AP)?
A lógica das AP não pertence só a geografia, no entanto é preciso abrir um debate pensando uma geografia das áreas protegidas, sejam essas UC, áreas indígenas, geoparques, APP, paisagens culturais etc...
Mesmo que a interface natureza e sociedade seja o debate principal, a estrutura espacial é condicionada por um determinado território, ou como aponta Milton Santos por um território dado.
Geografia nas UC
Estudo do Território - gestão participativa e (ou) compartilhada, conflitos, posse e administração (território);
Geografia física (elementos da paisagem);
Geografia Agrária – conflitos, posses e gestão;
Análise Ambiental sobre recursos naturais;
Biogeografia da Conservação;
Estudos sobre ecologia da paisagem;
Percepção espacial;
Lugar (identidades – Geografia Cultural);
Estudos do ambiente urbano E outros...
Modernidade e a proteção da natureza
É o projeto da Modernidade que efetua mudanças na relação sociedade/natureza: a natureza protegida;
Século XIX e as cidades poluídas (sociedade urbano/industrial);
A ideia de uma natureza intocada;
Separação completa entre sociedade e natureza.
Unidades de Conservação Modernas: Parque de Yellowstone, 1873, EUA.
A concepção de “wilderness” (vida natural/selvagem) nos EUA (DIEGUES, 1998).
Conservacionismo X Preservacionismo
Gifford Pinchot e a conservação dos “recursos”, e o uso racional (acreditava da transformação da natureza em mercadoria);
Henry David Thoreau e a filosofia da natureza;
John Muir e o preservacionismo (com perspectiva biocêntrica);
As ideias de Darwin (A origem das espécies,1859) e o
nascimento da ecologia (Ernest Haeckel, 1866) em apoio as ideias preservacionistas (BRITO, 2000)
Modelos de Unidades de Conservação
A hegemonia do modelo estadunidense;
Parques por todo o mundo exaltando a beleza cênica...
Proteção as comunidades tradicionais e o uso da natureza
Reserva Extrativista do “Ciriaco”, Maranhão
Avanços no século XX
O Ecologismo das décadas de 60 e 70 e a crítica as sociedades urbanos/industriais;
A visão antropocêntrica sobre as áreas protegidas;
Novas bases conceituais para as UC (ecologia social, ecologia das paisagens).
Proteção a Natureza no Brasil
Proteção ao Pau-Brasil no século XVII;
A criação do Jardim Botânico no Rio de Janeiro e da Floresta da Tijuca (inicio do séc. XIX);
André Rebouças (1833 a 1898) e a proposta de espaços protegidos legalmente;
O Parque Nacional de Itatiaia em 1937, após o Código Florestal de 1934 (o moderno no governo Getúlio Vargas)
IBDF 1967, SEMA 1973 e o IBAMA em 1989;
(GONÇALVES, 1996; DEAN, 1996).
Projeto RADAM (1975 a 1983) e a recomendação da criação de 35mil hectares de áreas em UC e mais
71mil hectares em áreas de uso sustentável (Sobretudo na Amazonia);
Corredores da biodiversidade (1992) e o primeiro projeto do SNUC;
Definição de áreas prioritárias para as UC;
Os avanços do SNUC (2000)
A criação do Instituto Chico Mendes (2006) Os Sistemas Estaduais.
Importância
A criação de espaços protegidos para a preservação e conservação do meio ambiente natural constitui a
principal estratégia para a manutenção in situ da diversidade biológica.
Conservação "in situ": proteção dirigida a espécies, variedades genéticas e habitats, na natureza estabelecimento e manutenção de Unidades de Conservação/ áreas
protegidas.
Conceito de Unidades de Conservação
Unidades de Conservação são espaços territoriais e seus recursos ambientais, incluindo as águas jurisdicionais, com características naturais relevantes, legalmente instituído pelo Poder Público, com objetivos de conservação e limites
definidos, sob regime especial de administração, ao qual se aplicam garantias adequadas de proteção;
O Sistema de Unidades de Conservação brasileiro reúne as categorias de manejo em dois grandes grupos: Proteção Integral e Uso Sustentável
A Lei N 9985 de 2000 instituiu o Sistema Nacional de Unidades de Conservação/SNUC.
Categorias
Grupo Proteção Integral
Reservas Biológicas (RB)
Parques Nacionais (Parques Estaduais; Parques Naturais Municipais) (Parna)
Estações Ecológicas (EC) Monumento Natural (MN)
Refúgio de Vida Silvestre (RVS)
Categorias
UC Domínio Desapropriação Visitação Pública Pesquisas
Científicas
Estação Ecológica
posse e domínio público
As áreas particulares incluídas em seus limites devem ser
desapropriadas
É proibido, exceto quando com objetivo educacional de
acordo com as normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da Unidade
Depende da autorização prévia do órgão
responsável
Reserva Biológica
Parque Nacional
Atividades turísticas, sujeita às normas e restrições estabelecidas no Plano de Manejo da Unidade,
às normas estabelecidas pelo órgão responsável pela
administração Monumento
Natural
Pode ser constituído por
áreas particulares
Havendo incompatibilidade entre os objetivos da área e as atividades privadas, as áreas
particulares devem ser desapropriadas
Refúgio de Vida Silvestre
Grupo de Uso Sustentável
Áreas de Proteção Ambiental (APA)
Áreas de Relevante Interesse Ecológico (ARIE) Florestas Nacionais (FLONAS)
Reservas Extrativistas (RESEX) Reserva de Fauna (RF)
Reserva de Desenvolvimento Sustentável.
Reservas Particulares de Patrimônio Natural (RPPN).
Categorias Domínio Desapropriação Observação Conselho Atividades
APA É constituída
por terras públicas ou
privadas
- -
Conselho presidido pelo órgão responsável por sua administração e constituído por representantes dos órgãos públicos, de organizações da sociedade civil e da
população residente
Devem ter normas e restrições estabelecidas quanto a utilização da propriedade
ARIE Conselho Consultivo
FLONA
É de posse e domínio públicos
áreas particulares devem ser desapropriadas
Permanência de populações tradicionais que habitam a unidade
Conselho Consultivo
São estabelecidas normas e restrições de uso no Plano de Manejo da unidade elaborado pelo órgão responsável por sua
administração
RESEX Conselho Deliberativo
RDS áreas particulares, quando
necessário, devem ser desapropriadas
Conselho Deliberativo
RF áreas particulares devem
ser desapropriadas - Conselho Consultivo A visitação pode ser permitida, desde que compatível com o
manejo da unidade
RPPN É uma área
privada - - -
Só poderá ser permitida, a pesquisa científica e a visitação
com objetivos turísticos, recreativos e educacionais
Zona de Amortecimento (ZA)
Entorno da UC (terras particulares) onde atividades humanas devem ser revistas e normatizadas para minimizar impactos negativos sobre a UC
Corredores Ecológicos (CE)
Porções naturais ou seminaturais ligando UC, que garantam conexão para fauna e flora
UC
Plano de Manejo
Documento fundamental que indica a Gestão da Unidade de Conservação.
Por lei (SNUC, 2000), uma UC tem até 5 anos após ser criada para fazer o Plano de Manejo.
E na Ilha de Santa Catarina...
As Unidades de Conservação tem uma área total de 101,42 km², representando 23,07% da área da Ilha de Santa Catarina (esta tem 426,6 km²).
Atualmente existem 15 Unidades de Conservação.
Se somarmos as áreas de APPs teremos quase 40%.
Planície Entre Mares
27 35' 27 30' 27 25'
27 40'
48 30' 750 48 25' 760
6950 6960 6970
6940
Sistema de Referência SIRGAS 2000 Base Cartográfica: IPUF/AEROCONSULT. B ase vetorial 1:2000 da Ilha de Santa Catarina . Florianópolis: Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis/Aeroconsult, 2007.
Base de dados: Carta de Zoneamento Natural, Carta de Unidades de Conservação.
Florianópolis: Instituto de Planejamento Urbano de Florianópolis, Aeroconsult, Viageo, Iguatemi, 2007.
NE
SO SE NO
Florianópolis BRASIL
BRASÍLIA
ESEC
UCAD UCAD
CONTINENTE
PMI
PANAMMC RPPNMD
ESEC
RPPNMA PANAMLJ
PAERV
PAEST APAEC
MONAMG
PMMC
PANAMDLC
PANAMLL PMLP RESEX
UC MUNICIPAL UC ESTADUAL
LEGENDA
UC FEDERAL
UCAD UFSC RPPN
APP MUNICIPAL
LAGOA/LAGUNA RIO
Lagoa Conceiçãoda
Lagoa do Peri
Rio Ratones
Maciço Central
Elaboração:Orlando Ferretti,2018
PROJEÇÃO UNIVERSAL TRANSVERSA DE MERCARTOR
0 1 2 3km
Oceano
Atlântico Baía
Norte
Baía Sul
Maciço Sul
Maciço Norte
6940
27 40' 27 35' 6950 27 30' 6960
6930
6930kmN 27 45'
27 50'
740 km E
48 35' 48 30' 750 48 25' 760
6930
6930kmN 27 45'
27 50'
ILHA DE SANTA CATARINA
20,00%
13,33%
53,33%
13,33%
Estaduais Federais Municipais Particulares
20,48%
23,17%
55,70%
0,65%
Estaduais Federais Municipais Particulares
O gráfico da esquerda traz o percentual de UC em superfície total (área) por diferentes tipos de gestores. O gráfico da direita destaca o percentual pelo número de UC e seus respectivos gestores.
Classe Mapeada
2010 Área (km²) % em relação à área total
Corpos d'água 26,00 6,00
Vegetação de
terras baixas 61,94 15,00
Vegetação de
encostas 177,47 42,00
Áreas inundáveis 12,68 3,00
Dunas e solo
exposto 10,23 2,00
Pastagens 58,98 14,00
Áreas urbanizadas 74,25 18,00
Total 421,55
geoprocessamento 100,00
Cobertura e uso da terra, dados em km² e percentual (Ferretti, 2013)
1986 1995 2010
64,3 50,49
61,94
43,58 51,58
74,29
147,83
164,2
177,47 Vegetação de Terras Baixas Áreas Urbanizadas Vegetação de Encostas
Cobertura e uso da terra, dados em km² (Ferretti, 2013)
Federais e RPPNs (sob fiscalização do ICMBIO).
Área
Km² Marco
Legal Plano de
Manejo Infra-
estrutura Gestão
Resex Pirajubaé 14,44 Dec. Fed
533/1992
ESEC Carijós 7,18 Dec. Fed
94659/87
RPPN Menino Deus 0,16 Por.IBAMA
85-N/1999 RPPN do Morro das Aranhas 0,441 43-N/1999
Estaduais Área
Km² Marco
Legal Plano de
Manejo Infra-
estrutura Gestão
Parque do Rio Vermelho 15,32 Dec. Est.
2006/1962 Parque da Serra do Tabuleiro 3,02 Lei Est.
14661/2009
APA do Entorno Costeiro 0,77 Lei Est.
14661/2009 Dec. Est.
3159/210
Municipais
(GESTÃO DEPUC) Área
Km² Marco
Legal Plano de
Manejo Infra-
estrutura Gestão Centralizada
Parque da Lagoa do Peri 20,3 Lei. Mun.
1828/1981 Dec. Mun.
091/1982 Parque Natural Municipal da
Lagoinha do Leste 9,19 Lei. Mun.
4701/1992 5500/2000.
10.388/2018 Monumento Natural Municipal da
Galheta 2,51 Lei.Mun.
3455/1992 Dec. Mun.
968/1994.
10.100/2016 Parque do Maciço da Costeira 14,53 Lei Mun.
4605/1995 Dec. Mun.
154/1995 Parque Natural Municipal das
Dunas da Lagoa da Conceição 7,06 Dec. Mun.
231/1988.
10.388/2018 Parque do Manguezal do Itacorubi 1,5 Dec. Mun.
1529/2002 Parque Natural Municipal da Lagoa
do Jacaré e Dunas do Santinho 2,21 Lei Mun.
9948/2016 Parque Natural Municipal do Morro
da Cruz 1,35 Lei. Mun.
6893/2005.
9321/2013.