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CONSELHO DE DISCIPLINA DA FEDERAÇÃO PORTUGUESA DE FUTEBOL. Duas épocas desportivas lidas pelo prisma disciplinar (2016/2017 e 2017/2018)

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Duas épocas desportivas lidas pelo prisma disciplinar (2016/2017 e 2017/2018)

O CONSELHEIRO JOÃO BELCHIOR

1. Faleceu no dia 17 de julho o nosso colega Conselheiro João Belchior, Vice-Presidente da Secção Profissional.

O Conselheiro João Belchior merecerá todas palavras daqueles que com ele privaram, mesmo em ambiente desportivo.

O Conselho de Disciplina, pelo seu lado, conservará bem viva a memória do Senhor Conselheiro João Belchior, como alguém que, nestes dois anos, fez parte de um projeto de inovação do exercício da função disciplinar desportiva.

Este relatório, melhor dizendo, os resulta- dos que ele apresenta, devem-se também ao seu esforço e competência técnica e, assim o encaramos, são ainda uma forma de o homenagear e honrar.

PRELIMINARES

2. Este relatório de atividades do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol – o décimo terceiro – assume uma dupla natureza.

Por um lado, ele cobre mais dois meses de trabalho do órgão – junho e julho de 20181 – mas, por outro lado, ele representa um balanço de duas épocas desportivas (2016/2017 e 2017/2018)2.

Julgou-se adequado, pois, no termo do segundo ano de mandato, precisamente a meio do mesmo, elaborar este exercício de recolha e concentração de dados, desde logo para conhecimento público da ativida- de deste órgão da Federação Portuguesa de Futebol.

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OS COMPROMISSOS DE UMA CANDIDATURA

3. Aquando da sua candidatura a Presidente da Federação Portuguesa de Futebol, o Dr.

Fernando Gomes estabeleceu um conjunto de compromissos ou, dito por outras pa- lavras, propôs-se cumprir um conjunto de objetivos3.

Aí (Credibilidade, transparência e integri- dade) estabelecem-se metas para a área da disciplina.

Vejamos o nível de cumprimento dos mes- mos nesta muito específica área.

4. Compromisso 18 | Formação do CD junto de árbitros e delegados

O Conselho de Disciplina realizará, até final de 2016, quatro ações de formação junto dos árbitros e delegados ao jogo.

Através do seu Presidente, o Conselho de Disciplina esteve presente nas seguintes ações de formação de agentes de arbitra- gem e de delegados:

› 23 de julho de 2016 (Delegados da LPFP)

› 28 de julho de 2016 (Agentes de arbitragem das competições desportivas profissionais)

› 26 de agosto de 2016 (Agentes de arbi- tragem das competições desportivas não

profissionais e agentes de arbitragem das competições desportivas de futsal)

› 18 de setembro de 2016 (Agentes de ar- bitragem das competições desportivas de futsal)

› 30 de setembro de 2016 (Delegados da FPF)

› 15 de julho de 2017 (Delegados da LPFP)

› 27 de julho de 2017 (Agentes de arbitragem das competições desportivas profissionais)

› 30 de agosto de 2017 (Agentes de arbi- tragem das competições desportivas profis- sionais)

Assim, logo em 2016, foi cumprido o desíg- nio deste compromisso.

Todavia, despois dessa data limite, como se dá conta, continuou-se4 no mesmo trilho.

E a disponibilidade é total para essa fina- lidade formativa desses dois fundamentais tipos de agentes desportivos para o regular exercício da função disciplinar, assim o en- tendam as estruturas responsáveis.

5. Compromisso 19 |Revisão do Regulamen- to Disciplinar

Apresentar, até final de 2016, uma revisão cuidada do Regulamento Disciplinar das competições desportivas não profissionais, de forma a alcançar nova resposta para a época desportiva 2017/2018. Apresentar às sociedades desportivas, que participam

1 Compromissos 2016/2020. Os compromissos, bem como o seu nível de cumprimento, encontram-se disponíveis em http://

www.fpf.pt/Institucional/Compromissos/Compromissos-2016-2020.

2 De tal foi-se dando conta nos relatórios de atividades do Conselho de Disciplina.

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nas competições profissionais, no respeito das competências da Federação Portuguesa de Futebol e da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, propostas de alteração ao regulamento disciplinar aplicável a essas competições. Não se coloca de parte a exis- tência de um único Regulamento.

Não tendo o Conselho de Disciplina, e muito menos o seu Presidente, qualquer com- petência, estatutária ou regulamentar, na aprovação das normas regulamentares que tem o dever de aplicar, a qual radica na Di- reção da Federação Portuguesa de Futebol (competições desportivas não profissionais) e na Assembleia Geral da LPFP (competições organizadas pela LPFP), tal não impede (nem impediu) o empenhamento possível nessa atividade.

6. No que concerne ao Regulamento Disci- plinar da Federação Portuguesa de Futebol, a Direção da FPF nomeou uma Comissão de Revisão, presidida pelo Professor Dou- tor Germano Marques da Silva, integrando ainda o Dr. Tito Crespo, membro da Secção Não Profissional do Conselho de Disciplina e o Mestre Henrique Rodrigues, na altura instrutor disciplinar da FPF.

Os trabalhos da Comissão – que se inicia- ram a 16 de dezembro de 2016 – levaram à

apresentação de um primeiro Anteprojeto a 10 de abril de 2017.

Esse texto, até 26 de abril, recebeu as observações, críticas e propostas dos di- versos departamentos da FPF. Tal permitiu alcançar um Projeto que, no dia 29 de maio, foi colocado em audição pública até 16 de junho de 2017. Alcançou-se assim, uma assinalável reforma deste regulamento, rompendo, em múltiplos aspetos, com um registo de décadas.

Este ano, o (agora) assessor do Conselho de Disciplina, Mestre Henrique Rodrigues, veio a elaborar um texto de reforma pontual do Regulamento Disciplinar da Federação Portuguesa de Futebol, o qual, a 21 de maio de 2018, foi enviado aos membros do Conselho de Disciplina, para recolha de ob- servações e, no fundamental, aos diversos departamentos federativos com especial interesse no tema.

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e coerência de normas, da sua interpretação e aplicação, que só poderia trazer benefí- cios para todos os agentes e organizações desportivas envolvidos, ficando todo o universo desportivo do futebol conhecedor de soluções únicas, embora com registo de especificidades, e não, como sucede há mui- to, sujeito a respostas diferenciadas para as mesmas condutas consoante o tipo de competição em que ocorram.

Nesta perspetiva pessoal, o signatário per- mite-se propor a criação de um grupo de tra- balho que integrasse representantes da FPF, LPFP e das associações de futebol, tendo por mandato estudar a viabilidade desse projeto de regulamentação disciplinar única.

Este desiderato é algo que, pelo menos, deve ser estudado.

9. Compromisso 20 | Encurtar prazos pro- cessuais

Obter respostas processuais propiciadoras de uma maior celeridade, desde logo encur- tando os prazos processuais sem colocar em causa as garantias de defesa no Conselho de Disciplina.

Este objetivo não passa, em primeira linha, pela atividade do Conselho de Disciplina.

Com efeito, como bem se compreenderá, 7. No que respeita ao Regulamento Disci-

plinar das 3 competições organizadas pela Liga Portuguesa de Futebol Profissional, para a época desportiva 2017/2018, tive a oportunidade de a solicitação do Presidente dessa organização desportiva, elaborar um texto que refletia somente algumas observações derivadas de quase uma época desportiva de competições.

Tal texto, foi enviado a 4 de maio de 2017.

O mesmo veio a suceder para a época des- portiva 2018/2019.

Assim, a solicitação do Senhor Presidente da Liga Portuguesa de Futebol Profissional, foi endereçada, no passado dia 23 de abril, à Direção da LPFP, um con junto de ob- servações sobre mais um ano de aplicação do regulamento disciplinar das competições organizadas por essa entidade.

8. A título estritamente pessoal continuamos a pensar que o futebol português, respeita- das as competências legais e regulamentares, viveria melhor com um único registo disci- plinar que se projetasse nas competições nacionais não profissionais, nas competições nacionais profissionais e nas competições organizadas pelas associações de futebol.

Tal registo único, devendo respeitar as espe- cificidades desses três níveis competitivos, possibilitaria a obtenção de uma harmonia

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será o «legislador» dos regulamentos dis- ciplinares – a Assembleia Geral da LPFP e a Direção da FPF – que detém uma importante dose de responsabilidade neste âmbito.

São as soluções alcançadas nos normativos disciplinares que ditarão (ou não) o encurta- mento dos prazos.

10. Um exemplo demonstra como se ganha ou perde tempo no proceder disciplinar.

No Regulamento Disciplinar da LPFP, apli- cável na época 2016/2017, o artigo 287.º (Formas de recurso) previa as hipóteses de recurso para o Pleno da Secção Profissional nos seguintes termos:

1. Salvo disposição regulamentar expressa em contrário, as decisões proferidas pela Secção Disciplinar, em pleno ou em formação colegial, são impugnáveis apenas por via de recurso para o Conselho de Justiça nos termos regulados pelos artigos seguintes. (destacámos)

2. Os atos materialmente administrativos pro- feridos singularmente pelos membros da Secção Disciplinar são impugnáveis apenas por via de recurso para o pleno da Secção.

3. O recurso para o plenário do Conselho de Justiça relativo aos atos proferidos singularmente pelos respetivos membros regula-se nos termos do respetivo regimento interno.

Todavia, a norma foi alterada no Regulamen- to Disciplinar, aplicável na época 2017/2018, mantendo-se na presente época:

1. As decisões finais proferidas pela Secção Profis- sional do Conselho de Disciplina da FPF, em pleno, são impugnáveis apenas por via de recurso para o Tribunal Arbitral do Desporto.

2. Sem embargo do disposto no número anterior do presente artigo, as decisões finais proferidas pela Secção Profissional do Conselho de Disciplina da FPF, em pleno, respeitantes a matérias estrita- mente desportivas são apenas impugnáveis por via de recurso para o Conselho de Justiça.

3. As decisões proferidas singularmente pelos membros da Secção Profissional do Conselho de Disciplina ou em formação restrita, são impugná- veis apenas por via de recurso para o Pleno da Secção, nos termos regulados neste Regulamento (destacámos).

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Tal modo de proceder inciou-se logo na época 2016/2017 e manteve-se durante toda época 2017/2018. Seguir-se-á o mes- mo caminho em 2018/2019.

12. Por outro lado, na sequência de proces- sos sumários – decisões tomadas no final de cada jornada –, havendo recurso de sanção que determine a suspensão de atividade de agente desportivo (por exemplo, jogador ou treinador), tudo se tem feito para que o recurso seja decidido de molde a alcan- çar eventual efeito útil para os arguidos.

Por exemplo, em caso de decisão sumária de suspensão de dois jogos, a decisão em recurso é alcançada, no mínimo, de forma a que ainda seja abstratamente possível o jogador participar no segundo jogo, caso venha a ser absolvido ou a sanção se esta- beleça em apenas um jogo de suspensão5. Ainda outro exemplo localiza-se no tempo regra estabelecido pelo Conselho para as decisões no âmbito da Secção Profissional.

Contando mesmo com a complexidade de alguns processo disciplinares, a Secção Pro- fissional estabeleceu como sua orientação alcançar decisão definitiva no espaço de 15 dias após o processo lhe ser endereçado ou, em caso de audiências disciplinares, após a sua realização.

Não se vê, pois, como se pode ser mais céle- re a decidir processo disciplinares comuns.

Isto é, enquanto no passado no âmbito dos processos disciplinares comuns da decisão alcançada por uma formação restrita de três membros do Conselho de Disciplina, pre- sentes na audiência disciplinar, o recurso era direto para o Conselho de Justiça, desde a época passada há que percorrer ainda um passo intermédio, um recurso para o Pleno da Secção para alcançar o Conselho de Jus- tiça ou o Tribunal Arbitral do Desporto.

Tal conduz, lógica e necessariamente e por via de regra, a um acréscimo de 15 dias na obten- ção da decisão final do Conselho de Disciplina.

11. Todavia, o atuar do Conselho, dentro dos parâmetros que lhe estabelecem as normas, no seu agir concreto, tem presente essa busca de encurtamento de prazos, não se fazendo rogado a esforços suplementa- res que sejam necessários.

Limitado no agir pelas normas disciplinares, a sua praxis não deixa de ter em mente esse valor processual.

O Conselho de Disciplina tem dado bons exemplos de celeridade.

Assim, de forma totalmente inédita, e por sua iniciativa, alcança decisões sumárias de jogos disputados a meio da semana, no final dessa jornada, possiblitando a sua projecção disciplinar, caso exista, na nova jornada ou jogos de outra competição no fim de semana seguinte.

5 Ver exemplos constantes no 4.º relatório (1 de dezembro de 2016 a 31 de janeiro de 2017) e no 5.º relatório (1 de fevereiro a 31 de março de 2017).

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13. Compromisso 21 | Divulgação de decisões Publicitar na página da Federação Portugue- sa Futebol todas as decisões do Conselho de Disciplina.

Seguindo regra clara, as decisões do Con- selho de Disciplina são publicitadas, na íntegra, uma semana após a sua prolação, ficando assim sujeitas ao escrutínio público de todos os operadores do futebol.

Mas foi-se bem mais longe.

14. Ainda antes do final de 2016 o Conselho de Disciplina ganhou espaço autónomo na página da FPF visando um melhor acesso às suas decisões, mas ainda aos textos deter- minantes da sua ação6.

Por outro lado, no Verão de 2017, procuran- do um melhor conhecimento das decisões do Conselho de Disciplina, foram elabora- dos dois documentos em que se reúnem os sumários, os descritores e outros elementos dos acórdãos. Tais documentos, inseridos na página da FPF, foram divulgados por todos os sócios ordinários da FPF.

15. Compromisso 22 |Acompanhamento dos processos

Publicitar na página da FPF, tendo presente a natureza secreta do processo disciplinar, todas as informações sobre o estado (fase

em que se encontra) do processo, incluindo a data de autuação.

Medida verdadeiramente inédita, veio a ser iniciada, na Secção Profissional, a 3 de agos- to de 2017 e na Secção Não Profissional a 11 de outubro seguinte.

Assim, desde essas datas, todas as semanas, são publicados mapas contendo informação – por procedimento disciplinar e processo – relativa aos seguintes aspetos: n.º do pro- cesso, tipo de arguido (agente desportivo, clube ou sociedade desportiva), data de instauração do procedimento, data do en- vio à Comissão de Instrução Disciplinar da FPF ou à Comissão de Instrutores da LPFP, data de conclusão ao relator para acórdão, objeto, tipo de recorrente, data da decisão recorrida e situação processual.

Os dados são atualizados todas as quartas- -feiras, quanto à Secção Não Profissional, e às quintas-feiras, no que respeita à Secção Profissional.

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O Conselho de Disciplina, nesta segunda metade do seu mandato permanecerá fiel ao trajeto até agora percorrido e, sendo possível, procurará ir mais além na senda de uma disciplina desportiva que no âmbito do futebol deixe uma marca de água de um pensar e agir totalmente dedicado a fazer cumprir as normas regulamentadoras das competições e os seus valores maiores.

Julga-se que, sem falsas modéstias, nem receio das palavras, o presente Relatório espelha fielmente algo de muito diferente de outros passados disciplinares.

Às palavras gastas – transparência, isen- ção, imparcialidade, igualdade –, que são referências discursivas habituais e ficam bem, preferimos os dados constantes deste Relatório e dos 12 anteriores.

16. Compromisso 23 | Atividade do Conse- lho de Disciplina

Monitorizar a atividade do Conselho de Disciplina, oferecendo informação, entre outros aspetos, sobre o número de processo decididos e prazos de decisão.

Essa é, em parte, a função dos relatórios do Conselho que cobrem cada dois meses da sua atividade.

Neste – o 13.º – vamos mais longe, como se verá adiante, ensaiando uma primeira apro- ximação qualitativa aos tempos de decisão.

17. O Compromisso de sempre

Do atrás exposto resulta à saciedade, que foram cumpridos – por vezes há tempo já distanciado – os compromissos assinalados no Programa de candidatura do Dr. Fernan- do Gomes.

Mas se tal é naturalmente positivo, desde logo, para uma leitura dir-se-ia política e de avaliação do agir da Federação Portuguesa de Futebol, sendo indubitável o investi- mento dessa entidade na alteração do estar disciplinar, verdade é ainda que a dinâmica e a forma de atuar do Conselho de Discipli- na não se esgotou – nem se esgota – nesse registo factual.

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Um olhar geral sob Conselho de Disciplina

UMA AÇÃO DISCIPLINAR TOTAL

18. A lei portuguesa, em concreto a Lei n.º 5/2007, de 16 de janeiro (Lei de Bases da Atividade Física e do Desporto) e o regime jurídico das federações desportivas e do estatuto de utilidade pública desportiva, Decreto-Lei n.º 248-B/2008, de 31 de de- zembro , enquadram o exercício do poder disciplinar federativo de uma forma signi- ficativa.

Por ora, julga-se útil enfatizar o que dispõe no artigo 54.º, n.º 1, do último registo nor- mativo que elencámos .

Sob a epígrafe Âmbito do poder disciplinar, aí se dispõe:

No âmbito desportivo, o poder disciplinar das federações desportivas exerce-se sobre os clubes, dirigentes, praticantes, treinadores, técnicos, ár- bitros, juízes e, em geral, sobre todos os agentes desportivos que desenvolvam a atividade despor- tiva compreendida no seu objeto estatutário, nos termos do respetivo regime disciplinar.

Esta abrangente definição de âmbito subje- tivo permite constatar, com facilidade, que a ação do Conselho de Disciplina, aliás em conformidade com o previsto nos dois regu- lamentos disciplinares, vai bem para além do que por vezes o amante de futebol julga.

Só para oferecer um exemplo, os agentes de arbitragem e os delegados ao jogo, nomea- dos pela FPF e pela LPFP, cujas declarações e relatórios representam muito do agir dis- ciplinar, até pela presunção de veracidade que os caracteriza, igualmente podem ser sancionados pelo Conselho de Disciplina, não obstante, ou mesmo por causa disso, o seu muito importante e específico papel no âmbito disciplinar, particularmente no relatar de ocorrências nos diversos jogos.

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Secção Não Profissional

Na época 2017/2018, 17 agentes de arbitra- gem foram sancionados no âmbito de proces- so sumário por elaborarem o relatório de jogo em violação das normas regulamentares, nos termos do artigo 181.º, n.º 1 do Regulamento Disciplinar. A mesma norma foi aplicada em processo disciplinar em três ocasiões.

Ainda com base na mesma norma, mas agora o seu número 2, relativo à ausência de envio de relatório de jogo oficial à FPF no prazo regulamentar (24h), foram san- cionados, em processo sumário, 7 agentes de arbitragem, 6 pela prática da primeira infração da época desportiva (al. a) e 1 pela segunda infração da época desportiva (al.

b). Em processo disciplinar apenas 1 agente de arbitragem foi sancionado pela primeira infração de ausência de envio de relatório de jogo oficial à FPF no prazo regulamentar.

20. Já quando a delegados ao jogo da LPFP foram instaurados 6 processos de inquérito, dois quais 2 foram convolados em processo disciplinar, e 6 processos disciplinares con- tra 11 arguidos.

Dos processos disciplinares resultou o san- cionamento de quatro delegados da LPFP por incumprimento de deveres (artigo 204.º do RDLPFP), por violação do dever consagrado 19. Daí que não se estranhe o número de

procedimentos disciplinares que na época desportiva 2017/2018, tiveram por refe- rência esses agentes desportivos.

No que respeita aos agentes de arbitragem é possível adiantar os seguintes dados10:

Secção Profissional

Um agente de arbitragem foi sancionado por comportamento incorreto nos termos do artigo 198.º do RDLPFP no âmbito de processo sumário.

Por incumprimento de deveres, foram instaurados 9 processos de inquérito, dos quais 6 foram convolados em processo disciplinar tendo sido instaurados mais 1 processo disciplinar (total de 25 arguidos).

Dos processos disciplinares resultou a apli- cação de 6 sanções de repreensão a agentes de arbitragem, nos termos do artigo 204.º do RDLPFP, por violação dos deveres pre- vistos nas alíneas f) e g) do n.º 2 do artigo 10.º do RA LPFP e na Lei 06) das Leis do Jogo 2017-2018 – IFAB, uma vez que não reportaram os comportamentos incorretos de treinadores adjuntos durante o jogo, especialmente quando estes violam as nor- mas que disciplinam as respetivas funções no banco.

10 Para que se tenha bem presente o ambiente em que as decisões disciplinares são tomadas, particularmente visando obstar ao discurso recorrente, na realidade comunicacional, de cumplicidades e opacidades, dê-se conta da localização física, na Cidade do Futebol, que entre o gabinete do Presidente do Conselho de Disciplina e o do Presidente do Conselho de Arbitragem, no mesmo andar, permeiam duas salas, sendo inevitáveis os encontros diários. Tal não constituiu, nem nunca constituirá, obstáculo a que o Conselho de Disciplina exerça, como entender ser adequado e regulamentarmente imposto, o seu poder disciplinar. E, se nos é permitido, louve-se ainda a postura do Presidente do Conselho de Arbitragem, de total respeito por esse agir.

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na al. i) do n.º 2 do artigo 65.º do RCLPFP2017 que dita: “elaborar e remeter à Liga um rela- tório circunstanciado de todas as ocorrências relativas ao normal decurso do jogo, incluin- do quaisquer comportamentos dos agentes desportivos findo o jogo, na flash interview”.

21. A leitura do Conselho de Disciplina – e não pode ser outra – é a de que, encontran- do-se previstos deveres a cumprir, infrações disciplinares e sanções passíveis de aplicar, tudo inscrito nos regulamentos da FPF e da LPFP, o órgão não pode deixar de atuar, em nome do poder disciplinar de natureza pública que titula, mas ainda, permita-se aditar, dos valores da igualdade e verdade nas competições desportivas e mesmo da normal desenrolar destas.

22. Por outro lado, o Conselho de Disciplina, nas suas duas secções, potencia situações custosas para os próprios organizadores das competições.

Ora, mesmo que assim seja – e já sucedeu –, este órgão tem primado por decidir exclusi- vamente baseado na sua interpretação das normas legais e regulamentares que se lhe impõem.

Nada mais do que isso, mas também nada menos do que isso.

CIFRAS NEGRAS?

23. Tendo isto presente aproximemo-nos agora, secção a secção, dos dados recolhidos no Anexo I, quanto aos processos instaura- dos pelo Conselho.

Comecemos pela Secção Não Profissional e nessa no tipo de processo paradigmático, ou seja, o processo disciplinar comum.

Se é já possível visionar um crescendo de 14/15 (67) para 15/16 (97), a verdade é que o salto mais impressivo se dá com a entrada em exercício deste Conselho.

Com efeito, o número alcançado em 16/17 (212) representa um aumento de 216 % (mais que triplicou) no que se refere a 14/15 e de 119% (mais do que duplicou) no que respeita a 15/16.

Dir-se-á, o que até se aceita em muito cautelosa medida, que esse exponencial aumento se prendeu com algum incremento de situações com relevo disciplinar.

Mas a existir essa razão, a mesma não pode explicar uma fatia bem alargada de proces- sos instaurados.

Por outro lado, a razão do decréscimo em 27%, de 16/17 para a época passada, pren-

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de inquérito, tendo por base as mesmas referências temporais. Em 15/16 o seu número quedou-se por 23, tendo baixado significativamente em 16/17. Contudo, ao atingir os 38 processos de inquérito em 17/18, tal número representa um acréscimo de 153% relativamente ao ano passado e de 65% no que respeita a 15/16.

Sobre a constante subida de recursos hie- rárquicos impróprios – os 86 de 17/18, significam um acréscimo de 83% relativa- mente ao ano anterior e de 406% quanto a 15/16 e ainda de 682% no que respeita a 14/15 – assinalaremos, em local próprio, as razões fundamentais que militam para tais números.

Diga-se, por fim, o que realmente não é de somenos, qua nas épocas 14/15 e 15/16, a competência para a instauração de procedi- mentos disciplinares, que levou a tais nú- meros, era concorrencial entre o Conselho de Disciplina e a então Comissão de Instru- ção e Inquéritos da LPFP, ou seja, os dois órgãos poderiam, por sua própria iniciativa, instaurar tais procedimentos.

Ora esse enquadramento legal mudou radi- calmente, pois, como é sabido, desde a épo- ca 2016/2017, a primeira deste conselho, só este órgão exerce essa competência. Tra- ta-se, pois, de uma competência exclusiva.

de-se em muito com as alterações regula- mentares introduzidas no Regulamento de Disciplina da FPF que levaram a que muitos casos, antes a determinarem a instauração de processo disciplinar, viessem a ser deci- didos em processo sumário.

24. Julga-se que vale para a Secção Profis- sional o mesmo tipo de considerações em- bora aqui, em 17/18, não se tenha registado qualquer diminuição de processos.

Convém, neste universo, olhar para os processos disciplinares comuns, para os processos de inquérito e para os recursos hierárquicos impróprios.

Se olharmos para os processos disciplinares, constata-se, novamente, que ocorreu um salto bem significativo aquando da entrada em exercício de funções deste Conselho.

Assim, de 15/16 para 16/17 houve um au- mento de 60%.

Esse aumento ganha maior expressão na época finda.

De 15/16 para 17/18 a percentagem de processos instaurados foi de 79%.

Por outro lado, da época 2016/2017 para a transata esse acréscimo cifrou-se em 12%.

O mesmo «salto» regista-se nos processos

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Os resultados alcançados ganham, também por esta via, como é bom de ver, um signifi- cado muito marcante.

DUAS SECÇÕES, DUAS REALIDADES

25. Mas a mesma forma de atuar.

Como é sabido – não tanto quanto é devido – o Conselho de Disciplina funciona em duas secções especializadas.

Uma, a Secção Não Profissional cobre o uni- verso das competições desportivas organi- zadas pela Federação Portuguesa de Futebol, cujo número se situa, para 2018/2019, em 35 o que redunda numa previsão de 8210 jogos.

Por seu turno, à Secção Profissional compete o exercício da função disciplinar em apenas 3 competições, as organizadas pela LPFP, o que resulta em cerca de 730 jogos por época desportiva, isto é, menos de 10% do registo das competições não profissionais.

Nem que seja apenas com base na lógica do número de jogos a merecerem atenção no domínio disciplinar, o espaço de inter- venção da Secção Não Profissional é, pois, significativamente mais abrangente.

26. Existe, de uma forma muito impressiva, um desconhecimento generalizado, na opi-

nião pública, da totalidade do trabalho do Conselho de Disciplina.

Fruto de variadíssimas circunstâncias – mas com um papel muito importante da comuni- cação social –, no dia a dia, quem diz Con- selho de Disciplina, diz sanções e “castigos”, suspensões, todas referidas à I liga, II liga e Taça da Liga.

Ora, como é bom de ver, seríamos tentados a afirmar que essa fatia – sem dúvida deveras importante – é, contudo, um minus perante a imensidão de todo o outro futebol, fut- sal, futebol de praia, seniores, camadas de formação, feminino e masculino (e também misto).

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UM PRESIDENTE EM REGIME PROFISSIO- NAL OU UM CONSELHO DE DISCIPLINA PROFISSIONAL?

28. É bom relembrar que só o Presidente do Conselho de Disciplina exerce funções a título profissional.

Os membros do Conselho de Disciplina, independentemente da secção onde se integrem, não exercem as suas funções em regime profissional.

Todos eles são advogados e uma colega é docente universitária13.

Apenas um dos 12 colegas tem domicílio em Lisboa e um outro trabalha regularmente em Lisboa.

Dez deslocam-se paras as reuniões de ter- ça-feira e sexta-feira, praticamente todas as 52 semanas do ano, de outras cidades como Bragança, Viana do Castelo, Braga, Porto, Coimbra, Leiria e Setúbal.

Ou seja, e independentemente do compro- misso que assumiram com a Federação Por- tuguesa de Futebol, por via do ato eleitoral, a verdade é que se dedicam de forma bem impressiva ao exercício da função discipli- nar no futebol.

27. Esta realidade, como se retira com facilidade do Anexo III, gera tempos dife- rentes de decisão processual. O número de processos é bem mais elevado na Secção Não Profissional gerando uma distribuição mais pesada aos membros da Secção Não Profissional.

Embora o desígnio de resposta célere seja o mesmo, a realidade dificilmente se com- padece.

Daí que, em novo exemplo de encurtamen- to de prazos da responsabilidade total do Conselho, que não das normas disciplinares, o presidente jogue mão, com frequência do disposto no artigo 18.º, n.º 412, do Regimen- to do Conselho de Disciplina, ponderando o estado da pendência em cada relator, a ur- gência do processo, os seus eventuais efei- tos, para ultrapassar possíveis bloqueios temporais.

Contudo, a mesma possibilidade é usada na distribuição de processos na secção profis- sional.

Dos colegas têm-se recebido total dispo- nibilidade para assumirem encargos que, segundo a regra geral, caberiam a outros, desta forma possibilitando mais decisões em tempo mais adequado.

12 A regra na distribuição de processo para relato, por parte dos membros do Conselho, é que a mesma seja efetuada por espécie, de acordo com escala ordenada alfabeticamente (nº 2).

Dispõe o referido nº 4:

“O Presidente pode, designadamente, quando o regular funcionamento das competições ou do Conselho de Disciplina assim o imponha, ou por razões de urgência da causa, ou por qualquer outra de superior interesse desportivo, através de despacho fundamentado, ordenar a distribuição ou redistribuição de processo a membro diferente do que resultaria da escala prevista nos números 2 e 3, sem que tal altere a ordem de distribuição de processos”.

13 O nosso colega Conselheiro João Belchior era magistrado jubilado.

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São eles que relatam os acórdãos, os de- batem durante a semana até à reunião plenária, procedem às audiências, ouvem testemunhas, impulsionam diligências vá- rias, entre tantas outras tarefas.

Os membros do Conselho exercem, pois, a função disciplinar em acumulação com a sua vida profissional, qualquer que ela seja.

E tal facto, como é bom de ver, não pode dei- xar de significar – em face dos resultados que se apresentam – muito empenho e dedicação.

Não sendo profissionais, a exigência do seu trabalho é, não há exagero nas palavras, diária.

29. Tudo mudou, pois, com este Conselho de Disciplina.

Há como um atuar sob o jugo do presidente profissional, o qual, no rigor das palavras e dos atos, exerce – também diariamente – uma atividade de acompanhamento proces- sual, de coordenação e de constante alerta para o estado dos diversos processos.

Se a profissionalização da figura do presi- dente trouxe algo de muito positivo para a disciplina desportiva, foi, perdoe-se a ex- pressão, um polícia sinaleiro do agir global do Conselho de Disciplina.

E a verdade é, reafirme-se, que os membros do Conselho estiveram à altura das novas

“regras de trânsito”.

30. A formação inicial da equipa do Conse- lho, na Secção Não Profissional e na Secção Profissional, viu-se substancialmente alte- rada nestes dois anos.

Na Secção Não Profissional renunciaram ao mandato 3 colegas e dois suplentes. Já na Secção Profissional registaram-se duas re- núncias de membros efetivos e de um outro suplente.

No primeiro caso, houve necessidade de um ato eleitoral intercalar. O mesmo sucederá, em outubro, quanto à Secção Profissional, mas agora devido ao falecimento do nosso colega João Belchior e ao esgotar dos suplentes.

Para os colegas que saíram do Conselho de Disciplina não pode deixar de ficar registada uma palavra pela sua participação neste pro- jeto comum. Razões pessoais e profissionais, levaram a entender – e louve-se a lucidez e honestidade –, que não dispunham da dispo- nibilidade necessária a um cabal exercício de funções neste exigente órgão.

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processos disciplinares. A sua elevada qua- lidade técnica, a entrega total à análise das variadíssimas questões jurídicas e práticas e a sua indiscutível disponibilidade, condu- ziram à essencialidade das suas funções.

Por último, o Rui Magalhães, o nosso apoio administrativo, vivendo na exigência das metas temporais, dotado de incansável empenho, sempre indo para além do que seria adequado exigir em termos laborais comuns.

O Conselho de Disciplina da Federação Portu- guesa, e com ele os organizadores das com- petições de futebol, muito devem a este trio.

E é bom – e justo – que se dê disso nota pública.

32. O papel do Presidente do Conselho, já atrás indiciado, se se vê muito facilitado por toda uma equipa coesa, determinada e querendo fazer sempre mais, melhor e mais depressa, não é, por outro lado, que me seja perdoada a afirmação, um passeio diário à Cidade do Futebol.

Já o afirmámos , todo o período já decorrido, caracterizou-se, no essencial, por uma dupla realidade e, logicamente, dupla atenção.

Por um lado, fazer face à dinâmica disciplinar de todas as competições desportivas organi- E, enfatize-se, sempre foi assim, neste

Con¬selho de Disciplina.

Daí que, sem sobressaltos, com toda a na¬- turalidade, tendo como único fio condutor a disponibilidade para o cargo, se efetivou, nestes dois anos, a substituição de 5 mem- bros e uma eleição intercalar para a Secção Não Profissional.

31. Por outro lado, o Conselho, e desde logo o presidente, conta com o apoio de três pessoas que são fundamentais para os resultados obtidos nestes dois anos.

Em primeiro lugar, a Dr.ª Catarina Cravo, secretária do Conselho, mas que, em todo o rigor, é muito mais do que isso. Conhecedora, como ninguém, das normas regulamentares, com anos de experiência no âmbito discipli- nar, nas normas e na praxis, de dedicação extrema à função, a Dr.ª Catarina Cravo é um alerta permanente para a correção de eventuais lapsos no atuar do Conselho e do presidente. É ainda referência para o passo a dar, processo a processo, questão a questão.

Sem ela, estou certo do que afirmo, o Conse- lho não seria o que era.

De seguida, contamos com o Mestre Henri- que Rodrigues, o nosso assessor, que che- gou à FPF há dois anos como instrutor de

14 No 3.º relatório (9 de outubro a 8 de dezembro de 2016).

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zadas sob a competência disciplinar da FPF.

Mas, simultaneamente, permanecer no trilho da reforma do exercício da função disciplinar.

Ora, tais segmentos requerem uma atenção redobrada e, se outras razões não o justi- ficassem, o exercício profissional do cargo de Presidente do Conselho de Disciplina revela-se uma medida bem adequada a este arrojado escopo.

33. A presença diária na Cidade do Fute- bol, para além de tudo que é necessário à marcha de todos os processos, projeta-se no conhecimento, em cadência diária, de múltiplas questões e facetas relativas ao exercício da função disciplinar, embora se localizem aquém e além dessa função.

Este atuar contínuo parte de uma primária posição: o Conselho de Disciplina não é, pelo menos este Conselho, um serviço da FPF ou da LPFP a juntar a tantos outros.

Esta afirmação, aparentemente fácil de entender, só consegue afirmar-se, perante uma cultura contrária de dezenas de anos, com uma permanente, diária e esgotante intervenção pessoal.

34. Tudo mudou – e muito ainda falta mu- dar, num aperfeiçoar contínuo – com este Conselho.

Às diversas estruturas internas dos organi- zadores das competições de futebol – seja a FPF, seja a LPFP – compete definir, desde logo nas normas que aprovam, sejam as respeitantes às diferentes competições, sejam as disciplinares, as regras do jogo.

Ao Conselho de Disciplina, por outro lado, a lei e esses regulamentos, é determinado fazê-las cumprir. Não lhe compete, longe disso, ultrapassar lapsos, dúvidas, incer- tezas geradas por tais regras, postando-se como mais um serviço federativo.

Gerando, porventura, incompreensões e queixumes, mas sempre na senda de uma aplicação rigorosa do regulamentado por tais estruturas, cumprindo, pois, a sua vontade, e da afirmação de um princípio de igualdade entre todos os agentes, clubes e sociedades desportivas.

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magadora maioria dessas decisões, fruto de um trabalho coletivo sem paralelo assente, quase que se diria, em todos os membros do Conselho menos no seu presidente.

DE NOVO OS TEMPOS E OS PROCEDIMEN- TOS: A INTERVENÇÃO DO CONSELHO DE DISCIPLINA E DA INSTRUÇÃO DISCIPLINAR

36. Têm sido várias as vezes em que demos conta, de forma singela, do procedimento disciplinar, oferecendo os seus modos e tempos.

É informação que custa a crer que não se sedimente, particularmente junto dos ór- gãos de comunicação social.

Assim sendo, mais uma vez se expõe os mo- mentos e os tempos do proceder disciplinar, de molde a que seja possível ao adepto do futebol ter perfeita consciência da forma como atua a vertente disciplinar do futebol.

37. Ao Conselho de Disciplina compete, em exclusivo, embora por vezes tendo por base uma participação disciplinar, instaurar processos disciplinares e de inquérito (ave- riguações na Secção Não Profissional).

Este é o primeiro momento, dir-se-ia em linguagem desportiva, o pontapé de saída, o início do «jogo».

A partir desse momento, o processo segue 35. Existe em geral, mas muito em particular

no comentário e noticiário comunicacional, para não falar já de algumas reações de arguidos, uma personalização da função disciplinar.

Por vezes, no absurdo, é-se tentado a ver não o Conselho de Disciplina, mas apenas e tão-só o seu presidente, gerador de todo o bem, mas indubitavelmente também de todo o “mal”.

Esta leitura distorcida da realidade pode ser explicada com recurso a diversas razões, a principal das quais é a desvalorização do colegial – porventura existente noutros universos de entidades desportivas – que acaba por gerar erroneamente uma aplica- ção por analogia ao funcionar do Conselho de Disciplina.

O Presidente é o órgão: tudo nele começa e acaba.

Nada de mais errado no Conselho de Disci- plina da Federação Portuguesa de Futebol.

E que gritante injustiça se comete com esta visão de funil.

Com efeito, se vivemos bem com as mani- festações de desagrado das decisões disci- plinares15 que em nós assume um rosto, mui- tas vezes a resvalarem para outros ilícitos disciplinares e acima de tudo impróprias, o mesmo não ocorre com os méritos da es-

15 Sem prejuízo, naturalmente, do que adiante se dirá sobre as críticas às decisões do Conselho de Disciplina.

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para órgão responsável pelo inquérito e instrução do procedimento, a Comissão de Instrutores da LPFP ou a Comissão de Ins- trução Disciplinar da FPF.

A partir daqui todo o «jogo» se desenrola, em termos gerais, fora do alcance do Conse- lho de Disciplina, nos modos e tempos jul- gados necessários por esses dois serviços.

38. Também em termos genéricos – sem prejuízo das soluções especiais existentes no âmbito do Regulamento Disciplinar da FPF –, o Conselho de Disciplina vê-se como que sentado no banco de suplentes, durante o inquérito e a instrução levada a cabo, por exemplo, pela Comissão de Instrutores da LPFP, aguardando a sua nova entrada em jogo.

E pouco ou nada pode interferir no desen- rolar da partida, estando impedido de ende- reçar “instruções” para o “terreno de jogo”.

Os serviços competentes para instruir, em dado momento – tempo que escapa ao con- trolo do Conselho de Disciplina –, na fase final do proceder disciplinar, apresentam ao Conselho de Disciplina uma proposta de arquivamento ou de acusação16.

39. Ora, quando o processo chega ao Con- selho de Disciplina, quase à beira do fim do jogo, ele é então chamado a intervir, não se quedando pela decisão, pura e simplesmen- te.

Ao «entrar no jogo», ele previamente vê-se obrigado, como numa disputa desportiva em que é possível operar substituições, a ponderar, num juízo de prognose, a forma da substituição.

Dito por outras palavras, o Conselho de Disciplina, vai forçosamente avaliar o bem fundado da proposta de arquivamento ou de acusação, nessa operação não podendo deixar de apreciar o «jogo» até aí levado a cabo pelo órgão instrutor.

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além do adepto de futebol, alguma incom- preensão sobre o relacionamento entre um processo disciplinar desportivo (ou de outra natureza) e um processo criminal.

Tal incompreensão surge, a mais das vezes, quando o procedimento disciplinar tarda em alcançar uma decisão final.

As linhas que se seguem pretendem somen- te oferecer informação sobre essa realidade.

42. Por vezes, uma mesma conduta preen- che os pressupostos de uma infração disci- plinar e, simultaneamente, os de um crime.

Significa esta dupla qualificação que nos encontramos com dois tipos de responsabi- lidade – a disciplinar e a criminal –, as quais têm por base a defesa de valores próprios.

A responsabilidade disciplinar visa preser- var os valores da competição desportiva e da sua regularidade, a que todos os agentes e organizações desportivas se encontram adstritos por força da sua sujeição a deve- res que assumem consciente e voluntaria- mente.

Por outro lado, a responsabilidade criminal assenta na definição, pelo Estado, de valo- res e bens jurídicos que ele entende serem essenciais proteger.

43. Por exemplo, a corrupção desportiva joga com essa dupla circunstância.

40. O Conselho de Disciplina não recolhe cegamente, fazendo-os seus, todos os inci- dentes verificados, até aí, no «jogo».

Contudo, ele não deixa de ficar limitado a muito do que foi o “jogo jogado” pelos ór- gãos instrutores. Se um determinado jogo (processo) decorreu bem, na perspetiva do Conselho de Disciplina, a entrada deste, em fase final da partida, encontra-se muito mais facilitada.

No Anexo III dá-se simples conta de alguns marcos temporais dos processos discipli- nares que permitem visualizar o tempo disciplinar.

Mas não se veja nestes registos qualquer atitude maniqueísta (de um lado estão os bons e de outro estão os maus).

Veja-se, isso sim, dados para efetivar, de futuro, medidas que conduzam a melhorar tempos e, de alguma forma, uma base para todos melhorarem as suas prestações.

OS PROCESSOS DISCIPLINARES E OS PRO- CESSOS CRIMINAIS

41. Esperava-se que já não deveria repre- sentar novidade para ninguém a autonomia da responsabilidade disciplinar e da res- ponsabilidade criminal.

Todavia, continua a suceder, até bem para

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Os organizadores das competições enten- dem que essa patologia afeta a competição e os valores da mesma, em particular o da verdade desportiva.

Mas o Estado, através de lei própria, tam- bém passou a entender que a corrupção des- portiva é um crime. Ou seja, em linguagem coloquial, fez seus, de toda a comunidade, valores que poderiam situar-se somente na orla desportiva.

Subiu, por assim dizer, um degrau no uni- verso da responsabilização.

Ora, havendo uma mesma conduta que surge simultaneamente qualificada como infração disciplinar e crime, tal gera a existência de dois procedimentos: um disciplinar e outro criminal.

O disciplinar, correrá os termos das normas disciplinares e a sua instrução compete à Comissão de Instrutores da LPFP e à Comis- são de Instrução Disciplinar da FPF.

Por seu turno, o criminal, sob a égide do Mi- nistério Público, competirá às autoridades policiais.

A final, em nome da referida autonomia de responsabilidades, o Conselho de Disciplina e o Tribunal podem chegar à mesma decisão – cometimento de uma infração disciplinar e de um crime de corrupção ou arquivamento

(absolvição) – ou não, podendo assistir-se a um arquivamento de um lado e a uma con- denação de outro.

44. A «concorrência» da responsabilidade criminal à responsabilidade disciplinar gera, num primeiro e imediato momento, um efeito prejudicial à celeridade dos pro- cedimentos disciplinares.

Diga-se, previamente, que as capacidades e meios de investigação das entidades desportivas e das autoridades judiciárias e policiais são profundamente diversas.

De um lado, os órgãos disciplinares encon- tram-se muito limitados na obtenção de prova. Mantendo o exemplo da corrupção, a inexistência de declarações – a afirmação do silêncio – dos eventuais envolvidos, leva a assentar na base de testemunhos – que em infracções deste tipo rareiam – ou em delação.

Do outro lado, as autoridades judiciárias e policiais recorrem a meios de prova admiti- dos nesses processos, por exemplo a inter- ceção de comunicações telefónicas (vulgo, escutas telefónicas), impossíveis de serem utilizadas no processo disciplinar como já foi afirmado pelos tribunais portugueses.

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O que deve ser exigido a essas estruturas é um acompanhamento total e permanente do processo criminal de forma a, de acordo com as fases desse processo e as posições do Ministério Público ou do Juiz, obter elementos que possam, legalmente, serem carreados e valorizados no processo disci- plinar.

É necessário, pois, tendo consciência das limitações impostas pela existência de processos criminais [pelo respeito pelos princípios constitucionais e disposições legais aplicáveis], manter um estado de permanente alerta sob o andamento de tais processos.

A CRÍTICA DAS DECISÕES DISCIPLINARES

47. Não obstante a capacidade técnico-jurí- dico dos membros que integram o Conselho de Disciplina, as decisões disciplinares, melhor dizendo, a interpretação e aplicação de normas jurídicas disciplinares, por parte do Conselho de Disciplina, não são uma verdade absoluta.

Por isso, naturalmente, encontram-se previs- tas instâncias de recurso que podem e são acionadas pelos agentes desportivos e orga- nizações desportivas, que em muitos casos podem chegar até aos tribunais estatais.

Ora, tal «concorrência», com esta dispari- dade de meios, conduz a que o apuramento da responsabilidade disciplinar, que com- preende necessariamente a obtenção de provas, se vê como que paralisado a partir do momento em que surge em cena um processo crime, este ainda coberto pelo segredo de justiça.

45. É bem verdade que a existência de um processo crime não torna as coisas inatin- gíveis para o processo disciplinar. E não se nega ainda que a existência do primeiro poderá impulsionar o segundo e até forne- cer-lhe elementos fundamentais.

O problema radica noutro patamar, isto é, no tempo da decisão que, na maioria dos casos, pode seguir o do processo crime.

46. O que podem fazer, então, perante este cenário, as entidades com competência instrutória disciplinar, seja a Comissão de Instrutores da LPFP ou a Comissão de Ins- trução Disciplinar da FPF?

Um caminho fácil seria o de, em face do recolhido, da inexistência de elementos, propor o arquivamento dos procedimentos.

Não se se nos afigura que, desse modo, se cumprissem os fins disciplinares.

(23)

É assim o jogo normal da aplicação do Di- reito, seja no âmbito disciplinar desportivo, seja em qualquer outro domínio.

Não há, neste aspeto, nenhuma particulari- dade desportiva.

48. Mas todo o labor do Conselho passa, na melhor das hipóteses, para um segundo plano.

O que verdadeiramente se imputa à decisão desfavorável é sempre uma primeira inten- ção, não jurídica.

A decisão disciplinar é, muitas vezes, vista e desprestigiada pela imputação indevida que serve os interesses de outro alguém, quem quer que em concreto seja.

Desta forma, desrespeita-se a instância disciplinar e, acima de tudo, as instituições desportivas.

Permanece viva – vinda do passado – uma perspetiva maniqueísta da disciplina des- portiva e, bem mais grave do que isso, a de que essa atividade de natureza pública ser- ve outras causas que não as da legalidade, imparcialidade e justiça.

Se esta visão – e a sua contínua reafirmação – causa desagrado, em face do esforço de todos os membros do Conselho de Disciplina

e dos elementos que contribuem para o seu trabalho, estejam eles na Federação Portu- guesa de Futebol ou na Liga Portuguesa de Futebol Profissional, não tem ela, contudo, que fique bem claro, o condão de nos fazer arrepiar caminho ou de desistir do exercício da função disciplinar.

Isto é, vive-se a cultura negativa de quem decide em nosso desfavor, decide a favor de outrem.

Impera, pois, uma lógica dual, muitas vezes acompanhada de uma suspeita ou clara afir- mação de segundas ou terceiras intenções.

49. Ora há que mudar esta visão17, porven- tura baseada em passados que nos ultra- passam e que não são o nosso presente.

Os procedimentos disciplinares não são processos de partes (de A contra B, de B contra A, de C contra A ou B e assim suces- sivamente).

Os procedimentos disciplinares visam ga- rantir o respeito dos princípios e valores fundamentais das competições desportivas a que se encontram vinculados todos os agentes e organizações desportivas.

É esse o escopo da função disciplinar.

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valores da competição ínsitos nos diversos regulamentos e, desse modo, prestar um serviço público às competições desportivas no universo do futebol.

O CONSELHO DE DISCIPLINA E OS SEUS ERROS

52. Errar é humano é máxima corrente que impregna o nosso viver societário.

Não se contesta a afirmação, mas a ela jun- tamos outra que raramente obtém foros de expressão: acertar também é humano.

Do Conselho de Disciplina da Federação Portuguesa de Futebol, no espaço mediá- tico diz-se tudo ou quase tudo. E a certa altura houve mesmo quem dissesse que a diferença deste Conselho de Disciplina para anteriores, era a de que este reconhecia os erros. Seria, pois, nessa visão, a sua única qualidade, mas, de todo o modo, caracteri- zada como manifestamente insuficiente.

53. O Conselho de Disciplina erra. Mas tam- bém acerta e muito.

Quando erra e disso tem imediata consciên- cia, assume-o prontamente, não deixando que outros se vejam postos em causa por culpa alheia.

Basta, pois, ser decente18. O que se espera é continuar a contribuir

para uma alteração fundamental de postura (de cultura) neste domínio.

E mesmo quando o Conselho de Disciplina erra ou veja a sua decisão sindicada, em sentido contrário, pelas instâncias superio- res, tal não é fruto de intenções sub-reptí- cias, segundas ou terceiras.

50. O que afirmámos ganha expansão ad nauseam – não há que temer as palavras quando as mesmas refletem fielmente a realidade – numa civilização da comunica- ção e, como em Portugal, particularmente presente no futebol.

As leituras desvirtuadas das decisões disci- plinares, a sua crítica (?) baseada em igno- rância, em premissas falsas e tendenciosas, irradia, quase sem limite para esse espaço.

Aí chegados, nada interessa conhecer e é raro haver uma leitura séria, baseada na disponibilidade de todos os documentos, como é hoje apanágio do Conselho de Dis- ciplina.

51. O Conselho de Disciplina, quando decide, não decide em função dos agentes e clubes, nem pretende conferir razão, homologar vi- tórias processuais a qualquer agente, clube ou sociedade desportiva.

Pretende, tão-só, e não é pouco, afirmar os

18 Damos o exemplo do nosso Comunicado de 5 de fevereiro de 2018 – disponível na página da FPF acerca de lapso que foi imputado – na imprensa – a delegados da LPFP, quando, em todo o rigor, a responsabilidade foi do Conselho, em especial do seu presidente.

Referências

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