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Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao protocolo de estressores, comportamento operante e privação

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Pontifícia Universidade Católica de São Paulo

Programa de estudos pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento

Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao

protocolo de estressores, comportamento operante e privação

Clarissa Moreira Pereira

São Paulo 2009

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Chronic Mild Stress: um estudo sobre a interação entre submissão ao

protocolo de estressores, comportamento operante e privação

Dissertação apresentada à Banca Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, sob orientação da Profa. Dra. Tereza Maria de Azevedo Pires Sério.

Trabalho parcialmente financiado pela CAPES 2007 – 2008

São Paulo 2009

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Banca Examinadora

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Autorizo, exclusivamente para fins acadêmicos ou científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos de fotocópia ou eletrônicos.

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Agradeço, em primeiro lugar, à minha família. Aos meus pais, pelo apoio incondicional em todos os momentos, pela confiança, e pela possibilidade de que tudo isso se tornasse concreto. Vocês são a minha base, e é da segurança que tenho em vocês e do orgulho que vocês me dão que tiro o que preciso para construir esse caminho. À minha irmã, mais do que amiga durante este mestrado, companheira de coleta e de conversas que, no fim das contas, nem deveriam ser tão interessantes assim pra alguém que não é da área. Você foi espetacular! Ao Gui, por toda a nossa vida, por ser meu pequeno, meu querido. Amo todos vocês mais do que qualquer coisa nesse mundo.

À minha família: meus tios e tias (e agregados, claro), primos e primas e avós, tão queridos e importantes, tão carinhosos, atenciosos, cuidadosos. Pelo interesse pelo que eu faço, por admirar os passos que eu dei até agora, e por confiar que os próximos serão ainda mais significativos. Cada um tem sua infinita importância em minha vida, e também em minha produção acadêmica, tenham certeza. Amo todos vocês, do meu coração.

À querida Lucia, preciso agradecer. Pelo cuidado com meus lanches da tarde em frente ao computador, por se preocupar com minha “sanidade” ao longo desse mestrado, e por fazer parte de minha criação. Você não sabe o quanto é importante ter este tipo de apoio. Obrigada pela vida toda!

À Téia, minha querida orientadora. Nos demos bem desde o início, mas tenho certeza de que foi ao longo do caminho que percebi o quanto você é brilhante, e não tenho palavras para agradecer esse aprendizado. Nunca vou esquecer.

A todos os professores do mestrado, pelas aulas e conversas no laboratório, e pela competência e dedicação que têm pelo que fazem. À Paula Gioia em especial, minha grande incentivadora da entrada no mestrado.

Aos queridíssimos funcionários, Neusa, Conceição, Maurício e Dinalva. Não tenho nem dúvida de que o trabalho não seria o mesmo sem vocês. O que vocês fazem é fenomenal, e espero que vocês saibam do tamanho do meu reconhecimento.

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Jazz, João, Ângelo, Rodrigo, Gabriel, Marcio, e outros tantos. Não teria sido a mesma coisa se eu não tivesse conhecido pessoas como vocês.

À Paula Braga, um agradecimento especial. Pelas tantas coletas para mim, pelos apuros que passou junto comigo, pelo companheirismo, pela amizade, pela afinidade, e pela admiração que sinto por você. Foi muito bom ter encontrado uma colega assim, que se tornou amiga para o resto da vida.

Ao meu amor, meu amigo, meu confidente, meu companheiro. Obrigada por fazer do laboratório um lugar mais legal, por fazer de momentos de coleta divertidos, por fazer da Análise do Comportamento uma inspiração, por fazer dos meus dias mais leves, por me fazer mais feliz. Mateus, não conseguiria descrever tão bem o que sinto, mas quero deixar registrada a gratidão que tenho por você. Fazer uma dissertação não é fácil, mas se torna menos penoso quando alguém que já passou por tudo isso está ali pra te apoiar. Você foi sempre cuidadoso, amoroso, inteligente. Tudo que eu precisava neste momento, e que pretendo desfrutar pro resto da vida. Meu muito obrigada!

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INTRODUÇÃO ... 01

O CMS - uma discussão sobre o modelo ... 06

O CMS e o estudo do controle operante ... 17

MÉTODO ... 33 Sujeitos ... 33 Equipamento ... 33 Procedimentos ... 34 Condições experimentais ... 34 1. Condição preparatória ... 34

2. Acesso livre a alimento e água ... 38

3. Testes de ingestão e preferência de líquidos ... 38

4. Protocolo de estressores ... 38

5. Sessões operantes ... 40

Delineamento experimental ... 41

a. Protocolo completo ... 42

b. Protocolo incompleto (sem privação) ... 44

c. Apenas privação ... 46

d. Privação específica ... 48

RESULTADOS E DISCUSSÃO ... 50

1. Peso e consumo de água e alimento ... 50

2. Testes de ingestão e preferência ... 92

3. Desempenho operante ... 109

CONSIDERAÇÕES FINAIS ... 124

REFERÊNCIAS ... 130

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Figura 1. Linha do tempo com indicação dos principais eventos ocorridos durante o estudo ... 41 Figura 2. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito. As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o período em que se iniciou a primeira condição de privação (para os sujeitos dos grupos PCO, PC, APO, AP, e sujeitos PAL e PAG), o período correspondente ao início do protocolo de estressores (para os sujeitos PCO, PC, PI, PIO) ou início da segunda condição de privação (para os sujeitos AP, APO, PAL e PAG) e o fim destes períodos ...

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Figura 3. Peso corporal dos sujeitos dos grupos APO e AP, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação,início da segunda condição de privação e final desta ... 56 Figura 4. Peso corporal do sujeito APO3, a partir do início da privação. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ... 58 Figura 5. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de interrupção da privação (painel da direita), durante as duas condições de privação, para o sujeito APO3 ... 59 Figura 6. Valores percentuais de perda e recuperação de peso do sujeito APO3, para as seis semanas da segunda condição de privação, levando-se em conta o peso do sujeito anteriormente a esta condição. As linhas pontilhadas indicam o início e o fim desta condição. Os demais valores apresentados (da primeira condição de privação e do retorno a ela, ou seja, das semanas 1 a 13 e 20 a 22) se mantêm idênticos aos da Figura 5 60 Figura 7. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos APO e AP, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação ... 61 Figura 8. Peso corporal dos sujeitos PAL e PAG, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação, início da segunda condição de privação e volta à primeira condição de privação ... 64 Figura 9. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos PAG e PAL, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis superiores). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os sujeitos PAG e PAL, a partir do início da aferição (painéis inferiores). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação e início e fim da segunda condição de privação ... 66 Figura 10. Peso corporal de todos os sujeitos do experimento, pelos dias de vida de cada sujeito. As duas curvas em destaque representam o peso dos sujeitos PAG e PAL. As três linhas pontilhadas representam, aproximadamente e respectivamente, o início da primeira condição de privação, e o início e término da segunda condição de privação ... 68 Figura 11. Peso dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, e as linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores ... 70 Figura 12. Peso corporal dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO, durante o protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo ... 71

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PIO ... 72 Figura 14. Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao início do protocolo, para todas as quintas-feiras (primeiro dia do ciclo) das seis semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da esquerda). Porcentagem de ganho ou perda de peso por semana, com relação ao peso do dia anterior ao início do protocolo, para todas as segundas-feiras das seis semanas de protocolo de estressores, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO (painel da direita). Cada barra indica o ganho (ou perda, no caso de valores negativos), em cada semana, com relação ao peso inicial (antes do início do protocolo) ... 74 Figura 15. Consumos de água e alimento, aferidos diariamente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO durante todo o experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores. Durante o protocolo de estressores não foi possível aferir os consumos em um dos dias da semana, pelo fato dos sujeitos estarem agrupados, e os espaços correspondentes a esses dias foram omitidos da Figura 15 ... 76 Figura 16. Consumo médio diário de água e alimento (ml e mg), durante todo o experimento, dos sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, o início e final do protocolo de estressores ... 78 Figura 17. Peso corporal dos sujeitos dos grupos PCO e PC, durante todo o experimento. A linha mais espessa representa a tendência, a linha contínua menos espessa o peso real e a linha pontilhada o peso referência. As linhas verticais pontilhadas indicam, respectivamente, início da primeira condição de privação, início do protocolo de estressores e final deste ... 81 Figura 18. Peso do dia anterior ao início do protocolo e do dia seguinte ao seu término, dos sujeitos dos grupos PCO, PC, APO e AP, e porcentagem de redução do peso, comparando-se antes e depois deste período ... 82 Figura 19. Peso corporal do sujeito PCO1, a partir do início da privação, até o final do experimento. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ... 84 Figura 20. Porcentagem de redução do peso corporal após cada período de privação (painel da esquerda) e porcentagem de recuperação de peso após aproximadamente vinte e quatro horas de interrupção da privação (painel da direita), durante a primeira condição de privação e durante o protocolo de estressores, para o sujeito PCO1 (painel da esquerda) ... 85 Figura 21. Peso corporal dos sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3, durante o protocolo de estressores, pelo dia da semana, nas seis semanas de duração do protocolo . 87 Figura 22. Média do consumo diário água e alimento dos sujeitos dos grupos PCO e PC, calculados semanalmente, a partir do início da aferição (painéis da esquerda). Quantidades consumidas de água e alimento por semana, para os mesmos grupos, a partir do início da aferição (painéis da direita). As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores ... 89 Figura 23. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos do grupo APO e AP (painéis da esquerda). Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg do peso do sujeito (painéis da direita). As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ... 93 Figura 24. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, em média, para todos os sujeitos do grupo apenas privação (painel superior). Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg dos sujeitos, em média, para todos os sujeitos (painel inferior). As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ... 95

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fim da segunda condição de privação ... 96 Figura 26. Consumo e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente para os sujeitos PAG e PAL, durante todo o experimento. As linhas tracejadas indicam, respectivamente, a semana inicial e final da segunda condição de privação ... 99 Figura 27. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos PI1, PI2, PI3 e PIO. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ... 101 Figura 28. Proporção de sacarose ingerida, em mg, por mg do sujeito PI3. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do período correspondente ao protocolo de estressores ... 103 Figura 29. Ingestão e preferência de líquidos aferidos nos testes realizados semanalmente, para os sujeitos PCO1, PCO2, PCO3, PC1, PC2 e PC3. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ... 104 Figura 30. Ingestão de sacarose e peso dos sujeitos dos grupos PCO e PC, no dia do testes, aferidos semanalmente. As linhas pontilhadas indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ... 107 Figura 31. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos APO1, APO2 e APO3, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim da segunda condição de privação ... 110 Figura 32. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 11, do sujeito APO2 (painel esquerdo). Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 20, do sujeito APO2 (painel direito) ... 112 Figura 33. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelo sujeito PIO, em esquema concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ... 115 Figura 34. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo das sessões experimentais números 12, 15 e 19, respectivamente, do sujeito PIO ... 117 Figura 35. Número de respostas de pressão à barra emitidas por sessão pelos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3, em esquema de reforçamento concorrente água-sacarose, e preferência pela barra de sacarose. As linhas verticais indicam, respectivamente, início e fim do protocolo de estressores ... 119 Figura 36. Frequência acumulada de respostas de pressão às barras de água e sacarose, ao longo da sessão experimental número 8, dos sujeitos PCO1, PCO2 e PCO3 ... 122

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Tabela 1. Número de ratos por caixa, desde o nascimento até o dia em que não

ocorreram mais mortes ... 35 Tabela 2. Identificação da caixa de origem de cada um dos sujeitos experimentais ... 37 Tabela 3. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao

longo de uma semana (um ciclo) ... 43 Tabela 4. Distribuição dos estressores a cada hora do dia, pelos dias da semana, ao

longo de uma semana (um ciclo) ... 45 Tabela 5. Distribuição dos períodos de privação a cada hora do dia, pelos dias da

semana, ao longo de uma semana (um ciclo) ... 47 Tabela 6. Divisão dos sujeitos pelos arranjos das condições experimentais ... 49 Tabela 7. Total de horas semanais dos períodos de privação a que os sujeitos eram

submetidos e intervalo entre os períodos, nas duas condições de privação ... 57 Tabela 8. Número de sessões em cada condição para todos os sujeitos que passaram pela

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ao protocolo de estressores, comportamento operante e privação. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

RESUMO

O Chronic Mild Stress (CMS), ou estresse crônico moderado, é um modelo experimental que tenta reproduzir, em laboratório, através do uso de um protocolo de estressores, condições da vida real, em ratos, para estudo dos efeitos da exposição a esses estressores no comportamento dos sujeitos. No presente estudo, pretendeu-se verificar se o protocolo completo, e não apenas alguns estressores apresentados isoladamente (privação de água e privação de alimento), seriam responsáveis pelos efeitos comumente descritos na literatura (diminuição na ingestão e preferência por substância doce e no peso pela submissão ao protocolo). Foi verificada também a interferência de sessões operantes em esquema concorrente (água-sacarose) em todos os efeitos considerados. Os resultados encontrados foram analisados com relação a (a) peso corporal, (b) consumo de alimento e água, (c) ingestão de líquidos nos testes da gaiola viveiro e (d) desempenho em esquema concorrente. Tanto a privação isoladamente quanto o protocolo incompleto (sem privação) produziram efeitos no peso dos sujeitos, no consumo de alimento e água e na ingestão e preferência de líquidos. Porém, a junção de ambos – o protocolo completo – se mostrou crítica na produção dos resultados com relação a essas medidas. Alguns aspectos do desempenho operante diferem a depender dos sujeitos estarem privados ou não previamente às sessões, mas não diferem entre sujeitos que passam ou não pelo restante dos estressores. Com relação aos resultados, duas sugestões são colocadas: (a) a manipulação neonatal pode ser uma variável responsável pela não produção de todos os efeitos do protocolo no comportamento dos sujeitos; e (b) a exposição prolongada à sacarose pode ter efeitos similares à analgesia nos sujeitos, fazendo com que os possíveis efeitos do protocolo de estressores não sejam produzidos. É levantado um ponto considerado importante, a partir dos resultados: outras medidas, que não apenas a ingestão de líquidos, devem ser consideradas para análise em estudos com o CMS.

Palavras-chave: protocolo de estressores, privação, comportamento operante, manipulação neonatal, exposição à sacarose.

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submission to stress protocol, operant behavior and deprivation. Dissertação de Mestrado. Programa de Estudos Pós-graduados em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento. Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

ABSTRACT

Chronic Mild Stress (CMS) is an experimental model that attempts to reproduce, in

laboratory, real life stressing conditions in rats, by using a stress protocol to study the effects of the exposition to these stressors in the subjects’ behavior. In the present experiment, the purpose was to identify if whole protocol, and not some of the stressor stimuli specifically (water and food deprivation) are responsible for producing the effects frequently described in literature (decreased sweet substance ingestion and preference and body weight when submitted to the protocol). It was also verified the influence of operant concurrent schedule sessions (water-sucrose) in all the effects considered. The results were described on (a) body weight, (b) food and water consumption, (c) sucrose ingestion and preference, and (d) concurrent schedule performance. Deprivation itself and incomplete protocol (with no deprivation conditions) produced effects on body weight, food and water consumption, and sucrose preference and ingestion. However, the two together – complete protocol – showed itself to be critical to produce these results. Some operant behavior features differ depending on whether the subjects are deprived or not before the session, but they don’t among subjects that are submitted to the other stressors (other than deprivation). According to these results, there are two possible suggestions: (a) neonatal handling can be responsible for the inexistency of the common effects of the protocol in the subjects’ behavior; and (b) the continuous exposure to sucrose can have similar effects to analgesia, making it possible that effects of the protocol are not produced. One issue is considered important, considering these results: measures, other than just sucrose ingestion and preference, must be taken into account in CMS studies.

Key-words: stress protocol, deprivation, operant behavior, neonatal handling, exposure to sucrose.

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Modelos animais ou experimentais são tentativas de reprodução de fenômenos comportamentais (ou fisiológicos) em determinadas espécies animais, no laboratório, para posterior uso dos resultados obtidos na compreensão da espécie humana (Keehn,

1979;Willner, 1991). São, neste sentido, a “representação de uma realidade específica,

possível de ser manipulada, que permite a realização de análise para o seu melhor conhecimento, inferindo dados e testando hipóteses” (Guimarães e Mázaro, 2004, p. 12).

Modelos animais de depressão podem, desta forma, ser utilizados para a realização de estudos experimentais em laboratório, como uma tentativa de reproduzir, em ambiente controlado, condições semelhantes às do ambiente real vistas como relevantes para a produção de alterações comportamentais características da depressão, propiciando diversas elucidações acerca do fenômeno estudado (Willner, Muscat e Papp, 1992). Esses modelos podem servir de base para o estudo e esclarecimento de diversos aspectos da depressão, como sua etiologia, por exemplo.

Para que o uso desses modelos seja validado, é necessário, pelo menos, que comportamentos observados no laboratório com os sujeitos infra-humanos sejam semelhantes aos que se observam na pessoa que apresenta as alterações comportamentais descritas como constituintes da depressão.

Segundo Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat (1987), apenas

alguns modelos animais da depressão atendem aos critérios de validade1 para que

possam ser considerados para estudo em laboratório. Um deles é o estresse crônico moderado, ou chronic mild stress (CMS).

Segundo esse modelo, uma alteração comportamental geralmente descrita como presente na depressão é a anedonia. Ela é caracterizada como a “redução na sensibilidade a recompensas, que é usualmente detectada através da diminuição no consumo de solução fraca de sacarose palatável” (Willner et al, 1992, p. 526). Mesmo não aparecendo como foco nos modelos experimentais, conforme afirmam Willner et al (1992), a anedonia seria de extrema importância na depressão, por estar tão frequentemente presente nela. Ela pode ser produzida em ratos, no laboratório, através da submissão desses animais a um conjunto de estressores moderados.

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Estes critérios dizem respeito à possibilidade de uso do modelo em questão como ferramenta de entendimento e estudo de determinada condição humana, e são descritos na psicopatologia

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Katz (1982) já havia considerado a importância do estresse no desenvolvimento de alterações comportamentais descritas como “depressão”, em um estudo para investigar alterações em sujeitos submetidos a uma série de estressores. Katz (1982) pretendia investigar se alterações no padrão alimentar dos sujeitos poderiam ser decorrentes de sua exposição a um conjunto de estressores aplicados de maneira crônica. Seu experimento foi dividido em três estudos. Em todos eles, um protocolo de estressores foi administrado por três semanas, composto de: (a) exposição dos sujeitos a 60 minutos de choques imprevisíveis; (b) 40 horas de privação de comida; (c) nado em água gelada (4º C) por cinco minutos; (d) 40 horas de privação de água; (e) exposição ao calor (40º C) por cinco minutos; (f) 30 minutos de movimento; (g) reversão do ciclo noite/dia. Os estressores eram apresentados e trocados de maneira semirrandômica.

Os estudos diferiram entre si com relação às substâncias apresentadas aos sujeitos nos testes de ingestão. Os testes consistiam na exposição dos sujeitos a uma mamadeira, por períodos de 14 horas, que continha uma das três substâncias: água pura, sacarina sódica ou sacarose. Tanto a sacarina quanto a sacarose são substâncias doces. No entanto, a sacarina não é calórica, e a sacarose é. Portanto, foram utilizadas ambas para verificar possíveis influências de regulações nutricionais na ingestão dos sujeitos. Ao final do teste, media-se a quantidade restante na mamadeira, para que a ingestão fosse monitorada. Todos os estudos contaram com grupos controle, formados por sujeitos não submetidos ao protocolo de estressores.

Além do protocolo de estressores, alguns sujeitos tiveram a administração de imipramina (um antidepressivo tricíclico – DMI) durante o experimento (diariamente, nas três semanas de protocolo de estressores), para verificar seu efeito nas medidas de ingestão.

Os resultados encontrados foram que, para todos os sujeitos submetidos aos estressores, a ingestão das substâncias sacarose e sacarina diminuiu em relação aos sujeitos controle. Para a solução de água pura, não houve alterações na ingestão. Estes achados demonstraram que, tanto para a solução nutritiva (sacarose) quanto para a solução não nutritiva (sacarina), os efeitos dos estressores na diminuição de ingestão puderam ser verificados, o que possibilitou afirmar que as alterações na ingestão não eram decorrentes de regulações nutricionais pelas diferenças de ingestão calórica a depender de uma ou outra substância, mas sim da variável independente manipulada.

como critérios de a) validade aparente, b) validade preditiva e c) validade de construção teórica. Estes critérios serão mais pormenorizadamente descritos adiante.

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A administração de imipramina reverteu os efeitos do protocolo de estressores, aumentando novamente a ingestão das substâncias sacarose e sacarina para os animais estressados. Para os sujeitos controle, o efeito deste antidepressivo foi de diminuir, porém não significativamente, a ingestão das substâncias. O que isto quer dizer é que as alterações de ingestão, para este grupo, quando comparadas às alterações para o grupo que foi submetido ao protocolo de estressores, foram muito pequenas. No teste com água pura, o antidepressivo não alterou a ingestão dos sujeitos.

A partir destes achados, Willner et al (1987) propuseram um estudo, com extensões e modificações na investigação, que incluiram (a) redução na severidade dos

estressores utilizados2, para aproximar o modelo da “vida real”; (b) uso de duas garrafas

para o teste de preferência, e não apenas uma; (c) realização semanal dos testes, para um maior acompanhamento do curso dos efeitos; (d) administração de um antidepressivo para “reversão” também da preferência, e não apenas da ingestão, como feito por Katz (1982), já que os autores propõem as duas medidas, ingestão e preferência (investigação esta possível apenas com uso de teste com duas garrafas); e (e) exame dos níveis de glicose no sangue, para investigar se diferentes níveis seriam responsáveis pelas diferenças na ingestão de sacarose.

Os sujeitos usados no estudo foram ratos da linhagem Lister (o número de sujeitos não foi especificado), e quatro diferentes experimentos foram propostos. Em todos eles, sujeitos controle, não submetidos ao protocolo, também foram utilizados.

O protocolo de estressores variou para cada experimento. Nos experimentos 1 e 4, o protocolo de estressores consistiu de (a) privação de água e comida; (b) iluminação contínua; (c) inclinação da gaiola em 30º; (d) agrupamento (outro sujeito na gaiola); (e) gaiola suja; (f) exposição à temperatura reduzida (10º C). Nos experimentos 2 e 3, além dos estímulos dos experimentos 1 e 4, foram também utilizados: (g) barulho branco intermitente; (h) luz estroboscópica; (i) exposição a uma garrafa vazia após período de privação de água; (j) acesso restrito à comida; (l) cheiro novo; (m) presença de um objeto estranho na caixa (madeira ou plástico). Para o experimento 2, a intensidade dos estressores foi sendo gradualmente aumentada com o decorrer das seis semanas. Para o

2Com relação à redução na severidade dos estressores utilizados, vale aqui salientar que todos

os estímulos implementados no protocolo de Willner et al (1987) não são estímulos tradicionalmente aversivos. Os estímulos adquirem tal propriedade pela cronicidade com que são apresentados aos sujeitos. Portanto, com relação ao estudo de Katz (1982), a atenuação ocorre principalmente considerando-se a qualidade dos estímulos.

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experimento 3, os autores não especificam se houve ou não esta alteração na intensidade do protocolo3.

O período de exposição dos sujeitos ao protocolo foi também variado: cinco, seis e nove semanas, respectivamente, para os experimentos 1, 2 e 3; para o experimento 4, não foi especificado o número de semanas.

Em todos os experimentos, foram examinados os efeitos da submissão ao protocolo de estressores na ingestão e preferência por alguma das três substâncias em relação à água pura: sacarina (experimento 1), sacarose (experimentos 2, 3 e 4) ou solução salina (experimento 2). Nos experimentos 2, 3 e 4, foi administrado um antidepressivo, para exame de seus efeitos sobre essas medidas (ingestão e preferência), tendo sido no experimento 2 administrada também uma solução placebo, para a metade dos sujeitos. No experimento 3, além disso, os níveis de glicose e corticosterona no sangue dos sujeitos foram também medidos, para investigação dos efeitos do protocolo sobre eles. No experimento 4, foi utilizada uma solução de sacarose “mais fraca”, ou menos concentrada (0,6%), para exame de possíveis diferenças decorrentes da concentração da substância utilizada.

Os testes de ingestão de líquidos foram realizados nas gaiolas viveiro dos sujeitos, e sempre aconteciam após um período de privação de água e comida (quatro horas para o experimento 1, e 23 horas para os outros experimentos). Esses testes também foram realizados com os sujeitos controle. As garrafas eram sempre contrabalanceadas entre os lados direito e esquerdo da gaiola (suas posições variavam a cada teste), quando os testes eram realizados com duas mamadeiras. Para medidas de ingestão e preferência antes do protocolo, os testes foram realizados da seguinte maneira: duas garrafas eram colocadas na gaiola dos sujeitos, uma contendo água e a outra contendo a solução de teste (sacarose, sacarina ou solução salina), 72 horas antes do início de cada experimento, por um período de 48 horas, semanalmente. Para o experimento 1, os testes aconteceram com apenas uma garrafa nas semanas 1 e 2 do protocolo. Para todos os outros experimentos, o mesmo procedimento foi adotado também durante o protocolo de estressores.

Dentre os resultados apresentados pelos autores, serão destacados, aqui, os que dizem respeito à ingestão e preferência dos líquidos testados e aos efeitos do antidepressivo administrado em alguns grupos de sujeitos. Os resultados referentes às

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medidas de glicose e corticosterona não serão apresentados, por não serem de interesse direto no presente trabalho (já que, na presente pesquisa, as medidas utilizadas serão semelhantes às primeiras, e não às últimas).

Para todos os sujeitos experimentais submetidos ao protocolo de estressores, houve, durante o período de exposição ao protocolo, diminuição na ingestão da substância doce (sacarose ou sacarina), mantendo-se a ingestão de água constante, em relação à ingestão anterior ao protocolo. Desta forma, foi verificada diminuição da preferência observada inicialmente por essas substâncias, já que a ingestão de água passou a ser muito parecida com a de sacarose ou sacarina.

Nos experimentos 2 e 3, em que os animais receberam o antidepressivo tricíclico após a terceira semana de protocolo de estressores, houve recuperação dos níveis iniciais, tanto de ingestão quanto de preferência, após a segunda semana de administração de DMI. Para os sujeitos que tiveram administração de placebo, ao invés do antidepressivo, a ingestão e a preferência não foram alteradas.

Mudanças na ingestão durante o protocolo de estressores não foram identificadas para os grupos em que foi testada a ingestão de solução salina (experimento 2). A preferência pela solução salina ocorrida nas três primeiras semanas de estressores foi mantida nas duas semanas subsequentes, em que o DMI foi administrado para o grupo de sujeitos.

No experimento 4, quando comparadas as soluções de sacarose utilizadas, uma menos concentrada e outra mais concentrada, foi verificada menor preferência pela solução menos concentrada, mesmo antes do início do protocolo de estressores. Houve pouca preferência dos sujeitos por esta substância, antes do início do protocolo, com relação à água pura. Desta forma, afirmam Willner et al (1987) que o antidepressivo não demonstrou ter efeito sobre esta preferência, já que os níveis baixos de ingestão da substância encontrados foram semelhantes aos do grupo tratado com placebo.

Um aspecto colocado na conclusão se refere à comparação da ingestão de substâncias calóricas e não calóricas feita no estudo. Por ter havido diminuição de ingestão tanto para sacarose (calórica) quanto para sacarina (não calórica), Willner et al (1987) apontam que tal diminuição não pode ser atribuida a uma regulação calórica, assim como apontado por Katz (1982). Se a ingestão de substâncias numa certa quantidade fosse controlada por uma carência nutricional, haveria diferenças nas ingestões de ambas, ou seja, a substância calórica seria ingerida em maior quantidade. Já que isto não ocorreu, a variável a que são atribuidos os resultados encontrados, mais

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uma vez, é o protocolo de estressores. É possível afirmar, portanto, que, neste estudo, o que pareceu ser importante na produção dos resultados foi o protocolo como um todo, e não apenas um de seus componentes (no caso, a privação), já que diferenças por regulações calóricas não foram encontradas.

As hipóteses levantadas para interpretar tais resultados são várias. A primeira delas é que o protocolo de estressores pode ser responsável por uma diminuição da palatabilidade dos estímulos. Porém, não há dados empíricos para tal hipótese, e Willner et al (1987) dizem não poder ser afirmado nada com relação a isto. Uma segunda seria a de que o “estresse” (ou o efeito do protocolo de estressores) impediria a habilidade dos sujeitos de beber. No entanto, ela também é descartada, já que os consumos de água e de solução salina se mostram pouco afetados pelo protocolo. Portanto, concluem que a redução na preferência e na ingestão dos líquidos sacarose e sacarina “se deve à redução de suas propriedades de recompensa, mais do que por mudanças sensoriais ou motoras” (p. 363).

O CMS - uma discussão sobre o modelo

Diversos autores discutem a importância de estudos utilizando o CMS, já que afirmam, entre outras coisas, que aspectos ainda pouco elucidados podem ser

esclarecidos com o uso do modelo (Argyropoulos e Nutt, 1997; Weiss, 1997;

Auriacombe, Reneric e Le Moal, 1997;De Vry e Schreiber, 1997;Porsolt, 1997).

Ao questionar a relevância de um modelo animal da depressão, Willner (1997a) afirma que, para que se possa estudar uma alteração comportamental de forma que os dados obtidos tenham validade, é necessário que (a) o estudo lide tanto com animais que apresentem as alterações a serem tratadas quanto com animais que não as apresentem, e (b) que estas alterações perdurem por certo período de tempo, para que seja possível que um eventual tratamento a ser investigado seja aplicado.

Os estudos subsequentes que replicaram o procedimento proposto por Willner et al, de 1987, demonstram a validade e confiabilidade do modelo.

A partir dos estudos listados em seu artigo, Willner (1997a) discute a validade

de construção teórica, a validade aparente e a validade preditiva4 do modelo.

A validade de construção teórica diz respeito à racional teórica do modelo, ou

4

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seja, a teoria na qual o modelo se apoia. Segundo Willner (1997a), esta validade encontra-se presente no CMS, já que há correspondência entre a formulação teórica do modelo e o que é produzido em laboratório.

A validade aparente diz respeito às similaridades encontradas entre o modelo experimental e a alteração estudada (no caso, a depressão). Comparando-se algumas das alterações presentes no CMS e o que é descrito como depressão pelo DSM-IV, é possível encontrar as similaridades, que atestariam a validade aparente do modelo (Willner, 1997a).

A validade preditiva, por sua vez, diz respeito à correspondência entre as predições que podem ser feitas a partir do modelo, no laboratório, com as condições reais a que ele se refere. Mais uma vez, o autor afirma ser o modelo válido, já que, por exemplo, as previsões feitas quanto aos efeitos dos medicamentos em pacientes clínicos são observadas nos sujeitos submetidos ao protocolo de estressores.

Neste artigo, o autor aborda, além dos três critérios já citados, um quarto critério, a confiabilidade, que diz respeito à similaridade entre os efeitos produzidos em um laboratório e em outros locais. O modelo, segundo Willner (1997a), mostrou-se também confiável, já que, em sua revisão, afirma que diversos pesquisadores produziram os mesmos efeitos em diversos laboratórios, mesmo contando com diferenças em alguns detalhes do procedimento.

Mesmo assim, Willner (1997a) afirma que, em algumas das vezes em que se aplicou o procedimento em diferentes laboratórios, os resultados esperados não foram obtidos. Willner (1997a) levanta hipóteses sobre as possíveis variáveis responsáveis pelas diferenças encontradas. Elas podem ser agrupadas em sete grande conjuntos: (1) diferenças na linhagem dos animais ou diferenças no fornecedor de animais, (2) diferenças na concentração de sacarose utilizada, (3) diferenças no momento de realização dos testes, (4) diferenças na duração do agrupamento prévio ao experimento, (5) diferenças na ingestão por diferenças no peso, (6) diferenças nas medidas utilizadas, e (7) diferenças produzidas por terem sido realizados experimentos em diferentes laboratórios.

Em primeiro lugar, diferenças de linhagem dos animais utilizados para estudos mostraram-se, em alguns casos, determinantes das diferenças nos efeitos obtidos pela aplicação do procedimento. Ainda, quando o fornecedor de animais para o laboratório foi alterado, também ocorreram casos em que os efeitos não foram observados, o que pode ser devido a diferenças genéticas (os animais serem de diferentes cepas) dentro de

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uma mesma linhagem.

Um outro fator apontado deve-se a diferenças nas concentrações de sacarose utilizadas. Segundo Willner (1997a), a depender da linhagem de animais, a concentração ideal varia, o que pode interferir nos efeitos encontrados.

Em terceiro lugar, também foram observadas diferenças nos efeitos quando os testes (medidas de ingestão e preferência) foram realizados em diferentes períodos do dia. Então, a depender do momento, e não da condição a que estavam sendo submetidos, a ingestão de cada uma das substâncias variava, para os sujeitos.

Como um quarto aspecto possível, a duração do período em que os sujeitos foram mantidos junto com a mãe e os outros filhotes (antes de serem separados), previamente ao início do experimento, também se mostrou uma variável relevante nos resultados obtidos, tendo diferentes durações deste período demonstrado diferentes efeitos do procedimento no comportamento de ingestão dos sujeitos. Se os sujeitos não eram separados logo após o desmame, os resultados da submissão aos estressores variava.

Uma quinta possibilidade para a produção de diferentes resultados foi o peso corporal dos sujeitos. Os resultados mostraram uma relação entre os efeitos do estresse e o peso dos sujeitos, em que quanto maior a perda de peso observada, menos o efeito de diminuição na ingestão de sacarose foi encontrado. Ou seja, se os sujeitos perdiam muito peso durante a exposição ao protocolo, menor era a diminuição na ingestão e na preferência por sacarose. Além disso, a questão do peso ser relevante para a demonstração dos efeitos foi colocada por outros autores, o que será detalhadamente discutido quando este aspecto for descrito no presente trabalho.

Em sexto lugar, foi apontado que diferentes medidas dos efeitos do protocolo foram usadas em diversos estudos, como a medida do valor reforçador de estimulação intracraniana e atividade em campo aberto, ao invés das medidas ingestão e preferência comumente utilizadas para investigar a produção de anedonia, portanto podendo ter havido diferenças nos resultados pelo uso de diferentes medidas.

Por último, pelo fato de cada um dos estudos citados ter sido realizado em um laboratório diferente, detalhes do procedimento podem ter sido mudados de um para o outro e, em alguns casos, esta mudança ter sido determinante para a reprodução dos efeitos esperados.

Com tais considerações, mesmo levando-se em conta algumas dificuldades de reprodução dos resultados pela complexidade do procedimento, Willner (1997a) afirma

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que o modelo CMS mostra-se válido e um dos mais confiáveis modelos da depressão.

Em 1997, um número da revista Psychopharmacology foi proposto para discussão do CMS como modelo experimental. Willner escreveu um primeiro artigo, supra relatado, e outros autores escreveram diversos artigos em resposta a ele. Ao final, Willner, em resposta a esses artigos, respondeu cada uma das críticas feitas ao modelo e o que, em sua concepção, poderia ser comentado a respeito de cada uma delas.

Moreau (1997), Di Chiara e Tanda, (1997), De Vry e Schreiber, (1997),

alegaram que o teste de ingestão de sacarose se mostrou uma medida ruim, já que apontam haver relação dele com as alterações de peso apresentadas pelos sujeitos submetidos ao estresse crônico. No entanto, Willner salienta que tal relação não existe, já que estudos comprovaram não haver relação entre a diminuição de ingestão de sacarose e a privação de alimento, mas sim entre esta perda de peso e o protocolo de estressores.

Também apontado por alguns dos comentadores (por exemplo, Weiss, 1997) foi o uso da medida ingestão de sacarose apenas, e não preferência de sacarose com relação à água pura. A preferência, segundo eles, conferiria maior confiabilidade ao modelo, por ser uma medida melhor (mais precisa) dos efeitos do protocolo, do que apenas a medida ingestão. Porém, para Willner (1997b), há pouca diferença entre elas, sendo ambas confiáveis, por produzirem resultados semelhantes. Sendo assim, sua opção em seus estudos acaba por ser pela medida mais fácil de ser utilizada, que é o teste de ingestão com apenas uma garrafa. Seu principal argumento é o de que a ingestão de água não se altera, quando testado isoladamente da sacarose. Com isso, esta medida não seria essencial para validar a medida dos efeitos do protocolo de estressores (anedonia), conforme especificado por ele.

Willner (1997b), ressalta, ainda, que, mesmo não havendo diferenças significativas entre uma medida e outra, ambas apresentam suas vantagens e desvantagens (maior ou menor precisão na demonstração da anedonia, maior ou menor facilidade de aplicação, entre outras). Segundo o autor, as três medidas da anedonia comumente usadas (ingestão de sacarose, estimulação intracraniana e condicionamento de preferência de lugar) é que garantem a consistência do modelo, já que para todas os mesmos resultados são obtidos, e a razão de se utilizar mais frequentemente uma delas é por sua maior facilidade de aplicação.

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Em sua mais recente revisão do modelo, Willner (2005) fez um levantamento dos trabalhos sobre o CMS realizados por mais de 60 diferentes grupos de estudos.

Ao descrever o modelo, afirma que, ao longo de mais de 10 anos de estudos, foram publicados diversos estudos que replicaram o protocolo, e que demonstraram a diminuição na ingestão e preferência por sacarose para os sujeitos submetidos aos estressores (anedonia), além de outras alterações, para citar algumas: agressão, mudanças no comportamento sexual e no comportamento de autocuidado.

Ao listar grande parte dos estudos publicados que utilizaram a ingestão e preferência de solução doce (sacarose ou sacarina) como medida dos efeitos da submissão ao protocolo de estressores, relata as semelhanças encontradas em todos os procedimentos, mesmo que muitos deles tenham inclusive diferentes nomeações para o protocolo: “‘estresse moderado crônico’, ‘estresse crônico moderado imprevisível’, ‘estresse subcrônico moderado imprevisível’, ‘estresse crônico ultramoderado’, e ‘estresse variado, variável crônico’” (Willner, 2005, p. 92). Além disso, reporta que, mesmo com diferenças em detalhes do procedimento, todos os estudos relatam diminuição na preferência ou na ingestão do líquido doce utilizado.

Alguns resultados às vezes contraditórios encontrados em alguns estudos são atribuidos a funções de gênero, alterações endócrinas, diferentes linhagens, alterações no estado nutricional, horário da medida (realização dos testes), entre outros, o que não invalida o procedimento de maneira geral, como já havia sido apontado por Willner em seus artigos de 1997 (a e b).

Outro aspecto da revisão que demonstra a confiabilidade do modelo é o fato de que, dentre os mais de 100 estudos listados, a maior parte deles (mais de 70% dos estudos) replicaram os resultados do autor, mesmo com diferenças em detalhes do procedimento. Além disso, o modelo mostrou também validade, pois foi também observada a eficácia no uso de antidepressivos para a reversão dos sintomas observados, tendo apenas um estudo não demonstrado tal efeito, pelo pouco tempo de tratamento realizado com os sujeitos.

Ao concluir seu artigo, Willner (2005) afirma que a consistência do modelo é inegável, uma vez que “os efeitos do CMS são altamente replicáveis entre laboratórios” (p. 103), atestando, portanto, a viabilidade e relevância de mais estudos sobre ele.

Porém, ainda são formuladas algumas questões sobre aspectos considerados pouco elucidados em relação a quais variáveis deveriam ou poderiam ser atribuidas as

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mudanças decorrentes da submissão ao protocolo de estressores.

Com os objetivos de investigar os efeitos do peso corporal nas medidas de ingestão de sacarose, e as possíveis diferenças nesta ingestão por diferenças na concentração da substância, Matthews, Forbes e Reid (1995) submeteram ratos Lister ao protocolo de estressores de Willner et al (1987).

Anteriormente à exposição ao protocolo, os sujeitos foram expostos a duas garrafas, na gaiola viveiro, uma de sacarose a 0,9% e outra de água, por um período de 48 horas, em que o consumo era livre.

O protocolo de estressores foi implementado por 11 semanas, e os estressores eram aplicados de forma sequencial, em ciclos de sete dias. Matthews et al (1995) relatam não ter utilizado alguns estressores (redução da temperatura e objeto estranho), que foram originalmente utilizados por Willner et al (1987), mas que, segundo eles, foram também omitidos de estudos posteriores deste grupo, não comprometendo, portanto, seu procedimento. Os estressores utilizados no experimento podem ser vistos no Anexo 1.

Os testes de ingestão e preferência foram conduzidos, durante todo o experimento, na gaiola viveiro dos sujeitos, e as garrafas foram contrabalanceadas a cada teste. Previamente aos testes, os sujeitos eram privados de água e alimento por 21 horas, tanto antes quanto durante o protocolo. Durante o mesmo, este período correspondia à implementação do estressor privação. O teste tinha a duração de uma hora.

Além dos testes de ingestão e preferência conduzidos durante as oito semanas iniciais de protocolo com sacarose a 0,9%, diferentes concentrações foram então testadas: 0,7%, 2,4%, 7%, 13,6% e 34%. Cada concentração foi utilizada uma vez com cada sujeito, sendo sua ordem de teste randomizada. Além disso, um intervalo de 48 horas entre os testes foi sempre mantido, já que neste momento a realização dos testes não foi semanal (como durante as outras oito semanas de protocolo).

Os resultados foram que, com relação ao peso, a média dos grupos controle e submetido ao estresse, inicialmente muito próxima, passou a diferir significativamente após uma semana do início do protocolo. Para os sujeitos controle, o ganho de peso continuou a ocorrer, enquanto que para os sujeitos submetidos ao protocolo o peso quase não variou, ou seja, quase não houve ganho de peso durante este período.

A ingestão de sacarose, avaliada para a concentração 0,9% ingerida nos testes realizados nas primeiras oito semanas de protocolo, também medida pela média para os

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grupos, diminuiu nas semanas iniciais, mas chegou a aumentar, ao final das oito semanas, para os sujeitos submetidos ao protocolo, enquanto que se manteve, com poucas alterações, para o grupo controle.

Quando calculada a ingestão de sacarose com relação ao peso corporal dos sujeitos, entretanto, não foi encontrada diferença entre o grupo submetido ao protocolo o grupo controle. O cálculo era feito da seguinte forma: dividindo-se o peso do sujeito pela quantidade consumida naquele teste uma razão era obtida. Então, as razões poderiam ser comparadas, já que todas representavam números relativos, e não absolutos. Ou seja, a ingestão de sacarose, em gramas, relativa ao peso corporal, também em gramas, se manteve ao longo do experimento, mesmo com a submissão dos sujeitos ao protocolo.

Com relação à preferência, foi observado um aumento para o grupo submetido ao protocolo, principalmente nas três primeiras semanas de estressores, em comparação aos sujeitos controle, em que a preferência se manteve.

Para as diferentes concentrações de sacarose não foram observadas diferenças significativas entre os grupos, com relação ao consumo por grama, ao total consumido ou à preferência por sacarose.

Matthews et al (1995) discutem, inicialmente, problemas que acreditam existir nas medidas utilizadas em estudos com o modelo. Pelo fato de utilizarem ingestão, e esta ser tão variável entre os diferentes experimentos, esta medida se mostra pouco confiável, uma vez que não há consistência entre os resultados que são muitas vezes comparados.

Porém, cabe aqui salientar que, mesmo utilizando este argumento, Matthews et al (1995) ainda usam médias para representação dos resultados, e este questionamento não é feito por eles. Se as medidas são tão variáveis, a média é uma forma de distorcer mais ainda, e não deveria ser, portanto, utilizada. A variabilidade individual só seria, portanto, um problema, pelo fato deles usarem a média.

Outro argumento levantado é o de que a preferência é uma medida muito mais confiável do que a ingestão absoluta, e esta medida foi abandonada pelo grupo de Willner no decorrer dos experimentos. Segundo Matthews et al (1995), a preferência seria uma medida menos suscetível às influências de mudanças corporais e mudanças nos padrões de ingestão.

Por terem utilizado diferentes concentrações de sacarose e, ainda assim, não haver sido encontrada nenhuma diferença entre os sujeitos, Matthews et al (1995)

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argumentam que não se pode afirmar nada sobre alterações na propriedade recompensadora da substância, uma vez que a mudança na magnitude não alterou o consumo.

Com relação ao peso corporal, Matthews et al (1995) criticam o fato de Willner et al (1987) não terem dado conta deste aspecto. Argumentam que as mudanças no peso são muito drásticas ao longo do procedimento e que, portanto, deveriam ser levadas em conta na análise dos resultados. Seus resultados dão suporte ao fato de que o peso tem papel fundamental nas alterações de ingestão. Segundo eles, é inegável que “ratos maiores consomem mais sacarose” (p. 247), o que dá substância à afirmação de que não é pelo estresse, mas pelas diferenças no peso corporal, que se dão as alterações de ingestão reportadas pelos estudos com o modelo.

Finalmente, colocam que a comparação mais óbvia ainda não havia sido feita, que seria a de implementar apenas o regime de privação do protocolo em um grupo de sujeitos, para que se mostrasse possível a investigação da perda de peso em relação à ingestão de sacarose. Portanto, este aspecto se mostra de extrema relevância, e por isto é proposto como uma das variáveis a serem investigadas no presente estudo, o que será detalhado mais adiante.

Forbes, Stewart, Matthews e Reid (1996), em estudo posterior, também colocam que a privação é a variável crítica para a diminuição de ingestão e preferência das substâncias doces quando há exposição ao protocolo.

No estudo realizado por eles, a relação do protocolo de estressores crônicos moderados com a perda de peso corporal dos sujeitos foi também investigada, levando-se em conta a hipótelevando-se de que a diminuição de ingestão oblevando-servada na aplicação do procedimento poderia ser secundária à perda de peso. Isto é, a diminuição da ingestão de substâncias, como a sacarose, seria devida a uma diminuição na massa corpórea, e não a alterações no valor de recompensa desses estímulos.

Quatro grupos de 20 sujeitos machos da linhagem Lister foram utilizados: um grupo controle, não submetido aos estressores nem à privação, um grupo submetido ao protocolo semelhante ao de Willner et al (1987), um grupo apenas de privação de alimento, e um último grupo, em que o protocolo foi modificado, de modo a não ter como estressores a privação de alimento e água. A distribuição dos grupos teve como objetivo verificar se apenas a privação, e não o conjunto de estressores em si, era a responsável pela diminuição da ingestão de sacarose.

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por 48 horas a uma solução de sacarose a 0,9%, para adaptação, e o teste de ingestão e preferência inicial foi então realizado, utilizando-se duas mamadeiras, uma com água e outra com sacarose. Todos os testes subsequentes foram realizados da mesma maneira, sempre após um período de 21 horas de privação de água e alimento, tal como previsto no protocolo de Willner et al (1987). Além das condições de privação previstas para testes, não havia nenhuma condição de privação de água nem de alimento (consumo livre), a não ser para os grupos em que esta variável foi manipulada. Portanto, para o grupo em que nenhuma privação foi estipulada, apenas por um período semanal de 21

horas de privação de água e alimento ocorreu durante o experimento5.

O protocolo de estressores teve a duração de seis semanas, e as medidas de ingestão e preferência foram também realizadas durante esse período.

Os resultados encontrados mostraram relação entre a perda de peso e a diminuição na ingestão de sacarose. Os grupos em que o peso corporal sofreu maiores alterações (os grupos submetidos ao protocolo completo e o grupo de privação de alimento) foram os grupos em que as maiores alterações na ingestão também ocorreram. As diferenças entre esses grupos, porém, não foram apresentadas e, pela inspeção gráfica dos resultados, apesar da afirmação dos autores, elas parecem não existir (as curvas de ingestão e preferência para os grupos privação de alimento e protocolo completo estão exatamente sobrepostas).

Para Forbes et al (1996), o fato do grupo submetido ao protocolo de estressores modificado não ter apresentado alterações significativas na ingestão de sacarose dá maior evidência ao papel da privação nos efeitos geralmente reportados nos estudos da área. Ou seja, apenas a privação se mostrou suficiente para produção dos efeitos que se afirmam ser decorrentes do protocolo completo (o que pôde ser constatado nos resultados com o grupo em que esta variável foi isolada). Desta forma, Forbes et al (1996) discutem que esses resultados colocam em dúvida se a variável independente é o protocolo completo ou a privação de água e alimento, apenas.

A análise dos dados feita para discutir os efeitos dessas variáveis teve como base a medida de ingestão de sacarose por grama de peso corporal, ou seja, uma medida relativa do consumo em relação ao peso, assim como no estudo de Matthews et al (1995). Portanto, a ingestão diminuida observada nos grupos privação não teria sido

5

Portanto, vale salientar que, mesmo sendo o grupo em que a privação seria isolada, ou seja, esta condição não seria imposta aos sujeitos, eles foram submetidos a um período semanal de privação.

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devido aos estressores, mas devida à massa corporal diminuida dos sujeitos pela restrição de acesso ao alimento e à água. Desta forma, Forbes et al (1996) afirmam ser a diminuição de ingestão secundária à diminuição de peso, e não devido ao protocolo de estressores a que os sujeitos foram submetidos. O grupo de sujeitos submetidos ao protocolo completo teve resultados semelhantes, portanto, não pelo restante dos estímulos estressores aplicados em conjunto, mas apenas pelo fato da privação estar presente neste protocolo.

Na tentativa de esclarecer a relação do peso corporal com os efeitos do protocolo de estressores (diferenças na ingestão de sacarose, por exemplo), o presente estudo se propôs, também, a melhor examinar esta variável. Para isto, o peso de todos os sujeitos do experimento foi aferido diariamente, a partir aproximadamente do 5º dia após seu nascimento, e o controle das quantidades de alimento e água consumidos também foram realizados.

O procedimento de manipulação neonatal, ou seja, de manipulação dos sujeitos experimentais desde poucos dias após seu nascimento, foi avaliado levando-se em conta os impactos que ele pode ter no comportamento dos sujeitos.

Silveira, Portella, Clemente, Bassani, Tabajara, Gamaro, Dantas, Torres, Lucion e Dalmaz (2004), realizaram uma investigação sobre os possíveis efeitos da manipulação neonatal no comportamento de consumo de comida (ração), ingestão de glicose e solução salina líquidas, e consumo de comida doce dos sujeitos, já na fase adulta. Seu estudo contou com grupos de sujeitos manipulados e não manipulados durante o período após o nascimento, e os testes de consumo e ingestão, para todos os sujeitos, quando adultos.

Os resultados encontrados por eles demonstram diferenças na ingestão do que chamam de substância palatável (ou substância doce, no caso, a comida) entre ratos manipulados e não manipulados. Os sujeitos manipulados ingeriram consideravelmente maior quantidade da comida doce que os demais sujeitos, sendo o consumo para as demais substâncias parecidos entre os grupos.

Com tais resultados Silveira et al (2004) afirmam que a manipulação neonatal, considerada estressora por esses autores, produz alterações no sistema nervoso central de ratos recém nascidos, alterações estas que persistem por toda a vida dos sujeitos. Essas alterações, segundo eles, podem ser detectadas pelo maior consumo da comida doce por esses sujeitos, em comparação aos sujeitos que não passaram por essas situações.

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Em estudo posterior, Silveira, Portella, Crema, Correa, Nieto, Diehl, Lucion e Dalmaz (2008), novamente interessados nos efeitos da estimulação neonatal no comportamento adulto de ratos, investigaram não somente esta estimulação, mas também se a exposição de sujeitos a substâncias doces durante a infância, alteraria o padrão de consumo apresentado na fase adulta.

Os resultados encontrados foram que, além da estimulação produzir as diferenças já reportadas, a exposição à substância doce durante a infância produziria, também, aumento no consumo dessa substância na fase adulta. Segundo Silveira et al (2008), “é possível que ratos expostos à comida doce cedo na vida apresentem o efeito de recompensa diminuido da ingestão de comida doce na fase adulta, precisando ingerir maior quantidade para se sentirem melhor” (p. 881).

Em um estudo semelhante, Michaels e Holtzman (2006) investigaram a

possibilidade do abuso de substâncias na fase adulta ser advindo de condições estressoras a que sujeitos fossem submetidos quando neonatos. Para tanto, propuseram um estudo em que a manipulação neonatal seria realizada com os sujeitos, e a posterior ingestão de sacarose seria avaliada.

Os resultados demonstraram haver relação entre a manipulação neonatal e a maior ingestão de sacarose dos sujeitos na fase adulta, comparando-se sujeitos submetidos a esta condição e sujeitos não submetidos a ela.

Portanto, esses resultados serão também aqui considerados, já que se propôs tanto a exposição dos sujeitos à sacarose desde seu 90º dia de vida, bem como a manipulação dos sujeitos desde aproximadamente seu 5º dia de vida.

Além disso, foram propostos grupos experimentais em que condições de privação foram manipuladas. Alguns sujeitos foram submetidos aos estressores sem privação, outros aos estressores com privação, e outros apenas à privação.

Com esses grupos de sujeitos, pretendeu-se avaliar se a privação, isoladamente, produz os efeitos de diminuir ingestão e preferência de sacarose pelos sujeitos, ou seja, se a privação, e não o conjunto completo de estressores, é responsável pela anedonia descrita no modelo em questão.

Assim, a investigação do efeito isolado de um dos estressores do protocolo – a privação – , do protocolo sem este estressor específico e do protocolo completo – da interação entre os demais estressores e a privação – se tornou possível. Além disso, a investigação dos efeitos do protocolo completo, do protocolo incompleto e apenas da privação no peso dos sujeitos também foi realizada.

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Investigações a respeito dos efeitos da privação no peso dos sujeitos já foram realizadas. Tomanari, Pine e Silva (2003), por exemplo, realizaram um estudo em que as privações hídrica e alimentar foram manipuladas, a fim de investigar os efeitos que elas têm no peso corporal dos sujeitos. A privação imposta por eles era de quantidade disponibilizada, ou seja, a restrição era por quantidade, e não por tempo de acesso.

Com relação aos resultados, Tomanari et al (2003) apontam que há uma relação direta entre privação e peso corporal, ou seja, assim que é imposta uma restrição hídrica ou alimentar ao sujeito, seu peso é reduzido. Além disso, ressaltam o fato de que períodos de interrupção na privação podem ser responsáveis por diferenças na maneira como o peso é recuperado pelo sujeito. Após terem passado por períodos de livre acesso ao item privado entre períodos de privação, os sujeitos apresentaram maior dificuldade na redução de peso, quando as restrições eram novamente impostas. Com isso, uma das possibilidade levantada por eles foi a de que a história de privação, e não apenas a privação momentânea, tem efeitos no ganho e perda de peso corporal dos sujeitos, conforme será discutido no presente trabalho.

O CMS e o estudo do controle operante

Além de avaliar a privação como variável independente relevante, o presente estudo se propôs a investigar se os efeitos desta variável poderiam ser alterados pelos efeitos de outra variável, o controle operante.

Thomaz (2001) recorreu ao protocolo de estressores de Willner et al (1987) para avaliar os possíveis efeitos da submissão a esses estímulos sobre o comportamento dos sujeitos, buscando investigar se o que os autores chamavam de “sensibilidade à recompensa” poderia ser entendido como valor reforçador de um estímulo. Partindo da afirmação de Willner et al (1987) de que um dos efeitos do estresse moderado e crônico sobre os sujeitos é a anedonia, definida como a perda de sensibilidade à recompensa, Thomaz (2001) mediu também uma resposta operante de alguns de seus sujeitos experimentais, a resposta de pressão à barra, de forma que a taxa de respostas para obtenção de cada um dos estímulos reforçadores, água e sacarose, pudesse ser tomada como uma medida do valor reforçador de cada um deles. Se a frequência de uma resposta aumenta quando esta é seguida de um determinado estímulo, tal estímulo pode ser definido, por este efeito, como estímulo reforçador. Então, alterações na taxa da resposta poderiam refletir o valor reforçador deste estímulo.

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Foram utilizados no trabalho 12 ratos machos e experimentalmente ingênuos, divididos em dois grupos: sujeitos controle e sujeitos submetidos ao protocolo. Os sujeitos submetidos ao protocolo, por sua vez, foram divididos outros dois subgrupos: sujeitos que passariam por sessões operantes e sujeitos que não passariam por esta condição.

O protocolo de estressores era assim composto: (a) privação de comida, (b) inclinação da gaiola, (c) agrupamento, (d) gaiola suja, (e) barulho intermitente, (f) luz estroboscópica, (g) exposição a uma garrafa de água vazia após um período de privação, (h) acesso restrito à comida, (i) cheiro, (j) presença de um objeto estranho na gaiola, (l) iluminação contínua. Este protocolo diferiu do proposto por Willner et al (1987). Não houve exposição à temperatura reduzida (10ºC). Além disso, alguns dos sujeitos do experimento de Thomaz (2001) diferiram dos sujeitos de Willner et al (1987) por uma diferente história de privação de água. No estudo de Thomaz (2001), todos os sujeitos que passaram por sessões operantes foram privados de água continuamente, para que seu peso fosse mantido entre aproximadamente 80 e 85% de seu peso ad lib (peso aferido quando o consumo de alimento e água era livre).

Desta forma, esses sujeitos, durante todo o experimento, e não apenas durante as seis semanas de protocolo de estressores, passaram pela privação de água. Esta exposição à privação pode ser relevante na produção dos resultados, já que a privação é considerada uma variável crítica em alguns estudos já citados (Matthews et al, 1995; Forbes et al, 1996) e, no estudo de Thomaz (2001), foi utilizada como procedimento de manutenção do peso durante muito mais tempo do que quando apenas durante a exposição ao protocolo de estressores.

Todos os sujeitos passaram pelos testes de ingestão e preferência, que aconteciam da seguinte maneira: duas garrafas tipo mamadeira eram disponibilizadas, ao mesmo tempo, para os sujeitos na gaiola viveiro, uma contendo água e outra contendo uma solução de água com sacarose a 2%. A posição das garrafas era alterada a cada teste, tendo sido realizados testes semanalmente, antes, durante e depois da submissão dos sujeitos ao protocolo de estressores. A medida da ingestão e da preferência (comparação da ingestão de um dos líquidos com o outro) era feita a partir da quantidade restante nas garrafas, ao final do período de teste, comparando-se esta quantidade com a inicial (de antes dos testes). Todos os testes foram realizados após período de privação de água e alimento de 23 horas, para todos os sujeitos, mesmo os que não passaram por protocolo ou por sessões operantes.

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