Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental:
Análise do Comportamento
O Efeito da Submissão ao
Chronic Mild Stress
(CMS)
sobre o Valor Reforçador do Estímulo
Cássia Roberta da Cunha Thomaz
Pontifícia Universidade Católica de São Paulo
Programa de Estudos Pós-Graduados em Psicologia Experimental:
Análise do Comportamento
Efeito da Submissão ao
Chronic Mild Stress (CMS)
sobre o Valor Reforçador do Estímulo
Cássia Roberta da Cunha Thomaz
Dissertação apresentada à Banca
Examinadora da Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, como exigência parcial para obtenção do título de MESTRE em Psicologia Experimental: Análise do Comportamento, sob orientação da Profa. Dra. Maria Amália Pie Abib Andery.
Trabalho financiado pela FAPESP – Processo 00/04890-0
Autorizo, Exclusivamente para fins acadêmicos e científicos, a reprodução total ou parcial desta dissertação por processos fotocopiadores ou eletrônicos.
Banca Examinadora
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Agradecimentos
Ao Roberto, pela ajuda e sugestões, por me apresentar ao fascinante campo dos modelos
experimentais.
A Maly, pelo apoio de sempre, pelo modelo.
Aos colegas do laboratório, pela agradável convivência nos anos de mestrado.
Ao Marcos e Paula, pela paciente ajuda com a informática.
Ao Fábio e Miriam, colegas da USP, pelas importantes sugestões nas fases iniciais deste trabalho.
A Neusa, Conceição e Maurício, por toda a ajuda no cuidado com os sujeitos deste trabalho.
Aos meus pais, pelo apoio incondicional e fundamental.
Ao Bruno, pela paciência e pelo sorriso de todas as manhãs.
Ao Marco Antonio, minha fonte incansável de reforçamento, que me ajudou a seguir.
Índice
Introdução... 01
Método... 31
Resultados... 40
Discussão... 61
Thomaz, Cássia R. C. (2001) O efeito da submissão ao 'chronic mild stress' sobre o valor reforçador do estímulo.
Chronic Mild Stress (CMS) é um modelo animal experimental proposto como um modelo de depressão, ao
qual ratos são submetidos. Após passarem por um conjunto de "situações de estresse suave", o consumo de água e de água com sacarose desses animais decresce. Considera-se que a submissão ao conjunto de estressores modifica o organismo e, consequentemente, a propriedade recompensadora da água e da água com sacarose. Supõe-se, então, que o sujeito toma-se "Insensível" à recompensa. O presente estudo pretendeu replicar os resultados de Willner, Towell, Sampson, Sopholeus e Muscat (1987) e também verificar se o que é denominado "Insensibilidade à recompensa" poderia ser descrito como diminuição do valor reforçador do estímulo, uma vez que este estímulo, nos estudos de CMS, não é produzido sistematicamente por uma ação/resposta dos sujeitos sistematicamente medida. Ou seja, a submissão ao "regime de estresse" afetaria o valor reforçador do estímulo? Ratos machos foram sujeitos. Dois sujeitos foram submetidos a um conjunto de condições de estresse suave, por 6 semanas, conforme descritos por Willner e cols. (1987), como por exemplo, privação de água e comida, barulho intermitente, iluminação contínua, agrupamento de dois sujeitos na mesma gaiola, luz estroboscópica, cheiro, apresentação de uma garrafa vazia após privação de água, acesso restrito a comida, inclinação da gaiola, presença de um objeto estranho na gaiola e chão da gaiola sujo. Verificou-se uma diminuição no consumo total de líquido e na preferência por água com sacarose destes sujeitos durante e após este procedimento. Outros dois sujeitos foram submetidos a sessões operantes sob um esquema concorrente FR15-FRI5 com água e água com sacarose como estímulos reforçadores antes e após a submissão ao mesmo conjunto de estressores. Também com estes sujeitos observou-se diminuição no consumo de líquido e na preferência por água com sacarose em testes semanais de consumo de líquido, durante as semanas de exposição ao estresse, o que indicaria um aparente efeito do regime de estresse sobre o valor reforçador dos estímulos. Observou-se também, com estes sujeitos, que a submissão à condição operante após o período de estresse parece ter alterado o efeito produzido pelo CMS, aumentando o consumo de líquido e a preferência pela água com sacarose nos testes realizados nas semanas seguintes à exposição ao regime de estresse.
Orientador: Maria Amalia Andery
Linha de Pesquisa: Processos básicos na análise do comportamento
ABSTRACT
Chronic Mild Stress (CMS) is an experimental model for depression: Rats are
submitted to a set of stressing conditions and as a result their consumption of water
and water with sucrose, as well as the animals previous preference for water and
water and sucrose also drops. It is argued that the stress changes the organism and,
consequently, changes the reinforcing properties of water and water with sucrose.
Therefore the stress would make the subjects insensible to reward. The present study
investigated if what has been called sensitivity to reward could be described as a drop
in the reinforcing value of a reinforcer. In other words, one of this study's goals was
to evaluate if a protocol of mild stress diminished the reinforcing value of a known
reinforcer, here, water with sucrose. Four male rats were submitted to a stress
protocol of six weeks (as described by Willner, Towell, Sampson, Sophokleus e
Muscat (1987). Two of them were also submitted to operant sessions of a FR-FR
concurrent schedule of reinforcement, with responses followed either by water or
water with sucrose prior and after the stress protocol. Results showed that all four
subjects diminished their overall liquid consumption while the stress protocol was in
effect. Results also showed the two subjects preferred water with sucrose on the
FR-FR condition (with higher rates of responses on the lever associated with water with
sucrose), and that these subjects recovered their overall consumption and their
preference for water with sucrose faster than the two subjects not submitted to the
operant condition.
Key words: Animal model, Experimental Model, Chronic Mild Stress, Depression, Reinforcing value,
Modelos animais de psicopatologias
O estudo de fenômenos psicológicos em situação controlada de laboratório permite
a investigação sistemática de variáveis relevantes para a compreensão do comportamento
humano.
As psicopatologias humanas, como Esquizofrenia, Transtornos de Ansiedade,
Transtorno Obsessivo-Compulsivo, Transtornos Alimentares e Depressão, entre outros,
constituem uma área de investigação da Psicologia e, dentre as diferentes maneiras de se
investigar, teorizar e discutir as psicopatologias na Psicologia, encontram-se propostas de
procedimentos de investigação no laboratório, com animais infra-humanos. Estas propostas
são denominadas, na literatura de modelos animais de psicopatologias ou modelos
experimentais de psicopatologiasAbramson e Seligman (1977) afirmam que os modelos
animais de psicopatologias são aqueles que tentam reproduzir, em situações controladas de
laboratório, fenômenos análogos às “desordens mentais” 1 que ocorrem com humanos, e
que o importante não é somente levar a psicopatologia para o laboratório, mas reproduzi-la
ali, para que as variáveis que a determinam possam ser especificadas e isoladas. Nesse
sentido, os autores salientam que o que se produz no laboratório não são as psicopatologias
conforme ocorrem com humanos, mas fenômenos que são análogos a essas.
Os autores afirmam também que há duas características que os modelos
experimentais deveriam possuir: a) especificidade, devendo-se verificar se o fenômeno que
está sendo produzido no laboratório é similar a características que correspondem a diversas
psicopatologias; e b) semelhança entre o modelo experimental e a patologia humana a que
o modelo supostamente se refere, em termos de “causas”, “sintomas”, “prevenção” e
“cura” 2. Abramson e Seligman (1977) defendem que ambas as características –
especificidade e semelhança - devam ser medidas para se avaliar uma modificação
comportamental quando essa é feita sobre um padrão estabelecido em laboratório.
Abramson e Seligman (1977) consideram que o controle da história de vida e da
hereditariedade, a possibilidade de isolamento de variáveis por introdução sistemática de
eventos na vida do sujeito, a monitoração contínua de seus comportamentos e a verificação
de possíveis mudanças fisiológicas conseqüentes à manipulação de eventos
caracterizam-se como vantagens do uso de animais em situações controladas de laboratório, no estudo
de psicopatologias.
Por outro lado, os autores afirmam que duas desvantagens têm sido apontadas como
relevantes no uso de animais no estudo de psicopatologias: a) a dificuldade de demonstrar
que um fenômeno produzido no laboratório, em uma espécie, é similar àquele que ocorre
sem manipulação direta em outra; e b) o fato de que alguns comportamentos humanos não
têm "correspondentes" em animais.
Os autores apresentam estas vantagens e desvantagens para o uso de animais no
estudo de psicopatologias e concluem que o modelo animal3 de laboratório de
psicopatologias caracteriza-se como uma maneira de se verificar se variáveis produzidas
no laboratório podem reproduzir um fenômeno que ocorre com humanos fora desse
ambiente controlado. Quanto às possíveis desvantagens, Abramsom e Seligman (1977)
afirmam que os fenômenos reproduzidos em animais, no laboratório, são, de fato,
semelhantes a fenômenos que acabam por ser considerados psicopatologias em humanos e,
portanto, que não cabe criticar os modelos com base neste critério.
Keehn (1979) parece concordar com Abramsom e Seligman (1977), ao afirmar que
a suposição de que há semelhança entre os fenômenos produzidos em animais no
2 Termos utilizados pelos autores, que parecem estar adotando os usos que têm sido feitos na literatura
laboratório e as psicopatologias humanas é essencial para que se possa afirmar que o que
se demonstra no laboratório pode ser proposto como um modelo animal de psicopatologia.
O autor aponta ainda que os estudos de psicopatologias com animais no laboratório e com
humanos são complementares, uma vez que os estudos em laboratório com animais podem
investigar a etiologia, enquanto que os estudos de psicopatologias em humanos acabam por
lidar com os fenômenos possivelmente resultantes das variáveis que costumam ser
manipuladas no laboratório.
Willner, Muscat e Papp (1992) também defendem o estudo de psicopatologias por
modelos animais e apontam alguns critérios utilizados para se discutir a validade de
modelos de psicopatologias: a) a acuracidade das previsões que podem ser feitas a partir do
modelo e b) a semelhança entre o fenômeno produzido na situação controlada e a
psicopatologia conforme encontrada em humanos.
Além de discussões acerca das características necessárias e da importância de
modelos animais de psicopatologias, são encontrados na literatura relatos de investigações
com animais a respeito de variáveis que, quando manipuladas, produzem como efeito
padrões que simulam psicopatologias específicas e que, resumidamente, investigam se e
como determinadas variáveis ambientais interferem no comportamento do sujeito.
Modelos Animais de Depressão
Como o presente trabalho refere-se a um modelo experimental de depressão, serão
brevemente apresentados a seguir alguns modelos animais já propostos como descritores
desta psicopatologia, ainda que, de maneira nenhuma, pretenda-se esgotar a apresentação
dos modelos existentes.
Um modelo encontrado na literatura é o do Isolamento Social (também chamado de
Modelo de Separação por Mckinney e Bunney, 1969 e Willner, 1984), no qual se isola o
sujeito (usualmente macaco, cachorro ou rato) da mãe nas primeiras semanas de vida,
colocando-o em uma gaiola individual onde ele fica privado de contato visual e físico com
outros membros da espécie. Quando o sujeito é removido do isolamento verifica-se um
déficit em vários comportamentos como, por exemplo, comportamentos de interação
social, consumo de alimento e atividade destes sujeitos, que ocorrem em baixa freqüência
em comparação com o padrão comportamental de sujeitos de um grupo controle.
Este modelo tem sido utilizado para estudar os “primeiros” efeitos ambientais sobre
diversos comportamentos (como interação social) e tem sido considerado relevante como
um modelo de depressão (Einon, Morgan e Sahakian, 1975 – que utilizaram ratos como
sujeitos) e de esquizofrenia (Kornetsky e Markowitz, 1978 – que utilizaram macacos como
sujeitos).
Um outro modelo animal de depressão é o do “Desespero Comportamental”
(Porsolt, 1981). Nesse, ratos são forçados a nadar em um espaço confinado e após
emitirem várias tentativas de fuga do espaço com água (através da resposta de abaixar uma
escada para sair do espaço com água) sem sucesso, isto é, sem possibilidade de escapar da
situação a que estavam submetidos, passam a não mais emitir a resposta de fuga, adotando
uma “postura imóvel”4. Se submetidos novamente à mesma situação, então com a
possibilidade de emitirem a resposta de abaixar a escada e essa produzir a saída do espaço,
não o fazem. Ou seja, na situação em que a resposta de abaixar uma escada para sair do
espaço em que há água teria como conseqüência sair da água, os sujeitos não emitem a
resposta. Em resumo, quando os sujeitos são posteriormente submetidos a uma situação na
qual não houve possibilidade de fuga não o fazem, permanecem nadando e acabam por
adotar a "postura imóvel".
4 O termo “postura imóvel” é utilizado pelo autor e parece referir-se ao fato de o sujeito não mais apresentar
Percebe-se que no modelo do Desespero Comportamental encontra-se uma história
de contingências nas quais o responder do sujeito não alterava a possibilidade de certos
eventos subsequentes, ou de impossibilidade de controle (segundo a linguagem de
Seligman, 1975), característica também presente no procedimento utilizado no modelo do
Desamparo Aprendido (Seligman, 1975). Seligman afirma que a exposição de sujeitos a
estímulos aversivos incontroláveis produz déficits na aprendizagem da correlação resposta
– conseqüência; déficits motivacionais, que dizem respeito à dificuldade em iniciar
respostas voluntárias; déficits emocionais, como redução da agressividade; além de
alterações fisiológicas. O autor afirma, ainda, que estes déficits não são observados em
sujeitos expostos aos mesmos estímulos aversivos com controle5 sobre esses.
Em um planejamento experimental padrão de (Overmier e Seligman, 1967), foram
usados três grupos de sujeitos (cachorros). Na primeira parte do experimento, o primeiro
grupo (grupo de fuga) foi treinado, no arreio, a desligar o choque (estímulo aversivo)
pressionando um painel com o focinho. O segundo grupo (grupo emparelhado) recebeu
choques idênticos (em número, duração e padrão) aos administrados ao primeiro grupo. A
diferença entre os dois grupos estava no fato de que a resposta de pressionar o painel não
afetava a programação dos choques para o grupo emparelhado. O terceiro grupo (grupo
controle) não recebeu choques no arreio.
Na segunda parte do experimento, vinte e quatro horas após a exposição à condição
no arreio, os três grupos foram submetidos a treinamento de fuga-esquiva em uma gaiola
de alternação, que era uma câmara dividida em dois compartimentos na qual o sujeito, ao
pular uma barreira de um compartimento para o outro, desligava o choque (resposta de
fuga) ou evitava o choque (resposta de esquiva).
5 Seligman (1975) considera que um evento é incontrolável quando a probabilidade de uma consequência é a
Segundo os autores (Overmier e Seligman, 1967), tanto os sujeitos do grupo de
fuga como os do grupo controle aprenderam rapidamente a saltar a barreira enquanto que
os sujeitos do grupo emparelhado praticamente não emitiram esta resposta ou a emitiram
com latências muito elevadas. Esta falha na aprendizagem6 de respostas de fuga ou
esquiva, em consequência da exposição prévia aos choques incontroláveis, foi chamada,
pelos autores, de Efeito de Interferência e, posteriormente, de Desamparo Aprendido
(Seligman, 1975, Maier e Seligman, 1976).
Aparentemente, os efeitos da submissão aos choques “incontroláveis” são
diferentes em cachorros (sujeitos de Seligman) e ratos. Seligman (1975) salienta os efeitos
observados em cachorros. Após a submissão aos choques incontroláveis, estes sujeitos não
adquiriram prontamente uma resposta de fuga. Ademais, após poucos choques, na fase de
teste, não apresentam as reações inicialmente eliciadas pelo choque (como gritar, pular
etc.), ficando passivamente sentados enquanto recebiam os choques, além do que a
ocorrência de uma resposta de fuga/esquiva reforçada não aumentou a probabilidade de
ocorrência de outras, como tipicamente ocorre com animais ingênuos.
Com ratos, as reações inicialmente eliciadas pelo choque em cachorros (como gritar
e pular) não foram encontradas, assim como não ocorreu a ausência de aprendizagem da
resposta de fuga. Observou-se apenas uma aprendizagem mais lenta que a verificada nos
sujeitos ingênuos, que foi igualmente denominada de efeito de interferência (Meier e
Seligman, 1976). Este efeito passou a ser descrito como falha ou demora em aprender uma
resposta instrumental de fuga. Entretanto, o sentido de aprendizagem mais lenta de uma
resposta parece predominar na literatura (Maier, Albin e Testa, 1973; Backer, 1976;
Jackson, Alexander e Maier, 1980; Crowell e Anderson, 1981).
Além das diferenças entre espécies, Hunziker (1981) afirma que alguns parâmetros
6 Aparentemente, Overmier e Seligman (1967) referem-se à aprendizagem da relação de dependência entre
das variáveis utilizadas nos estudos sobre efeito de interferência ou desamparo aprendido
foram identificados como relevantes para a verificação do efeito de aprendizagem lenta,
como a natureza dos estímulos apresentados e a natureza da resposta.
Quanto à natureza dos estímulos, diferentes parâmetros dos choques, como
intensidade, frequência, duração, densidade e localização no corpo podem alterar o efeito
de interferência observado posteriormente. Em relação à natureza da resposta, a autora
afirma que foi verificado que nem todas as respostas são igualmente sensíveis à
"incontrolabilidade". Nos primeiros trabalhos realizados com ratos não se observou o
efeito de interferência utilizando a resposta de correr de um lado para o outro em uma
caixa de dois compartimentos. Diferentemente dos cães, os ratos apresentavam esta
resposta com uma frequência baixa desde as primeiras tentativas (Maier, Albin e Testa,
1973). Os autores supuseram que a resposta de correr poderia ser, pelo menos em um
primeiro momento, uma resposta reflexa ao choque, o que dificultava a avaliação do
processo de aprendizagem desta resposta e, consequentemente, o efeito de interferência.
Ao aumentarem a exigência da resposta (o sujeito deveria ir e voltar na caixa para desligar
o choque), verificaram altas latências iniciais e o efeito de interferência.
Seligman e Beagley, (1975) também observaram problema semelhante com a
resposta de pressão à barra e propuseram, da mesma maneira, um aumento no número de
respostas. Para se desligar o choque foram, então, exigidas três respostas de pressão à
barra, tendo-se observado, nesta situação, o efeito de interferência.
Por outro lado, Hunziker (1981) afirma que não se observou o efeito de
interferência quando se utilizou a resposta de focinhar, apesar dela ocorrer com alta
latência em um primeiro momento e sofrer decréscimo gradual após exposição à
contingência posterior (na qual se testa o efeito de interferência) (Hunziker, 1977 e
Samuels, DeCola e Rosellini 1981).
Hunziker (1981) afirma que não se pode afirmar que a resposta de focinhar ocorre
inicialmente de forma reflexa, como foi feito em relação à resposta de correr (Maier e
cols., 1973), analisando-se as baixas latências observadas desde as primeiras tentativas
(após a submissão aos choques ‘incontroláveis’). Hunziker (1981) sugere que a diferença
de desempenho tem outra fonte: no grau de atividade exigida pela resposta. A resposta de
focinhar difere das de correr ou de pressionar a barra em relação ao grau de atividade
motora envolvida na sua emissão (esta resposta requereria menos atividade do organismo).
Nesse sentido, sugere que o grau de atividade requerido pela resposta de teste poderia ser
uma variável relevante para ocorrência do efeito de interferência (Hunziker, 1981, p. 12)
Ainda segundo Hunziker (1981), é importante considerar que: (a) o efeito de
interferência (ou Desamparo Aprendido) – aprendizagem, por parte dos sujeitos
submetidos a uma situação na qual as conseqüências ambientais independiam de suas
respostas, de que os eventos ambientais independem da resposta - é inferido das mudanças
comportamentais observadas nos sujeitos nos testes arranjados experimentalmente, e (b) o
que tem definido um arranjo experimental de incontrolabilidade é a programação de
consequências ambientais independentes às respostas dos sujeitos.
Parece, na teoria do Desamparo Aprendido, que a interpretação dos resultados
observados nos testes realizados após a submissão dos sujeitos a contingências nas quais os
eventos ambientais independem das suas respostas repousa na suposição de que os sujeitos
submetidos a um arranjo experimental de incontrolabilidade não aprendem, em
contingências posteriores, a dependência entre uma resposta e a consequência, mesmo
quando ela existe.
Há, por fim, um conjunto de modelos experimentais de depressão que enfatizam a
anedonia, como Retirada de Estímulos Psicomotores Crônicos, Choque Incontrolável e
Chronic Mild Stress. O termo "anedonia" refere-se à insensibilidade à recompensa,
conforme afirmam Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat (1987) e é um
aspecto relevante a ser reproduzido em um modelo de depressão, segundo estes autores,
por dois motivos: (a) a perda de interesse e de prazer (anedonia) e o humor deprimido
seriam os dois sintomas centrais na definição de depressão, e a anedonia, diferentemente
do humor deprimido, pode ser produzida em animais; e (b) a anedonia seria o sintoma que
define melancolia, um subtipo de depressão maior, ainda segundo Willner e cols. (1987).7
Como o presente estudo trata de um modelo de anedonia, a seguir haverá uma
tentativa de detalhar mais os modelos de depressão que enfatizam este aspecto.
Willner, Sampson, Papp, Phillips e Muscat (1990) afirmam que há três propostas de
procedimentos que avaliam o declínio na sensibilidade à recompensa (anedonia). Todos
utilizam a exposição a estressores8 de vários tipos e uma medida da sensibilidade à
recompensa antes e após esta exposição. São estas propostas: I) Retirada de Estimulantes
Psicomotores Crônicos; II) Choque Incontrolável; e III) Chronic Mild Stress.
O modelo de Retirada de Estimulantes Psicomotores Crônicos (Olds e Milner,
1954) foi o modelo proposto para se estudar o paradigma da auto-estimulação intracraniana
(Intra Cranial Self Stimulation – ICSS). O paradigma da ICSS baseia-se na implantação de
eletrodos no cérebro do animal que provêm uma estimulação elétrica no cérebro que é
usada como recompensa a um comportamento. Segundo Hoebel (1976):
7 A literatura médica (DSM-IV) define o episódio depressivo a partir de dois sintomas centrais: humor
deprimido e diminuição ou perda de interesse/ prazer; e de “outros sintomas”: perda de peso, insônia, agitação ou retardo psicomotor, fadiga ou falta de energia, sentimentos de inutilidade, culpa excessiva ou inapropriada, diminuição da concentração ou indecisão, pensamentos recorrentes de morte ou suicídio. A melancolia é considerada um subtipo de depressão, cujo sintoma central seria a perda do prazer ou a falta de reatividade a estímulos prazerosos, e os outros sintomas seriam: humor deprimido, depressão mais forte pela manhã, fraqueza matutina, agitação ou retardo psicomotor, anorexia ou perda de peso, culpa excessiva ou inapropriada.
“... tais eletrodos estimulam diretamente os substratos neurológicos que são ativados indiretamente por recompensas naturais. Este paradigma é um dos mais usados para a investigação de “processos de recompensa”. (p. 68).
Em um estudo típico do modelo de Retirada de Estimulantes Psicomotores
Crônicos (Leith e Barret, 1976), encontra-se um decréscimo na resposta que produziria a
estimulação no cérebro após os sujeitos terem sido submetidos à retirada de tratamento
crônico com anfetamina. Neste estudo, a anfetamina (que é considerada um estimulante
psicomotor) foi administrada a ratos por 4 a 10 dias, muitas vezes ao dia e em doses
crescentes. Concomitantemente, os sujeitos foram expostos a uma contingência na qual
respostas de pressão à barra produziam estimulação intracraniana. Quando houve uma
pausa na administração de anfetamina, notou-se um decréscimo na taxa das respostas de
pressão à barra que produziam o estímulo reforçador (estimulação intracraniana). Os
autores afirmam que: (a) esta redução na taxa de respostas refletiria um decréscimo na
sensibilidade do sujeito à recompensa por estimulação cerebral e não um decréscimo na
atividade motora; e (b) a sensibilidade à estimulação intracraniana teria sofrido um
decréscimo devido à interrupção na administração da droga (e que a intervenção seria um
evento aversivo).
No modelo do Choque Incontrolável, proposto por Zacharko, Bowers, Kokkinidis e
Anisman (1983), também se utiliza estimulação intracraniana como estímulo reforçador.
Ratos são submetidos a uma contingência na qual repostas de pressão à barra produzem
este estímulo reforçador. No grupo de sujeitos também submetidos a choques (eventos
aversivos) incontroláveis (independentes de suas respostas), observou-se um decréscimo na
taxa de pressão à barra. O mesmo não se observou nos sujeitos submetidos a choques
Os resultados apresentados por Zacharko e cols. (1983) parecem semelhantes aos
encontrados nos experimentos sobre Desamparo Aprendido, descritos anteriormente, mas,
no caso do modelo do Choque Incontrolável, os autores (1983) afirmam que o decréscimo
na taxa de respostas deve-se à diminuição da sensibilidade à estimulação intracraniana
decorrente da exposição aos choques incontroláveis.
Uma vez que estes modelos manipulam a apresentação de eventos aversivos
inescapáveis como variável que produziria decréscimo em atividades que produziriam uma
consequência recompensadora, nota-se uma semelhança entre os modelos Retirada de
Estimulantes Psicomotores Crônicos,Choque Incontrolável e Desamparo Aprendido. Uma
das diferenças entre os dois primeiros e o modelo do Desamparo Aprendido parece residir
nas explicações dadas pelos autores a respeito do porquê haveria uma mudança no
comportamento dos sujeitos após a exposição a eventos aversivos incontroláveis. Além
disso, parece haver uma diferença nos efeitos comportamentais que cada um dos grupos de
autores enfatiza.
Enquanto no modelo do Desamparo Aprendido sugere-se que há, por parte do
sujeito, um déficit de aprendizagem da correlação resposta – conseqüência, os autores que
propõem os modelos que explicam as mudanças devido a anedonia parecem sugerir que os
eventos ambientais afetam o organismo no sentido de que um estímulo que anteriormente
era recompensador deixaria de sê-lo. A mudança observada no padrão de respostas
operantes é similar: um decréscimo na taxa de respostas que produziria um estímulo
recompensador, no caso da anedonia, ou fuga do reforçador negativo, no caso do
desamparo aprendido.
Já no terceiro modelo que toma a anedonia como modelo de explicação do efeito de
Chronic Mild Stress (CMS) (Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat,1987), os
sujeitos (ratos), após passarem por um conjunto de estressores suaves9, apresentam
diminuição no consumo de líquido e na preferência pela água com sacarose. Os autores
consideram que este é um modelo de anedonia, afirmando que a submissão ao conjunto de
estressores modifica o organismo e, consequentemente, a propriedade recompensadora da
água com sacarose. Isto é, o sujeito passaria a não mais se comportar da mesma maneira,
depois de passar pelos estressores, para obter água com sacarose, a qual parecia ser
recompensadora, porque a água não mais seria recompensadora.
Parece importante acrescentar, entretanto, que neste modelo emprega-se um
procedimento em que há também uma contingência de independência entre respostas do
sujeito e consequência, pois os estressores são apresentados independentemente das
respostas dos sujeitos, apesar dos autores não enfatizarem esta variável.
Com relação ao modelo do Desamparo Aprendido, Willner (1984), em artigo que
discute a validade de modelos de depressão, faz uma avaliação do modelo do desamparo
aprendido, desenvolvido por Seligman (1975), talvez por ser esse um modelo altamente
difundido e considerado como um modelo animal da depressão significativo. Neste
modelo, como já assinalado, propõe-se que a exposição a eventos aversivos incontroláveis
provê a base, em animais e em pessoas, para o déficit na aprendizagem de que há uma
correspondência entre o comportamento e suas conseqüências e que é o déficit nesta
aprendizagem que diminui (suprime) o responder (característica da depressão). Além disso,
supõe-se que esta aprendizagem vem acompanhada de outros efeitos como redução da
agressividade, perda de apetite, além de várias alterações fisiológicas. Afirma-se, então,
9 Os autores parecem chamar de "estressores" os eventos aversivos apresentados aos sujeitos. Os autores
que todos estes efeitos são também encontrados em pessoas deprimidas, o que faz com que
se considere o modelo do desamparo aprendido um bom modelo animal de depressão.
A especificidade do modelo do Desamparo Aprendido como sendo um modelo de
depressão é questionada por Willner (1984), no sentido de que a exposição a choques
independentes da resposta produziria muitos outros efeitos, tais como comportamento
supersticioso, dificuldade de aprendizagem e anedonia, que não apareceriam
necessariamente em todos os sujeitos o que prejudicaria a "generalidade" do modelo do
Desamparo Aprendido. Ademais, segundo o autor, alguns dos efeitos produzidos (como
redução da agressividade e várias alterações fisiológicas) podem ser encontrados em
diversas psicopatologias, incluindo esquizofrenia, paranóia e psicopatia, de modo que,
mais uma vez, a "especificidade" do modelo também estaria prejudicada.
“ A validade do modelo de depressão do desamparo aprendido repousa em três suposições: que animais expostos a eventos aversivos incontroláveis ficam desamparados; que um estado semelhante é induzido em pessoas pela incontrolabilidade; e que desamparo em pessoas é o sintoma central da depressão. Cada uma destas suposições têm sido fonte de controvérsias, que podem ser sumarizadas da seguinte maneira: as interpretações de “desamparo” dos experimentos com animais não foram conclusivamente estabelecidas, a interpretação de “desamparo” dos experimentos com humanos é ainda menos certa, e a relação entre desamparo e depressão permanece evasiva.” (Wilnner, 1984, p. 6).
Willner, Sampson, Papp, Phillips e Muscat (1990) afirmam que a grande maioria
dos estudos no campo do Desamparo Aprendido investigou o efeito de eventos aversivos
incontroláveis no “comportamento de aprender”10, isto é, na possibilidade do sujeito passar
a se comportar para que o choque fosse evitado ou para que uma recompensa11 (comida ou
água) passasse a ser produzida por sua resposta. Exemplos deste último "efeito" são
relatados nos estudos de Rosellini (1978) e Rosellini e De Cola (1981) que verificaram que
o choque elétrico incontrolável diminui a aquisição de respostas que produziriam comida
em animais privados de alimento. Estas descobertas foram interpretadas, segundo Willner
e cols.(1990), pelos autores que realizaram os experimentos, a partir do paradigma do
desamparo aprendido, como evidências da dificuldade em aprender que respostas
produzem conseqüências, depois de uma experiência de "incontrolabilidade".
Willner, Sampson, Papp, Phillips e Muscat (1990) consideram, assim, que o modelo
do Desamparo Aprendido trataria da "questão da aprendizagem” e afirmam que este não é
um modelo que aborda a questão da “sensibilidade à recompensa”. Seria esta ênfase na
aprendizagem que seria o problema central do modelo do Desamparo Aprendido, uma vez
que a anedonia, uma característica relevante a ser considerada na investigação da
depressão, é desconsiderada. Para estes autores, esta é uma questão relevante porque o
sujeito que passou por uma situação na qual havia apresentação de estímulos aversivos
incontroláveis pode "vir a aprender que uma conseqüência pode depender da sua resposta"
e, ainda assim, não emitir respostas que a produzem. Os autores hipotetizam que o que vem
sendo chamado de “dificuldade de aprendizagem” no modelo do Desamparo Aprendido
poderia ser explicado com base na suposição de que a conseqüência pode não ser mais
suficientemente “recompensadora”, a ponto de o sujeito comportar-se para produzi-la.
Willner e cols. (1990), então, supõem que os modelos de depressão existentes não
dão conta de lidar com a “sensibilidade à recompensa”, que para eles é ponto fundamental
em uma simulação de depressão com animais em laboratório, e propõem o modelo do
11 Vale notar que os autores usam o termo recompensa e não reforço. Uma vez que esses não são sinônimos,
Chronic Mild Stress (CMS) como o melhor modelo experimental da depressão.
Modelo do Chronic Mild Stress (CMS)
O presente trabalho refere-se ao modelo de Chronic Mild Stress e por isto o modelo
será descrito em maiores detalhes aqui.
O modelo do Chronic Mild Stress (CMS) baseou-se originalmente em um
experimento de Katz, Roth e Carroll (1981), no qual ratos eram submetidos a uma
variedade de "estressores" não sinalizados, que incluíam um conjunto de eventos aversivos
como: choques elétricos, imersão em água gelada e pinçamento do animal pelo rabo. Após
uma semana de submissão a tais estímulos aversivos, notou-se que foram produzidas
mudanças no comportamento dos sujeitos, medidas a partir de atividades de campo aberto.
Além disso, em um outro experimento realizado também por Katz (1982),
percebeu-se uma mudança no consumo de água com sacarose destes animais, ou seja,
notou-se um decréscimo no consumo desta solução após a submissão aos estressores.
Assim, este último experimento parecia permitir uma maneira de se medir anedonia, a
partir da observação de mudanças no consumo de líquido pelos sujeitos. Esta foi uma
descoberta importante, segundo Wilnner, Towell, Sampson, Sophokleous e Muscat (1987),
por apresentar uma nova medida de sensibilidade à recompensa: a quantidade de água e
água com açúcar ingeridas.
Os autores (1987) afirmam que, teoricamente, a sacarina ou sacarose adicionadas à
água aumentariam a probabilidade de se consumi-la, ou seja, aumentariam o seu valor de
recompensa. O experimento de Katz (1982) reproduzia, aparentemente, anedonia, pois os
sujeitos que antes consumiam dada quantidade de água com sacarose, não mais o faziam
autores hipotetizassem que os sujeitos tornaram-se “insensíveis” a esta “recompensa”, a
água doce.
A partir das descobertas de Katz (1982), Willner, Towell, Sampson, Sophokleous e
Muscat (1987) relataram em uma mesma publicação quatro experimentos, com o objetivo
de reproduzir a anedonia e de avaliar as suas condições produtoras. Os autores tinham
como objetivo, ainda, estender os resultados de Katz (1982). Para isso, propuseram cinco
alterações no experimento de Katz (1982): (1) na severidade dos estressores, que foi
reduzida para que uma analogia mais real com a vida diária pudesse ser obtida; (2) na
medida, com o uso de duas garrafas de testes para aumentar a sensibilidade da medida de
preferência; (3) na freqüência das medidas, que passariam a ocorrer semanalmente durante
a exposição ao regime de estresse, para estabelecer o curso temporal do efeito; (4) na
inclusão de um teste com antidepressivos, para se verificar a possibilidade de reversão do
déficit de preferência produzido; (5) na introdução de uma avaliação da interferência de
outros fenômenos que não os “estressores”, como os níveis de glicose no sangue.
O primeiro experimento examinou os efeitos da exposição aos estressores no
consumo e preferência por sacarina. O segundo, usando um número maior de estressores,
examinou a preferência por água com sacarose e água salina e os efeitos do antidepressivo
tricíclico desmetilemipramina (DMI). Neste segundo experimento, ainda, a sacarina foi
substituída pela sacarose para se verificar se os efeitos produzidos pela submissão aos
estressores se mantinham, uma vez que a sacarina é uma substância não calórica e a
sacarose é calórica. O terceiro experimento replicou a exposição aos estressores e verificou
os efeitos do DMI na preferência por sacarose, além de examinar as possíveis influências
dos níveis de corticosterona e de glicose no sangue. O quarto e último experimento
concentrada. Estes experimentos são descritos mais pormenorizadamente posteriormente e
o protocolo12 que apresenta como se deu a exposição aos estressores encontra-se no
Quadro 1.
Os sujeitos utilizados em todos os experimentos foram ratos machos (Lister),
pesando entre 310 e 350g. Todos ficavam em gaiolas que mediam 26 x 19 x 38 cm,
sozinhos, mantidos em um ciclo claro-escuro de 12h e com comida e água livres.
Em todos os experimentos, o teste de consumo de líquido era feito na gaiola viveiro
do animal, entre 14 e 15 hs, uma vez por semana. O teste de consumo de líquido consistia
no quanto de líquido o animal havia consumido. Isto era medido pelo peso das garrafas de
teste que eram pesadas antes e depois do período de teste. Setenta e duas horas antes do
início da medida da linha de base, expunha-se os animais por quarenta e oito horas às duas
garrafas com as soluções de teste (água com sacarose, água com sacarina ou água com
cloreto de sódio, a depender do experimento) e com água pura. As garrafas eram
contrabalançadas entre os lados direito e esquerdo do compartimento de comida. Esse
procedimento foi adotado para os testes tanto durante a fase de linha de base quanto
durante a submissão ao “regime de estresse” e após tal submissão. 13
A partir da quantidade de líquido consumida nos testes, os autores (1987) mediam
quantidade de água e de água com sacarose (total) nos testes. Para indicar a preferência por
água com sacarose, Willner e cols. (1987) tomaram por base a porcentagem de água com
sacarose consumida em relação ao total de líquido consumido, por teste.
No Experimento 1, após quatro horas de privação de água e comida, uma solução
de 0,1% de solução de sacarina era colocada à disposição de 24 ratos, por uma hora, uma
vez por semana. A linha de base foi tomada, conforme descrito anteriormente, no teste de
12 Todo o conjunto de estressores a que os sujeitos foram submetidos é chamado de “protocolo ou regime de
estresse”.
consumo de líquido, que foi feito antes, durante e depois da submissão ao “regime de
estresse”. Após a linha de base do consumo da solução, os animais foram alocados em dois
grupos de doze sujeitos. Um grupo foi submetido ao seguinte conjunto de estressores,
durante cinco semanas: privação de comida; privação de água; iluminação contínua;
inclinação de 30°(da gaiola; permanência na gaiola com outro sujeito; gaiola suja (100 ml
de água derramada na gaiola); exposição à temperatura rebaixada (10o C). O outro grupo
não foi submetido ao “regime de estresse” e foi considerado grupo controle. Willner e cols.
(1992) salientam o fato de que mesmo os ratos considerados não estressados foram
submetidos a dois estressores: eles ficavam isolados em suas gaiolas e foram submetidos à
privação de água antes dos testes de consumo de água e água com sacarose.
Nas duas primeiras semanas de exposição aos estressores, mediu-se o consumo de
água com sacarina, com a apresentação ao sujeito de somente uma garrafa, uma vez com
água, outra com água com sacarina. Nas semanas 3, 4 e 5 foram realizados testes com duas
garrafas, uma contendo 0,1% de sacarina e outra água pura, colocadas à disposição dos
sujeitos simultaneamente. Conforme descrito anteriormente, estes testes foram realizados
uma vez por semana.
Nos testes realizados nas duas primeiras semanas de exposição ao conjunto de
estressores, com uma garrafa, constatou-se que o consumo de sacarina decresceu
consideravelmente no grupo submetido aos estressores quando comparado ao grupo
controle. Nos testes com duas garrafas, que ocorreram a partir da terceira semana de
exposição aos estressores, verificou-se que aumentou o consumo de água com sacarina no
decorrer do tempo no grupo controle, embora não houvesse mudança significativa no
grupo submetido ao estresse. Durante todos os testes (com uma e duas garrafas), os sujeitos
do grupo controle consumiram mais água com sacarina que água. No entanto, para os
sujeitos do grupo submetido ao regime de estresse não houve diferença significativa entre
o consumo de água e água com sacarina.
Os autores afirmam, como conclusão, que a preferência por água com sacarina
decresceu no grupo de animais estressados, no decorrer do tempo, mas permaneceu
inalterada no grupo controle. Segundo os autores, a preferência por sacarina diminuiu
significativamente em comparação ao grupo controle nas semanas 4 e 5.
No Experimento 2, realizado pelo mesmo grupo de pesquisadores do Experimento
1, dois grupos de 20 ratos foram privados de água e comida por vinte e três horas antes do
teste com duas garrafas, uma contendo água e a outra contendo ou 1% de solução de
sacarose ou 0,5% de solução de cloreto de sódio. O cálculo de consumo durante as linhas
de base foi realizado da mesma maneira que no experimento 1. Um dos grupos foi
subdividido em dois subgrupos de 10 sujeitos cada e um subgrupo recebeu água com 1%
de sacarose e outro recebeu água salina (antes, durante e após a submissão ao “regime de
estresse”). O outro grupo de 20 sujeitos foi tomado como grupo controle.
O subgrupo de sacarose e o subgrupo de cloreto de sódio foram submetidos a um
“regime de estresse” durante seis semanas e o teste de preferência de líquido, com duas
garrafas, foi realizado em intervalos semanais. O regime de estresse a que estes sujeitos
foram submetidos foi similar ao do experimento 1, com a adição dos seguintes estressores:
barulho intermitente (85 dB); luz estroboscópica (300 flashes por minuto); exposição a
uma garrafa de água vazia após um período de privação; acesso restrito a comida (poucas
pelotas de 45 mg de comida espalhadas pela gaiola); odores diferentes (por exemplo,
desodorantes purificadores de ar); presença de um objeto estranho na gaiola (por exemplo,
um pedaço de madeira ou plástico). Além disso, a intensidade de alguns estressores foi
da gaiola aumentou de 30 (para 50 e a permanência com outro sujeito na gaiola aumentou
de dois para quatro sujeitos). Detalhes do programa de apresentação de tais estressores
neste experimento também são dados no Quadro 1.
Os resultados indicaram que, nos animais submetidos ao “regime de estresse”, o
consumo de água e de água com sacarose diminuiu no decorrer das três semanas de
exposição aos estressores. No grupo controle o consumo de água com sacarose aumentou e
o de água se manteve. Estas mudanças não se refletiram na análise de preferência até a
terceira semana, quando a preferência por sacarose nos ratos submetidos ao estresse foi
significativamente reduzida se comparada com o grupo controle. O efeito do DMI após
tratamento crônico de duas semanas foi o de aumentar o consumo de água com sacarose e
reinstalar a preferência por essa nos animais estressados. Ou seja, o antidepressivo pareceu
anular os efeitos do protocolo de estresse. O total de líquido ingerido pelos animais não
estressados não diferiu entre os grupos que consumiram água com sacarose e água salina.
Além disso, nem o grupo controle nem o de animais estressados mostrou mudança
significativa quanto ao consumo de solução salina nas três primeiras semanas de exposição
aos estressores. No entanto, os grupos de animais que consumiram solução salina
reduziram o consumo de água durante o mesmo período de três semanas. Como resultado,
houve uma tendência ao aumento pela preferência tanto no grupo controle quanto no grupo
de sujeitos estressados, mas não houveram diferenças significativas em relação à
preferência por solução salina entre os grupos controle e de animais estressados.
Assim, a solução de água com sacarose pareceu possibilitar uma medida de
consumo e preferência mais próxima àquela que se pretendia (de “sensibilidade à
recompensa”), o que não ocorreu com a solução salina.
ratos foram distribuídos em dois grupos. Um destes grupos foi submetido ao mesmo
regime de estresse usado no experimento 2 durante nove semanas. O outro grupo não
passou pelos estressores. Após três semanas, DMI foi administrado para 11 animais de
cada grupo (grupo experimental e grupo controle). Durante este período e por mais quatro
semanas após a retirada do regime de estresse e do DMI, a preferência por água com
sacarose foi medida em intervalos semanais, com exceção das semanas 8 e 10, quando
amostras de sangue foram retiradas, para que um teste do nível de glicose no sangue fosse
feito. Os resultados obtidos neste experimento são similares aos do experimento 2. Um
teste do nível de corticosterona no sangue também foi realizado na semana 8. Isto foi feito
porque uma possível explicação para a diminuição do consumo de sacarose pelos animais
estressados, segundo Willner e cols. (1987), poderia advir do argumento de que o estresse
aumentaria os níveis de glicose e de corticosterona no sangue. Entretanto, os autores
afirmam ter medido tais variáveis e que elas permaneceram inalteradas com este “regime
de estresse”. Duas semanas após a última submissão ao “regime de estresse”, a preferência
e o consumo de água com sacarose ainda se mantinham baixos. Mesmo após quatro
semanas, a preferência não voltou ao nível da linha de base, embora o consumo de água
com sacarose tivesse voltado. Além disso, notou-se que o DMI não interferiu no
comportamento dos animais não estressados, mas aumentou a preferência por água com
sacarose nos animais estressados, após quatro semanas.
No Experimento 4, dois grupos de doze ratos foram submetidos a testes de
consumo e preferência com uma solução mais fraca de água com sacarose (0,6%) após
passarem pelo “regime de estresse”. Neste mesmo experimento, administrou-se DMI a um
grupo por seis semanas e, durante este período, os testes com duas garrafas foram
As alterações nas quantidades de consumo obtidas a partir dos testes com uma
solução mais fraca de água com sacarose foram substancialmente menos significativas que
aquelas obtidas com 1%, pois a diferença entre as quantidades de água e água com
sacarose ingeridas foi menor. Isto verificado, concluiu-se que esta solução mais fraca
produziu uma preferência menor que a produzida pela solução de 1% de sacarose usada
nos experimentos 2 e 3, nos testes com duas garrafas.
Os resultados destes estudos, segundo Willner e cols. (1987), parecem ampliar as
descobertas de Katz e cols. (1981), pois indicariam que a exposição a um “regime de
estresse suave” desenvolveu gradualmente anedonia nos animais no decorrer de algumas
semanas: uma redução na preferência por sacarose se manteve por um período de 2 a 4
semanas após a retirada de tal regime (experimento 3), o que indicaria que a mudança
comportamental não seria causada pela proximidade entre o teste e algum estressor.
Outra variável isolada pelos autores foi o uso de sacarina (não calórica) ou sacarose
(calórica), pois uma outra possibilidade de “explicação” do efeito comportamental seria a
de uma regulação calórica como efeito da ingestão de sacarose. Uma vez que ambas as
soluções produziram o mesmo efeito, parece que a redução no consumo de água com estas
soluções, após a submissão ao protocolo de estresse, não seria um efeito de uma regulação
calórica e sim um efeito anedônico específico da submissão ao regime de estresse. Nesse
sentido, para os autores, a não preferência por água com sacarose e/ou sacarina parece
poder ser explicada por uma redução em suas “propriedades recompensadoras”, redução
essa que parece se relacionar com a submissão a um regime de estresse crônico e suave e
não por mudanças sensoriais ou motoras. Portanto, os efeitos comportamentais observados
– anedonia, como foi chamado – seriam produto da exposição dos sujeitos ao chamado
Para avaliar os efeitos isolados de cada um dos componentes – os estressores –
envolvidos no “regime de estresse”, Muscat e Willner (1992) realizaram um experimento
no qual media-se o consumo de água e água com sacarose antes, durante e depois da
submissão a cada estressor a fim de se verificar se eles sozinhos eram necessários ou
suficientes para causar anedonia. Constatou-se que o único estressor que reduziu o
consumo de água com sacarose isoladamente foi a colocação de outro sujeito na gaiola.
Entretanto, os efeitos duraram apenas uma semana e o sujeito voltou a consumir água e
água com sacarose nas mesmas quantidades que antes da exposição à nova situação
(parece ter havido uma habituação a esta nova situação de outro sujeito na gaiola).
Segundo os autores, nenhum dos estressores isoladamente pareceu ser necessário e
suficiente para manter um decréscimo no consumo de água com sacarose, sendo a
combinação de um conjunto de estressores (em termos de variedade) que pareceu ser o
elemento essencial para que o “regime de estresse” produzisse anedonia.
Partindo do suposto que o modelo do Chronic Mild Stress produz um decréscimo
no consumo de sacarose e na preferência por essa, e que este decréscimo é explicado por
uma mudança na "sensibilidade à recompensa, o presente trabalho pretendeu verificar se o
que é denominado “insensibilidade à recompensa” (ou anedonia), neste caso, poderia ser
descrito como diminuição do valor reforçador do reforço. Os experimentos citados
(Wilnner, e cols., 1987) não permitem afirmar que uma solução de água com sacarose seja
um reforçador ou que o consumo menor seja produto de uma redução no valor do reforço,
uma vez que este estímulo não é produzido como conseqüência de uma classe de respostas
(não é produzido sistematicamente por uma ação/ resposta do sujeito) que tenha sido
Estímulo Reforçador e Recompensa
Skinner (1953/1989)14 define reforçamento de uma resposta como o processo pelo
qual uma conseqüência contingente a uma resposta do organismo aumenta a probabilidade
futura de ocorrência dessa última enquanto uma classe de respostas.
Skinner chama a atenção para o fato de que uma resposta que já ocorreu não pode
ser prevista ou controlada e que, portanto, as respostas que têm sua probabilidade
aumentada com o reforçamento são aquelas que são controladas pela mesma conseqüência.
Assim, na ciência do comportamento, muda-se não uma resposta, mas uma classe de
respostas, e Skinner (1953/1989) dá o nome de operante para o conjunto de respostas que
produzem uma mesma conseqüência, enfatizando o fato de que o comportamento opera
sobre o ambiente para gerar conseqüências e que, portanto, pode ser definido por um efeito
que pode ser especificado. (Skinner, 1953/ 1989, p. 73).
Estas conseqüências que aumentam a probabilidade de ocorrência do
comportamento são denominadas pelo autor (1953/1989) de estímulos reforçadores.
Catania (1998), conforme Skinner (1953/1989), define reforçador, como um
estímulo que segue uma resposta e aumenta a probabilidade da resposta que o produziu
ocorrer novamente. Em suma, o “reforçador” é um estímulo, enquanto que o
“reforçamento” é um processo ou uma operação. "Reforça-se respostas e não organismos, e
o que se produz com o reforçamento são duas mudanças no sujeito, que se referem à
probabilidade de ocorrência futura da resposta e a sensações". (Catania, 1998, p. 405).
Skinner (1953/1989) salienta que há outras palavras, como recompensa, que se
refeririam ao efeito da conseqüência do responder sobre o sujeito, mas que só através da
14 A Edição utilizada no presente trabalho foi a 7ª edição brasileira, traduzida do original, Science and Human
análise experimental (ou seja, da manipulação das conseqüências e da medida de seus
efeitos sobre o responder) poder-se-ia dizer que uma conseqüência é reforçadora.
Catania (1998) também levanta tal questão e afirma que apesar de ser tentador
igualar recompensa e reforço, isso pode induzir a erro. Um reforçador não se define pela
sensação que causa no organismo e, portanto, não é sinônimo de recompensa. O reforçador
só será assim denominado após a observação do efeito de aumento de probabilidade no
comportamento do indivíduo. O termo recompensa não leva em consideração este efeito
fortalecedor.
Catania (1998), novamente ecoando Skinner (1953/1989), resume o processo do
reforçamento operante, afirmando que é somente depois de se observar uma mudança na
freqüência de determinada resposta que se pode dizer que tal processo ocorreu.
Frente à definição de reforçador, como estímulo que ao consequenciar uma resposta
aumenta a probabilidade futura de ocorrência de respostas da mesma classe, fica a questão:
o procedimento do Chronic Mild Stress altera o valor reforçador da água com sacarose?
Valor Reforçador do Estímulo
Estabelecida a função de estímulo reforçador, uma questão importante, dentre
outras, para que o analista do comportamento explique a variabilidade do responder é
enfocada em termos de motivação e de valor reforçador do estímulo.
Millenson (1967) afirma que um comportamento fortemente motivado é aquele que
é mantido por um reforçador poderoso. O autor (1967), ao discutir o valor reforçador de
estímulos, afirma que diferentes operações podem alterar o valor reforçador de um
estímulo e estas operações referem-se, por exemplo, a mudanças nas condições anteriores à
apresentação do estímulo reforçador. No caso do estímulo reforçador água, por exemplo,
operações como privação, exercício forçado, mudança na temperatura e administração de
certas drogas podem modificar o valor do estímulo reforçador água.
Catania (1998), também discutindo o valor reforçador dos estímulos, afirma que as
consequências do comportamento têm sua efetividade modificada por operações que
mudam a probabilidade de ocorrência do comportamento. Estas operações são chamadas
operações estabelecedoras.
Usando a privação como exemplo de uma operação que modifica o valor reforçador
do estímulo água, Skinner (1953/1989) afirma que, sob circunstâncias normais, um
organismo bebe intermitentemente e mantém-se em um estado estável. Quando o
organismo é privado da oportunidade de beber água, o estímulo água terá seu valor
reforçador modificado e o beber terá maior probabilidade de ocorrência.
Por exemplo, se um organismo está mais propenso a beber água muito tempo
depois de tê-la bebido do que logo após bebê-la é a probabilidade do comportamento e não
a água que muda. Neste caso, diz-se que beber água é evocado pela operação
estabelecedora, privação de água. Mas é também ocasionado pela presença de água, porque
o beber só pode ocorrer na presença de água e pela história de condicionamento do sujeito.
Millenson (1967) afirma que não há uma só maneira de medir o valor reforçador
dos estímulos e que qualquer medida de força da resposta necessariamente é também uma
medida da força do estímulo reforçador ou, mais precisamente, do valor reforçador do
reforço, isto é, só é possível medir o valor reforçador de um estímulo a partir da medida
dos efeitos comportamentais dos estímulos quando eles são contingentes a respostas
operantes.
Segundo Millenson (1967), parece haver um conjunto de medidas comportamentais
reforçador do estímulo). Quando se aumenta o valor reforçador do estímulo, por exemplo,
o sujeito trabalha mais depressa em um esquema de reforçamento em intervalo, chega a
responder em uma razão mais alta em um esquema de razão progressiva, supera mais
obstáculos, ou adquire mais rapidamente uma nova habilidade. (Millenson. 1967, p. 358).
“A covariação sistemática em um número de medidas comportamentais independentes em relação a uma única operação (por exemplo, privação) fornece uma base para a introdução de um conceito que irá resumir e denominar essa covariação. O termo valor reforçador é justamente este conceito.” (Millenson, 1967, p. 359).
O estudo das maneiras pelas quais se pode medir valor reforçador do estímulo
consiste em uma área de investigação na análise do comportamento.
Petry e Heyman (1995) afirmam que a economia comportamental é um método que
tem sido aplicado para análise da relação entre reforçadores. Adota-se neste procedimento
a “lei da demanda” que estipula que o consumo total diminui quanto o custo de resposta
aumenta, se todas as outras variáveis estiverem iguais. Poder-se-ia, então, aplicar a “lei da
demanda” em situação controlada de laboratório, uma vez que a exigência da resposta pode
ser análoga ao custo e o consumo pode ser objetivamente medido.
Em um dos experimentos descritos pelos autores (Petry e Heyman, 1995),
submeteu-se os sujeitos a uma situação em que o mesmo reforçador (solução de água com
10% de sacarose) ficava disponível próximo de duas barras, uma de cada lado da caixa
operante. Com valores idênticos de VR, os sujeitos responderam exclusivamente em uma
barra. Aumentando-se o valor do VR do lado em que havia preferência, o responder
mudava para a outra barra.
Notou-se que as taxas de respostas nas duas barras mudaram com as mudanças na
VR8 – VR10), os sujeitos alternavam entre as duas barras. Os autores sugerem que
mudanças nos requerimentos das respostas podem ter sido difíceis de serem detectadas
pelos sujeitos devido ao fato de estes estarem acostumados a responder em só lado.
Ademais, Petry e Heyman (1995) afirmam que este resultado sugere que a
preferência pelo lado deve ser uma variável a ser considerada quando da análise do valor
reforçador de um estímulo em um esquema concorrente, pois os sujeitos podem estar
respondendo em uma das barras devido ao controle exercido pelo lado e não pelo estímulo
reforçador.
Segundo Macenski e Meisch (1998), a taxa de respostas tem sido tradicionalmente
utilizada para avaliar a força e probabilidade de uma resposta e a efetividade de um
estímulo reforçador. No entanto, critica-se o uso da taxa absoluta de respostas como um
índice de efetividade do estímulo reforçador a partir da afirmação de que o estímulo
reforçador é apenas uma das variáveis que afetam a taxa de respostas. Por consequência, os
métodos de razão progressiva e as medidas de taxa relativa de respostas também são
utilizados para se obter dados relativos à efetividade de reforçadores, como possíveis
alternativas para o problema.
Os métodos de razão progressiva, segundo Macenski e Meisch (1998), referem-se
aos procedimentos nos quais o número de respostas exigidas para reforçamento aumenta
gradualmente na sessão ou no decorrer da sessão. Nesta situação, as medidas de taxa
relativa de respostas expressam o responder em relação a uma segunda medida para o
responder. De maneira geral, as variações no requerimento da resposta ou a magnitude de
reforçadores são, então, estudadas.
Macenski e Meisch (1998) afirmam que, em experimentos com drogas, nota-se que
nos estudos em que houve uma variação sistemática, no decorrer das sessões, da exigência
foram relativamente menores nos comportamentos mantidos por doses maiores de
droga.No experimento descrito pelos autores (1998), examinou-se um responder mantido
por cocaína com diferentes concentrações da droga em diferentes valores de VR e FR.
Investigou-se também as relações entre concentração de cocaína, taxa de respostas,
exigência da resposta, medidas de persistência e efeitos reforçadores. Foram comparados,
ainda, os dados obtidos com outras medidas de efeito reforçador. Macenski e Meisch
(1998) observaram que a cocaína parece ter tido uma função de estímulo reforçador para o
responder e que maiores concentrações da droga tiveram maior efeito reforçador.
Os autores (1998) afirmaram que apesar das diferenças nas condições
experimentais os resultados observados com base em uma linha de base estável são os
mesmos nos vários métodos de análise e provêm a mesma possibilidade de análise, de uma
maneira geral. Macenski e Meisch (1998) sugerem que: (a) apesar das diferenças
qualitativas entre drogas e outros estímulos reforçadores, como comida, os estímulos
reforçadores encontram-se na mesma relação funcional entre a magnitude do reforço e a
resposta sob esquema FR de reforçamento; (b) dentro de uma gama de valores, os efeitos
reforçadores são diretamente proporcionais à magnitude do reforço e (c) isso minimiza a
utilidade do uso de medidas de taxa relativa de respostas quando se pretende verificar os
efeitos de um estímulo reforçador. Parece, assim, que Macenski e Meisch (1998) propõem
que a taxa absoluta de respostas seria sim uma medida sensível do efeito de um estímulo
como reforçador.
Com base nesta afirmação, a taxa absoluta de respostas foi utilizada como medida
TRABALHO DESENVOLVIDO NO LABORATÓRIO DE PSICOLOGIA
EXPERIMENTAL DA PUC-SP
Willner e cols. (1987) afirmam que o Chronic Mild Stress (CMS) produziria uma
insensibilidade à recompensa e o fazem a partir dos seguintes dados: (a) a quantidade de
água e água com sacarose ingeridas pelos sujeitos decresce após seis semanas de
submissão ao conjunto de estressores, e (b) a tendência de ingerir mais água com sacarose
que água verificada antes da submissão aos estressores não é mais observada após
submissão a esses.
O objetivo do presente trabalho foi o de investigar o efeito da experiência da
submissão ao “regime de estresse”, proposto por Willner e cols. (1987), chamado de
Chronic Mild Stress (CMS), no desempenho dos sujeitos em um esquema concorrente de
FR. Isto permitiria avaliar se o que os autores chamam de “insensibilidade à recompensa”
poderia ser tomado como sinônimo de “diminuição do valor reforçador do estímulo”: a
submissão ao “regime de estresse” afetaria o valor reforçador do estímulo? Para responder
esta questão, mediu-se o desempenho dos sujeitos em uma contingência em que seu
responder produziu água ou água com sacarose, antes e depois da submissão ao conjunto
de estressores do CMS.
Supõe-se que o desempenho em um esquema concorrente FR – FR, de mesmo
valor, produz taxas de respostas diferentes nas duas barras a depender da qualidade do
estímulo reforçador, dado que a exigência da resposta é a mesma. Assim, a medida
utilizada para análise, no presente estudo, consistiu das taxas de respostas mantidas por
água e por uma solução de água com 8% de sacarose, em um esquema concorrente FR15 –
FR15.
Atentando-se para o fato de que poderia haver uma preferência por lado / posição