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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO UFMT FACULDADE DE DIREITO CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO AGROAMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE

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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO

– UFMT

FACULDADE DE DIREITO

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO EM DIREITO

AGROAMBIENTAL E SUSTENTABILIDADE

ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS RIOS URBANOS

ALAN OLIVER DE ALMEIDA SOLIZ

CUIABÁ – MT 2016

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ALAN OLIVER DE ALMEIDA SOLIZ

ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS RIOS URBANOS

Trabalho apresentado ao Curso de Especialização de Direito Agroambiental e Sustentabilidade do Programa de Pós-Graduação Lato

sensu da Universidade Federal do

Estado de Mato Grosso. Professora Orientadora Msc. Anete Fiuza.

CUIABÁ – MT 2016

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ALAN OLIVER DE ALMEIDA SOLIZ

ESTAÇÕES DE TRATAMENTO DE ÁGUA E ESGOTO E SUA IMPORTÂNCIA PARA OS RIOS URBANOS

Monografia defendida e aprovada em março de 2016 pela Banca Examinadora constituída pelos professores:

____________________________________________ Orientadora: MSc. Anete Fiuza

Presidente

___________________________________ Professor:

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DEDICATÓRIA

Especialmente ao ser humano, para que entenda que a água é sinônimo de sobrevivência na terra.

(5)

AGRADECIMENTOS

À Deus, pela oportunidade da vida. A minha família, pelo amor e carinho.

(6)

"As feridas da alma só diferem das do

corpo por serem invisíveis."

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RESUMO

O planeta terra se depara em um momento de conscientização por um mundo sustentável. A sua população enfim aceitou o fato de que os recursos naturais são finitos e podem desaparecer quando menos se espera. A comunidade se esforça para elaborar formas de conter o consumo desenfreado dos recursos naturais, dentre eles, a água passa a assumir o destaque principal. Sinônimo de vida, a água desempenha papel essencial para a sobrevivência do ser humano e o crescente aumento populacional, superando os 7 bilhões de habitantes, traz um alerta quanto à oferta desse recurso à população. Simultaneamente, o aumento do número de habitantes traz consigo vários problemas como a poluição dos corpos hídricos, essenciais para o uso e consumo do homem. Dado o sinal de alerta, as nações se empenham para introduzir instrumentos legais para frear a degradação ambiental, principalmente dos rios urbanos. Dentre esses instrumentos destacam-se o controle da quantidade e qualidade da água disponibilizada aos seus usuários bem como as importantes instalações de tratamento de água e esgoto que representam um papel importante de combate à poluição dos rios urbanos.

Palavras-chave: Água. Expansão urbana. Rios urbanos. Estações de

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ABSTRACT

The planet earth faces in a moment of awareness for a sustainable world. Its population finally accepted the fact that natural resources are finite and may disappear when least expected. The community strives to develop ways to contain the rampant consumption of natural resources, among them, the water begins to assume the main highlight. Synonymous with life, water plays an essential role in the survival of human beings and the increasing population growth, surpassing the 7 billion people, is a warning as to offer this resource to the population. Simultaneously, the increase in population brings various problems such as pollution of the water bodies that are essential for human use and consumption. Given the warning sign, nations strive to introduce legal instruments to curb environmental degradation, especially in urban rivers. Among these instruments stand out track of the amount and quality of water available to your users and important installations of water treatment and sewage represent an important role in combating pollution of urban rivers.

Keywords: Water. Urban Sprawl. Urban Rivers. Treatment Plants Water and

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ... 10

CAPÍTULO I ... 13

A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA ... 13

1.1 A Expansão Urbana ... 19

1.2 Legislação brasileira de proteção da água ... 21

1.3 Princípios de proteção da água ... 26

1.3.1 Princípio da dignidade da pessoa humana ... 28

1.3.2 Princípio da precaução ou cautela ... 29

1.3.3 Princípio da prevenção... 30

1.3.4 Princípio da cooperação... 31

1.3.5 Princípio do poluidor-pagador ... 32

1.3.7 Princípio do usuário-pagador ... 33

1.3.6 Princípio do desenvolvimento sustentável ... 33

1.3.7 Princípio da participação e informação ... 34

CAPÍTULO II ... 37

POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS: ENQUADRAMENTO DAS ÁGUAS E OUTORGA DE USO ... 37

2.1 Classificação das águas... 43

2.2 Outorga do direito de uso ... 46

CAPÍTULO III ... 50

POLÍTICA NACIONAL DE SANEAMENTO BÁSICO ... 50

3.1 Influências do Plano Diretor e Estatuto da Cidade ... 56

3.2 Requisitos urbanísticos para o loteamento: suas implicações no saneamento básico ... 59

CAPÍTULO IV ... 62

A PROBLEMÁTICA GESTÃO DA ÁGUA ... 62

CONCLUSÃO ... 68

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INTRODUÇÃO

Toda a água do planeta se mantém em constante movimento, e assim sustenta a vida na Terra. A água é um recurso natural primário essencial à existência humana, sempre esteve associado à agricultura e a alimentação, sua importância já ocorria desde o surgimento das primeiras civilizações que buscavam estrategicamente construir suas cidades próximas aos leitos dos rios.

Ao longo do tempo a água foi ganhando um destaque maior devido ao crescimento populacional e a consequente poluição dos rios as quais passaram a afetar o fornecimento deste recurso à população em quantidade e qualidade.

O aumento no número de habitantes no mundo representa não apenas um consumo maior de água potável, mas também uma produção maior de resíduos sólidos que necessitam de destinação correta. Ocorre que os rios urbanos, aqueles localizados próximos às cidades, têm sido lugares de despejo sem o devido tratamento. A qualidade das águas assim como todo o ecossistema tem sido afetada, os rios que eram corredores de vida animal e paisagens naturais acabaram sendo consumidas pela paisagem urbana dando lugar a canais de esgoto e destino do lixo.

A potencialidade dos rios como forma de proporcionar qualidade de vida e lazer a população foi perdendo espaço para a expansão urbana. A água que assumiu um importante papel para surgimento das cidades foi sendo deixada de lado em meio ao crescimento econômico e populacional dos centros urbanos. Os rios tinham muito a oferecer, além de água: controle do território, alimentos, possibilidade de circulação de pessoas e bens, energia hidráulica, lazer, entre tantos outros. E desta forma as paisagens fluviais foram paulatinamente se transformando também em paisagens urbanas.1

Os novos centros urbanos trouxeram consigo não apenas a poluição despejada em sua maioria nos rios, mas problemas de abastecimento

1 COSTA, Lucia Maria Sá Antunes (org). Rios e paisagens urbanas em cidades brasileiras. Rio de Janeiro: Viana e Mosley Editora, 2006. p. 10.

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de água, esgotamento sanitário, manejo de resíduos sólidos e manejo de águas pluviais. Esses quatro problemas dão definição a um conjunto de serviços públicos que constituem o saneamento básico.

O saneamento básico introduzido pela Lei n. 11.445/072 pode ser definido como um conjunto de ações e serviços públicos integrando o espaço urbano e ambiental promovendo a saúde coletiva e melhorias da qualidade de vida no campo e na cidade. O saneamento básico refere-se a todo um ciclo da água desde sua captação, passando por seu tratamento e distribuição à população e terminando com o consumo final.

O sistema de abastecimento de água e esgoto aparece como importante instrumento de saúde pública e preservação dos rios localizados próximos às cidades, a qualidade da água coletada, bem como a despejada deve passar por estações de tratamento observando rigoroso procedimento de eliminação de poluentes de acordo com a sua destinação final.

A realidade do saneamento básico no Brasil ainda é longe da ideal, segundo dados que fazem parte da Pesquisa de Informações Básicas Municipais (IBGE), de 2013, dos 5.570 municípios brasileiros, 2.659 não monitoravam a qualidade da água e quase a metade, 2.676, também não possui plano de saneamento básico.3 O cenário é que ainda não se alcançou o nível desejado de implementação da política de saneamento e a deficiência na distribuição e fornecimento da água trazem uma necessidade urgente de se encontrar uma solução.

A criação das estações de tratamento de redes de água e esgoto passa pela legislação municipal e seu Plano Diretor e têm sido cada vez mais um assunto discutido por engenheiros, arquitetos e profissionais do Direito, pois o crescimento urbano cada vez mais faz fronteira com os recursos naturais que necessitam da devida proteção.

O ordenamento jurídico brasileiro foi evoluindo gradativamente, a criação das leis de proteção ao meio ambiente interagem entre si e

2 BRASIL. Lei de n. 11.445/2007. Dispõe sobre as diretrizes nacionais para o saneamento

básico. Brasília: Presidência da República, 2007. Disponível em:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2007/lei/l11445.htm>. Acesso em: 17 jul. 2015.

3 BRASIL. Brasil não trata maior parte do esgoto urbano. Disponível em: <http://www12.senado.leg.br/emdiscussao/edicoes/escassez-de-agua/desperdicio-e-poluicao-poluidos-rios-urbanos-nao-ajudam-no-abastecimento>. Acesso em: 24 jul. 2015.

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se eficazes quando estão em sendo aplicadas conjuntamente, no entanto, o problema é bem mais complexo do que parece.

Esta monografia estuda as normas de proteção das águas e suas relações com os serviços de tratamento de água e esgoto buscando esclarecer a importância da preservação dos rios urbanos com uma efetiva política de saneamento básico.

Para tal, no capítulo 1, discute-se a importância da água como recurso natural.

No capítulo 2, aborda-se a Política Nacional de Recursos Hídricos: enquadramento das águas e outorga de uso.

No capítulo 3, descreve-se a Política Nacional de Saneamento Básico e a distribuição do esgoto sanitário nos municípios do país.

No capítulo 4, procura-se discutir como ocorre a gestão da água e seus problemas que afetam diretamente a população.

Para finalizar, resume-se a discussão a respeito das estações de tratamento de água e esgoto e sua importância para os rios urbanos, bem como para o uso de todos.

(13)

CAPÍTULO I

A IMPORTÂNCIA DA ÁGUA

A água é um recurso natural que é essencial para a existência da vida, nenhum tipo de vida seria possível sem ela. Para o ecossistema terrestre ela pode desempenhar papel como integrante da cadeia alimentar e de processos ecológicos ou fator condicionante do clima e habitats. A dimensão de sua importância é vista nas missões espaciais que procuram além de vida extraterreste resquícios de água. Com o passar dos anos esse recurso ganhou cada vez maior destaque, pois o homem foi transformando bacias hidrográficas em um mar de esgoto e outros resíduos poluidores. A busca por água já gera conflitos em regiões do Oriente Médio onde a demanda de água ultrapassa em grande medida o abastecimento renovável. Esta região dá conta de 3% da população mundial, mas só tem 1% da água doce do mundo. A água doce da região é utilizada em sua maioria para a agricultura, e as perdas de água fornecida nos sistemas de distribuição municipais frequentemente ultrapassam 50% de água fornecida para uso urbano.4 Tamanho recurso estratégico que sua importância torna-se fator de instabilidade política ou causador de conflitos violentos a nível local, regional e interestadual. A projeção para o futuro é que o grande ouro deixará de ser o petróleo e passará a ser a água. Pesquisas revelam que a água seria o principal fator que levaria os países do Oriente Médio à guerra.5

Embora o a superfície da Terra seja coberto de água, apenas 2,5% desse total são formados por água doce, destinada a consumo, irrigação e outros usos. O percentual é ainda menor quando levamos em conta que 80% dela está contida na criosfera, em geleiras e nos polos do planeta. A

4 WORLD Bank. From Scarcity to Security: Averting a Water Crisis in the Middle East and North Africa (1995).

5 SHLOMI, Dinar. The Israel Palestinian Water Conflict and its Revolution: A Critique of International Relations Theory, presented at the International Studies Association Conference in Washington, 1999.

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partir desses dados podemos concluir que a água não é um recurso abundante e tampouco barato.6

Um grande problema encontra-se na distribuição da água, embora o Brasil tenha sido agraciado com cerca de 12% da água possível de ser utilizada em todo mundo a verdade é que ela se encontra má distribuída – na região Amazônica situam-se 80% dela, já as regiões Nordeste e no Centro Oeste há grande escassez –, isso é apenas o começo do problema, ao observar o potencial hídrico encontramos um cenário de poluição dos rios, principalmente urbanos, a percentagem chega a 90% de nosso esgoto doméstico e cerca de 70% das descargas industriais nos rios, lagos e represas, contaminando o solo, a água de superfície e as águas subterrâneas.

Outro detalhe ainda mais importante é o desperdício da água. Enquanto a média mundial de perdas nas redes de distribuição é de cerca de 10%, no Brasil atingimos assustadores 40% de desperdício das águas que passam pelas estações de tratamento.7 Na região Nordeste se joga mais água fora do que se consome, o percentual de perdas chega a 60%. O Instituto Trata Brasil, divulgou o Ranking do Saneamento8, com base nas informações sobre a coleta e tratamento de esgotos de 2013. O relatório concluiu-se uma média de 40% de perda da água tratada e disponível para o abastecimento devido a vazamentos, ligações clandestinas e problemas na rede de distribuição, destaque para as cidades de Cuiabá-MT e Várzea Grande-MT em que as perdas chegam até 67%.

A cidade de São Paulo atravessa uma crise hídrica de abastecimento de água e esses constituem alguns dos problemas. É inegável que a escassez de chuvas contribui para o agravamento da oferta da água na cidade, mas é oportuno lembrar que o problema também está relacionado com a responsabilidade dos atores e instituições envolvidas na governança da água.

6 MILARÉ, Édis. Direito do ambiente. 7.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2012. p. 261. 7 NOVAES, Washington. Pequeno, bonito e barato.

8 BRASIL. Ranking do saneamento. Instituto Trata Brasil. Resultados com base no SNIS 2013. Disponível em: <http://www.tratabrasil.org.br/datafiles/estudos/ranking/relatorio-completo-2015.pdf>. Acesso em: 15 set. 2015.

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Para entender a crise que se passa na cidade é preciso saber que a Macrometrópole Paulista (MMP) abrange as Regiões Metropolitanas de São Paulo (RMSP), da Baixada Santista (RMBS), de Campinas (RMC), do Vale do Paraíba (RMVP) e do Litoral Norte (RMLN), e, ainda as aglomerações urbanas de Sorocaba, Piracicaba e Jundiaí e outras duas microrregiões. Portanto, são cerca de 173 municípios, correspondendo a 50% da área urbanizada do estado de São Paulo, e mais de 30 milhões de habitantes.9 Dentro da grande região da Macrometrópole Paulista, estão presentes oito Unidades de Gerenciamento de Recursos Hídricos: Paraíba do Sul, Litoral Norte, PCJ (Piracicaba, Capivara e Jundiaí), Alto Tietê, Baixada Santista, Mogi Guaçu, Tietê/Sorocaba e Ribeira do Iguape e Litoral Sul.

Segundo o Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, as maiores demandas de água na região constituem em abastecimento público, indústrias e irrigação, levando em conta que a região é responsável por 83,4% do PIB do estado de São Paulo e 27,5% do PIB do Brasil.10

Segundo a Agência Nacional de Águas as bacias hidrográficas do rio Paraíba do Sul, PCJ (Piracicaba, Capivara e Jundiaí) e Alto Tietê apresentam normalmente um quadro crítico de disponibilidade hídrica, tanto qualitativa como quantitativa.

A grande concentração populacional na Região Metropolitana de São Paulo agrava as condições de oferta da água, a região é marcada pela complexidade de um ambiente urbano com ocupação e uso do solo desordenado e intenso. A empresa Sabesp (Companhia de Saneamento Básico do Estado de São Paulo) é responsável por oito sistemas produtores

9 EMPLASA. Empresa Paulista de Planejamento Metropolitano. Plano de Ação da

Macrometrópole. Informativo n. 1, maio/2012. Disponível em:

<http://www.emplasa.sp.gov.br/newsletter/maio/interno/caracteristicas_objetivos.asp>. Acesso em: 30 maio. 2015.

10 SÃO PAULO (estado). DAEE. Departamento de Águas e Energia Elétrica. Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista. 2013. Disponível em: <http:///www.daee.sp.gov.br/index.php?option=com_content& view=article&id=1112:plano-diretor-de-aproveitamento-dos-recursos-hidricos-para-a-macrometropole=-paulista&catid-42:cambate-a-enchentes>. Acesso em: 2 jun. 2015.

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de água11, dentre eles destacam-se o sistema Cantareira, o sistema Guarapiranga e o Sistema Alto Tietê.

A má gestão do Governo do Estado na concessão de outorga de uso para abastecimento de água efetuada pela Sabesp é um ponto que muitas vezes não é lembrado nos meios de comunicação. Em relatório sobre crise da água em São Paulo12, além do Poder Público, a Sabesp é apresentada como responsável por não realizar estudos e projetos que reduzissem a pressão de captação das águas do Sistema de abastecimento da Cantareira, bem como não manter e instituir mecanismos controle de perda e combate ao desperdício e formas de reuso da água.

A principal causa para a pior crise hídrica da história da região, apontada pelos principais veículos de informação, foi a falta de chuvas no verão 2013/2014 conforme apresentado na análise realizada pelo Instituto de Energia e Ambiente da Universidade de São (IEE/USP) em parceria com o Instituto Democracia e Sustentabilidade (IDS)13.

De fato, a média de chuvas no sistema Cantareira (desde 2003) entre janeiro e julho é de 933 mm. Em 2013, o volume foi de 762 mm e, em 2014, de apenas 533 mm. Desse modo, em dois anos, a pluviosidade total nesses períodos foi de 1.295 mm, quando o esperado seriam 1.866 mm. O déficit em relação à média foi de 30,7% em um período relativamente longo de dois anos. Os meses de dezembro são aqueles em que há menor nível de água nas represas do sistema, em razão da sazonalidade do regime de chuvas. Os volumes de dezembro para os anos de 2009 a 2013 foram os seguintes: 92,5%; 72,5%; 69,0%; 47,6%; 30,3% e, finalmente, 18%. O índice de dezembro de 2012, de 47,6% não parece baixo à vista de ser exatamente

11 ISA. Instituto Socioambiental. Aliança pela água e estudo: Água@SP serão lançados

nesta quarta feita em São Paulo. 28.10.2014b. Disponível em:

<http://www.socioambiental.org/pt-br/blog/blog-da-agua/alianca-pela-agua-e-estudo-aguasp-serao-lancados-nesta-quarta-feira-em-sp>. Acesso em: 10 dez. 2015.

12 BRASIL. Sistema Cantareira e a Crise da Água em São Paulo – a falta de transparência no acesso à informação. Artigo 19, 2014. Disponível em: <http://artigo19.org/wp-content/uploads/2014/12/Relat%C3%B3rio-Sistema-Cantareira-e-

a-Crise-da-%C3%81gua-em-S%C3%A3o-Paulo-%E2%80%93-a-falta-de-transpar%C3%AAncia-no-acesso-%C3%A0-informa%C3%A7%C3%A3o.pdf> Acesso em: 16 jun. 2015.

13 IDS. Instituto Democracia e Sustentabilidade. Mesa-redonda reúne especialistas e imprensa para discutir abordagens e alternativas para a crise hídrica em SP. 2014. Disponível em: <http://www.idsbrasil.net/pages/viewpage.action?pageId=30474259>. Acesso em: 2 jun. 2015.

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o menor valor esperado sazonalmente. Apenas em 2013 e 2014 os níveis ficaram em 30% ou abaixo, o que é consistente com os dois anos extremamente secos. De fato, considera-se que a situação em São Paulo corresponde à pior seca dos últimos 84 anos.14

Outros fatores que não podem ser esquecidos e agravam a crise da água na cidade são: má qualidade das águas dos rios por falta de tratamento de esgoto doméstico; desmatamento e ocupação em áreas de mananciais; falta de planejamento para a construção de novos reservatórios; falta de investimentos para a redução de perdas e falta de coordenação institucional.

O comparativo da captação água e seu armazenamento nos mananciais da Região Metropolitana de São Paulo pode ser observado no gráfico abaixo15, destacando-se para a enorme diferença de acúmulo e produção de água dos anos de 2014 e 2015 (período mais grave) em relação ao ano de 2016 que apresenta uma relativa melhora graças à alta pluviosidade.

14 BRASIL. Senado Federal. Boletim Legislativo nº 27. A crise hídrica e suas consequências. Disponível em: <http://www12.senado.gov.br/publicacoes/estudos-legislativos/tipos-de-estudos/boletins-legislativos/bol27>. Acesso em: 12 fev. 2016.

15 SÃO PAULO (estado). SABESP. Secretaria Estadual de Abastecimento do Estado de São

Paulo. Boletim mananciais. Disponível em:

<http://site.sabesp.com.br/site/uploads/file/boletim/

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Fonte: SABESP, 2016.

Deste modo, a falta de chuvas nas cabeceiras dos rios que formam parte dos sistemas de abastecimento de água é um grande problema que pode comprometer todo o sistema hídrico da Região Metropolitana de São Paulo, diante da falta de planejamento no trato com o recurso hídrico.

O Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista, publicado em 2013, já apontava para a necessidade de ampliar a oferta de água na RMSP, bem como a necessidade de estabelecer condições para o enfrentamento dos eventuais períodos de seca e falhas de sistema, por meio da adoção de um plano de contingência e emergências, com medidas bem estruturadas, como fazem diversos países.16

A crise hídrica acontece em todo o mundo e na maioria das vezes é mais de gerenciamento do que crise real de escassez. A crise da água apresenta como principais causas: intensa urbanização, aumentando a

16 SAÕ PAULO (estado). DAEE. Departamento de Águas e Energia Elétrica. Plano Diretor de Aproveitamento de Recursos Hídricos para a Macrometrópole Paulista. 2013. Disponível em: <http:///www.daee.sp.gov.br/index.php?option=com_content&view=

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demanda pela água; estresse e escassez de água em muitas regiões do planeta em razão das alterações na disponibilidade e aumento de demanda; infraestrutura, com perdas de até 30% de água após o seu tratamento; problemas de estresse e escassez em razão de mudanças globais com eventos hidrológicos extremos (chuvas intensas e período intenso de seca); e problemas na falta de articulação e falta de ações consistentes na governabilidade de recursos hídricos e na sustentabilidade ambiental.17

Portanto, a situação tende a se agravar mais ainda se levarmos em conta o aumento populacional nos próximos, a expansão urbana constante sobre o meio ambiente, o crescimento econômico dos países desenvolvidos e em desenvolvimento, o aumento da produção de alimentos e utilização de água na sua produção; a questão de como administrar e controlar a água e sua qualidade é um dos grandes desafios para o mundo.

1.1 A Expansão Urbana

A urbanização consiste em um processo em que a população urbana supera a rural, ocorre uma concentração populacional em determinado centro urbano. A Revolução Industrial foi o grande impulsionador do fenômeno da urbanização sendo considerada uma das mais importantes transformações sociais do século XX, no Brasil, o fenômeno se deu mais profundamente a partir da década de 60, na década seguinte o crescimento da população urbana superou o da população total. A urbanização é um processo de migração do meio rural para os grandes centros com a esperança de lá obter melhores condições de vida. As pessoas que chegam às cidades normalmente não possuem qualificação técnica e na maioria das vezes acabam ficando desempregadas, isso gera aumento das favelas, pobreza e criminalidade. O problema é maior quando imaginamos que uma cidade normalmente não está preparada para oferecer a infraestrutura adequada para sua população, o que dirá para uma explosão populacional repentina. Nesse cenário ocorre um processo de

17 TUNDISI, José Galizia. Recursos hídricos no futuro: problemas e soluções. Disponível em: <http://www.scielo.br/pdf/ea/v22n63/v22n63a02.pdf>. Acesso em: 11. set.2015.

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exclusão social, parte menos favorecida da população sofre com a falta e deficiência de serviços públicos, isso consequentemente gera poluição, degradação do meio ambiente, doenças, deterioração dos serviços e das estações de tratamento.

Um dos maiores problemas encontrados na interação entre cidades e rios é a ocupação das margens dos rios feita de forma desordenada sem respeitar as dinâmicas das bacias de drenagem e ocupação dos seus leitos. Um dos grandes desafios é organizar a população em bacias hidrográficas, conscientizando a sociedade da importância de proteger os espaços das bacias, o meio ambiente ao seu redor e principalmente a o ciclo da água, tratando-se de um processo de introdução de uma nova cultura que envolve trabalho educativo, de caráter socioambiental.18

Nas áreas urbanas os rios sofrem com modificações, ocupação irregular e desordenada da faixa marginal, degradação, confinamento em canais de concreto, a paisagem vai dando lugar a tudo aquilo que é descartado pela sociedade. O conceito de rios urbanos pode assim ser definido:

“Os rios urbanos são aqueles que, dialeticamente, modificam e são modificados na sua inter-relação com as cidades. E a partir dessa interação, surge algo que é, ao mesmo tempo, natural e cultural, orgânico e artificial, sujeito e objeto, algo híbrido por que não é mais natural, mas também não se transformou ao ponto de deixar de carregar em si a Natureza.”19

Com a rápida urbanização, as pessoas passaram a ocupar a cidade sem que o planejamento territorial acompanhasse o forte crescimento. O alto valor do solo urbano junto com a falta de trabalho levou a população mais carente a ocupar leitos de rios de maneira irregular e com isso os rios passaram a servir como depósito de lixo. Paisagem natural começou a ser destruída, contaminada e aos poucos foi dando lugar a um emaranhado de construções de concreto.

18 SILVA, Juliana da Rocha; HERCULANO, Selene. Rios urbanos, microbacias e suas gentes. Revista VITAS. Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade. Ano V, nº 9, fevereiro de 2015. Disponível em: <www.uff.br/revistavitas>. Acesso em: 16 set. 2015. 19 ALMEIDA, L.Q. de; CARVALHO, P.F. de. A negação dos rios urbanos numa

metrópole brasileira. Grupo de Pesquisa Análise e Planejamento Territorial – GPAPT, 2012.

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Esses problemas foram atingindo direta e indiretamente o meio ambiente, afetando valores relacionados com saúde, habitação, lazer, segurança, direito ao trabalho e tantos outros essenciais a uma vida saudável. O Poder Público se manteve omisso e resultou em uma poluição de quase todos os rios urbanos das maiores cidades do Brasil.

O meio ambiente é o mais afetado por esse processo, pois a destinação do lixo urbano não é feita adequadamente. As águas em meio urbano são áreas vulneráveis e são as que mais vêm sendo poluídas, canalizadas, aterradas, sem levar em conta seu potencial paisagístico e de uso público.

Vários países do mundo todo demonstram ser possível a revitalização dos rios urbanos poluídos: Canadá, França, Reino Unido, Londres, Seul. São exemplos de países que implantaram políticas para aproximar a comunidade local a participar na recuperação dos rios, investiram em construções de tratamento de esgoto e água, criaram normas mais rígidas para o despejo de esgoto pelas indústrias dentre outras ações20. O objetivo da recuperação dos rios está além muito além de melhorar a qualidade da água, há uma tentativa de reinserir rios e córregos na paisagem urbana, recuperar a memória desses corpos hídricos, conectar espaços públicos, valorizar os serviços ambientais prestados à cidade, promover a participação pública.21

1.2 Legislação brasileira de proteção da água

O recurso natural água se encontra em crescente diminuição no mundo que a previsão é de que em 2050 cerca de dois bilhões de pessoas não tenham acesso a esse recurso. O modelo adotado pelas nações do mundo não corresponde ao desenvolvimento sustentável tão sugerido e

20 BRASIL. 7 Cidades que despoluíram seus rios e podem nos inspirar. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/7-cidades-que-despoluiram-seus-rios-e-podem-inspirar-brasil#5>. Acesso em: 16. jun.2015

21 JACOBI, Pedro R.; SILVA-SÁNCHEZ, Solange. Política de Recuperação de Rios Urbanos na Cidade de São Paulo. R.B. Estudos Urbanos e Regionais v. 14, n.2. Novembro 2012. Disponível em: <http://unuhospedagem.com.br/revista/rbeur/index.php/rbeur/article/view File/4105/4003>. Acesso em: 11. set.2015.

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discutido em fóruns e convenção internacionais de meio ambiente realizados ao longo dos anos.

O ano de 1949 foi realizado a Conferência Científica das Nações Unidas sobre a Conservação e Utilização dos Recursos Naturais, pela primeira vez após a Segunda Guerra Mundial, cientistas e demais interessados de vários países do mundo discutiram soluções e os impactos ocasionados ao meio ambiento, entretanto, não foi dada a devida importância a vários temas como, por exemplo, a contaminação industrial. Em 1964 realizou-se a denominada UNCTAD – Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento, que discutiu a questão do uso das águas marítima sob o ponto de vista econômico, ignorando o recurso como meio a ser preservado.

Em 1971, a Conferência das Nações Unidos sobre o Ambiente Humano foi realizada em Estocolmo, Suécia, evento que se avaliou e discutiu a temática ambiental, consolidando bases das políticas ambientais que posteriormente foram adotadas pelos países.

A partir da Conferência de Estocolmo a Organizações das Nações Unidos estabeleceu a Comissão Mundial sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, presidida pela Primeira-Ministra da Noruega, Gro Harlem Brundtland, cujo propósito foi propor um programa de ação em nível mundial para a o desenvolvimento econômico conciliado com as questões de proteção ambiental. Dessa conferência nasceu o famoso Relatório Brundtland denominado “Nosso Futuro Comum”, com o objetivo de estabelecer programas ambientais nacionais a serem aplicados a realidade de cada uma das nações.

Em 1980, aconteceu a primeira grande conferência sobre a água sob o nome de ‘Decênio Internacional do Fornecimento de Água Potável e Saneamento’, proclamado pela ONU, evento realizado com a finalidade de melhorar o fornecimento de água potável e de promover a cobertura adequada do saneamento básico às pessoas que ainda não possuem.

A segunda grande conferência da água ‘Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente’ organizada pela ONU foi realizada em Dublin (1992), Irlanda, essa conferência foi considerada de suma importância, pois

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pela primeira vez constatou-se a situação crítica dos recursos hídricos.22 A partir dessa conferência houve um enfoque no aproveitamento e gestão dos recursos hídricos, em especial a água doce, concluindo-se que essa questão só se concretizará se acontecer um compromisso político com a participação dos mais altos níveis dos governos em conjunto com as comunidades locais. Desta mesma conferência surgiu um programa de ação sob o título de ‘A Água e o Desenvolvimento Sustentável’, cujo primeiro princípio diz: “a

água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para garantir a vida, o desenvolvimento e o meio ambiente”.23 As autoridades mundiais começaram a compreender a importância da água para a sobrevivência do ser humano, não apenas como fonte de alimento, mas como fonte essencial para promoção da qualidade de vida e saúde pública. Foram discutidas questões sobre a proteção do ambiente e as medidas de proteção contra desastres naturais; sobre a conservação e o reaproveitamento da água; o desenvolvimento urbano sustentável; sobre a produção agrícola e o fornecimento de água potável ao meio rural; sobre a proteção dos sistemas aquáticos e as questões transfronteiriças, bem como se reconheceu a existência de conflitos geopolíticos derivados da posse das bacias hidrográficas.24

Após Dublin, nos anos seguintes aconteceram vários Fóruns Mundiais da Água em que se discutiram as ações a serem tomadas para implementar o manejo integrado dos recursos e hídricos e reduzir pela metade as pessoas sem acesso a água potável e saneamento básico.

Em 1999, na cerimônia de abertura do seminário “Água, o desafio do próximo milênio”, foram lançadas as bases do que seria a ANA – Agência Nacional de Águas, que seria criada como desdobramento da Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos n. 9.443/97 conhecida também como Lei das

22 ONU. Organização das Nações Unidas. Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente.. Dublin, 1992, Irlanda. Meio Século de Lutas: Uma Visão Histórica da Água. Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_doce/meio_ seculo_de_lutas%3A_uma_visao_historica_da_agua.html. Acesso: 01 jan. 2016.

23 Idem, p. 01.

24 TRUJILLO, Ana Carolina Corrêa. A sustentabilidade da água no Brasil e, em particular, na cidade de São Paulo nos dias atuais. Revista NPI, p. 1-16, 2014. Disponível em: <http://www.fmr.edu.br/npi4.html>. Acesso: 22 jan. 2016.

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águas.25 Dentre as características da ANA cabe a disciplinar a implementação, a operacionalização, o controle e a avaliação dos instrumentos de gestão criados pela referida lei. A legislação federal instituiu junto com a Política Nacional de Recursos Hídricos o seu gerenciamento por meio do Sistema de Recursos Hídricos (SINGREH), uma ferramenta de gestão com a finalidade de coletar informações de forma contínua sobre a qualidade e quantidade dos recursos hídricos.

A lei federal em seu art. 33 define como integrantes do Sistema de Recursos Hídricos: o Conselho Nacional de Recursos Hídricos; a Agência Nacional de Águas, os Conselhos de Recursos Hídricos dos Estados e do Distrito Federal; os Comitês de Bacias Hidrográficas; as Agências de Água; os órgãos dos poderes públicos federal, estadual do Distrito Federal e municipal cujas competências se relacionem com a gestão de recursos hídricos.

A Agência Nacional de Águas também possui papel importante na criação dos comitês de bacias hidrográficas. Os comitês são compostos por representantes da sociedade civil, dos usuários da água, dos poderes públicos e possuem a tarefa da aplicação adequada dos instrumentos de gestão na bacia. O fornecimento da água também é de competência da agência que é responsável pela concessão da água em âmbito federal, ou seja, quando os recursos hídricos pertencerem à União.

A outorga inicialmente introduzida no ordenamento jurídico por meio do Código de Águas – Dec. 24.643, de 10.07.1934 - foi o primeiro diploma legal que possibilitou ao Poder Público disciplinar o aproveitamento industrial das águas e exploração da energia hidráulica. O decreto preocupava-se mais com a quantidade do que com a qualidade das águas. O Código de Águas, apesar de muito antigo, encontra-se ainda em vigor, porém muitos de seus artigos estão superados por leis posteriores.

Durante os anos sessenta, várias leis foram criadas implicando efeitos diretamente sobre a água: o artigo 2º, VII da Lei nº 4.132/62 estabeleceu, dentre os casos de desapropriação de terras por interesse social, a hipótese de proteção do solo e preservação de cursos e mananciais

25 BRASIL. ANA. Agência Nacional das Águas. Lei n. 9.443/97. Lei da Política Nacional de Recursos Hídricos. Brasília: ANA, 1997.

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de água, bem como de reservas florestais; foi instituída a Ação Popular – Lei nº 4.717/65 – um instrumento legal para o cidadão, em nome da coletividade beneficiária direta e imediata da ação, obter a invalidação de atos ou contratos administrativos ilegais ou lesivos ao patrimônio público, incluiu-se o meio ambiente; o Código Florestal – Lei nº 4.771/65 – criou as áreas de preservação permanente e, indiretamente, protegeu a vazão e a qualidade das águas ao determinar, no artigo 2º, a preservação das florestas e das matas ciliares situadas ao longo dos cursos d’água, nascentes, lagos, lagoas ou reservatórios; o novo Código Florestal – Lei nº 12.651/12 -, por sua vez, ampliou a quantidade de Áreas de preservação Permanente sujeitas à intervenção ou supressão de vegetação nativa ampliando o rol de hipóteses de atividade pública e interesse social, considerado por muitos um retrocesso ambiental; as Constituições Federais de 1967 e de 1969, não trouxeram qualquer modificação no tratamento das águas em relação às Cartas anteriores. O Decreto nº 75.700/75 – estabeleceu área de proteção para fontes de água mineral. O Decreto nº 79.367/77 – determinou as normas e o padrão de potabilidade de água.26

A Lei 6.93827, de 31.08.1981, dispôs sobre a Política Nacional do Meio Ambiente trouxe o pensamento de desenvolvimento sustentável ao prever princípios de proteção e de garantia ao meio ambiente, bem como instituiu instrumentos da política nacional. A legislação criou o Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, integrado por órgãos federais, estaduais e municipais, responsáveis pela proteção ambiental. O órgão superior desse Sistema é o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA, ao qual compete, entre outras atribuições,

“estabelecer normas, critérios e padrões relativos ao controle e à manutenção da qualidade do meio ambiente com vistas ao uso racional dos recursos ambientais, principalmente os hídricos” (art..8 º, VII, da Lei 6.938/81).

26 FIORILLO, Celso A.P. Curso de direito ambiental brasileiro. 3.ed. São Paulo: Saraiva, 2002. p. 122.

27 BRASIL. Lei de n° 6.938/81. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente. Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/Leis/L6938.htm>. Acesso em: 16 set. 2015.

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A Constituição Federal de 1988 foi um marco importante para a legislação ambiental, constatando que a água se caracterizou como um recurso dotado de valor econômico com a possibilidade exploração dos cursos das águas.28 A carta magna prevê ainda, à União instituir sistema nacional de gerenciamento de recursos hídricos e definir critérios de outorga de direitos de seu uso.

1.3 Princípios de proteção da água

A água é essencial para prover a vida na terra, é a fonte de crescimento e desenvolvimento econômico. Nas últimas décadas esse recurso natural foi se tornando mais escasso e virou sinal de qualidade de vida. A utilização inteligente da água disponível constitui um avanço na cultura e hábitos dos habitantes do planeta, o reconhecimento da importância desse recurso hoje é vista em cada decisão política tomada. A evolução da importância da água fez surgir vários princípios chaves que serviram de base para regulamentar a ordem jurídica das nações e, também, direcionam as políticas públicas para garantir efetividade e a disponibilidade do recurso em qualidade e quantidade aceitável para as futuras e presentes gerações. O autor Cid Tomanik Pompeu (apud GRANZIERA, 2003) define o direito de águas como um “conjunto de

princípios e normas jurídicas que disciplinam o domínio, uso, aproveitamento e preservação das águas, assim como a defesa de suas danosas consequências.”29

Já Maria Granziera define o direito de águas como:

“(...) o conjunto de princípios e normas jurídicas que disciplinam o domínio, as competências e o gerenciamento das águas, visando

28 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasília: Presidência

da República, 1988. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constitui.htm. Acesso: 03 fev. 2016. 29 POMPEU, Cid Tomanik. Rios urbanos, microbacias e suas gentes. Revista VITAS.

Visões Transdisciplinares sobre Ambiente e Sociedade. Disponível em:

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ao planejamento dos usos e à preservação, assim como a defesa de seus efeitos danosos, provocados ou não pela ação humana.”30

Os princípios sobre direito do ambiente foram resultados de discussões realizadas em algumas Conferências internacionais em que se discutiram a problemática relacionada ao recurso natural água – quantidade e qualidade da água, fornecimento e saneamento básico.

Dentre as Conferências internacionais destacam-se: a) a Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano (Estocolmo/72), a Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e desenvolvimento (Rio/92) e a Cúpula Mundial sobre Desenvolvimento Sustentável em Jonesburgo (Rio+10/2002); b) as conferências internacionais que abordaram questões específicas das águas e recursos hídricos: a Conferência das Nações Unidas sobre Água em Mar del Plata de 1977 (Argentina), a Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente de Dublin em 1992.

A Conferência das Nações Unidas sobre a água em Mar del Plata (1977) tratou especificamente sobre o abastecimento potável de água e saneamento nos países desenvolvidos e afirmou-se em seu relatório: “todos os povos, quaisquer que sejam seu estágio de desenvolvimento e suas condições sociais e econômicas, tem direito ao acesso à água potável em quantidade e qualidade à altura de suas necessidades básicas” (A/RES/32/158)31. Esse relatório consagrou o princípio da cooperação na valorização dos recursos compartilhados e buscou avaliar as consequências da má utilização desses recursos.

A Declaração sobre água e Desenvolvimento Sustentável adotada em Dublin (1992) afirmou a importância da água e sua adequada utilização bem como desenvolveu os seguintes princípios:

Princípio nº 1 – Água doce é um recurso finito e vulnerável, essencial para manutenção da vida, o desenvolvimento e o meio ambiente;

30 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de aguas: disciplina jurídica das águas doces. 2ed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 24.

31 SILVA, Solange Teles da. Proteção das aguas continentais: a caminho de uma gestão

solidária das águas. Disponível em:

<http://www.publicadireito.com.br/conpedi/manaus/arquivos/anais/bh/solange_teles_da_sil va.pdf>. Acesso em: 16 jun. 2015.

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Princípio nº 2 – O desenvolvimento e a gestão da água devem ser baseados no enfoque participativo, envolvendo os usuários, planejadores e políticos em todos os níveis;

Princípio nº 3 – As mulheres têm um papel centra na provisão, gestão e preservação da água;

Princípio nº 4 – A água tem um valor econômico em todos os seus múltiplos usos e deve ser reconhecida como um bem econômico.32

Outros princípios foram consagrados na mesma conferência como o princípio do desenvolvimento sustentável, o princípio da precaução, o direito das futuras gerações, os princípios de participação e informação, cooperação internacional e a famosa Agenda 21, uma agenda de vários programas para serem desenvolvidos, o capítulo 1833 cita alguns dele: a) desenvolvimento e manejo integrado dos recursos hídricos; b) avaliação dos recursos hídricos; c) a proteção dos recursos hídricos, da qualidade da água e dos ecossistemas aquáticos; d) abastecimento de água potável e saneamento; e) água e o desenvolvimento urbano sustentável; f) água para a produção de alimentos e desenvolvimento rural sustentáveis; g) impactos da mudança do clima sobre os recursos hídricos.

As conferências realizadas ao longo dos anos serviram para debater a importância que os recursos naturais têm para proporcionar a vida na terra bem como para buscar princípios gerais para sua gestão e proteção. Os relatórios dessas reuniões constituíram uma base de princípios de proteção ao meio ambiente

1.3.1 Princípio da dignidade da pessoa humana

Toda a população tem direito a água potável em quantidade e qualidade, os bairros periféricos são os que mais sofrem com a interrupção no abastecimento, o Estado, portanto, deve garantir que não haja

32 ONU. Organização das Nações Unidas. Conferência Internacional sobre Água e Meio Ambiente.. Dublin, 1992, Irlanda. Meio Século de Lutas: Uma Visão Histórica da Água. Disponível em: http://ambientes.ambientebrasil.com.br/agua/artigos_agua_doce/meio_ seculo_de_lutas%3A_uma_visao_historica_da_agua.html. Acesso: 01 jan. 2016.

33 BRASIL. Conferência do Rio/92. Agenda 21. Disponível em:

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discriminação no acesso à água assegurando a dignidade da pessoa humana.

A Conferência de Estocolmo estabeleceu que o homem tem o direito fundamental a ter uma qualidade digna e a um ambiente propício para sua saúde, tendo como obrigação proteger e melhorar o meio ambiente para as gerações presentes e futuras (princípio 1) e preconizou que os recursos naturais da terra, dentre os quais a água, devem ser preservados mediante cuidadosa planificação ou ordenamento. O reconhecimento internacional do princípio da dignidade da pessoa humana encontra guarida, nos princípios 1 e 2 da Declaração de Estocolmo, sendo posteriormente reafirmado pela Declaração do Rio, proferida na Conferência das Nações Unidas sobre Meio Ambiente e Desenvolvimento, Rio 92:

“Princípio 1 – Os seres humanos constituem o centro das preocupações relacionadas com o desenvolvimento sustentável. Têm direito a uma vida saudável e produtiva em harmonia com o meio ambiente.”34

1.3.2 Princípio da precaução ou cautela

O princípio da prevenção significa antecipar um acontecimento, desta forma, a sua finalidade é prevenir mediante ações ou medidas preventivas ou acautelatórias no sentido de combater as causas da degradação ambiental e evitar, eliminar ou reduzir os efeitos dos danos ambientais previstos e acautelados. O princípio é encontrado na Conferência das Nações Unidas sobre o Meio Ambiente Humano quando essa conferência declarou que os recursos da terra deveriam ser preservados em benefício das presentes e futuras gerações mediante uma cuidadosa planificação ou ordenamento.

O mesmo princípio, por sua vez, só veio a se concretizar a partir da Conferência do Rio/92. O princípio 15 da Declaração do Rio afirma:

“De modo a proteger o meio ambiente, o princípio da precaução deve ser amplamente observado pelos Estados, de acordo com

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suas capacidades. Quando houver ameaça de danos sérios ou irreversíveis, a ausência de absoluta certeza científica não deve ser utilizada como razão para postergar medidas eficazes e economicamente viáveis para prevenir a degradação ambiental”.35

O mencionado princípio encontra-se expresso na Lei n. 11.105/2005, que trata da lei de biossegurança, cujo art. 1º diz:

“Esta Lei estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização sobre a construção, o cultivo, a produção, a manipulação, o transporte, a transferência, a importação, a exportação, o armazenamento, a pesquisa, a comercialização, o consumo, a liberação no meio ambiente o descarte de organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, tendo como diretrizes o estímulo ao avanço científico na área de biossegurança e biotecnologia, a proteção à vida e à saúde humana, animal e vegetal, e a observância do princípio da precaução para a proteção do meio ambiente.”36.

1.3.3 Princípio da prevenção

É princípio que se assemelha ao princípio da precaução, no entanto eles não se confundem. O princípio da prevenção aplica-se a impactos ambientais que possuem alguma previsão de seus possíveis efeitos, assim há uma identificação dos impactos futuros mais prováveis.

O princípio da prevenção está amplamente incorporado à ordem jurídica brasileira na Constituição Federal em seu art. 225, § 1º, IV37, que prevê o Estudo de Impacto Ambiental há de ser exigido previamente à ação proposta.

35 Idem, p. 01.

36 BRASIL. Lei nº 11.105, de 24 de março de 2005. Regulamenta os incisos II, IV e V do § 1o do art. 225 da Constituição Federal, estabelece normas de segurança e mecanismos de fiscalização de atividades que envolvam organismos geneticamente modificados – OGM e seus derivados, cria o Conselho Nacional de Biossegurança – CNBS, reestrutura a Comissão Técnica Nacional de Biossegurança – CTNBio, dispõe sobre a Política Nacional de Biossegurança – PNB, revoga a Lei no 8.974, de 5 de janeiro de 1995, e a Medida Provisória no 2.191-9, de 23 de agosto de 2001, e os arts. 5o, 6o, 7o, 8o, 9o, 10 e 16 da Lei no 10.814, de 15 de dezembro de 2003, e dá outras providências. Brasília:

Presidência da República, 2005. Disponível em:

http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2005/lei/l11105.htm. Acesso: 10 jan. 2016.

37 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil, 1988. Brasília: Presidência da República, 1988. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/ constituicao/constitui.htm. Acesso: 03 fev. 2016.

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O Estudo Prévio de Impacto ambiental, fixado na Lei n. 6.938/81, é um dos instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente, e é demonstração da aplicação concreta do princípio da prevenção. Além do referido estudo o licenciamento ambiental são estudos prévios que são realizados com dados já conhecidos. O licenciamento ambiental, na qualidade de principal instrumento para prevenir danos ambientais consegue evitar e minimizar possíveis efeitos causados por determinada atividade ao meio ambiente.

A Lei Federal n. 11.428, de 22.12.2006, que dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, também expressamente o prevê em seu art. 6.º, parágrafo único.38

1.3.4 Princípio da cooperação

O princípio da cooperação baseia-se na atuação conjunto do Estado e da população de forma a atuarem a evitar danos ao meio ambiente. De acordo com Veiga da Cunha:

“[...] a maioria dos acordos internacionais celebrados referem-se mais a direitos e obrigações dos países relativamente à água do que às formas de cooperação na gestão dos recursos hídricos, em nível das bacias hidrográficas internacionais. Essa cooperação não pode, aliás, ser efetiva, antes de serem convenientemente definidos aqueles direitos e obrigações, o que nem sempre é fácil de conseguir a contento das partes interessadas. (apud GRANZIERA, 2003, p.52) 39

Essa cooperação é efetivada no art. 23 da Constituição Federal que dispõe sobre a competência comum da União, Estados, Distrito Federal e Municípios, para proteger o meio ambiente e combater a poluição, tendo em vista o equilíbrio do desenvolvimento e do bem-estar no âmbito nacional.

Outro dispositivo que traz o princípio implicitamente é o artigo 225 da CF que diz:

38 BRASIL. Lei n. 11.428, de 22 de dezembro de 2006. Dispõe sobre a utilização e proteção da vegetação nativa do Bioma Mata Atlântica, também expressamente o prevê em seu art. 6.º, parágrafo único. Brasília: Presidência da República, 2006.

39 GRANZIERA, Maria Luiza Machado. Direito de aguas: disciplina jurídica das águas doces. 2ªed. São Paulo: Atlas, 2003. p. 52.

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“Todos têm direito ao meio ambiente ecologicamente equilibrado, bem de uso comum do povo e essencial à sadia qualidade de vida, impondo-se ao Poder Público e à coletividade o dever de defendê-lo e preservá-lo para as presentes e futuras gerações.”40

1.3.5 Princípio do poluidor-pagador

O princípio do poluidor pagador, por sua vez, foi consagrado na Conferência Rio 92, o décimo terceiro princípio diz

“Os Estados devem desenvolver legislação nacional relativa à responsabilidade e indenização das vítimas de poluição e outros danos ambientais. Os Estados devem ainda cooperar de forma expedita e determinada para o desenvolvimento de normas de direito internacional ambiental relativas à responsabilidade e indenização por efeitos adversos de danos ambientais causados, em áreas fora de sua jurisdição, por atividades dentro de sua jurisdição ou sob seu controle.”41

O décimo sexto princípio da mesma conferência afirma

“Tendo em vista que o poluidor deve, em princípio, arcar com o curso decorrente da poluição, as autoridades nacionais devem procurar promover a internacionalização dos custos ambientais e o uso de instrumentos econômicos, levando na devida conta o interesse público, sem distorcer o comércio e os investimentos internacionais”.42

Conforme se observa, o princípio do poluidor pagador tem como objetivo impor ao poluidor o dever de arcar com as despesas da prevenção de danos ambientais de acordo com sua atividade, caso mais danos ocorram mesmo após as despesas com prevenção, o poluidor será também responsabilizado por esses danos. Portanto, os recursos ambientais como água, ar, em função da sua natureza pública, sempre que forem prejudicados ou poluídos, implicam um custo público para a sua recuperação e limpeza. Este custo é suportado por toda a sociedade, o Princípio do Poluidor Pagador busca eliminar ou reduzir esses custos a valores insignificantes.

40 BRASIL. CF/88.Op. cit., p. 01.

41 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual direito ambiental. 10ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 144.

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1.3.7 Princípio do usuário-pagador

O princípio do usuário pagador consiste na cobrança de um valor econômico pela utilização de um bem ambiental. Diferentemente do princípio do poluidor-pagador, que tem uma natureza reparatória e punitiva, o princípio do usuário pagador possui uma natureza meramente remuneratória pela outorga do direito de uso de um recurso natural.

Ocorre uma relação contratual em que o usuário paga para ter uma contraprestação, correspondente ao direito de exploração de um determinado recurso natural, conforme o instrumento de outorga do Poder Público competente.

1.3.6 Princípio do desenvolvimento sustentável

O termo desenvolvimento sustentável surgiu na Conferência Mundial sore Meio Ambiente, realizada em Estocolmo (1972), foi consagrado definitivamente e transformado em princípio na reunião de 1992 no Rio de Janeiro.

O princípio procura conciliar o desenvolvimento econômico com a utilização racional dos recursos naturais para a melhoria da qualidade de vida do homem. A harmonia buscada pelo princípio tem por finalidade compatibilizar o atendimento das necessidades sociais e econômicas do ser humano visando à preservação do ambiente.

Esse princípio de desenvolvimento sustentável possui interfaces com a outorga do direito de uso da água, o licenciamento ambiental, os usos múltiplos e a noção de bacia hidrográfica como unidade de planejamento e gerenciamento.

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No Brasil, com a necessidade de conciliar desenvolvimento econômico e proteção do ambiente, surgiu a Lei n. 6.93843, de 31.8.1981 (arts.1º e 4º) como objetivo principal da Política Nacional do Meio Ambiente a compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico. Este objetivo leva à promoção do chamado desenvolvimento sustentável.

A evolução deste princípio é constante, seja no meio político, econômico ou social, a sociedade começou a perceber que os recursos ambientais não são inesgotáveis e toda decisão tomada deve, portanto, levar em conta os efeitos para o meio ambiente. Alguns doutrinadores denominam princípio da ubiquidade, ou seja, a preservação do meio ambiente deve estar presente em toda ação humana que possa causar algum impacto.44

1.3.7 Princípio da participação e informação

A Constituição Federal de 1988 consagrou o princípio da participação ao prever atuação conjunto do Estado e da Sociedade na proteção e preservação do meio ambiente, impondo-lhes direitos e deveres. O princípio foi incialmente fundamentado no princípio décimo da Declaração do Rio 92 que diz o seguinte:

“A melhor maneira de tratar questões ambientais é assegurar a participação no nível apropriado de todos os cidadãos interessados. No nível nacional, cada indivíduo deve ter acesso adequado a informações relativas ao meio ambiente de que disponham as autoridades públicas, inclusive informações sobre materiais e atividade perigosas em suas comunidades, bem como a oportunidade de participar em processos de tomadas de decisões. Os Estados devem facilitar e estimular a conscientização e a participação pública, colocando a informação à disposição de todos. Deve ser propiciado acesso efetivo a mecanismos judiciais e administrativos, inclusive no que diz respeito à compensação e reparação de danos”. Este princípio baseia-se em dois pontos importantes: a) informação; e b) conscientização ambiental.”45

43 BRASIL. Lei n. 6.938/81. Op. cit., p. 01. 44 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Op. cit., p. 141-142. 45 BRASIL. Conferência Rio/92. Op. cit., p. 01.

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A informação ambiental encontra respaldo legal na Lei de Política Nacional do meio Ambiente, em seu artigo 6º parágrafo 3º que diz

“Os órgãos central, setoriais, seccionais e locais mencionados neste artigo deverão fornecer os resultados das análises efetuadas e sua fundamentação, quando solicitados por pessoa legitimamente interessada.”46

E artigo 10º parágrafo primeiro

“Os pedidos de licenciamento, sua renovação e a respectiva concessão serão publicados no jornal oficial, bem como em periódico regional ou local de grande circulação, ou em meio eletrônico de comunicação mantido pelo órgão ambiental competente.”47

O acesso a informações deve garantir a população participe de qualquer decisão sobre a gestão da água, a crise da água em São Paulo é um exemplo de falta de acesso a informações e participação na tomada das decisões, em relatório48 sobre a crise hídrica conclui-se:

“É possível perceber também que há uma tentativa do Governo do Estado em minimizar a gravidade o problema do abastecimento. Durante a crise, a cautela do poder público em adotar medidas mais duras contra a escassez de água, como racionamento, rodízio ou multa por desperdício, está diretamente associada ao possível descontentamento da população em período de eleições. Neste sentido, o que ainda se observa é o tradicional embate entre decisão técnica versus decisão política; motivo pelo qual muitas das informações disponíveis chegam à população de forma a gerar dúvidas quanto à transparência do processo de tomada de decisão.”.49

Já a conscientização ambiental ou educação ambiental pode ser definida como um processo pelo qual a sociedade constrói valores sociais,

46 BRASIL. Lei nº 6.938, de 31 de agosto de 1981. Dispõe sobre a Política Nacional do Meio Ambiente, seus fins e mecanismos de formulação e aplicação, e dá outras providências. Brasília: Presidência da República, 1981. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l6938.htm. Acesso: 03 fev. 2016.

47 Idem, p. 01.

48 BRASIL. Sistema Cantareira e a Crise da Água em São Paulo – a falta de transparência no acesso à informação. Artigo 19, 2014. Disponível em: <http://artigo19.org/wp-content/uploads/2014/12/Relat%C3%B3rio-Sistema-Cantareira-e-

a-Crise-da-%C3%81gua-em-S%C3%A3o-Paulo-%E2%80%93-a-falta-de-transpar%C3%AAncia-no-acesso-%C3%A0-informa%C3%A7%C3%A3o.pdf> Acesso em: 16. jun.2015.

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conhecimentos, habilidades, atitudes e competências voltadas à conservação e sustentabilidade do meio ambiente com o objetivo de buscar uma aceitável qualidade de vida para o ser humano.

Educar ambientalmente significa: a) reduzir os custos ambientais, à medida que a população atuará como guardiã do meio ambiente; b) efetivar o princípio da prevenção; c) frizar ideia de consciência ecológica, que buscará sempre a utilização de tecnologias limpas; d) incentivar a realização do principio da solidariedade, no exato sentido que perceberá que o meio ambiente é único, indivisível e de titulares indetermináveis, devendo ser justa e distributivamente acessível a todos; e) efetivar o princípio da participação entre outras finalidades.50

A Política Nacional de Educação Ambiental foi instituída pela Lei n. 9.795, de 27 de abril de 1999, com o objetivo incumbido ao Poder Público de realizar programas de educação e conscientização pública,51 nos mais variados níveis de ensino, para a preservação do meio ambiente. A lei desempenha papel essencial na conservação e recuperação de paisagens que sofrem a atuação do homem, a participação da sociedade por meio de políticas de conscientização de preservação do ambiental constitui importante programa de recuperação de rios urbanos poluídos.

50 FIORILO, Celso Antônio Pacheco. Curso de direito ambiental brasileiro. 13.ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p.135.

51 BRASIL. Lei no 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental,

institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Brasília:

Presidência da República, 1999. Disponível em:

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CAPÍTULO II

POLÍTICA NACIONAL DE RECURSOS HÍDRICOS: ENQUADRAMENTO DAS ÁGUAS E OUTORGA DE USO

A água é recurso natural gerador da vida na terra, ainda que seja um recurso em abundância, a sua maioria – 97,5% - é de água salgada e apenas 2,5% é de água doce. Para piorar a situação, dessa percentagem de água doce, 68,9% encontram-se nas calotas polares e geleiras, 29,9% no subsolo, 0,3% nos rios e lagos e 0,9% em outros reservatórios.52

O desenvolvimento das nações e o crescimento populacional hoje ultrapassando os 7 bilhões de pessoas torna a temática cada vez mais grave. A agricultura é a maior responsável pela utilização de toda a água chegando aos 70%, as indústrias 22% e as residências 8%.53 A previsão do futuro é que o consumo duplicará nos próximos trinta e cinco anos e vários outros problemas só irão se agravar.

Dentro os problemas encontramos o desperdício na distribuição e no uso da água, a falta e má qualidade da água, a irrigação inadequada (invasão de áreas de reserva legal, desmatando as matas ciliares e consumindo exageradamente os recursos hídricos), doenças causadas pela tratamento inadequado da água ou sua falta, além é claro da poluição hídrica causada pela descarga de esgoto doméstico e efluente industrial sem tratamento adequado, a destruição das matas ciliares e a poluição dos rios urbanos.

A Política Nacional de Recursos Hídricos foi instituída pela Lei n.º 9.433/9754 com o objetivo de estabelecer regras claras no controle e

52 SIRVINSKAS, Luís Paulo. Manual direito ambiental. 10ed. São Paulo: Saraiva, 2012. p. 363.

53 BIANCHI, Adriana N. Desafios institucionais no setor de água: uma breve análise. in BENJAMIN, Antônio Herman V. (Coord), Direito, água e vida. São Paulo, IMESP, 2003, v. 1, p. 232.

54 BRASIL. Lei nº 9.433, de 8 de janeiro de 1997. Institui a Política Nacional de Recursos Hídricos, cria o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos, regulamenta o inciso XIX do art. 21 da Constituição Federal, e altera o art. 1º da Lei nº 8.001, de 13 de março de 1990, que modificou a Lei nº 7.990, de 28 de dezembro de 1989. Brasília:

Presidência da República, 1997. Disponível em:

Referências

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