• Nenhum resultado encontrado

Artigo Original Original article

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Artigo Original Original article"

Copied!
12
0
0

Texto

(1)

Serviço de Cirurgia, Hospital Garcia de Orta

Correspondência: Andreia Fonseca/António Folgado • Serviço de Cirurgia – Piso 4, Hospital Garcia de Orta, EPE, Av. Torrado da Silva, 2801-951 Almada • Telefone: 212 940 294 • Fax: 212 726 880 •E-mail: andreiafonseca4@gmail.com /a_folgado35@hotmail.com

RESUMO

Introdução e objectivos: A terapêutica dos tumores do recto permanece uma área controversa dada a frequência de respostas completas à radioquimioterapia neoadjuvante. São objectivos deste trabalho a caracterização da amostra, a avaliação da resposta tumoral e a avaliação da ocorrência de complicações cirúrgicas. Foi ainda estudada a influência do intervalo para a cirurgia na resposta tumoral e nas com-plicações.

Material e métodos: Foram incluídos na análise estatística 76 doentes. Procedeu-se à caracterização e à determinação da frequência de respostas patológicas completas, downs-taging e ausência de resposta. Avaliou-se a ocorrência de complicações cirúrgicas nos doentes com resposta completa. Estudou-se a existência de associação entre a duração do intervalo para a cirurgia e a frequência de respostas comple-tas, downstaging e complicações cirúrgicas.

Resultados: Houve downstaging tumoral em 61.8% dos doen-tes, os restantes não responderam à terapêutica. 21.1% dos doentes tiveram uma resposta patológica completa e 31.3% destes indivíduos tiveram complicações. Não se encontrou qualquer associação entre um maior intervalo para a cirurgia e as variáveis: resposta completa, downstaging e complica-ções cirúrgicas.

Conclusões: Para que se possa alterar a abordagem terapêu-tica destes doentes são necessários mais estudos que nos permitam determinar com segurança quais os indivíduos que potencialmente responderão à radioquimioterapia neoadjuvante.

ABSTRACT

Background and aims: Rectal cancer treatment is still con-troversial due to the occurrence of complete responses to neoadjuvant chemoradiotherapy. The aims of this study were to describe patients’ characteristics and assess tumor respon-se and incidence of surgical complications. Furthermore, the influence of time to surgery on tumor response and surgical complications were also evaluated.

Material and methods: 76 patients were included in the sta-tistical analysis. The patients’ characteristics were described. The rate of pathological complete responses, downstaging and lack of response were determined. The incidence of surgical complications on patients who showed complete response was evaluated. The association between time to surgery and the occurrence of complete responses, downstaging and surgical complications was studied as well.

Results: 61.8% patients showed tumor downstaging, the remai-ning patients did not respond to chemoradiotherapy. 21.1% had pathological complete responses and 31.3% of these patients had at least one surgical complication. Interval to surgery was not associated with pathological complete response, downsta-ging or surgical complications.

Conclusions: More studies are required in order to identify clearly which patients are more likely to respond to neoadjuvant therapy. Only then rectal cancer treatment might be altered.

Que implicações tem a resposta à radioquimioterapia

neoadjuvante nos tumores do recto?

What are the implications of tumor response

to neoadjuvant chemoradiotherapy for rectal cancer?

A. FOnSEcA, A. FOlgAdO, J. gíRiA

intROdUçãO

O cancro colo-rectal é a neoplasia com maior incidência a nível europeu, verificando-se ter havido 435.600 novos casos em 2008. É também a segunda causa de morte por cancro na Europa, com um total de 212.000 casos fatais nesse ano, o que corresponde a 12,3% de todas as mortes. Em Portugal, a incidência estimada em 2008 foi de 66.1/100.000 para o sexo masculino e 34.4 para o sexo feminino. Nesse mesmo ano, a mortalidade foi de 30.6/100.000 no caso do sexo masculino e 16.6 no sexo feminino. No que se refere apenas

aos tumores do recto, que são o verdadeiro objec-to deste trabalho, estima-se que a sua incidência abranja um total de 35% da incidência global de cancro colo-rectal na União Europeia. A mortali-dade associada a esta neoplasia é superior no sexo masculino e ronda os 4-10/100.000 por ano.1,2

A abordagem terapêutica actual dos doentes com tumores do recto é multimodal, sobretudo quando são localmente avançados e permanece uma área de alguma discussão e controvérsia. A polémica prende-se particularmente com a utilização da radioquimioterapia neoadjuvante e

(2)

com o facto de esta ser potencialmente curativa em alguns casos.3,4

Importa recordar que a radioquimioterapia neoadjuvante nem sempre integrou a terapêutica destas neoplasias, tendo sido os avanços, na ten-tativa de reduzir o importante e significativo risco de recorrência, que levaram à sua introdução.5

A terapêutica dos tumores do recto consistia apenas na ressecção cirúrgica, tendo-se verifica-do na década de 80 que, embora sem alterar a sobrevida global, a radioquimioterapia adjuvante contribuía para menores taxas de recorrência.6 Foi

também nesta década que Heald e Husband intro-duziram o conceito da excisão total do mesorecto, no pressuposto de que o tecido do mesorecto, que permanecia na cavidade pélvica após a cirurgia, seria o foco de origem da recorrência local.7 Na

década seguinte, esta técnica cirúrgica foi definida como o gold standard, após se ter verificado que aumentava a sobrevida e diminuía a recorrência local.8,9 Verificou-se ainda que a sua associação

com esquemas de radioterapia pré-operatória permitia melhorar o controlo local e aumentar o seu benefício.10

A combinação de radioterapia neoadjuvante com quimioterapia, essencialmente radiossensi-bilizante, está associada aos efeitos de downsizing e downstaging.11 Por ser introduzida numa fase

em que há uma melhor oxigenação tumoral, que permite uma maior radiossensibilidade, a radio-quimioterapia neoadjuvante é mais eficaz e tem mais efeitos positivos.12-16 Torna a ressecção

cirúr-gica mais fácil e está também associada a melhores resultados funcionais, uma vez que não há irra-diação do neorecto, mas sim de tecidos que serão excisados.12,14 É também mais bem tolerada, pelo

que há uma melhor adesão à terapêutica.12-16 De

facto, a radioquimioterapia neoadjuvante é muito vantajosa, sendo que alguns estudos verificaram que os doentes que são submetidos a terapêutica pré-operatória têm uma taxa de recorrência sig-nificativamente inferior aos doentes que fazem terapêutica pós-operatória.11,14,15,17 Contudo, os

seus efeitos positivos não parecem estender-se directamente à sobrevida livre de doença nem à sobrevida global.11,15,17

Existem vários esquemas de radioquimiote-rapia neoadjuvante, mas a European Society for

Medical Oncology (ESMO) recomenda que os

doentes sejam irradiados com 46 a 50.4Gy e fa-çam quimioterapia com umas das seguintes três opções: 5-fluorouracilo (5-FU) e leucovorina ou capecitabina ou uracilo-tegafur. O intervalo pro-posto para a cirurgia é de 6 a 8 semanas.2

Na literatura encontram-se muitas referências à ocorrência de respostas completas associadas à radioquimioterapia neoadjuvante, o que po-demos considerar como o expoente máximo do

downstaging, sendo este um aspecto que põe em

questão muitas das recomendações propostas para a terapêutica dos tumores do recto e leva a tentar esclarecer quais as implicações da sua ocorrência. Descrevem-se duas formas distintas de resposta completa que são designadas de acordo com o método de avaliação utilizado. Assim, uma resposta completa determinada pelo exame ob-jectivo e exames complementares de diagnóstico é uma resposta clínica completa, que apresenta algumas limitações e nem sempre significa que haja uma verdadeira regressão tumoral comple-ta.12 Uma resposta completa evidenciada pelo

exame anatomo-patológico da peça operatória é uma resposta patológica completa, verificando-se a ausência de células tumorais viáveis na peça operatória.18 Esta última é a que tem um maior

impacto na sobrevida dos doentes e no controlo local da doença, sendo considerada um factor preditivo clínico importante.19

Uma meta-análise de 2010, englobando 3105 doentes, relevou taxas de resposta patológica completa à radioquimioterapia neoadjuvante de 8 a 24% nos estudos individuais e uma prevalência acumulada de 16% de respostas patológicas com-pletas.18 Contudo, alguns estudos referem valores

superiores de regressão tumoral completa. Quanto às respostas clínicas completas, estas apresentam taxas mais elevadas, encontrando-se valores da ordem dos 47%.20

Esta meta-análise permitiu verificar que a sobrevida livre de doença é superior nos casos de resposta patológica completa, assim como a sobrevida livre de metástases à distância e a sobrevida global aos 5 anos.18 Observou-se ainda

que o risco de recorrência aos 5 anos é inferior nos doentes com resposta patológica completa.18

Deste modo, concluiu-se que estes doentes têm um melhor outcome a longo prazo.18 Assim, uma

(3)

radioquimio-terapia neoadjuvante será um melhor indicador de um perfil biológico tumoral menos agressivo e é considerada um factor de prognóstico favorá-vel.3,18,21 Existem, porém, estudos que referem a

ausência de diferenças estatisticamente significati-vas na sobrevida livre de doença e sobrevida global entre os doentes com e sem resposta completa, valorizando mais a ocorrência de resposta do que o grau de resposta.12,13,16,23,23

Ainda neste âmbito, é de referir os conhecidos e controversos estudos realizados por Habr-Gama

et al. em que os doentes em que se evidenciou

uma resposta completa não foram operados, tendo-se optado por realizar apenas follow-up.3,4

Um destes estudos incluiu doentes com tumores do recto inferior em vários estadios, que foram submetidos a radioquimioterapia neoadjuvante com resposta completa em 30.5%, definida por critérios clínicos, imagiológicos e anatomo--patológicos.3 Estes doentes foram então apenas

vigiados, intervindo-se cirurgicamente só perante evidência de doença durante o follow-up. Esta estratégia permitiu evitar a cirurgia em 26.2% dos doentes. No outro estudo, bastante idêntico, a taxa de resposta clínica completa foi de 26.8%, sendo que ainda 8.3% dos doentes operados com respostas clínicas incompletas tinham também, na verdade, uma resposta patológica completa.4 Dos

doentes com resposta clínica completa, apenas 2.8% tiveram recorrência e 4.2% apresentaram no follow-up doença metastática.

Perante estes estudos, surgem algumas ques-tões em relação à terapêutica que é actualmente recomendada. Será de facto vantajosa a realização de procedimentos cirúrgicos associados a uma diminuição da qualidade de vida e com risco de complicações, quando é possível que se trate de uma regressão tumoral completa? Quantos serão os doentes que apresentam downstaging e são sub-metidos a procedimentos agressivos quando, em alguns casos, talvez se pudesse optar pela excisão local? E quantos serão os que não respondem à radioquimioterapia neoadjuvante, verificando-se mesmo uma progressão da doença? E qual será o impacto do intervalo para a cirurgia na resposta tumoral?

Assim, pretende-se com este trabalho carac-terizar uma amostra seleccionada e nela avaliar a resposta tumoral e a ausência de resposta à

radioquimioterapia neoadjuvante, bem como a ocorrência de complicações cirúrgicas, particu-larmente nos doentes com resposta patológica completa. Será ainda avaliado o impacto de um intervalo para a cirurgia mais longo na resposta tu-moral e na ocorrência de complicações cirúrgicas.

MAtERiAl E MétOdOS

Entre 2007 e 2009, 98 doentes com tumores do recto foram observados em consultas de Cirurgia Geral e Oncologia Médica no Hospital Garcia de Orta (HGO) e ali submetidos a quimiotera-pia. A radioterapia foi efectuada no Hospital de Nossa Senhora do Rosário no Barreiro (HNSR), realizando assim uma terapêutica pré-operatória combinada. Foram excluídos (Figura 1) todos os doentes que não cumpriram este programa de radioquimioterapia neoadjuvante, os que foram submetidos a cirurgias exclusivamente derivati-vas, isto é a colostomia, os que foram operados noutros centros hospitalares e aqueles que, por diversos motivos, não foram operados. Assim, 76 doentes foram incluídos na análise estatística deste estudo retrospectivo.

A terapêutica neoadjuvante incluiu 28 dias consecutivos de radioterapia, excluindo os fins--de-semana, com uma dose diária de 1.8Gy e uma dose total de 50.4Gy. A quimioterapia radiossen-sibilizante foi realizada com capecitabina nos dias da radioterapia, portanto 5 dias por semana, numa dose de 825mg/m2 de superfície corporal,

repartida por duas tomas. caracterização da amostra

Foram recolhidas e inseridas numa base de da-dos informações relativas à idade aquando do diagnóstico, sexo, localização do tumor, grau de diferenciação, estadio clínico, intervalo para a cirurgia, procedimento cirúrgico realizado, exis-tência de complicações cirúrgicas, estadio anato-mo-patológico, estado das margens de ressecção e grau de regressão. Estes dados foram obtidos entre Novembro de 2010 e Fevereiro de 2011 nos processos clínicos de consulta e de internamento e nos relatórios de exames complementares de diagnóstico e anatomo-patológicos.

A localização do tumor foi avaliada em função da distância do limite inferior do tumor à margem anal e da possibilidade de avaliação da mesma. Os

(4)

dados foram obtidos por ecografia endocavitária, sendo que todos estes exames foram realizados pelo mesmo observador, diminuindo assim o grau de subjectividade. Os tumores localizados abaixo dos 5cm, inclusive, foram considerados como estando localizados no terço inferior, os tumores entre os 6 e os 10cm no terço médio e

entre os 11 e os 15cm no terço superior. Em casos pontuais não foi realizada ecografia ou o exame foi inconclusivo.

O grau de diferenciação correspondeu ao grau histológico avaliado na biopsia. A classificação uti-lizada tem cinco graus e é a recomendada pelo

Ame-rican Joint Committee on Cancer. Nas situações em

Faleceram durante a terapêutica neoadjuvante (n=5) Interrupção e realização de esquema diferente por intolerância (n=1) Apenas quimioterapia por comorbilidades (n=3) Apenas terapêutica adjuvante – erro de inclusão

(n=1)

Não operado por metástases cerebrais (n=1)

Cirurgia noutros hospitais (n=2)

Não operados por comorbilidades (n=3)

Colostomia de urgência (n=3)

Respostas clínicas completas com recusa da cirurgia (n=3)

Procedimentos não exclusivamente derivativos (n=76)

Falecido aos 86 anos por causa não relacionada, 3 anos após o diagnóstico (n=1)

Clinicamente bem e livres de doença após quase 3 anos

de follow-up (n=2) Radioquimioterapia e acompanhamento no

HGO e HNSR entre 2007 e 2009 (n=98)

Esquema de radioquimioterapia proposto cumprido na íntegra (n=88)

(5)

que não havia registo do grau histológico do tumor foi atribuído o grau correspondente a GX, ou seja, não se conseguiu avaliar o grau de diferenciação.

O estadio clínico foi avaliado de acordo com o estadio loco-regional (cTN) por ecografia endo-cavitária, uma vez que o observador foi sempre o mesmo. Importa ressalvar algumas excepções, como os casos em que a ecografia não permitiu estadiar o tumor ou em que o estadio era cla-ramente inferior ao identificado na ressonância magnética nuclear (RMN). Nestas situações foi dado privilégio ao estadio da RMN, após discussão em reunião multidisciplinar. A avaliação de me-tástases à distância baseou-se em outros exames complementares.

O intervalo para a cirurgia foi calculado em dias, de acordo com a data em que cada doente terminou a radioquimioterapia neoadjuvante e a data em que foi submetido à cirurgia.

Quanto ao procedimento cirúrgico e à ocor-rência de complicações cirúrgicas, registou-se o procedimento realizado e a existência de compli-cações, classificando a sua ocorrência consoante se tratasse de deiscência, abcesso ou outra.

Os registos da avaliação anatomo-patológica da peça operatória incluíram o estadiamento (ypTN), a avaliação das margens em positivas ou negativas e a avaliação do grau de regressão de acordo com a classificação de Dworak (Quadro 1).24

Avaliação da resposta tumoral

A resposta tumoral foi avaliada pela ocorrência

de resposta patológica completa e de

downsta-ging tumoral. Considerou-se que uma resposta

patológica completa correspondia a um grau 4 na classificação de Dworak. Foram considerados casos de downstaging, todas as situações em que o estadio anatomo-patológico T era inferior ao estadio clínico. Os casos em que o T se manteve ou foi superior no exame anatomo-patológico da peça tumoral foram considerados como ausência de downstaging.

terapêutica cirúrgica e resposta completa Para avaliar as consequências da terapêutica cirúrgica, nos doentes com resposta completa, determinou-se a frequência de complicações ci-rúrgicas nestes indivíduos.

impacto do intervalo para a cirurgia

De modo a estabelecer a importância do intervalo para a cirurgia na terapêutica estudou-se a possí-vel existência de uma associação estatisticamente significativa entre um intervalo para a cirurgia mais longo e uma melhor resposta tumoral. Avaliou-se ainda se um intervalo para a cirurgia mais extenso se associava a uma maior ocorrência de complicações cirúrgicas.

Análise estatística

Após a construção de uma base de dados em Microsoft Office Excel 2007®, procedeu-se à

aná-lise estatística, que foi em parte realizada com o auxílio deste programa. A avaliação da influência do intervalo para a cirurgia na resposta tumoral e na ocorrência de complicações foi realizada utili-zando o SPSS®. Para estudar a eventual associação

entre as variáveis foram aplicados o teste do Qui--quadrado (Χ2), o coeficiente de associação Fi (Φ)

e o coeficiente bisserial-pontual de Pearson (Rbp).

Grau Avaliação histológica

0 Ausência de regressão

1 Massa tumoral dominante com fibrose evidente e/ou vasculopatia

2 Alterações fibróticas dominantes com algumas células tumorais ou grupos (fáceis de localizar)

3 Tecido fibrótico com ou sem substância mucosa, com muito poucas células tumorais (difíceis de localizar) 4 Ausência de células tumorais, visualizando-se apenas

uma massa fibrótica (regressão ou resposta total)

n QUADRO 1

classificação de dworak

Adaptado de Dworak O., Keilholz L. and Hoffmann A. (1997) Pathological features of rectal cancer after preoperative radiochemotherapy. International Journal of Colorectal Disease 12:19-23.

n QUADRO 2

caracterização demográfica

Média (mínimo-máximo) ou frequência absoluta (frequência relativa, %)

Idade (anos) 66.7 (42 – 83) Sexo

Masculino 56 (73.7%) Feminino 20 (26.3%)

(6)

RESUltAdOS

Demograficamente (Quadro 2), 73.7% dos doentes eram do sexo masculino e a idade mé-dia aquando do mé-diagnóstico era de 66.7 anos. O doente mais novo tinha 42 anos e o mais velho 83.

A caracterização tumoral com base na avalia-ção clínica (Quadro 3) revelou que a maioria dos tumores se localizava no terço médio (67.1%) e no terço inferior (26.3%), 39.5% dos tumores eram bem diferenciados e 34.2% moderadamente dife-renciados. Em 18 casos, não foi possível avaliar o grau histológico ou o mesmo não estava

espe-cificado no relatório. A maior parte dos doentes (40.8%) apresentavam tumores estadiados como T3N1. Os doentes com estadio mais baixo apre-sentavam tumores T2N1 (7.9%) e o estadio mais alto identificado foi T4N2 (7.9%). A avaliação das metástases à distância revelou que houve apenas um caso de secundarização tumoral, confirmada após a terapêutica neoadjuvante, tendo-se veri-ficado metastização pulmonar, hepática e óssea, no esfenóide.

Quanto ao intervalo para a cirurgia (Quadro 4), a média foi de 62.4 dias, isto é, cerca de 9

n QUADRO 3

caracterização com base na avaliação clínica

Frequência absoluta (frequência relativa, %) Localização Terço inferior 20 (26.3%) Terço médio 51 (67.1%) Terço superior 1 (1.3%) Não avaliada (N/A) 4 (5.3%)

Grau de diferenciação

Bem diferenciado 30 (39.5%) Moderadamente diferenciado 26 (34.2%) Pouco diferenciado 2 (2.6%) Indiferenciado 0 (0%) Impossível de avaliar ou N/A 18 (23.7%)

Estadio clínico loco-regionala

T2N1 6 (7.9%) T2N2 1 (1.3%) T3Nx 3 (3.9%) T3N0 6 (7.9%) T3N1 31 (40.8%) T3N2 16 (21.1%) T4Nx 1 (1.3%) T4N0 1 (1.3%) T4N1 5 (6.6%) T4N2 6 (7.9%) Metástases à distância Mx 1 (1.3%) M0 74 (97.4%) M1 1 (1.3%)

aNão se referem os estadios com frequência absoluta 0.

n QUADRO 4

intervalo para a cirurgia

Intervalo (em dias)

Média (desvio-padrão) 62.4 (23.5)

Mínimo 36

Máximo 220

Mediana 60

n QUADRO 5

caracterização quanto ao procedimento cirúrgico e às complicações cirúrgicas

Frequência absoluta (frequência relativa, %) Cirurgia

Ressecção local 1 (1.3%) RAR sem ileostomia de protecção 18 (23.7%) RAR com ileostomia de protecção 37 (48.7%)

AAP 17 (22.4%)

Operação de Hartmann 3 (3.9%)

Complicaçõesa

Nenhuma complicação 58 (76.3%) Pelo menos uma complicaçãob 18 (23.7%)

Só deiscência 10 (55.6%) Só abcesso 1 (5.6%) Outra 3 (16.7%) Deiscência e abcesso 2 (11.1%) Deiscência e outra 2 (11.1%) Abcesso e outra 0 (0%) Deiscência, abcesso e outra 0 (0%)

apor questões de arredondamento, o total não é 100%.

bas frequências relativas das diferentes complicações foram calculadas tendo como total

(7)

semanas, com um mínimo de 36 dias (5 semanas e 1 dia) e um máximo de 220 (31 semanas e 3 dias). Esta situação, em que o tempo de intervalo foi superior, corresponde ao caso supracitado em que foi aplicado um esquema de radioterapia para a metástase esfenoidal.

O procedimento cirúrgico (Quadro 5) mais fre-quentemente realizado foi a ressecção anterior do recto (RAR) com ileostomia de protecção (48.7%), seguido da RAR sem ileostomia (23.7%) e da amputação abdomino-perineal (AAP) (22.4%). Apenas um doente foi submetido a ressecção local.

Houve pelo menos uma complicação cirúrgica (Quadro 5) em 23.7% dos casos, sendo que, dos doentes afectados, quatro tiveram mais do que uma complicação. No total, 55.6% das compli-cações corresponderam a deiscência isolada, a complicação mais frequente.

A avaliação pós-operatória (Quadro 6) revelou que o estadio loco-regional anatomo-patológico mais elevado foi T4N0. As margens de ressecção foram positivas em 5.3% dos doentes, sendo que os restantes tiveram ressecções R0. A regressão tumoral, avaliada de acordo com a classificação de Dworak, foi considerada como equivalente a resposta patológica completa nos casos de grau 4, ou seja, em 21.1% dos doentes. Contudo, apenas 40 peças operatória foram classificadas, pelo que importa destacar que foram avaliadas quanto à regressão todas as situações em que uma resposta completa parecia evidente (T0, Tis ou Tx). Deste modo, é seguro afirmar que não houve mais casos de resposta completa que os referidos.

A avaliação da resposta tumoral (Quadro 7) revelou um total de respostas patológicas com-pletas de 21.1%, verificando-se que 31.3% destes doentes tiveram pelo menos uma complicação cirúrgica. De um modo geral, em 61.8% dos ca-sos (47 doentes) houve algum grau de resposta à radioquimioterapia pré-operatória, verificando--se downstaging tumoral. Os restantes 38.2% não apresentaram qualquer resposta, sendo que em 2 deles houve mesmo progressão da doença sob terapêutica neoadjuvante.

Para estudar a possível associação entre um intervalo mais longo para a cirurgia e uma melhor resposta tumoral, os doentes foram divididos em

n QUADRO 6

caracterização tumoral anatomo-patológica

Frequência absoluta (frequência relativa, %) Estadio anatomo-patológicoa,b TxN0 2 (2.6%) T0N0 14 (18.4%) TisN0 1 (1.3%) T1Nx 1 (1.3%) T1N0 5 (6.6%) T1N1 1 (1.3%) T2Nx 3 (3.9%) T2N0 12 (15.8%) T2N1 4 (5.3%) T2N2 2 (2.6%) T3Nx 3 (3.9%) T3N0 15 (19.7%) T3N1 10 (13.2%) T3N2 2 (2.6%) T4N0 1 (1.3%) Margens de ressecção Negativas 72 (94.7%) Positivas 4 (5.3%) Classificação de Dworakb Grau 0 1 (1.3%) Grau 1 6 (7.9%) Grau 2 13 (17.1%) Grau 3 4 (5.3%) Grau 4 16 (21.1%) N/A 36 (47.4%)

aNão se referem os estadios com frequência absoluta 0. bPor questões de arredondamento, o total não é 100%.

n QUADRO 7

Avaliação da resposta tumoral e da ocorrência de complicações nos doentes com resposta completa

Frequência absoluta (frequência relativa, %)

Casos de downstaging 47 (61.8%) Respostas patológicas completas/

Grau 4 na classificação de Dworak

16 (21.1%) Complicações cirúrgicas 5 (31.3%) Casos sem downstaging 29 (38.2%) Com progressão 2 (2.6%)

(8)

dois grupos, de acordo com a mediana do tem-po de intervalo. Para cada doente foi avaliada a ocorrência, ou não, de downstaging e de resposta patológica completa. Construíram-se tabelas de contingência (Quadros 8 e 9) e foram aplicados o teste do Qui-quadrado e o coeficiente Fi (Qua-dro 11).

A avaliação da existência de correlação entre o intervalo para a cirurgia e a ocorrência de compli-cações cirúrgicas foi realizada de forma idêntica (Quadros 10 e 11).

A análise estatística revelou que não se com-provou associação entre o tempo de intervalo para a cirurgia e a ocorrência de downstaging, de resposta completa ou de complicações cirúrgicas (Quadro 11). Para sustentar os resultados do teste do Qui-quadrado e Fi, foi aplicado o coeficiente bisserial-pontual de Pearson (Quadro 11), em que se avaliou a correlação entre a duração do intervalo em dias e a ocorrência de downstaging, resposta completa e complicações. Os valores obtidos foram muito baixos e permitiram con-firmar que não há evidência estatística de que a duração do intervalo contribua para mais casos de

downstaging, resposta completa ou complicações.

Posteriormente repetiu-se a análise, excluindo o outlier com intervalo de 220 dias, tendo-se ob-tido os mesmos resultados, pelo que estes dados não são apresentados.

diScUSSãO

Actualmente, a radioquimioterapia neoadjuvante é um componente muito importante da aborda-gem terapêutica multimodal dos doentes com neoplasias do recto. Contudo, a sua verdadeira importância e utilidade poderão não estar ainda completamente estabelecidas. De facto, a

radio-quimioterapia encontra-se positivamente asso-ciada ao downstaging e ao downsizing tumoral e com alguma frequência surgem casos de resposta completa com regressão tumoral total. Assim, sen-do esta terapêutica pré-operatória potencialmente curativa em alguns doentes, é questionável se o tratamento das neoplasias do recto não deverá nestes casos ficar apenas pela radioquimioterapia, perante a evidência de uma resposta completa.

Os doentes incluídos neste estudo retros-pectivo foram submetidos a um protocolo de radioquimioterapia que se enquadra no que é recomendado pela ESMO.2 O fármaco utilizado

foi a capecitabina e ocorreram 21.1% respostas patológicas completas, sem contar com os casos de resposta clínica completa, que foram excluí-dos. O valor obtido é bastante aceitável e pode ser justificado, pelo menos parcialmente, pela associação, verificada noutros trabalhos, entre uma maior ocorrência de respostas completas e a administração de capecitabina e a irradiação com uma dose superior a 45Gy.25-27 Outros factores

que se associam a taxas superiores de regressão tumoral total são a utilização de mais de um fár-maco, embora até hoje não se tenha identificado a combinação mais eficaz, e a perfusão contínua de 5-FU, que parece ser equivalente à capecita-bina.25-27 Têm sido avaliados outros esquemas de

quimioterapia, utilizando anticorpos monoclo-nais, como o cetuximab, ou combinando oxalipla-tina com capecitabina.28-30 Embora promissores,

serão necessários mais estudos.

A resposta tumoral pode ser avaliada em função da ocorrência de downstaging tumoral ou da ocorrência de resposta completa, o expoente máximo do downstaging. Esta avaliação deverá ser feita utilizando uma classificação de regressão

n QUADRO 8

tabela de contingência para avaliação da associação entre o intervalo para a cirurgia e a ocorrência de downstaging

Intervalo (em dias)

Downstaging Total Sim Não ≤ 60 24 14 38 > 60 23 15 38 Total 47 29 76 n QUADRO 9

tabela de contingência para avaliação da associação entre o intervalo para a cirurgia e a ocorrência de resposta completa

Intervalo (em dias)

Resposta patológica completa Total

Sim Não

≤ 60 8 30 38

> 60 8 30 38

(9)

tumoral como a classificação de Dworak utilizada neste trabalho, já que um tumor sem downstaging pode apresentar uma regressão bastante razoável. De um modo geral, a regressão tumoral comple-ta está associada a um melhor outcome.14,21,31,32

Assim, a importância destas escalas advém da correlação já identificada entre o grau de regressão tumoral e a sobrevida livre de doença, o que é evidente para as várias classificações.33,34 Em casos

de regressão ou resposta completa, o que sucedeu em 21.1% dos casos neste estudo, é de 100% aos 3 anos.33 Existe mesmo um trabalho em que todos

os doentes com resposta completa permaneceram livres de doença ao fim de um período médio de 6 anos de follow-up.14

Contudo, é um aspecto ainda controverso. Alguns autores atribuem maior importância à ocorrência de downstaging e outros defendem que, mais importante que o grau de resposta, será a ocorrência de resposta, mesmo que parcial, como o que se verificou em 61.8% dos doentes.13,22,23,35

De facto, quer a regressão tumoral completa quer a ocorrência de downstaging melhoram a sobrevida. Assim, será ausência de resposta à terapêutica neoadjuvante que parece condicionar o prognóstico.

Neste sentido, no presente trabalho verificou--se que em 38.2% dos doentes não houve diminui-ção do estadio do tumor, pelo que se considerou que não houve resposta à terapêutica neoadjuvan-te. Em dois doentes houve mesmo progressão, o que reforça que seria importante identificar mar-cadores que nos permitam prever quais os doentes que não responderão à terapêutica para evitar protelar a cirurgia nestas situações. São vários os marcadores em estudo, como a timidilato sintase e o p53, que têm apresentado resultados

contra-ditórios.19,36,37 Uma boa resposta à terapêutica

neoadjuvante associa-se a uma expressão inferior do transportador de glicose GLUT-1, de VEGF, HIF-1 e EGFR e a valores baixos de antigénio carcinoembrionário.23,38-40 Contudo, alguns

des-tes possíveis marcadores são difíceis de avaliar e dispendiosos. Assim, um estudo demonstrou que a percentagem de linfócitos era significativamente maior nos casos de resposta completa, o que pare-ce sugerir que a regressão tumoral é mediada por uma resposta imunitária linfocítica.41

A questão principal que se pretende discutir com este trabalho está relacionada com uma pos-sível mudança de abordagem nos doentes com neoplasias do recto. Neste estudo, dos 21.1% doentes que apresentaram respostas completas e foram operados, verificou-se que 31.3% tiveram pelo menos uma complicação cirúrgica. Do pon-to de vista oncológico, os doentes com resposta completa submetidos a cirurgia radical não pare-cem ter benefícios, tal como os que apresentam

downstaging significativo e gânglios negativos

poderiam ser submetidos a excisão local, o que só aconteceu num caso, no presente trabalho.32,42

Curiosamente, um estudo brasileiro revelou que, entre oncologistas e cirurgiões, 72% consi-deravam que a decisão final sobre a terapêutica cirúrgica só deveria ser tomada após o final da radioquimioterapia neoadjuvante e na sequência de re-estadiamento.43 Em situações de resposta

clínica completa, 46% dos inquiridos optaria por um procedimento alternativo, como a excisão lo-cal, ou pela observação e follow-up apertado. Esta estratégia de watch and wait, tem sido utilizada apenas em doentes mais idosos, que afinal não

n QUADRO 10

tabela de contingência para avaliação da associação entre o intervalo para a cirurgia e a ocorrência de complicações

Intervalo (em dias)

Complicações Total Sim Não ≤ 60 9 29 38 > 60 9 29 38 Total 18 58 76 n QUADRO 11

Resultados da análise de associação entre o tempo de intervalo e as variáveis downstaging, resposta patológica completa e complicações

a0< Φ<1 e 0<R

bp<1, em que 0 representa ausência de associação e 1 associação perfeita. bSignificância estatística se p <0.05. Variável Χ2 Φa pb R bpa Downstaging 0.056 0.027 0.813 0.05 Resposta patológica completa 0.000 0.000 1.000 0.02 Complicações 0.000 0.000 1.000 0.07

(10)

têm um prognóstico significativamente diferente dos doentes mais jovens, é a base dos estudos de Habr-Gama et al., em que os doentes com resposta completa são acompanhados com regularidade e operados apenas perante a evidência de persis-tência tumoral.3,44

Assim, os doentes que evidenciassem uma boa resposta poderiam ser submetidos a procedimen-tos menos agressivos e com menor morbilidade, ou, em casos de resposta completa, poder-se-ia optar apenas pelo follow-up apertado. Contudo, a ausência de marcadores seguros de boa res-posta tumoral e de exames de re-estadiamento que permitam a distinção correcta entre tumor residual e fibrose, dificulta a adopção deste tipo de estratégias. Os exames complementares de diagnóstico mais estudados com este propósito, a ecoendoscopia, a RMN e a tomografia por emissão de positrões utilizando 18F-fluorodesoxiglicose

(PET), apresentam resultados semelhantes, na ordem dos 60% a 75% de re-estadiamentos correc-tos [45,46]. A PET identificou, num estudo, três das quatro respostas patológicas completas.45 No

entanto, não existem ainda estudos comparativos entre estes três exames que permitam saber qual deles é o melhor.

Outro aspecto discutível na terapêutica dos tumores do recto é o intervalo ideal entre o fim da radioquimioterapia e a cirurgia. Ainda não foi estabelecido e é condicionado por vários factores. Neste trabalho, o intervalo mínimo e o máximo foram de 36 dias (5 semanas e 1 dia) e de 220 dias (31 semanas e 3 dias), respectivamente. O tempo médio para a cirurgia rondou as 9 semanas. Im-porta destacar que o intervalo máximo verificado foi uma situação isolada e pontual, uma vez que o doente em questão teve que fazer radioterapia por uma metástase esfenoidal identificada no período de intervalo.

Tem sido proposto que um dos factores que influencia a resposta tumoral e, em particular, o grau de resposta é, precisamente, o timing da cirurgia. Vários trabalhos têm demonstrado uma associação entre o tempo de intervalo e a ocor-rência de resposta completa e de downstaging e, em alguns casos, de downsizing e de taxas de recorrência local inferiores.42,47-50 Um destes

tra-balhos em que havia apenas uma associação com o downstaging permitiu concluir que por cada

semana adicional de intervalo, a probabilidade de downstaging aumentava 23%.50 Outro estudo

determinou que o tempo médio de redução do volume tumoral para metade é de cerca de 14 dias, o que significa que seriam necessárias 20 semanas para atingir uma resposta completa nos doentes incluídos.51 Considerando que a necrose

tumoral é tempo-dependente, a realização precoce da cirurgia interrompe a resposta tumoral e pode-rá, portanto, condicionar uma menor ocorrência de boas respostas à terapêutica neoadjuvante.42

Como o intervalo não parece afectar a sobrevida global nem a sobrevida livre de doença, atrasar a cirurgia de modo a permitir uma reavaliação tumoral parece seguro e não afectar o outcome.42,49

Por um lado, é necessário algum tempo para que se dê a resolução do processo inflamatório agudo associado à radioterapia.52,53 Por outro,

pro-longar excessivamente o intervalo para a cirurgia pode comprometer o outcome caso o doente não responda à radioquimioterapia e levar a fibrose excessiva como consequência da irradiação, com risco de dificultar a dissecção dos tecidos.14,42,52

Ainda assim, não existe associação entre o tempo de intervalo e a ocorrência de complicações ci-rúrgicas, como se verificou no presente trabalho, o que implica que este não é um factor limitante do timing da cirurgia.48,49,54

No entanto, neste estudo não se verificou a existência de correlação entre o intervalo para a ci-rurgia e a ocorrência de downstaging e de respostas completas. De facto, são vários os estudos em que se não encontraram associações estatisticamente significativas, o que sugere que a resposta tumoral poderá depender apenas em parte do timing da cirurgia.49,52-55 E assim será fundamental perceber

quais os restantes factores implicados na resposta tumoral, para que se possa decidir o melhor inter-valo para a cirurgia, em função da probabilidade de resposta ao longo do tempo.

Embora este estudo permita chamar a atenção para vários aspectos que carecem de mais investi-gação, apresenta várias limitações que podem ter comprometido os resultados. Em primeiro lugar, trata-se de um estudo retrospectivo e apresenta to-das as limitações inerentes a este tipo de trabalho, embora seja razoável a amostra seleccionada. Após a caracterização da amostra foram seleccionadas apenas algumas variáveis para estudo e não foi

(11)

avaliado o impacto de outros factores na resposta tumoral, que poderão ter condicionado a ausência de associação com o intervalo para a cirurgia.

À semelhança deste, muitos dos estudos avaliam a resposta tumoral ou, mais precisamente, o downstaging, em função da diminuição do estadio tumoral e não do ganglionar. Existem evidências de que o estadio ganglionar é muito importante, sendo que um N positivo se associa a uma sobrevida livre de doença e um tempo para a recorrência local significativamente inferiores, bem como a um maior risco de recorrência.18,56,57

Desta forma, alguns autores defendem que o estadio N tem mais importância prognóstica que o T e é o factor preditivo mais importante na avaliação da resposta tumoral.16,19 Por outro

lado, perante uma resposta tumoral completa, estima-se que o risco de metastização ganglionar seja inferior a 5%, pelo que a avaliação tumoral T exclusiva não parece ser intrinsecamente errada, mas serão necessários mais estudos para esclarecer este aspecto.32

Actualmente, a recorrência local já não é a principal causa de insucesso terapêutico nestes doentes. A preocupação central é a doença à dis-tância, possivelmente condicionada por esquemas neoadjuvantes essencialmente radiossensibilizan-tes e com menos efeitos quimioterapêuticos, que melhoram o controlo local e a sobrevida, mas poderão contribuir para o desenvolvimento de fenótipos mais agressivos.31,58

Concluindo, o futuro deverá focar-se no desen-volvimento de esquemas terapêuticos que permi-tam uma boa resposta e minimizem a persistência de células tumorais. Serão de considerar outros esquemas quimioterapêuticos ou a administração de citotóxicos no intervalo para a cirurgia, para evitar casos de resistência adaptativa.58,59 É

fun-damental não esquecer que mesmo doentes com resposta completa podem apresentar persistência de células tumorais. Deste modo, é necessário ponderar bem as alternativas ao tratamento cirúr-gico de ressecção, isto é, a opção pela excisão local ou pelo follow-up sem terapêutica cirúrgica.12 n

Agradecimentos

Os autores agradecem a contribuição do Serviço de Cirurgia do Hospital Garcia de Orta, em particular

do Dr. Nuno Carvalho, da Dra. Sandra Carlos e dos elementos do secretariado, Sr. Arnaldo Tojinha e D. Paula Martins. Agradecem também ao Serviço de Anatomia Patológica, destacando a Dra. Maria José Brito (Directora de Serviço) e a Dra. Raquel Ilgenfritz, e ao Serviço de Oncologia Médica do mesmo hospital, na pessoa do Dr. José Alberto Tei-xeira (Director de Serviço), bem como ao Serviço de Radioterapia do Hospital de Nossa Senhora do Rosário, mais propriamente ao Dr. Paulo Costa (Di-rector de Serviço). Os autores gostariam ainda de agradecer ao Prof. Dr. Seok-Byung Lim, Department of Colon and Rectal Surgery, University of Ulsan, College of Medicine & Asan Medical Center de Seoul. Agradecem também a colaboração do Prof. José Augusto, UEP, S.A.

BiBliOgRAFiA

1. Ferlay J., Parkin D. M. and Steliarova-Foucher E. (2010) Estimates of cancer inci-dence and mortality in Europe in 2008. European Journal of Cancer 46:765-781. 2. Glimelius B., Påhlman L. and Cervantes A. (2010) Rectal cancer: ESMO clinical

practice guidelines for diagnosis, treatment and follow-up. Annals of Oncology 21(5):82-86.

3. Habr-Gama A. et al. (1998) Low rectal cancer: impact of radiation and chemo-therapy on surgical treatment. Diseases of the Colon & Rectum 41(9):1087-1096. 4. Habr-Gama A. et al. (2004) Operative versus nonoperative treatment for stage 0

distal rectal cancer following chemoradiation therapy – long-term results. Annals of Surgery 240:711-718.

5. Czito B. G. and Willett C. G. (2007) Commentary: rectal cancer – an evolution of treatment. The Oncologist 12:1319-1320.

6. Gastrointestinal Tumor Study Group. (1985) Prolongation of the disease-free interval in surgically treated rectal carcinoma. New England Journal of Medicine 312:1465-1472.

7. Heald R. J., Husband E. M. and Ryall R. D. (1982) The mesorectum in rectal cancer surgery – the clue to pelvic recurrence? British Journal of Surgery 69(10):613-616. 8. Enker W. E. (1997) Total mesorectal excision – the new golden standard of surgery

for rectal cancer. Annals of Medicine 29(2):127-133.

9. Enker W. E., Thaler H. T., Cranor M. L. and Polyak T. (1995) Total mesorectal excision in the operative treatment of carcinoma of the rectum. Journal of the American College of Surgeons 181(4):335-346.

10. Kapiteijn E. et al. (2001) Preoperative radiotherapy combined with total meso-rectal excision for resectable meso-rectal cancer. New England Journal of Medicine 345(9):638-646.

11. Bosset J., Collete L., Calais G., Mineur L., Maingon P., Radosevic-Jelic L., Daban A., Bardet E., Beny A. and Ollier J. (2006) Chemotherapy with preoperative radio-therapy in rectal cancer. The New England Journal of Medicine 355:1114-1123. 12. Onaitis M. W. et al. (2001) Complete response to neoadjuvant chemoradia-tion for rectal cancer does not influence survival. Annals of Surgical Oncology 8(10):801-806.

13. Biondo S. et al. (2005) Response to neoadjuvant therapy for rectal cancer: influ-ence on long-term results. Colorectal Disease 7:472-479.

14. Ciccocioppo A., Stephens J., Hewett P. and Rieger N. (2009) Complete pathologic response after preoperative rectal cancer chemoradiotherapy. ANZ Journal of Surgery 79:418-484.

15. Sauer R. et al. (2004) Preoperative versus postoperative chemoradiotherapy for rectal cancer. New England Journal of Medicine 351:1731-1740.

16. Shivnani A. T., Small Jr. W., Stryker S. J., Kiel K. D., Lim S., Halverson A. L. and Talamonti M. S. (2007) Preoperative chemoradiation for rectal cancer: results of multimodality management and analysis of prognostic factors. The American Journal of Surgery 193:389-394.

17. Gérard J. et al. (2006) Preoperative radiotherapy with or without concurrent fluorouracil and leucovorin in T3-4 rectal cancers: results of FFCD 9203. Journal of Clinical Oncology 24:4620-4625.

18. Maas M. et al. (2010) Long-term outcome in patients with a pathological complete response after chemoradiation for rectal cancer: a pooled analysis of individual patient data. Lancet Oncology 11:835-844.

19. Negri F. V. et al. (2008) Biological predictive factors in rectal cancer treated with preoperative radiotherapy or radiochemotherapy. British Journal of Cancer 98(1):143-147.

20. Crane C. H. et al. (2003) Response to preoperative chemoradiation increases the use of sphincter-preserving surgery in patients with locally advanced low rectal carcinoma. Cancer 97(2):517-524.

21. García-Aguilar J., Anda E. H., Sirivongs P., Lee S., Madoff R. D. and Rothenberger D. A. (2003) A pathologic complete response to preoperative chemoradiation is as-sociated with lower local recurrence and improved survival in rectal cancer patients

(12)

treated by mesorectal excision. Diseases of the Colon & Rectum 46(3):298-304. 22. Janjan N. A. et al. (1999) Prognostic implications of response to preoperative infusional chemoradiation in locally advanced rectal cancer. Radiotherapy and Oncology 51:153-160.

23. Moureau-Zabotto L. et al. (2010) Predictive factors of tumor response after neo-adjuvant chemoradiation for locally advanced rectal cancer. International Journal of Radiation Oncology, Biology and Physics (publicação online).

24. Dworak O., Keilholz L. and Hoffmann A. (1997) Pathological features of rectal cancer after preoperative radiochemotherapy. International Journal of Colorectal Disease 12:19-23.

25. Sanghera P., Wong D. W. Y., McConkey C. C., Geh J. I. and Hartley A. (2008) Chemoradiotherapy for rectal cancer: an updated analysis of factors affecting pathological response. Clinical Oncology 20:176-183.

26. Hartley A., Ho K. F., McConkey C., Geh J. I. (2005) Pathological complete response following pre-operative chemoradiotherapy in rectal cancer: analysis of phase II/ III trials. The British Journal of Radiology 78:934-938.

27. Saif M. W., Hashmi S., Zelterman D., Almahanna K. and Kim R. (2008) Capecitabine vs continuous infusion 5-FU in neoadjuvant treatment of rectal cancer - a retrospec-tive review. International Journal of Colorectal Disease 32:139-145. 28. Horisberger K. et al. (2008) Tumor response to neoadjuvant chemoradiation in

rectal cancer: predictor for surgical morbidity? International Journal of Colorectal Disease 23:257-264.

29. Velenik V., Ocvirk J., Oblak I. and Anderluh F. (2010) A phase II study of cetux-imab, capecitabine and radiotherapy in neoadjuvant treatment of patients with locally advanced resectable rectal cancer. European Journal of Surgical Oncology 36:244-250.

30. Carlomagno C. et al. (2009) Neo-adjuvant treatment of rectal cancer with capecitabine and oxaliplatin in combination with radiotherapy: a phase II study. Annals of Oncology 20:906-912.

31. Campos-Lobato L. et al. (2011) Pathologic complete response after neoadjuvant treatment for rectal cancer decreases distant recurrence and could eradicate local recurrence. Annals of Surgical Oncology (publicação online).

32. Smith F. M., Waldron D. and Winter D. C. (2010) Rectum-conserving surgery in the era of chemoradiotherapy. British Journal of Surgery 97(12):1752-1764. 33. Losi L. et al. (2006) Prognostic value of Dworak grade of regression (GR) in patients

with rectal carcinoma treated with preoperative radiochemotherapy. International Journal of Colorectal Disease 21:645-651.

34. Suárez J. et al. (2007) Pathologic response assessed by Mandard grade is a better prognostic factor than down staging for disease-free survival after preoperative radiochemotherapy for advanced rectal cancer. Colorectal Disease 10:563-568. 35. Rullier A., Laurent C., Capdepont M., Vendrely V., Bioulac-Sage P. and Rullier E. (2010) Impact of tumor response on survival after radiochemotherapy in locally advanced rectal carcinoma. The American Journal of Surgical Pathology 34(4):562-568.

36. Pinho M. (2007) Resposta completa à terapia neoadjuvante no câncer do reto: apenas sorte ou um resultado previsível? Revista Brasileira de Coloproctologia 27(4):474-478.

37. Huerta S., Hrom J., Gao X., Saha D., Anthony T., Reinhart H. and Kapur P. (2010) Tissue microarray constructs to predict a response to chemoradiation in rectal cancer. Digestive and Liver Disease 42:679-684.

38. Brophy S., Sheehan K. M., McNamara D. A., Deasy J., Bouchier-Hayes D. J. and Kay E. W. (2009) GLUT-1 expression and response to chemoradiotherapy in rectal cancer. International Journal of Cancer 125:2778-2782.

39. Toiyama Y., Inoue Y., Saigusa S., Okugawa Y., Yokoe T., Tanaka K., Miki C. and Kusunoki M. (2010) Gene expression profiles of epidermal growth factor recep-tor, vascular endothelial growth factor and hypoxia-inducible factor-1 with special reference to local responsiveness to neoadjuvant chemoradiotherapy and disease recurrence after rectal cancer surgery. Clinical Oncology 22:272-280. 40. García V. M. et al. (2009) Prognostic value of carcinoembryonic antigen level in

rectal cancer treated with neoadjuvant chemoradiotherapy. International Journal of Colorectal Disease 24:741-748.

41. Kitayama J., Yasuda K., Kawai K., Sunami E. and Nagawa H. (2010) Circulating lymphocyte number has a positive association with tumor response in neoadju-vant chemoradiotherapy for advanced rectal cancer. Radiation Oncology 5:47. 42. Habr-Gama A., Perez R. O., Proscurshim I., Santos R. M. N., Kiss D.,

Gama-Rodrigues J. and Cecconello I. (2008) Interval between surgery and neoadjuvant chemoradiation therapy for distal rectal cancer: does delayed surgery have an impact on outcome? International Journal of Radiation Oncology, Biology, Physics 71(4): 1181-1188.

43. Habr-Gama A., Perez R. O., São Julião G. P., Proscurshim I., Nahas S. C. and Gama-Rodrigues J. (2010) Factors affecting management decisions in rectal cancer in clinical practice: results from a national survey. Techniques in Coloproctology (publicação online).

44. Barrier A., Ferro L., Houry S., Lacaine F. and Huguier M. (2003) Rectal cancer surgery in patients more than 80 years of age. The American Journal of Surgery 185:54-57.

45. Cho Y. B. et al. (2009) Accuracy of MRI and 18F-FDG PET/CT for restaging after preoperative concurrent chemoradiotherapy for rectal cancer. World Journal of Surgery 33:2688-2694.

46. Radovanovic Z., Breberina M., Petrovic T., Golubovic A. and Radonovic D. (2008) Accuracy of endorectal ultrasonography in staging locally advanced rectal cancer after preoperative chemoradiation. Surgical Endoscopy 22:2412-2415. 47. Berger C. et al. (1997) Preoperative radiotherapy (RT) for rectal cancer:

pre-dictive factors of tumor downstaging and residual tumor cell density (RTCD): prognostic implications. International Journal of Radiation Oncology, Biology, Physics 37(3):619-627.

48. Campos-Lobato L., Geisler D., Moreira A. L., Stocchi L., Dietz D. and Kalady M. F. (2010) Neoadjuvant therapy for rectal cancer: the impact of longer interval between chemoradiation and surgery. Journal of Gastrointestinal Surgery (pub-licação online).

49. Tran C. L., Udani S., Holt A., Arnell T., Kumar R. and Stamos M. J. (2006) Evalu-ation of safety of increased time interval between chemoradiEvalu-ation and resection for rectal cancer. The American Journal of Surgery 192(6):873-877. 50. Dolinksky C. M., Mahmoud N. N., Mick R., Sun W., Whittington R. W., Solin L. J.,

Haller D. G., Giantonio B. J., O’Dwyer P. J., Rosato E. F., Fry R. D. and Metz J. M. (2007) Effect of time interval between surgery and preoperative chemoradiotherapy with 5-fluorouracil or 5-fluorouracil and oxaliplatin on outcomes in rectal cancer. Journal of Surgical Oncology 96:207-212.

51. Dhadda A. S., Zaitoun A. M. and Bessell E. M. (2009) Regression of rectal cancer with radiotherapy with or without concurrent capecitabine – optimising the timing of surgical resection. Clinical Oncology 21:23-31.

52. Kerr S. F., Norton S. and Glynne-Jones R. (2008) Delaying surgery after neoadjuvant chemoradiotherapy for rectal cancer may reduce postoperative morbidity without compromising prognosis. British Journal of Surgery 95:1534-1540.

53. Lim S., Choi H. S., Jeong S., Kim D. Y., Jung K. H., Hong Y. S., Chang H. J. and Park J. (2008) Optimal surgery time after preoperative chemoradiotherapy for locally advanced rectal cancers. Annals of Surgery 248(2):243-251.

54. Stein D. E., Mahmoud N. N., Anné P. R., Rose D. G., Isenberg G. A., Goldstein S. D., Mitchell E. and Fry R. D. (2003) Longer time interval between completion of neoadjuvant chemoradiation and surgical resection does not improve downstaging of rectal carcinoma. Diseases of the Colon & Rectum 46(4):448-453. 55. Moore H. G. et al. (2004) Rate of pathologic complete response with increased

interval between preoperative combined modality therapy and rectal cancer resec-tion. Diseases of the Colon & Rectum 47(3):279-286.

56. Klos C. L. et al. (2010) The effect of neoadjuvant chemoradiation therapy on the prognostic value of lymph nodes after rectal cancer surgery. The American Journal of Surgery 200:400-445.

57. Lindebjerg J., Spindler K. L. G., Ploen J. and Jakobsen A. (2009) The prognostic value of lymph node metastases and tumour regression grade in rectal cancer patients treated with long-course preoperative chemoradiotherapy. Colorectal Disease 11:264-269.

58. Mohiuddin M., Mohiuddin M., Marks J. and Marks G. (2009) Future directions in neoadjuvant therapy of rectal cancer: maximizing pathological complete response rates. Cancer Treatment Reviews 35:547-552.

59. Rödel C. et al. (2010) Induction chemotherapy before chemoradiotherapy and surgery for locally advanced rectal cancer: is it time for a randomized phase III trial? Strahlentherapie und Onkologie 186:658-664.

Referências

Documentos relacionados

engrenagens são diferentes, porém, em valores absolutos os valores de dureza não são tão diferentes assim como mostra na (Tabela 1), Verificou-se também que, em valores

Os principais processos executados pela CAAP estão no desenvolvimento de soluções para contabilidade de grandes grupos e empresas, a comunicação com seus clientes

Escolhemos proceder a uma abordagem histórica da disciplina visando desnaturalizar uma trajetória pré- construída, muitas vezes apresentada em cursos de graduação,

Os conceitos devem ficar claros: cultura nacional não é só a vernacular (que definimos como algo do povo, sem estudo acadêmico), pois o design erudito (como

Outras Atividades de Ensino Ensino de Idiomas 50% Trabalhadores / 50% alunos 08h às 20h Teletrabalho / Presencial restrito Ensino remoto / Atendimento individualizado ou em

Com efeito, a sua ação conduziu já a uma progressiva consciencialização para a proteção e valorização dos elementos abióticos da Terra (a geodiversidade), promovendo a

Embora exatamente o mesmo número de espécies tenha sido observado nas duas reservas, os resultados das extrapolações para igual número de amostras, e também o cálculo

É de destacar o papel no Congresso dos membros da então designada Secção dos Trabalhos Geológicos de Portugal, onde Nery Delgado apresentou notável estudo sobre a gruta da