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RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ

PRÓ-REITORIA DE PESQUISA E PÓS-GRADUAÇÃO DIRETORIA DE PESQUISA

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSAS DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA – PIBIC; CNPq, CNPq/AF, UFPA, UFPA/AF, PIBIC/INTERIOR, PRODOUTOR, PIBIT E FAPESPA

RELATÓRIO TÉCNICO - CIENTÍFICO Período : outubro/2015 a julho/2015.

( ) PARCIAL (x) FINAL Capítulo 1

Capítulo 2 IDENTIFICAÇÃO DO PROJETO

Título do Projeto de Pesquisa (ao qual está vinculado o Plano de Trabalho): Empoderamento, ethos local e recursos naturais: a cartografia social como estratégia para a elaboração de planos de ação em RESEX’s marinhas do “salgado paraense” (Edital PE-Interdisciplinar 2014, Coordenação Voyner Ravena Cañete)

Nome do Orientador: Voyner Ravena Cañete

Titulação do Orientador: Doutora

Faculdade : Biologia

Instituto/Núcleo: Ciências Biológicas - ICB

Laboratório:

Título do Plano de Trabalho: Fatores que influenciam a (des)valorização dos modos de

vida da população pesqueira de São Caetano de Odivelas-Pa.

Nome do Bolsista: Quéren Hapuque Pantoja Lobo

Tipo de Bolsa: ( x ) PIBIC/UFPA

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INTRODUÇÃO

O município de São Caetano de Odivelas abrange uma área territorial de 743,466 km², com uma população estimada em 17.344 habitantes e faz parte da microrregião do salgado paraense (IBGE, 2014). A população das comunidades que compõem o município apresentam suas atividades voltadas para a pesca e coleta de mariscos, sendo possível encontrar a agricultura como atividade complementar voltada para subsistência, ou mesmo como atividade principal. Em 2014, foi instituída no município a RESEx Marinha Mocapajuba que resultou de uma longa demanda local para a proteção dos recursos naturais do município, assim como a garantia de reprodução das populações pesqueiras que lá vivem (ICMBIO, 2014).

No estudo socioambiental realizado no local pelo ICMBIO (2014), para a instituição da respectiva RESEX, observou-se que as técnicas de pesca são repassadas por gerações e o aprendizado se inicia com os filhos acompanhando seus pais, muitas vezes, a partir dos oito anos de idade. Desse modo, durante as atividades pesqueiras é possível considerar a troca de aprendizados através da prática ou da convivência.

Para Silva (2010), a sabedoria dos pescadores apresenta um profundo conhecimento sobre o espaço onde os mesmos desenvolvem a atividade pesqueira, estando aptos a identificar todo tipo de obstáculo que possa vir atrapalhar ou dificultar o bom andamento da atividade e a identificação dos cardumes, tais como: rochas, barcos afundados, barrancos de areia ou outras obstruções perigosas. Observa-se então a relação entre o modo de vida do pescador ligado ao seu meio de subsistência, onde a sua experiência influencia de forma positiva no reconhecimento de locais onde os recursos pesqueiros estão dispostos.

Neste contexto, o desenvolvimento deste projeto objetiva analisar e descrever os fatores que influenciam a valorização ou desvalorização dos conhecimentos tradicionais da população que vive na comunidade do Aê em São Caetano de Odivelas, evidenciando conhecer em que consistem os modos de vida da população considerando suas práticas e acessos aos recursos naturais. Alcançar tal objetivo permite à pesquisa contribuir para o planejamento de políticas públicas e a valorização das formas de uso do ambiente, especialmente colaborando para um plano de ação que pode culminar com o plano de manejo a ser elaborado para a RESEX.

JUSTIFICATIVA

O encontro do rio com o mar é chamado genericamente de Estuário. Trata-se de um ecossistema de transição entre o ambiente marinho e continental de alta complexidade e vulnerabilidade à influência do homem (MIRANDA, 2002). A dinâmica entre a água doce de

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origem fluvial e a água do oceano adjacente, os transportes associados de sedimentos e nutrientes são processos que tornam os ecossistemas estuarinos biologicamente mais produtivos que outros ambientes aquáticos (Miranda, 2002). Nessa interface oceano-continente está o ecossistema de manguezal altamente produtivo, de tal forma, que sustenta uma extensa cadeia alimentar, que abrange desde seres microscópicos da fauna e flora, até comunidades humanas (BARROS, 2001).

Furtado et al (2006, p. 117) ao realizar estudo sobre pequenas populações da Zona do Salgado paraense verificou “uma interação marcante entre homem e natureza, não apenas marcada pela relação objetiva de trabalho-subsistência, mas, também, no imaginário. O mar e os outros ecossistemas têm uma representação sociocultural, altamente, valorizada na percepção dos indivíduos”.

A Zona do Salgado paraense abrange os municípios de Colares, Curuçá, Magalhães Barata, Maracanã, Marapanim, Primavera, Salinópolis, Santarém Novo, São Caetano de Odivelas e Vigia, possui cerca de 500 km de extensão e está situada entre a Baía do Marajó e a Baía do Gurupi (ADRIÃO, 2006).

Segundo Arruda (2000), o modelo de unidade de conservação adotado no Brasil e nos países de terceiro mundo é proveniente da concepção de “áreas protegidas” que se baseia na conservação de partes do mundo natural em seu estado originário. Esse modelo construído e aplicado nos Estados Unidos teve relativo êxito em sua execução, pois, dispunha de amplos espaços desabitados. No entanto, a implementação dessa proposta nos países de terceiro mundo seria inviável. O autor considera que tal modelo de unidades de conservação supõe que as comunidades locais são incapazes de desenvolver um manejo mais sábio dos recursos naturais, desconsiderando e desvalorizando assim os seus saberes tradicionais.

Diegues (2001) afirma que num primeiro momento, os atores sociais são invisíveis, e os chamados “planos de manejo dos parques” não mencionam a existência de indivíduos que vivem no local, e que o reconhecimento da existência e até de importância desses atores sociais para a conservação e manutenção da diversidade biológica é fenômeno recente, causado pelo surgimento, em países do terceiro mundo, de um ecologismo diferente dos países industrializados. O Autor defende o estabelecimento de políticas onde seja considerado o conhecimento da população tradicional integrado com o conhecimento de biólogos, engenheiros florestais, sociólogos, antropólogos e cientistas políticos, entre outros.

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OBJETIVOS

O trabalho teve como objetivo investigar e analisar os principais fatores que influenciam tanto a valorização quanto a desvalorização do modo de vida de uma comunidade pesqueira em São Caetano de Odivelas.

A partir do objetivo proposto:

1. Identificou-se o modo como a população pesqueira se relaciona com o ambiente a partir do uso e acesso aos recursos naturais.

2. Verificou-se que os fatores que influenciam a saída da população local, em sua maioria jovem, possuem relação com a falta de acesso a educação formal e políticas públicas de incentivo à pesca artesanal.

3. Verificou-se que os fatores que levam à valorização do modo de vida e fixação da população residente estão relacionados à reprodução do saber tradicional, à coletividade da vida no campo e aos laços com a terra de origem e de parentesco.

MATERIAIS E MÉTODOS

Incialmente foi realizado levantamento bibliográfico de trabalhos relacionados à área do conhecimento e local da pesquisa. A partir das leituras o método e o instrumento de coleta de dados puderam ser definidos e elaborados.

Como instrumentos metodológicos de coleta de dados foram aplicados formulários e entrevistas semiestruturadas. Para obter resultados capazes de aproximar e revelar a realidade estudada, a abordagem quantiqualitativa foi utilizada, uma vez que a mesma permite a análise estatística dos dados e considera informações relevantes que emergem durante as conversas entre pesquisador e público-alvo. Os formulários socioeconômicos continham perguntas sobre as atividades econômica e de subsistência e dados sociais da família dos informantes. As entrevistas com duração média de uma hora buscaram levantar informações sobre formas de uso e acesso aos recursos naturais e transmissão do conhecimento tradicional no núcleo familiar. Para avaliar as possíveis mudanças no modo de vida da população estudada, utilizou-se o critério de faixa etária para utilizou-selecionar as pessoas que utilizou-seriam entrevistadas. Deste modo, quatro faixas etárias foram estabelecidas: 20 a 35 anos; 36 a 50 anos; 51 a 65 anos e Mais de 65 anos. Essa escolha repousou na percepção de que o conhecimento apresentava mudanças nas diferentes gerações, dado que a própria disponibilidade de recursos naturais vem se alterando nas últimas décadas. A observação direta durante as visitas à comunidade foi fonte

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de informações importantes para a realização do estudo. Vale ressaltar, que o estudo não se configurou como uma etnografia, já que para esta seria importante uma observação participante, marcada por longa estada no campo (MALINOWSKI, 1976)

O trabalho de campo ocorreu em duas etapas, a primeira consistiu em estabelecer contato com a Colônia de Pescadores de São Caetano de Odivelas (Z04) e definir e conhecer a área de estudo. A segunda, se caracterizou pela aplicação dos questionários e realização das entrevistas. De 13 a 15 de março e em 9 de maio de 2015 ocorreu a primeira etapa, a partir da qual foi escolhida a comunidade do Aê para a realização da pesquisa. Essa escolha reposou no critério de conhecimento socioambiental peculiar demonstrado por essa comunidade. Especificamente, a comunidade do Aê se caracteriza pela prática da pesca de curral como principal atividade de subsistência e de relação com o mercado, o que faz da mesma uma comunidade diferente das demais que apresentam uma pluriatividade mais marcante em seu cotidiano. A coleta de dados ocorreu de 16 a 17 de maio e de 10 a 12 de julho de 2015. Foram aplicados 23 formulários socioeconômicos, o que equivale a 37,1% das 62 famílias residentes (ICMBio, 2014). Foram entrevistados em profundidade nove atores sociais ligados à pesca e em diferentes faixas etárias. A análise estatística dos dados quantitativos foi realizada no Pacote Estatístico para as Ciências Sociais versão 20.0 (IBM SPSS) e no Microsoft Office Excel 2010.

RESULTADOS

A idade dos informantes alcançados pelo formulário socioeconômico variou de 23 a 76 anos, o que proporcionou a média de 50 anos de idade. O maior percentual de faixa etária dos informantes foi 39,1% para os que possuem de 51 a 65 anos, seguido de 34,8% para os que possuem de 36 a 50 anos.

Mais de 73% declararam ter nascido no município de São Caetano de Odivelas, desse percentual, 69,6% nasceram na comunidade do Aê. A cidade de Bragança – PA representa 13% da amostra. Os municípios de Marajó – PA, Barcarena – PA e Carutapé – MA foram citados e cada um representa 3,4% da amostra (tabela 1).

Município de origem dos residentes do Aê Cidade de nascimento Percentual (%)

São Caetano - PA 73,9

Bragança - PA 13

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Barcarena - PA 4,3

Carutapé - MA 4,3

Total 100

Tabela 1: Residentes da comunidade segundo o município de nascimento.

O percentual significativo de 25,9 representa os nascidos em outros municípios dos estados do Pará (21,6%) e Maranhão (4,3%). Em estudo realizado por Texeira (0000) a urbanização das áreas de pesca; a ausência de políticas públicas voltadas aos pescadores; a instabilidade econômica no local de origem foram citados como alguns dos fatores que originaram os movimentos migratórios de pescadores no nordeste paraense. Neste cenário, a migração mostra-se como alternativa a dar continuidade ao seu modo de vida enquanto trabalhadores da área pesqueira. No entanto, ainda que a mobilidade apareça como uma tendência, na busca por políticas públicas e serviços, no presente estudo, do percentual de 25,9, a maioria declarou viver na comunidade há mais de uma década e desenvolver atividades econômicas e de subsistência relacionadas à pesca e à agricultura. Portanto, pode-se inferir que a comunidade do Aê revela-se como alternativa aos pescadores estabelecidos em seu território. Outro fator que pode ter contribuído para a permanência das famílias na comunidade é a maneira como foram recebidas pelos locais, pois as mesmas não pagaram pelo terreno onde vivem. Observou-se que os grupos familiares estabelecidos nos últimos 15 anos, formados tanto por pessoas vindas de outras comunidades de São Caetano quanto por pessoas de outros municípios, residem próximos uns aos outros, na rua chamada de “Nova”. O representante da Colônia de Pescadores no Aê relatou estar mobilizando os homens da comunidade para “abrir” outra rua para acomodar as novas famílias que continuam a se estabelecer.

Quando perguntados sobre sua principal atividade econômica, 78,2% declararam trabalhar em atividades relacionadas à pesca. Deste percentual, 60,9% declararam trabalhar exclusivamente na pesca, 13% afirmaram que além de atuarem na pesca recebem aposentadoria, 13% são pescadores aposentados, 4,3% declararam que alternam as atividades de pesca com a produção artesanal de carvão vegetal, 4,3% não atuam na pesca (Cabelereira/Manicure), porém, há pessoas da família ativas no ramo e 4,3% declararam não desenvolver atividade econômica (Gráfico 1).

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Gráfico 1. Principais atividades econômicas desenvolvidas na comunidade do Aê.

Os dados evidenciam que o uso dos recursos aquáticos desempenha um papel essencial na economia da comunidade, e a mesma, passa por ciclos conduzidos pela sazonalidade desses recursos. Dessa forma, se salienta o fato de que os trabalhadores da área da pesca migram para distintas pescarias de acordo com a disponibilidade e a facilidade em acessar os recursos no mar ou manguezal. Tal situação é corroborada por Furtado et al (2006) e Maneschy (1993). A pesca de curral e o extrativismo do caranguejo são as formas de exploração dos ecossistemas costeiros, no que diz respeito à fonte de renda, dominantes na comunidade. Outras pescarias estão presentes no cotidiano dos habitantes, todavia, em menor número de praticantes. As principais atividades desenvolvidas pela população estão listadas no quadro a seguir, em ordem de ocorrência e de importância econômica e de subsistência:

Pesca

Pesca de curral

Ator social Característica da atividade

Dono de curral Econômica e subsistência Marcador de curral Econômica

Marreteiro de peixe Econômica

Pesca de rede Pescador autônomo Econômica e subsistência Pescador empregado Econômica

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camarão Pescador (a) empregado (a) Econômica Marreteiro de camarão Econômica

Pesca de siri Pescador (a) autônomo (a) Econômica e subsistência Extrativismo de

caranguejo

Extrativista de caranguejo Econômica e subsistência Marreteiro (a) de caranguejo Econômica

Agricultura familiar

Cultivos

Roça de mandioca Subsistência Roça de macaxeira Subsistência Beneficiamento Produção de farinha Subsistência

Quadro 1. Principais atividades econômicas pesqueiras desenvolvidas na comunidade, em ordem de

ocorrência, importância econômica e de subsistência.

O município de São Caetano de Odivelas dispõe de características geográficas favoráveis a pesca de curral: grandes amplitudes de marés, terrenos de fraca declividade e existência de baixios próximos às margens (MANESCHY apud EL-ROBRINI et al., 1992), uma vez que currais são armadilhas fixas para peixes e mostram-se mais eficientes em ambientes aquáticos que sofrem forte influência das oscilações de marés. A comunidade do Aê é reconhecida na região pela tradição nessa arte de pesca. A continuidade da pesca de curral indica relação com a transmissão do saber tradicional no núcleo familiar, como se sabe, o conhecimento tradicional de comunidades pesqueiras artesanais é transmitido oralmente com a função de assegurar a reprodução do seu modo de vida (Begossi, s/d). Apesar de 85,7% dos pescadores curralistas afirmarem que não gostariam que seus filhos trabalhassem na pesca de curral, pois desejam que os mesmos estudem e consideram tal modalidade muito “sacrificante”, observou-se que os jovens do sexo masculino a partir dos 18 anos de idade atuam na pesca, em sua maioria, como parceiro de um pescador experiente da família. Ainda que tenham declarado gostar de trabalhar no ramo, afirmaram atuar temporariamente enquanto não dispunham de ocupação “melhor” e em virtude da rentabilidade do curral durante a safra. Outros relataram ter assentado curral porque o período adequado para o processo de construção coincidiu com a greve dos professores1. Os jovens que não interromperam os estudos enfrentam dificuldades a partir do 6º ano, como ter que ir para outras comunidades ou municípios para continuar a educação básica, isso porque há apenas uma escola na vila e esta alcança somente o 1º grau menor do ensino fundamental. Nesse cenário, as jovens mulheres que não dispõem de recursos para prosseguir a formação básica ou profissionalizante, quando

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não se dedicam exclusivamente aos serviços domésticos, passam a trabalhar como caixas e vendedoras em mercados e lojas da sede de São Caetano e de municípios próximos. Os rapazes que se aventuram fora da comunidade em busca de empregos encontram espaço na construção civil, ou atuam como mototáxi e carregador de cargas. Os que permanecem na comunidade se especializam na pesca, geralmente na mesma modalidade desenvolvida tradicionalmente pela família.

Os pescadores mais antigos relataram ter abandonado sua localidade de origem, quando mais jovens, para se aventurar em outros trabalhos nos núcleos urbanos, entretanto, os mesmos retornaram para seus locais de origem por não se adaptarem a vida na cidade. O mercado de trabalho nos centros urbanos impõem normas e exige a educação formal que não correspondem, respectivamente, à lógica da vida no campo e ao conhecimento tradicional ecológico dos pescadores. Desse modo, essa mão de obra é direcionada ao mercado informal ou empregos de baixa remuneração aliada a jornadas de trabalho exaustivas. Tais fatores somados à memória da tranquilidade e da coletividade da vida que se tinha no campo despertam o desejo de regressar ao seu habitat natural.

Durante as entressafras do curral, a população do Aê migra para o extrativismo do caranguejo-uçá (Ucides cordatus), um dos recursos pesqueiros mais importantes em toda a sua área de ocorrência nas zonas de mangue do Brasil (MACIEL, 2009). No município de São Caetano de Odivelas, o ecossistema de manguezal está ameaçado pela excessiva ação antrópica para a “tiração” e comercialização de caranguejos, além do uso da madeira nativa para produção de lenha (ICMBIO, 2004) e, em algumas comunidades, para a construção dos currais. O extrativismo do caranguejo é fonte de renda importante para os habitantes do Aê, sobretudo, no declínio da safra do curral (setembro), ao passo que o período menos chuvoso na região, chamado pelos nativos de “verão”, se aproxima e torna o mangue mais acessível à exploração do recurso porque está menos alagado. É notável a participação das mulheres enquanto trabalhadoras do mangue. Nenhum tipo de beneficiamento do crustáceo é realizado, a produção é vendida ao marreteiro local ou de outros municípios (“de fora”, usando a definição local).

A pesca de rede figura entre as pescarias secundárias e alternativas ao curral durante as entressafras e em dias de baixa produção nos mesmos, a quantidade de pescado capturado é pequena e destinada à alimentação da família. Ademais acontece prioritariamente próxima à costa e nos igarapés. Poucos pescadores figuram na pesca marítima, e nesse caso, sempre

1 As escolas estaduais do Estado do Pará deflagraram e permaneceram em uma greve aproximadamente por dois meses no decorrer do ano de 2015.

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como pescador empregado em barcos de São Caetano, Vigia e Colares. A pesca de arrasto de praia para a captura do camarão exerce função semelhante a da pesca de rede, nesta, assim como no extrativismo do caranguejo, as mulheres merecem destaque pelo número de praticantes. Pescadores de siri são raros e atuam nessa modalidade por um curto período de tempo.

O escoamento da produção de todas as atividades pesqueiras de relevância econômica é realizado pelos marreteiros locais ou de fora. Há apenas dois marreteiros de peixe e camarão e uma marreteira de caranguejo na comunidade. Os marreteiros locais de peixe e camarão são importantes principalmente durante os períodos de menor produção, quando os marreteiros de fora se ausentam restando apenas o marreteiro fixo para comprar o pescado. No que tange à cadeia de intermediários, notadamente os pescadores dependem daqueles que controlam, em terra, a distribuição do pescado. O padrão de distribuição desigual dos lucros que se observa nas relações entre população produtora e comerciantes de pescado nas várias localidades do salgado paraense (MANESCHY, 1993), se repete na comunidade do Aê.

A agricultura é do tipo familiar e desenvolvida no âmbito da subsistência, reduzida a cultivos de mandioca e macaxeira. A mandioca é destinada à produção artesanal da farinha para o consumo dos grupos familiares. As mulheres dominam este processo que se mostra como fator de integração social da comunidade. É importante destacar que a pesca gera ganhos mais imediatos que a agriculta familiar (MANESCHY, 1993).

A pesca artesanal na comunidade do Aê, apesar de sua representatividade como produtora de pescado junto às demais comunidades, o que confere o status de importante polo pesqueiro a São Caetano de Odivelas no cenário paraense, não coloca os responsáveis pela sua reprodução em condição social e econômica justas. Entre as prováveis causas, a cadeia de intermediação do pescado (CARDOSO, 2001) e a ausência de políticas públicas de incentivo a categoria são determinantes para a estagnação de quem a exerce. A comunidade é amparada apenas por políticas públicas que chegam à região oriundas do governo federal, como os programas Bolsa Família e Fome Zero. A atuação do IBAMA é citada principalmente no sentido de fiscalizar a comercialização do caranguejo no período do defeso. O conjunto de violações de direitos ao qual a comunidade está sujeitada reflete as situações precárias de moradia, saneamento, nutrição, escolaridade e acesso à saúde. Tais condições influenciam a saída da população jovem para os centros urbanos e a desvalorização do seu modo de vida.

Na contramão desse processo, a qualidade de vida da estadia no campo, os sistemas de parcerias e trocas que resistem à influência da lógica capitalista dos centros urbanos e o vasto

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saber tradicional acerca do ambiente do qual fazem parte destacam-se como motivos de orgulho e fator de fixação da população local.

PUBLICAÇÕES

Resultado das atividades de coleta de dado serão apresentadas em trabalho, na condição de co-autoria, no IX Congresso Brasileiro de Agroecologia e será publicado na revista Cadernos de Agroecologia (ISSN: 2236-7934).

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http://www.cbagroecologia.org.br/p/comissao.html (acesso em 10/08/2015).

ATIVIDADES A SEREM DESENVOLVIDAS NOS PRÓXIMOS MESES CONCLUSÃO:

Os valores culturais, sociais e econômicos da comunidade do Aê estão intimamente conectados ao ambiente marinho costeiro. As mudanças atuais resultantes da penetração intensa das relações capitalistas no universo da pequena pesca diluem e reinventam esses valores. No entanto, a conexão com o habitat natural parece resistir à pressão da sociedade urbano/industrializada.

O conhecimento dos modos de exploração dos recursos aquáticos costeiros da população tradicional em questão deve ser devidamente considerado nas tomadas de decisões nos programas de manejo pesqueiro direcionados à região. Uma vez, que seu vasto saber tradicional, resguardado geração a geração, resiste há anos de influências e pressão de fatores externos.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

ADRIÃO, D. Pescadores de Sonhos: um olhar sobre as mudanças nas relações de trabalho e na organização social entre as famílias dos pescadores diante do veraneio e do turismo balnear em Salinópolis, Pará. Bol. Mus. Para. Emílio Goeldi. Ciênc. hum. vol.1 no.2 Belém May/Aug. 2006.

BARROS, H. M. Ecossistemas Costeiros: Impactos e Gestão Ambiental. Belém, Museu Paraense Emílio Goeldi, 2001.

BEGOSSI. Conhecimento tradicional e apropriação social do ambiente marinho.

http://nupaub.fflch.usp.br/biblioteca ,acessado em 05/06/2015.

CARDOSO, E. S. Pescadores artesanais: natureza, território, movimento social. 2001. Tese (Doutorado em Geografia) - Universidade de São Paulo - USP, São Paulo, 2001.

EL-ROBRINI, M. et. al. Deposição e assoreamento das rias do nordeste do Estado do Pará/Brasil. In: Congr. Bras. Geol., 37. São Paulo. Boletim de resumos expandidos. São Paulo, SBG, p. 79-80, 1992.

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FURTADO, L. G. et al. Formas de utilização de manguezais no litoral do estado do pará: casos de Marapanim e São Caetano de Odivelas. In: Amazônia: Ci. & Desenv., Belém, v. 1, n. 2, jan./jun. 2006.

MACIEL, I. L. S. O mangue como unidade geográfica de análise: o espaço de vivência e

produção comunitária nos manguezais da comunidade de Jutaí no município de São Caetano de Odivelas-PA. Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em

Geografia (PPGEO) da Universidade Federal do Pará. Belém, Pará. 2009.

MALINOWSKI, Bronislaw. “Introdução. Tema, método e objetivo desta pesquisa”. In Argonautas do Pacífico Ocidental. São Paulo : Abril S.A. Industrial e Cultural, 1976. P. 21-38.

MANESCHY, M. C. PESCADORES CURRALISTA NO LITORAL DO ESTADO DO PARÁ: evolução e continuidade de uma pesca tradicional. Revista da SBHC, n. 10, p. 53-74, 1993.

MANESCHY, M. C. Pescadores nos Manguezais; Estratégias Técnicas e Relações Sociais de Produção na Captura do Caranguejo. Povos das Águas, realidade e perspectiva na

Amazônia (Orgs: L. G. Furtado, W. Leitão, A. F. Melo), Belém-Pa, 1993.

MIRANDA, L. B de. Princípios de Oceanografia Física de Estuários. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2002 – (Acadêmica; 42).

SILVA, A. L. da. Entre tradições e modernidade: conhecimento ecológico local, conflitos de pesca e manejo pesqueiro no rio Negro, Brasil. Boletim do Museu Paraense Emílio Goeldi. Ciências Humanas, v. 6, n. 1, p. 141-163, jan.-abr. 2011. Universidade de São Paulo. Conservação Internacional do Brasil.

DIFICULDADES - Relacionar os principais fatores negativos que interferiram na execução do

projeto.

PARECER DO ORIENTADOR: Manifestação do orientador sobre o desenvolvimento das

atividades do aluno e justificativa do pedido de renovação, se for o caso.

Excelente bolsista. Proativa, madura, capaz de seguir em uma pós-graduação, mesmo vindo de outra área do conhecimento. Se mostrou plenamente envolvida com as atividades, realizando leituras e evidenciando-se capaz de superar as diferenças entre as áreas de conhecimento. (oceanografia-antropologia/sociologia).

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_________________________________________ ASSINATURA DO ORIENTADOR

____________________________________________ ASSINATURA DO ALUNO

INFORMAÇÕES ADICIONAIS: Em caso de aluno concluinte, informar o destino do mesmo

após a graduação. Informar também em caso de alunos que seguem para pós-graduação, o nome do curso e da instituição.

FICHA DE AVALIAÇÃO DE RELATÓRIO DE BOLSA DE INICIAÇÃO CIENTÍFICA O AVALIADOR DEVE COMENTAR, DE FORMA RESUMIDA, OS SEGUINTES ASPECTOS DO RELATÓRIO :

1. O projeto vem se desenvolvendo segundo a proposta aprovada? Se ocorreram mudanças

significativas, elas foram justificadas?

2. A metodologia está de acordo com o Plano de Trabalho?

3. Os resultados obtidos até o presente são relevantes e estão de acordo com os objetivos

propostos?

4. O plano de atividades originou publicações com a participação do bolsista? Comentar sobre

a qualidade e a quantidade da publicação. Caso não tenha sido gerada nenhuma, os resultados obtidos são recomendados para publicação? Em que tipo de veículo?

5. Comente outros aspectos que considera relevantes no relatório

6. Parecer Final:

Aprovado ( )

Aprovado com restrições ( ) (especificar se são mandatórias ou recomendações) Reprovado ( )

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Atribuir conceito ao relatório do bolsista considerando a proposta de plano, o desenvolvimento das atividades, os resultados obtidos e a apresentação do relatório.

Data : _____/____/_____.

________________________________________________

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