• Nenhum resultado encontrado

A SEGURANÇA E A SOBERANIA ALIMENTAR NO ENSINO FUNDAMENTAL COMO INSTRUMENTO DE CIDADANIA E BEM ESTAR

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "A SEGURANÇA E A SOBERANIA ALIMENTAR NO ENSINO FUNDAMENTAL COMO INSTRUMENTO DE CIDADANIA E BEM ESTAR"

Copied!
6
0
0

Texto

(1)

A SEGURANÇA E A SOBERANIA ALIMENTAR NO ENSINO FUNDAMENTAL COMO INSTRUMENTO DE CIDADANIA E BEM ESTAR

Regina Célia de Souza Piteira José Adolfo Iriam Sturza

O terceiro ciclo do Ensino Fundamental nas escolas brasileiras, compreendido entre o sexto e nono ano, desperta às individualidades das disciplinas numa visão de totalidade. Na Educação, a chamada escola “problemática” enseja uma interação dos conteúdos das disciplinas à realidade social, onde o professor deve corporeificar suas palavras, respeitando o conhecimento empírico do estudante e o conduzindo ao domínio das ciências (FREIRE, 1996). O conjunto de disciplinas e informações contribui para que ele desenvolva um senso crítico sobre seu entorno e o auxilia na construção de visão de mundo. Na Geografia, por exemplo, Santos (2006) define o espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações ao longo do tempo, que, dependendo dos conceitos que o estudante desenvolver sobre cidadania, impactará mais ou menos nas transformações espaciais. A segurança alimentar constitui o “direito de todos ao acesso à alimentação segura, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, sem comprometer outras necessidades essenciais” (MEIRELLES; RUPP, 2006, p.67). A segurança alimentar constitui o “direito de todos ao acesso à alimentação segura, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, sem comprometer outras necessidades essenciais” (MEIRELLES; RUPP, 2006, p. 67). Este trabalho tem por objetivo abordar a segurança e soberania alimentar como um projeto de bem estar, associado à saúde física e emocional, e como estes são tratados na escola pública. Trata-se de uma pesquisa exploratória com base em diversas bibliografias e sites online sobre os temas referentes a esta dialética ensino/aprendizagem, enfocando as diversidades sobre lugares e hábitos culturais, bem como a produção agrícola de base ecológica. Desse modo, considera-se necessária a dedicação do professor numa envolvência transdisciplinar em experienciar, junto aos estudantes, a prática dos referenciais teóricos em questão. Deve-se, também, fomentar o sentimento de pertencimento ao lugar, desenvolvendo o respeito ao meio ambiente, e fazendo com que o aluno adquira hábitos saudáveis de alimentação e bem estar. Para isso, propõe-se a implantação de hortas nas escolas, e, oficinas de plantio e manejo das hortaliças regionais e/ou tradicionais nas casas dos estudantes, podendo ser desenvolvidas na forma de um projeto interativo, mediante acompanhamento com relatórios, entre professor, alunos e comunidade.

(2)

Introdução

O terceiro ciclo do Ensino Fundamental nas escolas brasileiras, compreendido entre o sexto e nono ano, desperta as individualidades das disciplinas numa visão de totalidade, tornando-se, assim, um desafio constante entre educadores e estudantes.

Na Educação, a chamada escola “problemática” enseja uma interação dos conteúdos das disciplinas à realidade social, onde o professor deve corporeificar suas palavras, respeitando o conhecimento empírico do estudante e o conduzindo ao domínio das ciências (FREIRE, 1996). Desse modo, o conjunto de disciplinas e informações contribui para que ele desenvolva um senso crítico sobre seu entorno e o auxilia na construção de visão de mundo.

Na Geografia, por exemplo, Santos (2006) define o espaço como um conjunto indissociável de sistemas de objetos e sistemas de ações ao longo do tempo, que, dependendo dos conceitos que o estudante desenvolver sobre cidadania, impactará mais ou menos nas transformações espaciais.

A segurança alimentar constitui o “direito de todos ao acesso à alimentação segura, de qualidade, em quantidade suficiente e de modo permanente, sem comprometer outras necessidades essenciais” (MEIRELLES; RUPP, 2006, p. 67). Já a soberania alimentar é um direito dos povos em manter na alimentação sua cultura, nutrientes e formas de produção ecológica.

Nesse sentido, faz-se necessário que o professor/educador das diferentes disciplinas desperte no estudante conceitos como o da agroecologia, que “incorpora ideias sobre um enfoque da agricultura mais ligado ao meio ambiente e mais sensível socialmente; centrada não só na produção como também na sustentabilidade ecológica do sistema de produção”. (RESTREPO; ÁNGEL; PRAGER, 2.000, p. 6, tradução nossa).

Este trabalho tem por objetivo abordar a segurança e soberania alimentar como um projeto de bem estar, associado à saúde física e emocional, e como estes são tratados na escola pública.

Metodologia

O estudo iniciou com diálogos sobre a ausência de cultivos domésticos nas zonas urbanas do Município de Rondonópolis, em Mato Grosso, Brasil, com o professor Dr. José Adolfo Iriam Sturza, em atividades no projeto de pesquisa “A dinâmica Socioambiental do Lugar e da Paisagem em Assentamentos Rurais da Microrregião de Rondonópolis/Mato Grosso”, junto a demais bolsistas de iniciação científica e mestrandos.

Posteriormente, foi feita uma pesquisa bibliográfica exploratória com base em diversas literaturas, com os autores FREIRE (1996) e BRASIL (1998) na educação, SANTOS (1996) sobre o espaço geográfico, MEIRELLES; RUPP (2006) sobre segurança e soberania alimentar, e, RESTREPO; ÁNGEL; PRAGER (2000) sobre agroecologia.

A contextualização sobre os princípios de direito ao acesso à alimentação foi sobre a ótica de NASCIMENTO; ANDRADE (2010) e a abordagem legislativa com BRASIL (2006; 2009).

Para entendimento sobre bem estar físico e emocional, utilizou-se São Paulo (2011) que apresenta o alimento orgânico como um contribuinte para uma alimentação segura e socialmente interativa.

(3)

Os temas abordados ensejam uma dialética ensino/aprendizagem, enfocando as diversidades sobre lugares e hábitos culturais, bem como a produção agrícola de base ecológica. Desse modo, considera-se necessária a dedicação do professor/educador numa envolvência transdisciplinar em experienciar, junto aos estudantes, a prática dos referenciais teóricos em questão.

Resultados

A revisão bibliográfica mostrou que, depois da Segunda Guerra Mundial, o Brasil teve a agricultura voltada à Revolução Verde. Esse sistema de produção na economia capitalista foi ganhando cada vez mais investimentos voltados à monocultura, provocando o êxodo rural e a produção voltada para a exportação. Com isso, a alimentação mais "in natura" diminuiu e o consumo de produtos industrializados passou a ter demanda crescente na nossa sociedade (MEIRELLES; RUPP, 2006).

Na nossa história de acesso ao alimento à população trabalhadora nas zonas urbanas, visto que nas zonas rurais há a possibilidade de plantio e criação, advém da instituição do salário mínimo no governo de Getúlio Vargas, em 1938, fruto de mobilizações sociais que possibilitaram a cesta básica com nutrientes essenciais às necessidades humanas; marco que possibilitou a evolução para as diretrizes da alimentação do século XXI (NASCIMENTO; ANDRADE, 2010).

Com modificações na economia, nos hábitos alimentares e no estilo de vida urbana, não foi fácil reconhecer que o alimento não estava disponível para todas as classes sociais, até Josué de Castro (1908-1973) editar a obra “Geografia da Fome”, em 1943 (BATISTA FILHO, 2008 apud ibid., 2010).

Desde então, começaram os questionamentos sobre a existência e disponibilidade de alimentos para todas as camadas da sociedade, principalmente a menos favorecida. Com a posse do ex-presidente eleito democraticamente Luiz Inácio Lula da Silva, em 2003, entra em vigor o Programa Fome Zero. Além de políticas assistencialistas, fez acordos para erradicação da fome.

O compromisso com a integração regional, com a cooperação sul–sul e com a renovação da agenda internacional implicaram na participação ativa do Brasil em diferentes iniciativas internacionais: América Latina sem Fome 2025, Diálogo Brasil - África sobre Segurança Alimentar e Desenvolvimento Rural, reforma do Comitê de Segurança Alimentar da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO), entre outros. (SILVA; GROSSI; FRANÇA, 2010).

Como medida para garantir a quantidade e qualidade de alimento, foi criado a Bolsa Alimentação e, em 2006, entra em vigor a Lei nº 11.346 que “Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências.” (BRASIL, 2006).

A segurança alimentar é um conceito que integra nos alimentos a ausência de fenômenos físicos, químicos e biológicos que possam, de alguma maneira, oferecer danos à saúde, e, também, deve conservar todas as propriedades nutritivas que o

(4)

nosso corpo precisa (MEIRELLES; RUPP, 2006). Para isso, é necessário que a produção de alimentos seja feita em harmonia com o meio ambiente, respeitando sua forma de produção, isento de produtos químicos e que possam alterar sua base genética. O alimento é uma energia vital à vida e está presente na nossa memória alimentar, despertando-se através dos nossos cinco sentidos. (Ibid., 2006).

Para a soberania alimentar, a proposta atual é a agrobiodiversidade, que respeita as sementes sem fazer melhoramentos, deixando sua identidade local e cultural, que, por si só, acaba se transformando em cultura, melhoria no meio ambiente e manejo de produção (Ibid., 2006).

Ter conhecimento sobre o assunto é a melhor maneira para sermos mais criteriosos com as nossas escolhas na alimentação. E é importante passar esse conhecimento, pois muitas espécies não convencionais caíram em desuso por não serem semeadas ou comercializadas. Cândido e Sturza (2016) reforçam ”a necessidade de se trabalhar o resgate dessas hortaliças para que se evite a extinção dessas espécies e que não se perca os saberes passados de geração a geração”. O professor/educador deve conhecer o saber e a cultura local, e estar sensível para aprender com os estudantes, pois estas riquezas podem ser perdidas, e devem, portanto, ser institucionalizadas.

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 1998), o Ensino Fundamental dá autonomia ao professor/educador para ter várias metodologias de ensino. Para isso, ele deve estar familiarizado com esse tema e, assim, dinamizar os conhecimentos sobre ética, meio ambiente e cidadania, levando o estudante à criticidade sobre o uso e ocupação do solo e seus métodos de produção.

Mas nada se constrói sem investimentos, principalmente na Educação. Em julho de 2009, foi criada a Lei nº 11.947 (BRASIL, 2009) que “dispõe sobre o atendimento da alimentação e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica”. Nas suas diretrizes, estão: a segurança alimentar e alimentação para todos os estudantes; educação alimentar e nutricional na aprendizagem; soberania alimentar e desenvolvimento sustentável; e a participação dos 3 níveis do governo, iniciativa privada e comunidade para articular o seu melhor desenvolvimento, aplicabilidade e fiscalização (Ibid., 2009).

Para essa implantação, foi criado o Plano Nacional de Alimentação Escolar (PNAE) para atender às necessidades nutricionais e culturais, um Fundo Nacional de Desenvolvimento na Educação (FNDE) com recursos da União, e um Conselho de Alimentação Escolar (CAE), para a interação, assessoramento e fiscalização com entes federados, de escolas públicas e da comunidade (Ibid., 2009).

Entretanto, é importante salientar a importância dos recursos à formação continuada prevista na Lei nº 11.273 (2006) para os profissionais do setor da Educação, que trabalham nas escolas e, das oportunidades, também, dos estudantes para vivenciarem um projeto enquanto bolsistas.

Através da segurança e soberania alimentar, é possível adotar um estilo de vida com base no bem estar físico e emocional. Para São Paulo (2011):

É fundamental que o homem reconheça suas verdadeiras demandas essenciais, aquelas que o levaram a genuína realização, saúde, bem-estar e felicidade. Através do olhar ecológico percebemos que a felicidade e o bem-estar são fenômenos coletivos que ninguém pode conquistar isoladamente. Desta forma podemos compreender que o

(5)

alimento orgânico não é apenas mais um produto na gôndola do supermercado, mas sim uma atitude de vida diante de nós mesmos e de tudo aquilo que nos cerca. (SÃO PAULO, 2011, p. 3).

Portanto, tratar de segurança alimentar no âmbito da escola e educação é um tema imprescindível para a pesquisa, extensão e discussões atuais, que ensejarão uma melhor alimentação, qualidade de vida e melhores padrões ecológicos de produção.

Considerações finais

Desse modo, considera-se necessária a dedicação do professor/educador numa envolvência transdisciplinar em experienciar, junto aos estudantes, a prática dos referenciais teóricos em questão.

Deve-se, também, fomentar o sentimento de pertencimento ao lugar, desenvolvendo o respeito ao meio ambiente, e fazendo com que o aluno adquira hábitos saudáveis de alimentação e bem estar.

Para isso, propõe-se a implantação de hortas nas escolas, e, oficinas de plantio e manejo das hortaliças regionais e/ou tradicionais nas casas dos estudantes, podendo ser desenvolvidas na forma de um projeto interativo, mediante acompanhamento com relatórios, entre professor, alunos e comunidade.

Referências Bibliográficas

BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Agrário. SILVA, José Graziano; GROSSI, Mauro Eduardo Del; FRANÇA, Caio Galvão (Org.). Fome Zero: A Experiência Brasileira. Brasília: MDA, 2010.

BRASIL. MEC/Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais: Geografia. Brasília: MEC/SEF, 1998.

BRASIL. Lei Nº 11.346, de 15 de setembro de 2006. Cria o Sistema Nacional de Segurança Alimentar e Nutricional – SISAN com vistas em assegurar o direito humano à alimentação adequada e dá outras providências. Acesso: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2004-2006/2006/lei/l11346.htm > Acesso: 10 novembro de 2016.

BRASIL. Lei nº 11.947, de 16 de junho de 2009. Dispõe sobre o atendimento da alimentação escolar e do Programa Dinheiro Direto na Escola aos alunos da educação básica. Acesso:

<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2009/lei/l11947.htm > Acesso: 10 novembro de 2016.

CÂNDIDO, Hebert Teixeira; STURZA, José Adolfo Iriam. Etnoconhecimento e a Utilização das Hortaliças Não-Convencionais: Cenário Atual na Região de Rondonópolis-MT. Biodiversidade, UFMT, V. 15, N. 2, 2016, pp. 191-205.

FREIRE, Paulo. Pedagogia da autonomia: saberes necessários à prática educativa. São Paulo: Paz e Terra, 1996. (Coleção Leitura).

(6)

MEIRELLES, Laércio Ramos; RUPP, Luis Carlos Diel. Biodiversidade: Passado, Presente e Futuro da Humanidade. Ministério do Desenvolvimento Agrário. Brasília, 2006.

NASCIMENTO, Amália Leonel; ANDRADE, Sônia Lúcia L. Sousa. Segurança alimentar e nutricional: pressupostos para uma nova cidadania. Ciência e Cultura, vol. 62, N. 4. São Paulo, 2010.

RESTREPO, José; ÁNGEL, S.; Diego Ivan. & PRAGER, Martin. Agroecología: Actualización Profesional en Manejo de Recursos Naturales, Agricultura Sostenible y Pobreza Rural. Impreso en La República Dominicana. Santo Domingo, República Dominicana, 2000. Disponível em < https://www.socla.co/wp-content/uploads/2014/Libro-Agroecologia-Cedaf-2000.pdf>. Acesso: 10 novembro de 2016.

SANTOS, Milton. A natureza do espaço: técnica e tempo, razão e emoção. 4 ed. 2 reip. São Paulo: Editora da Universidade de São Paulo, 2006. (Coleção Milton Santos I). SÃO PAULO. CÂMARA MUNICIPAL DE SÃO PAULO. Agricultura, Alimentos Orgânicos e Saúde Humana. São Paulo, 2011.

Referências

Documentos relacionados

A Sociedade garantirá quaisquer defeitos de fabrico das suas mercadorias; para pneus de marcas Premium, o prazo de garantia será de 5 anos a contar da data de entrega; para marcas

nesta nossa modesta obra O sonho e os sonhos analisa- mos o sono e sua importância para o corpo e sobretudo para a alma que, nas horas de repouso da matéria, liberta-se parcialmente

3.3 o Município tem caminhão da coleta seletiva, sendo orientado a providenciar a contratação direta da associação para o recolhimento dos resíduos recicláveis,

Desta forma, conforme Winnicott (2000), o bebê é sensível a estas projeções inicias através da linguagem não verbal expressa nas condutas de suas mães: a forma de a

Neste estudo foram estipulados os seguintes objec- tivos: (a) identifi car as dimensões do desenvolvimento vocacional (convicção vocacional, cooperação vocacio- nal,

Os principais objectivos definidos foram a observação e realização dos procedimentos nas diferentes vertentes de atividade do cirurgião, aplicação correta da terminologia cirúrgica,

Fiscalizar, por intermédio do servidor designado, a execução do objeto da contratação; 3.9 - Solicitar, por intermédio de Autorização de Fornecimento expedida pelo

Na escola visitada, ocorre um consumo considerável de quase toda a merenda, isso desperta o interesse da comunidade para o tema, tendo em vista a grande preocupação