INTRODUÇÃO
A presente monografia tem por objetivo expor a
problemática do assédio moral como uma violação
da dignidade da pessoa humana, conduta essa que
fere um princípio fundamental resguardado no
artigo 1°, inciso III da Constituição Federal. Para
isso se faz necessário abordar o conceito de
trabalho, como dignifica e aumenta a autoestima do
homem e traz satisfação pessoal poder suprir seu
sustento e de sua família. A prática do assédio
moral vai ao oposto, deixando a vítima desse crime
depressiva, angustiada, com transtornos
psicossomáticos, podendo levar, em casos mais
extremos até ao suicídio.
Por se tratar de uma discussão ressente,
existem poucas doutrinas tratando do assunto,
inclusive para aplicação da pena nestes casos, uma
vez que em nossa legislação trabalhista,
consolidada em 1943, não possui tópico tratando do
assédio moral, da mesma forma no ordenamento
penal ainda não se qualificou a prática do
respectivo crime. Inclusive no que diz respeito à
produção de provas, o ônus é incumbido a vítima, o
que dificulta muito a manutenção da justiça, uma
vez que na maioria das vezes o crime é praticado
de forma velada, se encontra presente apenas a
A lesão da dignidade pessoal vem com a forma de humilhação, a situação degradante que a vítima é exposta, as críticas reiteradas ao desempenho laboral assim como a ruptura do princípio da igualdade.
Necessário ressaltar que como elemento objetivo do assédio moral é a habitualidade ou reiteração e como elemento subjetivo traz o propósito de subjugar a
vontade da vítima. Não precisa acontecer no ambiente de trabalho, basta que seja sobre o trabalho, é um critério de proporcionalidade.
O assédio moral ou mobbing pode ocorrer de vários modos, de maneira direta ou indireta, por ação ou omissão, atitudes de desprezo, hostilidade, zombaria. Este tipo de tratamento prejudica a vítima não
somente no ambiente de trabalho, mas também em todos os aspectos da sua vida, afetando sua
autoestima, sua vida pessoal, casamento e até mesmo sua saúde. Ocorre que na maioria das vezes o
assediado não tem conhecimento da ilegalidade do ato que vem sofrendo, justamente por se tratar de um
crime que não tem tipificação do nosso ordenamento, é pouco divulgado e não é exposto aos funcionários
Muitas vezes a vítima não se dá conta da agressão que vem sofrendo, achando normais as atitudes
tomadas contra ela, se acha culpada e que merece o tratamento que vem sofrendo.
Com a promulgação de uma lei penal específica para o assédio moral, aumentaria a discussão sobre o assunto e consequentemente chegaria até a população a gravidade e as formas de agir deste crime. Entraria com um caráter preventivo geral, uma vez que o agressor em potencial, sabendo que seus atos não ficariam somente na esfera trabalhista, mas
responderia criminalmente, certamente inibiria sua ação. Outro aspecto que deve receber uma atenção maior é a recuperação da vítima do trauma sofrido, uma vez que ela não recebe o devido tratamento. É preciso uma atenção maior, com tratamento em especialistas e acompanhamento de rotina para acompanhar as fases da recuperação.
Tem como objetivo abordar o que é e quais as principais causas que levam a prática do assédio moral, assim como apontar as sequelas que permanecem nas vítimas no âmbito profissional, pessoal, inclusive comprometendo a saúde física e mental. Abordar também as sanções sofridas na atual legislação e a importância de se criarem leis no âmbito penal, com o intuito de proteger um princípio
Devido à relevância do tema, se torna
imprescindível que seja efetuado trabalho de pesquisa sobre ele. É um tema atual e vem se tornando cada vez mais estudado e divulgado. Expõe como o assédio
moral fere o Princípio Constitucional da dignidade humana, sendo o trabalho dignificante para o homem. A falta de legislação sobre o tema gera insegurança jurídica, uma vez que fica na responsabilidade dos juízes definirem cada caso em concreto.
Desenvolveremos o trabalho mediante pesquisa documental e bibliográfica no ramo do Direito do
Trabalho, Direito Constitucional e Direito Penal, sendo nossa principal fonte de consulta a Legislação como fonte primária e os livros e a internet como fonte secundária. Utiliza-se um método descritivo e
explicativo, analisando e interpretando as informações coletadas, buscando soluções para os problemas
apontados. Para o processo de elaboração do presente trabalho foi utilizado várias bibliografias de estudiosos no assunto, entre eles o autor Sergio Pinto Martins, com sua obra sobre o
Direito Trabalhista, os autores Paulo Peli e Paulo
Teixeira com a obra sobre a temática do assédio moral, a autora Gisele Mendes de Carvalho com sua obra de proposta de criminalização do assédio moral, como parte documental foram analisados a Legislação vigente, assim como as Cartas Encíclicas.
Para tanto desenvolveremos o trabalho em quatro capítulos. No primeiro analisaremos a valorização do trabalho na história mundial e no Brasil à luz das constituições. No segundo capítulo buscaremos a conceituação e caracterização do tema posto, assim como as consequências trazidas às vítimas. No terceiro capítulo analisaremos quais as formas de
ressarcimento trazidas pela legislação, as provas e sanções. O quarto capítulo abordaremos a importância da dignidade humana e o modo como este direito
fundamental é violado, assim como a proposta de sanções mais severas para coagir a ação dos agressores.
CAPÍTULO 01
Para entender a complexidade, importância e
dignidade proveniente do trabalho na vida do homem, no que abrange seu sustendo, sua saúde física e
mental, precisamos entender primeiramente o longo trajeto percorrido durante a história até chegarmos à concepção atual do trabalho e sua importância para a sociedade.
Sendo assim, iniciaremos com o conceito de enfoque biológico traçado por Renato Pereira de Carvalho (2009, p.17) onde, “pode ser caracterizado como um fenômeno comum ao homem e aos seres vivos, com raízes no instinto de conservação, que os impele à procura no meio ambiente de elementos essenciais à sua existência”.
Trata ainda a respeito do assunto do ponto de vista psicológico, afirmando que “o trabalho decorre
daquelas mesmas necessidades aguçadas, todavia por impulsos, desejos, que se transformam em atos,
voluntários ou involuntários, e se dirigem ao fim de assegurar a própria sobrevivência do individuo e o atendimento das aspirações naturais de todo ser humano”. (CARVALHO, 2009, p.17).
Abrange também o aspecto vital e psíquico do ponto de vista sociológico, “pois ele congrega pessoas e grupos num esforço comum de sobrevivência, que exige a articulação e o disciplinamento dos vários
misteres, das varias ocupações, através de costumes e normas técnicas, religiosas, morais, jurídicas, etc”. (CARVALHO, 2009, p.17).
“Ao examinarmos o Direito do Trabalho, há necessidade de lembrar de sua gênese e de seu
desenvolvimento no decorrer do tempo, como também dos novos conceitos e instituições que foram surgindo ao passar dos anos.” (MARTINS, 2008, p.3).
Sobre o ponto de vista do doutrinador Martins, não é impossível ter o conhecimento exato de um instituto jurídico sem a análise e seu exame histórico,
verificando suas origens, sua evolução histórica, os aspectos políticos ou econômicos que o influenciaram. Isso ocorre porque o tempo passa e as coisas não são exatamente como eram, mas precisam ser estudadas para se compreender o futuro.
Afirma ainda que o Direito do Trabalho é um ramo muito dinâmico, mudando as condições de trabalho com muita frequência, pois esta intimamente ligado as questões econômicas. Não podemos deixar de citar a Organização Internacional do Trabalho, que é um
organismo internacional legitimado e competente para estabelecer Normas Internacionais do Trabalho (OIT) como reconhecimento na promoção dos direitos fundamentais no trabalho.
Os princípios e direitos promovidos pela OIT guardam pertinência com as
Cartas Encíclicas “Rerum Novarum”, do Papa Leão XIII, dada em 15 de maio de 1891, sobre as condições dos operários; “Pacem in Terris”, do Papa João XXIII, dada em Roma, em
11.4.1963, que pretendia a paz de todos os povos na base da verdade, justiça, caridade e liberdade, e a Encíclica “Laborem Exercens”, do Papa João Paulo II, dada em 14.9.1981, sobre as condições do trabalho humano há 90 anos da Encíclica “Rerum Novarum”
As Cartas Encíclicas denotam a preocupação da Igreja na sua dedicação à doutrina social, onde
segundo Barreto (2007, p.18), já em sua introdução faz alusão à sede de inovações, fruto do crescente
processo de industrialização, que provocava agitação na relação do capital com o trabalho, “conclamando aos legisladores e governantes que tivessem visão para a economia social”.
O autor segue descrevendo as condições da época, a dificuldade existente de se conciliar os interesses referentes ao capital e ao trabalho, na atribuição de direitos e deveres às partes envolvidas nas relações de trabalho, inclusive a exploração da mão de obra, os tratamentos desumanos, a avidez pelo lucro e o
desequilíbrio na distribuição da riqueza proveniente do trabalho. Nos dias de hoje, a Organização
Internacional do Trabalho como agência do Sistema das Nações Unidas, competente para o
estabelecimento de Normas Internacionais do Trabalho, procura disseminar a necessidade de se manter o
e social e também assegurar aos trabalhadores o
exercício da liberdade à reivindicação de oportunidade de participar de uma justa distribuição das riquezas que ajudam a construir com seus esforços.
Evolução Mundial
Conforme pesquisa realizada por Martins (2008, p.4), o significado da palavra Trabalho vem do latim tripalium, que seria uma espécie de instrumento de tortura ou uma canga que pesava sobre os animais. Ele cita como primeira forma de trabalho a escravidão, onde o escravo era considerado coisa, não sendo
considerado sujeito de direito, pois era propriedade do dominus.
O trabalho escravo continuava no tempo, de modo indefinido, mais precisamente enquanto o escravo vivesse ou deixasse de ter esta condição. Esses trabalhadores tinham apenas o direito de trabalhar.
Na sequência, é abordada a Grécia onde Platão e Sócrates, segundo dados da pesquisa de Martins, entendiam que o trabalho teria um sentido pejorativo, envolvendo apenas força física. Acreditavam que a dignidade do homem estava apenas em participar dos negócios da cidade por meio da palavra e da política. Os escravos faziam o trabalho duro, enquanto os outros poderiam ser livres. O trabalho não tinha significado de realização pessoal.
Em Roma, o trabalho era visto como desonroso e executado por escravos. A Lex Aquilia (284 a. C.) considerava o escravo como coisa.
De forma controversa Hesíodo, Pitágoras e os
sofistas mostram o valor social e religioso do trabalho, que agradaria aos deuses, criando riquezas e tornando os homens independentes. Em conformidade com a cronologia da história temos a época do feudalismo, onde é encontrada a servidão. Os senhores feudais ofereciam proteção militar e política aos servos, que não eram livres, ao contrário,
prestavam serviços na terra e entregavam parte da produção rural como pagamento desta proteção. Dando seguimento a sequência cronológica, encontramos as corporações de ofício, onde fazem parte três personagens: os mestres, os companheiros e os aprendizes. ”Os mestres eram proprietários da
oficina, que já tinham passado pela prova da obra-mestra. Os companheiros eram trabalhadores que
percebiam salários dos mestres. Os aprendizes eram os menores que recebiam dos mestres o ensino metódico do ofício ou profissão.” (MARTINS, 2008, p.4).
Nesta fase havia um pouco mais de liberdade ao trabalhador, mas o que vigorava eram os interesses das corporações, não conferiam proteção aos
trabalhadores. A divisão das características das corporações de ofício: (a) estabelecer uma estrutura hierárquica; (b) regular a capacidade produtiva; (c) regulamentar a técnica de produção.
Os aprendizes começavam a trabalhar a partir de 12 ou 14 anos e em alguns países se observava prestação de serviços com idade inferior. Ficavam sob a
responsabilidade do mestre que, poderia inclusive impor castigos corporais.
A jornada de trabalho era muito longa, chegando há 18 horas no verão. Porém, na maioria das vezes
terminava com o pôr do sol, não visando a proteção dos aprendizes, mas por questão de qualidade de trabalho.
Com o invento do lampião a gás em 1792, várias indústrias passaram a trabalhar no período noturno. Em 1789 com a Revolução Francesa, as corporações de ofício foram consideradas incompatíveis com o ideal de liberdade do homem. Outra causa para extinção desta forma de trabalho foi a liberdade do comércio e o encarecimento dos produtos das corporações.
A expressão questão social não havia sido formulada antes do século XIX, quando os efeitos do capitalismo e as condições da infraestrutura social se fizeram sentir com muita intensidade, acentuando- se um amplo empobrecimento dos trabalhadores, inclusive dos artesãos, pela insuficiência competitiva em relação à indústria que florescia.
(MARTINS, 2007, p.9).
Seguindo dados da pesquisa de Martins, em 1791, houve na França o início da liberdade contratual. O liberalismo do século XVIII pregava um Estado alheio à área econômica, quando muito, seria árbitro nas
disputas sociais.
“A revolução Industrial acabou transformando o trabalho em emprego. Os trabalhadores, de maneira geral, passaram a trabalhar por salários. Com a
mudança, houve uma nova cultura a ser apreendida e uma antiga a ser desconsiderada.” (MARTINS, 2008, p.5).
Nesta época os trabalhadores começam a reunir-se, a associar-se, para reivindicar melhores condições de trabalho e de salários, diminuição das jornadas de trabalho excessivas e contra a exploração de menores e mulheres, nasce assim uma causa jurídica. O Estado por sua vez deixa de ser abstencionista e passa a se tornar intervencionista, interferindo nas relações de trabalho.
A primeira Constituição que tratou do tema foi a do México, em 1917, onde estabelecia jornada de oito horas, proibição de menores de 12 anos, jornada máxima noturna de sete horas, descanso semanal, proteção à maternidade, salário mínimo, direito de sindicalização e de greve, indenização de dispensa, seguro social e proteção contra acidentes de trabalho. A segunda Constituição a tratar do assunto foi a de Weimar, em 1919.
Disciplinava a participação dos trabalhadores nas empresas, autorizando a liberdade de coalizão. Tratou também da representação dos trabalhadores na
A partir destas iniciativas, as Constituições de
outros países passaram a tratar do Direito do Trabalho. Surge em 1919 o Tratado de Versalhes, onde foi criado a Organização Internacional do Trabalho (OIT), com o objetivo de proteger as relações entre empregados e empregadores no âmbito internacional.
Na Itália, aparece a Carta del Lavoro, de 1927, instituindo um sistema corporativista-fascista, que inspirou outros sistemas políticos, como os de Portugal, Espanha e, especialmente, do Brasil. O corporativismo visava organizar a economia em torno do Estado, promovendo o interesse nacional, além de impor regras a todas as pessoas. Surge o corporativismo na metade do século XIX com o fim de organizar os interesses divergentes da Revolução
O corporativismo detinha como diretrizes básicas o nacionalismo, a necessidade de organização,
nacionalismo, pacificação social e harmonia entre o capital e o trabalho.
Temos ainda a doutrina do neoliberalismo, onde defende a contratação e os salários dos trabalhadores serem regulados pela lei da oferta e da procura, o Estado deixa de intervir nas relações trabalhistas, entretanto o trabalhador não é igual ao empregador e, portanto, necessita de proteção.
Há também uma teoria que classifica a divisão dos direitos em gerações. Os direitos de primeira geração são aqueles que pretendem valorizar o homem,
assegurar liberdades abstratas, que formariam a
sociedade civil. Os direitos da segunda geração são os direitos econômicos, sociais e culturais, bem como os direitos coletivos e das coletividades. Os direitos de terceira geração são os que pretendem proteger, além do interesse do individuo, os relativos ao meio
ambiente, ao patrimônio comum da humanidade, à comunicação, à paz.