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seis anos depois 2016 Giselda Fernandes Seis Anos Depois André Bern e Giselda Fernandes

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seis anos depois

2016

Giselda Fernandes é bailarina e coreógrafa de Os Dois Companhia de Dança. Desde 2001, desenvolve o conceito de objeto-partner para denominar o uso de objetos cotidianos como parceiros em suas criações coreográficas. Sua companhia possui um repertório de mais de dez trabalhos, reconhecidos através de prêmios e editais públicos (como o Prêmio FUNARTE Artes na Rua 2009 e o Prêmio FUNARTE Klauss Vianna 2006), com apresentações em espaços culturais e eventos de destaque, tais como o Centro Municipal de Arte Hélio Oiticica, o Espaço SESC, o Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro, o Festival Panorama e o Festival Dança em Trânsito. Além disso, Giselda é diretora artística do braço carioca do evento internacional Global Water Dances, focado nas relações entre dança e meio-ambiente.

André Bern e Giselda Fernandes,

após a gravação da conversa, que aconteceu na Midiateca do Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro.

Seis Anos Depois é uma série de conversas conduzidas por André Bern com artistas

que foram entrevistados por ele durante o ano de 2010: Esther Weitzman, Paulo

Marques, Morena Paiva, Lígia Tourinho e Giselda Fernandes. A última a voltar a conversar

com André foi Giselda, que também ministrou uma oficina gratuita

no Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro como parte do reencontro.

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André: Existe uma predominância do solo em suas criações... especialmente aquelas das quais você participa como bailarina.

Giselda: A predominância do solo já é anterior à criadora. Como eu disse na outra entrevista, não me passava pela cabeça ser uma coreógrafa. O que me movia era ser bailarina, e como bailarina eu precisava de uma produtora, de grupo, equipe... então, fiquei um bom tempo assim. Em 2010, eu era uma jovem criadora, porque comecei o processo de pesquisa como coreógrafa em 2000. Dez anos é pouco tempo pra uma artista criadora. Eu estava engatinhando na pesquisa que é o objeto-partner, e estava em grupo, com um grupo grande. Tinha acabado de fazer Jogo

de Objetos no [Centro Municipal de Arte] Hélio

Oiticica... juntei todos os objetos até então, mais 10 bailarinos, e estava apenas como diretora. O meu primeiro trabalho como criadora, Castelo D’Água, era solo. O segundo precisava de bailarinos, outros corpos, pensamentos, outras maneiras de agir, de mover. Saí do Jogo de Objetos com umas 67 vassouras, 200 garrafas PET, garrafões, duzentos e tantos bancos, uma instalação... É muito trabalho, você vira diretora, produtora, administradora e... criadora! As relações profissionais são muito complicadas e têm pouca estrutura. Amo dançar, criar, então, acho que as coisas vão acontecendo conforme a necessidade do objeto que estou pesquisando, o momento em que se vive, as condições que se apresentam. Agora estou dançando Sobre Cisnes, que é um espetáculo solo, mas já tem projeto pra desdobramento em instalação... e aí não me vejo nele como bailarina, mas sim como diretora. Em Sobre Cisnes, estou voltando a lugares e questões da minha própria pesquisa: esse conceito de objeto-partner que comecei a cunhar lá atrás, em 2000; a relação com a estabilidade e o volume denso da caixa d’água plástica em Castelo D’Água; e agora com a leveza do plástico de Sobre Cisnes.

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André: Sobre Cisnes possui uma chave de

entendimento de sua trajetória...

Giselda: Acho que sim. Nos anos 1990, tenho vários trabalhos solo, mais de 10. Oito são criações do Paulo Marques pra mim, mas tem do Aírton Tenório e do Roberto Anderson também. Acabei seguindo pelo caminho da criação e tive esse encontro tão forte com o objeto, como companheiro, por conta de uma releitura que pensei fazer de um solo que a [artista alemã] Susanne Linke dançava numa banheira. A releitura acabou virando o Castelo

D’Água, outro solo.

André: Parece mais um diálogo do que exatamente uma releitura - que se repete em Sobre Cisnes, dessa vez com o trabalho de Anna Pavlova e Michel Fokine.

Como aconteceu a opção pela Morte do

Cisne?

Giselda: A coisa foi se impondo... eu até tinha uma ideia anterior, em colaboração com o Paulo Marques, mas ficou mesmo o interesse pelo objeto, a relação corpo-objeto que eu queria propor como um dramaturgo ali, naquele diálogo. Tudo se impôs, como a própria ponta, que eu relutei pra usar. Não é uma releitura, é quase como uma remontagem. Eu sou um minuto da versão original, do meu jeito, né. Por muito tempo, achei que não era uma coreógrafa, uma diretora... estava insistindo só porque eu queria dançar. Eu precisava dançar.

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André: Você me disse isso na outra entrevista...

Giselda: Agora já descobri que sou desse jeitinho. Preciso de um longo tempo pra que as coisas se construam. Ao mesmo tempo que sou uma pessoa muito dinâmica, como artista sei que tenho um outro tempo. Quando estou em grupo, sou permissiva, dou muito espaço porque acho que isso é criar em conjunto... mas, às vezes, não dá porque vira obra do outro, o que o bailarino precisa fazer. Não dá pra ser generosa o tempo todo. Quando estou sozinha, sou mais fiel às minhas ideias.

André: Você que lida tanto com essa palavra “partner”, como tem encarado os

“Quando estou sozinha, sou mais fiel às minhas ideias.”

diferentes públicos do Rio de Janeiro para os quais apresentou Sobre Cisnes neste ano?

Giselda: O trabalho é muito novo... acho que tudo o que eu tenho é apenas impressão. André: É justo que seja assim.

Giselda: Sim. Sobre Cisnes tem sido muito bem recebido. Sei que gosto de público, de comunicar e trocar, e tem alguma coisa que estabeleço ali com as pessoas. O que me surpreende é que é um público variado, muitos estudantes. Muitos professores da UFRJ [Universidade Federal do Rio de Janeiro] e da UCAM [Universidade Candido

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Mendes] levaram alunos... muito bacana! Como eu percebi que o trabalho tem várias camadas, chamei pessoas pra conversar com a plateia depois das apresentações porque achei que isso podia gerar reverberações positivas. Às vezes, a gente acaba de apresentar um espetáculo e dá uma vontade de conversar, saber mais como afetou o outro. Enfim, temos vários cisnes pra povoar o imaginário das pessoas, e eu continuo a mexer nessa questão que tanto me inquieta, que é o lixo, o plástico, o meio-ambiente.

André: Gostaria de retomar um comentário que você fez durante a oficina que ministrou como parte do nosso reencontro: “Esse cisne é outra coisa, ele é mais do ar”. Conte mais sobre esse cisne.

Giselda: Pois, é, foi quando fiquei me convencendo dessa nova relação, eu e o saco plástico. Eu sou assim, namoro os objetos antes de me encontrar com eles. Na verdade, eu comecei colecionando saquinhos em casa, com uma culpa danada de jogar fora no lixo. Na época, estava se discutindo muito sobre abolir as sacolinhas de plástico. Eu tinha gravado [o videodança] PET na Rede no mar e era um mundo de lixo! O saco plástico estava lá: eu olhava pra ele e ele olhava pra mim. Uma relação estava se estabelecendo. Agora até lembrei do Marcel Duchamp, que é um artista que eu sempre gosto de revisitar. Ele fala do

objet trouvé, do objeto encontrado. Então, não

sei se o objeto me encontra, ou se sou eu que encontro o objeto. Em 2009, é que eu assumi e comprei vários no centro da cidade, juntei com os que eu tinha em casa. Pensava que ia sair da água do PET na Rede e ia pro ar, como o saquinho do [filme] Beleza Americana. Achava que ia me provocar mais movimento, entende... mas a gente é o que é, faz o que a gente precisa fazer. Não dá pra impor nada ao objeto. Foi aquela relação corpo-objeto que gerou uma dramaturgia, que me levou àquele cisne. Desde 2010, já tenho até outros objetos que me acompanham, que foram chegando.

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André: Uma lista de espera?

Giselda: [risos] Talvez, mas não é de espera. Brinco com eles um pouco, mas sem esse impulso pra montar algo novo. Estou muito feliz de poder dançar. Não sou mais nenhuma menininha, e participo de dois espetáculos. Fico emocionada de estar no Jogo de Damas, da Esther [Weitzman], uma grande parceira. Quero é poder aproveitar porque isso é uma dádiva! Minha medalha no final do ano vai ser fazer os dois sempre. Trabalhei com muito cuidado pra estrear num momento que não tivesse apresentações do Jogo de Damas. Pra mim, foi um desafio emocionante quando dancei Jogo de Damas num sábado à noite, e Sobre Cisnes, no dia seguinte, às 14h. É o meu ofício, sou uma bailarina profissional. Tenho que dar conta do que eu proponho. Quero estar inteira nisso. A gente está num momento muito difícil, duro pra todo mundo. Estar nesses trabalhos é o que me faz sobreviver, me traz saúde... uma senhora a caminho dos 55 anos, subindo nas pontas, fazendo o que ela acha que tem que ser feito, comunicando, mexendo com esse lugar do balé. Compartilhar esse frescor com as pessoas numa oficina, nas aulas, no palco, é meu papel político.

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Transcrição dos materiais: Fernanda Campos Imagens: Julius Mack Agradecimentos: Bárbara Azevedo Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro Paula Mori

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