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Pronúncia. 1 Salvo referência em contrário, os artigos legais a indicar no texto pertencem ao Código do Registo Civil.

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Academic year: 2021

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P.º n.º C.P. 91/2010 SJC-CT Procedimento simplificado de sucessão hereditária. Habilitação de herdeiros com registos. Declarante da vontade de registar.

PARECER

1. A propósito de um concreto procedimento simplificado de habilitação de herdeiros, é colocado o problema da legitimidade para requerer actos de registos no âmbito deste procedimento, perguntando-se da possibilidade de o pedido de registo de bens imóveis em procedimento simplificado de habilitação de herdeiros realizada com intervenção de três declarantes poder ser apresentado pelo cônjuge meeiro e ou descendentes directos do cabeça-de-casal.

1.1. Dos termos da consulta resulta que o problema é suscitado na sequência de um pedido de procedimento de habilitação de herdeiros com registos que, em face da verificação de uma incapacidade de facto da cabeça-de-casal e única herdeira do autor da sucessão, deu lugar ao indeferimento da habilitação de herdeiros através de declaração do cabeça-de-casal.

1.2. A habilitação de herdeiros acabou por ser feita a pedido verbal de uma filha da cabeça-de-casal e com a intervenção de três declarantes, sobrando o problema de saber se, no caso, a realização do registo dos imóveis que integram a herança podia ocorrer no procedimento mediante requerimento do cônjuge meeiro ou dos descendentes directos da cabeça-de-casal e única herdeira, atenta a sua qualidade de interessados.

2. A perspectiva alinhada pela consulente aponta no sentido de o procedimento de habilitação de herdeiros com registos só poder ser requerido pelo cabeça-de-casal e de o procedimento de habilitação de herdeiros sem registos poder ser realizado a pedido do cabeça-de-casal (que não queira registar) ou mediante a intervenção das três pessoas dignas de crédito a que se refere o artigo 210.º-O do CRC, às quais falta legitimidade para pedir o registo.

3. A consulta é submetida a apreciação deste Conselho Técnico com vista à uniformização de procedimentos e tendo em conta a alteração feita ao artigo 210.º-G/3 do CRC pelo Decreto-Lei n.º 247-B/2008, de 30 de Dezembro, o disposto no ponto I.4 do Manual de Procedimentos, aprovado pelo despacho n.º 61/2010, e a informação proferida no processo CN 2/2010 SJC.

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Pronúncia

1. Como se sabe, os artigos 210.º-A a 210.º-R do Código do Registo Civil1, dedicados aos procedimentos simplificados de sucessão hereditária, foram aditados pelo Decreto-Lei n.º 324/2007, de 28 de Setembro, com um intuito, declarado no preâmbulo do diploma, de reduzir obstáculos burocráticos e de evitar deslocações desnecessárias, oferecendo-se a possibilidade de os actos e formalidades relacionados com a sucessão hereditária poderem ser efectuados num único balcão de atendimento, nas conservatórias do registo civil.

1.1. Foi, assim, colocado ao dispor dos cidadãos, entre outros, o “Procedimento de habilitação de herdeiros e registos”, o qual, apesar da designação que recebeu e do fim visado (promoção dos actos de titulação, registo e garantia do cumprimento de obrigações fiscais respeitantes à sucessão hereditária), consentia que se prescindisse da realização do registo de imóveis, móveis ou participações sociais a ele sujeito que fizessem parte da herança, dizendo-se, no artigo 210.º-G/3, que o registo só seria efectuado a pedido do cabeça-de-casal, valia dizer, a solicitação da pessoa com legitimidade para promover o procedimento (artigo 210.º-B).

1.2. Punha-se, desta forma, a claro que o procedimento podia consistir apenas na titulação da habilitação de herdeiros, com garantia do cumprimento das obrigações fiscais (artigo 26.º do CIS), declinando-se a obrigatoriedade do registo (cfr. artigo 210.º-F/f)) como condição para a realização do procedimento e estipulando-se a mesma alternativa contida no artigo 83.º do CN, que se analisa na possibilidade de a habilitação de herdeiros ser feita ou por declaração do cabeça-de-casal ou mediante declaração de três pessoas que o titulador considere dignas de crédito.

1.3. Consignava-se, pois, no texto legal, que a legitimidade para a promoção do procedimento pertencia ao cabeça-de-casal, seu representante legal ou mandatário (artigo 210.º-B); que o requerente podia optar pelo «procedimento de habilitação de herdeiros e registos» sem registos (artigo 210.º-G/3); e que a habilitação de herdeiros a realizar podia ter por objecto a declaração do cabeça-de-casal ou a de três pessoas idóneas (artigo 210.º-O).

2. Com a alteração legislativa levada a cabo pelo Decreto-Lei n.º 247.º-B/2008, de 30 de Dezembro, introduziu-se logo no catálogo dos procedimentos simplificados de sucessão hereditária fixado no artigo 210.º-A a indicação de o procedimento de habilitação poder

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ser com ou sem registos, aperfeiçoando-se, assim, o tipo em causa, de modo a comportar duas categorias distintas, e permitindo-se retirar da categoria escolhida as formalidades prévias a comprovar (artigo 210.º-E/3) e a medida dos actos a realizar (artigo 210.º-F, ex vi do artigo 210.º-G/2).

2.1. Tornou-se, por conseguinte, supérflua a previsão ínsita no artigo 210.º-G/3, já que a vontade de registar deixou de depender de uma manifestação expressa e autónoma para passar a extrair-se do procedimento concretamente escolhido, e terá sido essa a razão por que se removeu do conteúdo da norma, aproveitando-se o articulado respectivo para alargar este tipo de procedimento aos casos em que a participação a que se refere o artigo 26.º do CIS já tenha sido apresentada.

2.2. Não cremos, por isso, que da sobredita alteração legal ressume o entendimento de que o registo pode agora fazer-se a pedido de outro interessado, que intervenha no processo pessoalmente ou através de procurador, nem vemos na alternativa contida no artigo 210.º-O qualquer incongruência em face da regra de legitimidade prevista no artigo 210.º-B.

2.2.1. Dizer que só o cabeça-de-casal tem legitimidade para promover os procedimentos simplificados de sucessão hereditária (artigo 210.º-B) não significa que ao requerente caiba o exclusivo da participação nos actos a realizar naquele procedimento; é bom de ver que o acto de partilha a realizar nos termos dos artigo 210.º-F não prescinde da intervenção de todos os herdeiros, podendo mesmo acontecer que o cabeça-de-casal dele fique excluído, designadamente por não lhe pertencer a qualidade de herdeiro (cfr. artigos 2080.º, 2083.º e 2084.º do CC).

2.2.2. E, também, quando se trate de realizar apenas a habilitação de herdeiros, com ou sem registos, pode acontecer que o cabeça-de-casal não possa ou não queira intervir na qualidade de declarante, optando, assim, pela declaração de três pessoas idóneas, como o artigo 210.º-O permite2.

2.3. Mas a verdade é que, a despeito da intervenção de outros interessados ou declarantes, à luz do disposto no artigo 210.º-B, só o cabeça-de-casal (pessoalmente ou através do seu representante legal ou voluntário) tem legitimidade para promover o

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Pode acontecer que o cabeça-de-casal não chegue a intervir pessoalmente no procedimento (fazendo-se representar por procurador) ou que apenas se encontre impedido de comparecer no acto de titulação. De qualquer forma, a representação voluntária do cabeça-de-casal admitida no artigo 210.º-B só servirá para instaurar o procedimento (declaração de vontade), já não para prestar a declaração prevista no artigo 210.º-O (declaração de ciência).

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procedimento simplificado de sucessão hereditária, e, portanto, a ele cabe indicar o procedimento que pretende desencadear e, tratando-se de procedimento de habilitação de herdeiros, dizer se é com ou sem registos.

2.4. Em concordância com o entendimento fixado no ponto 24. da informação proferida no processo CN 2/2010 SJC, já homologada, parece-nos que o artigo 210.º-B há-de ser lido com o sentido que a norma comporta e por recurso aos subsídios interpretativos alcançáveis a partir do disposto no artigo 9.º do CC.

2.5. Também a nós nos parece que não chega perscrutar a inspiração do legislador e dizer que o objectivo do preceito legal não é o de “dificultar ou inviabilizar o acesso aos Procedimentos Simplificados”3, antes se afigura de considerar o pensamento legislativo que tenha na letra da lei um mínimo de correspondência verbal; de tomar o enunciado linguístico como ponto de partida e como limite; de colher do texto um sentido que condiga com o significado natural e correcto das expressões utilizadas; e de presumir que o legislador soube encontrar a solução mais acertada.

2.6. Perante a diversidade de procedimentos e os interesses em presença em cada um deles, terá o legislador optado por conferir a legitimidade para promover o procedimento à pessoa que tem a seu cargo a administração da herança, até à sua liquidação e partilha, ou seja, ao cabeça-de-casal, sem prejuízo de se autorizar também a sua substituição por representante voluntário, ao contrário do que, normalmente, acontece quando se trata de exercer aquela função específica de administração da herança (artigo 2095.º do CC).

2.7. Donde é o cabeça-de-casal (pessoalmente ou através do seu representante) quem pode figurar como requerente e interlocutor no atendimento prévio a que se refere o artigo 1.º da Portaria n.º 1594/2007, de 17 de Dezembro, e, nessa qualidade, escolher ou indicar a modalidade do procedimento a desencadear, ainda que o resultado a alcançar leve implicado o interesse dos destinatários dos bens e que no procedimento em causa devam intervir outras pessoas4.

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Cfr. o ponto 23.1. da informação proferida no processo CN 2/2010 SJC.

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Claro que quer o acto notarial (habilitação de herdeiros) quer o registo a favor do herdeiro único ou em comunhão hereditária admitem outros requerentes, servindo-se de regras de legitimidade mais alargadas, mas não podemos esquecer que se trata aqui de procedimentos de sucessão hereditária que se querem desburocratizados e simples (por isso, sem querelas em torno da legitimidade e da concretização de conceitos legais); que aglutinam um conjunto diversificado de actos e diligências complementares; e que, portanto, não se compadecem com a fixação de critérios de legitimidade, antes reclamam que se especifique a pessoa que

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3. Sabemos que no ponto I.4 do Manual de Procedimentos, aprovado pelo despacho n.º 61/2010, se diz que «no procedimento de habilitação de herdeiros com intervenção do cabeça de casal deve mencionar-se no título a vontade de registar, quando aquele o declare» e que «no caso de habilitação de herdeiros efectuada com intervenção de três declarantes, o registo só é efectuado se no procedimento intervier algum herdeiro ou seu procurador com poderes especiais para o requerer, arquivando-se a procuração como documento externo».

3.1. Os termos daquela passagem do Manual parecem, assim, sugerir uma das seguintes conclusões:

- Que, no procedimento de habilitação de herdeiros promovido pelo cabeça-de-casal, este só pode optar pela feitura do registo se for o declarante, caso contrário, só o herdeiro que intervenha no procedimento pode fazê-lo, o que não se concebe diante da letra da lei;

- Que a intervenção do cabeça-de-casal como requerente obriga a que a habilitação tenha por objecto a declaração do cabeça-de-casal, não podendo optar-se pela intervenção de três declarantes, o que também não se compreende à luz do enunciado linguístico de cada uma das normas envolvidas (artigos 210.º-B e 210.º-O);

- Ou que o procedimento pode ser desencadeado por outrem (interessado) que não o cabeça-de-casal e que, quando assim for e a habilitação não contar com a intervenção do cabeça-de-casal, mas com a declaração de três pessoas idóneas, o registo só há-de ser efectuado se no procedimento intervier algum herdeiro que, pessoalmente ou através de procurador, o requeira.

3.2. Como atrás se deixou dito, para nós, a indicação de o procedimento de habilitação de herdeiros ser com ou sem registos há-de ser feita no momento da sua promoção,

pode desencadeá-los e se evitem quaisquer conflitos de vontades ou de empenho no desenvolvimento e agilização dos actos.

Com efeito, os procedimentos simplificados de sucessão hereditária não constituem uma duplicação de meios, com repetição do iter preconizado para a titulação e o registo enquanto actos autónomos e isolados, antes se apresentam como instrumentos de agilização, desburocratização e simplificação que exigem clareza e inequivocidade acerca dos seus requisitos essenciais, designadamente da legitimidade para o procedimento, sendo que, fora deste contexto, qualquer interessado continua a poder obter a habilitação de herdeiros por via notarial e o subsequente registo, ponto é que cumpra as disposições gerais vertidas tanto no Código do Notariado como no Código do Registo Predial.

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porquanto é nessa primeira fase que se definem o tipo e a categoria do procedimento em causa, bem como as formalidades relativas aos bens, previstas no artigo 210.º-E, que hão-de preceder a titulação (e que hão-de ser confirmadas no próprio dia da realização do procedimento, conforme o ponto I.1.c.iv do Manual de Procedimentos), pelo que não se vislumbra razão para que no título se reitere a vontade de registar5.

3.3. E também não se vê razão para que se estenda a legitimidade para promover o procedimento a qualquer interessado e se faça depender a escolha da modalidade (com ou sem registos) do consentimento de um herdeiro, quando a lei não regula a intervenção deste herdeiro; não diz a que título pode ou deve participar, nem, ao menos, preconiza a aplicação da regra de legitimidade inserta no artigo 36.º do CRP, antes fixando, no artigo 210.º-B, um regime próprio de legitimidade que só abrange o cabeça-de-casal, seja ou não herdeiro (artigos 2080.º, 2083.º e 2084.º do CC).

4. Seja como for, nenhuma das interpretações aqui colocadas, nem a que atribui ao cabeça-de-casal (pessoalmente ou através de represente) a legitimidade exclusiva para promover os procedimentos simplificados de sucessão hereditária, nem a que admite estender essa legitimidade a qualquer pessoa que demonstre o seu interesse, porém, fazendo depender a realização dos registos da intervenção de um herdeiro, parece aproveitar no caso da consulta, posto que aí está em causa reconhecer relevância à vontade de registar manifestada não pelo cabeça-de-casal ou herdeiro, mas pelo seu cônjuge meeiro e ou descendentes directos.

5. Compreendemos as dificuldades inerentes à situação de incapacidade da cabeça-de-casal decifrada no procedimento simplificado de sucessão hereditária, mas a verdade é que não conhecemos outra forma de as suprir que não passe pelos mecanismos previstos na lei, de que se destacam a tutela e a assistência (artigo 2082.º do CC).

Encerramento

I. Somos, assim, de parecer que o cônjuge meeiro ou os descendentes do herdeiro não têm legitimidade para promover o procedimento simplificado de habilitação de herdeiros, com ou sem registos, e que a interpretação inserta no ponto I.4 do Manual de

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Não parece sequer que a expressão desta manifestação de vontade se justifique pela necessidade de comprovar os termos do pedido que desencadeou o procedimento ou de definir os actos subsequentes (artigo 210.º-G/2), porquanto, se assim fosse, tal vontade teria de ficar sempre consignada, fosse ela de sinal positivo ou negativo, sendo que mesmo uma vontade tardia de registar dificilmente aproveitaria no momento da titulação, dado que sempre implicaria uma modificação do iter procedimental e a realização das formalidades prévias a que alude o artigo 210.º-E/3.

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Procedimentos aprovado pelo Despacho n.º 61/2010 não consente a realização de actos de registo predial, no âmbito de um procedimento simplificado de sucessão hereditária, sem a intervenção do cabeça-de-casal ou de um herdeiro.

II. Sem embargo do que antecede, somos também de parecer que o sobredito ponto do Manual de Procedimentos merece ser revisto, de forma a contemplar um resultado interpretativo condizente com a fórmula verbal e ajustado ao pensamento legislativo que, a partir dela, logramos reconstituir.

Parecer aprovado em sessão do Conselho Técnico de 20 de Janeiro de 2011. Maria Madalena Rodrigues Teixeira, relatora, Luís Manuel Nunes Martins, Isabel Ferreira Quelhas Geraldes, António Manuel Fernandes Lopes, João Guimarães Gomes Bastos, Maria de Lurdes Barata Pires de Mendes Serrano, Laura Maria Martins Vaz Ramires Vieira da Silva, Maria Filomena Fialho Rocha Pereira, Filomena Maria Baptista Máximo Mocica José Ascenso Nunes da Maia.

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FICHA – P.º C.P. 91/2010 SJC-CT

SÚMULA DAS QUESTÕES TRATADAS

Procedimento simplificado de habilitação de herdeiros com ou sem registos:

• Legitimidade para promover o procedimento • Incapacidade de facto do cabeça-de-casal

• Habilitação de herdeiros com intervenção de três declarantes

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