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Num contexto em que esfriam as prespectivas de recuperação económica

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Academic year: 2021

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Cr édit os: Jor nal T xop ela

POLICY UPDATE

Num contexto em que “esfriam” as

prespectivas de recuperação económica

1. Enquadramento

Depreciação do Metical e ineficiência financeira de empresas públicas

podem agravar riscos fiscais para 2021

Segunda - feira, 25 de Janeiro de 2021 I Ano 03, n.º 47 I Director: Prof. Adriano Nuvunga I Português GUARDIÃO DA DEMOCRACIA

I

www.cddmoz.org

O

aumento exponencial dos casos de

Covid-19 no mundo, em geral, e em Moçambique, em particular, está a resfriar as perspectivas de recuperação eco-nómica estimadas para primeira metade de 2021, e prevê-se que essas dificuldades con-tinuem a curto e médio prazos. Sobre este as-sunto, através do seu mais recente relatório

sobre as Perspectivas Económicas Globais, o Banco Mundial indica que a recuperação das economias dos países da África Subsariana em 2021, que se espera que seja lenta, pode não se observar devido à persistência de al-guns riscos macroeconómicos, como o exces-sivo endividamento público.

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Comité de Política Monetária1, um em

Outu-bro e outro em DezemOutu-bro de 2020, o Ban-co Moçambique também manifestou a sua preocupação em relação aos riscos macroe-conómicos que, para além de gerar incertezas que dificultam a tomada de decisões de in-vestimento por parte dos agentes, ameaçam o bom desempenho da economia moçambi-cana em 2021, com particular destaque para trajectória da dívida interna. O Banco Central perspectiva ainda a aceleração do nível de preços e a persistente depreciação da taxa de câmbio que, em conjunto, agravam o custo de vida, principalmente para os produtos de primeira necessidade, como se observou du-rante todo o ano de 20202.

Neste contexto, na presente edição do Po-licy Update, o Centro para Democracia e De-senvolvimento (CDD) recorre aos Relatórios

de Riscos Fiscais3 do Ministério da Economia

e Finanças (MEF) para analisar as ameaças que a depreciação do Metical e a ineficiên-cia financeira de empresas públicas represen-tam para o bom desempenho da economia moçambicana em 2021. Para além desta nota introdutória, o presente artigo está dividido em mais duas secções onde, na primeira, é apresentada a tendência recente da evolução dos riscos fiscais e, na segunda, são sugeridas algumas medidas de política económica para a prevenção da ocorrência desses riscos e mi-nimização de seus efeitos macroeconómicos.

1 http://www.bancomoc.mz/fm_pgTab1.aspx?id=16

2 http://www.ine.gov.mz/estatisticas/estatisticas-economicas/indice-de-preco-no-consumidor/notas-de-imprensa/

mocambique/c-tranfer-ipcmocambique_nimprensa_dezembro20.pdf

3

https://www.mef.gov.mz/index.php/documentos/instrumentos-de-gestao-economica-e-social/relatorios-de-riscos-ficais/930--232/file?force_download=1

2. Tendência recente dos riscos macroeconómicos gerais e riscos

fiscais específicos

2.1. Actual trajectória cambial representa um elevado risco de fiscal

Desvios significativos nas variáveis macroe-conómicas em relação ao pressuposto es-tabelecido no momento da elaboração do Orçamento de Estado podem prejudicar a sustentabilidade fiscal das contas públicas. Tecnicamente, a possibilidade de isso ocor-rer é chamado de risco macroeconómico ge-ral. A Tabela 1 apresenta os indicadores de risco da carteira da dívida pública para Mo-çambique em 2020. Esta tabela mostra que a carteira de dívida de Moçambique é maio-ritariamente composta por moeda

estrangei-ra, com uma participação de 78,8%. A parti-cipação dominante da moeda estrangeira na composição da carteira faz com que a dívida esteja vulnerável às mudanças cambiais e, consequentemente, a depreciação do Meti-cal em relação às principais moedas estran-geiras transaccionadas no território nacional costuma ter efeitos negativos na sustentabi-lidade fiscal:

“O MEF estima que 1% de depreciação re-presenta um aumento em 2p.p. do PIB no stock da dívida externa.”

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Custo da Dívida Pagamento dos juros em percentagem do PIB

Dívida

Externa Dívida Doméstica Total Dívida 3.1 1.4 4.5 • Tempo médio de Maturidade (Anos) • Vencimento da dívida em 1 ano (% do total) • Vencimento da dívida em 1 ano (% PIB) • Tempo Médio de Maturidade (Anos) • Dívida com alteração

de juro em 1 ano (% do total)

• Dívida a taxa de juro fixa (% do total) • Dívida em moeda

externa (% total da dívida)

• Dívida de curto prazo em moeda externa (% de reservas) Risco de Refinanciamento Risco de Taxa de Juro Risco Cambial 3.8 12.8 11.4 44.5 2.8 9 7.5 2.6 10.1 1.1 12.5 10.8 80.4 10.2 20.7 59.1 92.5 87.5 78.8 10.6 Fonte: MEF (2020)

Tabela 1: Indicadores de Risco da Carteira da Dívida em 2020

Em 2020, as projecções do MEF revistas com o impacto da Covid-19 indicavam que a pressão no mercado cambial poderia ele-var a taxa de câmbio para 66,6 Metical/Dólar em 2020. Como consequência, o stock de dívida que já estava num nível insustentável de 107.5% do Produto Interno Bruto (PIB) iria

crescer para o nível de 109,4% do PIB.

Porém, o que se observou, de facto, é que a taxa de câmbio depreciou de forma acen-tuada (depreciação média de 18% durante o ano de 2020), chegando mesmo a atingir 73,51 Metical/Dólar, tal como mostra o Grá-fico 1 abaixo.

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2.2 Empresas públicas em alto risco de crédito e com indicadores de solidez financeira debilitados aumentam o risco da dívida pública

Gráfico 1: Evolução do câmbio versus previsão

Porém, o que se observou, de facto, é que a taxa de câmbio depreciou de forma

acentuada (depreciação média de 18% durante o ano de 2020), chegando

mesmo a atingir 73,51 Metical/Dólar, tal como mostra o Gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1: Evolução do câmbio versus previsão

Fonte: Banco de Moçambique (2020)

2.2. Empresas públicas em alto risco de crédito e com indicadores de solidez

financeira debilitados aumentam o risco da dívida pública

O MEF aponta para a existência de 12 empresas públicas em situação de risco de

crédito (Gráfico 2). Destas, 8 empresas estão numa situação de alto risco de

crédito, sendo que 7 delas possuem um elevado volume de activos. Isto é,

representam um elevado risco fiscal para o Estado. Neste grupo de empresas, o

destaque vai para Aeroportos de Moçambique (ADM), Electricidade de

Moçambique (EDM) e Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) que, segundo

o MEF, detêm mais de 80% do património bruto agregado das empresas públicas

e estão na região de alto risco de crédito, com baixos resultados nos indicadores

da solidez financeira.

Gráfico 2: Número de empresas públicas em risco de crédito

Fonte: MEF (2020)

62,65 64,58 66,06 67,31 68,53 69,73 70,46 71,24 71,91 72,8 73,71 62,55 66,60

Jan-20 Feb-20 Mar-20 Apr-20 May-20 Jun-20 Jul-20 Aug-20 Sep-20 Oct-20 Nov-20

Metical/dolar Metical/dolar (média de 2019) Previsao para 2020

Fonte: Banco de Moçambique (2020)

O MEF aponta para a existência de 12 empresas públicas em situação de risco de crédito (Gráfico 2). Destas, 8 empresas es-tão numa situação de alto risco de crédito, sendo que 7 delas possuem um elevado vo-lume de activos. Isto é, representam um ele-vado risco fiscal para o Estado. Neste grupo de empresas, o destaque vai para

Aeropor-tos de Moçambique (ADM), Electricidade de Moçambique (EDM) e Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) que, segundo o MEF, detêm mais de 80% do património bruto agregado das empresas públicas e es-tão na região de alto risco de crédito, com baixos resultados nos indicadores da solidez financeira.

Porém, o que se observou, de facto, é que a taxa de câmbio depreciou de forma

acentuada (depreciação média de 18% durante o ano de 2020), chegando

mesmo a atingir 73,51 Metical/Dólar, tal como mostra o Gráfico 1 abaixo.

Gráfico 1: Evolução do câmbio versus previsão

Fonte: Banco de Moçambique (2020)

2.2. Empresas públicas em alto risco de crédito e com indicadores de solidez

financeira debilitados aumentam o risco da dívida pública

O MEF aponta para a existência de 12 empresas públicas em situação de risco de

crédito (Gráfico 2). Destas, 8 empresas estão numa situação de alto risco de

crédito, sendo que 7 delas possuem um elevado volume de activos. Isto é,

representam um elevado risco fiscal para o Estado. Neste grupo de empresas, o

destaque vai para Aeroportos de Moçambique (ADM), Electricidade de

Moçambique (EDM) e Empresa Nacional de Hidrocarbonetos (ENH) que, segundo

o MEF, detêm mais de 80% do património bruto agregado das empresas públicas

e estão na região de alto risco de crédito, com baixos resultados nos indicadores

da solidez financeira.

Gráfico 2: Número de empresas públicas em risco de crédito

Fonte: MEF (2020)

62,65 64,58 66,06 67,31 68,53 69,73 70,46 71,24 71,91 72,8 73,71 62,55 66,60

Jan-20 Feb-20 Mar-20 Apr-20 May-20 Jun-20 Jul-20 Aug-20 Sep-20 Oct-20 Nov-20

Metical/dolar Metical/dolar (média de 2019) Previsao para 2020

Gráfico 2: Número de empresas públicas em risco de crédito

Fonte: MEF (2020)

Essas empresas já registavam resultados ne-gativos e a Covid-19 veio agravar a situação. Em termos concretos, a empresa ADM havia registado, até Setembro de 2020, perdas de cerca de 24 milhões de dólares como

resulta-do directo da pandemia.4 A EDM, por sua vez,

reporta perdas de receitas na ordem de 15

mi-lhões de dólares por mês devido aos efeitos

da pandemia da Covid-19 na economia.5

Em-bora não tenha reportado resultados líquidos negativos nos anos passados, a ENH possui um rácio de solvabilidade e autonomia

finan-ceira6 abaixo do recomendável e que,

portan-to, poderá agravar com a crise de Covid-19.

4 https://revista.negocios.co.mz/adm-anuncia-perda-de-24-milhoes-de-dolares-por-causa-da-covid-19/?v=ac6ad5d9b997 5 https://www.aim.org.mz/index.php/pt/noticias-ao-minuto/item/4356-covid-19-edm-reporta-perda-de-15-milhoes-de-usd-por-mes 6 https://www.mef.gov.mz/index.php/documentos/instrumentos-de-gestao-economica-e-social/relatorios-de-riscos-ficais/930--232/

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www.cddmoz.org I POLICY UPDATE

O facto de algumas dessas empresas públi-cas em alto risco de crédito terem beneficiado

de garantias7 do Estado agrava o panorama de

risco, numa situação em que a exposição do

Estado por garantias e cartas de fiança é ava-liada em 19,9% do PIB, e a totalidade dessa carteira é considerada de alto risco porque tem alta probabilidade de ser accionada neste ano.

2.3 Empréstimos por acordos de retrocessão sem potencial de serem reembolsados

Os empréstimos por acordos de retroces-são retroces-são créditos ou donativos externos con-traídos ou concedidos pelo ou ao Estado e repassados ao Sector Empresarial do Estado e/ou entidades públicas, devendo estas

pos-teriormente reembolsar ao Estado8. Na falta

de reembolsos, os acordos de retrocessão têm o potencial de afectar significativamente o Património Financeiro do Estado, por isso eles representam um risco fiscal.

Na sua análise da Conta Geral de Estado

(CGE)9 de 2019, o Tribunal Administrativo

(TA) faz as seguintes constatações:

1) Várias entidades beneficiárias de em-préstimos por acordos de retrocessão não efectuam os reembolsos;

2) A Direcção Nacional do Tesouro, ins-tituição responsável pela gestão da dí-vida pública e o repasse dos fundos às entidades públicas, através de acordos de retrocessão, não dispõe de um

siste-ma de controlo eficiente, capaz de indi-vidualizar cada empréstimo repassado. O MEF revela que as entidades beneficiá-rias dos empréstimos por acordos de retro-cessão possuem fraco desempenho financei-ro, baixos níveis de liquidez e solvabilidade, o que reduz a probabilidade de realização significativa dos reembolsos.

Segundo o TA, a CGE de 2019 indica que dos novos acordos de retrocessão desem-bolsados - estimados em 23,4 mil milhões de meticais (correspondentes a 2,45% do PIB), foram reembolsados apenas 46,5 milhões (correspondentes a 0,005% do PIB).

Conforme ilustrado no gráfico abaixo, o não reembolso é bastante comum, o que re-vela que há uma enorme possibilidade de o Estado ter que assumir tais responsabilida-des, agravando assim a actual situação de insustentabilidade da dívida pública.

7 Constituem instrumentos formais pelo qual o Estado garante ao credor o cumprimento das obrigações

financeiras contidas nos contracto celebrados pelas suas instituições, caso estes se mostrem inadimplentes

8

https://www.mef.gov.mz/index.php/documentos/instrumentos-de-gestao/-21/conta-geral-do-estado-cge/cge-2019/899-conta-geral-do-estado-2019-anexos-informativos-volume-i/file

9 https://www.ta.gov.mz/Pages/RelatoriosPareceresCGE.aspx

Fonte: MEF (2020)

3. Recomendações de política

No contexto da discussão dos riscos fiscais feita no presente texto, o CDD faz algumas recomendações de política económica para mitigar os efeitos desses riscos:

 Redução do poder arbitrário na concessão de autorizações de empréstimos às empresas públicas, de modo que o acesso ao financiamento seja com base em limites e critérios bem definidos e consistentes com sua capacidade de serviço da dívida e de assumir novas dívidas, e adoptar medidas com vista a promover maior transparência no processo de concessão de autorizações de empréstimos às empresas públicas;

 Introdução de um sistema de controlo efectivo e sistemático de todos os empréstimos ao nível da Direcção Nacional do Tesouro capaz de individualizar cada empréstimo repassado e criar mecanismos que permitem o reembolso atempado dos empréstimos contraídos por empresas e organismos públicos, conforme recomendado pelo Tribunal Administrativo; 3,0% 2,5% 2,0% 1,5% 1,0% 0,5% 0,0% % do PIB 2014 2015 2016 2017 2018 2019 Desembolsos Reembolsos

Gráfico 3: Desembolsos versus Reembolsos dos empréstimos por acordos de retrocessão

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Propriedade: CDD – Centro para a Democracia e Desenvolvimento

Director: Prof. Adriano Nuvunga

Editor: Emídio Beula

Autor: Dimas Sinoia

Equipa Técnica: Emídio Beula, Ilídio Nhantumbo, Isabel Macamo, Julião Matsinhe, Janato Jr. e Ligia Nkavando

Layout: CDD

Contacto:

Rua Dar-Es-Salaam Nº 279, Bairro da Sommerschield, Cidade de Maputo. Telefone: +258 21 085 797 CDD_moz E-mail: info@cddmoz.org Website: http://www.cddmoz.org INFORMAÇÃO EDITORIAL: 3. Recomendações de política

No contexto da discussão dos riscos fiscais feita no presente texto, o CDD faz algumas recomendações de política económica para mitigar os efeitos desses riscos:

• Redução do poder arbitrário na conces-são de autorizações de empréstimos às empresas públicas, de modo que o acesso ao financiamento seja com base em limites e critérios bem definidos e consistentes com sua capacidade de serviço da dívida e de assumir novas dívidas, e adoptar medidas com vista a promover maior transparência no pro-cesso de concessão de autorizações de

empréstimos às empresas públicas; • Introdução de um sistema de controlo

efectivo e sistemático de todos os em-préstimos ao nível da Direcção Nacional do Tesouro capaz de individualizar cada empréstimo repassado e criar mecanis-mos que permitem o reembolso atem-pado dos empréstimos contraídos por empresas e organismos públicos, con-forme recomendado pelo Tribunal Ad-ministrativo;

• Promoção de acções com o objectivo de fortalecer a gestão financeira das empresas públicas deve ser uma priori-dade.

PARCEIROS DE FINANCIAMENTO PARCEIRO PROGRAMÁTICO

Comissão Episcopal de Justiça e Paz, Igreja Católica

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