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Prof. Sérgio de Iudícibus

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Academic year: 2021

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Prof. Sérgio de Iudícibus

O Prof. Sérgio de Iudícibus, na década de 60, pegou a bandeira recém iniciada da conversão da con-tabilidade brasileira ao seus usuário (interno - o gestor, e externos - os demais) e transformou-se no grande líder desse movimento. Retirou a contabilidade, pelo menos no mundo acadêmico, da catego-ria de braço fiscal pago pelo empresário a serviço do governo arrecadador e deu-lhe outro status: a de instrumento de gestão e de prestação de contas a proprietários, credores, empregados etc. (incluindo o próprio governo, é lógico). Formou toda uma geração de profissionais e professores com essa filoso-fia que não era comum entre nós. Assim, com a chegada da Lei das S/A em 1976, tinha ele já preparado um campo fértil para a implementação dessa que foi a primeira grande revolução contábil no Brasil, e não foi por acaso que a recém criada CVM contratou a Fipecafi para, sob sua liderança, escrever o Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações. E sem essa Lei, que nos nivelou ao que havia de melhor no mundo, não teríamos tido a facilidade que tivemos para a implantação da segunda revolu-ção, mais recente, a das normas internacionais de contabilidade. (Facilidade quando comparamos com tantos outros países, inclusive os desenvolvidos como Alemanha, França, Itália, Espanha etc.)

O Prof. Sérgio foi o grande consolidador do Mestrado da FEA/USP, o mentor da criação do seu Doutorado, por tantos e tantos anos os únicos cursos nesse nível no nosso país. E continua ativo, ativís-simo, estudando, pesquisando, lecionando, orientando.

Guru de tantos e tantos de nós, continua nossa fonte de inspiração

O Sr. fez parte da implantação da Lei 6.404 no ano de 1976, tanto que foi procurado pela CVM para ela-borar o Manual de Contabilidade das Sociedades por Ações. Como o Sr. compara a implantação da Lei das S/A em 1976 com o processo de harmonização das normas con-tábeis brasileiras com as do IASB, iniciado em 2008? Não fui tão im-portante no processo todo a ponto de ter sido convidado diretamente para escrever o Manual das Sociedades Por Ações. Mas, é claro que tive par-ticipação nas discussões e em toda a evolução posterior. Foi um trabalho de grande intensidade e dificuldade. Entretanto, acho que a dificuldade da implantação das normas do IASB no Brasil tem sido de uma dimensão

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Entrevista

Sérgio de Iudícibus

bem maior, pois nós contadores (a não ser os pioneiros da inter-nacionalização) estávamos mais preparados para a primeira gran-de batalha do que para a segunda. Essa última tem sido mais com-plexa pois significou mudança total de mentalidade e hábitos não apenas dos contadores, mas de todos os segmentos das em-presas. Felizmente, como fomos melhorando e nos afinando cada vez mais, com as sucessivas lides, o Brasil tem sido pioneiro entre vários países e hoje o processo de harmonização das normas bra-sileiras com as do IASB tem sido um retumbante sucesso.

O Sr. participou da abertu-ra do primeiro mestabertu-rado em Contabilidade no Brasil, em 1970 e da abertura do primeiro doutorado em 1978. Até o ano de 1998 somente esses e os mestra-dos da PUC/SP e UFRJ foram os únicos cursos de pós-graduação no Brasil. A virada do século XX observou um crescimento enor-me dos cursos de pós-graduação no Brasil, sendo, atualmente, por volta de 25 mestrados e 6 dou-torados. Como o Sr. vê esse au-mento ocorrido nos últimos 15 anos? Mais quantidade tem sido sinônimo de maior qualidade? Não necessariamente, se analisar-mos os cursos individualmente e os compararmos, em qualidade, a alguns mais antigos, que servem de referência. De fato, os concei-tos atribuídos pela CAPES variam bastante e, também, a meu ver, não indicam, sempre, os melho-res. Mas, na atualidade, “rankin-gs”, embora discutíveis as vezes, estão consolidados no mercado. Creio que a abertura de mes-trados e doutorados em estados

considerados carentes, se não igualam totalmente em qualidade os cursos referenciais, pelo menos dão oportunidades a alunos indi-vidualmente bem dotados de cur-sar um mestrado ou doutorado, pois nem todos poderiam caber nos cursos absolutamente de pon-ta. Numa análise global, pode-se dizer que estamos indo razoavel-mente bem, no que se refere à Pós Graduação em Contabilidade, no Brasil.

Um crescimento também mui-to grande ocorreu nos cursos de graduação: atualmente são mais de 1.000. Na

sua opinião, os contadores que estão sendo for-mados atualmen-te estão prepara-dos para a “nova” C ontabilidade? O que é necessá-rio para se formar contadores prepa-rados para o novo pensamento con-tábil? Quantidade não significa qua-lidade. De longo

tempo, boa parte dos cursos de graduação em contabilidade tem tido problemas sérios de quali-dade. Não apenas para formar contadores na nova mentalidade, mas muito mais do que isso, to-talmente despreparados, no que se refere aos requisitos básicos de conhecimento de disciplinas de cultura geral, da área de sis-temas e métodos quantitativos, para o novo cenário. É claro que a universidade não forma o pro-fissional pronto e embalado, mas precisa formar o homem/mu-lher preparado intelectualmente.

Temos um problema: para come-çar, poucos são os professores que conhecem suficientemente IFRS e que possam ensinar esse vas-to assunvas-to; depois, temos alunos totalmente despreparados, para início de conversa, no hábito de ler e de estudar. Salvo raras exce-ções, muitos cursos de graduação em contabilidade precisam ser to-talmente reformulados. Perde-se muito tempo com matérias contá-beis, ensinadas sem criatividade e que levam, quando muito, a for-mar pessoas codificadas, nunca os contadores, os novos contadores, capazes de utilizar o subjetivismo

responsável. Temos que melhorar, demais, o ensino de graduação. Uma verdadeira “revolução” é ne-cessária e todos os órgãos gover-namentais e privados envolvidos precisam sentar-se à mesa e mol-dar um novo modelo.

A grande maioria dos profissio-nais contábeis no Brasil são fun-damentalmente voltados para a escrituração fiscal, apuração de impostos e cumprimento de burocracias. O que é necessário para que a profissão deixe de ser tão mecanicista e fiscalista e

“O Brasil tem sido pioneiro

entre vários e vários

países e hoje o processo

de harmonização das

normas brasileiras com

as do IASB tem sido um

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passe a ser vista como como uma provedora de informação rele-vante para a tomada de decisão, como parte ativa da administra-ção das sociedades e não somente como um mal necessário, princi-palmente nas pequenas e médias empresas? Sem dúvida, esta liga-ção fiscal x contábil tem sido um problema muito sério para o de-senvolvimento da contabilidade como principal apoio à gerência das empresas, principalmente de médio e pequeno porte. Em par-te, é determinada por circunstân-cias históricas, pois um contador para tratar de assuntos tributários é mais barato do que um advoga-do e, muitas vezes, o contaadvoga-dor é mais prático e atuante. Creio que com a mais recente legislação, no que se refere às maiores empresas, contabilidade e o aspecto fiscal e tributário estarão cada vez mais inteligentemente interligados pelo próprio reconhecimento por par-te do Fisco de que a origem da im-posição fiscal deve se basear nos valores contábeis. Lentamente, mas seguramente, desde a Lei das S/A de 76, os contadores es-tão tendo mais condições de de-dicarem mais tempo aos aspectos puramente inerentes da profissão contábil, incrementando, portan-to, sua utilidade para as empresas.

Considerando a grande quanti-dade de burocracias exigidas no Brasil e a complexidade das nor-mas tributárias, que acaba por gerar enormes equipes de con-tadores nas empresas (e escritó-rios) quase que exclusivamente a serviço das receitas federal, es-taduais e municipais, é possível que, no nosso país, ocorra essa mudança de paradigma da pro-fissão contábil de forma ampla e não somente nas grandes empre-sas? Como vimos na resposta an-terior, principalmente nas peque-nas e médias empresas, não vai ser fácil que a situação traçada mude rapidamente. Em parte, pela pró-pria propensão dos contadores de se desincumbirem dos problemas tributários, pois a formação deles assim os direcionou, e pela relação custo/benefício, mais favorável ao contador ou contabilista. Somente a profunda alteração dos currícu-los de formação em ciências con-tábeis, já em curso, mas ainda não consolidada, é que poderá formar novas levas de contadores com atitude mais gerencial do que tri-butária.

O Sr. escreveu um artigo publi-cado na Revista FIPECAFI sobre Stewardship e Accountability, criticando a definição, por par-te do IASB, dos usuários como

sendo somente os investidores e credores. Na sua opinião, ini-ciativas tais como as do IIRC no sentido de criação de um relato integrado ampliariam as funções de stewardship e accountability? É possível a integração de infor-mações financeiras feitas com base nas normas do IASB com aquelas de caráter não financei-ra relacionadas aos aspectos de sustentabilidade socioambien-tal, ou dois relatórios separados parece ser uma melhor ideia? Se se fala de Relato Integrado, em princípio, as várias partes in-tegrantes deveriam ser interliga-das, é claro, obtendo-se as infor-mações de várias fontes. Talvez, as criadas pelo sistema e filosofia IASB não sejam suficientes para esse Relato Integrado, tendo em vista a centralização de tais nor-mas no atendimento informativo preferencialmente dos provedores de recursos. Entretanto, acredito que a pressão da sociedade sobre as agências reguladoras terá, a médio prazo, um impacto que não poderá passar inobservado, pois sustentabilidade e todas suas fa-cetas contábeis e outros aspectos sociais, gerenciais e ambientais, serão, cada vez mais, discutidos por grupos sociais e de pressão fazendo com que o IASB e toda sua estrutura regulatória, embora por opção filosófica tipicamente anglo-saxônica, continue a prefe-renciar os provedores de recursos, de forma alguma poderá deixar de atender, no aspecto informa-cional, aos outros stakeholders. O Sr. é reconhecido como um dos maiores pensadores de Teoria da Contabilidade no Brasil, sendo autor do mais bem sucedido livro brasileiro sobre

Somente a profunda alteração dos

currículos de formação em ciências

contábeis, já em curso, mas ainda não

consolidada, é que poderá formar

novas levas de contadores com atitude

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Entrevista

Sérgio de Iudícibus o tema. Recentemente, o Sr.

pu-blicou o artigo “Estudando e Pesquisando Teoria: o futuro chegou?” na Revista Universo Contábil (vol. 11, n. 1, 2015) no qual são feitas diversas

críticas ao atual estágio das pesquisas em Teoria da Contabilidade. Na sua opinião, o que é ne-cessário por parte dos professores e pesquisa-dores para que pesqui-sas e discussões teóri-cas que sirvam para um efetivo embasamento da prática, raras nos dias de hoje, possam voltar a ser realizadas na academia e consi-deradas como parte da “pesquisa contábil”? Contabilidade respon-de ao respon-desenvolvimento das instituições sociais e econômicas. De uns quarenta anos para cá, a

globalização e a necessidade das empresas multinacionais terem um sistema contábil harmoniza-do, em nível mundial, deveria ter sido o principal movente para a pesquisa contábil. Muitos pesqui-sadores e teóricos ficaram encas-telados em suas torres de marfim, nas universidades, e não se deram conta desse fenômeno invasivo e global e continuaram, a fim de não perderem seus empregos, es-crevendo artigos positivistas tão abstratos quão irrelevantes, ob-viamente com honrosas exceções, desligando-se do mundo real. Entretanto, eles não são incapa-zes e, se há algo que mexe com os brios e a autoestima de pesquisa-dores, é o de serem desconside-rados pela sociedade. Por outro lado, as agências reguladoras e

normatizadoras precisam da ins-piração e da visão arejada dos teó-ricos e pesquisadores. O ambiente para a colaboração nunca foi tão propício!

O Sr. é considerado um Guru por uma grande quantidade de acadêmicos no Brasil, e isso até hoje! Muitas entidades profissio-nais o homenageiam, e também até hoje! Como se sente com essa admiração toda?

Sempre atuei mais no ambiente puramente acadêmico do que no profissional. Às vezes, é menos perigoso e punitivo cometer erros na academia do que na prática. Por isso, é mais fácil, em termos conceituais, desde que não se co-metam erros monumentais, ser preditivo e liderar ideias e ten-dências, no ambiente universitá-rio. Nesse ambiente rarefeito nun-ca me faltaram reconhecimento e prêmios, embora nunca os tivesse perseguido. Por um longo tempo,

fiquei, por assim dizer, na penum-bra no que se refere ao reconhe-cimento por parte da Profissão. Repentinamente, isso tem mudan-do nos últimos anos e, diga-se de

passagem, não foi certa-mente por eu ter partici-pado mais intensamente da vivência profissional, mas por uma reação to-talmente espontânea e inesperada de entidades como Apimec, Anefac, CRCSP, CFC e outras que tenham notado a importância de algu-ma contribuição minha para a Contabilidade! Agradeço, de todo cora-ção!!

O Sr. além de contador é um apaixonado pela música e talentoso pia-nista. Como se dá essa sua forte relação com a música? Os estudos mu-sicais de alguma forma contri-buem para seus estudos na área contábil? Eu demorei um bocado para perceber que, uma coisa é ter bom ouvido e até, quem sabe, certo talento para a composição e regência, outra é ter os requisi-tos para ser um concertista! Para isso, é necessário ter, também, os mecanismos físicos adequados, como habilidade igual nas duas mãos etc. De qualquer forma, fi-quei com a música, e com a pai-xão por ela! Eu acho que os estu-dos musicais, de alguma forma, contribuíram, sim, para meus es-tudos na área contábil! Só não sei explicar muito bem como; talvez a disciplina e a persistência sejam elementos comuns aos dois cam-pos de estudos.

Prof. Sergio, em frente ao seu piano de armário alemão Bechstein de 1923. Em sua casa de campo, também possui um 2/3 de cauda da mesma marca, fabricação 1920!

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