ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos estes autos do Apelação nº 9241252-65.2008.8.26.0000, da Comarca de São Paulo, em que é apelante EMIR PAULIN, é apelado GUTIERREZ ADVOCACIA.
ACORDAM, em 36ª Câmara de Direito Privado do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "Deram provimento ao recurso. V. U.", de conformidade com o voto do Relator, que integra este acórdão.
O julgamento teve a participação dos Exmos. Desembargadores JAYME QUEIROZ LOPES (Presidente) e ARANTES THEODORO.
São Paulo, 26 de setembro de 2013
ALEXANDRE BUCCI RELATOR Assinatura Eletrônica
VOTO Nº 578
Apelação nº. 9241252-65.2008.8.26.0000
Comarca: São Paulo (34ª. Vara Cível)
Apelante: Emir Paulin
Apelada: Gutierrez Advocacia
COBRANÇA DE HONORÁRIOS DE ASSISTENTE
TÉCNICO. ENQUADRAMENTO COMO PROFISSIONAL LIBERAL.
PRESCRIÇÃO AFASTADA. O PRAZO PRESCRICIONAL
PARA A PRETENSÃO DO RECEBIMENTO DE
HONORÁRIOS POR PROFISSIONAIS LIBERAIS, EM GERAL, É AQUELE PREVISTO NO ART. 206, § 5º, II DO CÓDIGO CIVIL 2002, QUE ESTABELECE O PRAZO PRESCRICIONAL DE CINCO ANOS.
CAUSA MADURA. JULGAMENTO REALIZADO, DESDE LOGO, NOS TERMOS DO ART. 515, § 3º DO CPC.
COMPROVAÇÃO EFETIVA DA NOMEAÇÃO DO
ASSISTENTE TÉCNICO PELO ESCRITÓRIO DE
ADVOCACIA APELADO PARA ATUAR EM PROCESSO
TRABALHISTA. PROVA EFETIVA TAMBÉM DA
PRESTAÇÃO DOS SERVIÇOS CONTRATADOS.
DIREITO AO RECEBIMENTO DOS HONORÁRIOS,
CORRESPONDENTES AO VALOR HISTÓRICO EM
MONTANTE DE R$ 85.072,84, COM ATUALIZAÇÃO MONETÁRIA NOS TERMOS PREVISTOS NA TABELA PRÁTICA DO E. TRIBUNAL DE JUSTIÇA A PARTIR DO AJUIZAMENTO DA AÇÃO E JUROS DE MORA, DE 1% AO MÊS, CONTADOS A PARTIR DA CITAÇÃO.
A r. sentença de fls. 274/276 dos autos, cujo relatório é aqui adotado, julgou extinta, com resolução de mérito, com fundamento na previsão contida no Artigo 269, inciso IV do Código de Processo Civil, a Ação de Cobrança manejada por Emir Paulin (apelante) em face de Trevisan e Gutierrez Advocacia (apelada).
Fê-lo, a ilustre magistrada, Dra. Helena Campos Refosco, por entender que teria sido atingida pela prescrição a Ação voltada à cobrança de honorários profissionais, carreando-se em desfavor do apelante a responsabilidade pelas custas e honorários advocatícios arbitrados em montante de R$ 500,00.
Entretanto, inconformado, o autor manejou tempestivo recurso de Apelação (fls. 270/300) invocando, com destaque inicial, a necessidade de anulação da r. sentença, sob o argumento de não ter ocorrido a prescrição para cobrança de seus honorários tido ele enquanto assistente técnico.
Ressaltava que a norma contida no inciso III do Artigo 206 do Código Civil seria aplicável ao perito judicial, nomeado pelo juiz da causa, atuando como verdadeiro serventuário da justiça.
Contudo, tal norma não seria aplicável ao profissional que atuasse como assistente técnico, verdadeiro profissional liberal que ajusta seus honorários diretamente com o cliente ou com o advogado por ele constituído, em pura relação de prestação de serviços, sem qualquer vínculo formal com nomeação judicial.
Assim, sendo a contratação feita entre o apelante e o escritório apelado, a quem, pelo princípio da boa-fé, incumbia informar-lhe do depósito judicial e repassar os valores relativos aos honorários ajustados, prosseguia o apelante mencionando que os depósitos judiciais do valor da condenação na reclamação trabalhista teriam sido feitos pela Nossa Caixa Nosso Banco no ano de 2002, razão pela qual não ocorrera prescrição, tendo em vista a aplicação ao caso do Artigo 206, parágrafo quinto, inciso II do Código Civil, regramento aplicável na espécie.
Ao final, os protestos do apelante eram lançados no sentido do provimento do recurso, com necessária inversão dos ônus de sucumbência e caso fosse afastada a prescrição, possível se fazia o encaminhamento do feito à primeira instância para apreciação do mérito, com a procedência do pedido.
O recurso em questão foi recepcionado e processado na origem (fls. 313) com registro da apresentação de contrarrazões por parte da sociedade de advogados requerida/apelada que protestava pela manutenção da r. sentença (fls. 320/325).
É o relatório do quanto essencial.
Não obstante o respeito desta relatoria pelos fundamentos elencados em primeiro grau, desde logo, anuncio que deve ser afastada a prescrição pronunciada na origem.
Com efeito, não se ignora a existência do regramento de prescrição anual em matéria de cobrança de honorário de perito judicial, tal qual previsto no Artigo 206, parágrafo primeiro, inciso III do CC 2002.
Entretanto, no caso dos autos, a cobrança se refere aos honorários de assistente técnico contratado diretamente pelo escritório de advocacia (apelado) para atuar em reclamação trabalhista, não se confundindo a atuação levada a efeito pelo apelante com o exercício do encargo pericial.
Isto quer dizer que a regra a ser observada no caso concreto é aquela disciplinada pelo Artigo 206, parágrafo quinto, inciso II do Código Civil, que estabelece o prazo prescricional de cinco anos para a pretensão do recebimento de honorários por profissionais liberais em geral.
Nesse sentido:
“Honorários profissional liberal - Assistente técnico Ação monitória - Prescrição - Prazo quinquenal - Artigo 206, § 5º, inciso II, do Código Civil - Inocorrência. Inexistindo nos autos elementos que justifiquem a alteração do quanto restou decidido, impossível acolher-se o pedido de reforma da decisão hostilizada.” (TJSP - Agravo de Instrumento nº 2004824-17.2013.8.26.0000, 30ª. Câmara de Direito Privado, Rel. Orlando Pistoresi, j. 21/08/2013).
Fixada tal premissa de regulação do prazo prescricional, importa dizer que o apelante informava que seus honorários teriam sido ajustados em patamar de 8% do total auferido pela autora na reclamação trabalhista (fls. 03, item 4 e fls. 48).
De tal sorte, tendo em vista que o alvará de levantamento no respectivo processo trabalhista foi expedido em 31/10/2002 (fls. 58) e a presente Ação de Cobrança proposta em data de 18/07/2006 (fls. 02), não há que se falar em prescrição.
Pois bem, afastada a prescrição, tratando-se de causa madura para o julgamento imediato por parte da Turma Julgador, com fundamento na previsão contida no Art. 515, § 3º. do Código de Processo Civil, passo a apreciar o mérito da lide, e o faço, entendendo o pedido deduzido na exordial comporta guarida, o que significa afirmar que o presente recurso comporta provimento.
Com efeito, compulsando os autos, verifico que o autor (apelante) recebeu no ano de 1995 a porcentagem da primeira parcela auferida pelo reclamante na demanda de cunho trabalhista (fls. 56).
No ano de 2002 foi expedido outro alvará de levantamento no mesmo Processo, no valor de R$ 541.930,52 (fls. 58), pretendendo o apelante o recebimento de 8% do referido valor, destacando-se que a indicação do apelante para atuar como assistente técnico pelo escritório apelado é incontroversa, havendo, inclusive, compromisso perante a Justiça do Trabalho (fls. 30).
Da mesma forma, é incontroversa a efetiva atuação no feito trabalhista, verificando-se assinatura lançada em laudo pericial (fls. 33/43) e apresentação de ressalva (fls. 45/46), de forma que deve ser remunerado o apelado pelos serviços prestados.
Neste ponto, observo, por ser pertinente, que o fato de ter o apelante em determinado momento se desligado de alguns feitos nos quais atuava, em nada interferia no resultado anunciado para a lide, posto que o escritório apelado não logrou êxito em comprovar pelos documentos de fls. 120/126, que tivesse o apelante deixado de atuar particularmente na reclamação trabalhista que ensejara o crédito de honorários ora reclamados.
Sob outro ângulo, nem mesmo o fato de ter sido nomeado um novo assistente técnico - para atuar no feito em que originariamente atuara o apelante (fls. 114/118) em sede de execução provisória, para fins de atualização de valor - servia de motivo justo para obstar o reconhecimento do direito ao recebimento de remuneração decorrente dos serviços efetivamente prestados.
Melhor sorte não acompanhava ao apelado se nos voltássemos à alegação no sentido de que o Dr. Décio Trevisan, quotista majoritário do escritório, já falecido, responsável para discussão dos honorários periciais à época, ao receber correspondência do apelante informando seus honorários na porcentagem de 8% do valor levantado pela reclamante no processo trabalhista, dispensara os serviços do apelante via telefone.
Ocorre que tal informação, por si só, além de desprovida de maior comprovação sob o crivo do contraditório, igualmente não se mostrava capaz de obstar o acolhimento do pedido do apelante, devendo prevalecer o regramento geral que repudia o enriquecimento sem causa.
De todo modo, ainda que se considerasse a dispensa referida pelo apelado, bastava verificar que na carta endereçada ao Dr. Décio Trevisan (fls. 48) havia indicação de tratativa no sentido de fixação de honorários correspondentes a 8% da importância total que viesse a ser recebida pelo reclamante.
E no recibo de pagamento de parte dos honorários de assistente técnico (fls. 56), o apelante recebeu a importância de R$ 264,62, aproximadamente 8% do valor constante do alvará de levantamento de fls. 54, o que traz verossimilhança ao relato fático sustentado na exordial.
Nessa quadra de considerações, embora reconheça o apelante a inexistência de contrato de prestação de serviços por escrito (fls. 94) é certo que pela documentação acostada aos autos se mostrou efetivamente comprovada a veracidade da tratativa no percentual postulado.
Temos, portanto, que apelante faz jus ao recebimento do valor histórico postulado na inicial, qual seja, o valor de R$ 85.072,84 a ser pago pelo escritório apelado como decorrência dos serviços de assistente técnico prestados nos autos trabalhista em questão.
O valor principal retro indicado deve contar com a incidência de atualização monetária oficial nos termos previstos na Tabela Prática do E. Tribunal de Justiça a partir do ajuizamento da Ação e deve também contar com a incidência de juros de mora, em patamar de 1% ao mês, a partir da citação.
Por óbvio que em razão do acolhimento da pretensão deduzida na inicial, respeitado o princípio da causalidade, deverá o apelado ser responsabilizado pelos ônus de sucumbência, o que implica em pagamento de custas e despesas processuais e pagamento também de verba honorária aqui arbitrada em patamar de 10% do valor atualizado da condenação imposta, com o que se remunera de maneira digna a atuação zelosa das n. patronas do apelante.
Estes são, em suma, os fundamentos que bastam para o enfrentamento do recurso, tidas como rejeitadas todas as demais teses e possíveis argumentos veiculados de parte a parte, sem
Do exposto, a proposta ora lançada é no sentido de DAR PROVIMENTO ao recurso de Apelação, o que se dá, de modo a afastar a prescrição pronunciada na origem, condenando-se assim o escritório apelado a pagar em favor do apelante a remuneração indicada na fundamentação do voto, por conta dos serviços de assistente técnico prestados.
Sem prejuízo, o provimento do recurso também se dá para carrear ao apelado os ônus de sucumbência conforme disciplina delimitada nas linhas acima.
ALEXANDRE BUCCI Relator