Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.063.639 - MS (2008/0122086-2)
RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA
RECORRENTE : EMPRESA ENERGÉTICA DE MATO GROSSO DO SUL S/A -
ENERSUL
ADVOGADO : LYCURGO LEITE NETO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DE CAMPO GRANDE -
MANTENEDORA DO HOSPITAL DE CARDADE SANTA CASA
ADVOGADO : LEONARDO AVELINO DUARTE E OUTRO(S)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. HONORÁRIOS DO PERITO. RESPONSABILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA.
1. A simples inversão do ônus da prova, no sistema do Código de Defesa do Consumidor, não gera a obrigação de custear as despesas com a perícia, embora sofra a parte ré as conseqüências decorrentes de sua não-produção. (REsp 639.534/MT, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 13.02.6). Precedentes.
2. Recurso especial provido.
ACÓRDÃO
Vistos, relatados e discutidos os autos em que são partes as acima indicadas, acordam os Ministros da Segunda Turma do Superior Tribunal de Justiça, prosseguindo no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Herman Benjamin, acompanhando o Sr. Ministro Castro Meira, por unanimidade, dar provimento ao recurso nos termos do voto do Sr. Ministro Relator. Os Srs. Ministros Humberto Martins e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator. Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon.
Brasília, 1º de outubro de 2009(data do julgamento).
Ministro Castro Meira Relator
Superior Tribunal de Justiça
RECURSO ESPECIAL Nº 1.063.639 - MS (2008/0122086-2)
RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA
RECORRENTE : EMPRESA ENERGÉTICA DE MATO GROSSO DO SUL S/A -
ENERSUL
ADVOGADO : LYCURGO LEITE NETO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DE CAMPO GRANDE -
MANTENEDORA DO HOSPITAL DE CARDADE SANTA CASA
ADVOGADO : LEONARDO AVELINO DUARTE E OUTRO(S)
RELATÓRIO
O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): Cuida-se de recurso
especial fundado nas alíneas "a" e "c" do permissivo constitucional, interposto contra acórdão proferido pelo Tribunal de Justiça do Mato Grosso do Sul, assim ementado:
"AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO – HONORÁRIOS PERICIAIS – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – FACILITAÇÃO DA DEFESA DO CONSUMIDOR – RECURSO NÃO PROVIDO.
Em se tratando de relação de consumo, deve-se considerar a condição de vulnerabilidade e de hipossuficiência técnica do consumidor, e não apenas a sua dificuldade econômica, ante o fornecedor de produtos de bens e serviços.
Tal entendimento é reforçado, in casu, porquanto o consumidor é sociedade beneficente, que opera sem fins lucrativos, além do que é beneficiário da assistência judiciária gratuita".
A recorrente alega violação aos arts. 33, caput , e 333, II, ambos do CPC, além de dissídio jurisprudencial. Afirma que o fato de ser a recorrida beneficiária da gratuidade judicial não lhe retira a responsabilidade pela produção das provas que pretende na instrução processual.
Contra-razões às fls. 135-141.
Admitido o recurso na origem (fls. 142/143). É o relatório.
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.063.639 - MS (2008/0122086-2)
EMENTA
PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. HONORÁRIOS DO PERITO. RESPONSABILIDADE. HIPOSSUFICIÊNCIA.
1. A simples inversão do ônus da prova, no sistema do Código de Defesa do Consumidor, não gera a obrigação de custear as despesas com a perícia, embora sofra a parte ré as conseqüências decorrentes de sua não-produção. (REsp 639.534/MT, Rel. Ministro Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 13.02.6). Precedentes.
2. Recurso especial provido.
VOTO
O EXMO. SR. MINISTRO CASTRO MEIRA (Relator): A controvérsia dá-se em
processo de cobrança de débito decorrente de fornecimento de energia elétrica, na qual se demandou prova pericial por suposta cobrança por quantidade de energia superior à fornecida.
A recorrente se insurge contra a decisão do Tribunal a quo no sentido de que, a despeito do disposto nos arts. 19 e 33 do CPC, mesmo que a perícia tenha sido provocada pela autora, os honorários do perito devem ser atribuídos à empresa ré, face à condição de vulnerabilidade e de hipossuficiência técnica do consumidor.
Merece guarida a insurgência da recorrente, pois o acórdão recorrido dissentiu do entendimento preconizado nesta Corte.
Com efeito, em casos como o dos autos, tem-se decidido que o deferimento da inversão do ônus da prova não tem o condão de obrigar o fornecedor a custear a prova requerida pelo consumidor.
Seguem os seguintes precedentes:
"AGRAVO REGIMENTAL. AGRAVO DE INSTRUMENTO. AUTOR BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA EM DESFAVOR DA RÉ. HONORÁRIOS PERICIAIS.
- Não é lícito obrigar a parte contra quem o ônus da prova foi invertido a custear os honorários do perito, porque lhe assiste a faculdade de não produzir a prova pericial e arcar com as conseqüências processuais da omissão." (AgRg no Ag 648.625/MG, Rel. Min. Humberto Gomes de Barros, DJU 18.12.06, p. 366).
"CONTRATO BANCÁRIO. REVISIONAL. CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR. ÔNUS DA PROVA. INVERSÃO. PERÍCIA. CUSTO.
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do CDC, presumir-se-ão verdadeiros os fatos que embasam o pedido. Precedentes. Recurso especial provido." (REsp 781.446/RN, Rel. Min. Sidnei Beneti, DJU 15.04.08).
"Sistema Financeiro da Habitação. Reajustamento das prestações. Inversão do ônus da prova. Custeio da perícia. Precedentes da Corte.
1. A necessidade da prova pericial afirmada pelo acórdão tem fundamento na medida em que se torna necessário aferir se está sendo cumprida a equivalência salarial, diante da afirmação da contestação de que vem sendo respeitada.
2. Na linha da jurisprudência da Corte, a inversão do ônus da prova, deferida nos termos do art. 6º, VIII, do Código de Defesa do Consumidor, não significa transferir para a parte ré o ônus do pagamento dos honorários do perito, embora deva arcar com as conseqüências de sua não-produção.
3. Recurso especial conhecido e provido, em parte." (REsp 651.632/BA, Rel. Min. Carlos Alberto Menezes Direito, DJ 25.06.07).
O fato de a autora, ora recorrida, ser beneficiária da assistência judiciária gratuita não modifica o desfecho do presente julgamento, pois, consoante já se decidiu, a inversão do ônus da prova não gera a obrigação de custear as despesas com a perícia.
Confira-se:
"Assistência judiciária gratuita. Inversão do ônus da prova. Perícia. Precedentes da Corte.
1. O benefício da assistência judiciária gratuita e a inversão do ônus da prova não são incompatíveis.
2. A simples inversão do ônus da prova, no sistema do Código de Defesa do Consumidor, não gera a obrigação de custear as despesas com a perícia, embora sofra a parte ré as conseqüências decorrentes de sua não-produção.
3. O deferimento da inversão do ônus da prova e da assistência judiciária, pelo princípio da ponderação, impõe que seja beneficiado o consumidor, com o que não cabe a orientação jurisprudencial sobre o custeio da prova pericial nos termos da Lei nº 1.060/50.
4. Recurso especial conhecido e provido." (REsp 639.534/MT, Rel. Ministro CARLOS ALBERTO MENEZES DIREITO, SEGUNDA SEÇÃO, julgado em 9.11.05, DJ 13.2.06, p. 659).
Ante o exposto, dou provimento ao recurso especial. É como voto.
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ERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA
Número Registro: 2008/0122086-2 REsp 1063639 / MS
Números Origem: 20080001422 20080001422000200
PAUTA: 14/10/2008 JULGADO: 14/10/2008
Relator
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA Subprocurador-Geral da República
Exmo. Sr. Dr. JOSÉ FLAUBERT MACHADO ARAÚJO Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EMPRESA ENERGÉTICA DE MATO GROSSO DO SUL S/A - ENERSUL ADVOGADO : LYCURGO LEITE NETO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DE CAMPO GRANDE - MANTENEDORA DO HOSPITAL DE CARDADE SANTA CASA
ADVOGADO : LEONARDO AVELINO DUARTE E OUTRO(S) ASSUNTO: Administrativo - Contrato - Fornecimento - Energia Elétrica - Consumo
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Após o voto do Sr. Ministro Castro Meira, dando provimento ao recurso, pediu vista dos autos, antecipadamente, o Sr. Ministro Herman Benjamin."
Aguardam os Srs. Ministros Humberto Martins, Mauro Campbell Marques e Eliana Calmon.
Brasília, 14 de outubro de 2008
VALÉRIA ALVIM DUSI Secretária
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RECURSO ESPECIAL Nº 1.063.639 - MS (2008/0122086-2)RELATOR : MINISTRO CASTRO MEIRA
RECORRENTE : EMPRESA ENERGÉTICA DE MATO GROSSO DO SUL S/A
- ENERSUL
ADVOGADO : LYCURGO LEITE NETO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DE CAMPO GRANDE -
MANTENEDORA DO HOSPITAL DE CARIDADE SANTA CASA
ADVOGADO : LEONARDO AVELINO DUARTE E OUTRO(S)
VOTO-VISTA
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. AÇÃO DE COBRANÇA. FORNECIMENTO DE ENERGIA ELÉTRICA. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. PRESUNÇÃO DE VERACIDADE DOS FATOS AFIRMADOS PELO CONSUMIDOR.
1. Cuidam os autos de ação de cobrança movida pela Empresa Energética de Mato Grosso do Sul contra a Associação Beneficente de Campo Grande, mantenedora do Hospital de Caridade Santa Casa.
2. Pacificou-se no Superior Tribunal de Justiça que a inversão do ônus da prova, apesar de não obrigar a concessionária a custear as despesas com a perícia requerida, gera a presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo consumidor.
3. Recurso Especial provido.
O EXMO. SR. MINISTRO HERMAN BENJAMIN: Cuidam os autos de ação de cobrança movida pela Empresa Energética de Mato Grosso do Sul S/A de valores referentes a consumo de energia elétrica (dos meses de novembro e dezembro de 2001, e dos anos de 2002, 2003 e 2004) da Associação Beneficente de Campo Grande, mantenedora do Hospital de Caridade Santa Casa.
Cinge-se a questão à responsabilidade pelo pagamento de perícia e à abrangência do instituto da inversão do ônus da prova em relação à prova técnica para apuração de efetivo consumo de energia elétrica
O eminente Ministro Castro Meira deu provimento ao Recurso Especial da concessionária de energia elétrica em voto que recebeu a seguinte ementa:
PROCESSUAL CIVIL. CONSUMIDOR. INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA. HONORÁRIOS DO PERITO. RESPONSABILIDADE.
1. A simples inversão do ônus da prova, no sistema de Defesa do Consumidor, não gera a obrigação de custear as despesas com a perícia, embora sofra a parte ré as conseqüências decorrentes da sua não produção.
Superior Tribunal de Justiça
(REsp 639.534/MT, Rel. Carlos Alberto Menezes Direito, DJU 13.02.6). Precedentes.
2. Recurso especial provido.
Com efeito, pacificou-se no Superior Tribunal de Justiça o entendimento de que a inversão do ônus da prova, apesar de não gerar a obrigação da concessionária de custear as despesas com a perícia requerida, gera a presunção de veracidade dos fatos afirmados pelo consumidor. Nesse sentido:
PROCESSUAL CIVIL – INVERSÃO DO ÔNUS DA PROVA – EXTENSÃO – HONORÁRIOS PERICIAIS – PAGAMENTO – PERÍCIA DETERMINADA DE OFÍCIO – AUTOR BENEFICIÁRIO DA JUSTIÇA GRATUITA.
1. Cinge-se a controvérsia em saber se a questão de inversão do ônus da prova acarreta a transferência ao réu do dever de antecipar as despesas que o autor não pôde suportar.
2. A inversão do ônus da prova, nos termos de precedentes desta Corte, não implica impor à parte contrária a responsabilidade de arcar com os custos da perícia solicitada pelo consumidor, mas meramente estabelecer que, do ponto de vista processual, o consumidor não tem o ônus de produzir essa prova.
3. No entanto, o posicionamento assente nesta Corte é no sentido de que a parte ré, neste caso, a concessionária, não está obrigada a
antecipar os honorários do perito, mas se não o fizer, presumir-se-ão verdadeiros os fatos afirmados pelo autor (REsp 466.604/RJ, Rel. Min. Ari
Pargendler e REsp 433.208/RJ, Min. José Delgado).
4. Por fim, prejudicado o pedido de antecipação de tutela, em vista da não-obrigatoriedade de pagamento, pela Concessionária, dos honorários periciais.
Agravo regimental parcialmente provido.
(AgRg no REsp 1042919/SP, Rel. Ministro HUMBERTO MARTINS, SEGUNDA TURMA, julgado em 05/03/2009, DJe 31/03/2009, grifei)
PROCESSUAL CIVIL E ADMINISTRATIVO. SISTEMA FINANCEIRO DE HABITAÇÃO. COBERTURA PELO FCVS. INVERSÃO
DO ÔNUS DA PROVA. ART. 6º, VIII, DA LEI 8.078/90.
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639.534, 2ª Seção, Min. Menezes Direito, DJ de 13.02.06). Precedentes das Turmas da 1ª e 2ª Seções.
2. Recurso especial provido.
(REsp 1073688/MT, Rel. Ministro TEORI ALBINO ZAVASCKI, PRIMEIRA TURMA, julgado em 12/05/2009, DJe 20/05/2009, grifei)
Diante do exposto, acompanho o voto do eminente relator para dar provimento ao Recurso Especial.
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CERTIDÃO DE JULGAMENTO SEGUNDA TURMA
Número Registro: 2008/0122086-2 REsp 1063639 / MS
Números Origem: 20080001422 20080001422000200
PAUTA: 01/10/2009 JULGADO: 01/10/2009
Relator
Exmo. Sr. Ministro CASTRO MEIRA Presidente da Sessão
Exmo. Sr. Ministro HUMBERTO MARTINS Subprocuradora-Geral da República
Exma. Sra. Dra. MARIA CAETANA CINTRA SANTOS Secretária
Bela. VALÉRIA ALVIM DUSI
AUTUAÇÃO
RECORRENTE : EMPRESA ENERGÉTICA DE MATO GROSSO DO SUL S/A - ENERSUL ADVOGADO : LYCURGO LEITE NETO E OUTRO(S)
RECORRIDO : ASSOCIAÇÃO BENEFICENTE DE CAMPO GRANDE - MANTENEDORA DO HOSPITAL DE CARDADE SANTA CASA
ADVOGADO : LEONARDO AVELINO DUARTE E OUTRO(S)
ASSUNTO: DIREITO DO CONSUMIDOR - Contratos de Consumo - Fornecimento de Energia Elétrica
CERTIDÃO
Certifico que a egrégia SEGUNDA TURMA, ao apreciar o processo em epígrafe na sessão realizada nesta data, proferiu a seguinte decisão:
"Prosseguindo-se no julgamento, após o voto-vista do Sr. Ministro Herman Benjamin, acompanhando o Sr. Ministro Castro Meira, a Turma, por unanimidade, deu provimento ao recurso, nos termos do voto do(a) Sr(a). Ministro(a)-Relator(a)."
Os Srs. Ministros Humberto Martins e Mauro Campbell Marques votaram com o Sr. Ministro Relator.
Ausente, justificadamente, a Sra. Ministra Eliana Calmon.