• Nenhum resultado encontrado

Portugal Social em Mudança. Portugal no contexto europeu em anos de crise

N/A
N/A
Protected

Academic year: 2021

Share "Portugal Social em Mudança. Portugal no contexto europeu em anos de crise"

Copied!
72
0
0

Texto

(1)

JOÃO FERRÃO

ANA DELICADO

COORDENAÇÃO

PORTUGAL NO CONTEXTO EUROPEU

EM ANOS DE CRISE

(2)
(3)

PORTUGAL NO CONTEXTO EUROPEU

EM ANOS DE CRISE

2015

(4)

PORTUGAL SOCIAL EM MUDANÇA

Ficha Técnica

Este é o primeiro número do Portugal Social em Mudança, uma

publicação regular do Instituto de Ciências Sociais da

Universi-dade de Lisboa (ICS-ULisboa) que tem por objetivo disponibilizar

informação sobre questões sociais numa ótica comparada e

longitudinal. Os vários temas selecionados procurarão situar

Portugal em contextos mais amplos, do ponto de vista tanto

geográfico como temporal, a partir de indicadores quer objetivos

(estatísticos) quer subjetivos (perceções, opiniões) relativos a

diferentes facetas da realidade social.

O Portugal Social em Mudança destina-se a um público não

especialista. A disponibilização de dados organizados, ilustrados

através de mapas e gráficos, analiticamente enquadrados e

critica-mente comentados é útil não só para decisores e técnicos de

diversas áreas profissionais, mas também para cidadãos

portugueses que desejam estar informados ou para estrangeiros

que procuram entender o nosso país mas que se confrontam com

a existência de informação dispersa e nem sempre de fácil acesso.

Esta publicação do ICS-ULisboa concretiza uma das suas

missões: a de disseminação de conhecimento junto de públicos

alargados, reforçando a ligação entre a universidade e a sociedade

e, por essa via, o impacte social das investigações realizadas. O

Instituto acolhe, aliás, diversos Observatórios cuja finalidade é

garantir, de forma continuada, que os resultados dos trabalhos

desenvolvidos possam ser utilizados para fins não académicos:

BQD

Barómetro da Qualidade da Democracia, OBSERVA

Observatório de Ambiente, Território e Sociedade, OFAP

Obser-vatório das Famílias e das Políticas de Família, OPJ

Obser-vatório Permanente da Juventude e IE

Instituto do

Envelhecimen-to. Eles constituem a fonte principal, embora não exclusiva, dos

conteúdos dos vários números do Portugal Social em Mudança.

Edição

Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa Av. Prof. Aníbal de Bettencourt, 9 1600-189 Lisboa-Portugal

Telef. 21 780 47 00 - Fax 21 794 02 74 www.ics.ulisboa.pt

Título

Portugal Social em Mudança Portugal no contexto europeu em anos de crise

Coordenação

João Ferrão e Ana Delicado

Revisão

Vasco Grácio

Conceção Gráfica

João Pedro Silva

Impressão e apoio de paginação

Guideline, Lda Fotografia Susana Paiva Depósito Legal 402090/15 ISBN 978-972-671-362-3 Tiragem 250 exemplares 1ª Edição, Dezembro 2015

(5)

7 9 19 31 47 67 59

PORTUGAL NO

CONTEXTO EUROPEU

EM ANOS DE CRISE

Introdução

DEMOCRACIA

Ekaterina Gorbunova

Edalina Sanches

Marina Costa Lobo

AMBIENTE

João Guerra

José Gomes Ferreira

Luísa Schmidt

FAMÍLIAS

Karin Wall

Vanessa Cunha

Leonor Rodrigues

Rita Correia

JUVENTUDE

Jussara Rowland

Maria Manuel Vieira

CONFIANÇA

Ana Delicado

Alice Ramos

José Gomes Ferreira

João Guerra

Jussara Rowland

(6)
(7)

Introdução

PORTUGAL NO

CONTEXTO EUROPEU

EM ANOS DE CRISE

«Portugal no contexto europeu em anos de crise» foi o tema

escolhi-do para o presente Portugal Social em Mudança. A integração, em

1986, de Portugal na então Comunidade Europeia tornou inevitável a

comparação do nosso país com os restantes Estados-membros. A crise

financeira e económica iniciada em 2008, e as subsequentes políticas

de ajustamento baseadas em medidas de austeridade, renovaram a

necessidade de analisar e compreender a evolução de Portugal no

contexto europeu. Como nos posicionamos em relação a outros países

da União Europeia e da Europa em geral? Em que medida estamos a

convergir ou a divergir em relação à média comunitária? Qual o

impacto da crise nos resultados observados? Estas são as questões

básicas colocadas ao longo desta publicação em relação a diferentes

aspetos sociais.

Selecionaram-se para análise domínios relevantes para o futuro do

país, potencialmente sensíveis aos efeitos da atual crise e que traduzem

algumas das linhas de divulgação científica que têm vindo a ser

prosse-guidas no âmbito dos Observatórios: democracia, ambiente, família,

transições juvenis e confiança.

Os futuros números do Portugal Social em Mudança aprofundarão

alguns destes temas e incluirão novos aspetos, em função da relevância

social e política que tenham entretanto alcançado ou da existência de

nova informação. Independentemente dos conteúdos selecionados,

manter-se-ão a ótica comparada e longitudinal presente no atual

número e a ilustração através de mapas e de gráficos de leitura

intuiti-va por parte de não especialistas. Esperamos, assim, contribuir de

forma útil para todos os que pretendem conhecer melhor o Portugal

social neste primeiro quartel do século XXI.

7 Nota: os dados do Eurostat e do Eurobarómetro dizem respeito a países da União Europeia (UE).

Os dados do European Social Survey e do International Social Survey Programme referem-se aos países europeus participantes, que podem, ou não, ser membros da UE; nestes casos, os valores relativos a Portugal não incluem as Regiões Autónomas.

(8)
(9)

A SATISFAÇÃO COM A DEMOCRACIA

Ekaterina Gorbunova, Edalina Sanches, Marina Costa Lobo

PORTUGAL NO

CONTEXTO EUROPEU

EM ANOS DE CRISE

1

Esta secção pretende fornecer um breve retrato do estado da

democra-cia em Portugal, situando-a no contexto europeu. As perceções dos

cidadãos sobre a democracia são o foco desta secção e serão analisadas

numa perspetiva comparada e longitudinal.

A qualidade da democracia assumiu uma crescente centralidade nas sociedades de hoje e ocupa um lugar de destaque na academia e na agenda pública. Especialmente desde o início da terceira vaga de democratização (1974), um conjunto significativo de projetos internacio-nais, tem analisado a «saúde» das democracias numa perspetiva global, através da monitoriza-ção das perceções dos cidadãos sobre o funcionamento da democracia nos seus países e da avaliação das várias dimensões dos regimes democráticos.

Estudos recentes sobre as atitudes dos cidadãos europeus em relação à democracia indicam que estes mantêm níveis elevados de adesão aos valores e aos princípios democráticos, mas que estão cada vez mais insatisfeitos com o funcionamento da democracia. Este desencanta-mento poderá estar relacionado com diferenças entre as expectativas dos cidadãos e o desempenho democrático dos governos (Norris, 2011), mas também dever-se ao facto de os cidadãos possuírem diferentes entendimentos sobre o significado de democracia (Ceka e Magalhães, 2014; Ferrin e Kriesi, 2014). Por outro lado, a avaliação da qualidade da democra-cia por espedemocra-cialistas demonstra que, em termos agregados, a Europa apresenta níveis elevados de democraticidade, ainda que persistam diferenças importantes entre países: no norte da Europa estão as democracias com mais qualidade, enquanto no sul e no leste se situam as que enfrentam mais desafios.

Portugal é um dos países europeus com níveis de satisfação com a democracia mais baixos (Magalhães, 2009), um sentimento relativamente transversal aos grupos sociais. Em contra-partida, os valores pós-materialistas e as avaliações de curto prazo (nomeadamente, sobre o desempenho da economia e do governo) ganham terreno enquanto fatores explicativos da satisfação dos cidadãos com a democracia (Teixeira et al., 2014). De acordo com as avaliações de especialistas, a qualidade da democracia portuguesa registou recuos importantes

(10)

I

Satisfação com a democracia:

os cidadãos portugueses

no contexto europeu

A Figura 1.1 ilustra em que medida os cidadãos europeus estão satisfeitos com o funcionamento da democracia no seu país, com base numa escala em que 0 corresponde a «extremamente insatisfeito(a)» e 10 a «extremamente satisfeito(a)». Neste indicador, que capta o apoio específico ao regime democrático, os cidadãos residentes nos países do norte da Europa (Dinamarca, Noruega e Suécia) e também na Suíça destacam-se na medida em que têm os níveis mais elevados de satisfação. Seguem-se os cidadãos da Europa Ocidental (Holanda, Alemanha, Bélgica, Reino Unido e França, entre outros) e, por último, os da Europa do Sul, Central e de Leste, que são os mais críticos em relação ao funcio-namento da democracia nos seus países.

Portugal integra o grupo de países cujos cidadãos se revelam mais insatisfeitos, e esta é uma tendência que se tem vindo a agravar. Os dados da Figura 1.2 revelam que durante a última década a proporção de insatisfeitos aumentou significativamente. A situação em Portugal é concomitante com o agravamento da crise económica e financeira, que no curto prazo teve consequên-cias negativas na qualidade de vida dos cidadãos. Contudo, vale a pena salientar que mesmo antes da crise os níveis de satisfação com a democracia eram muito baixos (Pinto et al., 2012). A investigação em ciência política tem avançado com explica-ções tanto no âmbinto micro (cidadãos) como macro (países) para explicar a qualidade da democracia nas democracias avançadas europeias. Neste texto iremos apresentar alguns dados que remetem para três grandes hipóteses. Em primeiro lugar, a hipótese de que cidadãos de países com melhores índices de qualidade democrática estão mais satisfeitos com a democracia; em segundo lugar, a hipótese de que o grau de satisfação com a democracia está correlacionado com avaliações subjetivas e objetivas do desempenho do governo em áreas políticas fundamentais; e, finalmente, a hipótese de que a satisfação com a democracia é mais elevada em sociedades com melhores índices de desenvolvimento humano e maior acesso ao conhecimento. Fonte: European Social Survey, 6.ª vaga, 2012

Figura

1.2

Satisfação com o funcionamento

da democracia em Portugal (média)

2002 6,0 2004 2006 2008 2010 2012 Média ESS 4,1 3,5 3,9 4,6 3,4 4,2 5,0 4,0 3,0

Figura

1.1

Satisfação com o funcionamento

da democracia na Europa,

2012

(média)

Fonte: European Social Survey, 6.ª vaga, 2012-2013 PT ES CY FR BE NL DK NO FI IT DE CZ SI HU SK CH IE IS 0 400Km UK SE EE LT PL BG AL UA 10 <4,0 4,0 - 4,9 5,0 - 5,9 6,0 - 7,0 >7,0

(11)

II

Satisfação com a democracia

e a qualidade da democracia

dos países

A Figura 1.3 apresenta os valores do Economist Democracy

Index (EDI) sobre a qualidade da democracia na Europa em

2014. Este índice resulta de uma avaliação, por um painel de especialistas, da qualidade da democracia em cinco grandes áreas – processo eleitoral e pluralismo; liberdades cívicas; funcio-namento do governo; participação política; cultura política – numa escala de 0 a 10. Consoante o seu posicionamento no

ranking da revista The Economist, os países são agrupados nas

seguintes categorias: democracias plenas, democracias imperfei-tas, regimes híbridos e regimes autoritários.

Verifica-se que há uma variação importante nos países europeus que surgem classificados neste índice. Os países nórdicos registam os valores mais altos, mantendo a tendência de anos anteriores, enquanto os países da Europa Ocidental apresentam um declínio nas suas pontuações médias desde a primeira edição do EDI (2006). A queda acentuada dos níveis de participação política, os problemas quanto ao funcionamento do governo e as restrições às liberdades cívicas têm estado na origem do declínio da qualidade da democracia em algumas das democracias europeias mais consolidadas (por exemplo, a França). Para países como Portugal, mas também para Grécia, Itália, Espanha e Irlanda, estes fenómenos têm sido acompanha-dos pela crise económica e financeira na zona euro, que colocou grandes desafios tanto à soberania do Estado como à capacidade de responsabilização democrática por parte dos cidadãos aos governos destes países.

Na Europa de Leste – onde a idade média das democracias é mais baixa e onde existe um clima generalizado de insatisfação com a democracia – a qualidade da democracia tem vindo a recuar desde 2006. Hoje, a região não tem uma única «demo-cracia plena». Em alguns dos países mais desenvolvidos desta região, como a República Checa e a Eslovénia, a crescente instabilidade política tem contribuído para a queda da sua posição no ranking do EDI.

<6

6-8

>8

DEMOCRACIA COMPLETA DEMOCRACIA IMPERFEITA REGIME HÍBRIDO

Figura 1.4 A qualidade da democracia

em Portugal,

200

6

-2014

(média)

Fonte: Democracy Index 2014: Democracy and its discontents, The Economist Intelligence Unit

Fonte: Democracy Index 2006-2014, The Economist Intelligence Unit

Figura 1.3 A qualidade das democracias

europeias,

2014

(média)

2006

8,2

2008

8,1

2010

8,0

2011

7,8

2012

7,9

2013

7,7

2014

7,8

PT ES CY FR BE LU NL DK NO FI IT DE CZ AT SI HRHU SK CH IE IS 0 400Km UK SE EE LV LT PL EL BG TR MK ME AL BIH UA RO MDA RS DEMOCRACIA COMPLETA DEMOCRACIA IMPERFEITA 11 <6,0 6,0 - 6,9 7,0 - 7,9 8,0 - 9,5 >9,5

(12)

A satisfação com a democracia

em função dos seus resultados

III

Em Portugal, a crise económica e financeira coincidiu com uma quebra na avaliação por parte dos especialistas sobre a qualidade do regime (ver Figura 1.4). Nessa figura, apresentamos uma perspetiva longitudinal da evolução da qualidade da democracia em Portugal, segundo o índice da EDI. Verificamos que o país vem sendo avaliado como «democracia imperfeita» desde 2011, devido a recuos em matéria de funcionamento do governo, de participação política (em 2011) e de cultura política (desde 2013). Em 2013 o país registou a sua pontuação mais baixa de sempre. Note-se, no entanto, que a pontuação global melhorou desde a conclusão do programa de resgate financeiro em 2014.

Tendo em conta os valores deste índice, iremos agora correlacioná-lo com o nível de satisfação dos cidadãos com a democracia. Como demonstra a Figura 1. 5, existe uma correlação significativa entre a qualidade da democracia num país e o grau de satisfação dos cidadãos com o funcio-namento da democracia. Ou seja, os cidadãos europeus estão alinhados em larga medida com os especialistas na avaliação que fazem da qualidade do seu regime político. Mesmo assim, há casos de países – nomeadamente Espanha, Portugal, Itália e Eslovénia onde a satisfação com a democracia por parte dos cidadãos é substancialmente inferior quando comparada com a de países – como França, Estónia, Lituânia e República Checa – que foram classificados com valores muito próximos no ranking da EDI (em torno de 8 pontos numa escala de 0 a 10). Pelo contrário, Finlândia, Dinamarca e Suíça são países em que o nível de satisfação com a democracia é tendencialmente maior do que faria prever a qualidade destas democracias medida pelo mesmo índice. Existe pois uma forte associa-ção entre qualidade da democracia e a forma como os cidadãos a percecionam, mas existem países que fogem a esta regra. Portugal faz parte desses países, juntamente com outros que têm vivido uma grave crise económica, nomeadamente Espanha, Grécia e Itália, cujos cidadãos se revelam relativamente insatisfeitos com a democracia.

Desde 2011, Portugal tem vindo

a ser avaliado como «democracia

imperfeita». Em 2013 o país

registou a sua pontuação mais

baixa de sempre.

Sabendo que a democracia tem várias dimensões, que aspetos – princípios, processos ou resultados – terão um maior impacto na sua avaliação por parte dos cidadãos? Vários estudos sugerem que os cidadãos mais satisfeitos com os resultados da democra-cia em áreas políticas fundamentais estão mais satisfeitos com o seu funcionamento. Iremos pois brevemente abordar a segunda grande hipótese testada na bibliografia da especialidade, a saber, que a satisfação com a democracia é em parte explicada pelos seus resultados.

Propomos fazê-lo utilizando para o efeito dados recolhidos na sexta vaga do European Social Survey, que incluiu um módulo especial sobre significados da democracia que permite testar esta premissa. Neste módulo foi pedido aos cidadãos que avaliassem a importância de um conjunto de elementos para a definição de um regime como democrático e, de seguida, que avaliassem o desempenho dos seus países em relação a esses mesmos elementos. A figura 1.7 apresenta a média das avaliações dos cidadãos europeus nas quatro dimensões consideradas, numa escala de 0 (avaliação negativa) a 10 (avaliação positiva): direitos e liberdades (tribunais equitativos, proteção dos direitos das minorias e liberdade de imprensa), processo eleitoral (eleições livres e justas, opções programáticas claras dos partidos, partici-pação no debate político, responsabilização dos governos através de eleições e direito de oposição), controlo popular (justificação das decisões dos governos perante os cidadãos e os referendos) e justiça social (proteção contra a pobreza e redução das desigualdades).

Os resultados que se apresentam na Figura 1.7 demonstram que, na grande maioria dos países europeus, os elementos associados ao processo eleitoral e, logo depois, aos direitos e liberdades, são os que suscitam melhores avaliações por parte da população. Em contrapartida, os principais desafios das demo-cracias europeias parecem estar relacionados com o controlo popular e a justiça social. Com efeito, estas foram as dimensões da democracia que receberam as avaliações mais baixas na generalidade dos países.

(13)

CY CZ FR UK BE DE NL FL DKSENO CH LT EE IE IS UA AL BG SL PT IT ES HU SK PL CH DK NO SE FL NL BE UK IE DE IS FR CY SK HU PL EE ITPT AL UA BG SL ES LT CZ 4 5 6 7 8 3

Fonte: European Social Survey

, 6.ª vaga, 2012, www .europeansocialsurvey .org 1 2 3 4 5 6 7 4 5 6 7 8 3 0,700 0,750 0,800 0,850 0,900 0,950 AL UA BG PT HU CY CZ FR UK IE BE DE NL FL SE DK CH IS EE LT SK PL SL ES IT NO

Indice de Desenvolvimento Humano (UNDP)

4 5 6 7 8 3 0,00 5,00 10,00 15,00 20,00 25,00 30,00 UA SL BG AL PT IT HU PL EE FR UK IS BE DE NL FL DK SE CH NO CY ES CZ LTSK IE

Taxa de desemprego (Banco Mundial)

Fontes: Human Development R

eport 2014, www

.hdr

.undp.org/en;

European Social Survey

, 6ª vaga, 2012, www

.europeansocialsurvey

.org

Figura

1.5

Correlação entre a satisfação com a democracia

e a qualidade da democracia na Europa,

2012

(média)

Figura

e justiça social na Europa,

1.

6

Satisfação com a democracia

2012

(média)

Figura

1.7

A avaliação da democracia por parte dos cidadãos europeus,

2012

(média)

Figura

1.8

Satisfação com a democracia, de acordo com o Índice de

Desenvolvimento Humano e a Taxa de Desemprego na Europa,

2012

(média)

Fonte: European Social Survey (ESS), 6.ª vaga, 2012

.

Satisfação com a democracia

Satisfação com a democracia

Satisfação com a democracia Satisfação com a democracia

Índice da qualidade da democracia (Economist)

R2 = 0,87 R2 = 0,701 R2 = 0,582 R2 = 0,369 13 0 5 10 15 20 25 30 ESLOVÁQUIA (SK) CHIPRE (CY) FRANÇA (FR) ESPANHA (ES) HUNGRIA (HU) ESLOVÉNIA (SI) REPÚBLICA CHECA (CZ) PORTUGAL (PT) ESTÓNIA (EE) ALBÂNIA (AL) BULGÁRIA (BG) ITÁLIA (IT) LITUÂNIA (LT)

UCRÂNIA (UA) POLÓNIA (IS)BÉLGICA (BE)ISLÂNDIA (IS) REINO UNIDO (UK)

IRLANDA (IE)

ALEMANHA (DE)HOLANDA (NL) SUIÇA (CH) FINLÂNDIA (FI) DINAMARCA (DK) SUÉCIA (SE) NORUEGA (NO) 4 5 5 5 5 6 5 6 6 6 5 6 7 6 6 6 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 5 5 5 5 5 6 6 6 6 6 6 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 7 8 8 8 8 3 4 4 3 4 4 4 4 5 5 4 5 5 5 4 5 5 5 6 4 5 7 6 7 7 7 2 3 3 2 3 3 3 3 3 3 3 4 4 3 3 5 4 5 5 4 6 6 6 6 6 6 Direitos e liberdades Controlo popular Processo eleitoral Justiça Social

(14)

A satisfação com a democracia

e a modernização

IV

O processo eleitoral e os direitos

e liberdades são as dimensões

que suscitam melhor avaliação por

parte da população na grande

maioria dos países europeus.

O facto de a justiça social recolher as avaliações mais negativas é importante na medida em que dá conta de uma discrepância entre as expectativas democráticas dos cidadãos e o desempenho dos respetivos governos. A Figura 1.6 apresenta precisamente a correlação entre a avaliação que os cidadãos fazem de alguns elementos de justiça social (proteção contra a pobreza e redução das desigualdades) e a satisfação com a democracia. Verificamos que esta é uma correlação positiva e significativa. Em linha com contribuições recentes (Ceka e Magalhães 2014, Ferrin e Kriesi 2014), é possível afirmar que para o cidadão europeu a democracia não se resume apenas aos direitos e aos procedimentos democráticos liberais, já que inclui também uma componente de justiça social, o que implica a satisfação de necessidades básicas em matéria de saúde, emprego, educação, segurança social, entre outras.

Para ilustrarmos este ponto, escolhemos dois indicadores que fornecem uma aproximação ao nível de justiça social do país, a saber, o Índice de Desenvol-vimento Humano e a Taxa de Desemprego. Na Figura 1.8 apresentamos as correlações entre estes indicado-res, respetivamente, e a satisfação com a democracia, verificando-se em larga medida as relações esperadas.

Por último, analisemos as explicações segundo as quais o grau de satisfação com a democracia resulta de mudanças a longo prazo no acesso ao conhecimento, que aqui medimos pelo aumento dos níveis de escolaridade. Inúmeros estudos demonstram existir um forte impacto da educação nas atitudes relativamente à democracia, postulando que o desenvolvimento económico é acompanhado pelo aumento dos níveis de literacia, os quais, por sua vez, contribuem para o desenvolvimento das competências, dos conhe-cimentos e das capacidades cívicas dos cidadãos. É expectável que os cidadãos com maiores níveis de escolarização tendam a apresen-tar maior interesse e maior ativismo político. O que podemos esperar então das atitudes dos mais escolarizados relativamente à democracia? É o tema que iremos abordar nesta parte.

A Figura 1.9 revela que na Europa, segundo os dados do European Social Survey, o grau de escolaridade e a satisfação com o funcionamento da democracia estão positivamente correlaciona-dos entre si, isto é, os cidadãos de ensino superior tendem a avaliar a democracia do seu país mais positivamente do que os menos escolarizados. Estes resultados corroboram vários estudos que encontraram uma relação positiva entre o apoio específico dos cidadãos ao regime democrático e os seus níveis de escolaridade. Esta correlação positiva confirma-se mesmo quando utilizamos indicadores semelhantes mas medidos no âmbito do país. O Knowledge Economy Index (KEI), um índice elaborado pelo Banco Mundial, permite-nos uma aproximação, na medida em que reflete a capacidade de um país gerar, adotar e difundir o conhecimento e usá-lo de forma eficaz para o desenvolvimento económico. O KEI é composto por quatro pilares da economia do conhecimento: ambiente económico e quadro institucional; educação e recursos humanos; sistemas de inovação; e tecnologias de informação e de comunicação. Como revela a Figura 1.10, os cidadãos dos países que fazem uma aposta mais forte no papel do conhecimento – e, consequentemente, da educação, da inovação e das novas tecnolo-gias de informação e de comunicação – estão bastante mais satisfei-tos com o funcionamento da sua democracia.

(15)

Figura

1.9

Satisfação com a democracia, por nível de educação, na Europa 2012 (média)

nenhum, ensino primário ensino secundário ensino superior BULGÁRIA (BG) ESLOVÉNIA (SI) UCRÂNIA (UA) ITÁLIA (IT) ALBÂNIA (AL) ESPANHA (ES) HUNGRIA (HU) FRANÇA (FR) LITUÂNIA (LT) REPÚBLICA CHECA (CZ) ESTÓNIA (EE) REINO UNIDO (UK) IRLANDA (IE) POLÓNIA (PL) ESLOVÁQUIA (SK) BÉLGICA (BE) ISLÂNDIA (IS) ALEMANHA (DE) HOLANDA (NL) CHIPRE (CY) FINLÂNDIA (FI) SUÉCIA (SE) DINAMARCA (DK) NORUEGA (NO) SUIÇA (CH) 10 9 8 7 6 5

(16)

4 5 6 7 8 3

Fonte: Knowledge Economy Index (KEI) 2012 R

ankings, W

orld Bank,

www

.siteresources.worldbank.org; European Social Survey

, 6.ª vaga, 2012, www .europeansocialsurvey .org 1 2 3 4 5 6 7 AL UA BG SL PT IT ES CY PL SKCZHU LT EE IE UK BE IS DE NL FL SE NO CH DK

Indice de Economia do Conhecimento (Banco Mundial)

Figura

1.10

Satisfação com a democracia,

em função do Índice de Economia

do Conhecimento na Europa,

2012

(média)

Os cidadãos com ensino superior

tendem a avaliar a democracia

do seu país mais positivamente

do que os menos escolarizados.

Tendo em conta a associação evidente entre educa-ção, economia do conhecimento e satisfação com a democracia, como é que Portugal tem vindo a evoluir desse ponto de vista? Verificamos que no caso português, e do ponto de vista longitudinal, essa associação também se verifica. A Figura 1.11 apresenta dados de inquéritos à opinião pública recolhidos em 2004 e 2014, respetivamente. Em 2004, ainda antes da crise económica, mais de metade dos portugueses com ensino superior estavam muito ou razoavelmente satisfeitos com o funcionamento da democracia portuguesa (ao contrário de 43% dos inquiridos pertencentes aos grupos menos escolarizados). Dez anos mais tarde, em 2014, esta diferença tornou-se ainda mais acentuada: se entre os cidadãos mais escolarizados um terço estavam satisfeitos com a democracia no país, entre os grupos com níveis de ensino mais baixos este valor não ultrapassa os 29% (entre as pessoas com o ensino secundário) e os 13,5% (entre as pessoas que completaram o ensino básico).

Figura 1.11 Satisfação com a democracia

em função da escolaridade dos cidadãos

portugueses,

2004 e 2014

(%)

Muito / razoavelmente satisfeito Pouco / nada satisfeito

Fonte: Inquéritos «30 anos do 25 de Abril» e «40 anos do 25 de Abril», Instituto de Ciências Sociais – Universidade

de Lisboa, www.bqd.ics.ul.pt 44 56 43 57 56 44

2004

Nenhum, Ensino Primário Ensino Secundário Ensino Superior Nenhum, Ensino Primário Ensino Secundário Ensino Superior 13 87 29 71 33 67

2014

Satisfação com a democracia

R2 = 0,787

(17)

Conclusão

V

referências bibliográficas

Os resultados indicam que

cada vez mais os cidadãos

entendem a democracia em

função dos seus resultados.

Neste capítulo analisaram-se as perceções dos cidadãos portugueses sobre a democracia situando-as no contexto europeu. A análise efetuada indica que os portugueses permanecem entre os mais insatisfeitos da Europa, juntamente com outros cidadãos de países do sul e do leste da Europa. Este facto parece estar associa-do a condições específicas associa-dos países mas também associa-dos cidadãos. Com efeito, onde os índices de democraticida-de são mais elevados, os níveis democraticida-de democraticida-desenvolvimento humano mais altos e as taxas de desemprego mais baixas, os cidadãos tendem a apresentar-se mais satisfeitos com o funcionamento da democracia. Esta tendência é também maior entre os mais escolarizados.

No que diz respeito às perceções dos cidadãos, verifica-se, de um modo global, que estes estão mais satisfeitos com o desempenho do país no que se refere à qualidade das eleições e à garantia das liberdades cívicas do que quanto à sua capacidade de promover participa-ção e de reduzir as desigualdades sociais. Precisamente a justiça social é a dimensão mais mal avaliada pelos cidadãos europeus – principalmente os que residem no sul e no leste da Europa – e a que apresenta uma correla-ção mais forte com a satisfacorrela-ção com a democracia.

Ceka, B. e P.C. Magalhães. 2014. «The Meaning of Democracy and its Determinants». In How Europeans View and

Evaluate Democracy, org. H. Kriesi, no prelo.

Ferrin, M. e H. Kriesi. 2014. Europeans' Understandings and

Evaluations of Democracy: Topline Results from Round 6 of the European Social Survey. ESS Topline Results Series, 4.

www.europeansocialsurvey.org

Lobo, M.C., Jalali, C. e Silva, F.F. 2013. «A Responsividade Política em Portugal: Retrato de um processo de deterioração em curso», in Magalhães, P., Costa Pinto, A. e Sousa, L. (ed.), Qualidade da Democracia em Portugal, Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

Lobo, M.C. 2015. A Qualidade da Democracia em Portugal,

2014. Policy Brief 2014. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da

Universidade de Lisboa.

Magalhães, P.C. 2009. A Qualidade da Democracia em

Portugal: A Perspectiva dos Cidadãos. Lisboa: SEDES.

Magalhães, P.C., M.C. Lobo e E. Gorbunova. 2014.

Signicados e Avaliações da Democracia: As visões dos cidadãos e da classe política. Boletim «Atitudes Sociais dos Portugueses»

#3. Lisboa: Instituto de Ciências Sociais da Universidade de Lisboa.

Norris, P. 2011. Democratic Deficit: Critical citizens revisited. Cambridge: Cambridge University Press.

Pinto, A.C., P.C. Magalhães, L. de Sousa e E. Gorbunova. 2012. A Qualidade da Democracia em Portugal: A perspectiva dos

cidadãos. Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

Teixeira, C.P., E. Tsatsanis e A.M. Belchior. 2014. «Support for Democracy in Times of Crisis: Diffuse and Specific Regime Support in Portugal and Greece». South European Society and

Politics, 19, n.°4: 501-518.

(18)
(19)

João Guerra, José Gomes Ferreira, Luísa Schmidt

PORTUGAL NO

CONTEXTO EUROPEU

EM ANOS DE CRISE

2

O AMBIENTE EM

PORTUGAL E NA EUROPA

Nesta secção analisamos a evolução do investimento público em

ambiente e quais as principais preocupações dos cidadãos

relativamen-te a esrelativamen-te relativamen-tema, com enfoque no saneamento básico (águas e resíduos

urbanos) por ter sido o sector de melhor desempenho.

As políticas ambientais assumiram uma importância crescente ao longo das últimas décadas, sobretudo desde a adesão de Portugal à União Europeia em 1986. Contudo, a este “impulso externo” raramente correspondeu uma dinâmica interna capaz de acolher e implementar com sucesso e continuidade muitas destas medidas e políticas ambientais. Acresce que os ciclos políticos que se foram sucedendo tiveram, no caso português, uma influência determinante na maior ou menor relevância atribuída às questões ambientais, que se repercutiu na descontinui-dade das políticas definidas, no investimento que lhes foi atribuído e, consequentemente, na concretização das ações previstas.

Talvez por isso, os portugueses se distingam dos restantes cidadãos da UE pela maior ênfase atribuída aos problemas ambientais básicos, considerados de «primeira geração», ligados nomeadamente ao saneamento, em detrimento dos problemas designados de «segunda geração», como são os casos das alterações climáticas, dos recursos naturais e dos hábitos de consumo. Também no âmbito das práticas ambientais, estudos recentes demonstram que os portugueses são menos ativos do que a média dos cidadãos da UE, apenas se aproximando destes nos hábitos de separação de resíduos (Valente e Ferreira, 2014). Tal revela que ainda subsistirá em Portugal uma leitura algo elementar das crises globais, tardando a impor-se uma visão mais integrada dos problemas ambientais no sentido de uma maior sustentabilidade. A crise económica e a mudança de ciclo político na viragem da década (2011) vieram desviar atenções e investimentos das questões ambientais, fragilizando as suas estruturas de gestão e desinvestindo até em questões-chave como a monitorização, a fiscalização e a informação ambientais. Como resultado, a já de si precária confiança dos cidadãos face ao Estado em matéria ambiental foi afetada, retomando-se uma apreensão até sobre temas que se julgavam resolvidos ou em vias de resolução como, por exemplo, a contaminação dos rios nacionais.

(20)

I

Investimento público

em ambiente

Uma das dimensões que ajuda a compreender a relevância política assumida pelo ambiente ao longo dos últimos anos é o investimento público global que o Estado lhe tem conferido em termos absolutos e relativos à média europeia. Vejamos, pois, a evolução da despesa pública global, tanto em função do seu peso percentual face ao PIB, como em função do seu valor per

capita. Analisa-se em seguida a distribuição da despesa global em

ambiente por domínios-alvo de proteção ambiental.

Comparando a despesa pública per capita na proteção do ambiente nos 28 Estados-membros da União Europeia em 2013¹, verifica-se que a Holanda e o Luxemburgo se destacam com valores substancialmente mais elevados:

respetivamente, 517,9€ e 483,4€ de despesa ambiental per

capita. Um segundo grupo de países com valores acima da

média da UE28 inclui Dinamarca, Reino Unido, Itália, Malta, Finlândia, Bélgica e França. Já abaixo da média seguem-se Áustria, Suécia, Eslovénia, Alemanha, Chipre e Letónia, e também Portugal que ocupa o 16.º lugar com apenas 69€ per

capita, ficando acima de nove países do Leste e de Espanha

(Figura 2.1).

Os dados nacionais sobre a despesa ponderada com base no PIB per capita mostram uma flutuação entre 0,7% em 2000 e 0,6% em 2013, passando por alguns períodos em que essa percentagem não ultrapassou 0,5% (Figura 2.2). Por seu turno, ainda segundo a Figura 2.2, o total das despesas públicas em ambiente também regrediu. Os cortes iniciaram-se logo no arranque da década de 2000, seguindo-se a subidas pontuais que globalmente nunca recuperam os valores alcançados no ano 2000, proporcionados pela dinâmica particularmente favorável alcançada na segunda metade da década de 1990. Entre 2000 e 2013 o valor mínimo foi atingido em 2012, com apenas 1% do total das despesas públicas no ambiente.

¹ Os dados são maioritariamente de 2013. Porém, alguns países não apresentam valores para esse ano, optando-se por usar os existentes: Alemanha: 2010; Estónia, Itália e Holanda: 2011; Bélgica, Espanha, França, Letónia, Hungria, Malta, Áustria, Eslovénia, Finlândia e Reino Unido: 2012.

Figura

2.1

Despesa pública per capita em proteção

ambiental na União Europeia,

2013

(euros)

Fonte: Eurostat, 2015 <50 50 - 100 101 - 200 201 - 300 >300 PT ES CY FR BE LU NL DK FI IT DE CZ AT SI HRHU SK 0 400Km UK SE EE LV LT PL BG RO 20

(21)

Fonte: Pordata, 2014 e 2015 (* valor preliminar/provisório)

Em Portugal, entre 2000 e 2013,

o valor mínimo foi atingido em 2012,

com apenas 1% do total das

despesas públicas no ambiente.

Figura

2.2

Despesa pública em ambiente,

segundo a percentagem do PIB e do

total de despesas,

2000-2013

(%)

Temos assim que, em termos gerais, as despesas públicas em

ambiente decresceram em ambas as dimensões (percentagem do total de despesas e do PIB), com algumas oscilações positivas entre 2006 e 2009, e mais recentemente em 2013. Constata-se uma tendência para o desinvestimento público no ambiente, sobretudo quando comparado com os dados da segunda metade de 1990. Estes factos prendem-se com três tipos de fatores: i) opções resultantes das mudanças de ciclo político, leia-se mudanças governamentais – casos de 2001 e 2011 no sentido negativo, e de 2005-06 no sentido positivo; ii) alterações na configuração ministerial – caso da subida da percentagem no total das despesas em 2013 quando o Ministério do Ambiente se desligou do «megaministério» da Agricultura e que corresponde à altura em que se regista uma redução tanto na percentagem do PIB como no total da despesa; iii) efeitos da crise e medidas de austeridade que lhe estão associadas que implicaram cortes na despesa e no investimento na qualidade ambiental.

Quanto às despesas em ambiente em função do PIB (Figura 2.3), evidenciam-se algumas mudanças na posição relativa dos países europeus. A Holanda garante de novo o primeiro lugar (1,44%), seguindo-se Malta (1,38%) e, já a alguma distância, Bulgária, Reino Unido e Itália. No extremo oposto encontramos Espanha, Eslová-quia, Estónia, Croácia, Alemanha e Suécia. Portugal situa-se um pouco acima destes países (0,44%), apesar de tudo muito abaixo da média comunitária que se situa em 0,67%.

O esforço público na gestão ambiental dependerá assim da capacidade económica dos países, mas também de outros fatores.

MUDANÇAS DE CICLO POLÍTICO ALTERAÇÕES NA CONFIGURAÇÃO MINISTERIAL EFEITOS DA CRISE E AUSTERIDADE

Figura

2.3

Despesa com proteção ambiental

em face do PIB, na UE28,

2013

(%)

Fonte: Eurostat, 2015 0,0 0,4 0,8 1,2 1,6 2000 2013 % do PIB % total de despesas (*1,2) (*0,6) <0,35 0,35 - 0,50 0,51 - 0,65 0,66 - 0,80 >0,80 PT ES CY FR BE LU NL DK FI IT DE CZ AT SI HRHU SK 0 400Km UK SE EE LV LT PL BG RO 21

(22)

Fonte: Eurostat, 2015

Figura

2.4

Despesa na proteção ambiental por domínio,

em Portugal e na UE,

2001-2013

(milhões de euros)

Nalguns casos, a riqueza assim como as opções políticas

determinadas explicam um maior investimento (e.g., Holanda). Noutros casos, como acontece em alguns países da Europa de Leste, a recente atribuição de fundos europeus para a modernização ambiental pode ajudar a explicar a maior percentagem de PIB investido no ambien-te. Noutros casos ainda, como acontecerá em países mais ricos, o facto de já terem sido atingidas metas essenciais justifica a menor necessidade de investimento ambiental (e.g., Alemanha). O caso português, que não se enquadra em nenhuma destas tendências, evidencia um baixo peso da despesa pública na proteção ambiental comparativa-mente à média europeia.

No que respeita à distribuição da despesa corrente em proteção ambiental por diferentes domínios, na média comunitária, o crescimento tem sido quase ininterrupto, embora explicável, em grande parte, pelo efeito da adesão de mais 10 países à UE a partir de 2004. Por domínios, destacam-se os resíduos, cuja fatia no total das despesas do ambiente tem vindo a aumentar, desde 2005. Também em 2005, na rubrica «outros domínios» (que inclui a proteção de solos, o ruído, a biodiversidade e a paisagem) se verificou um aumento das despesas em 3124,71 milhões de euros relativamente ao ano anterior. Com valores menos expressivos, na proteção do ar e do clima registou um acréscimo nas despesas de 533,62 milhões de euros. Em Portugal, foi o setor dos resíduos que absorveu os principais montantes, registando mais de 52% do total de investimento em 2009, ano em que o volume total destas despesas foi o mais elevado desde 2001 (Figura 2.4). Com um peso igualmente considerável seguem-se as despesas no tratamento de águas residuais. Só depois surgem outras matérias, tais como a proteção de solos e de águas subter-râneas, o ruído, a biodiversidade e a paisagem. Já no que respeita aos problemas relacionados com o ar e com as alterações climáticas, as despesas públicas têm uma expres-são limitada e só ganham alguma relevância a partir de 2010, mas mesmo assim residual. Comparando com os dados da UE, vemos que em Portugal se quebra o crescimento continuado das despesas correntes em ambiente em 2009 (1000,64 milhões de euros), assistindo--se, a partir daí, a um decréscimo que perdura, não ultrapassando, em 2013, os 723,6 milhões de euros.

Na comparação entre Portugal e a UE

revela-se uma quebra assinável de

investimento português que contrasta

com a situação geral na UE.

No seu conjunto, os dados evidenciam uma prevalência dos problemas ambientais básicos (sobretudo resíduos e esgotos), tanto em Portugal como na média da União Europeia. Já no que respeita aos problemas de «segunda geração» (i.e., clima e biodiversidade), as despesas ganharam relevância no cômputo da União Europeia, mas têm uma expressão diminuta em Portugal. Em suma, na comparação entre Portugal e a UE revela-se uma quebra assinalável de investimento português que contrasta com a situação geral na UE, o que confirma que o país está aquém do desejável no que respeita ao investimento em políticas públicas de ambiente, designadamente para enfrentar os problemas de «segunda geração». Vejamos se tal desaceleração tem correspon-dência com os anseios e as preocupações dos portugueses e dos restantes europeus utilizando, para isso, os resultados de inquéri-tos representativos das opiniões públicas nacional e internacional.

2001 2013

União Europeia

Portugal

Protecção do ar e do clima

Águas residuais ResíduosOutros domínios

2001 2013 1000 600 400 200 0 800 0,00 10 000,00 20 000,00 30 000,00 40 000,00 50 000,00 60 000,00 70 000,00 80 000,00 90 000,00 22

(23)

II

Preocupação pública

com o ambiente

Através de diversos inquéritos recentes aplicados às escalas europeia e internacional, verifica-se que, em geral, a preocupa-ção dos portugueses com o ambiente atinge valores bastante elevados. Por exemplo, no último inquérito sobre ambiente do International Social Survey Programme (ISSP – Ambiente III), aplicado em Portugal em 2012, 81,6% dos inquiridos declararam estar «preocupados» e/ou «muito preocupados» com o estado do ambiente, situação que confirma as tendências já verificadas em Eurobarómetros anteriores (Valente e Ferreira, 2014). Em termos comparativos, como podemos verificar na Figura 2.5, numa escala entre 1 e 5 (1. Nada preocupado e 5. Muito preocupado) os portugueses são dos inquiridos que mais se mostram preocupados com o ambiente, preocupação apenas superada pela dos eslovenos. Esta tendência, aliás, é acompanha-da de uma forma global ainacompanha-da que com um grau menos intenso, pelos inquiridos do Sul da Europa que demonstram níveis de preocupação superiores em relação aos seus congéneres do Norte (e.g., dinamarqueses, suecos e britânicos).

Relativamente à avaliação do desempenho nacional nas questões ambientais, com base nos valores médios das respostas em que (1) corresponde à ideia de que o respetivo país «tem feito muito pouco» e (2) corresponde a uma avaliação claramen-te positiva – o país claramen-tem feito mais do que o suficienclaramen-te –, os dados mostram que os inquiridos do Sul (em particular os portugueses) avaliam mais negativamente os respetivos desempenhos nacionais. Destacando-se aqui, com avaliações mais positivas, os holandeses, os alemães e os suecos (Figura 2.6). Por seu turno, analisando especificamente a avaliação que os portugueses fazem do desempenho geral do país quanto à gestão do ambiente, entre 2000 e 2012, os resultados evidenciam um acentuado e crescente sentido crítico.

Figura 2

.

6

Perceção do desempenho

ambiental do país,

2010

Fonte: ISSP, 2010-2012

Figura

2.5

Grau de preocupação relativamente

Mínimo. 1 (Muito pouco) . Máximo 3 (Mais do que o suficiente) Mínimo. 1 (Nada preocupado) . Máximo 5 (Muito preocupado)

3,0 ou menos 3,1 - 3,4 3,5 - 3,6 3,7 - 3,8 4,0 ou mais PT ES FR BE NL DK DE CZ AT SI HR SK 0 400Km UK SE LV LT BG 1,3 ou menos 1,4 - 1,5 1,6 - 1,7 1,8 - 1,9 2,0 ou mais PT ES FR BE NL DK IT DE CZ AT SI HR SK 0 400Km UK SE LV LT BG 23 Fonte: ISSP, 2010-2012

ao ambiente,

2010

(24)

Figura

2.7

Em geral, relativamente ao ambiente, pensa que Portugal está a fazer…,

2000 e 2012

Fonte: ISSP, 2000 e 2012

6%

39%

41%

14%

2%

32%

57%

9%

O SUFICIENTE MUITO POUCO 2000 2012 MAIS DO QUE O SUFICIENTE NÃO RESPONDE NÃO SABE

Figura

2.8

Problemas ambientais que mais preocupam os europeus e os portugueses,

2014

(%)

Fonte: Eurobarómetro 416, 2014 POLUIÇÃO DO AR

POLUIÇÃO DE MARES, RIOS, LAGOS E ÁGUAS SUBTERRÂNEAS IMPACTO NA SAÚDE DE PRODUTOS

QUÍMICOS DE USO DIÁRIO

ESGOTAMENTO DE RECURSOS NATURAIS AUMENTO DA QUANTIDADE DE LIXO

POLUIÇÃO AGRÍCOLA ESCASSEZ DE ÁGUA POTÁVEL REDUÇÃO OU EXTINÇÃO DE ESPÉCIES

OS NOSSOS HÁBITOS DE CONSUMO PROBLEMAS URBANOS

POLUIÇÃO SONORA OCUPAÇÃO DE TERRAS COM A CONSTRUÇÃO DE ESTRADAS OU CIDADES

DEGRADAÇÃO DOS SOLOS PROPAGAÇÃO DE ESPÉCIES INVASIVAS

OUTRA 66 51 26 48 36 22 48 14 15 14 12 8 17 6 1 56 50 43 43 36 29 27 26 24 23 15 15 13 11 2 UE28 PORTUGAL 24

(25)

III

Quanto à gestão do ambiente,

entre 2000 e 2012, os resultados

evidenciam um acentuado e

crescente sentido crítico.

Sucessos e insucessos da

política ambiental:

água e resíduos

Com efeito, de acordo com os dados do ISSP aplicados em momentos diferentes (Figura 2.7), o valor da categoria que considera que «o país está a fazer muito pouco pelo ambiente» sobe de 41% para 58%. A este crescimento do sentido crítico corresponde um decréscimo, também assinalável, da categoria que melhor avalia o desempenho nacional (i.e., «o país está a fazer mais do que o suficiente») e, o que também não é de somenos, uma subida da capacidade crítica dos cidadãos portugueses, cuja taxa de não resposta é inferior em 5%, em 2012. Os portugueses parecem progressivamente mais conscientes e mais exigentes em termos ambientais, assim como relativamente ao desempenho do país e dos seus responsáveis nesta matéria. Posição que é, aliás, consonante com a desconfiança também crescente nas atuais capacidade e eficácia da ação do Estado no que respeita à política e à qualidade ambientais (Guerra, Schmidt e Valente, 2015). Relativamente aos cinco problemas ambientais que, do seu ponto de vista, mais os afetam, os portugueses elegem, antes de mais, a poluição do ar (66%), que fazem acompanhar pela deficiente qualidade/poluição (51%) e disponibilidade da água (48%). A par destas preocupações surge o aumento da quantidade de lixo (48%) e, já a alguma distância, o esgotamento dos recursos naturais (36%). Dir-se-ia, portanto, que os problemas de «primeira geração» são ainda dominantes nas preocupações dos portugueses, enquan-to os seus congéneres europeus (pelo menos se globalmente auscultados) parecem assumir posições mais abrangentes. De acordo com os dados expostos na Figura 2.8, não deixando de valorizar o mesmo tipo de questões, os europeus inquiridos no Eurobarómetro atribuem maior impor-tância ao impacto na saúde dos químicos usados no consumo diário (43% contra 26% entre os inquiridos portugueses); à redução/extinção de espécies (26% contra 14%); aos hábitos de consumo (24% contra 15%), ou, ainda, aos problemas urbanos (23% contra 14%).

Em síntese, sendo ainda prematuro tirar conclusões quanto aos impactos da recente desaceleração do investimento no ambiente nas preocupações dos portugueses, o que para já podemos deduzir destes resultados é que o adiamento de soluções setoriais e a desfragmentação de alguns serviços públicos terão aumentado a desconfiança e o sentido crítico relativamente ao desempenho ambiental do país, com repercussões no aumento da preocu-pação com o ambiente e com a generalidade dos problemas ambientais, entre os quais se destacam, ainda, problemas de «primeira geração» que, do ponto de vista dos inquiridos, não estarão ainda resolvidos.

Como vimos, a inquietação com os problemas ambientais manifestada é atualmente muito elevada e agudiza-se entre os portugueses. Importa, pois, avaliar o modo como esta preocupação se repercute nas práticas quotidianas. Com esse objetivo analisamos duas áreas fundamentais que, como constatámos acima, corresponderam a um maior investimento público ao longo das últimas décadas: i) o abastecimen-to de água, a drenagem e o tratamenabastecimen-to de águas residuais e ii) a produção/reciclagem de resíduos. Quando considerados à escala da UE (Figura 2.9), os dados mostram que o abastecimento público de água atingiu valores confortáveis na generalidade dos países (com 100% na Holanda, em Espanha, em Chipre, na Hungria e em Malta), surgindo os países bálticos e, sobretudo, a Roménia como a grande exceção (61,9%). Pelo contrário, a cobertura por sistemas de drenagem de águas residuais está longe de estar resolvida em muitos países europeus (Figura 2.10), designadamente da Europa de Leste, com pior desem-penho em Chipre (29,8%), na Roménia (46,8%) e na Croácia (52,9%). Já em Portugal, o abastecimento de água às populações e o tratamento de RSU (Resíduos Sólidos Urbanos) são geralmente apontados como casos de sucesso das políticas de ambiente financiadas pelos fundos europeus. O mesmo acontece com a taxa de cobertura de esgotos e com o tratamento de águas residuais, verificando-se um aumento considerá-vel na década de 2000, na sequência do que já ocorria na década anterior com a aplicação dos fundos do II Quadro Comunitário de Apoio (1992-1999).

(26)

A Figura 2.11 é esclarecedora quanto a esta evolução: em 2000, o abastecimento público de água para consumo já cobria 90% da população, progredindo lentamente a partir daí, até alcançar uma taxa de cobertura que, atualmente, ultrapassa os 95% de população servida. A evolução da cobertura da drenagem e do tratamento de águas residuais tem sido mais lenta e encontra-se ainda longe da meta de 90% estabelecida na década de 1990. Mesmo assim, o aumento foi sensível: a drenagem passou de 69% em 2000 para uma cobertura de 81% em 2012, e o tratamento de águas residuais de 50% para 79% em 2012, melhorias estruturais que se traduziram numa redução das cargas poluentes descarregadas nas massas de água pelo setor urbano (APA, 2015). Adicionalmente, segundo a ERSAR (2015), em Portugal, a água hoje captada e distribuída, atinge um nível de qualidade superior a 98,2%. Refira-se no entanto que, apesar deste cenário francamente positivo, no que respeita à drenagem e ao tratamento de águas residuais, algumas intervenções tiveram uma implementação insuficiente com consequências na qualidade da água dos rios nacionais, o que levou o recente Plano Nacional da Água (APA, 2015) a concluir que cerca de 48% dos rios nacionais continuam poluídos. Os dados expostos na Figura 2.12 mostram que, se entre 2008 e 2010 a produção de RSU per capita em Portugal igualou ou superou a média comunitária, a partir de 2011 (quando os efeitos da crise adquiriram maior visibilidade em Portugal) se iniciou uma tendência de decréscimo que acompanhou a redução do poder de compra dos portugueses. Assim, em 2012 com menos 36 kg per capita e em 2013 com menos 41 kg per

capita, a produção de RSU em Portugal voltou a situar-se

claramente abaixo da média dos países da UE27.

Comparando os valores relativos a 2013 verificamos que as diferenças entre os vários países europeus são bastante expressi-vas, variando entre os 272 kg da Roménia e os 747 kg per capita da Dinamarca. No caso português, os 453 kg per capita situam-se abaixo da média europeia (481 kg). Assinale-se que o decresci-mento registado parece decorrer da austeridade imposta pela crise, com a consequente redução do poder de compra. Este é, aliás, um fator determinante também noutras paragens. Com efeito, são os países da Europa de Leste – que chegaram mais tarde à sociedade de consumo – que continuam a produzir menos RSU per capita (Figura 2.13).

Quanto à taxa de reciclagem de RSU (incluindo a composta-gem dos resíduos orgânicos), o desempenho nacional fica ainda muito aquém da média comunitária e, ainda mais, resultados de países como a Alemanha, a Áustria ou a Bélgica (v. Eurostat 2015).

Contudo, em termos evolutivos, como se verifica na Figura 2.14, apesar de algumas flutuações e do fosso entre os valores portugueses e a média europeia não ter regredido, a dinâmica tem sido positiva. Com efeito, passámos de 10,5% de taxa de reciclagem em 2000 para 25,8% em 2013. Valores que, tendo em conta o desnível que ainda separa os valores nacionais dos valores médios europeus, continuam a pecar por insuficiência.

Quanto à taxa de reciclagem de

resíduos urbanos, o desempenho

nacional fica ainda muito aquém da

média comunitária.

Fonte: Eurostat, 2015

Figura 2.9 População servida por abastecimento público

de água na UE,

2013

(%)

Figura

residuais na UE,

2.10

População servida por drenagem de águas

2013

(%)

Fonte: Eurostat, 2015

<85 85 - 89 90 - 94 95 - 99 100 PT ES CY FR BE LU NL DK FI DE CZ AT HRHU SK 0 400Km SE EE LT PL BG RO <70 70 - 79 80 - 89 90 - 99 100 PT ES CY FR BE LU NL DK FI IT DE CZ AT SI HRHU SK 0 400Km UK SE EE LV LT PL BG RO EL IE EL 26

(27)

2004

2005

2006

2007

2008

2009

2010

2011

2012

2013

Fonte: Pordata, 2015; ERSAR, 2013

Figura

2.11

Abastecimento de água, drenagem e tratamento de águas residuais urbanas em Portugal

(% da população servida),

2003-2012

(%)

2000

2000

2000

2012

2012

2012

95%

81%

79%

90%

69% 50% Abastecimento de água

Drenagem de águas residuais urbanas

Tratamento de águas residuais urbanas

UE27 Portugal

2000

2013

Portugal União Europeia 27

42,0%

25,8%

25,2%

10,5% 513 516 522 524 521 520 516 498 489 481 440 453 490 504 512 518 471 465 452 445 Fonte: Eurostat, 2015

Figura

2.12

Produção de resíduos urbanos per capita em Portugal e na UE27,

2003-2012

(kg)

Figura

2.13

Produção de resíduos urbanos Kg per capita em

Portugal e na UE,

2013

Fonte: Eurostat, 2015

Fonte: Eurostat, 2015

Figura

2.14

Taxa de reciclagem em Portugal

e na UE27,

2000-2013

(%)

PT ES CY FR BE LU NL DK FI IT DE CZ AT SI HRHU SK 0 400Km UK SE EE LV LT PL BG RO EL IE 400 - 499 270 - 399 27 500 - 599 600 - 747

(28)

Fonte: EB51.1 (1999), EB68.2 (2008), EB 75.2 (2011), EB81.3 (2014)

Conclusão

IV

Figura

2.15

Prática de separação doméstica de

resíduos urbanos,

1999-2013

(% da população)

Portugal UE

40%

54%

66%

59%

1999 2008

A evolução positiva da reciclagem de RU, analisada anterior-mente, relaciona-se e até decorre da adesão dos portugueses às práticas de deposição seletiva, área em que o sucesso dos programas escolares – em boa parte patrocinados pelos municípios (Schmidt, Nave & Guerra, 2010) – é incontestável, pelo menos a julgar pelos dados presentes na Figura 2.15. Se, em 1999, vinte e dois pontos percentuais separavam a percentagem de portugueses que declarava práticas de recicla-gem da média europeia, em 2014 a diferença inverteu-se e o valor português é agora 4,6% superior à média europeia. Claro que o alargamento que entretanto aconteceu, com a entrada de mais 13 países com desempenhos e pontos de partida muito distintos, terá uma relevância que não se poderá desprezar nesta matéria, mas é inegável a evolução registada que, aliás, é confirmada pelos dados: a percentagem de portugueses que declara separar os resíduos subiu de 40% em 1999 para 71% em 2014.

Ao longo dos últimos 15 anos viveram-se períodos irregulares no que respeita aos investimentos no ambiente. Os ciclos políticos e os ciclos comunitários de fundos estruturais são os determinantes fundamentais para explicar estas oscilações nos programas e nas políticas ambientais. Podemos, contudo, constatar que as tendências mais recentes apontam para um desinvestimento a partir de 2011. A diminuição dos montantes reservados para as despesas de ambiente refletirá, talvez, mais os efeitos de opções políticas do que aqueles decorrentes da própria crise económica e financeira.

Tudo somado, e comparativamente com as médias europeias nestas questões do ambiente, estamos certamente aquém do desejável, seja no que se refere à despesa pública aplicada em proteção ambiental, seja no que se refere a práticas sociais instaladas, cujo incentivo público para a mudança recua, tarda, ou acontece de forma ziguezagueante.

Apesar disso, esta situação decorre à revelia do que parece corresponder aos anseios manifestados pela popula-ção portuguesa em diversos inquéritos, ao longo das últimas décadas. Quando analisamos os resultados, verificamos crescentes preocupação, interesse e vontade de obter mais e melhor informação sobre os problemas ambientais. O ambiente é uma preocupação que não abranda entre os portugueses, mesmo se as consequências da crise os pressionam em sentido contrário. Assim, para os portugue-ses, entre os problemas mais prementes nos últimos inquéritos, destacam-se a poluição do ar e a poluição da água. Apesar disso e fazendo jus ao que se disse anterior-mente, a falta de correspondência entre investimentos públicos e preocupações sociais é flagrante e as despesas com o ar e o clima mantêm níveis residuais, apesar da visibilidade que atingiram nos media e da pressão advinda das organizações de governança internacional e da própria União Europeia.

71%

2014

66,4%

60%

2011

66%

(29)

referências bibliográficas

O ambiente é uma preocupação

que não abranda entre os

portugueses, mesmo se as

consequências da crise os

pressionam em sentido contrário.

Já em relação à água tem havido um maior nivelamento entre investimentos públicos e preocupações manifestadas, seja quanto ao abastecimento, seja quanto à qualidade da água de consumo, seja ainda quanto ao tratamento das águas residuais, o investimento per capita cresceu paulatinamente, assim como cresceu a taxa de cobertura da população servida. Finalmente, a produção e a separação dos resíduos urbanos – refletindo, respetivamente, o consumo de bens/poder de compra e a consciência ambiental – têm sofrido uma evolução particularmente positiva que decorre de dois fenómenos aparentemente pouco imbricados. Por um lado, acompa-nham o reflexo da crise económico-financeira que implicou o repensar de consumos excessivos ou não excessivos, já que as dificuldades económicas nem sempre são boas conselheiras. Por outro lado, beneficiam de uma crescente consciencializa-ção ecológica que, entre os portugueses, há muito faz o seu percurso. Quer isto dizer que confluentemente e, desta feita, produzindo um resultado positivo, a redução do poder de compra potenciou a diminuição da produção de resíduos per

capita, enquanto o desenvolvimento social das últimas

décadas, bem como o investimento público anterior (por exemplo, na educação ambiental) possibilitou um maior empenho cívico e, consequentemente, um aumento da separação seletiva, assim como uma maior capacidade (e vontade) para intervir na coisa pública e para exigir mais e melhores políticas públicas ambientais.

APA (2015). Plano Nacional da Água. Lisboa: Agência Portuguesa do Ambiente. Acedido a 22 de setembro de 2015 em www.apambiente.pt

ERSAR. 2015. Qualidade da água para consumo humano

2013. Lisboa: Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e

Resíduos.

Ferreira, J. G., Schmidt, L., Jacobi, P. R. e Arteiro da Paz, M. G. 2014. «Água: percepções, valores e preocupações em perspectiva comparada». Recursos Hídricos 35 (2), 99-106.

Guerra, J., Schmidt, L. e Valente, S. 2015. «Dilemmas of sustainability in turbulent times». In Green European.

Environmental Behaviour and Attitudes in Europe in a Historical and Cross-Cultural Comparative Perspective, ed.

Audrone Telesiene e Matthias Gross. London: Routledge. Schmidt, L. e Delicado, A. 2014. Ambiente, Alterações

Climáticas, Alimentação e Energia. A Opinião dos Portugueses.

Lisboa: Imprensa de Ciências Sociais.

Valente, S. e Ferreira, J. G. 2014. «Ambiente: das preocupações às práticas». In Ambiente, Alterações

Climáticas, Alimentação e Energia. A Opinião dos Portugueses,

org. Luísa Schmidt.

(30)
(31)

Karin Wall, Vanessa Cunha, Leonor Rodrigues, Rita Coelho

PORTUGAL NO

CONTEXTO EUROPEU

EM ANOS DE CRISE

3

FAMÍLIAS EM

PORTUGAL E NA EUROPA

Neste capítulo procuram identificar-se algumas das principais mudanças

na vida familiar em Portugal ocorridas ao longo da última década e situar

o caso português no contexto europeu. A mudança no campo dos valores

e dos comportamentos familiares na sociedade portuguesa é complexa.

Existe um tempo longo de evolução, assente em movimentos de fundo que alteram progressivamente as dinâmicas familiares ao longo de várias décadas, e um tempo mais curto, caracterizado por épocas de mudança social acelerada que podem precipitar, consolidar ou inverter as tendências. É o caso, por exemplo, da recente crise económica que terá afetado, de forma visível e profunda, alguns elementos da paisagem da vida familiar.

No sentido de mapear estas mudanças, começa-se por analisar, desde o ano 2000 até hoje, os processos de transformação relativos à dimensão e aos tipos de família, à fecundidade, à conjugalidade e ao divórcio. Apresenta-se, em seguida, a evolução do risco de pobreza em diferentes tipos de família, procurando avaliar o impacto da crise e comparar o risco de pobre-za em famílias com crianças em Portugal e noutros países europeus. Por último, num olhar que incide sobre a organização interna da família, comparam-se as atitudes e os comporta-mentos, em 2002 e 2014, nos domínios da divisão do trabalho pago e da divisão das tarefas domésticas no casal. Interessa averiguar, através destes indicadores, até que ponto se está a desenvolver um modelo de família centrado numa divisão simétrica e igualitária de papéis, em que ambos os cônjuges contribuem para o rendimento da família e participam nas tarefas domésticas.

(32)

Famílias:

principais características

I

Dimensão das famílias

2000 2014 2,4 2,6 2,8 3,0 2,9 2,8 2,6

A análise dos agregados domésticos revela uma diminuição da dimensão média das famílias de 2,9 indivíduos em 2000 para 2,6 em 2014 (Figura 3.1). Este indicador tem evoluído de forma gradual e consistente, retratando as transformações que têm vindo a ocorrer na vida das famílias e nos modos de residência na sociedade portuguesa há várias décadas. São transformações em várias frentes que concorrem para a diminuição da dimensão média dos agregados: a crescente autonomia residencial de jovens e casais, que leva ao aumento dos jovens que vivem a solo e à diminuição das famílias complexas; o adiamento da parentalidade e a diminuição do número de filhos nas famílias, que se reflete no aumento dos casais sem filhos e na diminuição das famílias numerosas; mas também o envelhecimento da população aliado ao seu crescente isolamento, pois são os idosos que mais vivem sozinhos (Delgado e Wall, 2014). Mas para lá das tendências de fundo, quanto à dimensão média das famílias, importa pensar sobre o significado da quebra mais intensa, de 0,2 pontos percentuais, que ocorreu entre 2008 e 2011. Esta quebra poderá refletir uma acomodação por parte das famílias ao impacto da crise, por um lado acentuando tendências já existentes, como o adiamento e a diminuição da natalidade, e por outro intensificando os fluxos emigratórios. A comparação europeia revela que há uma relativa homoge-neidade do indicador (Figura 3.2). Em 2014, a dimensão média das famílias variava entre 2,0 na Alemanha e 2,7 em países como Chipre, a Eslováquia, a Irlanda, a Roménia, a Polónia e Malta. Apesar da evolução recente deste indicador na sociedade portuguesa, Portugal ainda integrava o grupo de países cuja dimensão média das famílias era mais elevada. No extremo oposto encontravam-se a Alemanha e os países nórdicos, com valores inferiores a 2,2. Curiosamente, alguns países onde as famílias são mais reduzidas – como a Suécia e a Finlândia, mas também a França e o Reino Unido – são, ao mesmo tempo, dos mais fecundos no contexto atual da UE28 (ver Figura 3.6),

Figura

3.1

Dimensão média das famílias

(agregado doméstico) em Portugal,

2000-2014

(%)

Figura

3.2

Dimensão média das famílias

(agregado doméstico) na Europa, 2014

Fonte: Pordata, a partir de dados do Eurostat e Institutos Nacionais de Estatística Fonte: Pordata/ INE, Projeções baseadas nos Censos 2001, 2011

PT ES FR BE LU NL DK FI IT CY DE CZ AT SI HU SK IE 2,0 - 2,1 2,2 - 2,3 2,4 - 2,5 2,6 - 2,8 0 400Km UK SE EE LV LT PL EL BG RO RS 32 HR

(33)

Fonte: Pordata/INE - Censos. Quebra de série em 2011

Em Portugal, entre 2000 e 2014

assistiu-se a uma diminuição da

dimensão média das famílias.

o que revela que não há, necessariamente, uma relação direta entre natalidade e dimensão da família. Nesses países serão, então, o peso significativo dos indivíduos que vivem sozinhos e a autonomia precoce dos jovens a explicar a reduzida dimensão das famílias.

A composição interna das famílias – com quem se reside – também muda significativamente ao longo da vida dos indivíduos, constituindo a infância o período da vida no qual a diversidade de modos de corresidir é menor (Delgado e Wall, 2014). Mesmo assim, importa conhecer com quem vivem as crianças e os jovens; e como evoluiu a distribuição desta população pelos diferentes tipos de família entre os dois últimos momentos censitários (Figura 3.3). Em 2011, a população residente até aos 19 anos vivia maiori-tariamente em famílias de casal com filhos (72%). Quanto às restantes crianças e jovens, 16% viviam em famílias complexas, 11% em famílias monoparentais e menos de 1% noutro tipo de agregado doméstico. Comparando com os dados de 2001, constata-se que a evolução foi no sentido do aumento de crianças e jovens a viver em famílias monoparentais, traduzido em 4 pontos percentuais, enquanto decresceram ligeiramente em outros tipos de família. Por conseguinte, tem vindo a aumentar o número de crianças e jovens que vivem apenas com a mãe ou com o pai e eventualmente com irmãos, o que reflete o crescimento dos divórcios e das separações (ver Figura 3.9), mas também a maior autonomia residencial destas famílias. Importa ainda sublinhar que, apesar da ligeira diminuição de crianças e de jovens a viverem em famílias de casais com filhos, dentro deste tipo de famílias tem vindo a aumentar a proporção das recompostas (Delgado e Wall, 2014), o que significa que há um número crescente de crianças e de jovens que vivem com um dos progenitores e um padrasto ou uma madrasta.

Tipos de família:

onde vivem as crianças e os jovens

Figura

3.3

População residente até aos

19

anos,

por tipo de famílias, em Portugal,

2001-2011

(%)

Fonte: OCDE Family Database Dados de 2009: França; Dados de 2010: Estónia, Finlândia, Letónia; 2011: restantes países

Figura

3.4

Famílias monoparentais com filhos

até aos

25

anos, na Europa,

2011

(%)

PT ES FR BE LU NL DK IT DE CZ CY AT SI HU SK IE 5,0 - 9,0 9,1 - 12,0 12,1 - 16,0 16,1 - 20,4 0 400Km UK EE LV LT PL EL BG RO FI 2011 2001

72,4

74,4

Monoparentais Complexas Outros agregados domésticos

11,2

6,7

15,6

17,7

0,8

1,2

Casal com filhos 33

Imagem

Figura 1.4 A qualidade da democracia em Portugal, 200 6 -2014  (média)
Figura 1.7 A avaliação da democracia por parte dos cidadãos europeus,  2012  (média)
Figura  1.9  Satisfação com a democracia, por nível de educação, na Europa 2012 (média)
Figura  1.10  Satisfação com a democracia,  em função do Índice de Economia do Conhecimento na Europa,  2012  (média)
+7

Referências

Documentos relacionados

A legislação destina-se a áreas periféricas das cidades e não dá atenção à cidade como um todo; no entanto, permite a definição da estrutura das novas áreas a edificar, tem

The paper investigates formal and informal sector workers’ dependence on digital and non-digital literacy sources and their attendant helpfulness in the process of retirement

Orava et al (2000) descrevem sua experiência na abordagem de 67 pacientes de fase tardia e dolorosa desta doença, com idade média de 19.6 anos, que incluiu remoção de

Since plant responses of experiment A mostly depended on interaction between three factors in analysis, we decided to analyse non-primed and primed plants separately, and two-way

Este trabalho apoia-se também num estudo empírico, baseado num questionário, dirigido aos agentes da oferta, responsáveis pelos empreendimentos de turismo de habitação e

In general, the results revealed that the partial replacement of MMA by EHA led to beneficial changes in curing parameters (there was a reduction of the peak

Altered stilbene disulfonate binding and the Diego (Dia) blood group antigen are associated with the human erythrocyte band 3 mutation Pro854 —&gt; Leu.. J Clin

As amostras foram coletadas em parcela experimental de lavoura de arroz irrigado localizada na Estação Experimental Terras Baixas (EETB) da Embrapa Clima Temperado, no município