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A mitigação do princípio da congruência e a Tutela Jurisdicional no Processo Civil Brasileiro

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UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA

FACULDADE DE DIREITO

PROGRAMA DE GRADUAÇÃO EM DIREITO

AMANDA MASCARENHAS SILVA

A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA E A TUTELA

JURISDICIONAL NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Salvador 2017

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AMANDA MASCARENHAS SILVA

A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA E A TUTELA

JURISDICIONAL NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Wilson Alves de Souza

Salvador 2017

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A MITIGAÇÃO DO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA E A TUTELA

JURISDICIONAL NO PROCESSO CIVIL BRASILEIRO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à Faculdade de Direito da Universidade Federal da Bahia como requisito parcial para obtenção do título de Bacharel em Direito.

Aprovada em 12 de setembro de 2017

Banca Examinadora

__________________________________________________________ Orientador: Prof. Wilson Alves de Souza

Professor da Universidade Federal da Bahia

Pós-doutor em Direito Processual Civil pela Universidade de Coimbra

__________________________________________________________ Examinador: Prof. Bruno César de Carvalho Coêlho

Professor da Universidade Federal da Bahia

Mestre em Políticas Sociais e Cidadania pela Universidade Católica do Salvador

__________________________________________________________ Examinador: Prof. Társis Silva de Cerqueira

Professor da Universidade Federal da Bahia

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A

Meu tio Roberto (in memoriam) e aos meus amados avós, Dete, José, Maria e Osvaldo, por me transmitirem os mais preciosos valores.

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AGRADECIMENTOS

Minha devoção a Deus, fonte de sabedoria, coragem e fé. “Deus é a minha força, Ele é tudo o que sempre preciso”.

Aos meus pais, Ana Maria e Antônio Marcos, pelo amor incondicional, dedicação e valores passados, por idealizarem seus, os meus sonhos.

À minha irmã Vanessa, pela ternura e cumplicidade fiel.

À minha família, tão amorosa e prestativa, especialmente aos meus amados avós Dete, José, Osvaldo e Maria, as joias mais valiosas que possuo; me sinto contemplada de vocês estarem comigo até aqui.

Agradeço aos amigos de Riachão, em especial, a Baby, Camila e Neylinha; como também àqueles que a faculdade me presenteou: Gabriel, Karol, Nara e Gabi, pela parceria, boas lembranças e cadernos digitados (em especial, ao meu amigo Gabriel, pela bondade em fornecer suas brilhantes anotações).

Além disso, registro meu muito obrigada a Dr. Marco Antonio Chaves da Silva, à Dra. Indira Damasceno e aos queridos e amados da 17ª Vara Criminal e 6ª Vara Cível da Justiça Federal e da Desenbahia; com quem estagiei, pelo acolhimento fraterno, ensinamentos imensuráveis e por serem exemplos de comprometimento e humildade nas funções que exercem.

Aos grandes educadores jacuipenses, pela motivação e encorajamento durante toda a caminhada. Orgulho das minhas raízes.

Por fim, agradeço ao estimado professor Wilson Alves de Souza, pela generosidade e dedicação. Me senti privilegiada em tê-lo como orientador.

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SILVA, Amanda Mascarenhas. A mitigação do princípio da congruência e a tutela

jurisdicional no processo civil brasileiro. 2017. 70 f. Monografia (Graduação em Direito) –

Faculdade de Direito, Universidade Federal da Bahia, Salvador, 2017.

RESUMO

“É possível a mitigação do princípio da congruência a fim de que se possa melhor garantir a efetividade da prestação da tutela jurisdicional, permitindo-se ao magistrado que decida a lide para além dos limites fixados na demanda?” A partir desse problema foi desenvolvido o presente trabalho, que tem por finalidade analisar o princípio da congruência, verificando as hipóteses de mitigação no âmbito do processo civil brasileiro, sobretudo quanto às consequências manifestadas em relação à tutela jurisdicional. Para tanto, inicialmente, cuidou de abordar os institutos bases do direito processual civil, quais sejam, a ação, a jurisdição e o processo, avançando também no exame dos aspectos gerais que envolve a relação processual, tais como a petição inicial, a defesa do réu e a sentença, concentrando-se nesta, a discussão acerca da importância da interpretação do comando decisório proferido pelo juiz. Procurou compreender o princípio da congruência em si, discorrendo sobre o seu conceito e o alcance de seus efeitos, entre eles, os vícios de incongruência das sentenças ultra petita, extra petita e citra

petita, apontando ainda, a influência e a correspondência de outros princípios em relação ao

tema. O trabalho objetiva, contudo, defender a real possibilidade de mitigação do princípio da congruência, considerando a influência do Estado Democrático de Direito e das novas perspectivas constitucionais para a atual conjuntura do processo civil, sob o fundamento de privilegiar o princípio do acesso à justiça. Ademais, explora determinadas hipóteses de exceções ao princípio da congruência, que podem ou não estar previstas em lei, cotejando-as com diversos posicionamentos doutrinários e jurisprudenciais, inferindo ao fim, que a mitigação pode melhor propiciar a plena efetividade da justiça.

Palavras-chave: Princípio da congruência. Pedido. Causa de pedir. Vinculação. Limites da

lide. Sentença. Ultra petita. Extra petita. Citra petita. Poderes do juiz. Mitigação. Hipóteses de exceções. Efetividade da tutela jurisdicional.

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SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ... 8

2 ASPECTOS GERAIS DO PROCESSO ... 10

2.1 PROCESSO, JURISDIÇÃO E AÇÃO ... 10

2.2 PETIÇÃO INICIAL ... 13 2.3 DEFESA DO RÉU ... 16 2.4 SENTENÇA ... 22 2.5 A INTERPRETAÇÃO DA SENTENÇA ... 27 3 PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA ... 29 3.1 CONCEITO ... 29

3.2 DEFEITOS DOS ATOS PROCESSUAIS E VÍCIOS DA SENTENÇA INCONGRUENTE ... 31

3.2.1 Sentença ultra petita ... 35

3.2.2 Sentença extra petita ... 36

3.2.3 Sentença citra petita ... 38

3.2.4 Sentenças incongruentes, recursos e ações rescisórias ... 41

3.3 O PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA E A INFLUÊNCIA DE OUTROS PRINCÍPIOS ... 42

4 MITIGAÇÃO AO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA ... 46

4.1 CONSIDERAÇÕES GERAIS ... 46

4.2 O ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO E AS NOVAS PERSPECTIVAS PROCESSUAIS ... 50

4.3 EXCEÇÕES AO PRINCÍPIO DA CONGRUÊNCIA ... 54

4.3.1 Investigação de paternidade e a concessão de alimentos... 54

4.3.2 Fixação dos alimentos além do valor do pedido ... 54

4.3.3 Ações possessórias ... 55

4.3.4 Benefícios previdenciários ... 57

4.3.5 Danos morais ... 61

5 CONCLUSÃO ... 65

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1 INTRODUÇÃO

O presente trabalho propõe-se a analisar o princípio da congruência, abordando as suas hipóteses de mitigação, sobretudo quanto às consequências manifestadas em relação à efetividade da tutela jurisdicional. Desse modo, serão discutidas as delineações conceituais do princípio da congruência, como também o alcance dos seus efeitos, a partir de uma compreensão detalhada da doutrina e jurisprudência especializadas no estudo do Direito Processual Civil no âmbito do ordenamento jurídico brasileiro.

Para melhor intelecção, serão discorridos os institutos bases do sistema processual civil, quais sejam, a jurisdição, a ação e o processo, adentrando-se ainda ao exame dos aspectos gerais que envolve a relação processual, tais como a petição inicial, a defesa do réu e a sentença, concentrando-se nesta, a discussão acerca da importância da interpretação do comando decisório proferido pelo juiz.

O processo civil brasileiro, sempre pautado pela segurança jurídica, vincula o magistrado aos pedidos das partes e, a partir desta imposição se extrai o princípio da congruência, tradicionalmente representado pelo brocardo latino “ne eat iudex ultra petita

partium”. As disposições dos artigos 141 e 492 do Código de Processo Civil de 2015

estabelecem que o juiz decida a lide nos limites propostos pelas partes, impedindo que se profira decisão de natureza diversa ao que foi postulado.

Dessa forma, o juiz deve se ater aos contornos fixados da demanda, sendo defeso julgar além dos pedidos (ultra petita), deixar de julgar algum pedido (citra petita) ou julgar pedido diverso do que foi postulado (extra petita), sob pena de sua decisão ser eivada dos vícios de congruência e consequentemente incorrer em nulidade. Diante da constatação de tais vícios serão discorridas as soluções capazes de resolver o problema da nulidade da sentença.

Indo além, verificar-se-á influência e correspondência de outros princípios em relação ao princípio da congruência, considerando principalmente o princípio dispositivo, do qual o princípio tema é corolário. O princípio dispositivo marca a instauração processual através da iniciativa da parte, ao mesmo tempo em que delimita o objeto da demanda (pretensão), por isso a sentença deve corresponder aos limites por ele definidos, preservando-se dos vícios de congruência.

Por conseguinte, o presente trabalho levanta o questionamento se cabe ao magistrado estender a concessão de determinado pedido ou mesmo outorgar pedido diverso, propondo-se, portanto, a discutir exceções ao princípio da congruência, nas oportunidades em que o juiz achar

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conveniente e ao mesmo tempo entender que existe outra solução mais adequada para a lide, ou então, por reconhecer direito específico a legitimar tal flexibilização.

A mitigação do princípio da congruência permite que magistrado infira acerca de questões que não precisam ser suscitadas pelas partes, de modo a romper com a ideia de silogismo judicial. Destarte, a sentença passa a guardar correlação com todos os elementos trazidos ao processo, importando desde os pequenos detalhes até mesmo aqueles que não foram alegados, entretanto, hábeis a influenciar a tomada de decisão pelo juiz da causa.

A instrumentalidade do processo juntamente com o princípio da economia processual passaram a ser relevantes dogmas, principalmente com o advento do Código de Processo Civil de 2015, que procurou estabelecer uma atuação mais dinâmica e diligente do magistrado, de forma a atenuar regras inflexíveis quanto à formalidade processual. Logo, o julgador atual deve adotar uma postura mais ativa e adaptável ao Estado Democrático de Direito, contribuindo para o acesso à justiça de forma justa, célere e efetiva.

Nesse contexto, o objetivo geral da pesquisa é analisar a efetividade da prestação da tutela jurisdicional nas lides processuais, fazendo uma ponderação entre os princípios da efetividade e da segurança jurídica, verificando assim, a possibilidade de o juiz exercer os seus poderes para além daqueles já atribuídos na legislação processual pátria, visto que, em tempos atuais, o direito é fortemente influenciado pelos princípios da proporcionalidade, da razoabilidade, do acesso à justiça e da dignidade da pessoa humana.

Destarte, pretende-se demonstrar a relevância de se alargar o poder de decisão do magistrado, visando a consequente efetividade da tutela jurisdicional. E é justamente esse o ponto que a pesquisa contempla, uma vez que, grande parte da doutrina e jurisprudência pátria já aceitam a mitigação do princípio da congruência, pois entendem que o excesso de formalismo acaba por dificultar o principal interesse da justiça, que é a entrega do direito para aquele que incontestavelmente o possua.

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2 ASPECTOS GERAIS DO PROCESSO

A essência do presente trabalho é analisar o princípio da congruência, abordando as hipóteses de mitigação no âmbito do processo civil brasileiro, sobretudo quanto aos efeitos manifestados em relação à tutela jurisdicional.

Por consequência, faz-se necessário discorrer acerca de conceitos introdutórios do sistema processual civil, compreendendo as suas instituições básicas, dentre as quais, o processo e os aspectos relevantes que o envolve.

2.1 PROCESSO, JURISDIÇÃO E AÇÃO

Compreender o direito processual civil brasileiro é entender, primeiramente, os seus institutos fundamentais, uma vez que tudo começa a partir deles. Além do mais, os conceitos de processo, jurisdição e ação não podem ser claramente elucidados se não forem interligados entre si. Nessa lógica, para assimilar outros conceitos e institutos, a exemplo dos princípios processuais, é substancial que se recorra a esses institutos básicos.1

Em breve síntese, o processo é a relação jurídica que tem por fim proporcionar a entrega da tutela jurisdicional, que é obtida através do exercício do direito de ação. Humberto Theodoro Júnior traz a seguinte definição: “Entre o pedido da parte e o provimento jurisdicional se impõe a prática de uma série de atos que formam o procedimento judicial (isto é, a forma de agir em juízo), e cujo conteúdo sistemático é o processo”.2

A principal característica do processo é servir de instrumento protetivo a determinado direito material. Assim, ao mesmo tempo em que direito processual e direito material são autônomos, eles são em si, indissociáveis. Nos dizeres de Fredie Didier Jr.:

Ao processo cabe a realização dos projetos do direito material, em uma relação de complementaridade que se assemelha àquela que se estabelece entre o engenheiro e arquiteto. O direito material sonha, projeta; ao direito processual cabe a concretização tão perfeita quanto possível deste sonho. A instrumentalidade do processo pauta-se na premissa de que o direito material coloca-se como valor que deve presidir a criação, a interpretação e a aplicação das regras processuais.3

1 DINAMARCO, Cândido Rangel; LOPES, Bruno Vasconcelos Carrilho. Teoria Geral do Novo Processo Civil.

2. ed. São Paulo: Malheiros, 2017, p. 48-49.

2 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. 1, p. 130.

3 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e

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Nesse limiar, deparam-se também o direito de ação e a jurisdição. O direito de ação surgiu quando o Estado passou a não mais permitir a autotutela e arrogou para si a responsabilidade de efetivar a composição das lides. Para esse intento, precisou garantir aos sujeitos a entrega da prestação jurisdicional, através da necessária organização da atividade administrativa da Justiça.

O direito de ação configura-se a partir do momento que o cidadão afirma ser titular de direito sobre determinado bem da vida e dirige-se ao Poder Judiciário para postular em juízo. É, portanto, o direito de exigir e obter a entrega da prestação jurisdicional do Estado, que será efetivada a partir de um conjunto de atos que formam o processo.4

Por conseguinte, a jurisdição é o poder-dever do Estado em efetivar a composição de litígios mediante aplicação do direito objetivo ao caso concreto. É a atividade pública que se realiza quando provocada pela parte, através de seus órgãos jurídicos. Por isso, o entendimento de que esses institutos são intimamente relacionados, porquanto “o direito à tutela jurisdicional é exercido mediante a propositura de ação”.5

Convém sublinhar que, durante muito tempo, pensadores como Chiovenda sustentaram que a jurisdição teria a função de atuar conforme a vontade da lei. Contudo, esse instituto adquiriu uma nova compreensão com o Estado Democrático de Direito, que procurou adequar o direito não apenas centrado na literalidade do preceito legal, mas privilegiando-se acima de tudo, a sua efetividade, através de uma série de garantias e direitos assegurados aos indivíduos. Sobre esse ponto, Humberto Theodoro Júnior ressalta que:

Esclareça-se que, na concepção atual de jurisdição, quando se cogita da realização da “vontade da lei” não se refere à simples reprodução da literalidade de algum enunciado legal, mas à implementação da norma jurídica, na qual se traduz o direito do caso concreto, cuja formulação pelo julgador haverá de levar sempre em conta a superioridade hierárquica das garantias constitucionais bem como a visão sistemática do ordenamento jurídico, os seus princípios gerais e os valores políticos e sociais que lhe são caros. Portanto, revelar e concretizar a “vontade da lei” é expressão que modernamente equivale a definir e realizar “o direito”, em sua inteireza.6

O direito de ação é doutrinariamente caracterizado como sendo público, subjetivo, abstrato e condicionado. Público porque é proposto perante o Estado e também por este

4 CINTRA, Antônio Carlos de Araújo. GRINOVER, Ada Pellegrini. DINAMARCO, Cândido Rangel. Teoria

geral do processo. 28. ed. São Paulo: Malheiros, 2012, p. 279.

5 MITIDIERO, Daniel; SARLET, Ingo Wolfgang; MARINONI, Luiz Guilherme. Curso de Direito Constitucional.

2ª.ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2013, p. 712.

6 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

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oportunizado e garantido7. Subjetivo, uma vez que exercido, espera-se correlata prestação, ou seja, que o Estado atue para efetivar a composição da lide. Abstrato, no sentido de independe do resultado final do processo, porque é exercido sem a necessidade de comprovação de existência do direito material, pois todos são titulares do direito de ação. Condicionado, em razão de haver a necessidade de serem preenchidas as condições da ação (legitimidade de partes e interesse de agir) e os pressupostos processuais para que se possa postular em juízo.

Importante destacar que o direito de ação foi consagrado ao patamar de direito fundamental, com previsão no art. 5º, inciso XXXV da Constituição Federal de 19888,

dispositivo que também legitima o relevante princípio da inafastabilidade da jurisdição. Nas palavras de Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero:

Na verdade, a realização do direito de acesso à justiça é indispensável à própria configuração de Estado, uma vez que não há como pensar em proibição da tutela privada e, assim, em Estado, sem se viabilizar a todos a possibilidade de efetivo acesso ao poder Judiciário.9

Ainda sobre esse tema, torna-se oportuno sobrelevar o posicionamento de Wilson Alves de Souza:

Sendo assim, toda vez que houvesse violação a direito ou garantia substancial, não fosse o acesso à justiça, esses direitos e garantias não teriam como ser exercidos. Por outras palavras, o acesso à justiça é, ao mesmo tempo, uma garantia e em si mesmo também um direito fundamental; mais do que isso, é o mais importante dos direitos fundamentais e uma garantia máxima, pelo menos quando houver violação a algum direito, porque havendo essa violação, todos os demais direitos fundamentais e os direitos em geral, ficam na dependência do acesso à justiça.10

Frisa-se ainda que não basta garantir o direito de ação, é preciso que o Estado entregue a tutela jurisdicional de forma razoavelmente célere, adequada e eficaz. Na percepção de Humberto Theodoro Júnior, o atual Estado Democrático de Direito trouxe a ideia de que o

7 Adverte-se, contudo, que a demanda arbitral representa uma exceção, uma vez que é proposta perante o juízo

arbitral, contudo, é direito público, já que o Estado a reconhece.

8 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: XXXV - a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito.

9 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo civil:

teoria do processo civil. 1. ed. São Paulo: Revista dos Tribunais, 2015, vol. 1, p. 217.

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processo precisa ser justo, necessitando estar em conformidade aos moldes constitucionais para assegurar o pleno acesso à justiça e proporcionar a efetividade da tutela àquele que detenha determinado direito11.

Destarte, o Código de Processo Civil brasileiro, através das formalidades e regras que prescreve, especifica requisitos a serem observados na formação da relação processual. À vista disso, em todo processo é imprescindível a execução de determinados atos procedimentais, dado que a sua finalidade precípua é obter a efetividade da prestação jurisdicional.

2.2 PETIÇÃO INICIAL

A materialização do exercício do direito de ação realiza-se com a propositura da petição inicial, é através dela que o autor provoca o Estado com o propósito de obter a prestação jurisdicional. Com o protocolo da petição inicial instaura-se o processo, portanto, este constitui-se no primeiro ato de formação da relação processual entre as partes (autor e réu) e o juiz. Nesconstitui-se sentido, dispõe o art. 312 do Código de Processo Civil12.

A petição inicial é um pressuposto processual de existência do processo, já que é o instrumento pelo qual o interessado expõe a sua pretensão ao delimitar os fatos constitutivos de seu direito perante o juízo; é, portanto, a mola propulsora para o desencadear da atividade jurisdicional do Estado-juiz.

Assim como os demais atos processuais, a peça inaugural deve observar determinados requisitos indicados no Código de Processo Civil, que, se não observados, ensejam o seu indeferimento, caso o vício não possa ser corrigido e, neste caso, o processo não avançará aos demais atos subsequentes nem alcançará a finalidade pretendida pelo autor.

O Código de Processo Civil de 2015 especifica nos arts. 31913 e 32014 os requisitos que a peça vestibular deverá indicar. Para os fins que se destina o presente trabalho, não há a

11 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. 1, p. 50-51.

12 Art. 312. Considera-se proposta a ação quando a petição inicial for protocolada, todavia, a propositura da ação

só produz quanto ao réu os efeitos mencionados no art. 240 depois que for validamente citado.

13 Art. 319. A petição inicial indicará: I - o juízo a que é dirigida; II - os nomes, os prenomes, o estado civil, a

existência de união estável, a profissão, o número de inscrição no Cadastro de Pessoas Físicas ou no Cadastro Nacional da Pessoa Jurídica, o endereço eletrônico, o domicílio e a residência do autor e do réu; III - o fato e os fundamentos jurídicos do pedido; IV - o pedido com as suas especificações; V - o valor da causa; VI - as provas com que o autor pretende demonstrar a verdade dos fatos alegados; VII - a opção do autor pela realização ou não de audiência de conciliação ou de mediação.

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necessidade de especificar todos os requisitos que devem constar na petição inicial, mas, se faz pertinente a análise acerca de alguns deles.

Portanto, considerando que a ação tem como elementos identificadores as partes, a causa de pedir e o pedido; a petição inicial, por ser a materialização do direito de ação, deverá esmiuçá-los. Nesse sentido, tornando semelhantes os conceitos de ação e de demanda, Fredie Didier Jr. entende que:

Como instrumento da demanda, a petição inicial deve revelá-la integralmente. Além do pedido e dos sujeitos, deve a petição inicial conter a exposição dos fatos e dos fundamentos jurídicos do pedido, que formam a denominada causa de pedir (art. 319, III, CPC). 15

O aludido autor ainda manifesta que:

Toda petição inicial deve conter ao menos um pedido, com suas especificações (art. 319, IV, CPC). Trata-se de requisito elementar do instrumento da demanda, pois não se pode falar, no plano lógico, de petição sem pedido. Petição sem pedido é petição inepta, a ensejar o seu indeferimento16.

Adentrando-se nos elementos objetivos constantes na petição inicial, convém abordar as suas especificidades. Em primeiro, a causa de pedir, que, constitui-se pelos fatos e fundamentos jurídicos formulados pelo autor na peça exordial. Ou seja, a pretensão do autor face ao réu deve apresentar esse elemento, principalmente, em razão de seu reflexo nos limites da sentença. Para Humberto Theodoro Jr.:

Todo direito subjetivo nasce de um fato, que deve coincidir com aquele que foi previsto, abstratamente, pela lei como o idôneo a gerar a faculdade de que o agente se mostra titular. Daí que, ao postular a prestação jurisdicional, o autor tem de indicar o direito subjetivo que pretende exercitar contra o réu e apontar o fato do qual ele provém. Incumbe-lhe, para tanto, descrever não só o fato material ocorrido como atribuir-lhe um nexo jurídico capaz de justificar o pedido constante da inicial.17

15 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e

processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 551.

16 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e

processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 555.

17 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

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O Código de Processo Civil, no art. 319, inciso III, adota a teoria da substanciação, segundo a qual o autor deve indicar o fato e fundamento jurídico que justificam a sua pretensão. Desse modo, a causa de pedir se subdivide em remota e próxima.

A causa de pedir remota equivale à origem do direito, composta pelos fatos que caracterizam a relação jurídica inicial entre o autor e o réu. Já a causa de pedir próxima, corresponde ao fundamento de direito que legitima pretensão do autor, é quando acontece a ruptura da relação jurídica entre autor e réu (causa de pedir remota). Para Fredie Didier Jr.:

Tem, assim, o autor de, em sua petição inicial, expor todo o quadro fático necessário à obtenção do efeito jurídico perseguido, bem como demonstrar como os fatos narrados autorizam a produção desse mesmo efeito (deverá o autor demonstrar a incidência da hipótese normativa no suporte fático concreto).18

Importante esclarecer, acerca da causa de pedir próxima, que o fundamento de direito não deve ser confundido com menção a enquadramento jurídico através de dispositivos normativos, pois não se exige a referência de texto legal como forma de assegurar o direito pretendido com a ação. Até mesmo a imprecisa alusão a dispositivo legal não é óbice para a apreciação da demanda pelo juiz, pois a este compete conhecer e dizer o direito.19

Quanto ao pedido, este corresponde à própria pretensão do autor, o resultado que se espera com a propositura da ação. Ademais, Antônio Adonias Bastos e Rodrigo Klippel referem que “o pedido corresponde à solução que o autor espera que o Judiciário proveja ao conflito de direito material que o enlaça ao réu. Possui importância sistemática ímpar pelo fato de que – o pedido – delimita a atividade jurisdicional”.20

O pedido classifica-se em imediato e mediato. O pedido imediato é o mesmo em todas as ações, é aquele sempre proposto face ao Estado, no qual se requer a entrega da prestação jurisdicional. O pedido mediato, por sua vez, representa o bem da vida pleiteado pelo autor e, diferentemente do pedido imediato, precisa estar indicado na petição inicial. O CPC estabelece

18 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e

processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 552.

19 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. 1, p. 768-769.

20 BASTOS, Antonio Adonias; KLIPPEL, Rodrigo. Manual de Direito Processual Civil. 4. ed. Salvador: Jus

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ainda outros tipos de pedidos, quais sejam: subsidiário21, alternativo22 e cumulativo23 (quanto a este último tipo, deverão ser observados requisitos de admissibilidade24).

Isto posto, verifica-se então a influência que o pedido exerce durante todo o curso processual, principalmente em relação à sentença, visto que o juiz deve ficar adstrito ao que foi postulado pelo autor, em respeito ao princípio da congruência. Observa-se, portanto, que o campo de decisão do magistrado fica delimitado à pretensão do autor e, por isso, é que são estabelecidos requisitos para o pedido, que precisa ser certo25 e determinado26, porém, a lei

autoriza hipóteses de pedido genérico27.

Ademais, o pedido deve ser concludente, ou seja, deve haver entre ele e a causa de pedir, uma coerência lógica, sob pena de inépcia28. Logo, a pretensão do autor deve ser satisfeita, quando diretamente conexa aos fatos narrados e aos fundamentos jurídicos expostos, dessa forma, a congruência também haverá de ser observada na petição inicial.

Por fim, “costuma-se dizer que a petição inicial é um projeto de sentença: contém aquilo que o demandante almeja ser o conteúdo da decisão que vier a acolher o seu pedido”.29 Revela-se, portanto, como ato processual de significativa importância, uma vez que, ao delimitar de forma precisa o objeto litigioso do processo, torna-se o parâmetro para uma defesa adequada pelo réu, além de contribuir para a efetividade da tutela jurisdicional.

2.3 DEFESA DO RÉU

21 Art. 326. É lícito formular mais de um pedido em ordem subsidiária, a fim de que o juiz conheça do posterior,

quando não acolher o anterior.

22 Art. 326. Omissis. Parágrafo único. É lícito formular mais de um pedido, alternativamente, para que o juiz

acolha um deles.

23 Art. 327. É lícita a cumulação, em um único processo, contra o mesmo réu, de vários pedidos, ainda que entre

eles não haja conexão.

24 § 1º São requisitos de admissibilidade da cumulação que: I - os pedidos sejam compatíveis entre si; II - seja

competente para conhecer deles o mesmo juízo;

III - seja adequado para todos os pedidos o tipo de procedimento.

25 Art. 322. O pedido deve ser certo. 26 Art. 324. O pedido deve ser determinado.

27 Art. 324. Omissis. § 1º É lícito, porém, formular pedido genérico: I - nas ações universais, se o autor não puder

individuar os bens demandados; II - quando não for possível determinar, desde logo, as consequências do ato ou do fato; III - quando a determinação do objeto ou do valor da condenação depender de ato que deva ser praticado pelo réu.

28 Art. 330. A petição inicial será indeferida quando: § 1o Considera-se inepta a petição inicial quando: III - da

narração dos fatos não decorrer logicamente a conclusão;

29 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e

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A defesa constitui-se em direito subjetivo conferido ao réu para rechaçar a tutela jurisdicional que pretende o autor. Assim como o direito de ação é garantido constitucionalmente, é também assegurado o direito de defesa, previsto no art. 5º, inciso LV da Constituição Federal de 198830, que o legitima “[...] não só em função dos princípios da ‘ampla defesa’ e do ‘contraditório’, mas também pelo próprio princípio da ‘isonomia’ e do ‘acesso à justiça’”.31

O réu adentra no processo através da citação32, que se faz indispensável para o exercício

do direito de defesa, bem como para a consequente continuidade dos demais atos processuais33.

Contudo, o CPC privilegia que, antes da resposta do réu, deve ser oportunizada uma tentativa de consenso entre as partes, através da audiência de conciliação e mediação34. Nesse sentido, o escólio de Luiz Guilherme Marinoni, Sérgio Cruz Arenhart e Daniel Mitidiero:

Diante disso, o novo CPC, ao invés de estimular uma cultura do litígio e da sua

heterocomposição, procura fomentar a cultura do diálogo e da sua autocomposição.

Isso porque, em vez de desenhar um procedimento em que a primeira participação do réu é uma participação litigiosa (oferecimento de defesa mediante contestação), engendrou um procedimento em que a sua primeira participação no processo é uma

participação voltada para o diálogo, na medida em que o réu é citado para

comparecer a uma audiência voltada para a conciliação (art. 334)”.35 (grifos dos

autores).

Na ocorrência ou não de audiência preliminar de conciliação e mediação, em sequência, é oportunizado ao réu apresentar a sua resposta e, nesse ponto, a garantia do contraditório pode propiciar o reconhecimento da procedência do pedido, a contestação e a reconvenção. No entanto, o demandado pode quedar-se omisso e não se pronunciar, o que dá ensejo aos efeitos da revelia. Cabe o breve exame de algumas dessas hipóteses de resposta do réu.

30 Art. 5º Todos são iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, garantindo-se aos brasileiros e aos

estrangeiros residentes no País a inviolabilidade do direito à vida, à liberdade, à igualdade, à segurança e à propriedade, nos termos seguintes: LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes.

31 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 329. 32 Art. 238. Citação é o ato pelo qual são convocados o réu, o executado ou o interessado para integrar a relação

processual. (Código de Processo Civil de 2015).

33 Art. 239. Para a validade do processo é indispensável a citação do réu ou do executado, ressalvadas as hipóteses

de indeferimento da petição inicial ou de improcedência liminar do pedido. (Código de Processo Civil de 2015).

34 Entretanto, há de observar, que, a audiência de conciliação e mediação não acontecerá se ambas as partes

manifestarem expressamente desinteresse na composição consensual e quando o direito material discutido não admitir autocomposição (Art. 334, § 4º do Código de Processo Civil de 2015).

35 MARINONI, Luiz Guilherme; ARENHART, Sérgio Cruz; MITIDIERO, Daniel. Novo curso de processo civil:

(18)

A contestação é materialização do direito de defesa, configurando-se no meio pelo qual o réu ataca a pretensão do autor e refuta a causa de pedir e pedido formulados na petição inicial. Cassio Scarpinella Bueno destaca que “a contestação pode e deve ser compreendida como a contraposição formal ao direito de ação tal qual exercido pelo autor e materializado na petição inicial”.36

Ao contestar, o réu deve expor os fatos (ônus da impugnação específica) que entende aptos a impedir o êxito processual do autor. Por isso, essa forma de defesa representa a antítese da petição inicial e, não diferente, também pode influir consideravelmente para o convencimento do juiz. Quanto ao conteúdo, na maioria das vezes, a contestação irá negar tudo aquilo que o autor aduziu (conteúdo de mérito) ou mesmo apontar vícios que maculam o processo (conteúdo processual). Cabe acrescentar que, em determinadas causas, é importante que o réu também apresente argumentos jurídicos.

Cassio Scarpinella Bueno afirma que:

A contestação é a forma mais ampla da defesa do réu; é, por excelência, o instante procedimental em que se espera que ele traga concomitantemente todas as alegações, de ordem processual e de ordem material, que possam ser significativas para convencer o magistrado a não prestar a tutela jurisdicional pretendida pelo autor [...].37

A defesa de mérito é pertinente à discussão do direito material e caracteriza-se pelo confronto à pretensão do autor. A defesa de mérito classifica-se como direta quando objetiva desconstituir os fatos alegados na petição inicial ou mesmo quando, reconhece a veracidade dos fatos, mas se propõe a rebater os efeitos jurídicos pleiteados pelo autor. A defesa de mérito é indireta quando o réu traz ao processo um fato novo, sendo esse impeditivo, modificativo ou extintivo do direito do autor.

Em relação à defesa de mérito direta, é dispensável a réplica, uma vez que o réu se limita em refutar a pretensão autoral, nesse caso, o ônus da prova é atribuído ao demandante quanto ao fato constitutivo que aponta na petição inicial. Quanto à defesa indireta, deve ser oportunizada a manifestação do autor, uma vez que o réu traz ao processo uma situação até então desconhecida e não abordada na petição inicial, por isso, o ônus da prova fica, em princípio, com a parte demandada.

36 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 328. 37 BUENO, Cassio Scarpinella. Manual de Direito Processual Civil. 3 ed. São Paulo: Saraiva, 2017, p. 329.

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A defesa processual (ou de rito) aponta os requisitos processuais que não foram observados na petição inicial, através das denominadas preliminares38, que devem ser alegadas antes da discussão do mérito da ação. Além de obstar a continuidade do processo até que se resolva o vício alegado, algumas preliminares podem até resultar na extinção do feito sem resolução do mérito, razão pela qual as defesas processuais se classificam em peremptórias e dilatórias.

A defesa processual peremptória visa a imediata extinção do processo sem resolução do mérito, já que o vício alegado não comporta correção. São exemplos: a coisa julgada, a litispendência, a inépcia da inicial, entre outras. Nas palavras de Humberto Theodoro Júnior, “Aqui, o vício do processo é tão profundo que o inutiliza como instrumento válido para obter a prestação jurisdicional”.39

Já as defesas processuais dilatórias provocam a paralização do curso processual, até que que os vícios apontados sejam corrigidos, portanto, haverá um prazo para que o defeito alegado seja reparado, o que ocasiona maior tempo de duração para o processo. São exemplos: incompetência do juízo, nulidade da citação, causas conexas, entre outras. Há que observar que, uma defesa dilatória pode vir a ser peremptória, se, acolhida pelo juiz, a parte não cumprir a diligência proposta a sanar o vício reclamado.

No tocante à contestação, o CPC no art. 33640, consagra o princípio da concentração da defesa, também conhecido como princípio da eventualidade, no qual preconiza que ao réu incumbe formular de uma só vez toda a matéria defensiva que entende cabível, evitando-se a preclusão, pois não existirá outro momento para aduzir novos fatos ou novas provas, contudo, existem exceções legais41. Assim, pela eventualidade, se um fundamento não convencer o magistrado, existe a chance de serem analisados os demais.

Acerca desse princípio, oportuno o entendimento de Daniel Amorim Assumpção Neves:

38 Art. 337. Incumbe ao réu, antes de discutir o mérito, alegar: I - inexistência ou nulidade da citação; II -

incompetência absoluta e relativa; III - incorreção do valor da causa; IV - inépcia da petição inicial; V - perempção; VI - litispendência; VII - coisa julgada; VIII - conexão; IX - incapacidade da parte, defeito de representação ou falta de autorização; X - convenção de arbitragem; XI - ausência de legitimidade ou de interesse processual; XII - falta de caução ou de outra prestação que a lei exige como preliminar; XIII - indevida concessão do benefício de gratuidade de justiça. (Código de Processo Civil de 2015).

39 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. 1, p. 802.

40 Art. 336. Incumbe ao réu alegar, na contestação, toda a matéria de defesa, expondo as razões de fato e de direito

com que impugna o pedido do autor e especificando as provas que pretende produzir. (Código de Processo Civil de 2015).

41 Art. 342. Depois da contestação, só é lícito ao réu deduzir novas alegações quando: I - relativas a direito ou a

fato superveniente; II - competir ao juiz conhecer delas de ofício; III - por expressa autorização legal, puderem ser formuladas em qualquer tempo e grau de jurisdição. (Código de Processo Civil de 2015).

(20)

A exigência de cumulação de todas as matérias de defesa na contestação faz com que o réu se veja obrigado a cumular defesas logicamente incompatíveis, por exemplo, no caso de alegar que não houve o dano alegado pelo autor mas que, na eventualidade de o juiz entender que houve o dano, não foi no valor apontado pelo autor, circunstância verificada com regularidade nos pedidos de condenação em dano moral. Certa incompatibilidade lógica é natural e admissível, mas o réu jamais poderá cumular matérias defensivas criando para cada uma delas diferentes situações fáticas, porque com isso em alguma das teses defensivas estará alterando a verdade dos fatos.42

É imputado também ao réu o ônus de impugnar especificadamente todos os fatos expostos na petição inicial, sob pena de presumir verdadeira a alegação do autor que não foi combatida; tal preceito encontra-se previsto no art. 341 do CPC43, sendo que comporta exceções. Além do autor, o réu deve apresentar sua pretensão de forma precisa e clara, isto é, a contestação deve ser estrita em relação ao conjunto proposto na peça exordial, em obediência ao ônus da impugnação especificada44.

Outro tipo de resposta do réu é a reconvenção45. A reconvenção consiste numa pretensão

do réu face ao autor na própria peça contestatória, nesse aspecto, o direito de ação será exercido de forma bilateral. Haverá no mesmo processo duas ações, a principal (formulada pelo autor) e a reconvenção (proposta pelo réu), entre elas deverá existir conexão, uma vez que serão decididas simultaneamente na mesma sentença.

Humberto Theodoro Júnior define que “ao contrário da contestação, que é simples resistência à pretensão do autor, a reconvenção é um contra-ataque, uma verdadeira ação ajuizada pelo réu (reconvinte) contra o autor (reconvindo), nos mesmos autos”46. Cabe esclarecer que é a reconvenção é uma faculdade, devendo ser utilizada diante da evidência de um direito material do réu em relação ao autor, além disso é possível o demandado somente reconvir e não contestar (art. 343, § 6º do CPC).

42 NEVES, Daniel Amorim Assumpção. Manual de Direito Processual Civil. 5. ed. Rio de Janeiro: Forense; São

Paulo: Método, 2013, p. 359-360.

43 Art. 341. Incumbe também ao réu manifestar-se precisamente sobre as alegações de fato constantes da petição

inicial, presumindo-se verdadeiras as não impugnadas, salvo se: I - não for admissível, a seu respeito, a confissão; II - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considerar da substância do ato; III - estiverem em contradição com a defesa, considerada em seu conjunto. Parágrafo único. O ônus da impugnação especificada dos fatos não se aplica ao defensor público, ao advogado dativo e ao curador especial.

44 DIDIER JR., Fredie. Curso de direito processual civil: introdução ao direito processual civil, parte geral e

processo de conhecimento. 17. ed. Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 652.

45 Art. 343. Na contestação, é lícito ao réu propor reconvenção para manifestar pretensão própria, conexa com a

ação principal ou com o fundamento da defesa.

46 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

(21)

Em relação à garantia de defesa, no que toca ao direito de contestação, pode ocorrer a situação jurídica da revelia47, que é a falta de contestação. Quando citado, o réu não está obrigado a responder a demanda, porém, se assim não o fizer, sofrerá, em regra, os efeitos da revelia. O principal efeito da revelia é que as alegações fáticas formuladas na petição inicial serão presumidas verdadeiras, contudo, o CPC elenca as hipóteses em que tal efeito não ocorrerá48.

Privilegiando os princípios do contraditório e da ampla defesa, o réu revel pode, a qualquer tempo, aparecer no processo e defender os seus direitos, tal disposição está prevista no art. 346, § único do CPC49. Contanto, o réu ingressa no processo na fase em que ele se

encontra, mas se o magistrado entender que os fatos ainda precisam ser elucidados, poderá determinar que o réu constitua suas provas.

Insta salientar que o direito de defesa evidencia a sua relevância, uma vez que, apresentada a contestação, o autor não pode desistir da ação sem o consentimento do réu50, pois, poderá ser esse o verdadeiro detentor do direito reclamado e assim, uma sentença de mérito lhe seria favorável. Toda essa conjuntura revela a influência preponderante dos preceitos constitucionais no direito processual.

Pelo exposto, ressalta-se ainda que, se o propósito do réu é alcançar o êxito processual face à pretensão do autor e obter para si a tutela jurisdicional reclamada, é fundamental que a sua manifestação atenda a todos os requisitos e princípios que envolvem a defesa. Nessa linha, oportuna a elucidação de Vallisney Souza Oliveira:

O grau de importância da contestação é também alto, porque pode aumentar a atividade cognitiva do juiz, com apresentação de questões prévias, de novos fatos ou de nova versão para os fatos ligados à causa de pedir. Desse modo, a congruência da sentença será tanto em relação ao pedido do autor quanto em relação à defesa processual e de mérito exposta na contestação.51

47 Art. 344. Se o réu não contestar a ação, será considerado revel e presumir-se-ão verdadeiras as alegações de

fato formuladas pelo autor.

48 Art. 345. A revelia não produz o efeito mencionado no art. 344 se: I - havendo pluralidade de réus, algum deles

contestar a ação; II - o litígio versar sobre direitos indisponíveis; III - a petição inicial não estiver acompanhada de instrumento que a lei considere indispensável à prova do ato; IV - as alegações de fato formuladas pelo autor forem inverossímeis ou estiverem em contradição com prova constante dos autos.

49 Art. 346. Omissis. Parágrafo único. O revel poderá intervir no processo em qualquer fase, recebendo-o no estado

em que se encontrar.

50 Art. 485. Omissis. §4o Oferecida a contestação, o autor não poderá, sem o consentimento do réu, desistir da ação. 51 OLIVEIRA, Vallisney de Souza. Nulidade da sentença e o princípio da congruência. São Paulo: Saraiva, 2004,

(22)

Destarte, assim como a petição inicial é considerada um “projeto de sentença”, a contestação também deve ser, já que essa pode influir de igual maneira para o convencimento do juiz e para o consequente triunfo processual do demandado.

2.4 SENTENÇA

De todos os pronunciamentos do magistrado52, incontestavelmente é a sentença53 que

detém maior relevância, uma vez que encerra a fase cognitiva do procedimento comum ou da execução, resolvendo ou não o direito posto em discussão. O objetivo precípuo do processo está na consecução da tutela jurisdicional e o seu desfecho se dá com a prolação da decisão final, materializada através da sentença, ato que põe termo a atividade do Estado-juiz.

A sentença então representa o resultado atingido depois de serem analisadas as pretensões do autor e do réu, assim, o magistrado deve decidir de acordo com a realidade exposta nos autos e deixa-se guiar pelo princípio da boa-fé54, a fim de seu veredito mostrar-se claro, preciso e indubitável. E para que possa produzir os efeitos previstos, esse ato processual precisa ser publicado, seja por prolação em audiência ou quando inserida nos autos ou sistema eletrônico; depois disso, o juiz só pode alterá-lo sob duas condições.

Nesse sentido, diz Humberto Theodoro Júnior:

A eficácia da sentença depende da reunião de condições intrínsecas e formais. Como ato de inteligência, a sentença contém um silogismo; daí a necessidade de ela resumir todo o processo, a partir da pretensão do autor, a defesa do réu, os fatos alegados e provados, o direito aplicável e a solução final dada à controvérsia.55

Doutrinariamente, a sentença é classificada em terminativa e definitiva. A sentença terminativa é aquela em que foram constatados vícios processuais impeditivos à análise do mérito, o que leva à imediata extinção do processo. Esse tipo de sentença atinge apenas questões

52 Art. 203. Os pronunciamentos do juiz consistirão em sentenças, decisões interlocutórias e despachos.

53 Art. 203. Omissis. § 1º Ressalvadas as disposições expressas dos procedimentos especiais, sentença é o

pronunciamento por meio do qual o juiz, com fundamento nos arts. 485 e 487, põe fim à fase cognitiva do procedimento comum, bem como extingue a execução

54 Art. 489. Omissis. § 3o A decisão judicial deve ser interpretada a partir da conjugação de todos os seus elementos

e em conformidade com o princípio da boa-fé.

55 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

(23)

processuais e deriva por diversas hipóteses (art. 485 do CPC56), além de poder ocorrer em diferentes fases processuais. Essa sentença faz coisa julgada formal, por isso é que há a possibilidade de propositura de uma outra ação.57 O supramencionado autor entende ainda que:

[...] para compor o litígio e realizar a prestação jurisdicional, a lei exige que a relação processual se estabeleça de modo a atender a determinados requisitos e certas condições, o juiz, antes de enfrentar o mérito da causa, terá de exercer juízo de admissibilidade do processo. Há ou pode haver em cada processo julgamento, portanto, sobre a demanda e as preliminares processuais que autorizam ou impedem a apreciação do mérito da causa.58

A sentença definitiva dispõe sobre o direito material discutido no processo, ou seja, resolve o mérito da causa, aplicando-se um dos casos previstos no art. 487 do CPC59. Nessa sentença há a extinção da própria relação de direito processual com a consequente resolução do litigio entre as partes, por isso, que diferentemente da sentença terminativa, a definitiva, uma vez transitada em julgado, opera a coisa julgada material, tornando o direito indiscutível. Nesse ponto, tem pertinência a seguinte ponderação de Athos Gusmão Carneiro:

[...] transitada uma sentença materialmente em julgado, não poderão mais as partes (ou seus sucessores) discutir ou reclamar, em processo posterior, quanto ao bem da

vida que a sentença atribuiu, ou denegou, a qualquer delas. Esta é a “eficácia vinculativa plena” característica da atividade jurisdicional, e que só a atividade jurisdicional produz.60 (grifos do autor)

Fredie Didier Jr., Paula Sarno Braga e Rafael Alexandria de Oliveira qualificam a sentença de mérito como uma norma jurídica individualizada, afirmando existir um universo

56 Art. 485. O juiz não resolverá o mérito quando: I - indeferir a petição inicial; II - o processo ficar parado durante

mais de 1 (um) ano por negligência das partes; III - por não promover os atos e as diligências que lhe incumbir, o autor abandonar a causa por mais de 30 (trinta) dias; IV - verificar a ausência de pressupostos de constituição e de desenvolvimento válido e regular do processo; V - reconhecer a existência de perempção, de litispendência ou de coisa julgada; VI - verificar ausência de legitimidade ou de interesse processual; VII - acolher a alegação de existência de convenção de arbitragem ou quando o juízo arbitral reconhecer sua competência; VIII - homologar a desistência da ação; IX - em caso de morte da parte, a ação for considerada intransmissível por disposição legal; e X - nos demais casos prescritos neste Código.

57 Art. 486. O pronunciamento judicial que não resolve o mérito não obsta a que a parte proponha de novo a ação. 58 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. 1, p. 1027.

59 Art. 487. Haverá resolução de mérito quando o juiz: I - acolher ou rejeitar o pedido formulado na ação ou na

reconvenção; II - decidir, de ofício ou a requerimento, sobre a ocorrência de decadência ou prescrição; III - homologar: a) o reconhecimento da procedência do pedido formulado na ação ou na reconvenção; b) a transação; c) a renúncia à pretensão formulada na ação ou na reconvenção.

60 CARNEIRO, Athos Gusmão. Jurisdição e competência: exposição didática; área do direito processual civil. 18.

(24)

de preceitos abstratos criados pelo Estado, que em algum momento serão selecionados entre si para regular um caso específico. Nesse sentido, apreende-se que a norma jurídica individualizada surge do contexto em que há uma norma abstrata apta a regular uma realidade de fato submetida ao crivo do Estado-juiz61.

Em compreensão semelhante, outros tantos autores afirmam que a sentença corresponde a um silogismo judicial, espécie de operação lógica que relaciona três elementos: a premissa maior (norma jurídica a ser aplicada em determinada circunstância), a premissa menor (a situação fática) e a conclusão (a norma concreta extraída da submissão da premissa menor à premissa maior). É, portanto, a subsunção de um quadro fático a uma norma jurídica, que resultará em um julgamento, ou seja, a própria sentença.62

Outrossim, há diversos entendimentos quanto à natureza jurídica da sentença, se seria um ato que apenas expressa o conteúdo da lei, através da inteligência do magistrado, ou um ato que, concomitantemente a essa perspicácia, também manifesta vontade. A maioria doutrinária (seguindo o posicionamento de Chiovenda, Carnelutti, etc.) definem a sentença como ato intelectivo materializado através de um “comando”, em que se faz presente a vontade do Estado. Compartilhando do entendimento majoritário, Humberto Theodoro Júnior infere que:

Funciona, em outras palavras, o juiz como o porta-voz da vontade concreta do ordenamento jurídico (direito objetivo lato sensu) perante o conflito de interesses retratado no processo. Proferindo a sentença, o Estado-juiz emite uma ordem, que Carnelutti chama de “comando”, e impregna a decisão do caráter de ato de vontade; vontade manifestada pelo julgador como órgão do Estado diante daquilo que a lei exprime.63

Importante observar que também existem processos que chegam ao fim através da pronúncia de outra decisão judicial, denominada de acórdão64. Esses casos são as ações de competência originária de um tribunal, nas quais a decisão é oriunda de um julgamento proferido por órgão colegiado. Diferentemente da sentença, o acórdão é formado pela compreensão de diferentes magistrados acerca de determinado litígio, contudo, ambas as decisões estabelecem condições comuns a serem observadas.

61 DIDIER JR., Fredie; BRAGA, Paula Sarno; OLIVEIRA, Rafael Alexandria de. Curso de direito processual

civil: teoria da prova, direito probatório, decisão, precedente, coisa julgada e tutela provisória. 10. ed. Salvador.

Salvador: Jus Podivm, 2015, p. 308-311.

62 DONIZETTI, Elpídio. Curso didático de direito processual civil. 19. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 609. 63 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. 1, p. 1056.

(25)

Conforme o art. 489 do CPC65, a sentença estrutura-se em um todo composto por três elementos, quais sejam: relatório, fundamentos e dispositivo. Imprescindível que estes se façam presentes na decisão judicial, uma vez que para a produção dos efeitos esperados, a sentença deve apresentá-los, sob pena de incorrer em nulidade. Importante a sucinta apreciação de cada um deles.

O relatório nada mais é do que a introdução da sentença, parte em que o juiz deve narrar de forma objetiva e cronológica o histórico processual, principalmente registrar os fatos mais relevantes. A importância do relatório se justifica pelo fato que, através dele, podem ser verificados por ambas as partes do litígio, quais foram os fundamentos e as provas que o magistrado levou em consideração no seu relato, de maneira a perceber o grau de significância atribuído a estas circunstâncias.66

A fundamentação é o elemento essencial da sentença, pois é imperioso que o juiz dê conhecimento ao direito que embasa a sua convicção, para então declarar a vontade da lei. Consequentemente, todos os fatos relevantes do processo devem estar justificados e, acerca deles, o magistrado deve fazer uma análise completa, pois não é concebível chegar-se a uma conclusão sem antes motivar de maneira precisa e adequada a realidade apresentada no processo.

O dever de fundamentação, já amplamente consolidado como princípio do direito processual civil brasileiro, além de vir regulado no art. 11 do CPC, constitui-se ainda em garantia assegurada pela Constituição Federal67. Isto posto, a ausência de motivação da sentença enseja, segundo a maioria doutrinária68, a nulidade do ato decisório. E como forma de rechaçar tal vício, o CPC prevê no art. 489, § 1º69, hipóteses em que as razões de decidir de um pronunciamento judicial não são expostas.

65 Art. 489. São elementos essenciais da sentença: I - o relatório, que conterá os nomes das partes, a identificação

do caso, com a suma do pedido e da contestação, e o registro das principais ocorrências havidas no andamento do processo; II - os fundamentos, em que o juiz analisará as questões de fato e de direito; III - o dispositivo, em que o juiz resolverá as questões principais que as partes lhe submeterem.

66 Registra-se que no âmbito das sentenças proferidas nos Juizados Especiais Cíveis, o relatório pode ser

dispensado (art. 38 da Lei n. 9099/95).

67 Art. 93. Omissis. IX - todos os julgamentos dos órgãos do Poder Judiciário serão públicos, e fundamentadas

todas as decisões, sob pena de nulidade, podendo a lei limitar a presença, em determinados atos, às próprias partes e a seus advogados, ou somente a estes, em casos nos quais a preservação do direito à intimidade do interessado no sigilo não prejudique o interesse público à informação;

68 Essa questão é polêmica, pois existe corrente doutrinária, cada vez mais crescente, posicionando-se no sentido

de que a fundamentação é elemento essencial para existência do ato. Seguindo esse posicionamento, Wilson Alves de Souza aborda esse ponto no seu livro “Sentença Civil Imotivada: caracterização da sentença civil imotivada no direito brasileiro”, precisamente no capítulo 4.

69 Art. 489. § 1o Não se considera fundamentada qualquer decisão judicial, seja ela interlocutória, sentença ou

acórdão, que: I - se limitar à indicação, à reprodução ou à paráfrase de ato normativo, sem explicar sua relação com a causa ou a questão decidida; II - empregar conceitos jurídicos indeterminados, sem explicar o motivo

(26)

Nessa lógica, a exigência de fundamentação é compreendida a partir de diferentes propósitos, principalmente, o de informar as partes os motivos determinantes para a formação da convicção do magistrado, o que lhes permite constatar se os seus fundamentos foram considerados e se a sentença guarda congruência com os limites da demanda. Portanto, uma boa fundamentação faz cumprir o papel do processo como instrumento de pacificação na composição dos litígios sociais. Nas palavras de Alexandre Freitas Câmara:

Exige-se, portanto, uma fundamentação verdadeira, suficiente para justificar a decisão, de modo a demonstrar que ela é constitucionalmente legítima. E daí se extrai a íntima ligação que há entre o princípio do contraditório e o da fundamentação das decisões. É que, sendo a decisão construída em contraditório, através da comparticipação de todos os sujeitos do processo, torna-se absolutamente fundamental que a decisão judicial comprove que o contraditório foi observado, com os argumentos deduzidos pelas partes e os suscitados de ofício pelo juiz, todos eles submetidos ao debate processual, tendo sido considerados na decisão.70 (grifos do

autor)

O dispositivo, último elemento estrutural da sentença, expressa-se em um comando, é a conclusão resultante da subsunção do fato à norma jurídica (fundamentação). O dispositivo deve guardar coerência com o relatório e os fundamentos formulados pelo magistrado, pois é aqui que se decide o mérito da ação, afirmando-se a procedência ou improcedência do pedido, o que permite aferir se a sentença ficou adstrita aos limites formulados na demanda ou se sobre ela incide algum vício.

Destaca-se ainda, a influência positiva do princípio da primazia do exame do mérito no CPC71, o qual preconiza que, sempre que possível, o juiz deve buscar soluções para sanar os vícios processuais, bem como saber aproveitar os atos procedimentais, a fim de viabilizar o exame do mérito, já que esse é o principal objetivo do processo. Então, como visto, o CPC prescreve uma postura mais ativa do magistrado, com o objetivo de propiciar uma decisão de mérito justa e efetiva.

concreto de sua incidência no caso; III - invocar motivos que se prestariam a justificar qualquer outra decisão; IV - não enfrentar todos os argumentos deduzidos no processo capazes de, em tese, infirmar a conclusão adotada pelo julgador; V - se limitar a invocar precedente ou enunciado de súmula, sem identificar seus fundamentos determinantes nem demonstrar que o caso sob julgamento se ajusta àqueles fundamentos; VI - deixar de seguir enunciado de súmula, jurisprudência ou precedente invocado pela parte, sem demonstrar a existência de distinção no caso em julgamento ou a superação do entendimento.

70 CÂMARA, Alexandre Freitas. O novo processo civil brasileiro. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2016, p. 277.

71 Art. 488. Desde que possível, o juiz resolverá o mérito sempre que a decisão for favorável à parte a quem

(27)

2.5 A INTERPRETAÇÃO DA SENTENÇA

A sentença corresponde à materialização do discurso do juiz, é o produto de sua interpretação. Tamanha é a responsabilidade em julgar, pois é fundamental a análise minuciosa de toda a relação processual. Ao magistrado incumbe “dizer o direito”, acolhendo ou rejeitando o pedido, não estando preso ao que foi argumentado pelas partes.

Wilson Alves de Souza relata que a interpretação é um dos grandes dilemas do direito, uma vez que a resolução dos conflitos processuais só é atingida através de uma compreensão adequada e atenta, sendo que a difícil tarefa de interpretar é ainda mais imperativa à figura do magistrado, pois está nas suas mãos o poder de decisão dos litígios processuais. Coadunando-se a esCoadunando-se entendimento, vislumbra-Coadunando-se que a efetividade do processo está intimamente relacionada aos liames de uma decisão que considera a essa questão72.

Ao proferir a sentença o juiz tem a difícil tarefa de fazer-se compreender, por isso a necessidade de que a decisão seja certa73, clara e justa. Outrossim, é preciso que a sentença seja interpretada sistematicamente, levando-se em consideração o relatório, a fundamentação e, não apenas o dispositivo. Por essa razão, esses elementos estruturais da sentença são necessários e devem ser coerentes entre si. Como observado por Humberto Theodoro Júnior:

[...] deve-se partir do princípio básico de que não é pela simples leitura de seu dispositivo e de seu sentido literal que se consegue extrair seu sentido e alcance. Se se trata de ato de vontade e inteligência, interpretá-lo exige ir além das palavras utilizadas, para alcançar efetivamente a vontade e a intenção do subscritor. E, para tanto, não pode ser enfocada como peça isolada, autônoma e completa. Fruto que é da dinâmica processual, seu teor só será bem compreendido se se buscar, antes de tudo, harmonizá-la com o objeto do processo e com as questões que a seu respeito as partes suscitaram na fase de postulação.74 (grifos do autor)

O pedido é o principal responsável por estabelecer os limites da demanda, uma vez que o réu vai manifestar-se em face do que pretende o autor e o juiz vai julgar em conformidade às postulações das partes. A relação de coerência que deve existir entre o pedido e a sentença é regra a ser observada, como forma de proteger a decisão de possíveis invalidades decorrentes de vícios de incongruência. Portanto, conforme ressaltado pelo supramencionado autor:

72 SOUZA, Wilson Alves de. Sentença Civil Imotivada: caracterização da sentença civil imotivada no direito

brasileiro. 2. ed. rev. e ampl. Salvador: Dois de Julho, 2012, p. 93-94.

73 Art. 492. Omissis. Parágrafo único. A decisão deve ser certa, ainda que resolva relação jurídica condicional. 74 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

(28)

O pedido formulado na inicial torna-se o objeto da prestação jurisdicional sobre o qual a sentença irá se operar. É ele, portanto, o mais seguro critério de interpretação da sentença, visto que esta é justamente a resposta do juiz ao pedido do autor, não podendo o provimento, por imposição legal, fixar aquém dele, nem ir além dele, sob pena de nulidade (art. 141 e 492).75 (grifos do autor)

Em suma, a legislação processual preconiza que é defeso ao juiz proferir decisão acerca de questões não suscitadas no processo, em respeito ao princípio da congruência, por isso a necessidade de observância, pelo julgador, dos arts. 14176 e 49277 do CPC. Todos esses

mandamentos se justificam pelo fato de a sentença consistir em ato que altera significativamente relações e fatos jurídicos, tornando definitivas as situações submetidas ao crivo do Poder Judiciário.

75 THEODORO JÚNIOR, Humberto. Curso de Direito Processual Civil: teoria geral do direito processual civil,

processo de conhecimento e procedimento comum. 57. ed. Rio de Janeiro: Forense, 2016, vol. 1, p. 1085.

76 Art. 141. O juiz decidirá o mérito nos limites propostos pelas partes, sendo-lhe vedado conhecer de questões

não suscitadas a cujo respeito a lei exige iniciativa da parte.

77 Art. 492. É vedado ao juiz proferir decisão de natureza diversa da pedida, bem como condenar a parte em

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