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DÓRIS
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MARRONI
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a »fã az!
Dissertação apresentada
como
requisito parcialà
obtenção do grau de Mestre.
Curso
deMestrado
em
Educação
-Programa
dePós-Graduação
- Centro de Ciênciasda
Educação
- Universidade Federal de Santa Catarina
Orientadora: Profí Dr. 'f Maristela Fantin
uN|vERs|DADE
FEDERAL
DE
sAN'rA
CATARINA
CENTRO
DE
cn7:Nc1As
DA EDUCAÇÃO
PROGRAMA
DE Pós-GRADUAÇÃO
CURSO
DE
MESTRADO
EM
EDUCAÇÃO
“VIDAS
EM
CONSTRUÇAO:
Tecendo
histórias,caminhos
e
(des)esperanças
de
adolescentescom
vivênciade
ruas
em
Florianópolis”Dissertação submetida ao Colegiado
do
Curso de
Mestradoem
Educação
do Centrode
Ciências daEducação
em
cumprimento
parcial para a obtenção
do
título de Mestreem
Educação.
APROVADO
PELA
COIVIISSÃO
EXAMINADORA
em
10/12/989%
\«.0«zu~1LLm} a.‹.c&`»\
Dra
nstel Fant (Orientadora)Dr. Jäé:
Assmann
U
W
574%
Dr%mis
T
esDr.
Reicalí
Matias Fleuri (Suplente)C/óëcëz
G/L»
7
Prof'. Edel Ern Coordenadora do Progromo de Pós-Groduoçõo em Educação CED/UFSC - Porioric 0464/GR/98 ,_¬
É
ag
t"' E/Fzmmópàrsámza
czzzzmmz, dezembro dz 1998.“__ \_ __ _ _ l kl _ _;
‹
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3
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À II _! ` _ 'à _ ___ _'___V_ _! _ ` _ ___ ›_¡__; *__ K KW
_ _. I __.`
Í
J; _¿_¬ __ N ‹ _ V _ _ __; _ V _ ___ /“___” L M: _” '_ ›_P I w _m___ _... _ T í 1*Aos
adolescentesque
fazem
parte destetrabalho.
Com
suas esperanças, desesperanças, encontros e desencantos,nos
desafiam
a
acreditar e continuarlutando para
que
as coisasnão
permaneçam
como
estão. .l
iv
AGRADECIIVIENTOS
À
memória
demeu
pai,Orlando
porme
ensinar a dignidadeem
todos seus atos, àmemória
de Bida, pelos anos deamor
e cuidados. Especialmente aminha
mãe
Therezinha, pela dignidade e carinho
fimdamentais
em
todos osmomentos
e porme
mostrar,com
sua incansável dedicação a educação, a importância de persistir.Rogério, a você que
em
todos estes anos esteve muito perto. Pela presença constante e carinhosa, pela forçaquando
a sensaçãode
impotência tentava se apossar demim
eprincipalmente por apostarmos juntos
num
projeto diferente para este país.Agradeço
à Maristela,minha
orientadora, pela capacidade ecompromisso
com
queacompanhou
este' trabalho, acreditando ser possível efetivamente contribuir para alterar aperspectiva das ações educativas
com
estes sujeitos.À
duas grandes amigas que, desde o início estiveram bastante perto e, principalmente nosúltimos
momentos,
o fato de contarcom
sua presença, efetivamente fez diferença: Solange e Patrícia, os cuidados, a leitura atenciosa e o incentivo foram fundamentais !Este trabalho
tem
o toque de vocês. Obrigada.À
Cecília,~Rosa, Joana,Ana
Baiana, Rosalba, Bahianinha, Adir, colegas conhecidosdurante o Mestrado e que passaram a fazer parte da
minha
vida.Nos
duvidosos eturbulentos
caminhos
da academia,conseguimos
dividir angústias, dúvidas,mas
principalmente amizade, esperança e conhecimentos.Aos
amigos
Xande
e Luis, pelo carinho e atenção. Lú, poder contar contigo para realizaro trabalho de designer da capa foi muito importante.
Aos
educadores e amigos Sandra,Vad,
Izide, Neto,Marisinha
que,com
suas práticas,criticidade e competência
me
mostram que
é possível fazer diferente e acreditarna
nossa capacidade de transformar.Aos
educadores
daCasa
da Liberdade -em
especial\Marcos -, por permitir o acesso acasa e principalmente por acreditarem
que
nosso trabalhopode
ser de outromodo.
Aos
professoresdo
Mestrado,em
especialReinaldo
M.
Fleuri e SelvinoAssmann,
que possibilitaram a construção de conhecimentos durante as aulas etambém
na
qualjficação.Aos
funcionários da Secretaria daPós-Graduação
em
Educação,em
especial Maurília,Luis e Glória pela atenção.
Ao
apoiodo
CNPQ,
que investiu nesta pesquisa, através de recursos públicos.SUMÁRIO
RESUMO
viiRIASSUNTO
INTRODUÇÃO
01CAPÍTULO
I - Escolhendo os Fios paraCompreender
aVida
: Pobreza, Exclusão ep
Infância
ç
'
17
_ 1. "Teoria da pobreza
ou
pobreza da teoria" 172. Considerações sobre Infância e Pobreza ~
27
3.
As
mediações para ser: Identidade, sujeito 33CAPÍTULO
II -Tecendo
os Fiosda
Vida:A
História Vivida e Contada39
1.
O
Começo
de tudo: a família40
1.1.
O
trabalho infantilcomo
estratégia de sobrevivência para as classespopulares
'
51
1.2. Violência : várias faces
57
2.
A
rua : os amigos, a droga e a solidariedade64
3.
As
instituições : os programas de atendimento e a escola _ 783.1.
O
programa
de atendimento e O trabalho : soluçãoou
_
exploração ? 81
3.2.
A
escola formal : entre as coisas da escola e as coisas da vida.87
5CAPÍTULO
III -Olhando
para aTrama
dos FiosCompreendendo
a Trajetona destesSujeitos
vi
1. Construindo sua identidade a-partir da experiencia da
ma
2.
A
adolescência3.
Amarrando
as histórias e buscandocompreender
a vidacoNsIDERAÇÕEs
FINAIS
2.1.
A
ruacomo
possibilidade2.1.1. Marisete 2.1.2. Sandra 2.2.
Em
trânsito 2.1.3. Beto 2.2.1. Bela 2.2.2. Nair 2.2.3. Shirley 2.3. Saindo da rua 2.3.1. Cristina 2.3.2. MichaelREFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
ANEXOS
RESUMO
Esta pesquisa busca compreender a trajetória de vida de alguns adolescentes
com
vivênciade
ruaem
Florianópolis. Para tanto, realizei pesquisa decampo
com
oitoadolescentes, de
maio
a outubro de 1997, procurandocompreender
como
construíram sua identidade.No
primeiromomento,
utilizo as referências de pobreza, exclusão e infânciacom
o intuito decompreender
a vida desses sujeitos.A
seguir, busco a singularidade dosespaços,
nas
históriascom
a familia, a rua, o trabalho e as instituições de atendimento. Estas experiências,com
suas contradições, rupturas,fizeram
com
que
eles sediferenciassem dos
modelos
de criançaou
adolescentes considerados normais para os padrõeshegemônicos
de comportamento.No
terceiromomento,
relaciono pobreza, exclusão e histórias de vida. Este percurso apontou o fato de coexistirem diferentes formas de viver e agir, nas quais três grupos de adolescentes destacaram-se:um
deles fazum
movimento
de continuidade, onde o dia-a-diana
rua éuma
possibilidade; outro grupotransita entre a possibilidade de estar
na
rua e a perspectiva de sair dela;em
um
terceirogrupo,
há movimentos
de ruptura desta situação,em
que os adolescentes construíram outras relaçõesque não
incluem a rua. Finalizando, proponho,algumas
reflexões acerca dostrabalhos realizados
com
esta população, aliando a tal discussão à perspectiva da educação popular eda
cidadania.viii
RIASSUNTO
Questa ricerca intende comprendere la traiettoria di vita di alcuni adolescenti che vivono per strada a Florianópolis.
A
questo scopo,ho
realjzzatouna
ricerca dicampo
con
otto adolescenti, da
maggio
ad
ottobre del 1997, cercando di capirecome
hanno
costruitola loro identità. In
un
primo momento,
utilizzo i concetti di povertà, esclusione e infanziacon
Pobbiettivo di capire la vita dei soggetti in questione. Subito dopo, cerco nellasingolarità degli spazi, le relazioni
con
la famiglia, le strade, il lavoro e le istituzioniassistenziali. Queste esperienze, con i suoi contrasensi, le sue rotture,
hanno
fatto si chequesti ragazzi si diffenrenziassero dai modelli di
bambino o
adolescente ritenuti normalidentro lo standait
egemonico
di comportamento. Inim
terzomomento,
relaziono povertà,esclusione e storie di vita, dove si percepisce la coesistenza di diversi
modi
di vivere eagire e tre gruppi di adolescenti si delineano:
uno
di questi faun
movimento
di continuità, in cui la quotidianità nelle strade è possibile; un°altrogruppo
transita tra la possibilità distare nelle strade e Ia prospettiva di uscime; in
un
terzogmppo
esistonomovimenti
per larottura di questa situazione, dove gli adolescenti
hanno
costruito altri rapporti chenon
includono le strade.
Ho
proposto, in quest°ultima parte della ricerca, qualche riflessionecirca i lavori realizzati insieme a-questi bambini e adolescenti, collegando questo dibattito
INTRODUÇAO
1
Cotidianamente deparamo-nos, nas
mas,
praçasou
bares,com
crianças e adolescentes pedindo, brincando, trabalhando,usando
drogas,cometendo
infrações.Esses encontros
por
vezesnos remetem
aemoções
como
pena, raiva,medo
e oscilamentre considerá-los heróis, vítimas de injustiças e desigualdades
ou
bandidos, culpados por não terem força de vontade e disposição paramudar
sua vida.Além
disto,refletimos sobre
o
futuro deles edo
país, a desesperança que bate à nossa porta, aausência de dignidade e as desigualdades que ,permeiam nossa sociedade. Esta pesquisa busca trazer alguns elementos para
compreender
quem
são_ alguns dessessujeitos, a partir
da
especificidade de sua história, de seumovimento
na
vida.Nos
últimos anosou
décadas, as questões referentes à infância e adolescênciano
Brasilganharam
amplitudenas universidades,na
mídia eem
outros espaços de luta e discussão, principalmente a partir das reivindicações dosmovimentos
sociaisl queemergiram
no
cenário nacional, lutandopor
seus direitos e denimciandoz os múltiplos crimes cometidos contra a infância neste país.Atualmente é possível. encontrar
uma
série de estudos, livros, filmes, quetem
a
condição das crianças e adolescentes3
como
tema. Destemodo,
relatos sobre a história1
A
respeito dos movimentos sociais, dentre outros, ver: Eder Sader - Quando novos personagens entraram em
cena - Paz e Terra, RJ (l988); llse S.-Warren e Paulo Krischke - Uma revolução no Cotidiano ? Os novos
movimentos sociais na América do Sul- Brasiliense (1987).
_
_ '
2
A
respeito das denúncias relacionadas à infância e adolescência ver artigos: Revista Isto E, de 30/04/97 pp.
35 a 42; Jomal Diário Catarinense, de 12/01/97; Revista Debate Social, Ano I, n° 1, 1995; Revista Veja,
A
chacina das Crianças da Candelária. Seção: Brasil, 28/07/93.
3
O
Estatuto da Criança e Adolescente -
ECA
- no Art. 2“*, define crianças e adolescentes como pessoasem
condição peculiar de desenvolvimento, nas faixas etárias de 0 a 12 e 13 a 18 anos, respectivamente. Nesta
pesquisa, não nos ateremos somente aos critérios cronológicos, levaremos
em
conta a condição peculiar de2
de vida4 dos considerados
meninos
emeninas
de rua, da infância eda
violência doméstica, da exploração sexual, etc.,permeiam
nosso cotidiano.A
partir daí, .asituação dos considerados
meninos
e meninas de ruascompõe
aagenda
das discussões~
políticas, tanto ao nível govemamental, quanto das Organizações
Nao
Governamentais-
ONGs
- que,no
cenário politico nacional,vêm
mobilizando e organizando lutascomunitárias, exigindo e garantindo várias conquistasâ
Como
resultado destamobilização e após anos de lutas e reivindicações, garantiu-se,
em
1990, a aprovaçãodo
Estatutoda
Criança edo
Adolescente -ECA
(Lei 8069/90) -uma
conquistaftmdamental
na
luta pela dignidade econstmção da
cidadania desta parcelada
população.O ECA
inauguraum
novo
paradigma acercado
entendimento de infância eadolescência,
bem
como,no
campo
do atendimento, propõe a substituiçãodo
assistencialismo vigentepor
uma
série de propostas de caráter emancipador. Tal entendimento exigeuma
outra compreensãodo
que deve ser ecomo
deve ser o atendimento às crianças e adolescentes.Este
novo
paradigma procura superar a concepçãodo Código
deMenores
(1979),
onde
crianças e adolescentes, principalmente das classes populares,eram
entendidoscomo
menores carentesou
aindaem
situação irregularó.A
partirdo
ECA,
crianças e adolescentes são caracterizados
como
pessoasem
condição peculiar de desenvolvimento e sujeitos de direitos 7.4
A
respeito da história de vida das consideradas crianças e adolescentes de rua, para citar algims filmes
nacionais: Pixote, a lei do mais fraco (Hector Babenco, 1980); Cristiane F. Drogada e Prostituída (Ulrich Edel, 1981); Quem matou Pixote (José Joflíli,1996); Como nascem os anjos (Murilo Sales, 1996). A
5
Conoeituamos meninos e meninas de rua como crianças e adolescentes que fazem da rua seu espaço de vida,
moradia e/ou trabalho.
6
É
importante ressaltar que essas mtegorizações historicamente foram atribuídas às crianças pobres.
A
partirdo Código de Menores define-se atendimentos diferenciados às crianças pobres (menores) no Juizado de
Menores, e às demais crianças na Vara da Família.
7EcA,zm.óe15.
Entretanto, apesar desta
nova
concepção legal, constatamosuma
série de dificuldadespara implementa-la. Efetivamente, o que ocorre é
uma
continuidade, tanto ao níveldo
entendimento
como
no
atendimento destinado às crianças e adolescentes.O
rompimento
com
aconcepção
de criança e adolescente proposto peloECA,
principalmentequando
se refere às classes populares,não
se efetiva.Na
maioria dasinstituições, esta superação aparece muito mais nos projetos - ao nível do conceito -
do que nas ações cotidianas.
II
...Na ilha,
nem
-tudo éMagia
Em
Santa Catarina, apesar denão
constar entre os estados quepossuem
uma
situação crítica, é significativo
o
número
de crianças e adolescentes que trabalham,moram
e sobrevivem nas ruas8.§egundo dados oficiais do Ministério Público, existem_at_ua1m‹_-:nte
no
estado1084
meninos
emeninas
de rua9. Estesnúmeros
oficiais,mesmo
correndo o risco de estarem
aquém
da realidade,podem
nos daruma
idéia dadimensão
desta problemática.
-ç
Em
Florianópolis, a situaçãonão
difere do restante do estado,ou
seja, estacapital encontra-se ainda
no
rol das cidades brasileiras quenão possuem
um
grandeíndice de
meninos
emeninas
em
situação de rua. Entretanto, isto não significa aausência de situações de violência, a diferença está
no número
-em
Florianópolis.,,
*Neste aspecto, alguns autores fazem diferença entre meninos e meninas de rua e na rua: os primeiros são os
que permanecem a maior parte do dia e da noite na rua, tendo perdido o vínculo com a família ou instituições,
sendo ela também seu espaço de moradia. Já aqueles na rua mantêm vínculos que possibilitam a ida para msa
ou para alguma instituição. Optamos, nesta pesquisa, por trabalhar com adolescentes considerados durante
algum tempo como de rua, com o intuito de aproftmdar suas especificidades.
9
Conforme dados do Inquérito Civil Público realizado pelo Centro das Promotorias da Infância, publimdos no Jornal uiàúo catarinense de 22/oz/97. Pg. 22- caderno Geral.
4
estima-se
aproximadamente
vinte e cinco a trinta crianças e adolescentes” nesta condição, enquantoem
capitais demaior
porte estenúmero
ganha
dimensões bastantediferentes” - e
na
repercussão que algims atos ocorridosem
outras capitaisprovocam
12na
opinião pública _Mesmo
assim, há todoum
interesse político e comercial paraque
esta realidadenão
apareça, quebrandocom
o mito, construídoem
Florianópolis, de Ilha da Magia,com
suas praias e sua natureza exuberante. Entretanto, a exploração comerciale turística deste potencial produz e convive
com
extremas desigualdades sociais.Neste
sentido, o livro
“Uma
cidadenuma
Ilha: relatório sobre osproblemas
sócio-ambientais
da
Ilha de Santa Catarina”(CECA
: 19961112), ao analisar a situação deFlorianópolis sob vários aspectos - ecológico, sócio-econômico, cultural, dentre outros
- contribui para a compreensão da verdadeira situação da Ilha de Santa Catarina”,
onde
“a convergência entre interesses de setores sociais tão distintos
na
mesma
direçãonegativa e destrutiva coloca ante todos nós
a
principal questão hojena
ilha :a
desvalorização do meio ambiente e da qualidade de vida, face aos interesses
especulativos ou de sobrevivência mais imediata. Isto
sem
que a sociedade se questionasse sobre que fizturo está construindo destaforma
e sem que 0poder
público se disponhaa
uma
ação educativa ou fiscalizadora que contribuapara
inverter
a
médio prazo tal situação.”1°
Segundo dados informais fornecidos pelo Conselho Tutelar de Florianópolis.
Com
base no Censo de 1991,registrou-se em Florianópolis uma população de 255 mil habitantes. Dentre estes, 27,8% das famílias vivem
com uma renda de até 2 salários mínimos. V;
“ Conforme dados publicados pela Rede Bandeirantes de Televisão, em 06/05/97, a estimativa
em
BeloHorizonte é de que existam duzentos e setenta meninos e meninas em situação de rua.
“A
este respeito, ver reportagens sobre extermínio de crianças do Jomal Diário Catarinense, de 23 , 24 e27/06/96. `
/ 13
Segimdo IPEA/ 1993, cerca de trinta mil pessoas vivem
em
situação de em Florianópolis, habitandoNeste contexto,
uma
solução adotada pelo poder público é a /f_n_aqy1;¿_zg¿m_sc_›_qipll4,
com
o intuito de encobrir as desigualdades existentes e preservar sua“vocação ttuistica”. Analisando o aspecto
da
vocação para o turismo e da Ilhacomo
lugar paradisíaco, conclui o estudo
do
CECA
“A realidade
da
Ilha não é tão idílicacomo a
paisagem.Não
o é, pelomenos
paratodos os seus habitantes, e está longe de ser paradisiaca
para
as populações que deixam as praiasem
busca de ocupações que lhes permitam sobreviver,substituindo as formas tradicionais de trabalho que perderam ”(
Mara
Lago apud
CECA,
199ó.~219)Constatamos que apesar
dos
longos anos de discussão e das conquistas ao nível da legislação, das políticas públicas e da participaçãoda
sociedade civilorganizada, as problemáticas referentes a crianças e adolescentes persistem e
ganham
amplitude tanto por ameaçar aordem
e o progresso da sociedade quanto por mobilizar profissionais e instituições assistenciais preocupadosem
efetivamente superar taissituações. Neste sentido, algims trabalhos acadêmicos contribuem
com
a discussãoacerca do tema. Dentre as pesquisas realizadas sobre a questão dos considerados
meninos
emeninas
de ruaem
Florianópolis,podemos
destacar RitaMarchi
(1994),que
nos fornece dados etnográficos acercado
dia-a-dia destas crianças e adolescentes; Patrícia deMoraes
Lima,emA
cirandada
Rua(1997), oferece-nos importante materiala respeito
da
“organização dosmeninos
emeninas
quefazem
da rua seu espaço devida”
em
Florianópolis; e Paulo Sandrini (1997) que discute questões referentes àadolescência frente ao ato infracional.
Os
estudos acima,com
suas especificidades de análise, contribuem paraelucidar a problemática da inf`ancia
em
nossa cidadeou
estado,bem
como
apontam
possibilidades e altemativas de superação das dificuldades encontradas. Identificamosaqui estudos que
procuram
compreender
a dinâmica da rua, das instituições, da Justiça.14 Termo
utilizado na administração pública municipal para referir-se à necessidade de retirar do centro da
cidade os meninos e meninas que estavam na rua, com intuito de preservar a administração pública de críticase
não colocar em cheque o projeto turístico da capital.
6
Consideramos
que outro foco de análisepode
contribuir para esta discussão,com
propósitotambém
de trazer elementos para pensar as ações destinadas a estapopulação : a história de vida, sua peculiar experiência de estar
no
mundo
e construir-se.
Ao
definir, então,de
que
perspectiva faríamos esta discussão,optamos
por recortar nesta realidade a fala dos adolescentes,buscando
sua história, sua trajetória de vida.Neste. sentido,
procuramos
analisar ecompreender
a trajetória vivida por eles,considerando os fatos marcantes, as pessoas, os espaços, as experiências, os
significados dados ao que viveram.
A
experiência e contatocom
essas crianças e adolescentes deu-se a partirdo
trabalho desenvolvido
como
psicóloga nos anos 1994-95, contratada porum
programa
de atendimento
da
Prefeitura Municipal de Florianópolis,denominado Casa da
Liberdade -Espaço
Cidadão. Esteprograma
faz parte deum
complexo
estruturadopelo Poder Público Municipal,
que
compreende:SOS
Criança, Albergue Santa Ritade
Cássia e
Casa da
Liberdade”. Esta última destina-se ao atendimento de crianças eadolescentes
em
situação de risco social e pessoallõ e propõe-se a prestar atendimentotanto às meninas e
meninos
de rua quanto às crianças e adolescentesempobrecidos
da
periferia
ou do
centro da cidade.O
programa
«propunha-se a oferecer às crianças e adolescentesuma
qualificação profissional condizente
com
os dias atuais,bem
como
formação parao
exercício da cidadania. Neste sentido, o trabalho era
compreendido
como
princípio educativo,em
que a educação devesse prevalecer sobre o caráter produtivo. Atravésde
várias oficinas
como
corte e costura, manicura, encadernação, papelmarmorizado,
informática, futebol,
além
de reforço escolar e supletivo, buscava-se o resgateou
aconstrução da cidadania das crianças e adolescentes atendidos.
Faziam
partetambém
15
A
partir ao ECA, 0 Albergue
sam
Rim de Cássia amaem
regime de abrigo (no período de finzrizzçâo azpesquisa foi transformado em Casa de Passagem, atendendo não apenas a crianças e adolescentes mas a adultos e famílias que necessitem de pernoite temperado).
A
Casa da Liberdade é de regime sócio-educativoem
meio aberto e o SOS Criança éum
program municipal de atendimento emergencial à violência doméstica.16 Esta expressão, utilizada pela maioria das de atendimento, abrange crianças e adolescentes que
se
do quadro funcional:
uma
assistente social,uma
psicóloga 17 euma
pedagoga,responsáveis pelos
encaminhamentos
nessas áreas.Desde
meu
ingressona Casa da
Liberdade, algumas questõespermaneciam
como
um
desafio aos profissionaiscomprometidos
com
essa . população,principalmente
quando
se 'referiam ao entendimento decomo
sedeu
a construção desses sujeitos.Muita
polêmicageravam
as discussões a respeito decomo
as crianças e adolescentesque
diariamenteeram
recebidos, atendidosou
excluídos por nós,chegaram
a sercomo eram
O
conflito dava-se entre as diferentes fonnas de respondera esta indagação.
As
respostas quasesempre
passavam
pela procura dos responsáveisou
culpados por essa situação: a culpa ora estava na familia (os pais descompromissados, vagabundos, drogados), ora estavana
criança/adolescente(indisciplinado,
sem
vontade de aproveitar as chances oferecidas). Oscilando entre ainfluência da família, do
meio
ou
das características inatas, do caráter, da índole,parecia que estávamos isentos de responsabilidade. Entretanto, não era possível manter
essa isenção por muito tempo.
Diariamente encontrávamos
no
centroda
cidade vários adolescentesou
adultos que,quando
criança, freqüentaram osprogramas
de atendimento disponíveis.Além
deles, vários adultos que
haviam
freqüentado as instituiçõesquando
criançasou
adolescentes estavam
na
cadeia públicado
estado; 'Tal situação faziacom
que questionássemos a prática dos programas e as perspectivas apontadas para essessujeitos. Entendíamos que a situação vivida por eles continha
uma
parcela deresponsabilidade dos programas, das propostas e dos educadores
com
que conviveram. Indagávamos,em
decorrência disso, sobre os resultados que as ações desenvolvidas pelas instituições (inclusive por nós) tinham concretamentena
vida dessas criançasou
adolescentesf
17 Mesmo
contratada como Psicóloga para que realizasse trabalho clinico, desenvolvi trabalho na perspectiva da
Psicologia Social. Destemodo, foi possivel estabelecer
uma
relação bastante próxima com as familias e comacomunidade. Além disto, o trabalho
em
conjunto com a profissional de Serviço Social foi de fundamentalimportância para conhecer e oonstmir algumas altemativas junto com outros educadores, crianças e adolescentes, famílias e comunidade.
s
A
partir da experiênciano
cotidiano doprograma
de atendimento, emergiu anecessidade de entender quais relações foram fundamentais para a construção
da
identidade desses sujeitos, qual a trajetória por eles percorrida el quais asmediações
que
encontraram para superar tal situação. Atravésda
análise ecompreensão
do
material pesquisado, buscaremos contribuir para a superação de algumas dificuldades encontradas diariamenteno
trabalho ena
convivênciacom
estas crianças e adolescentes.III
Os
(des)caminhosda
pesquisaJ
Esta pesquisa centra-se
no
resgate da história de vida relatada por algtms adolescentescom
vivência de rua que freqüentaram oprograma Casa
da Liberdade.A
partir desse resgate procuramos compreender
quem
são,como
se construíram,que
mediações
encontraram esses adolescentes para a superação (ou não) de sua situação.A
pesquisade
campo
deu-seno
período demaio
a outubro de 97,.quando
foram
realizadas entrevistas semi-abertasliscom
oito sujeitos(dois rapazes e seismoças)
- pelomenos
duas eno
máximo
quatro entrevistas gravadascom
cadaadolescente. Ocorreram, ainda, vários contatos informais, tanto
com
os adolescentes entrevistados formalmente,como
com
crianças, adolescentes e adultosque
permaneciam na
ma
a maior partedo
diaou
a noite.As
entrevistas foram realizadas depois deum
período de contato e apenas depois de os adolescentes decidirem,disporem-se a falar, a .partilhar
momentos
significativos, fatos, experiências de suahistória.
Os
dados obtidosem
entrevista formal, depois de transcritos,foram
aglutinados aos registrados
no
diário de campo, obtidosem
conversas informais, noscontatos
em
casa, na rua,no
trabalho.18 As
entrevistas eram semi-abertas devido ao fato de terem
um
roteiro com algumas questões ou assuntosaserem pergimtados, entretanto, o roteiro não fimcionou como uma camisa de força, ao contrario, deu
um
norteO
necessário exercício de escolher a metodologiano momento
da realizaçãode
uma
pesquisa é, antes de mais nada,um
processo de definição de caminhos.A
exigência por delimitar instrumentos faz
com
que
se lanceum
olhar crítico sobre o material de que dispomos, sejam eles recursos teóricosou
técnicos.Neste
caminho
de definições,concebemos que
o pesquisador não éum
sujeito neutro. Assim, ao realizar esta pesquisa, consideramos sujeitos históricos tanto opesquisador quanto os entrevistados.
O
entendimento sócio-histórico dehomem
possibilita
que compreendamos
omovimento que
os sujeitos entrevistados realizaramem
sua história que, aomesmo
tempo
em
que é única, específica, étambém
permeada
pela história de outros sujeitos, de seu tempo, sua condição
no
mundo,
onde“os fenômenos sociais são produtos
da
própria sociedade, sociedade estavislumbrada
em
sua concretude, derivada das relações sociais de produçãopor
homens
sócio-historicamente determinados. Portanto, as investigações acerca dos problemas sociais devem buscar dentroda
própria sociedade o seuradical. ”(Graciani I997:97)
Optamos
poruma
pesquisa decampo
com
o
objetivo de percorrer o caminho'que os sujeitos desta pesquisa traçaram
em
suas vidas - sua trajetória. Será precisoum
referencial teórico - metodológico que preste contas à história de vidaf dos sujeitos, aos
significados
que
deram
a ela, à forma específicacom
queviveram na
família, nas ruas, nos programas de atendimento, etc.Por se tratar de relatos de histórias de vida,
buscamos
material acerca destametodologia.
Encontramos
em
Ecléa Bosi (1977)uma
referência, entretantonão nos
restringimos a ela, pela especificidade dos sujeitos entrevistados - dificil de localizar,marcar encontros sistemácos.
Buscamos
também
na
metodologia da pesquisa participante referenciais para olhar a pesquisa decampo
com
as classes populares,sem
no
entanto seguir os passos definidoscomo
necessários à sua realização; destemodo,
10
qualitativa, aparece
como
possibilidade ao subsidiar o entendimento deque
aqualidade dos relatos, a
profimdidade
da análise são fundamentais paracompreender
os sujeitos pesquisados. Neste sentido,'
"a pesquisa qualitativa envolve
a
obtenção de dados descritivos, obtidosno
contatoI
1' direto do pesquisador
com a
situação estudada, enfatiza mais o processo do que oproduto e se preocupa
em
retratara
perspectiva dos participantes. ”(Bogdan
eBiklen zzpzzdLúâ1«z.& Apzzzé, 1986.-13) '
'
'
À
luz desta compreensão, objetivamos nossa açãodefinindo
as técnicas que utilizaríamosna
pesquisa decampo.
A
perspectiva de realizar entrevistas, gravadas e posteriormente transcritas, foium
recursofimdamental no
contato diretocom
os adolescentes.Além
deste, o diário decampo
garantiu o registro detalhado dosmomentos
formais e infonnais. Entretanto, fez-se necessário definircomo
chegaríamos a esses adolescentes.Em
um
primeiromomento,
aventamos a possibilidade de selecionar os adolescentes para contato e posterior entrevista, a partir dadocumentação
existenteno
programa onde
fui educadora (psicóloga) - aCasa
da Liberdade.Em
seus arquivosbuscaríamos os
nomes
e endereços dos adolescentescom
vivência dema
queforam
atendidos pelo programa.Após
um
primeiro contatocom
a instituição, constatamos a dificuldade de obter as informações nos seus registros. Esta dificuldade deve-se ao fato de, naquelemomento,
os registroscom
mais
deum
ano estarem fora de ordem,ou
mesmo
perdidos.Após
algumas tentativas e visitas,chegamos
à conclusão de que estapossibilidade estava
comprometida
pela própria forma de organização dos dadosno
programa.
Redimensionamos
então as altemativas para buscar os adolescentes aserem
entrevistados.
Em
vez
de buscá-losno
passado (através dedocumentos
da instituição),partiiiamos então
do
presente.Onde
poderíamos encontrar esses adolescentes ?A
partir desta pergimta,
definimos
nosso plano da ação. Fui então para o lugaresonde
atendimento (programas de capacitação para o trabalho,
de
recuperação para usuáriosde drogas)
ou
ainda os centros de intemação destinado a adolescentes quecometeram
atos infracionaisw.
A
partir deste referencial, foi realizadoum
“levantamento informal” tantocom
os colegas quanto
com
as crianças e adolescentesque estavam
na
ruaou
em
programascom
quais eu fizera contato.Os
sujeitos envolvidosna
pesquisa decampo
foram
definidos levando-se
em
conta, a princípio : a) existência de informaçõesque
minimamente dessem
condições de localizar esses sujeitos b)um
conhecimentomínimo
que pudesse viabilizar entendimento ecompreensão
mútua; c) sujeitosque
tivessem durante
algum tempo
vivência de rua; d) que, preferencialmente, tivessem estadona Casa
da Liberdadeno
período de 93 a 96. ~Foi feita
uma
relação denomes
de possíveis sujeitos aserem
entrevistados,entre adolescentes e adultos havia vinte e cinco
nomes.
A
seguir,em
horários variadosp-
manhã,
tarde, noite - aos espaçosno
centroda
cidade, nas favelas emorros
onde
moram,
onde transitam, nas ruas, becos, praças ecomunidades
em
que alguns adolescentes poderiam estarmorando
(Morroda Queimada, Mocotó,
ChicoMendes,
Vila Aparecida),com
intuito de encontrá-los e poder então definir quais seriam _osentrevistados.
A
seleção dos oito sujeitos entrevistados neste trabalho deu-se nestatrajetória, depois de alglms encontros, desencontros, de esperas e procura,. foi possível
estabelecer
com
estes oito sujeitos,uma
“rotina” para a realização das entrevistas.1 `
Principalmente nos três primeiros meses, durante o dia e algumas noites,
passava horas
andando
entre a praçaXV,
oMercado
Público, o Ponto Chic, Rodoviária, aterro, praça dos bombeiros, Catedral, Angeloni, Igreja São Sebastião,dentre outros. Nesses primeiros meses, mtútas vezes dirigi-me à residência,
ou
possívellocal de moradia,
quando
indicado poralgum
colega,amigo
ou
educador,na
tentativa de localizarou
teralguma
notícia dos adolescentes quecompunham
a lista.19A partir do ECA, art. 103 : "Considera-se ato infracional a conduta descrita como crime ou contravenção
penal”.
No
art. 112, oECA
prevê uma série de medidas sócio-educativas, dentre elas a do parágrafo VI, aNesse
periodoficava
durante o dia andando, conversando e obsemovimento
das pessoasno
centro - o comércio, onamoro
, o assédio, a brincadeira, a droga , o roubo, a violência, a fuga, a procura, o encontro.
'E
O
centro de Florianópolistomava
paramim
um
outro contomo, apareciacom
outra geografia.Caminhar
pelo centro era estar atenta, procurando ver :onde
estão ?Como
estão ? Procurarna
praça, nos bares, nas ruas, indícios da noite, “vestígiosdo
dia”, restos de comida, papelões, cobertor,
um
cheiro forte, fétido,um
tênis deixadoou
esquecido.
No
início.um
olhar estranho” procurava pelos rostos, gestos, que já conhecia.Encontrava a miséria e
uma
geografia urbana de lugares e pessoas diferentes. Entre osprédios de serviços e comércio havia
uma
vida quenão
estava habituada a observar,pelo
menos
com
tanta intensidade.O
homem
das ervascom
a cobra, o malabaristacom
as facas, o
Zé
da Folha, a esquina dos pobres, asmeninas
fazendo programas, o Largoda Alfândega
com
asmães
à espera do dinheiro dos filhos.No
terminal de ônibus, amulher vendendo
bala, as .crianças fazendo negócios e cantando versos -“Olha
oamendoim,
eunão
tô robando,não
tô pedindo, tô trabalhando, olhaa
bala, obombom”-,
a criança pedindoum
trocadinho para comprar comida, leite.Eram
pessoas, rostos, histórias,
que
secruzavam
eme
cruzavam. ,Aospoucos
fui adquirindoøtranquilidade,
confiança de
chegar, sentar e conversar.A
convivência diária possibilitou-meum
grandenúmero
de experiências e de reencontros.A
satisfação de reencontrar, depois deum
período às vezes longo,com
algtms adolescentes, por vezes era tragada pela tristeza e angústia de deparar-menovamente
com
situações limites,com
a desesperança,com
a miséria e a falta deperspectivas.
Entretanto,
não
foi somente assim o cotidianoda
pesquisa.Os
reencontros, partilhandomomentos
de alegria e solidariedade.O
fato de conhecernovos
colegas,2°
A
este respeito, José de Souza Martins (1993;11)apon1a uma “sociologia do estranho, do estranhamento”,
mostrando como nossa sociedade é demarcada e bloqueada por enormes dificuldades no reconhecimento do
amigos
no
centro da cidade,tomava
o estarna
rua, encontrando e dialogandocom
eles,um
apelo quase irresistível,que
me
atraía e repelia aomesmo
tempo.O
processo de realização da pesquisa decampo
foi de extrema riqueza deacontecimentos, contatos e informações.
Algumas
entrevistaseram
realizadas depoisde
um
período de procura e várias tentativas de localização dos adolescentes. Esta situação deveu-setambém
ao fato de que,na
maioria das vezes, osprogramas
(Casa daLiberdade,
Abordagem
de Rua, Albergue,SOS
Criança),ou
os Conselhos Tutelaresprocurados por
mim
não tinham informações sobre eles.Aos
poucos fui percebendo a fragilidade dos dadosque
as instituiçõespossuem
acerca dessas crianças e adolescentes. Muitas. vezes eraeu
quem
as informava ondepoderiam
encontrarou
ter notícias das criançasou
adolescentes. Certamente osmotivos para isto são muitos, desde
a
falta. de pessoal, de equipamentos, _ registrosistemático, até o descaso
com
que
as administrações públicas tratam a questãozl,o
*que possivelmente prejudica o
acompanhamento
e a conseqüente informação sobre areal situação vivida pelas crianças e adolescentes.
A
›
Sem
dúvida os contatos, informações e mediações que aqueles órgãospodem
representarna
vida dos adolescentesficam
prejudicados pelas condições de trabalho a que nos referimos acima. Efetivamente, o que acaba ocorrendo éum
distanciamentoentre o
que
as instituiçõesjulgam
estar ocorrendo e a realidade dos fatos, pois o cotidiano dequem
está narua,ou mesmo
em
casa, é muito mais dinâmicodo
que elas consideramou
esperam”.No
decorrer -da pesquisa de campo, delineava-se possível a alternativa deencontrar os adolescentes
em
locaiscomo
a rua, a casa, o trabalho. Desta forma, osencontros deram-se a partir
do
contatono
trabalho,na
rua (quando
era o localem
que
21
A
este respeito, dentre outras, ver reportagem do Jornal Catarinense de 10/12/96 sobre as precárias condições de trabalho dos dois Conselhos Tutelares
em
Florianópolis, da equipe de abordagem de rua, etc. 22 Algumasvezes fui informada de que uma das adolescentes que procurava estaria
em
casa com a família.Alguns dias depois, ao encontrá-la na rua, perguntei sobre o fato de estar em casa; ela disse-me que fora levada
para casa, mas saíra nooutrodia. Noutra ocasião, descobrimos que uma adolescente estava
em
uma casade14
passavam
omaior
tempo),em
casa ( ondemoravam
com
a família,ou onde estavam
passando
um
tempo
para trabalhar). Estemapeamento
foi importante, pois possibilitou que tivesse contatocom
uma
maior
diversidade de situações : tive contatocom
quem
estava
na
rua,em
casade
prostituição,em
casa, casada ecom
filhos , desempregada,trabalhando e estudando, trabalhando
com
carteira assinadaou
internoem
instituiçãopara adolescentes que
cometeram
ato infiacional.Além
disto,em
muitosmomentos
encontrei e dialogueicom
educadores nosprogramas, nas ruas. Esse diálogo era quase sempre atravessado pela angústia,
sensação de impotência
fiente
às situações vividas pelas crianças e adolescentes, entretanto houve,também,
momentos
de compartilhar conquistas, ganhos, esperanças.No
cotidiano da pesquisa, esses encontrosforam
importantes porme
apontar as outrasfaces da problemática.
De
qualquermodo, minha
escolha seconfirmava
a cada dia 1 era a experiência, a história dos adolescentes queme
aguçava,me
agitava, faziarefletir.
Esta diversidade,
que
num
primeiro olhar pareciatomar
ocampo
de pesquisa tão amplo, o que poderia dificultar a análise ecompreensão
das histórias, mostrou-se,ao contrário, extremamente densa e rica nos relatos, possibilitando que as múltiplas
situações construíssem esta compreensão, a partir de
um
fio
condutor 1 as histórias devida. Este movimento, entretanto, exigiu-me mobilidade e disponibilidade de espera,
procura, contato que,
em
muitosmomentos, além do
cansaço fisico, mostrava-secomo
um
grande desafio.Em
algunsmomentos
a surpresa pelo relato inesperado, a dor pelas perdas vividas, a insegurançaou
o perigo do empreendimento, o inédito das visitas, ocontato surpreendente, a fala emocionada, a vivência da esperança
ou
da desesperançaforam
intensamente sentidos pormim
e, principalmente, compartilhados comigo.Em
váriosmomentos,
a exigência da açãoou
reflexãocom
elesme
impunha
um
posicionamento,buscando
ter claromeu
papel naquela situação, resgatando afigura
do
pesquisador,sem
no
entantome
omitir de partilhar e com-viver. Desta forma,uma
relação deconfiança
estabeleceu-se entre nós : eles tendo mais claroque
meu
tempo, eu não
me
recusariaem
discutir, pensar junto alternativas.A
relaçãoestabelecida possibilitou entre nós a construção de laços de
confiança
.23_
A
opção pelo resgate da história de vida dá-secom
o objetivo decompreender
como
eles a significam,como
é ser criança e adolescente pobre nesta cidade,que
desejos tem,como
foi sua história antes de ser vistocomo
menino ou
menina
de rua, que escolhas fez e quais os caminhos que tais escolhas viabilizaram,que
pessoas, programas,foram
medições para superar dificuldades.A
opção por adolescentes justifica-se pela necessidade de optarpor
uma
determinada faixa etária,
bem
como
pela preocupação em- resgatarcom
eles ocaminho
que fizeram, desde a família, a rua, a instituição. Este resgate exigeprofimdidade
de reflexão,ou
melhor, possibilidade de elaborar sua história,um
exercício que seria dificultado pela própria condição da infância.
Além
disto,considero significativo o tempo, a possibilidade de mediação, escolhas e autonomia,
certamente diferenciado entre crianças e adolescentes
A
perspectiva de olharpara
trás, para o
caminho
já vivido, exigeum
distanciar-se quecompreendemos
só serpossível a partir de
uma
certa idade.O
fato de termos apassagem
pelaCasa
da Liberdadecomo
altemativa para delimitar ocampo
de pesquisa não significa fazermosum
mergulho nas
questõesreferentes às relações que se dão naquele espaço, o
que
exigiria resgatar a históriado
programa, sua inserção nas políticas públicas de atendimento à infância e adolescência,Não
temos a pretensão de dar conta de toda esta complexidade, pois nospropomos
a fazerum
recortena
história vivida e relatada pelos adolescentes, a partir dos fatos e significados que construíram suaforma
específica de ser e mover-seno
mundo,
sua identidade. Desta fonna, esteprograma
aparecena
pesquisana medida
em
que
significou algo para os sujeitos entrevistados.Compreendemos
que oprograma Casa
da Liberdadetem
uma
especificidade que o diferencia dos outros espaçoscomo
a escola, a família, entre outros. Isto deve-se23
Em
umasituação, fiú solicitada a “ajudar”_a resolver
um
problema com vários cheques roubados: como16
ao fato de
que
é precisamente este programa,como
parte deum
complexo
estruturadopelo poder público municipal,
que
sepropõe
a “resgatar a cidadania” das crianças e adolescentes por ele atendidos. Assim, ao nospropormos
a discutirou
analisar a realidade vivida pelos adolescentes,optamos
por fazer esta trajetória tendocomo
ponto de partida adolescentesque passaram
por esteprograma
específico.A
estruturado
trabalho foi organizada a partir da pesquisa de campo,onde
a realidade encontrada exigiu a análise de algims temas. Destemodo,
este trabalhocontempla
num
primeiromomento
uma
análise mais geral,onde
busquei algunsreferenciais para entender
como
os “pobres”foram
sendo definidos, significados, apartir de que ótica suas experiências
foram
compreendidas. Neste caminho, anecessidade de olhar para a questão
da
carência, da exclusão, da infância edo
sujeitoaparece
como
alternativa paramelhor compreender
esta situação. Para entender essas problemáticas e analisá-las, encontrei mediadoresem
vários autores, dentre eles destaco,na
área da Educação: Victor V. Valla,Alba
Zaluar, 1\/I”. Estela Graciani,Maristela Fatin, Reinaldo Matias Fleuri; Antropologia: Cláudia Fonseca, Roberto
da
Matta; Psicologia:M”
Helena Souza
Patto, Kátia Maheirie; Sociologia/ História :Phillippe Àries, Richard Sennet,
Vera
da
Silva Telles, José deSouza
Martins, Irene Rizzini,Glacy
Roure,Eder
Sader,Michael
Foucault, entre outros.O
segundo capítulo procura trazer a pesquisa decampo,
com
as históriascontadas pelos entrevistados,
como
foi sua infância,como
significou o que viveuquando
criança.A
possibilidade decompreender
e contribuir para elucidar as condições de existência que constituíram a história de vida dos entrevistados exigeque
se faça o exercício de penetrar
no
mundo
de significados e experiênciasque
constituem o fazer-sehumano
destes sujeitos, a partir de seu cotidianocom
a família,com
a rua, os programas de atendimento.No
terceiro capítulo, partindo dos relatos dos entrevistados,buscamos
analisarcomo
sua vidano
presente está organizada, o que se colocacomo
possibilidadeno
fiituro. Nesta parte
do
trabalho,procuramos
trazer alguns elementos compreendidossob a ótica da educação popular,
com
a perspectiva de contribuir para a construção deCAPÍTULO
1 ~EscoLH1í:N1›o
os
Fios
PARA CQMPREENDER
A
VIDA
z,PoBR1‹:zA,
EXCLUSÃO
E
INFÂNCIA
Somos muitos Severinos iguais em tudo na vida* na mesma cabeça grande,
que a custo é que se equilibra, no mesmo ventre crescido sobre as mesmas pernas finas q
e iguais também porque o sangue
que usamos tem pouca tinta.
(J oão Cabral de Melo Neto)
~
Estudar a história de vida e a condiçao de existência dos
meninos
emeninas
com
os quais nosdeparamos
nas ruas, praças e bares, a partir das relaçõesque
se estabelecem nesses espaços e que são (ou foram)permeadas
por relações estabelecidastambém
em
espaçoscomo
a família, as escola, as instituições de atendimento,o
trabalho, entre outros,
tem
por objetivo conhecerquem
é este sujeito (muitas vezes tidosomente
objeto)de
tantos programas e politicas.Faz-se necessário, para tanto,
compreender
quem
são essas crianças eadolescentes, partindo das experiências que eles viveram e que são fruto de
uma
certa localizaçãono tempo
-uma
época. histórica - eno
espaço -uma
família, cidade, estado,país. Essas crianças e adolescentes são filhos de familias pobres, definidos
como
classes trabalhadoras, populares, subaltemas
ou
ainda e simplesmentepovo
brasileiro.1- "Teoria
da pobreza ou
pobrezada
teoria"Para entender a experiência vivida por estes adolescentes e suas famílias _é
importante compreender qual
a
perspectivacom
que se entende esta população e,em
função disto,
como
historicamente tem-se qualificadoou
desqualjficado sua fala, sua18
A
concepção do que seriam os trabalhadores pobres é bastante variada e sofre~
modificaçoes
significativas desde seu surgimento enquanto representação,conforme
Sader&
Paoli (1986:4l):“Parece que foi no plano do pensamento político gestado na primeira república
que se construiu, pela primeira vez,
uma
representação sistemática e substantivasobre os trabalhadores, os pobres, os dominados da sociedade - o
povo
brasileiro,enfim, para usar
a
linguagem dos autores mais célebresdo
período".Nessa
época, oproblema
dedefinição do “povo
brasileiro” encontrava-se associado à discussão sobrequem
era,como
era essa população. Para tanto, asperspectivas de conhecê-la passaram
também
pelas tentativas de enquadrá-laem
um
conceito único,homogêneo.
“Esta tentativa fantástica de apagar
a
diversidade intema decorrente das diversas experiências vindas dos grupos sociais no espaço social brasileiro. - experiências diversas de dominação, de práticas culturais e de processos de trabalho -em
nome
~
de
uma
homogeneidade que se toma,no
pensamento, pré-condiçaopara
a
participação social e política destes grupos, iria se solidificar
como
questão básica do problema das classes populares depoisda
intervenção do estado Getulista, ondea
heterogeneidade aparececomo
negatividade,como
falta de alguma coisa - ou detudo. ” (Sader
&
Paoli I986:45)No
processo de identificação, mistificou-seuma
classe ideal,homogênea,
quenão correspondia à realidade apresentada por essa população.
A
partir desse pressuposto, constatava-se que faltavaao
povo
brasileiro requisitos necessários àformulação de
uma
verdadeira classe social:“Assim, as práticas culturais diferenciadas dos diversos grupos sociais populares,
isto é, sua inserção real
em um mundo
de relações sociais historicamenteformado
(que não era o
mesmo nem
sequerno
plano da eaqvloração capitalista),foram
banidas do
mundo da
“verdadeira” classe social, fazendo-se vercomo
algo queEste conceito
permanece
duranteum
longo período, fazendocom
que as açõese experiências desses
grupos fossem
compreendidascomo
algo negativo que,como
referem os autores, conspira contra
a
unidade deuma
classe social.A
heterogeneidadepassa a ser
um
defeito que deve ser corrigido. Esta ,perspectiva nega a própria experiência desses grupos, que é diversa,como
são diversas as experiências culturais,econômicas, políticas, entre outras.
Alba
Zaluar,em
seu livro“A
Máquina
ea
Revoltaf° (1994), discute os vários conceitosque
pretendem caracterizar essa população echama
a atenção para adenominada
culturada
pobreza,que
associa a esses segmentos a apatia, a falta de interesse político e a ausência de cultura «de classe, o que se explicaria por urna pobreza cultural.Na
busca de encontrarum
lugar definido para tais populações,compreende-se a
“desagregação, o particularismo e
a
ausência de consciência de classe nascamadas
populares, ondea
'demanda fisiológica' ea
ideologia se sobrepõem,desta
forma
os pobres são tidoscomo
massa passiva, desorganizada e dócil.”(Zaluar 1994: 44).
Entende-se daí que à condição de pobreza estão diretamente associados o
particularismo e o individualismo
em
o aspecto fisiológico - afome
- e o aspectoideológico
provocam
submissão, passividade e desorganização. Estacompreensão
fezcom
que se olhasse para essa populaçãocomo
massa
demanobra
que, dócil, submete-se ao que lhe é imposto. Para a autora, esta concepção,
quando
levada às últimas conseqüências, produz o entendimento de que“As massas desagregadas, de baixo nível educacional, estariam portanto fora
do
processo de produção de idéias (..)Meros
executores deum
projeto quenão
criaram e fantoches de
uma
direção que nãovêem
mas
que oscomanda
de todolugar, perdem por decreto teórico sua condição de sujeitos ativos(...) Sua,
linguagem, sua fala, seus rituais e suas crenças são sempre defeitos de percepção, empecilhos
à
consciência crítica ”. (Zaluar:I994:52)20
Quando
a relação trabalhadores/pobreza e consciência passa a ser compreendida nesta ótica, a experiência, oconhecimento
e a história desses sujeitospassa a ser negada, vista
como
algo que deve ser superado, iluminado por teorias econhecimentos verdadeiros
Em
vez de discutir os termos a serem utilizados paradesignar estes suieitos - classes populares, subalternas
ou
trabalhadoras -,procuramos
compreender
como
se construiu o conhecimento acerca desta população, a partir deque ótica se identificou,
em
que lugares suas vidasforam
colocadas, estudadas,dissecadas, por intelectuais, políticos, profissionais
comprometidos ou não
com
estapopulação. '
Sob
a égide deste entendimento, o olhar lançado durante muitotempo
sobre essa população era de que fazia parte deum
Brasil atrasado e arcaico, e as intervenções propostaspassavam
sempre pela reeducação, reinserção social,compreendendo
que,por
ser destituída de cultura, hábitos saudáveis de higiene esaúde, deveria ser reeducada para o convívio social. -
Ao
buscaruma
outra perspectiva de análise ecompreensão
desta realidade, deparamo-nos
com
questões polêmicas,como
adefinição
de pobreza.O
caminho
paradiscuti-la
não
é simples,surgem
dificuldades tanto para conceituá-la quanto paradelimitá-la.
Quem
atualmente é considerado pobre ? 24Um
estudo realizadocom
a população de ruaem
São Paulo, intitulado “População de rua :quem
é,como
vive, oque
pensa”(Vieira et alli 11994), procura compreender esta realidade, considerando as várias dimensões do problema. Analisando o contexto que engendra a situação de desemprego, dificuldades demoradia, saúde e educação a que está sujeita a população de rua,
afirmam:
24
Segundo pesquisa publicada pelo Jornal Folha de' São Paulo de 26/09/98 o “Mapa da Exclusão” no Brasil
tem hoje pelo menos vinte, e cinco milhões de Segundo esta mesma pesquisa,
em
Santa Catarinaesta porcentagem chegi a l-8%-da população. Na população acima de 16 anos os «miseráveis compõe 24%, além
disto, os pobres são 15% eos despossuidos 23% da população. Para.definir.quem. são os miseráveis a pesquisa
“Na
verdadea
desigualdade social ea
pobreza não são privilégiosda
sociedade moderna,mas
um
produto histórico que se modificano
espaço e no tempo.A
própria
fomta como a
pobreza é vista socialmente se modifica.O
significadomístico de pobreza no periodo medieval, associada
ao
despojamento,pouco
tema
ver
com
a
noção de pobrezacomo
falta ”. (Vieira, 1994: 18)'Os
significados dados à pobreza sofrem alterações, desde o entendimento religiosoda pobreza
como
um
privilégio dos bem-aventurados ecomo
taluma
bênção
divina,
uma
-qualidade almejada, até a atualidade,quando
pobreza é associada a falta,carência, percorreu-se
um
longo caminho.No
primeiro caso haviauma
positividade relacionada a esta situação:Alba
Zaluar (1994: 18), ao analisar.as alterações culturais ocorridas
no
país, especificamentecom
relação àsnoções
de pobreza nas últimas décadas, afirma que “apobreza
perde
seu sinal positivo
de
valor espiritual,para
adquirirum
sentido negativo de carência, de faltade
bens,que
implicaperda
de status, depoder
e sucesso social”.Neste
sentido, a autora afirma: “a idéia básica depobreza
nopensamento
erudito
que
marcou
todo o período autoritário éda
carência material,quando
a
política social se caracterizavacomo
assistencialista, paternalista e clientelistóf(Zaluar,l992:40). Desta forma, a desigualdade foi interpretada
no
plano social apenascomo
resultado de “carências materiais”,sem
vincula-laàs desigualdades políticas ejurídicas.
Conforme
a autora:“Houve
um
duplo reducionismo : o de confundira
pobrezae a
desigualdadesocial
com a
privação absoluta na sua manifestação concreta mais evidente -a
fome
- ; e ,o de reduzira
cidadania aos direitos sociais.No
primeiro caso,a
redução negou as profundas transformações nos padrões de consumo das famílias de trabalhadores pobres, o que explica
a
privação relativaa
outros grupos ou categorias sociais(...) no segundo casoa
redução foia
armadilha que impediu oentendimento de (...) que os direitos políticos e juríalicos são jundamentais
na
efetivação dos direitos sociais ”. (Zaluar, I992:4I)
Logo, pobreza