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(Re)constituição identitária de tradutores : entre a aderência e a resistência à fetichização das ferramentas tecnológicas

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Academic year: 2021

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

INSTITUTO DE ESTUDOS DA LINGUAGEM

TEREZINHA RIVERA TRIFANOVAS

(RE)CONSTITUIÇÃO IDENTITÁRIA DE TRADUTORES: ENTRE A ADERÊNCIA E A RESISTÊNCIA À FETICHIZAÇÃO DAS

FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS

CAMPINAS

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TEREZINHA RIVERA TRIFANOVAS

(RE)CONSTITUIÇÃO IDENTITÁRIA DE TRADUTORES: ENTRE A ADERÊNCIA E A RESISTÊNCIA À FETICHIZAÇÃO DAS

FERRAMENTAS TECNOLÓGICAS

Defesa de tese de doutorado apresentado ao Instituto de Estudos da Linguagem da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP) para obtenção do título de doutora em Linguística Aplicada do Programa de Pós-graduação do Instituto de Estudos da Linguagem, na área de Linguagem e Sociedade.

Orientadora: Profa. Dra. Maria José Rodrigues Faria Coracini

Este exemplar corresponde à versão final da Tese defendida pela aluna Terezinha Rivera Trifanovas e orientada pela Profa. Dra. Maria José Rodrigues Faria Coracini.

CAMPINAS

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Ficha catalográfica

Universidade Estadual de Campinas Biblioteca do Instituto de Estudos da Linguagem

Crisllene Queiroz Custódio - CRB 8/8624

Trifanovas, Terezinha Rivera,

T733r Tri(Re)constituição identitária de tradutores : entre a aderência e a resistência à fetichização das ferramentas tecnológicas / Terezinha Rivera Trifanovas. – Campinas, SP : [s.n.], 2016.

TriOrientador: Maria José Rodrigues de Faria Coracini.

TriTese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Instituto de Estudos da Linguagem.

Tri1. Tecnologia - Serviços de tradução. 2. Análise do discurso. 3. Fetichismo. 4. Identidade (Conceito filosófico). 5. Representação (Linguística). I. Coracini, Maria José Rodrigues Faria,1949-. II. Universidade Estadual de Campinas. Instituto de Estudos da Linguagem. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: Translators identity (re)constitution : between adherence and

resistence towards fetishization of the technological tools

Palavras-chave em inglês:

Technology - Translating services Discourse analysis

Fetishism

Identity (Philosophical concept) Representation (Linguistics)

Área de concentração: Linguagem e Sociedade Titulação: Doutora em Linguística Aplicada Banca examinadora:

Maria José Rodrigues de Faria Coracini [Orientador] Eliane Righi de Andrade

Érika Nogueira de Andrade Stupiello Márcia Aparecida Amador Máscia Rosa Maria Olher

Data de defesa: 19-05-2016

Programa de Pós-Graduação: Linguística Aplicada

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BANCA EXAMINADORA:

Maria José Rodrigues Faria Coracini

Eliane Righi de Andrade

Érika Nogueira de Andrade Stupiello

Márcia Aparecida Amador Mascia

Rosa Maria Olher

Marcelo El Khouri Buzato

Érica Luciene Alves de Lima

Anna Maria Grammatico Carmagnani

IEL/UNICAMP 2016

Ata da defesa com as respectivas assinaturas dos membros encontra-se no processo de vida acadêmica do aluno.

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DEDICATÓRIA

Aos meus filhos, Lucca e Rafael, por me ensinarem que não temos caminhos traçados, mas sim percursos múltiplos que nos levam a experiências inimagináveis.

Aos meus pais pela herança familiar; de minha mãe, Dna. Stefania, a responsabilidade e a criticidade, e de meu pai, Sr. Eugênio, a seriedade e a perseverança.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Profa. Dra. Maria José de Faria Rodrigues Coracini, por sua generosidade em entregar seu valioso conhecimento acadêmico de forma desvelada e apaixonada.

Às Profas. Dras. Márcia Aparecida Amador Máscia e Érika Nogueira de Andrade Stupiello, integrantes das bancas de qualificação de projeto e de tese, cujas contribuições teóricas tanto auxiliaram no desenvolvimento desta pesquisa.

Às Profas. Dras. Eliane Righi de Andrade e Rosa Maria Olher pelo apoio e incentivo acadêmicos, bem como pelo florescimento de laços de amizade sincera e duradoura.

Aos integrantes do grupo de pesquisa de orientação da Profa. Dra. Maria José de Faria Rodrigues Coracini pelo coleguismo em oferecer importantes sugestões e críticas que propiciaram o redesenho deste estudo.

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O que constitui o interesse principal da vida e do trabalho é que eles lhe permitem tornar-se diferente do que você era no início. Se, ao começar a escrever um livro, você soubesse o que irá dizer no final, acredita que teria coragem de escrevê-lo? O que vale para a escrita e para a relação amorosa vale também para a vida. Só vale a pena na medida em que se ignora como terminará. Michel Foucault, (1988 [2004, p, 294]).

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O objetivo geral deste estudo é o de entender o uso de recursos tecnológicos na prática de tradução e, assim, contribuir para os Estudos da Linguagem e da Tradução, sobretudo, o movimento que o advento tecnológico provoca na identidade do tradutor e na prática tradutória. No mercado de traduções, a atividade tradutória parece apenas ser viável pela idealização tecnológica, ou seja, a qualidade da tradução é colocada como um ideal de perfeição, impecabilidade e maestria apenas possível pelo aparato tecnológico, responsável por apagar deslizes tributários da imperfeição humana e da equivocidade da língua. Diante disso, apresentamos a hipótese de que as tecnologias de tradução funcionam como enxertos, próteses, substitutivos imprescindíveis ao conhecimento linguístico do tradutor, instaurados como um fetiche o qual assegurará a legitimação da qualidade tradutória. Os recortes discursivos, advindos das entrevistas conduzidas por Skype e Facebook, com 19 tradutores, formaram dois eixos de análise. No primeiro, notamos, por parte de alguns tradutores, aderência à hegemonia tecnológica, refletindo representações de si enquanto parte de uma elite tecnológica por possuir expertise em softwares atualizados para a realização do ato tradutório. No segundo eixo, observamos, por parte de outros tradutores, resistência à imposição tecnológica, realçando representações de si como integrantes de um grupo desvalorizado, consciente de que precisa lidar com as exigências do mercado de traduções. Diante disso, conectamos a concepção freudiana de fetichismo como uma atitude de submissão à tecnologia e a concepção marxista de fetichismo como um anseio de objeção à tecnologia. Na primeira, é necessária a presença de algum elemento externo, substituindo o pênis, para a realização sexual. Na segunda, a mercadoria é transformada de matéria inorgânica à criatura orgânica para a realização comercial.

Palavras-chave: tecnologias de tradução, análise de discurso, fetichismo,

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The main goal of this research is to understand the usage of technological tools in the translation practice and therefore to contribute for Language and Translation Studies, especially, the movement that the technological advent generates in the translator identity as well as in the translation practice. In the translation industry, translation practice seems to be only possible through technological idealization, that is, quality in translation is viewed as a concept of perfection, impeccability and mastership only feasible by the technological apparatus, responsible for erasing lapses from human imperfection and language equivocity. In light of this, we hypothesize that translation technologies work as scions, prostheses, substitutives indispensable to the translator’s linguistic knowledge, established as a fetish which will assure legitimization of translation quality. The discoursive extracts, from the interviews done by Skype and Facebook, with 19 translators, formed two analytical axis. In the first, we observed, from some translators, adherence to the technological hegemony reflecting representation of the self as part of a technological elite for having updated software expertise to carry out the translation act. In the second axis, we observed, from other translators, resistance to the technological imposition highlighting representations of the self as part of a devaluated group conscious of the necessity to deal with demands from the translation industry. Wherefore we connected the Freudian concept of fetish as a submission attitude towards technology and the Marxist concept of fetish as an objection desire for technology. On the former, it is paramount the presence of an external element, replacing the penis for the sexual accomplishment. On the latter, merchandise is transformed from inorganic matter to organic creature for the commercial achievement.

Keywords: translation technologies, discourse analysis, fetishization, identity,

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ASR Automatic Speech Recognition CAT Computer-Aided Translation ES Espanhol FR Francês I18N Internationalization IN Inglês L10N Localization MT Machine Translation MT Memória de Tradução

OCR Optical Character Recognition PTBR Português Brasileiro

RD Recorte Discursivo TA Tradução Automática

TAC Tradução Assistida por Computador TM Translation Memory

TRAD Tradutor

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1. INTRODUÇÃO 1.1. Motivações Iniciais ... 11 1.2. Justificativa ... 12 1.3. Objetivos e Hipótese ... 14 1.4. Metodologia ... 14 2. TECNOLOGIAS DE TRADUÇÃO 2.1. Tradumática ... 24 2.2. Tradução Automática ... 26

2.2.1. Línguas Naturais Controladas ... 29

2.2.2. Pós-Edição ... 30

2.2.3. Tradução Colaborativa ... 31

2.3. Sistemas de Memórias de Tradução ... 33

2.3.1. Memórias de Tradução ... 33 2.3.2. Tradução Móvel ... 35 2.3.3. Legendagem ... 36 2.4. Internacionalização ... 37 2.4.1. Localização ... 38 2.4.2. Glocalização ... 40 2.4.3. Globalização ... 40 3. TRANSCURSO TEÓRICO 3.1. Fetiche ... 43 3.2. Tradução ... 53 3.3. Escritura ... 58 3.4. Sujeito e Identidade ... 64

4. ANÁLISE DO USO DAS TECNOLOGIAS DE TRADUÇÃO 4.1. Representações de si: satisfação por integrar uma elite tecnológica ... 71

4.2. Representações de si: preocupação com a hegemonia tecnológica ... 95

5. POSSIBILIDADES CONCLUSIVAS ... 114

6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ... 125

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1. INTRODUÇÃO

Um motor de busca predominante pode fazer mais do que apenas influenciar os usuários. Ele pode aprender coisas sobre indivíduos, empresas, países, grupos de usuários e toda a população de usuários da internet. Esse conhecimento pode ser usado para detectar tendências, prever acontecimentos, ganhar dinheiro e intimidar inimigos.

Cleland e Brodsky (2012, p. 20)

1.1. Motivações Iniciais

Nossa motivação inicial de apresentar um projeto de pesquisa para doutoramento em Linguística Aplicada da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), com o intuito de estudar as representações sobre tradutores e tecnologias, deve-se à experiência profissional, como docente de língua inglesa, e à experiência acadêmica, como discente de especialização em tradução. No primeiro contexto, observamos repetidas indagações de alunos de cursos sequenciais de formação de tecnólogos a respeito da metodologia da disciplina intitulada Inglês Instrumental, ministrada em formato semipresencial. Diante da dificuldade que esses alunos apresentavam com o conteúdo da disciplina, constantemente, havia discussões, em sala de aula, acerca da efetiva necessidade de eles cursarem tal disciplina. Os alunos argumentavam que, no cotidiano profissional, e até pessoal, o Google Tradutor resolveria todas as necessidades ou dificuldades de leitura e compreensão de textos escritos não só em inglês, mas em qualquer língua.

No segundo contexto, igualmente, testemunhamos discussões, em sala de aula, em que os professores (tradutores experientes) manifestaram preocupações quanto à reconfiguração do mercado de tradução em que pesem questões de contratação de serviços. Segundo eles, tradutores com ou sem vínculo empregatício enfrentam questões de ordem econômica, no que tange ao valor a ser cobrado por serviços de tradução, em virtude da disponibilização pública e gratuita de tradutores automáticos, mais precisamente, o Google Tradutor. Segundo os professores/tradutores, a contratação de serviços de tradução se dá por negociações acirradas com clientes e intermediações de grandes empresas de tradução, ambas as partes argumentando que, diante do aprimoramento da qualidade das traduções automáticas, há que se baratear os custos dos textos

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traduzidos. Ou seja, questões de ordem econômica e tecnológica vêm afetando, de forma inédita, a atividade de tradução e a identidade dos tradutores.

Após testemunharmos tais discussões – em que o Google Tradutor se apresentava como um componente de ligação entre discursos, aparentemente díspares, buscamos, em comunidades virtuais e blogs de tradução, postagens de tradutores sobre o uso de tecnologias de tradução. Nesses sites, encontramos comentários bastante favoráveis à utilização de tecnologias na prática tradutória, diferentemente do que vimos com os professores de tradução. É bem verdade que a maioria desses sites ou blogs tem a assinatura de renomados tradutores que já se tornaram proprietários de grandes agências de traduções que monopolizam a obtenção de contratos exponenciais para prestação de serviços de tradução os quais são, então, repassados para tradutores autônomos ou em início de carreira. Diante deste cenário, interessamo-nos em problematizar a tarefa do tradutor em relação à utilização das tecnologias de tradução, analisando quais representações sobre tecnologias, tradução e tradutores se cristalizam no imaginário de tradutores profissionais, com o intuito de observar como a subjetividade do tradutor está sendo constituída na pós-modernidade e as possíveis consequências desse movimento.

1.2. Justificativa

A proposição deste estudo está aliada aos constantes avanços tecnológicos presentes em quase todos os aspectos da vida contemporânea, nas sociedades ditas globais. Nos Estudos da Linguagem, a problematização acerca das Novas Tecnologias de Informação e Comunicação (NTICs), inseridas em contextos de ensino e aprendizagem de línguas, encontra-se em um patamar privilegiado graças às contribuições de Coracini, Uyeno e Mascia (2011), as quais se debruçaram sobre o tema, priorizando uma perspectiva particularmente desconstrutivista, em oposição a uma proposição prescritiva. Percorrendo essa via desconstrutivista, iniciada no mestrado (TRIFANOVAS, 2007) em que analisamos o discurso de professores de inglês em um contexto de ensino a distância semipresencial, acreditamos na relevância de se estudar a utilização de ferramentas de tradução digital, observando a tessitura do discurso de tradutores.

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No atual mercado de traduções, a tarefa do tradutor deve ser concluída com eficiência sobre-humana capaz de neutralizar as idiossincrasias culturais, linguísticas e sociais ali envolvidas. E como viabilizar que a tradução mediada por tecnologias tenha, ao mesmo tempo, a eficiência de um tradutor humano e a eficácia de um programa computacional, produzindo traduções excelentes, econômicas e velozes? A resposta parece estar no movimento inverso, ou seja, não mais se preocupar com as discussões sobre as vicissitudes apresentadas pela língua, constituída pela ambiguidade, opacidade, complexidade, mas sim com a homogeneização, simplificação e pasteurização dessa mesma língua, organizando-a em um projeto ainda mais positivista. Ou seja, uma tentativa em retirar, esconder ou apagar da língua toda sua complexidade que incide na constituição identitária e nos processos de subjetividades.

Ademais, há o questionamento, sempre em pauta, na contemporaneidade, se a inteligência artificial se sobreporá à humana, ou, em nosso caso, se as tecnologias de tradução substituirão a função do tradutor. A função do tradutor está fadada à extinção? Senão, é possível pensar na reconfiguração da atividade do tradutor, especialmente, a do tradutor técnico, e se essa reconfiguração encontra-se já definida em direção apenas de reproduções e repetições linguísticas simplificadas? Diante dessas reflexões, entendemos ser imprescindível, para Estudos da Linguagem, o desenvolvimento de pesquisas que privilegiem a análise do dizer dos tradutores sobre sua própria prática, a qual se apresenta apoiada na utilização das novas tecnologias de tradução, concebendo as formações discursivas (FOUCAULT, 1969 [2005, p. 35])1 como formas de subjetivação e a incidência da tecnologia na identidade dos sujeitos.

Para isso, conduzimos entrevistas com, aproximadamente, vinte tradutores profissionais, com o intuito de analisar, na materialidade linguística, a emergência de efeitos de sentido2 produzidos no dizer do tradutor acerca de sua prática e de seus pares, considerando a utilização tecnológica viabilizada por ferramentas de busca

1

A primeira data refere-se à publicação original, em língua estrangeira e, a segunda refere-se à edição consultada, em língua portuguesa.

2

Nos Estudos do Discurso, a expressão correta é efeitos de sentido, sem plural no segundo termo. Em virtude da multiplicidade de efeitos que um significado poderá produzir.

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eletrônica, softwares para tradução e os serviços virtuais gratuitos de tradução instantânea de textos.

1.3. Objetivos e Hipótese

Em termos gerais, objetivamos contribuir para o entendimento acerca do uso de recursos tecnológicos para os Estudos da Linguagem e da Tradução, sobretudo, o movimento que o advento tecnológico provoca na identidade do tradutor e na prática tradutória e, consequentemente, nas relações profissionais e no mercado de traduções. Especificamente, pretendemos:

1) Problematizar a utilização de tecnologias de tradução;

2) Discutir a reconfiguração da prática tradutória contemporânea; 3) Questionar a reconfiguração identitária do tradutor.

No mercado de traduções, a atividade tradutória parece apenas ser viável pela idealização tecnológica, ou seja, a qualidade da tradução é colocada como um ideal de perfeição, impecabilidade e maestria apenas possível pelo aparato tecnológico, responsável por apagar deslizes tributários da imperfeição humana e da equivocidade da língua. Diante disso, apresentamos a hipótese de que as tecnologias de tradução funcionam como enxertos, próteses, substitutivos imprescindíveis ao conhecimento linguístico do tradutor, instaurados como um fetiche, o qual assegurará a legitimação da qualidade tradutória. Desdobramos essa hipótese em três perguntas de pesquisa:

1) Que representações emergem, no dizer do tradutor, sobre tecnologias? 2) Que representações emergem, no dizer do tradutor, sobre tradução? 3) Que representações de si e do outro emergem, no dizer do tradutor?

1.4. Metodologia

Adotaremos uma perspectiva discursivo-desconstrutivista, analisando os recortes discursivos extraídos das entrevistas com os tradutores. Tais recortes discursivos (RD) constituirão o corpus da pesquisa que, ao serem agrupados, constroem efeitos de sentido no processo de análise da materialidade linguística e das condições de produção. Assim, acreditamos ser possível observar as representações e a

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constituição das subjetividades dos tradutores contemporâneos pelo viés do seu dizer. Tais conceitos serão discutidos mais amiúde no capítulo teórico.

No que diz respeito à análise da materialidade linguística, focalizaremos as estratégias argumentativas de natureza verbal. Abordaremos, por exemplo, a formação do discurso dos tradutores entrevistados, a fim de analisar as representações que os tradutores fazem de si e de seus pares. A análise da materialidade linguística, ou seja, do intradiscurso, do fio do dizer, propicia a identificação dos sentidos contidos nos enunciados dos sujeitos, não por querermos encontrar sentidos ocultos, mas, ao contrário, para evidenciarmos os sentidos presentes, porém sutis, e seus desdobramentos na constituição das subjetividades. Em Foucault (1984 [2004, p. 236]), a noção de subjetividade é pensada como a

maneira pela qual o sujeito faz a experiência de si mesmo em um jogo de verdade, no qual ele se relaciona consigo mesmo.

Nas teorias de discurso, é essencial observar as condições de produção do discurso, isto é, toda a circunstancialidade social e histórica em torno do ato enunciativo. Essa contextualização está, consideravelmente, atrelada às formações discursivas propostas por Foucault (1969 [2005, p. 30]), entendidas como sendo o discurso em formação, sempre em mobilidade, instável, mapeando, em um dado momento histórico-social, as possibilidades de expressão.

Em consonância com essa perspectiva discursiva, esta pesquisa ancora-se, também, na perspectiva desconstrutivista de Derrida pensada como um modo, uma atitude, uma postura ou uma possibilidade de problematização ou de questionamento. Desconstrução, na obra de Derrida, não se refere à desmontagem nem à destruição. Tampouco se aproxima da teoria hegeliana da proposição de uma tese, com a contraposição de uma antítese e a solução por uma síntese. Desconstrução é uma crítica de dentro; é a partir do edifício histórico-social e cultural, em que nos inserimos, e da epistemologia ocidental que há a possibilidade de problematizar ou questionar o que, invariavelmente, nos constitui como sujeitos, a fim de viabilizar a emergência de partes in(visíveis), o que poderá abrir possibilidades para interpretações de possíveis interditos. Foi a partir do gesto de leitura empreendido por Derrida às obras clássicas de sua preferência que se

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constituiu o que hoje denominamos desconstrução, contribuição inestimável para novas perspectivas teórico-filosóficas contemporâneas.

A hegemonia teórica logocêntrica começou a ser questionada por Nietzsche e teve continuidade nas obras de Foucault e Derrida, embora eles também tivessem sido constituídos pela fantasia logocêntrica (ARROJO, 1993, p. 29) e pelo estruturalismo, presente nas ciências humanas e sociais, a partir de 1950, e originário das contribuições teóricas de Wundt, na psicologia, de Saussure, na linguística, e de Claude Lévi-Strauss, na antropologia. Os estruturalistas estavam interessados em analisar as estruturas e suas regularidades, endossando a perspectiva logocêntrica. Ainda nos dias de hoje, é possível observar essa herança cartesiana e estruturalista em variadas áreas do conhecimento, especialmente, nos estudos da linguagem. Ou seja, somos todos ainda constituídos pela naturalização da lógica cartesiana, independentemente de um posicionamento teórico contrário a ela. Sobre a desconstrução do edifício estruturalista, Derrida (1987 [2005, p. 23 e 24]) escreve:

O “estruturalismo” era então dominante. “Desconstrução” parecia ir nesse sentido, já que a palavra significava certa atenção às estruturas (as quais não são simplesmente nem ideias, nem formas, nem sínteses, nem sistemas). Desconstruir era também um gesto estruturalista, em todo caso, um gesto que assumia certa necessidade da problemática estruturalista. Mas era também um gesto anti-estruturalista – e seu destino se deve, por um lado, a esse equívoco. Tratava-se de desfazer, descompor, dessedimentar as estruturas (todas as estruturas linguísticas, “logocêntricas”, “fonocêntricas” – o estruturalismo sendo então dominado, sobretudo, por modelos linguísticos, da linguística dita estrutural que se dizia também saussuriana, socioinstitucionais, políticos, culturais e, sobretudo, e antes de tudo, filosóficos). É por isso que, principalmente nos Estados Unidos, se associou o móbil da desconstrução ao “pós-estruturalismo” (palavra ignorada na França, exceto quando ela “retorna” dos Estados Unidos). Mas desfazer, decompor, dessedimentar as estruturas, movimento mais histórico, em um certo sentido, que o movimento “estruturalista”, o qual se encontrava, desse modo, recolocado em questão, não era uma operação negativa. Mais que destruir, era preciso também compreender como um “conjunto” se tinha construído e, para isso, reconstruí-lo (DERRIDA, 1987 [2005, p. 23 e 24]).

Desta forma, aliando os Estudos do Discurso às contribuições de Derrida, conforme mencionado, adotaremos uma perspectiva discursivo-desconstrutivista, tal como propõe Coracini (2003, p.13):

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Assumindo a linguagem como opacidade, lugar do equívoco e do conflito, essa perspectiva, que poderíamos chamar de discursivo-desconstrutivista, trabalha, como dissemos, com a concepção de sujeito descentrado, clivado, múltiplo, atravessado pelo inconsciente, de modo que lhe é impossível o controle dos sentidos que produz. Constituindo-se na ilusão de ser a origem do seu dizer, esse sujeito é flagrado pelo já-dito, pela memória discursiva que o precede, pela falta que o constitui, e adia ad infinitum o encontro com a verdade, a completude, a certeza, que ele tanto deseja. Da mesma maneira, constitui-se na ilusão imaginária de que lhe é possível controlar os sentidos que produz, esquecendo-se de que seu dizer terá tantas interpretações quantos forem os intérpretes e as situações de interpretação (CORACINI, 2003, p. 13).

A partir dessa perspectiva metodológica, analisaremos, na materialidade linguística dos dizeres de tradutores, a emergência de efeitos de sentido produzidos acerca da prática tradutória permeada pela utilização tecnológica. Sobre nosso corpus de pesquisa, decidimos entrevistar tradutores, intérpretes, legendadores cuja atividade profissional principal é a prestação de serviços de tradução ou de interpretação. Para isso, inicialmente, acessamos a lista de tradutores credenciados pela Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes (ABRATES, http://abrates.net.br/site/home) e convidamos os 50 tradutores credenciados em algum dos seguintes pares de línguas: português, espanhol, inglês, francês e alemão, para participarem em nossa pesquisa. Enviamos o seguinte e-mail convite:

Assunto: Participação voluntária em pesquisa de doutoramento Prezado (a)

Sou doutoranda em Linguística Aplicada no Instituto de Estudos da Linguagem (IEL) da UNICAMP e gostaria de agendar uma entrevista com você para falarmos sobre a prática tradutória na atualidade. Essa entrevista comporá o corpus de análise de meu projeto de pesquisa e deverá ser online (Skype, Facebook ou e-mail), com duração aproximada de 45 minutos.

Haverá total confidencialidade das informações e sigilo de sua identidade, garantidos por meio da assinatura prévia do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE), aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), conforme exigência da Comissão Nacional de Ética em Pesquisa do Conselho Nacional de Saúde (CONEP), acessível pelo endereço eletrônico http://www.saude.gov.br/plataformabrasil. Em virtude de não haver custos ou despesas financeiras, não haverá nenhuma forma de reembolso para sua participação voluntária nesta pesquisa.

Esperando contar com sua colaboração, agradeço antecipadamente a atenção. Terezinha Rivera Trifanovas

Doutoranda Unicamp – IEL 19-3826-2032

19-9-9772-4409

Skype: terezinha.trifanovas

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Dentre os 50 tradutores convidados, obtivemos 22 respostas e entrevistamos 13 tradutores. Em seguida, acessamos o site Proz.com (http://www.proz.com/about/), considerado a maior comunidade internacional de tradutores, e enviamos o mesmo convite a outros 20 tradutores cadastrados. Recebemos oito respostas e entrevistamos seis tradutores. Assim, nosso material de pesquisa é constituído pelas entrevistas, conduzidas por Skype e Facebook, com 19 tradutores signatários do Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE)3. Formulamos as subsequentes perguntas de natureza aberta e ampla, a fim de permitir que o entrevistado se sentisse à vontade para falar de sua prática, com poucas interferências da pesquisadora.

1) Discorra sobre sua experiência profissional; 2) Comente sobre a tradução no Brasil e no mundo;

3) Narre algum episódio interessante ou peculiar envolvendo tradução;

4) Fale sobre algumas especificidades ou procedimentos da prática tradutória; 5) O que significa, para você, ser um bom tradutor ou fazer uma boa tradução? 6) Qual é, em sua opinião, a diferença entre o tradutor profissional e o amador? 7) Como o tradutor profissional é visto hoje em relação ao passado?

8) Como as tecnologias de tradução são vistas hoje em comparação com o que acontecia há alguns anos?

Durante a análise do material coletado, percebemos que as respostas da pergunta número oito englobava, de forma mais contundente, o universo tradutório, fazendo emergir representações sobre tecnologias, tradução e tradutores. Diante do fato de não termos colocado as perguntas de forma linear e na mesma sequência aos entrevistados, constatamos que as respostas às demais perguntas eram, de alguma forma, constituídas por paráfrases ou recorrências encontradas nas respostas à pergunta número oito. Assim, decidimos compor nosso corpus de análise com as respostas dessa pergunta por elas contemplarem as demais respostas de forma mais consistente. Utilizamos as respostas da pergunta número um para apresentar,

3

Termo de Consentimento Livre e Esclarecido (TCLE) aprovado pelo Comitê de Ética em Pesquisa (CEP) da Faculdade de Ciências Médicas (FCM) da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). Registro CAAE: 19933013.5.0000.5404. http://www.saude.gov.br/plataformabrasil, 2014.

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a seguir, uma breve descrição da experiência profissional dos 19 entrevistados, doravante denominados TRAD 1, TRAD 2, e assim, sucessivamente:

TRAD 1 atua como tradutora há 20 anos. Nos últimos 13 anos, organizou um escritório de traduções em São Paulo, em conjunto com alguns colegas. Trabalha, preferencialmente, com empresas multinacionais nas áreas médica, farmacêutica, ecológica e de proteção ambiental, ocasionalmente, em setores acadêmicos.

TRAD 2 frequentou a educação básica em Genebra (Suíça), até os 15 anos de idade (1974 – 1989). Desde 1989, reside em Brasília e presta serviços de tradução para a Embaixada da França, instituições francesas (IRD, Cirad, CNRS, AFD) e grupos de negócios bilaterais franceses, em Brasília. Desde 1997, atua como tradutor (ES, IN, FR, PTBR > FR, PTBR) e, desde 1999, como intérprete (FR < > PTBR). É tradutor certificado pelas ABRATES e tradutor juramentado (PTBR < > FR), desde 2012. Ministra cursos de Wordfast desde 2010.

TRAD 3 é formado em engenharia, tornou-se tradutor a partir de uma oportunidade para atuar como tradutor in-house, na empresa Oracle, em Denver, Colorado (EUA). Em seguida, trabalhou nove anos para uma agência de tradução, com controle de qualidade da tradução. Fez trabalhos, como tradutor freelance, por cinco meses, e, atualmente, é especialista em Machine Translation, na empresa eBay, na Califórnia (EUA).

TRAD 4 atua como tradutor juramentado (ES< >PTBR), há 37 anos, na Junta Comercial do Rio Grande do Sul, e há alguns anos como tradutor técnico.

TRAD 5 começou a trabalhar com tradução, há 37 anos, como assistente de tradutores de patentes. Em 1983, abriu, com dois sócios familiares, uma empresa de tradução, responsável por traduzir toda a programação inaugural da TV Manchete, constituída por séries de filmes da BBC de Londres. Em seguida, abriu uma editora que expandiu para outros segmentos – informática, construção, artes gráficas, editoração –, tornando-se uma das 10 maiores no Brasil. Em 1999, essa empresa foi adquirida por um grupo multinacional, mais tarde também incorporado por uma multinacional ainda maior. Continua com a empresa de traduções, trabalhando para grandes grupos, como tradutora e organizadora de eventos. Fez o curso de

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extensão em tradução da PUC-RJ e é credenciada pela ATA e pela ABRATES, a qual preside desde 2012.

TRAD 6 serviu, por seis anos, no exército britânico, e, depois, por 12 anos, como investigador na polícia londrina. Mudou-se para o Brasil e tornou-se professor de inglês com o certificado CELTA da Cambridge University. Lecionou, na Cultura Inglesa, por cinco anos. Durante esse tempo, começou a trabalhar com traduções e interpretações e, em 2011, obteve o diploma em tradução (PT > IN) pelo UK

Chartered Institute of Linguistics.

TRAD 7 é formado em Letras - radução (Inglês) pela Universidade de rasília ( 997) e liança Francesa ( ) . Trabalhou como tradutor interno (in-house), em 998, no rasil, em , nos EU e entre 7 e 8, na Inglaterra . Atua como tradutor e intérprete profissional, desde 1998 , em economia, finanças, contabilidade , meio ambiente , administração pública e relações diplomáticas (IN > FR > PT).

TRAD 8 trabalha, desde 1967, com tradução (ES > FR> IN), inicialmente, em uma agência de notícias e diretorias internacionais de camponeses da uíça, do ri Lanka e Panam . Lecionou História da rte, por um ano, na Universidade de Londrina e, por anos, na PU - J. Fez cursos e trabalhou, com o professor Waltensir Dutra, no indicato de radutores ( intra).

TRAD 9 foi executivo de algumas empresas multinacionais e, trabalhou, durante 18 anos, no Citibank, nos últimos 5 anos, como vice presidente de recursos humanos, para a América Latina. Em 2003, abriu uma empresa de tradução, em Curitiba, e presta serviços de traduções para clientes nacionais e internacionais.

TRAD 10 foi professora de inglês durante alguns anos. Dedica-se, desde 2000, integralmente, à tradução.

TRAD 11 iniciou a atividade de tradução, em 1990, trabalhando em firmas de consultoria jurídica. Fez cursos de tradução geral (Brasillis), tradução jurídica (Inlíngua e PUC), pós-graduação em tradução (Universidade Gama Filho) e Interpretação simultânea e consecutiva (Brasillis).

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TRAD 12 é formada em Letras pela Universidade Mackenzie e, em 1975, iniciou como professora. Fez pós-graduação Lato Sensu, na Universidade de São Paulo (USP), em tradução de linguagem jornalística, e, em 1996, concluiu o curso de tradução da Alumni. Especializou-se na área jurídica, fazendo cursos livres de tradução com Claire Charity, e cursos de gramática avançada para tradutores com ristina Martorano. Em 999, foi acreditada como tradutora juramentada. Formou-se, em 7, em direito e concluiu o curso de pós-graduação em direito contratual.

TRAD 13 estudou inglês, no Instituto Cultural Brasileiro-Norte-Americano (ICBNA), francês, na Aliança Francesa de Porto Alegre, italiano, na Sociedade Italiana do Rio Grande do Sul, e alemão, no Instituto Goethe de Porto Alegre. Residiu em Portugal e na Espanha. Seu primeiro trabalho profissional foi a tradução, em equipe, de uma versão, em inglês, do Corão, para o português, em 1992, quando morava em Lisboa. A equipe era composta por um editor português, que coordenava o projeto, um sacerdote muçulmano, que traduzia os versos sagrados do Corão e o signatário, que traduzia as notas de rodapé de cada página da obra (de 30 a 35 linhas de notas de rodapé por página). Em 1995, abriu uma empresa de traduções e, em 1997, tornou-se tradutor e intérprete judicial da Justiça Federal do Brasil, Seção Judiciária de São Paulo. Em 2013, ingressou no curso de Tradução e Interpretação, da Universidade Católica de Santos.

TRAD 14 se considera bilíngue nativa (PT < > ES) e, desde 1999, trabalha como tradutora e intérprete (PT < > ES > IN). Possui mais de 5.000 horas de interpretação simultânea. Participou de diversos projetos internacionais: FMI, OMS/OPAS, FAO/Unesco, DEA - USA, Polícia Federal, Funasa, White Martins, Conselho Britânico, Itaú Cultural entre outros. Em 2005, foi credenciada pela Associação Brasileira de Tradutores e Intérpretes (ABRATES). Em 2006, concluiu pós-graduação em tradução português e espanhol na Universidade Gama Filho- RJ. Em 2009, foi aprovada no concurso para Tradutor Público e Intérprete Comercial do Estado do Rio de Janeiro.

TRAD 15 aprendeu português, durante os 18 meses que residiu, no Brasil, na adolescência. Há 25 anos, trabalha como tradutor e intérprete autônomo (PT > IN) e como professor em uma universidade americana. Já prestou serviços de tradução para o Departamento de Estado dos Estados Unidos.

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TRAD 16 faz traduções e revisões de textos jurídicos e financeiros (PT > ES > IN), há 20 anos. Atualmente, é funcionário de um banco internacional de investimentos. TRAD 17 foi professora de inglês, por mais de 25 anos. Trabalhou, por 13 anos, na União Cultural Brasil-Estados Unidos (UCBEU). Morou, nos Estados Unidos por quase três anos, quando começou a traduzir manuais técnicos. De volta ao Brasil, fez o curso de Tradutor - Intérprete da Alumni. Atualmente, faz um curso de tradução literária.

TRAD 18 é tradutora há 22 anos, principalmente, na área de tecnologia da informação (TI). Morou, por 20 anos, nos EUA, trabalhando, como secretária, para um tradutor húngaro e, depois, como tradutora em agências de tradução. Atualmente, vive no Brasil e é tradutora juramentada (JUCEPAR).

TRAD 19 É tradutor freelance (PT > EN), em tempo integral, há 11 anos. Embora não tenha graduação, credenciamento ou treinamento formal em tradução, estabeleceu boa reputação profissional.

Do exposto, observamos que apenas dois tradutores possuem graduação em Letras (TRAD 7 e TRAD 12) e três tradutores possuem pós-graduação em Tradução (TRAD 11, TRAD 14 e TRAD 17). A maioria dos demais entrevistados possui graduação em outras áreas e adquiriu experiência em tradução a partir do contato com as línguas estrangeiras, fomentando o interesse por trabalhar, em tempo integral, com tradução e interpretação. A faixa etária dos entrevistados é de 40 a 60 anos de idade, o que significa dizer que, na fase de ingressar no ensino superior, já havia oferta de cursos de formação específica em tradução, a exemplo dos cursos de bacharelados em tradução no Rio de Janeiro e São Paulo, a partir da década de 1960, conforme informa Wyler (2003, p.140)

Uma das consequências da expansão do mercado de trabalho foi a abertura de bacharelados de tradução no Rio de Janeiro e em São Paulo, a partir da década de 1960. Respaldados pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação de 1968, o primeiro a requerer reconhecimento foi o da Faculdade Ibero-Americana, embora o da PUC do Rio de Janeiro tenha sido o primeiro a entrar em funcionamento (WYLER, 2003, P. 140).

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A título de enfatizar o nascimento desse contexto acadêmico em tradução, lembramos que a Associação Brasileira de Tradutores (ABRATES) foi criada em 21 de maio de 1974, no Rio de Janeiro, por um grupo de intelectuais liderado por Paulo Rónai. Por conseguinte, nos dias 23, 24 e 25 de abril de 1975, foi realizado o Primeiro Encontro Nacional de Tradutores (WYLER, 2003, p. 142), organizado pelo Departamento de Letras e Artes da PUC/RJ e ABRATES.

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2. TECNOLOGIAS DE TRADUÇÃO

Eu tenho dificuldade em aprender línguas, e isso é exatamente a beleza da tradução automática: a coisa mais importante é ser bom em matemática.

Och, 2013 4

Com a internet, a comunicação internacional ganhou desdobramentos que, ainda nos dias de hoje, não estão totalmente compreendidos ou vislumbrados pelo próprio público que utiliza e consome bens e serviços oferecidos via web. Nas últimas décadas, a prática tradutória, nos moldes que a conhecemos, tem passado por processos de constantes transformações em razão da agilidade das atualizações de recursos tecnológicos. Apresentamos a seguir, um breve histórico das Tecnologias de Tradução.

2.1. Tradumática

A junção entre a atividade de tradução e os recursos de informática possibilitou o surgimento do termo “tradum tica” (inform tica aplicada à tradução), ou seja, é o conjunto da terminologia, da documentação e da informática aplicado à tradução (http://cvc.instituto-camoes.pt/tradumatica/). De acordo com a exposição de Davidson e Teixeira (2013, http://pt.slideshare.net/lizardon/26365), esses recursos informáticos podem ser divididos em três grupos:

1) Ferramentas de tradução que intervêm no processo de tradução de forma direta ou indireta:

DIRETA:

a) programas de tradução automática (Google tradutor, Bing tradutor, Systran BabelFish, WorldLingo, etc.);

4 Tradução nossa: I have trouble learning languages, and that’s precisely the beauty of machine translation: The most important thing is to be good at math. Franz Josef Och, cientista computacional alemão, liderou, de 2004 a 2014, a equipe responsável pela criação, desenvolvimento e disponibilização do Google Tradutor, em abril de 2006.

http://interpretamerica.com/index.php/45-home-page-blogs/108-interpreting-the-news-translate-this-google-s-quest-to-end-the-language-barrier, 2015.

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b) tradução assistida por computador – CAT Tools – (Wordfast, MemoQ, OmegaT, DéjàVu, SDLTrados, etc).

INDIRETA:

a) processadores de texto (Microsoft Word, Open Office, etc.);

b) programas de tratamento de imagem (Optical Character Recognition –

OCR ABBYY), de conversão e de edição de texto (PDF Adobe) e

reconhecimento de voz (Automatic Speech Recognition – ASR).

2) Ferramentas que auxiliam o processo tradutório como fontes de informação ou recuperadores de informação gerada pelo tradutor:

a) dicionários e enciclopédias online; b) corpus terminológico (WordSmith Plus); c) glossários virtuais.

3) Ferramentas acessórias à tradução para gerenciamento de arquivos: a) correio eletrônico;

b) compartilhamento e transferência de arquivos (DropBox, ICloud, Google Drive, etc); ferramentas de backup (Combien Backup, BackUp Maker, Personal Backup, etc);

c) redes de relacionamentos (facebook, twitter, whatsapp, etc); comunidades de tradução (ProZ, pt.lexis.pro, Tradwiki, ranslator‟s café, etc.)

(DAVIDSON E TEIXEIRA, 2013, http://pt.slideshare.net/lizardon/26365). A seguir, detalhamos um pouco mais sobre os recursos informáticos, atualizações tecnológicas e contextos virtuais.

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2.2. Tradução Automática

Considerando as diversas etapas de sua história, a Tradução Automática recebeu, na língua inglesa, inúmeras designações, tais como, mechanical translation,

machine translation, computer translation, electronic translation, digital translation. A

Tradução Automática se relaciona ao desenvolvimento de sistemas computacionais para a produção de traduções, conforme a definição de Hutchins (1995, p. 431):

O termo “tradução autom tica” (M em inglês) se refere a sistemas computadorizados responsáveis pela produção de traduções com ou sem a assistência humana. Isso exclui ferramentas de tradução computadorizadas que auxiliam tradutores pelo acesso a dicionários online, bancos de dados de terminologia com acesso remoto, transmissão e recepção de textos, etc.5 (HUTCHINS, 1995, p. 431 http://www.hutchinsweb.me.uk/ConcHistoryLangSci-1995.pdf, 2016).

O percurso da Tradução Automática teve sua origem, em 1629, a partir da proposta de René Descartes de uma língua universal com a afirmação de que ideias equivalentes em diferentes línguas partilhavam o mesmo símbolo. No esteio da concepção cartesiana, por volta do século XVII, o monge Johannes Becher escreveu sobre a possibilidade de automatização do processo tradutório entre línguas naturais pela criação de uma metalinguagem matemática para descrever o significado de frases escritas em qualquer língua (FREIGANG, 2001, http://cvc.instituto-camoes.pt/tradumatica/rev0/freigangPT.html).

Entre 1930 e 1940, os primeiros aparelhos mecânicos foram inventados, em contextos geográficos isolados, pelo engenheiro francês Georges Artusruni, (inventor do “cérebro humano”) e pelo engenheiro russo Petr rojanskij os quais consistiam no escaneamento das perfurações em cartões contendo expressões de uma língua natural relacionando-as com palavras de outra língua natural, também perfuradas em cartões. Quase simultaneamente, durante a segunda guerra mundial, o matemático britânico Alan Turing concebeu o dispositivo teórico conhecido como “m quina universal”, que é um modelo abstrato de um computador restrito aos

5 Tradução nossa: The term 'machine translation' (MT) refers to computerized systems responsible for the production of translations with or without human assistance. It excludes computer-based translation tools which support translators by providing access to on-line dictionaries, remote terminology databanks, transmission and reception of texts, etc. (HUTCHINS (1995, p. 431 http://www.hutchinsweb.me.uk/ConcHistoryLangSci-1995.pdf, 2016).

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aspectos lógicos do seu funcionamento e não à sua implementação física. Em uma máquina de Turing é possível modelar qualquer computador digital.

Sob a égide das contribuições computacionais, abriram-se as possibilidades para o nascimento da linguística computacional também voltada para a Tradução Automática, culminando na experiência de sucesso da Universidade de Georgetown, que, em 1954, possibilitou a tradução totalmente automática de mais de 60 frases do russo para o inglês. No mesmo ano, na Universidade de Londres, o Birkbeck College fez a demonstração de uma tradução rudimentar do inglês para o francês utilizando a máquina APEXC. (FREIGANG, 2001, http://cvc.instituto-camoes.pt/tradumatica/rev0/freigangPT.html).

Diante desse escopo, nas décadas de 50 e 60 (HUTCHINS, 1986a, Chapter 1, http://www.hutchinsweb.me.uk/PPF-1.pdf), com a ameaça do programa espacial soviético, em particular com o lançamento do primeiro Sputnik em 1957, o governo americano estimulou, nas esferas governamentais e militares, a tradução entre o idioma russo e inglês. Até a metade da década de 60, a Tradução Automática foi alvo de intensa atividade de pesquisa, despertando atenção do público em geral. Contudo, as dificuldades técnicas e a complexidade linguística reduziram as expectativas de pronta comercialização de programas de Tradução Automática. Em seguida, ocorreu a divulgação do célebre Relatório ALPAC6, em 1966, atestando que as pesquisas em tradução automática tinham fracassado e não mereciam seriedade científica. Provavelmente, o argumento mais persuasivo do Relatório ALPAC tenha sido os poucos avanços científicos em Tradução Automática em relação ao enorme investimento de recursos públicos do governo americano (HUTCHINS, 1986b, Chapter 8, http://www.hutchinsweb.me.uk/PPF-8.pdf ).

Na década de 70, o estado embrionário da União Europeia evidenciou as consequências da multiplicidade linguística nas transações administrativas, comerciais e políticas entre os países europeus. Com isso, alavancaram-se pesquisas em Tradução Automática, a exemplo do SYSTRAN, considerado o mais antigo sistema de Tradução Automática do mundo, desenvolvido por Dr. Peter Toma

6A Academia Nacional de Ciências (National Academy of Sciences) dos Estados Unidos, formou um comitê intitulado ALPAC (Automatic Language Processing Advisory Committee) em abril de 1964.

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em 1968. O SYSTRAN teve reconhecimento acadêmico por ser linguisticamente avançado, tendo sido utilizado pelo Departamento de Defesa dos Estados Unidos e pela Comissão Europeia. Arthern (1979, p. 79), comentando a proposta do SYSTRAN, previu a união entre o trabalho mecânico e humano, abrindo espaço para o nascimento da função do pós-editor. Essa concepção inicial da importância da função do pós-editor foi também antevista por Kay (1980, p. 11).

A contribuição do século XXI para a Tradução Automática foi trazida sob o formato do Google Tradutor, publicamente disponibilizado em Abril de 20067, e concebido a partir de textos oficiais da Organização das Nações Unidas (ONU), vertidos em seis idiomas. Em seguida, a empresa recorreu aos documentos bilíngues de arquivos públicos, disponibilizando-os na internet. Hoje, O Google Tradutor traduz e verte textos em 71 idiomas (http://www.spiegel.de/international/europe/google-translate-has-ambitious-goals-for-machine-translation-a-921646.html) e conta com a colaboração de seus próprios usuários para ampliar o banco de dados, sugerindo traduções mais aprimoradas àquelas que são disponibilizadas pelo Google Tradutor. Especialistas dessa ferramenta de tradução estudam possibilidades de incluir, além dos algoritmos, regras gramaticais no programa, que possibilitariam compor textos mais fluentes.

Exemplos atuais de Tradução Automática mais conhecidos são: Google Tradutor, Bing Tradutor, Systran BabelFish, WorldLingo. Assim, com a utilização de programas computacionais, a tradução é realizada de forma automática, envolvendo a decodificação e recodificação de unidades de tradução de um texto da língua de partida para a língua de chegada. De acordo com a explicação de Abaitua (2001, http://cvc.instituto-camoes.pt/tradumatica/rev0/abaituaPT.html), a Tradução Automática apresenta melhor funcionamento em traduções restritas a um campo semântico semelhante ou padronizado, em que unidades de tradução são equiparadas às unidades de significado, ou seja, o menor segmento do enunciado que produz sentidos. As unidades de tradução são classificadas em categorias e

7

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subcategorias morfossintáticas: colocações, lexias8 complexas, locuções, locuções idiomáticas e fórmulas.

Desde o fim de 2013, o Google Tradutor incluiu, como parte da versão do aplicativo Android, traduções de voz e imagens. A versão de 2015 do aplicativo do Android (também disponível em IPhone Operating System, IOS) para smartphones traduz em tempo real a fala entre duas pessoas que estejam conversando em línguas diferentes. O aplicativo também tem a função para fotografar palavras (Word Lens

function) permitindo que a lente da câmera foque em algum texto escrito

(sinalizações públicas, placas de trânsito, instruções em geral, anúncios publicitários, etc.) e traduza automaticamente na tela do celular. Atualmente, Word

Lens traduz do/para inglês, francês, alemão, italiano, português, russo e espanhol,

com expansão para mais línguas (http://www.gizmag.com/google-translate-update/35605/).

2.2.1. Línguas Naturais Controladas

As chamadas Línguas Naturais Controladas (Controlled Natural Languages) são subgrupos de uma língua natural, possíveis pela restrição gramatical que objetiva a redução ou a eliminação da ambiguidade e da complexidade, presentes em qualquer língua. Há duas categorias de línguas naturais controladas:

a) Simplificadas ou técnicas, cujo objetivo é melhorar a produção de

documentação técnica e simplificar a tradução semiautomática de textos. Para isso, há regras generalizantes para a escrita, tais como: manter as sentenças curtas, evitar o uso de pronomes, usar apenas palavras dicionarizadas, usar apenas a voz ativa. Exemplos desta categoria de Língua Natural Controlada são: aterpillar echnical English, I M‟s Easy English, Gellish Formal English, Simplified Technical Russian, Controlled Language Optimized for Uniform Translation, International Auxiliary Language.

8 Ling. Qualquer unidade do léxico (palavra, locução etc.), Unidade lexical que encerra um significado [Pode ser simples, composta ou complexa.] http://www.aulete.com.br/lexia, 2016.

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b) Baseadas em lógica formal, cujo objetivo é a representação lógica do

conhecimento. Para isso, há a formalização da sintaxe e da semântica utilizando conceitos de lógica de primeira ordem na escrita, tais como consistência automática, checagem de redundância e consulta para pergunta-resposta. Exemplos desta categoria de Língua Natural Controlada são: Attempto Controlled English, Commom Logic Controlled English, Pseudo Natural Language, Restricted Natural Language Statements, Semantics of Business Vocabulary and Business Rules, Controlled Language for Ontology Editing.

Igualmente às demais tecnologias de tradução, as línguas controladas naturais são bem recebidas no mundo globalizado como alternativas relativamente práticas e simplificadas para a comunicação empresarial, conforme Schwitter (2010, p. 1120)9:

Línguas naturais controladas se assemelham ao idioma Inglês, porém correspondem a uma língua-alvo formal. Qualquer pessoa que tenha habilidade de leitura em Inglês possui as habilidades básicas para entender essas línguas naturais controladas. Já a redação de uma especificação em linguagem natural controlada é um pouco mais difícil: exige que o autor aprenda a linguagem, a fim de ser capaz de permanecer dentro de suas restrições sintáticas e semânticas, ou que ele use uma ferramenta de criação inteligente que suporte o processo de escrita e reforce as restrições da linguagem (SCHWITTER, 2010, p. 1120).

2.2.2. Pós-Edição

No processo de tradução de um texto por meio de Tradução Automática, melhores resultados podem ser adquiridos pela Pré-edição do texto de origem, por exemplo, com a aplicação dos princípios das Linguagens Naturais Controladas e depois pela Pós-edição (Postediting), que se diferencia da revisão textual (GREEN, S. HEER, J. e MANNING, C. D. 2013, http://vis.stanford.edu/files/2013-PostEditing-CHI.pdf). Pós-edição é o processo de melhoria da Tradução Automática, objetivando garantir a qualidade desejada em termos de estilo e qualidade de tradução que será,

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Tradução nossa: These controlled natural languages look like English but correspond to a formal target language. Anyone who can read English has already the basic skills to understand these controlled natural languages. Writing a specification in controlled natural language is a bit harder: it requires that the author either learns the language in order to be able to stay within its syntactic and semantic restrictions or that he uses an intelligent authoring tool that supports the writing process and enforces the restrictions of the language.

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posteriormente, submetida à revisão textual para corrigir erros ortográficos ou gramaticais. Há dois tipos de pós-edição de textos traduzidos: simples e completa.

a) Pós-edição Simples (light post-editing) se caracteriza por intervenções mínimas, necessárias para tornar a tradução mais compreensível, factível e gramaticalmente correta. Destina-se às situações em que a tradução é urgente e sua utilização será temporária com divulgação restrita.

b) Pós-edição Completa (full post-editing) se caracteriza por intervenções detalhadas para tornar a tradução mais precisa e adequada, com o uso consistente e correto de terminologia aprovada, observando questões linguísticas, estilísticas e gramaticais. Destina-se às situações em que a utilização do texto será mais prolongada e publicamente divulgada. Após essa edição, o texto deverá ser lido como se tivesse sido escrito na língua de chegada (http://info.moravia.com/blog/bid/353532/Light-and-Full-MT-Post-Editing-Explained, 2016).

2.2.3. Tradução Colaborativa

Dillinger (2014: ix), discute o cenário atual de traduções afirmando que, no mundo tecnológico e globalizado em que vivemos, há mais conteúdos para traduzir, em menor espaço de tempo e a preços mais baixos do que nunca. Para lidar com esta reconfiguração, o papel da Tradução Automática e da Pós-edição é de suma importância, pois se espera que o processo tradutório seja rápido, preciso, eficaz e lucrativo.

De fato, vemos despontar novas práticas enlaçando a Tradução Automática com a Pós-edição, culminando no trabalho colaborativo entre grupos de tradutores e pós-editores, cujas denominações são igualmente diversas, quais sejam: Crowdsourced

Translation, Community Translation, Hive Translation, Collaborative Translation, Social Translation, ou ainda, CT3 (Community, Crowdsourced, and Collaborative Translation). A ideia de Tradução Colaborativa emergiu em resposta à

impossibilidade da tradução humana e também dos programas de tradução automática produzir traduções rápidas e de qualidade diante das crescentes demandas por traduções de informações digitais cada vez mais volumosas e infindáveis.

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A Tradução Colaborativa, que agrupa tradutores profissionais, amadores ou até mesmo voluntários, é viabilizada pela comunhão de tecnologias de tradução humana e automática, seguidas de revisão, entre os próprios profissionais, dos trechos traduzidos. Ou seja, trata-se da contribuição, voluntária ou remunerada, proveniente de grandes grupos de tradutores integrantes das comunidades online globais em caráter autônomo. Essa nova configuração do trabalho no mercado de traduções redefine os moldes da contratação de profissionais que se consolidará, de forma generalizada, ao longo do século XXI. Parece-nos que, cada vez mais, o trabalho será uma prestação autônoma de serviços, em oposição à contratação formalizada de funcionários.

De acordo com Vashee ( 8, p. ), […] em 2006, o volume de informação digital

criado, capturado e replicado foi de 1,288 x 1018 bites10. Em linguagem computacional, significa 161 exabytes ou 161 bilhões gigabytes. Isso é aproximadamente três milhões de vezes a informação de todos os livros já escritos11. Assim, com demandas por traduções crescendo rapidamente, é

10 Os computadores "entendem" impulsos elétricos, positivos ou negativos, que são representados por 1 ou 0. A cada impulso elétrico damos o nome de bit (BInary digiT). Um conjunto de oito bits reunidos como uma única unidade forma um byte.

1 Byte = 8 bits

1 kilobyte (KB ou Kbytes) = 1024 bytes 1 megabyte (MB ou Mbytes) = 1024 kilobytes 1 gigabyte (GB ou Gbytes) = 1024 megabytes 1 terabyte (TB ou Tbytes) = 1024 gigabytes 1 petabyte (PB ou Pbytes) = 1024 terabytes 1 exabyte (EB ou Ebytes) = 1024 petabytes 1 zettabyte (ZB ou Zbytes) = 1024 exabytes 1 yottabyte (YB ou Ybytes) = 1024 zettabytes

É também por meio dos bytes que se determina o comprimento da palavra de um computador, ou seja, a quantidade de bits que o dispositivo utiliza na composição das instruções internas, como por exemplo:

8 bits => palavra de 1 byte 16 bits => palavra de 2 bytes 32 bits => palavra de 4 bytes

http://www.infowester.com/bit.php, 2016.

11 Tradução nossa: In 2006 the amount of digital information created, captured, and replicated was , 88 x 8 bites. In computer parlance, that‟s 6 exabytes ou 6 billion gigabytes. his is about 3 million times the information in all the books ever written!

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humanamente impossível produzir traduções de qualidade de maneira instantânea. Por outro lado, os programas de Tradução Automática podem traduzir instantaneamente, mas sem qualidade. É, então, por isso que a combinação entre tradução humana e automática parece ser, por ora, uma solução viável tanto para o tempo dispendido quanto para a qualidade da tradução.

2.3. Sistemas de Memórias de Tradução

A Tradução Assistida por Computador (Computer-Aided Translation, ou CAT Tools) é possível por meio de Sistemas de Memórias de Tradução, que são bancos de dados de onde se aproveitam a recorrência de palavras, frases e sentenças em um documento para assegurar a coerência da terminologia e da tradução sintática. Dentre os softwares mais conhecidos estão SDL Trados, Wordfast, Swordfish,

DéjàVu, Mymemory, Euro-lex, MemoQ, MetaTexis, Multitrans, OmegaT, Wordbee, WordFisher, Similis, para citar apenas alguns, considerados ferramentas básicas na

atividade profissional de tradutores em geral.

2.3.1. Memórias de Tradução

Sistemas de Memórias de Tradução são desenvolvidos especialmente para serem usados por tradutores profissionais com o intuito de auxiliar na tradução de documentos com conteúdos semelhantes. Assim, a cada tradução, as escolhas do tradutor irão gradativamente compondo um banco de dados que espelha o trabalho humano. Se o usuário for um tradutor descuidado, o seu banco de dados será impreciso. Entretanto, se o tradutor for criterioso e traduzir textos do mesmo assunto, o banco de dados proporcionará confiabilidade terminológica e otimização de tempo. Conforme Brum (2008, p. 47), a segmentação é um dos recursos básicos desse processo e consiste na divisão do texto em segmentos formando pares de frases, uma no idioma original, que permanecerá inalterada, e outra inicialmente no idioma original, mas que será editada pelo tradutor e substituída pelo texto traduzido. O par é composto pelo idioma de origem e pelo idioma de destino que será gravado na memória, formando um banco de dados. Ou seja, toda vez que um segmento é traduzido, ele será armazenado na memória de tradução que passa a ser um banco de dados de pares de segmentos de textos de origem e de destino, chamados de

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unidades de tradução. Se, em futuras traduções, o texto original apresentar algum trecho igual ou semelhante ao que já tenha sido traduzido anteriormente, a memória identificará esse trecho e o mostrará como sugestão. Assim, dependendo do contexto, o tradutor poderá decidir se manterá a tradução sugerida, se usará apenas uma parte dela ou se fará uma nova tradução. Com isso, o tradutor economiza tempo e custos, mantendo a consistência terminológica com maior índice de reaproveitamento possível.

O outro recurso é o alinhamento que consiste em alimentar a memória com outros textos traduzidos anteriormente mesmo sem o uso de sistemas de memórias de tradução. Ou seja, é a comparação automática entre arquivos eletrônicos e a correspondência entre frases que possibilitam a criação das respectivas unidades de tradução. Por fim, mais um outro recurso é a recuperação, que consiste em aplicar, previamente e sem a interferência do tradutor, uma memória já existente em arquivos para tradução em lotes. Assim, o sistema substituirá as correspondências encontradas no banco de dados e o tradutor se dedicará aos segmentos novos e revisará os segmentos com correspondência inferior a 100%.

Considerando os objetivos desses recursos básicos em reduzir tempo e custos, Garcia (2006, p. 97) indaga se a chegada das Memórias de Tradução pode ser pensada como “uma benção ou uma maldição”, em razão de os ganhos com a alta produtividade serem contrabalanceados com as reduções de custos dos serviços de tradução, significando diminuição na remuneração aos profissionais de tradução. Ou seja, clientes não pagarão por trechos de textos já traduzidos anteriormente os quais já foram pagos, por esses mesmos clientes ou por outros clientes. A lógica desse mercado é a de não propiciar duplicidade de pagamento por algo já realizado.

Essa situação amplia as discussões sobre a contratação e a prestação de serviços de natureza intelectual. Os contratos de tradução não permitem ao tradutor a oportunidade de negociação da produção, ou seja, não há uma relação contratante/contratado, em que o contratado possa deter os direitos dos meios de produção (representados pelos segmentos anteriormente traduzidos e armazenados nas memórias), pois os tradutores são obrigados a aceitar as condições que lhe são impostas para a produção de um trabalho se quiserem ser contratados.

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Nesse sentido, Garcia (2006, p. 97) problematiza a postura ética sobre o uso das memórias de tradução, indagando se o cliente teria direito também a essas memórias advindas dos serviços de tradução por ele pagos. Ademais, se um tradutor se utiliza de memórias de tradução produzidas por um grupo de tradutores, poderá requerer direitos autorais alegando que a tradução é, genuinamente, fruto de seu trabalho? Essas e outras questões fazem parte do cotidiano de todo tradutor com contrato de trabalho efetivo, autônomo ou freelancer.

Ainda sobre ética, Stupiello (2012a, p, 235) discute a relevância que o meio de produção tem na elaboração de uma tradução. Traduz-se com o auxílio das memórias não só para acelerar a produção do tradutor, mas especialmente para reaproveitá-la em trabalhos futuros:

Outro efeito dessa divisão de trabalhos seria a alienação dos direitos autorais por parte do tradutor, visto que, da mesma forma que este recebe o banco de dados para “alavancar” seu trabalho, dele também se espera a provisão do banco de dados formado a partir do trabalho realizado. Contratantes de serviços de tradução defendem sua exclusividade de acesso aos dados terminológicos reunidos a partir de um trabalho contratado. Por se considerarem propriet rios desse “subproduto” da tradução, em geral, exigem que lhes sejam repassados os dados terminológicos juntamente com a tradução. Esses dados são usados em trabalhos posteriores com o intuito de reduzir custos de tradução, na medida em que possibilitam o aproveitamento de correspondências estabelecidas, as quais são organizadas em “unidades de tradução”. Pela perspectiva do contratante, uma tradução deveria ser remunerada uma única vez, ou seja, a partir do momento em que um segmento for traduzido e reocorrer em outros textos, não deveria ser remunerado integralmente, independentemente do contexto de que ela vier fazer parte (STUPIELLO, 2012a, p. 235).

Dessa forma, vemos que, com os aportes tecnológicos, a discussão sobre a tarefa do tradutor centraliza-se na necessidade de garantir qualidade e lucratividade frente ao volume astronômico de traduções a serem realizadas.

2.3.2. Tradução Móvel

Embora a Tradução Móvel (Mobile Translation) não seja utilizada diretamente por tradutores profissionais, ilustramos este capítulo com esta outra modalidade de Tradução Automática, que é viabilizada por aparelhos portáteis conectados à internet (smartphones ou tablets) e que produz traduções instantâneas, acessíveis e

Referências

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